Elementos Estruturantes Das Normas de Conflitos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ

1
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

Aula do dia 30 de Março, das 11:15- 12-45

Aula do dia 1 de Abril , das 11:15 – 12:45

ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA NORMA DE CONFLITOS

Vamos entrar para um tema de grande complexidade ao nível do Direito


Internacional Privado, para o qual se exige maior concentração e capacidade de análise.
O Direito internacional Privado já o dissemos em aulas anteriores tem como foco as
situações jurídico- privadas plurilocalizadas, competindo a norma de conflitos apontar o
ordenamento jurídico adequado dos vários que concorrem para aplicação ao caso
concreto, em função de alguma conexão com o facto, sujeitos e objectos.

OBS: As matérias abaixo foram elaboradas por António Filipe Garcez José in
Apontamentos sem fronteira.

NORMAS DE CONFLITOS Comentado [u1]: ARTIGO 12º


(Aplicação das leis no tempo.Princípio geral)
1. A lei só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja
atribuída eficácia retroactiva, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a
Normas de conflitos lei se destina a regular.
2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade
São normas instrumentais essencialmente destinadas a servir de substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os
instrumento ou meio de individualização da ordem jurídica onde deve seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só
visa os factos novos; mas, quando dispuser
ser procurada a regulamentação dos institutos que constituem o seu directamente sobre o conteúdo de certas relações
jurídicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem,
objecto. entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já
constituídas, que subsistam à data da sua entrada em
vigor.

 São normas sobre normas (lex legum), normas que dizem como Comentado [u2]: ARTIGO 13º
(Aplicação das leis no tempo.Leis interpretativas)
vigoram, se interpretam, aplicam e determinam outras normas. 1. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada,
ficando salvos, porém, os efeitos já produzidos pelo
cumprimento da obrigação, por sentença passada em
 Chamam-se normas de 2° grau ou de aplicação. julgado, por transacção, ainda que não homologada, ou
por actos de análoga natureza.
2. A desistência e a confissão não homologadas pelo
tribunal podem ser revogadas pelo desistente ou
 Dentre as “normas de aplicação” destacam-se as normas confitente a quem a lei interpretativa for favorável.

destinadas a resolver conflitos de leis no tempo (art.12° e 13°) Comentado [u3]: ARTIGO 15º
e os conflitos de leis no espaço (arts. 15° e segs.). (Qualificações)
A competência atribuída a uma lei abrange somente as
normas que, pelo seu conteúdo e pela função que têm
nessa lei, integram o regime do instituto visado na regra
de conflitos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ
2
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

 São normas de conexão, pois a individualização da lei aplicável


faz-se sempre indicando a ordem jurídica de “conexão mais
adequada” com a situação jurídica em causa (dentre as que se
sucedem no tempo ou coexistem no espaço)

Função específica das normas de conflito

As normas de conflitos têm a função específica de coordenar as


diferentes ordens jurídicas em conexão, devido à existência de
situações plurilocalizadas.

Modo específico de actuação das normas de conflitos

As normas de conflito actuam elegendo de entre os elementos


integrantes da relação jurídica pluriconectada, aquele, por intermédio
do qual, deverá ser determinada a lei que lhe é aplicável.

Configuração da norma de conflitos

Elementos estruturais

Conceito quadro
São os institutos jurídicos cujo regime, total ou parcial, a norma de
conflitos se propõe determinar.

Elemento de conexão
O aspecto ou elemento da situação plurilocalizada escolhido para
individualizar a ordem jurídica competente.

Consequência jurídica
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ
3
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

Consequência jurídica
A utilização do direito material da ordem jurídica designada como
competente para definição do regime jurídico dos institutos em
causa.
Exemplo : Artigo 46°/1 CC

ARTIGO 46º

Direitos reais

1. O regime da posse, propriedade e demais direitos reais, é definido pela lei do Estado
em cujo território as coisas se encontrem situadas.

Conceito quadro
Institutos da posse, propriedade e demais direitos reais.

Elemento de conexão
Localização das coisas objecto dos direitos reais.

Consequência jurídica
Definição do regime dos institutos em causa (posse, propriedade, etc)

Princípio da especialização
Cada norma de conflitos tem um âmbito especializado de aplicação,
isto é, refere-se a matérias específicas.

 As normas de conflitos usam conceitos técnico-jurídicos, as


normas materiais utilizam em geral hipóteses descritivas.
 As normas de conflitos referem-se a institutos ou conceitos
jurídicos, as normas materiais aplicam-se a factos.
Função específica dos elementos estruturais
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ
4
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

Elemento de conexão
O elemento de conexão funciona como “condição de aplicabilidade”
da lei designada como competente.

Conceito quadro
O conceito quadro funciona como âmbito dessa aplicabilidade
(competência)

O CONCEITO QUADRO
Comentado [u4]: ARTIGO 25º
(Âmbito da lei pessoal)
O estado dos indivíduos, a capacidade das pessoas, as
Natureza relações de família e as sucessões por morte são
regulados pela lei pessoal dos respectivos sujeitos,
salvas as restrições estabelecidas na presente secção.

