Centralismo Democrático

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CENTRALISMO DEMOCRÁTICO

Centralismo democrático é um sistema de organização interna adotado nos partidos comunistas


leninistas, pelo qual as divergências programáticas são debatidas democraticamente em todas
as instâncias do partido, devendo todos os membros cumprir a decisão sob pena de sofrerem
sanções[1][2]. As direções eleitas possuem alguma liberdade para decidir posicionamentos
perante acontecimentos e mudanças repentinas na conjuntura, mas estão sempre limitados à
linha decidida democraticamente.

O conceito foi desenvolvido por Lênin no seu livro Que Fazer?, de 1902, e adotado oficialmente
pelo Partido Bolchevique no congresso de 1906[1]. Trotski resumiu o centralismo com o slogan
"liberdade completa na discussão, unidade completa na ação”[3].
* tem o livro O que Fazer? do Lenin no Material de Apoio do Sintomas Mórbidos

Gramsci, por sua vez, observou a oposição entre o centralismo democrático (ou "orgânico") dos
partidos progressistas e o centralismo burocrático dos partidos regressistas, que nesse caso
transforma a organização numa entidade policial[4].

Referências

1. ↑ Ir para:a b SEGRILLO, Angelo. Rússia e Brasil em transformação: uma breve história dos
partidos russos e brasileiros na democratização política. 7Letras, 2005. P. 18

2. ↑ SÈVE, Lucien. O que era realmente o centralismo democrático leniniano. In:


Começar Pelos Fins - A Nova Questão Comunista

3. ↑ O centralismo democrático. Esquerda Marxista

4. ↑ LIGUORI, Guido. Dicionário gramsciano (1926-1937). Verbete "Centralismo".


Boitempo Editorial, 2017

FONTE:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Centralismo_democr%C3%A1tico#:~:text=Centralismo%20demo
cr%C3%A1tico%20%C3%A9%20um%20sistema,sob%20pena%20de%20sofrerem%20san%C3%
A7%C3%B5es.
2. Começar Pelos Fins - A Nova Questão Comunista
Lucien Sève

3.01 - O que era realmente o centralismo democrático leniniano

Mas, para o encetar, parece-me metodologicamente essencial, como se verá, aclarar primeiro
o que realmente foi a forma-partido comunista no tempo de Lenine e depois aquilo em que se
tomou na época de Estaline, e na nossa, a fim de bem identificar as rudes realidades com que
se trata de acabar de uma vez por todas. Resumindo uma análise desenvolvida em
Communisme, quel second souffle? (pp. 190-98), digamos que o ponto de partida de Lenine,
logo no Que fazer? (1902), era, a seus olhos, a radical incompatibilidade entre a revolução
proletária como meta estratégica e o espontaneísmo como atitude organizativa.

Espontaneamente, o proletariado não pode elevar-se nem à consciência revolucionária, que


supõe um estudo teórico de conjunto do movimento da sociedade, que exige um contributo
intelectual exterior, nem à organização revolucionária, da qual o combate de tipo sindical é só
ainda a escola primária. O que de modo espontâneo domina a classe operária, e por maioria de
razão as massas camponesas, é a ilusão ideológica e a inorganização prática. O proletariado só
pode portanto conquistar o poder e constituir-se em classe dominante, arrastando a totalidade
das forças populares, se uma parte dos trabalhadores mais lúcidos e combativos assumir, com
intelectuais inteiramente ganhos para a causa, a tarefa de edificar um partido revolucionário
apto a desempenhar um papel de vanguarda, introduzindo no movimento as necessárias clareza
de vistas e firmeza de organização. Um tal partido não pode construir-se de baixo para cima, por
uma simples federação de círculos preexistentes, com as suas ilusões burguesas e o seu
anarquismo de seita; só o pode ser de cima para baixo, a partir de um sólido núcleo organizador.

Daí a batalha de Lenine sobre o artigo "um" dos estatutos, para fazer aceitar que ninguém se
torna membro do partido por o dizer mas só aderindo a uma das suas organizações de base e,
ao mesmo tempo, por se comprometer a respeitar os seus princípios e a sua disciplina como as
suas decisões adoptadas por maioria, depois de livre discussão. Há assim estrita subordinação
da base à cúpula, mas subordinação prática, já que para Lenine o topo mais não é do que o
Congresso, cuja comum vontade deve ser escrupulosamente aplicada por cada um, sob o
impulso dos organismos centrais que este institui ao decidir por maioria quer a composição do
Comité Central quer a direcção do órgão central do partido. Papel de vanguarda e centralismo
democrático são indissociáveis: o primado da parte sobre o todo à escala das massas - papel de
vanguarda - e o primado do todo sobre a parte no seio da vanguarda - centralismo democrático
- formam em boa verdade um único e mesmo princípio, aquele que tende, em todas as
circunstâncias e a qualquer nível, a fazer prevalecer as exigências bem fundamentadas do
combate sobre a inconsciência e a incoerência espontâneas.
Entrevê-se desde logo aquilo que toma basicamente hoje inadaptada esta concepção de
conjunto, e teremos que voltar a isto com precisão. Mas não é por isso que poderemos julgar-
nos dispensados de fazer previamente uma avaliação da sua pertinência nas condições
específicas a que respondia no tempo de Lenine, e de nos pronunciarmos por essa via sobre um
ponto de ainda grande importância para nós: será que os considerandos gerais deste
pensamento organizativo, que são crítica do espontaneísmo e a valorização da centralidade,
definem uma atitude de princípio que conserva alguma validade? Ou será necessário considerá-
los, de base e em si mesmos, contestáveis ou mesmo detestáveis? Questão fundamental a que
os documentos do XXVIII Congresso não dedicam o mínimo espaço.

