A História Do Circo
A História Do Circo
A História Do Circo
Em 2003, artistas de variadas partes da América Latina uniram-se para realizar um espetáculo circense ao ar livre.
Escolheram como palco um beco inteiramente grafitado que dava acesso a uma praça, na Vila Madalena, em
São Paulo (SP). Como principal objetivo, tinham a valorização dos artistas de rua e a ocupação dos espaços públicos,
além de transformar o local em um verdadeiro palco aberto, no qual todos os interessados poderiam se apresentar.
Este livro apresenta uma pesquisa que reúne entrevistas com os fundadores e frequentadores, fotos, relatos e as
principais influências que o espaço criou. Conheça como esses artistas transformaram o espaço em um local de histórias de um picadeiro a céu aberto
ISBN: 978-85-60662-20-3
9 788560 662203
Anderson Spada, 2011
Bárbara Francesquine, 2012
histórias de um picadeiro a céu aberto
Coordenação de produção
Rita Masini
Edição e revisão de texto
Paulo Verano
Projeto gráfico, edição de arte
e diagramação
Marcello Araujo
Rafi Achcar
Assessoria Jurídica
Rodrigo Buchiniani
Impressão
Yangraf
B337
Baú circo no beco : histórias de um picadeiro a céu aberto /
Organização Giulia Nina Cooper Kignel ; Maria Fernanda
Vieira Carneiro . – São Paulo : Arvoredo : Funarte, 2014.
96 p.: il. : color. ; 21x21 cm.
ISBN 978-85-60662-20-3
CDD 791.30981
2014
Edições Arvoredo
um selo da A+ Desenho Gráfico e Comunicação Ltda.
Rua Fidalga, 154, cj. 3 – 05432 000 – São Paulo – SP
Tel (11) 3031 2734 – Fax (11) 3816 5113
E-mail: [email protected]
Rogério Piva, 2011
Roteiro
Respeitável público... 7
O espetáculo vai começar! 13
Aplausos! 37
Além do Beco 65
Por trás das cortinas... 78
Memórias reveladas 88
Referências/Agradecimentos 94
Créditos das fotos 95
Elias Ficavontade e
Emerson Noise, 2011
Respeitável público...
As luzes estão apagadas e o espetáculo já vai começar! A gambiarra logo vai se
acender. É melhor verificar se todos os refletores estão com lâmpada, senão va-
mos correndo comprar...
As comidas para o improvisado camarim dos artistas já estão colocadas sobre
uma toalha branca. O pano, um pouco desfiado, com letras das mais variadas estam-
pas que dizem “CIRCO NO BECO”, já está preso à grade que cerca a praça. Vendedo-
res de pipoca, cachorro-quente, bolinho hare krishna, sanduíche natural... Todos es-
tão chegando, como em um circo de lona, oferecendo seus produtos para o público.
A arquibancada de cimento está lotada, mas ainda há alguns lugares no chão
para aqueles que desejam ficar mais próximos dos artistas! Acendem-se as luzes!
O espetáculo começou! Logo chega um apresentador, enquanto a produção ainda
está fazendo os ajustes finais.
“— E agora, começamos mais uma edição do CIRCO NO BECO!”
O público aplaude. É o início do espetáculo! Um palco aberto! Este é o mo-
mento em que qualquer um do público pode se apresentar...
E é assim que vamos começar a apresentar nossa história!
Fazer um livro não é tarefa fácil. Ao longo do caminho, aprendemos que realizar
um registro de um movimento tão plural e coletivo é uma empreitada delicada. No
meio disso, nos perguntamos: então por que fazer um livro? Para que serve um livro?
O livro serve para contribuir na formação do mundo interior de todas as pessoas,
para imortalizar o mortal, para gerar a possibilidade de conhecer, de saber, de existir.
Um livro nos leva a lugares que podemos ter visitado, mas a capacidade de nos envol-
ver com as palavras traz sensações que perduram no tempo. Talvez ler um livro não
seja algo que aconteça tão comumente quanto deveria, pelo menos não no Brasil, e
isso não é por falta de escritores, e sim por falta de incentivo ao prazer da leitura.
8
Bilhetinhos deixados
Vamos começar contando um pouco do início dessa ideia... Em uma conversa
pelo público, 2005 informal, nós duas pensamos sobre a possibilidade de se registrar a história da
arte de rua circense no Brasil, afinal, apesar de as pesquisas sobre o circo estarem
constantemente crescendo em nosso país, ainda havia pouquíssimos escritos de-
dicados exclusivamente à arte de rua circense. O local em que nos conhecemos foi
justamente o Circo no Beco, onde também iniciamos nossas primeiras apresenta-
ções e produções de espetáculos.
Sendo assim, foi quase natural que decidíssemos que o foco de nossa pes-
quisa seria essa importante experiência que se deu no bairro paulistano de Vila
Madalena, já tão tradicionalmente afeito às artes (de rua, inclusive, como o graffi-
ti), caracterizando o CnB como um importante movimento da arte de rua circense
no Brasil. Inscrevemos nosso projeto e fomos contempladas no edital da Funarte
(Fundação Nacional de Artes) com o Prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo.
E assim começamos a pesquisar... Sem saber muito por onde começar; afinal, a
história era longa e repleta de fatos diversos.
Procuramos Verônica Tamaoki, que nos mostrou alguns documentários e
textos sobre o tema. Esse encontro foi muito importante, pois Verônica, com sua
longa bagagem em pesquisas circenses, logo nos mostrou que a arte circense de
rua é muito mais antiga do que imaginávamos. Como veremos nas páginas do
livro, os primeiros circenses que chegaram ao nosso país logo ocuparam a rua!
Precisávamos antes de tudo juntar material fotográfico e iconográfico, pois
era importante que o livro contivesse fotos de todos os anos do CnB. Logo lan-
çamos um grande chamado na internet e fomos atrás de diversos fundadores e
pessoas que participaram em alguma época da história do movimento. Os textos,
9
O que nos deparamos durante a pesquisa é que não há uma verdade sobre
o que de fato aconteceu em todas as edições do CnB, nem mesmo como afir-
marmos quais foram os melhores e os piores momentos de sua história. Cada
entrevistado tem uma visão diferente do que foi o CnB para a sociedade e também
para a própria formação e experiência. Partindo disso, procuramos incluir o maior
e mais variado número possível de depoimentos, respostas e fotos sobre o CnB
nas páginas que seguem. Tentamos ao máximo somente organizar essa história,
Mafê Vieira e Giulia Cooper, 2008 deixando que os artistas a fossem contando. Optamos, também, por deixar textos
que contam sobre as edições, escritos por quem viveu os momentos. É assim que
vocês podem ver o belíssimo depoimento de Rodrigo Pereyra logo no início do
livro. Quem viveu conta melhor do que ninguém como foi a situação!
Após reunirmos todas essas entrevistas e o material gráfico, entramos na
etapa da edição de arte, e conseguimos o artista gráfico que muito nos ajudou
na materialização do livro! Fizemos uma grande seleção das fotos e entrevistas.
Escrevemos alguns textos para dar linearidade ao livro. Ao final, não hesite em
registrar também suas próprias lembranças sobre o CnB.
Agora vamos parar por aqui, já está na hora de o Palco Aberto terminar, o
Cabaré com artistas convidados vai começar.
Assim como o Circo no Beco, algumas luzes da ribalta de nosso livro ainda
continuam queimadas e só serão acesas ao longo do caminhar desses anos, ou,
ainda, dentro da memória e imaginação de cada um... Convidamos todos vocês a
entrar no fundo do Beco e conhecer um pouco mais desse lindo trajeto!
Beco, 2004
O espetáculo
vai começar!
Dos registros de pessoas jogando malabares nas pirâmi-
des do Egito Antigo, passando pelos grandes espetáculos
gregos, pelo nomadismo cigano que espalhou-se pelo
mundo, as primeiras trupes circenses e a chegada desses
artistas ao Brasil, que ocuparam esquinas, praças e par-
ques apresentando os mais variados números, faquires
que ficavam dias sem comer, vendedores de pomadas
milagrosas, contorcionistas e tantos outros que passaram
o chapéu ao final de suas apresentações como forma de
contribuição do público... Até o encontro entre amigos de
diversas partes do mundo que, a partir de um sonho cole-
tivo e um dia de chuva, decidiram realizar o primeiro espe-
táculo de variedades em um beco inteiramente grafitado,
um tanto esquecido no coração da Vila Madalena, em São
Paulo. E assim surgiu... O CIRCO NO BECO!
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com esses trabalhos é apontar em texto o valioso saber circense, que é oral por
natureza. Por essa razão, há muitas divergências em relação a datas exatas, fatos
e métodos; porém um ponto em comum é: a arte circense tem origens antigas em
Representação de malabaristas
diversas culturas e povos.
no Antigo Egito. Imagem
encontrada na 15ª tumba na Desde tempos imemoráveis que o circo ocupa um espaço privilegiado de
região deBeni Hassan e datada entretenimento entre todas as suas formas de diversão. Entre feiras e praças de
entre 1994 e 1781 a.C. todo o mundo, saltimbancos, ciganos, vendedores de unguentos, acrobatas, má-
gicos, telepatas, equilibristas, entre outros seres fantásticos, sempre foram vistos
mostrando seu trabalho, alegrando, encantando e trazendo mais brilho para os
olhos dos que os assistiam.