Noção Comentado [u5]: ARTIGO 45º


(Responsabilidade extracontratual)
1. A responsabilidade extracontratual fundada, quer em
acto ilícito, quer no risco ou em qualquer conduta lícita,
é regulada pela lei do Estado onde decorreu a principal
Trata-se de um conceito técnico-jurídico de extensão variável, com actividade causadora do prejuízo; em caso de
aptidão para o enquadramento de diferentes institutos jurídicos... responsabilidade por omissão, é aplicável a lei do lugar
onde o responsável deveria ter agido.
2. Se a lei do Estado onde se produziu o efeito lesivo
considerar responsável o agente, mas não o considerar
como tal a lei do país onde decorreu a sua actividade, é
- Pode abranger todo um ramo do Direito Civil (relações de aplicável a primeira lei, desde que o agente devesse
prever a produção de um dano, naquele país, como
família, sucessões por morte – art. 25°CC). consequência do seu acto ou omissão.
3. Se, porém, o agente e o lesado tiverem a mesma
nacionalidade ou, na falta dela, a mesma residência
habitual, e se encontrarem ocasionalmente em país
- Como pode referir apenas um instituto jurídico limitado (RC estrangeiro, a lei aplicável será a da nacionalidade ou a
extra contratual – art. 45°CC) da residência comum, sem prejuízo das disposições do
Estado local que devam ser aplicadas indistintamente a
todas as pessoas.

- Como pode restringir-se a um simples aspecto do regime


Comentado [u6]: ARTIGO 50º
jurídico de um instituto (forma do casamento – art. 50° CC; capacidade (Forma do casamento)
para testar – art. 63° CC) A forma do casamento é regulada pela lei do Estado
em que o acto é celebrado, salvo o disposto no artigo
seguinte.

 É pelo conceito-quadro que a norma de conflitos define o Comentado [u7]: ARTIGO 63º
seu âmbito de aplicação. (Capacidade de disposição)
1. A capacidade para fazer, modificar ou revogar uma
disposição por morte, bem como as exigências da
forma especial das disposições por virtude da idade do
qual o instituto ou institutos que integram o conceito-quadro? disponente, são reguladas pela lei pessoal do autor ao
tempo da declaração.
2. Aquele que, depois de ter feito a disposição, adquirir
nova lei pessoal conserva a capacidade necessária
para revogar a disposição nos termos da lei anterior.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ
5
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

- O conceito-quadro da norma de conflitos é constituído pelos


institutos jurídicos a que se refere e cujo regime pretende determinar,
remetendo com esse objectivo, para um ordenamento que tanto pode
ser exterior como o próprio ordenamento interno.

Qual é o primeiro problema que se põe quanto à interpretação


(determinação do respectivo sentido e alcance) das normas de conflitos?

- a determinação do conceito-quadro.

Objecto do conceito-quadro

Não deve confundir-se objecto e conteúdo do conceito-quadro de


uma norma de conflitos.

Objecto do conceito-quadro
Relaciona-se com a determinação do instituto ou institutos
abrangidos pelas normas de DIPR (âmbito do conceito-quadro). O
conceito-quadro identifica-se com os “institutos” que abrange.

Conteúdo do conceito-quadro
Procura determinar não apenas o âmbito do conceito-quadro, mas o
próprio conteúdo, ou regime desses institutos.

Instituto jurídico
Um complexo de normas, articuladas entre si por um objectivo
comum.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ
6
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

Conclusão:

Objecto do conceito-quadro
O conceito-quadro tem por objecto o “instituto” cujo regime procura
determinar, o qual, por sua vez, é integrado pelas normas materiais
do ordenamento para o qual a regra de conflitos remete e que como
tal seja considerado competente.

ELEMENTO DE CONEXÃO

Noção

Elemento de conexão
É o meio através do qual é referenciada a ordem jurídica que deverá
“fornecer” o regime do instituto que corporiza o conceito-quadro da
norma de conflitos.

 O conceito-quadro tem por objecto um “instituto” cujo regime


deverá ser “fornecido” pelo direito material de um certo
ordenamento;
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, 5º ANO , MANHÃ
7
AULA ELABORADA PELO PROFESSOR MANUEL GRAÇA MANJOLO, Me

 Cabe ao “elemento de conexão” concretizar a ligação que deve


existir entre o instituto em causa e o ordenamento a cujo direito
material caberá definir o respectivo regime.

Exemplo: artigo 62° CC

Lei reguladora das sucessões

ARTIGO 62º
Elemento de conexão
Lei competente

A sucessão por morte é regulada pela lei pessoal do autor da


sucessão ao tempo do falecimento deste, competindo-lhe também definir os
poderes do administrador da herança e do executor testamentário.

 Isto significa que a lei competente para regular a sucessão por


morte deve ser “fornecida” pelo ordenamento que tenha com o
autor da sucessão a conexão de ser a sua lei nacional ao
tempo do falecimento (última nacionalidade do “de cujus”)

 O elemento de conexão
é portanto o elo de ligação de que a norma de conflitos faz
depender a competência de um certo ordenamento para a
regulamentação de determinado instituto.

Desejo continuação de bons estudos e que Deus abençoe Angola.

Você também pode gostar