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O Self Desdobrado.

Perspectiva de Campo em Gestalt-Terapia, 2006 (Jean-Marie Robine)

RESENHAS

O SELF DESDOBRADO. PERSPECTIVA DE CAMPO


EM GESTALT-TERAPIA, 2006

(Jean-Marie Robine)
São Paulo: Summus Editorial

Josiane Maria Tiago de Almeida


Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia (ITGT)

Jean-Marie Robine é um dos nomes mais citados Na Introdução, Robine formula a ruptura fundamen-
atualmente nos círculos de estudos de Gestalt-terapia. tal intentada por Perls e Goodman com uma frase: “o self
Psicólogo clínico desde 1967, é psicoterapeuta e estudioso é contato”. Ao buscar seu significado, nos revela a gran-
de Gestalt-terapia, além de possuir formação em psicaná- diosidade do convite feito e o desafio que se nos afigura
lise, psicodrama, enfoque Rogeriano, terapia de expressão na assunção de uma postura efetivamente fiel à teoria
corporal, terapia sistêmica de casal e família e, finalmen- de campo: como cogitar uma realidade humana posi-
te, Gestalt-terapia pelo Instituto de Cleveland. Dirigiu du- tivamente relacional, se estamos imersos em conceitos
rante vários anos a Sociedade Francesa de Gestalt-terapia que nos remetem ao intrapsíquico, à psicogênese, mes-
e a Sociedade Européia de Gestalt-terapia. Fundador do mo considerando, em sua leitura, que existe uma rea-
Instituto Francês de Gestalt-terapia e das revistas Gestalt lidade “lá fora” que nos constitui e que constituímos?
e Cahiers de Gestalt-thérapie, é também autor de diversos Como conciliar nosso pensamento estrutural com nosso
livros traduzidos em vários idiomas. funcionamento absolutamente processual? Em resposta,
Seu último livro, O Self Desdobrado, nos lança a pro- nos sugere uma perspectiva pouco visada da experiên-
posta de caminhar no sentido contrário ao da história e cia humana: o self como temporalidade, como desdobra-
pensar a Gestalt-terapia, revisitando seus principais cons- mento seqüencial. Tal perspectiva será paulatinamente
tructos teóricos e reelaborando-os. Robine serviu-se do desenvolvida, à medida que o autor aborda cada aspecto
conceito de self e da perspectiva de campo como elemen- da teoria e da prática gestáltica, mantendo-se fiel ao ri-
tos balizadores que permearão todo o livro, alinhavando gor e à criatividade.
sua reflexão numa tecedura que por vezes nos esclarece, Os três primeiros capítulos, Gestalt-terapia, protóti-
por vezes nos sugere desafios e contradições. po da psicoterapia de amanhã, Uma estética da psicote-
É justamente nessa capacidade de questionar o sabido rapia e A natureza humana – Declinações do paradigma
e desafiar o indubitável que reside o encanto desta obra. na Gestalt-terapia, oferecem-nos um panorama teórico-
Robine nos permite um passeio pela teoria psicológica, histórico da Gestalt-terapia quanto à construção de seus
caminhando com desenvoltura pela psicanálise, filosofia, conceitos e sua repercussão no modelo clínico postulado
física quântica, teoria Rogeriana, terapia sistêmica, entre e na visão de homem empreendida. Já O contato, expe-
outras, aprofundando, retrospectivamente, os conceitos riência primeira, A awareness, conhecimento imediato e
formulados por Perls, Hefferline e Goodman (1951) no implícito do campo e Confluência, experiência vinculada
Gestalt-therapy e situando, prospectivamente, a Gestalt- e experiência alienada discutem conceitos basilares da
terapia no bojo das modernas propostas de compreensão Gestalt-terapia vistos sob o prisma da temporalidade do
da experiência humana. self e da teoria de campo.
Os capítulos do livro articulam-se com a proposta do Em seguida, Robine nos brinda com uma excelente
autor: partem de uma discussão ampla, crítica e embasa- análise das flexões da experiência no capítulo Ansiedade
dora de conceitos essenciais da Gestalt-terapia situando- e construção de gestalts onde traça, em breve linhas, uma
os no contexto das teorias psicológicas e, posteriormente, distinção clara de como a psicopatologia gestáltica se di-
adentram a dimensão da prática clínica, discorrendo sobre ferencia de outras modalidades de apreensão do psicopa-
Resenhas

a intimidade do processo por meio de exemplos, que mui- tológico. Após essa brilhante explanação, toma o conceito
to mais do que simplesmente ilustrar conceitos, ampliam de angústia/ansiedade e o esclarece situando-o por meio
nossa compreensão acerca de sua aplicação. de exemplos clínicos.

271 Revista da Abordagem Gestáltica – XIII(2): 271-272, jul-dez, 2007


Josiane M. T. Almeida

Em O inesperado em Psicoterapia, Vergonha e ruptura


da confluência e O desconhecido levado à relação Robine
aborda temas que têm uma incidência por vezes velada
na clínica atuando como um fundo obscuro e inexplora-
do ao processo e que nem sempre são tratados pela teo-
ria ou trazidos à luz na prática psicoterapêutica, mas que
não podem ser deixados de lado sob pena de perdermos
dimensões essenciais da experiência humana.
O capítulo Teorizar sobre o que sempre nos escapará –
Sobre a relação terapêutica apresenta uma breve discus-
são do autor a respeito da psicoterapia como um método
contextual, distinguindo contato e relação, e sinalizando
algumas implicações dessa distinção.
Por fim, O nicho ecológico – Um ensaio sobre a teoria
de campo da Gestalt-terapia e Teoria e prática de grupo,
teoria e prática de Gestalt-terapia nos oferecem a possibi-
lidade de, por meio da teoria de campo, situar a situação
terapêutica em uma configuração mais ampla partindo
dos conceitos gerais de campo e chegando àqueles com-
patíveis com a prática clínica grupal em Gestalt.
Essas são, em linhas gerais, algumas das questões que
Robine busca com paixão, elegância e robusta bagagem
teórica e prática, não responder, mas causar-nos desas-
sossego, levando-nos a uma reflexão teórica que funda-
mente uma prática consistente.

Referência Bibliográfica

Robine, Jean-Marie (2006). O self desdobrado – Perspectiva de


campo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus.

Recebido em 10.11.2007
Aceito em 06.12.2007
Resenhas

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