15
A chegada ao Brasil
Assim como encontramos dificuldade em registrar a história e origem do circo no
mundo, também é árdua a tarefa de dissertar sobre o momento exato da chegada
desses artistas, pois há fontes diversas mostrando que o circo chegou ao Brasil
em épocas variadas. Por não virem com contrato ou espaço fixo pré-agendado,
os circenses se apresentavam em espaços abertos, praças e ruas do país. Apesar
Pinturas rupestres na Serra da Capivara
de alguns preferirem ingressar em espetáculos de variedades que ocorriam em
(Piauí). Foto: Alice Viveiros de Castro/
espaços fechados, a verdade é que os teatros eram raros no Brasil do século XIX. Pesquisa Acrobatas na Pré-História
Porém, relatos dão conta de que já havia artistas circenses no país séculos antes.
Há quem diga que Diogo Dias fora o primeiro a praticar técnicas circenses, pois,
segundo relatos de Pero Vaz de Caminha em sua famosa Carta de achamento do
Brasil (1500), este interagiu totalmente com os nativos, fazendo-os rir e dançar.
Graffiti nos muros próximos ao
local onde é realizado o Circo no Os ciganos saltimbancos ou mambembes foram fundamentais para a forma-
Beco, na Vila Madalena, em
ção cultural brasileira devido ao seu movimento e à adaptabilidade com outras
São Paulo, 2003
formas de cultura; a despeito do preconceito que havia, e ainda há, encontraram
um ponto de culminância entre as diversas linguagens aportando para seus espe-
táculos as influências tanto indígenas, quanto africanas.
Números de contorção, malabarismo, acrobacias e até domínio de animais, que
em muitos casos não eram conhecidos no Brasil, tomavam praças e parques para
suas realizações. As ruas do país já eram ocupadas por artistas. Eram os famosos sal-
timbancos, que se adaptavam ao espaço, tempo, local, cidade e tudo aquilo que lhes
era proposto. Isto é, não esperavam os enormes pavilhões para poderem trabalhar, se
apresentavam onde havia espaço e iam aprendendo a cada show. Nas apresentações
na rua, ao final, o público contribuía voluntariamente no chapéu do artista.
Em algumas cidades, não eram permitidas as apresentações em praças pú-
blicas. O poder público alegava que isso se devia ao risco que poderia ocorrer com
os animais causando acidentes ao público. Apesar de os circenses continuarem se
apresentando sem os animais, os espetáculos não tinham o mesmo impacto. Isso
fez com que, aos poucos, fossem procurando locais fechados, em que a cobrança
de ingresso na entrada fosse compulsória. Em alguns locais, porém, trabalhavam
em troca de comida ou passavam o chapéu.
É importante salientar que a organização familiar está presente em todas
essas formas de realização de espetáculos. É ela quem possibilita a transmissão
de saberes, a estruturação e evolução dos integrantes dessa organização.
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1 SILVA, Ermínia e ABREU, Luís Alberto de. Respeitável público… O circo em cena. Rio de Janeiro: Funarte, 2009; p. 124.
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segue crescendo, em direção ao resto do mundo; até hoje, no anseio de ser algo
Relato de Gaston Sanchez, que
feito pelas pessoas e para as pessoas.
atualmente vive em Barcelona e
Circo no Beco é o nome dado para um espetáculo que foi iniciado em 2003
foi um dos fundadores do CnB
por artistas de rua, malabaristas e circenses, pessoas que estavam cansadas
de fazer a mesma cena/função/roteiro nos semáforos da cidade e também não “Em 2003 viajei a São Pau-
encontravam espaço para se apresentarem entre os já consagrados grupos e lo (...). Encontrei-me com muita
teatros paulistanos. Dessa forma, resolveram buscar um lugar para elaborar um gente linda: Rodrigo, Joe, Markiño,
modelo incomum de espetáculo, chamando-o varieté ou cabaré. À semelhança Paula, Adrian, Leda, Marco, Nacho
com a história do circo, recuperaram os tapa-becos, demonstrando adaptabili- Noche, Duico, Du Circo, Maria...
dade e adequação ao local. Alguns treinavam na Academia OZ
No decorrer desta pesquisa, conseguimos conversar com diversas pessoas e outros apenas eram amantes do
que foram responsáveis pela fundação do Circo no Beco. Relatos emocionantes circo e das artes.
dos protagonistas dessa história, que nos contam, após dez anos, porém man- O Circo no Beco nasceu da
tendo a mesma excitação do início, como se deram as primeiras reuniões e es- necessidade de muitos de nós de
mostrar/expor/compartilhar nosso
petáculos. Tentamos organizar, a partir desses relatos, uma forma de conhecer
trabalho. (...) Começamos a nos or-
como se deu a descoberta do Circo no Beco.
ganizar. Preparamos o espaço, lim-
pamos, ordenamos, instalamos luz
e nos autogestionamos.. Fico muito
Relato de Duico Vasconcelos, o palhaço Pistolinha, de como feliz em saber que o Circo no Beco se-
foi o encontro com o espaço e com quem já o habitava gue funcionando tantos anos depois
que muitos amigos passaram por aí!
“(...) Em um dia de chuva, dois malabaristas param bem em frente à Felicidades por muitos anos!”
casa do Projeto Aprendiz (ONG responsável pela administração do local) para
se abrigar, e, como estavam lá mesmo, resolveram entrar para conversar e
propor sua ideia. Nem precisa dizer que o projeto foi aceito de pronto e uma
reunião urgente foi marcada com as pessoas interessadas, já que o primeiro
espetáculo se daria dali a duas semanas.
Foram realizadas reuniões em uma casa ali mesmo, na Vila Madalena,
onde moravam três malabaristas, e onde fora definido o nome do espetáculo
— CIRCO NO BECO —, bem como a forma em que ocorreriam as apresentações.
Em 27 de março de 2003, dia do Circo no Brasil, foi realizado o 1o CIRCO
NO BECO...”
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Algumas questões foram tratadas nessa reunião prévia, marcada com urgên-
cia, antes que ocorresse o primeiro espetáculo, e um dos fundadores do CnB,
Rodrigo Pereyra, feliz em saber que essa história estaria sendo registrada neste
livro, nos deixou seu divertido relato em contribuição a esse material.
“Parece-me incrível que o que começou há dez anos, como uma inicia-
tiva de um grupo que buscava principalmente uma desculpa para se juntar e
‘fazer algo’, acabou ganhando um corpo, perdurando tanto tempo e merecen-
do, inclusive, o reconhecimento da Funarte.
Sobre o que o Beco acaba sendo, a quantidade de artistas que se apre-
Rodrigo Pereyra e braços do
Esteban Hetsch, 2003 sentaram ali, seus espetáculos, de quanta gente que se iniciou nesses cantos.
Desde esse beco praticamente instransitável, se pôde reivindicar a arte de rua
como um espetáculo digno. Creio que devem atentar-se a quem deu conti-
nuidade a este projeto, quem fez dessa iniciativa maior, quem fez crescer (e
cresceu) com o Beco. A todos eles, em boa hora, espero que em algum dia nos
encontremos ou reencontremos aqui ou acolá.
O que eu posso contar é como se gestou o Beco e suas origens, pois fui
testemunha de tudo em primeira pessoa. E por que não dizer? Também de-
sempenhei algum papel...
A questão é que o Beco estava ali, com todos seus graffitis e tudo, há duas
quadras de onde morávamos... Um dia estava com Gaston [Ricardo Gaston
Sanches] em frente ao Beco e ele me diz:
— Aqui se pode fazer algo...
E eu:
— Não sei, por aqui não passam pessoas...
E ele:
— Nós vamos buscar...
E eu:
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que nos parecia que por alguma ou outra coisa estariam interessadas
em compartilhar conosco essa experiência para definir entre todos
como se daria o funcionamento do Beco.
Felizmente, entre os reunidos, tínhamos conhecidos entre as escolas de
Circo OZ e Picadeiro (a maioria das pessoas treinava em uma ou outra, ou
então nas duas), a Nau de Ícaros (onde íamos aos encontros de malabares e
assistíamos a algum curso pontual), a Central do Circo (onde assistia as aulas
de circo do Sandro e o ajudava com os malabares), além de outros conhecidos
que trabalhavam por conta própria.
Foi surpreendente a resposta que tivemos: a todos os convidados parecia
interessante, sobretudo quando (o que mais nos assustava dizer) confessa-
mos que intencionalmente não havíamos definido nada.
— Tem um espaço, temos vontade de fazer algo, nos juntamos e vemos
no que dá?
A primeira reunião
Foi uma loucura...
O apartamento onde vivíamos tinha uma sala minúscula, a porta para o
corredor estava fechada, porque a reunião teve que ser às altas horas da noite
para coincidir com a agenda de todos... As pessoas se aglomeravam para po-
der enxergar a todos... Éramos muitos, e parecíamos mais...
Não sei se esqueci alguém, ou coloquei alguém que não estava presen-
te, mas creio que estávamos: Duico e Marquinhos (na época tinham o grupo
Tentáculos), Marcos e Paula (Cia. Zirkacid), Joe, Esteban, Gaston, Sandro, que
trouxe Emanuela e Sandra, que acabaram sendo fundamentais sobretudo no
começo, contribuindo com um pouco de sanidade a essa loucura toda, Du Cir-
co, que sempre esteve envolvido (e creio que está) com tudo o que está rela-
cionado com circo em São Paulo e desde o primeiro momento abraçou a ideia,
Adrian Pagliano, Maria Druck, Tum Aguiar e Marian Del Castillo (a primeira
fez um número de arame com sua parceira, e as outras duas, aerelistas, tive-
ram que esperar bastante para poder se apresentar, apesar de que apoiaram a
‘parada’ desde o primeiro momento).
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Elenco do primeiro
Circo no Beco, 2003
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o pé em cada lado do quadrado (só cabiam três pés); era uma loucura... Só
conseguíamos apoiar nossos pés à medida que pisávamos no pé do outro além
de cada um ter que apoiar uma das mãos para manter o equilíbrio e fazíamos
uma espécie de cruz.
Para ficar ainda mais engraçado, creio que Adrian tinha que segurar as
12 tochas para que os demais conseguissem subir e, como ele também pre-
cisava de uma mão para poder se equilibrar, não podia colaborar (e Marcos
tinha que cuspir fogo!!!). As pessoas foram subindo e, enquanto se levanta-
vam, acendemos as tochas e juntamos todas num ponto médio (mas cada
um segurava a sua), e a coisa começou a esquentar. Acima de Marcos (e de
todos), começamos a rir e fazíamos sinais de que assim Marcos não con-
seguiria cuspir fogo; depois de um momento de incerteza, Marcos colocou
o combustível na boca, nos agachamos como pudemos (muito menos do
que estava programado e do que aconselha o senso comum) e ele cuspiu
CnB 5, 2003
um considerável sopro de fogo que desde fora se viu como uma explosão e
desde dentro... Também.
Mais carbonizados e cheios de fuligem do que era previsto fomos saindo
do Beco.”
Formatos
O Circo no Beco engloba primeiramente três coisas: espetáculos realizados no
espaço praça-beco pelo coletivo que o organiza; os encontros semanais de ma-
labarismo e o Festival de Circo e Espetáculos de Rua. Essas três ações ocorrem
no mesmo local, que também é conhecido como “Circo no Beco”. Vamos explicar
cada uma dessas ações.
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Cabaré de Variedades
Banda
Há um apresentador que faz a “costura” e apresentação dos números. Geralmente
o espetáculo conta com uma média de oito números, e em muitos casos é itine- Nas primeiras edições do CnB, tam-
rante, ou seja, ocupa não só a praça de entrada, como também o fundo do beco, bém havia uma banda para encerrar
o espetáculo. São convidados músi-
onde, conduzido por um apresentador, o público é levado a assistir aos números
cos que tenham algum aspecto em
em diferentes espaços. A princípio, os espetáculos eram temáticos. Esses temas
comum com a proposta oferecida
eram debatidos e escolhidos em reuniões prévias, e os organizadores muitas ve-
por esse evento, e que favoreça a
zes decoravam o espaço, criavam números para o tema, ensaiavam bailados de arte de rua e seus meandros. Esse
abertura, entre outras iniciativas. é o momento no qual artistas e
público interagem e têm a possibili-
dade de trocar ideias, informações,
Mapa que truques, paqueras e, para os mais
indica faceiros, até uns beijinhos... Atual-
como mente, não acontecem apresenta-
chegar ao ções de banda após os espetáculos,
CnB devido ao fato de o barulho inco-
modar a vizinhança. Mesmo assim,
diversas bandas aparecem no
Encontro Paulista de Malabarismo
para fazer um som ao vivo.
A importância do chapéu
O Circo no Beco tem também como princípio promover a ideia do que é e
como se mantém a arte de rua, fazendo do chapéu um meio de arrecadar fun-
dos, ou seja, todo, ou parte do dinheiro colocado no chapéu, é dividido entre
os artistas e a produção, que guarda o valor em um “caixa” a ser revertido para
as próximas edições.
Esse valor recebido no chapéu é destinado à manutenção dos equipamentos
de luz e som utilizados durante as apresentações, bem como para a compra de
lanche para o camarim dos artistas.
A elaboração e produção desses espetáculos contou, e ainda conta, com a
disponibilidade e parceria de pessoas interessadas em divulgar a arte de rua, as
artes circenses e os diversos tipos de arte que são englobados nesse aspecto,
como música, dança e teatro.
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Joséfa Iskándara,
2013
O CHAPÉU
Emanuela Helena
1. O que é um chapéu?
Cortina CnB, 2004
Um chapéu é um objeto com aba, corpo (ou copa) e buraco no meio
que é usado para cobrir a cabeça das pessoas com diversas finalidades.
O.k., então vejam nossa primeira ideia: o chapéu cobre a cabeça das pes-
soas. Então, ele guarda o conhecimento, a sabedoria; ele está ali junti-
nho com as ideias, conhece as criações mirabolantes antes mesmo delas
tornarem-se reais, o chapéu esconde a razão e a loucura das pessoas,
protege os pensamentos, compartilha os sonhos. Quantas coisas cabem
num chapéu? Pergunte a um mágico! Obterás infinitas respostas! Muitas
coisas entram e saem dos seus chapéus, coisas que aparecem e desapare-
cem. Já por aí o chapéu é um algo curioso, um objeto mágico e poderoso
que pode ser usado com diversas finalidades, entre elas a de adorno cê-
nico, figurino, fantasia...
Ó, mas que peça interessante essa que eu posso sacar das minhas ideias
para fazer sair e entrar coisas! Quantas coisas cabem num chapéu? A minha
vida cabe num chapéu, a minha família, a minha arte, a minha fé cabe num
chapéu. Todos os nossos sonhos cabem num chapéu.
Devo confessar que a ideia não foi nossa, é uma ideia antiga. Foi al-
guém há muito tempo que teve a ideia de compartilhar sua arte e seu sonho
com os transeuntes, os avisados e os desavisados e esperar destes um reco-
nhecimento para sua sobrevivência, para sua subsistência, para sua vivên-
cia, para seu pão, sua casa, sua luz e sua continuidade. A vida se alimenta de
sonhos, de maravilhas, de vontades... A cultura e a humanidade precisam
de arte, de delírios... O estômago não, o estômago tem fome de matéria, co-
mida de verdade.
31
identifica com aquela obra. Mas um povo se identifica com determinada obra
de arte se ele se enxerga nela, se identifica nela algo de seu. O artista é aquele
que sabe traduzir essa identidade geral. Além disso, através do conhecimento
daquilo com o qual se identifica, um povo — ou indivíduo — passa a se conhecer
ainda mais. Explicando melhor, digamos que quando alguém se reconhece em
determinada obra de arte ele está se reconhecendo e conhecendo a si próprio.
A questão fundamental, a função e o papel do artista parecem dessa for-
ma dissolver-se na ideia de que a existência do artista se faz pela necessida-
de de traduzir, identificar e, de certa forma, resumir o princípio de seu povo.
Além de construir visões de mundo futuras, que seu tempo ainda não enxer-
ga. A sua arte é ferramenta de identidade e de construção da mentalidade. E
o artista existe porque o reconhecem, em algum momento, por sua obra. Ao
mesmo tempo em que ele reflete, concretizando a identidade já existente, ele
conscientiza e esclarece essa identidade, fazendo com que os passos no cami-
nho da meta de uma sociedade se adiantem. Pois ele mostra os passos que já
Emanuela Helena,
CnB 12, 2004 foram dados e propicia a continuidade no caminho.
Gostou da ideia, gostou da criação, então aposte nela, pois ela só irá cres-
cer se for regada, adubada e fomentada. Demonstrar o gosto e reconhecer o
valor de um artista não se opera somente no campo verbal e filosofal, é preci-
so trazer à prática, agir, pague o que acha que vale! E aqui não estamos falan-
do de qualquer artista, mas de alguns que optam pela liberdade de dizer o que
se sente, acredita e pensa, daquele que optou por equilibrar-se sobre a tênue
linha da insegurança ao invés de encontrar-se seguro e comprometido com
um discurso que não é de sua autoria, que não lhe pertence. Artistas que não
Coletivo Nopok, 2007
se subjugam às necessidades mercadológicas, mas que vivem neste mesmo
mundo cão capitalista selvagem pós-contemporâneo — do instante milésimo
de segundo que ainda vai chegar e já não é seu, plim-plim.
Recapitulado: o show não vale hipocrisia, gostou? Valorizando com
retorno de valor real. Me exauri de escutar dos engraçadinhos: “Não tenho
trocados!”. Ah, não tem trocados? Pois muito bem, eu ensaiei, me preparei
por bastante tempo, escolhi um figurino, uma música, ensaiei mais, vim aqui,
trabalhei para montar tudo, me preparei me concentrei, fui e me apresentei
por inteiro, com o melhor de mim! Eu, e outras pessoas também, e você se
tiver coragem de me dizer que não tem trocados, por favor, seja bem-vindo
sempre, mas pense em respostas menos ofensivas para dizer que não quer
contribuir com a (minha) arte. Se lhes apresentássemos sobras, esperaríamos
trocados... Mas fazemos o melhor possível para realizar um show com quali-
dade e esperamos reconhecimento. Quanto se gasta para ir ao teatro? Quantas
megaproduções por aí não cobram os olhos da cara para que as pessoas pos-
sam entrar para assistir?
Aplausos!
A partir de algumas prosas feitas durante esta pesquisa,
muitos reencontros e novos encontros aconteceram, res-
plandeceram e fizeram com que surgissem muitas histórias
complementando uma só, a do Circo no Beco — um movi-
mento que se criou quando não havia muitos meios onde
se pudesse imortalizar a história, como fotos digitais, víde-
os e todas essas parafernálias que hoje não vivemos sem.
Tudo isto está registrado neste bloco da forma mais verídi-
ca possível, contado por quem viu, viveu e que agora pode
compartilhar conosco! Desfrutem!
38
apresentações. Porque eu vi que não tem pressa pra crescer. (...) Porque eu tenho
essas ideias mirabolantes, de transformar o Beco numa profissão mesmo, porque é
um trabalho profissional que a gente faz, mas não é a primeira profissão de ninguém
Cabaré Três Vinténs
o Beco. Eu queria ser um produtor como se o meu primeiro trabalho fosse o Circo
No dia 10 de junho de 2013 o Cabaré
no Beco. Se me perguntassem: “Onde você trabalha?” “Trabalho no Circo no Beco”.
Três Vinténs se apresentou no Puxa-
Qual a importância dessa função? dinho da Praça. Antes de começar
Eu gosto de ter a ideia que se eu não fizesse alguém faria o que eu faço, então nosso show, estávamos prontos
eu não sou importante, mas em muitos momentos eu vejo que não tem ninguém, e com os instrumentos em mãos,
quando decidimos arriscar uma par-
então se eu não estivesse talvez não acontecesse... (...) Modéstia à parte, sei que
ticipação no Circo no Beco. Fomos
ninguém é insubstituível, eu acho que fui ali... As pessoas realmente dispersaram
conversar com os organizadores,
muito, depois dos anos sem ganhar dinheiro; eu acho que eu fui um dos pouco que receberam a gente superbem e
que persisti, mas sinto que agora tem uma nova fase, que tem pessoas com esse colocaram um microfone na minha
mesmo ímpeto que eu, de não deixar a peteca cair. (...) mão. Anunciei o grupo e em alguns
minutos a gente começou a tocar
Você já foi o tesoureiro do CnB, como eram divididas essas funções?
para umas 200 pessoas, que deram
Foi muito interessante separar estas quatro fases do Beco:
risada de nossa esquete e acom-
Primeira fase: panharam nosso blues de rua com
O começo. palmas calorosas naquela noite
Segunda fase: fria. Um detalhe: foi uma edição
Fase clássica, quando ele cresceu e teve uma organização, já tinha o método especial de Circo no Beco no Dia
de fazer o Beco ali que definiu isso. dos Namorados, e a música que
apresentamos fala justamente de
Terceira fase:
um “Desquite”...
Continuou com apresentações, mas sem nenhuma organização.
Henrique Mendonça
Atual fase:
Músico e compositor
Agora estão se redefinindo os cargos.
Por que você acha que diminuiu o número dos espetáculos no molde “Circo
no Beco”?
Não diminuiu, mudou. A ideia inicial era fazer uma apresentação mensal, mais ou
menos, e foi até mais de uma vez por mês. Daí, quando começou o Encontro, o en-
contro virou um dia de muita apresentação também, mantínhamos regular, cada
bimestre um cabaré grande, mas às segundas começou a ter muitas apresenta-
ções e uma demanda muito grande. Tanto é que, na terceira fase, quando acabou
40
a definir como se organizava, durante essa fase fazíamos reunião toda semana e
conversávamos muito pela internet.
E depois, quando paramos de fazer reunião, o CnB andou por si só e poderia
andar infinitamente por si só; ele funciona do modo que tá, mas sinto que agora
tem uma necessidade de fazer um tipo de organização que nunca teve, isso de
considerar como um trabalho. Eu acho que esta é que vai ser a real importância,
porque se a gente continuar sem nenhuma organização ele continua com o suces-
Público no Beco, 2010
so pra sempre, vamos nos divertir toda segunda, vai ter show, de vez em quando
um cabaré. A minha necessidade é de transformar em um trabalho, ser o “primeiro
trabalho” pra mim, e para várias pessoas.
algum problema, mas a indignação era quando todo mundo contava que viajava
pelo mundo e via praças lotadas de apresentações e aqui a gente não via isso.
Então falamos: “Vamos começar a fazer um evento CnB que vai favorecer isso”.
E até hoje, pra mim, a gente se divertiu muito, mas a cidade de São Paulo não
evoluiu nesse sentido, não é uma cidade conhecida pela arte de rua; talvez es-
teja mudando. Por exemplo, há mais ou menos 20 anos ninguem conhecia São
Paulo como a cidade do graffiti, não existia expressão artística no graffiti, hoje já
tem nomes que viajam o mundo inteiro e falam: “Sou grafiteiro de São Paulo”.
Isso é um reconhecimento, eu acho que as mesmas coisas acontecem com a arte
performática de rua. (…) Vi isso, que a gente não precisa ter pressa, estamos nos
divertindo assim. Pode demorar 15 ou 20 anos, mas a ideia do Beco é que São
Paulo seja conhecida como a cidade da arte de rua, performática ou não. Mais ou
Du Circo, CnB 10, 2003
menos isso, a ideia toda.
Du Circo
Paulista, nasceu em 1973. Artista circense, palhaço e malabarista. Atua
com trabalho solo e também com os grupos Namakaca e Fundo Falso.
Integrante dos Doutores da Alegria desde 1995.
Duico Vasconcelos
Paulista. É o Palhaço Pistolinha. Malabarista, equilibrista e músico, trabalha
como palhaço na Academia Brasileira de Circo e nos Doutores da Alegria.
Atuou na companhia norte-americana Cirque Dreams e na Unicirco. Foi um
dos idealizadores do Circo Gaia e do Circo Rizorama. É criador e integrante
do trio de palhaços Los Tabacudos. Foi também coordenador e professor
de circo e expressão corporal para crianças de 4 a 16 anos na Escola da
Praça do Projeto Aprendiz.
Teve uma hora que sentei no meio-fio, e me perguntei: ‘Quando é que eu vou sair
daqui, pra onde que eu vou agora? Três anos aqui todo sábado e domingo, pra
onde é que eu vou?’.
(...) Eu posso até não ter aquela puta grana, casa na praia e carro importado,
mas eu tenho pessoas de meu convívio, graças ao Circo no Beco, que foi o que
abriu tudo, o lugar que me fez artista.
Porque não tem curso. Se você vai falar ‘Teve curso?’, não teve curso, o curso
era botar a cara para bater, e pirando. Era todo mundo pirando junto e fazendo
Duico Vasconcelos e Antonio Marcos reunião. (...)
Pires Gil, 2004 (...) O Circo no Beco começou na Argentina, foram os argentinos que chega-
ram, dominaram o sinal e a gente começou a ver o que era isso. A gente começou
a fazer sinal, e aí a gente viu que o sinal não estava mais dando para a gente,
porque você começa a buscar coisa artística mesmo, pois não adianta só chegar
lá e fazer malabares, tem que conquistar o cara do carro e foi aí que eu comecei a
entender o que era a arte, que eu entrava no sinal, o cara passava, ele estava puto
no carro... Aí eu fazia meus malabares, quando eu terminava o cara já estava com
o dinheiro de fora para me dar. Aqui eu conquistei esse cara. Não existia isso... O
paulista é carrancudo por natureza, então para você fazer sinal na cidade de São
Paulo, e saber conquistar um cara que tá dentro do seu carro, é uma vitória. Só
que a gente queria mais, eu queria mais. Os caras que vinham de outros países já
faziam rua. (...)
(...) Coincidentemente, no dia 27 de março ia ter o cinema, ele (Rodrigo Pe-
reyra) falou isso numa quarta e era na próxima quinta, vamos aproveitar esse
grupo. Beleza, começamos a divulgar... Aí quando a gente foi fazer o primeiro
(CnB) não tinha ninguém, todo mundo tinha ido embora do cinema, a gente nem
maquiado estava e não havia ninguém na praça, falamos ‘Vamos lá e fazemos pra
gente mesmo’. Tínhamos ido no dia anterior ensaiar lá no Beco (...) o CnB começa-
va na praça, passava pelo meio, ia pro fundo e voltava para a praça. (...)”
Nasceu em 1982 em São Paulo, onde vive até hoje. Acrobata, historiadora,
arte-educadora e fagotista. Fundadora e artista do CnB, também trabalhou
na Central do Circo e fez parte do NEC (Núcleo de Estudos do Circo).
Esteban Hetsch
Argentino, nasceu em 1980. Começou a jogar malabares em 1997 e logo
depois a apresentar-se na rua. Estudou na Escola Municipal de Berazategui
e na Escola del Circo Criollo, em Buenos Aires, e na Oz Academia Aérea e
na Picadeiro Circo Escola, em São Paulo. Atualmente vive em São Paulo
e integra a Cia. Circo Delírio e a The Bigosty Shows.
Você já viveu somente do dinheiro que ganhava com o chapéu nas apresen-
tações de rua? Você acha possível viver só dele ainda hoje?
Já vivi do chapéu quando estava viajando, na Europa antes de o CnB existir.
Acho possível sim, mesmo hoje em dia, mas depende do tipo de vida que você
pretenda ter. Acho bom para levar uma vida “alternativa”, um pouco diferente dos
padrões sociais da Globo [referindo-se a rede de televisão]. (...) Acho uma fonte de
renda para bancar uma vida mais fluida, pois permite maior liberdade.
Você teria algo a dizer para as pessoas que estão começando hoje com as
artes de rua ou as artes circenses?
Que têm que viver a rua! Dedicar-se e criar sem parar, devagar e sem pausa! Acre-
ditar na magia e na arte que elas te salvam de tudo! Pesquisar, estudar e profis-
sionalizar-se o máximo que puderem, ver e rever espetáculos, treinar com muita
49
disciplina, para que a mente flutue junto com sua imaginação. SER RESPONSÁVEL.
COMER O CIRCO, digo, E IR PRA RUA PROVAR MUITO.
Marcelo Lujan
Argentino, nasceu em 1976. Atualmente vive em São Paulo, onde trabalha
com circo, teatro e música. Formado em Artes Plásticas. É diretor da Cia.
Circo Amarillo e diretor musical do Circo Zanni, além de ser integrante
de ambos.
Circo Amarillo, CnB 6, 2003
Como você conheceu o Circo no Beco?
Eu fiz parte das primeiras pessoas que pensaram a ideia e incentivei a fazer
acontecer porque acreditava que a cidade de São Paulo precisava de um espa-
ço como esse. Aliás eu estava na tarde em que o Rodrigo Pereyra falou de fazer
espetáculo no Beco, estávamos dentro do Beco fazendo malabares e falamos
disso.
crianças eram do Projeto Aprendiz, o nosso primero público! Acho que essa magia
foi a chave de tudo.... Esse primeiro público!
Você ainda faz rua? Como é fazer rua no Brasil e no mundo atualmente?
Sim, sempre faço rua, é meu estilo de vida. Fazer rua no Brasil dez anos atrás era
Público na praça no CnB, s/d
difícil, mas a gente fazia igual. Na Europa é melhor, tem uma cultura em que o
público respeita e o artista é valorizado. Atualmente o único problema para um
artista de rua é a sociedade, que não valoriza a sua cultura e também as leis
do sistema, que vão contra os artistas de rua. Em alguns países colocam muitas
fechaduras para tudo, para o espaço, permissões, som etc. Por essa razão os festi-
vais de rua são os lugares onde o público e o artista convivem em paz e harmonia.
Pablo Nordio,
2009
51
Maria Druck
Paulista, nasceu em 1977. Sua principal formação é Equilibrismo e tem
graduação em Artes Cênicas pela ECA-USP. Esteve desde o princípio no
CnB, integrando a Comissão de Aéreos. Também trabalhou com o Circo
Delírio e o Galpão do Circo. Atualmente é iluminadora cênica e light
designer para diversos espetáculos.
Você já viveu somente do dinheiro que ganhava com o chapéu nas apresen-
tações de rua? Você acha possível viver só dele ainda hoje?
(...) Terá que trabalhar com regularidade e escolher pontos estratégicos, criar um
público em cada espaço, além do que o valor recolhido no chapéu é diretamente
proporcional à qualidade do que você apresenta. Na rua o público é ainda mais
exigente, pois tem a liberdade de ir e vir mais do que em outros espaços.
Mateus Bonassa
Nasceu em Osasco em 1985. Foi integrante do Circo Zé Brasil, atualmente
é palhaço e diretor de circo do Teatro Mágico e palhaço, ator e auxiliar
em cenografia no Circo Vox. Em 2011, fundou o projeto Ponte do Circo, em
Osasco. Também foi integrante da organização do CnB.
Você falou que o Beco é uma escola. Qual foi seu maior aprendizado?
Nossa! O maior? A rua. É a melhor escola para o artista na minha opinião, e aqui
(CnB) a gente trazia muita coisa para testar, dar a cara a tapa. Então, na questão
da criação do meu palhaço, do meu artista, o CnB foi uma grande escola nesse
sentido. (...) A questão de improvisar, e não improvisar só cenicamente, impro-
visar com material: se queimar a luz, você conseguir verba para comprar uma
lâmpada, gerenciar artistas num espetáculo, enfim. Isso foi uma grande escola
aqui no Circo no Beco.
54
Você já viveu somente do dinheiro que ganhava com o chapéu nas apresen-
tações de rua? Você acha possível viver só dele ainda hoje?
Sim! Só fazendo.
Nacho Noche, 2004
55
Paulo Andringa
Nasceu em Portugal em 1978. Designer/programador web. Joga diabolô
desde os 16 anos. Esteve presente na fundação do CnB e foi responsável
pelo material gráfico durante os primeiros anos.
sala. (...) Durante muito tempo muita gente me disse que era das melhores festas
que tinha na memória!
Tive a sorte de me encontrar no mesmo espaço-tempo que o surgimento
do Circo no Beco, onde estive envolvido desde a primeira hora (ou hora-e-meia),
como artista e aprendiz de feiticeiro, além de colaborar na divulgação, tanto web
como papel, participando em centenas de sempre intermináveis e agradáveis re-
uniões, transportando, fazendo acontecer, correndo atrás e imaginando em geral.
Rodrigo Buchiniani
Nasceu em São Paulo em 1979, onde vive até hoje. Advogado, circense e
capoeirista. Pós-graduado em Direito Tributário e mestrando em Direito
Constitucional pela PUC-SP. Artista circense com foco em corda lisa,
malabarista, palhaço, monociclista, pirofagista e contrarregra.
Tum Aguiar
Vive atualmente na cidade de São Paulo. É trapezista e especializou-se em
acrobacias performáticas aéreas. Formou-se na Circo Escola Picadeiro e
atua há mais de 15 anos na área. Contribuiu em diferentes grupos e circos
no Brasil e na Europa. Atualmente é parceira do grupo ARES, e da dupla Luli
& Tul. Além de atuar como artista, Tum Aguiar também é diretora técnica
de montagens circenses e Rigger, ministra aulas e oficinas regularmente.
Quando foi seu primeiro contato com circo, malabares ou arte de rua?
Fui uma das fundadoras do Circo no Beco, participando desde a 1ª reunião. Fiz
parte da 1ª comissão de aéreos, que visava a possibilidades de ter aéreos no
Beco, no qual fomos bem-sucedidos.
Vicky Justiniano
Nasceu em São Paulo em 1983. Atriz formada em Artes Cênicas e Circenses.
Começou a trabalhar com circo na OZ Academia Aérea de Circo, em São
Paulo, e depois na Escola Nacional de Circo da Funarte, no Rio de Janeiro.
Trabalhou em espetáculos variados.
E para finalizar...
Um verdadeiro exemplo da importância do Circo no Beco para o fomento das
artes circenses, o eterno garoto-revelação....
viajei, mas chegou uma hora que eu queria viver outras ondas, ir para as Conven-
ções de Malabares, e assim foi.
Você tem algum ídolo ou alguém que o motivou dentro das artes circenses?
Tenho. Foi o Igor em primeiro lugar e uma pessoa que eu me inspiro muito que é
o Anthony Gatto, hoje um dos melhores malabaristas do mundo.
Mas uma pessoa que eu admiro muito aqui, muito, e que sempre está do
meu lado, é o Marquinhos. Antônio Marcos Pires Gil. Inclusive foi o Marquinhos
que me levou no circo, pro Circo dos Sonhos.
Você sabe da influência que tem na vida de muitas pessoas que frequen-
tam aqui, tendo você como ídolo?
Na verdade eu nem sei. Mas eu gosto muito daqui, gosto da galera, me sinto bem
Anderson Pereira da Silva, 2012
aqui. É uma família. Fico muito feliz. Aqui no Beco eu me sinto em casa.
Como você vê esse encontro no passado, como você vê ele hoje e o que
você diria para as pessoas que estão começando?
Esse é o Encontro mais famoso que tem. Inclusive até o Thomas Dietz, que é um mala-
barista alemão muito bom, conhece esse encontro. Esse encontro mudou minha vida,
quando conheci o Beco, encontrei com coisas que não tive, conheci pessoas legais.
Samer Ali Zahra Iak “Tive o prazer de ajudar o Anderson (“o André Carvalho (Montanha) “Com o Anderson, foi assim, no
Neguinho”) quando estava bem no começo, e ele sequer tinha começo, ele queria saber como eram as convenções europeias.
claves ainda. Até me emociono em contar, era uma criança (...) Fui um dos muitos que doaram claves para o Anderson
muito determinada e aparentemente sem nada na vida. Doa- poder treinar e não interromper uma carreira tão promissora. E
mos algumas bolinhas e umas claves velhas... Ele dizia que ia o mais louco que o maior ídolo dele era o Anthony Gatto, e ele
ser melhor que o Anthony Gatto! Pegava sete bolas e as atirava queria ser igual ao cara, em tudo, e eu dizia: ‘Você não precisa
para cima (ele nem conseguia jogar quatro na época), e pergun- imitar ele’ (falava isso porque achava que ele nunca chegaria
tava ‘Estou melhorando, né?’. Não jogava nem três dessas sete perto da lenda ‘Gatto’), mas o Anderson é tão especial, que ele
bolas. Brincávamos com ele e o incentivávamos a treinar mais. treinou muito, e chegou lá. Hoje ele faz quase todos os truques
Fiquei muito tempo afastado do Beco. Um belo dia volto e tem do cara e mais alguns. (...) Agora é ele quem ensina a todos.”
esse mesmo Anderson jogando oito aros! (...) Foi lindo.”
Ailyn Evelyn
e Fernando
Proença, 2010
Graffiti, 2012
Além do Beco
Pela vontade de incluir números aéreos nas apresentações
do CnB, formou-se a Comissão de Aéreos, que ampliou o
movimento com apresentações em trapézios, tecidos e
cordas, que, no ar, sobrevoam o público e ampliam as pos-
sibilidades do espetáculo.
O Encontro Paulista de Malabarismo (ENPAUMA), que
ocorre semanalmente desde 2003, se espalhou pelo Bra-
sil, contagiando outros a também ocuparem praças de
suas cidades com encontros.
E mais, a partir de um e-mail nada pretensioso, surgiu o
primeiro Festival de Circo e Espetáculos de Rua. Tudo isso
organizado pelo coletivo Circo no Beco. Conheça os outros
pilares dessa história!
66
Comissão de Aéreos =
união de gente-pássaro
Entrevista coletiva com: Emanuela Helena, Maria Druck, Marian Del Castilo e
Tum Aguiar
Montagem da trave no
Comissão de aéreos CnB 14, 2004
Maria: Nós nunca éramos convidadas pros cabarés que aconteciam na época.
(...) Foi por isso que a Comissão de Aéreos se formou, porque tínhamos a espe-
rança de um dia se apresentar num cabaré nosso. Uma coisa criada no Beco.
Teve um fluxo pra além dos aéreos que era trocar de números, não ter sempre
o mesmo número. O primeiro ano foi bonito.
Tum: O legal era isso, nós nos encontrávamos durante a semana, durante o
mês pra criar o número pra apresentar no Beco. Isso aconteceu muito com
muita gente. Criar uma coisa para o Beco. O primeiro ano inteiro foi assim,
com todos nós, cada Beco tinha um número novo. E era um espaço pra teste
também, tipo “Tenho uma ideia mas não sei se funciona”. O Beco estava ali
pra você ver, pra testar.
Maria: Tinha o lance dos personagens que no 1o ano funcionou, os chapeleiros
se caracterizavam, tinha o segurança que era a Tum. Como os espetáculos
variavam de tema, os personagens eram variáveis, a não ser o segurança que
era sempre o segurança.
Panfleto de uma edição especial
do CnB, que foi realizada em
outro local, no Páteo do Colégio,
em 2004
68
Manu: (...) Mas a primeira trave que a gente usava era uma trave do Gil [fa-
zendo referência a Gilberto Caetano...] a trave dele ficava na chácara dele, na
central às vezes (...).
(...)
(...)
Tum: Eu lembro que a gente montou poucas vezes dentro, aí depois se viu que
era muito mais fácil montar na praça.
Maria: (...) E lá na praça tinha aquela arquibancadinha, dava pra acomodar
melhor o público do que dentro, e também porque começou a crescer muito o
público, teve uma época que começou a vir muita gente.
Mafê: No 6o já tinha trave?
Tum: Sim, foi o primeiro. (...) Depois o CnB comprou uma trave.
Todas: Chapéu!
(...)
69
SOBRE O CHAPÉU
Maria: Lembro que tínhamos essa inspiração da arte de rua europeia, a gente ti-
nha essa ideia de fazer uma coisa de qualidade e que o chapéu seria o reflexo dis-
so. Que a gente só conseguiria que o chapéu melhorasse quanto melhores fossem
os espetáculos. O dia em que o espetáculo era bom, o chapéu era muito melhor.
Marian: Aqui também a galera é bem diferente. (...) Eu acho que não é que
chegou com eles (argentinos de Mar del Plata), mas eles tinham mais essa
Jade Gouveia, Maíra Campos, Marian Del
liberdade. Castillo e Tum Aguiar, CnB 8, 2003
Maria: O que tinha muito naquela época aqui em São Paulo é que estavam
CHEGANDO os malabaristas de rua.
Tum: É, foi quando começou a coisa do farol...
Marian: Sim, mas eles já tinham mais essa coisa de rua do que a galera aqui
do Brasil. Uma coisa que eu lembro nas reuniões que a gente falava, o público
brasileiro é diferente do público argentino, chileno ou uruguaio, que já está
acostumado ver artista na rua...
Lembro que tinha muito essas discussões filosóficas que o público bra-
sileiro está muito acostumado a dar esmola, então vamos tirar essa cara. (...)
Depois dessa discussão lembro que a gente melhorou muito a nossa
qualidade, porque é exatamente essa coisa que a Maria estava falando, que
quando o espetáculo é capenga o chapéu também é capenga.
(...)
Manu: Não sei se tínhamos a fase em que a gente já tinha o próximo espetácu-
lo marcado de divulgar no próprio espetáculo?
Todas: Tinha, quando fazíamos a cada 15 dias então a gente divulgava no pró-
prio espetáculo.
Maria: Era a cada três semanas, porque a gente achava de 15 em 15 muito
perto e de mês em mês muito longe.
Edição especial do CnB: “Laboratório
Arranha-Céu”, a primeira noite de aéreos,
2005
70
“Surge dia 18 de maio de 2011. Houve vários motivos que nos levaram
a montar (...) em Osasco: primeiro (…) não tinha nada, eu tive que sair de lá
para aprender alguma coisa. Existem vários artistas que vivem em Osasco
mas não produzem lá, (...) a cidade não dá o incentivo, não tem uma vitrine
para produzir.” (...)
hoo Grupos
FESTIVAL DE CIRCO E ESPETÁCULOS
https://br.groups.yahoo.com/neo/search?query=circo no beco
DE RUA (FECER)
Mail NotíciasPartindo do
sonho
Esportes de realizar
Finanças Tempoum festival
Jogos dedicado
Grupos a espetáculos
Respostas de circo de
Screen rua Celular
Flickr Mais
em São Paulo, a equipe do CnB incluiu o terceiro feito em suas realizações (o pri-
Buscar em Grupos Buscar na Web giulia_ki… Mail
meiro foi o Circo no Beco e o segundo o Encontro de Malabarismo).
A vontade dos organizadores de realizar um festival era muito grande, pois
Encontro de Malabarismo no CnB, 2009
esse evento seria praticamente a comemoração de tantas conquistas já alcança-
das pelo grupo. Além de espetáculos, a ideia era incluir cortejos, cabarés, palco
abertos, shows, oficinas e bate-papos.
Partindo do grande objetivo do CnB, que é valorizar a arte de rua e ocupar
espaços públicos, acreditavam que com um Festival atrairiam um maior número
de pessoas e incluiriam mais artistas.
Circo No Beco
Os festivais de circo na rua já eram muito populares na Europa, porém no
Grupo público, 118 membros
nosso país ainda eram uma grande novidade. Foi a partir de um e-mail de um
dos Conversas
fundadores, Marco Fotos Napuri (Markiño
Arquivos Peruano),
Sobre Mais que todos se animaram, pois Associação
este dizia que somente o CnB poderia realizar um Festival de rua em São Paulo
(vide e-mail abaixo). Exibir Responder
33 RE: [circonobeco]proposta!!!
Exibir fonte
vcs sabian que existen festivais de arte de rua ,ao menos aqui na europa
tem
un monte de tuduuuuu circo ,arte de rua,musica`,payasos ufffff muitooo cada
mes numa ciudade defernte iso e legal si vc quiseren visitar site de
festivais na españa e
www.festivales.com,,,,,estos festivales a maioria de veces e organizado por
uma galera de artistas ,mais e auspiciado pelo ayuntamiento da cidade,i ai
que vai a proposta porque nao se animam y facen o 1 festival de arte de
rua!!!!!!!!!!!!!!! no sao paulo ein so vcs poden .....iso pode acontecer una
ves cada ano i asim facer um proyecto ...acho que seria muitooo legal vean
un pouco mais de informaciuones de festivales espero que vc ayan gostado
da
ideia ...y fazan seu primer festival de arte de rua ....so vc oden facer elo
seu sao paulo ya que vc son !!!! abrasoso .......markito Panfleto do CnB 19, 2004
_________________________________________________________________
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upos http://messenger.latam.msn.com/
74
“Acredito que isso (as fábricas) pode levar a um maior interesse pelo
circo por parte dos praticantes, mas, considerando que os circos em si não
são grandes consumidores de malabares, não acredito que se possa afirmar
que isso fomenta a atividade circense se pensarmos atividade circense como
circo tradicional, mas se pensarmos como atividades circenses as ONG’s, os
Projetos Sociais e as Escolas de Circo aí sim posso afirmar que as fábricas de
malabares representam um papel importante no fomento dessa atividade”.
“A palavra circo vem de círculo, redon- “Artista de rua é esse que vive do di- De quais espetáculos do
do que nem o mundo.” nheiro dos chapéus, que consegue CnB você participou?
Maria Druck transformar qualquer espaço público
em um palco, em um teatro improvisa- “Apresentei por diversos anos o Circo
“O circo sempre está ligado ao risco, à do. Os pedestres viram público. A cal- do Beco. Sempre foram espetáculos
virtuose, mesmo que essa virtuose seja çada, plateia. A rua é a pista de circo bacanas do ponto de vista artístico.
o ato de conquistar o público e não so- mais alta do mundo.” Um espetáculo que me lembro em es-
mente a habilidade física.” pecial foi num dia em que acabou a luz
Jesus Forniés
Anderson Spada e continuamos a apresentar no escuro
“Um estilo de vida.” mesmo. Para o público foi uma experi-
“O maior espetáculo da Terra, mesmo ência única e para nós também.”
Marcelo Lujan
quando é circo de pulgas.”
Marcio Ballas
Marcilio Moura “É a cova dos leões.”
Cesar Lopes “Eu participei desde o início e fiquei todo
“Circo é uma expressão cultural e artís- o primeiro ano. Participei dos primeiros
tica do corpo que contempla três ele- “A rua é generosa e verdadeira. (...) seis meses como organizadora/produto-
mentos básicos: a virtuose, o risco e a Apenas 5% da população das gran- ra (...). Como artista tive que desenvolver
originalidade.” des capitais frequentam os teatros, o meu clown, né?! Porque eu sou artista
Cesar Lopes artista de rua atende a todos os 100%. aérea, e a trave só veio depois de seis
Pensando nas localidades que não se meses de Circo no Beco. E isso foi muito
O que você entende por encontram nas regiões metropolitanas bom porque o desenvolvimento pesso-
ainda é mais importante. Cria público, al foi enorme. Também nos virávamos
arte de rua?
educa o consumo artístico e cultural, como podíamos. Lembro que costurei a
“Arte livre e democrática. A rua não vê ca- apresenta a vanguarda dos fatos e su- cortina do circo (que talvez deve existir
racterísticas sociais, (...) é acessível para gestões.” até hoje), com a Maria. Fazíamos bolo
todos os tipos de público. As contribui- Ben-Hur Pereira e vendíamos, sempre precisávamos de
ções voluntárias colocadas nos chapéus dinheiro pra uma ribalta (risos). Muito
são dadas de coração, por amor verda- “É aquele que pede licença pra en- bom, o início foi excelente. Lembro de to-
deiro à arte e ao trabalho do artista.” trar e agradece na hora de ir embora. das as ideias que tínhamos, nossos por-
Não faz concessão, se faz necessária quês, nossos sonhos... Eu mantinha um
Lucas Gardezani Abduch
ao momento em que se materializa. diário meu que ia escrevendo a evolu-
“Como artista a rua, é o palco mais im- O tempo de uma função é suficiente ção do Circo no Beco e escrevia todas as
portante nas nossas vidas, te faz traba- para que ela transforme e seja trans- minhas ideias, sobretudo números, ceno-
lhar muito o seu ego.” formada.” grafia, figurino, tempo, coordenação etc.”
Marian del Castillo Hernandez Alexandre Roit Marian del Castillo Hernandez
80
“Participei de dois espetáculos no Circo “O CnB foi o meu berço. Fui parido em
no Beco, um deles foi o de nono aniver- um Beco dos namorados e educado du-
sário, foi a primeira vez que apresentei rante o encontro semanal de malaba-
lá. Foi a maior fonte de energia que já res. (...) Mudou completamente o rumo
recebi na minha vida.” que minha vida estava tomando, e ago-
Rogério Piva ra, após nove anos da primeira vez que
eu passei a cerca verde, eu continuo es-
tudando muito do que aprendi lá. Tenho
Qual a importância certeza que a iniciativa do encontro se-
André e Duba, “Irmãos Becker”, 2003
do Circo no Beco e do manal, e também da Revista Palco Aber-
Encontro Paulista de to, fizeram uma forte influência para que
Malabarismo para você outras cidades criassem também seus
e para o fomento da arte próprios encontros regionais.”
“O Circo no Beco é uma ótima oportu- “As pessoas que faziam o Beco me in-
nidade de desenvolvimento autoge- fluenciaram. Comecei trabalhando no
renciado do movimento das artes da farol. (...) O Circo No Beco é o evento
mais famoso de circo e arte de rua,
rua e do circo. Um espaço alternativo
Grupo Parisada, 2009 muitas pessoas de todo mundo conhe-
em uma cidade em que o imperativo é
cem ou já se apresentaram no Beco.”
o mercado e o lucro. No meio da cida-
de de São Paulo, encontrar um espaço Duba Becker
gratuito que incentive a cultura e arte “Eu viajei os 27 estados do país! (...) O
é de extrema importância.” Beco no Brasil é a grande referência! (...)
Rodrigo Mallet Duprat O Circo no Beco influenciou muita gente
a montar Encontro, tipo, eu faço parte do
“Viajo muito e sempre que encontro
Encontro de Malabares lá de Natal; os
pessoas afins com o circo elas conhe-
meninos vieram aqui no Beco e ficaram
cem o Circo no Beco. (…) Entendo o
doidos! Tem essa referência do espaço
Beco com uma ‘Descola’: uma escola
mais antigo, né?! Muito massa!”
descolada, um tempo e um espaço
Emerson de Souza Rodrigues
para aprender/ensinar, compartilhar,
Raphael Cardoso, “Multiartista”, 2013 se inspirar, se divertir.” “Claro, numa cidade como São Paulo,
Mi Chan Tung em que a arte de rua ainda está enga-
81
tinhando, o Circo no Beco participou, “Sem dúvidas. Ao colocar pessoas incrí- “Totalmente. É um espaço democrático
talvez, do surgimento dela.” veis juntas, coisas incríveis acontecem.” que abre as portas para os mais consa-
Otavio Fantinato Lucas Gardezani Abduch grados artistas como para os mais ini-
ciantes e experimentais. (...) É uma ‘Des-
“O Beco é um espaço sagrado, porque cola’. (...) Arte é prática, e o Beco abre
Você acha que o Circo no as pessoas que lá vão para encontrar um espaço incrível de prática, constante
Beco influencia na criação as expressões artísticas conseguem e inspirador. É um ambiente que pro-
e no surgimento de novos desenvolver novos projetos e conhecer porciona muita sociabilização, e assim é
artistas? De que forma? parceiros, o que reforça o caráter cata- fácil encontrar um parceiro, trocar ideias,
lisador do espaço, além do acolhimento treinar e ensaiar juntos, e ainda se apre-
“Voilá! Eu sou uma criação CnB! Vejo das pessoas no local: um espírito do sentar para um público super aberto e
como funcionou comigo no passo a local, um espírito de justeza e honesti- de quebra faturar uns mangos.”
passo: dade como vi em poucos lugares! Um Mi Chan Tchung
1. Mostrar que existe: lugar de gente ‘olho no olho’!”
“O Circo no Beco é a melhor escola de
Fazer apresentações abertas ao pú- Theresia-Louise
malabares do Brasil e acredito que
blico com a acessibilidade para todos, “Eu acho que a nossa primeira propos- uma das melhores do mundo.”
passando o chapéu. Nessas, após os ta de fazer um cabaré mensal, o Circo no Rogério Piva
espetáculos temos a oportunidade Beco, em si, era pra motivar artistas emer-
de conversar com os artistas, ven- “O Circo no Beco está muito aberto
gentes, para ter um palco onde pudes-
do que é um meio de vida possível. para todos. (...) Existem oficinas e as
sem estrear... E uma das ideias era tam-
2. Incentivar: pessoas estão abertas para ajudar aos
bém de ser a referência para os artistas
Convidar a participar do encontro se- outros e, acima de tudo, organiza espe-
de rua latino-americanos. Eu acho que
manal, para aprender, ensinar e com- táculos de todos os níveis!”
conseguimos, é um ponto de referência,
partilhar de maneira livre e espontânea. queríamos criar um lugar onde TODO
Hans Vanwynsberghe
3. Dar o espaço para começar a vida MUNDO PUDESSE SE APRESENTAR.”
profissional:
Marian del Castillo Hernandez
Com convites para começar a ingres-
sar em uma cena com o Palco Aberto, “A arte chama a arte, então, se surge
e abrindo a porta do mundo profissio- um lugar onde tem espetáculos e se
nal tendo a oportunidade de partici- reúnem periodicamente artistas, o na-
par como artista convidado para uma tural é que ao seu redor vá se articulan-
noite de espetáculo Circo no Beco. do uma rede de artistas (...) onde todos
(passei por todas etapas!!).” influenciam e são influenciados.”
Tássio Folli Carlos Rodrigo Pereyra
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“Todos são aprendizes e professores.” com o mesmo tanto de tempo para trando a necessidade do mesmo e o
Danielle de Siqueira Vasconcelos se dedicar. A cidade já não é a mes- compromisso das pessoas que, em
ma, porém o Circo no Beco continua, um ou outro momento, se viram re-
“Determinação e coordenação foram e não vai parar nunca!!! Todas as se- lacionadas de uma ou outra maneira
as coisas que mais aprendi...” gundas tem gente, gente nova e gen- ao projeto.”
Juliana Gusmão te velha, a fim de se encontrar, prati- Carlos Rodrigo Pereyra
car, conversar e trocar. O espírito é o
“Antes tinha o cheiro da novidade, mui-
Como você vê o Circo no mesmo, guardadas as proporções.”
to entusiasmo, querer fazer, descobrir,
Beco no passado, e como Theresia-Louise
criar, estar, participar. Hoje é algo ins-
você o vê hoje?
talado, sólido, que já faz parte da ci-
“No passado o Circo no Beco era uma
“Um ciclo de pessoas. O Circo no Beco coisa quase familiar, durante os pri- dade. Quinta-feira tem feira na minha
sempre tem a cara de quem o produz e meiros meses nos parecia estranho rua e segunda tem Beco na praça. Já
das pessoas frequentadoras e, de tem- quando vinham pessoas que não é quase um ‘bem público’. O espírito
po em tempo, estas pessoas mudam.” conhecíamos muito, o que não era se manteve. As famosas reuniões da
Douglas Marinho do Amaral ruim, porque era o que buscávamos e quarta à noite não... Os panfletinhos
a sobrevivência do projeto dependia divertidos estão, a galera se renova
“Vejo o Beco no passado como um um pouco disso. O que não éramos mas a velha guarda visita, as luzes não
local mais cheio de engajamento conscientes é de que podiam se inte- são tão mambembes como antes...
por parte de muitos jovens talento- ressar pelo projeto, pessoas de fora Hoje dá vontade de crescer mais, de
sos, que tendo aquele local como do nosso círculo de relações circen- movimentar algo de grana. Pero sin
compromisso semanal, presencial e ses. Nesse sentido, é muito caminho perder la ternura jamás.”
sagrado, construíram um espaço ca- andado, o Beco conseguiu abrir um Mi Chan Tchung
talisador de pessoas do mundo todo espaço no cenário circense de São
interessadas em música, graffiti e “No passado: um pontapé inicial como
Paulo, e se converteu numa referên-
principalmente MALABARES. Hoje espaço de troca artística. No presente:
cia em relação à arte de rua; iniciou
vejo um movimento cuja safra da como um espaço de referência e com
numerosos artistas no mundo circen-
geração passada se dedica às suas muito mais possibilidades artísticas.”
se e ajudou o Projeto Aprendiz a rea-
carreiras e não vê mais naquele es- bilitar este espaço da Vila Madalena Pedro Muccioloco
paço um compromisso inadiável, e gerando atividades para a vizinhan-
sim um espaço de origem, deixando, ça; em todo este processo, os inte-
assim, o espaço aberto e livre para grantes do projeto, os colaboradores,
as gerações mais novas ocuparem. os artistas, foram mudando mais o
No entanto, as gerações mais novas projeto, porém continuou (com seu
não têm o mesmo volume de gente altos e baixos) crescendo, demos-
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algo similar. Mas ainda é uma peque- mesmo não fazendo mais tanta parte a paixão não é suficiente). Como dis-
na parcela da população que vê o cha- do meu cotidiano profissional, quando se um amigo profissional do circo há
péu desta forma, por isso eu e vários tenho oportunidade resgato o ‘artista muitos anos: ‘Não são todos os dias
outros artistas de rua, mesmo com o de rua’ e vou demonstrar a minha arte, que eu quero dar um mortal às nove
espetáculo sendo contratado e sendo em troca do reconhecimento pago no da manhã’.”
pago cachê, fazemos o discurso do meu chapéu.” Tassio Folli
chapéu e o passamos para a conscien- André Russo Becker
tização e fomento.” “Dê o seu melhor e coisas fantásticas
Douglas Marinho do Amaral “O chapéu foi minha única fonte de acontecerão!”
renda durante muitos anos, me ajudou
“O prazer de ter um ofício, de saber que Lucas Gardezani Abduch
a terminar meus estudos e me ensinou
onde e como eu estiver eu posso me a trabalhar na rua e a desenvolver a “Não desistam. É trabalho duro, árduo
virar e me divertir com isso. Autonomia linguagem que hoje em dia trabalho.” mas altamente recompensador.”
é a palavra mesmo.”
Daniel Ernesto Poittevin Pijuan Alexandre Jungermann
Mi Chan Tchung
“Liberdade.” “Que para tudo existe o lugar e o pú-
“Acho que o chapéu é o coração de
Paulo Gustavo Moraes blico adequado. Se não dá certo, não
cada pessoa depositado ali, o retorno
do sentimento que entregamos. É o si- insista no erro, que é muito frustrante e
nal do respeito e da liberdade, de doar Você teria algo a dizer desgastante. É realmente preciso mui-
ou não doar, no chapéu cabe dinheiro, para as pessoas que estão ta força de vontade para dar as caras
na rua, começar a se apresentar assim,
porém, cabem sorrisos, olhares, lágri- começando hoje com as
mas, sentimentos, cabem vidas.” do nada, sem ninguém esperando por
artes de rua, ou as artes
Rogério Piva isso (o oposto de um teatro onde o pú-
circenses?
blico está ali sentadinho te esperando,
“Hoje torço para que ele crie força, e já até pagaram inclusive). Então, se
“Converse muito com artistas profis-
enquanto tradição e meio de sobre-
sionais ou que estão em começo de o número não estiver resultando, pri-
vivência. Mas para mim é uma forma
carreira, para saber realmente como meiro prove mudar de lugar e esteja
de acessibilidade, é democrático e não
funciona. Soa muito bonito dizer que aberto aos acasos, que te guiarão às
impeditivo, não capitalista.”
se vive de arte, que sua profissão é dis- condições propícias.”
Alessandro Azevedo
seminar a alegria e que fugindo com o Mi Chan Tchung
“O chapéu ajudou na minha formação circo encontramos a liberdade. Porém
como artista. Com ele comprei minhas não é nada fácil, e é quesito necessário “Que abandonem! Que continuem so-
primeiras claves, paguei meus pri- estar apaixonado pelo trabalho para mente se não podem evitar.”
meiros anos de profissão. Ainda hoje, realizá-lo (e, mesmo assim, às vezes Victor Avalos Tomate
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“Sim, para acreditarem, correrem mui- Você ainda faz rua? Como
to atrás do sonho, nunca deixarem de é fazer rua no Brasil
pesquisar e estudar, ficar com o mes- atualmente?
mo número de celular para sempre,
fazer contatos, ter cartão e site, atender “Existem muitas maneiras de fazer rua.
bem seus clientes, quanto estiver ca- Tem a rua diariamente como ganha-
pacitado, dar aulas, abrir várias frentes -pão. O farol, que também pode funcio-
de trabalho para não ficar numa fonte nar da mesma maneira. Existe a tem-
de renda só, fazer eventos, festas infan- porada de verão; e existem os festivais
tis, festas familiares, ir nas convenções de rua. (...) Em festivais normalmente
Trupe 1 kg e meio, 2011 de circo, ser frequentador do Encontro o público é caloroso e tem sede de ver
de Malabarismo, participar de cabarés os espetáculos, participar e contribuir,
sem ganhar e, se tiver oportunidade, o que resulta em bons chapéus.”
do Palco Aberto ou mesmo dos espe- Fernando Nicolini
táculos do Circo no Beco...”
“Legal. Eu sempre vou gostar de fazer
Du Circo
rua, pois é o que eu gosto de fazer. Se
“O que eu digo para meus alunos acho você gosta do que faz, a consequência
que se estende à arte em geral: vejam, sempre é boa, você vai fazer um traba-
vejam, vejam muito. Assistam a tudo lho bonito...”
Palhaço Tomate, 2012 quanto é tipo de manifestação artística. Jorge Ribeiro
Sejam curiosos. O artista nasce da curio-
sidade. Artista sem curiosidade é artista
Tem algo a mais que você
morto. ‘Colem’ em quem sabe mais e
aprendam com a observação. (Digo isto
gostaria de dizer?
sem nenhuma soberba, pois seguirei fa- “O Circo no Beco e o Encontro Paulista
zendo isto até o final dos meus dias).” de Malabares representam educação,
Rhena de Faria encontro, cultura urbana, coletivo, co-
munidade e memória afetiva do bairro
“Que acreditem nas suas ideias por
da Vila Madalena e de São Paulo, reco-
mais loucas que pareçam!”
nhecido e imitado pelo Brasil e fora.“
Nadia Funes
Julieta Zarza
Nadia Funes, 2013
“Quero contar que vi coisas incríveis no
Beco, espetáculos, números, artistas,
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graffiti e histórias de vida. A arte transfor- “Vida longa a tudo que é de bom com- “Agradecer a energia dos que acre-
ma e o Beco transformou muita gente!” partilhado pela sociedade.” ditaram e acreditam até hoje nessa
Thiago Cintra Marcio Douglas iniciativa do Beco, que traz artistas do
mundo inteiro para que se surpreen-
“Parabéns a todos que estão e que es- “Uma das minhas lembranças mais dam, como uma referência mundial do
tiveram neste projeto, fazendo a roda fortes do Circo no Beco foi de quando circo de rua.”
girar. Projeto lindo que colore um pou- eu fui Mestre de Cerimônias. Lembro-
Raphael dos Santos Cardoso
co mais nossa cidade.” -me que o chapéu estava muito fraco,
Camila Danieletto havíamos arrecadado muito pouco.
Então, lá pela penúltima passada de
“Sou fã do Circo do Beco desde o prin- chapéu, eu decidi leiloar uma das mi-
cípio! Vida longa!!!” nhas joias, que nada mais era do que
Marcio Ballas uma bijuteria bem sem-vergonha, um
colar, uma pulseira, não me lembro.
“O Beco é das coisas mais revolucioná-
‘Uma legítima 25 de março’, eu disse.
rias que conheço.”
Aí eu sugeri o lance mínimo de 50 cen-
Mi Chan Tchung tavos e as pessoas começaram a dar
“Agradecer a todos que já passaram lances mais altos, até que alguém ar-
pelo Circo no Beco, que ajudaram a rematou a tal ‘joia’ e o dinheiro foi pro
segurar esse projeto por tantos anos chapéu. Foi muito legal.” Douglas Diou, CnB 24, 2004
e parabenizar a vocês pela conquista Rhena de Faria
desse prêmio para deixar registrado
“Fico muito feliz pelo esforço coletivo que
num livro esses dez anos de Circo no
vocês estão realizando para juntar todos
Beco.”
estes depoimentos. É muito legal ter par-
Du Circo ticipado da construção desse processo e
“Parabéns! O movimento é admirável, saber que o coletivo, os espetáculos e
tem força e é referência! Talvez não seja encontros continuam acontecendo hoje,
possível ter ideia de como isso tenha tantos anos depois. O Circo no Beco é
mudado a vida de algumas pessoas.” maior do que o conjunto dos seus parti-
cipantes, que era a ideia. Viva o Circo no
Gabriela Winter
Beco! Viva a arte de rua! Viva o espaço
Otavio Fantinato, 2010
“Parabéns à equipe que sempre man- público cheio de alegria, de arte, cultura
teve a chama das artes de rua acesa.” e pessoas que riem e sorriem.”
André Arruda de Carvalho Leda Lorenzo Montero
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Memórias
reveladas
Alguns cliques reunidos, mostrando a
pluralidade de técnicas e artistas que já
pisaram nesse palco tão especial.
De boas lembranças vivem as
memórias reveladas.
Namakaca, 2007
“Macho Menos”
(Los Circo Los e
The Pambazos Bros), 2005
Suas memórias
Registre aqui suas lembranças do Circo no Beco.
Você também pode compartilhar conosco: [email protected].
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Referências
Agradecimentos
Muitos contribuíram para que essa pesquisa pudesse ser fotografados, aos que buscaram em seus “baús” as lembranças
realizada e publicada. que hoje poderão se encontrar expressas aqui neste livro.
Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a FUNARTE, que, Aos que contribuíram com o que tem de melhor, aos artistas
através do Prêmio Petrobrás Carequinha de Estímulo ao Circo, de circo de lona, de rua, ou do teatro; que sigam assim
possibilitou a produção de todas as etapas desta pesquisa. proliferando sua arte e exercendo sua função e ofício.
Este é um verdadeiro reconhecimento para anos de trabalho Ao Beco por resistir enquanto espaço público, e às pessoas
realizados no CnB. que nesse lugar seguem resistindo com ele, criando e
Agradecemos também a todos os entrevistados e integrantes transformando-o a cada dia, e que assim se possa chegar a
desse gigante coletivo que é o CnB, aos fotógrafos, aos mil anos, para que muitas histórias sejam contadas...
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