Ora, existe para esta questão uma resposta largamente dominante, e agora sem dúvida também
na própria opinião dos comunistas: instaurador na organização toda ela vertical e monolítica,
por outras palavras; sem verdadeira democracia, o leninismo seria, em matéria de organização,
a irrefutável matriz do estalinismo. Em apoio deste veredicto são citadas célebres tomadas de
posição, a começar por aquela, frequentemente considerada profética, de Léon Blum, no
Congresso de Tours, em 1920. «Vocês querem, dizia Blum aos maioritários que iam fundar o
Partido Comunista Francês, um partido em que deixe de haver liberdade de pensamento, em
que deixe de haver divisão de tendência», um partido que fará reinar «a subordinação a todos
os níveis» e em «que o poder central pertencerá ao fim e ao cabo a um Comité oculto»
designado longe da vossa vista pelo executivo da Internacional. E porquê esta denegação de
democracia? Para dispor de «pequenas vanguardas disciplinadas, homogéneas, submetidas a
um comando rigoroso», «bem controladas» para «acções decisivas» de destruição do
capitalismo. Aqui está o que com efeito corresponde exactamente «à concepção revolucionária
que se encontra no próprio cerne do comunismo», a seus olhos parente chegado do
"blanquismo" ou até do anarquismo: quem recusa uma tal maneira de representar o objectivo
político não pode deixar de rejeitar o seu meio organizacional, e vice-versa.

Não será de reconhecer alguma perspicácia a esta crítica? Aliás, se se pensasse poder
desvalorizá-la simplesmente porque vem de Léon Blum, que se poderia opor à análise bastante
semelhante que já em 1904 fazia, numa resenha de Um passo em frente, dois passos atrás,
de Lenine, uma insuspeita revolucionária como Rosa Luxemburgo? Também ela se elevava já
contra a «tendência ultracentralista» e denunciava o perigo de dar ao Comité Central um «poder
por demais absoluto», com o perigo, segundo ela, flagrante, de abafar o dinamismo militante
com a disciplina do aparelho. Antes mesmo de a reconhecer obsoleta, não seria então
necessário dizer muito claramente que a concepção leniniana da organização tem algo de
inadmissível no seu princípio?
* tem o texto Um passo em Frente, Dois passos Atrás do Lenin (resposta de Lenin
à Rosa Luxemburgo) no Material de Apoio do Sintomas Mórbidos

Podemos, no entanto, opor as maiores objecções ao veredicto estabelecido. Análise


premonitória de Léon Blum? Sem contestar que era em parte certeira, particularmente quanto
ao poder sem controlo que o executivo da Internacional ia arrogar-se em todo o mundo sobre
as suas secções, não seria ela mais convincente se o seu autor se não tivesse prudentemente
abstido de se explicar sobre o que, logo após a Primeira Guerra, era justo considerar como a
falência da social-democracia internacional? E não poria esta falência directamente em causa,
ao mesmo tempo que a sua orientação política, a sua prática organizativa? Será a estrita
submissão leniniana do partido aos seus congressos perigosa para a democracia? Pelo contrário,
não seria a violação dos compromissos solenes de lutar contra qualquer guerra imperialista,
abandonados em favor da participação, nos dois campos, na «União Sagrada», que constituía a
mais monstruosa infracção à democracia - democracia que, precisamente naquelas
circunstâncias, só o partido de Lenine tinha respeitado?

Nem uma palavra, na intervenção de Blum, sobre aquela que era então a questão nevrálgica em
matéria de organização dos partidos operários. A história que se seguiu, nem que seja só a da
SFIO e das suas atitudes tão antidemocraticamente adoptadas - da não-intervenção em Espanha
ao envolvimento nas guerras coloniais e depois à capitulação perante o golpe de força gaullista
de 1958 - não nos autorizará hoje a reler as palavras de Léon Blum em 1920 com uma enorme
reserva crítica? E esta mesma história não nos ensinou o que realmente vale a especiosa retórica
que opõe a democracia ao centralismo, sem nada compreender à pergunta simples de Lenine:
há alguém que ache mais democrático que prevaleçam nos actos e nas direcções do Partido
posições minoritárias no Congresso?

Vamos considerar a crítica de Rosa Luxemburgo mais bem fundada? De qualquer modo não
poderíamos fazê-lo sem conhecer primeiro a resposta de Lenine, muito polémica mas com
argumentos bem concretos (Oeuvres, tomo 7, pp. 494-506), que a Neue Zeit, órgão da social-
democracia alemã em que tinha sido publicado o artigo de Rosa Luxemburgo, recusou publicar.
Aliás, será que se sabe que, pouco depois, Rosa Luxemburgo, cuja resenha na realidade
retomava as acusações dos Mencheviques contra Lenine, descobriu por ocasião da Revolução
Russa de 1905 aquilo que acabou por chamar «a pesporrência desses cretinos», ao mesmo
tempo que a sua renúncia ao combate revolucionário? Após o que ela deixa de lhe fazer as
críticas de 1904, que bem pelo contrário vira contra o burocratismo caracterizado da social-
democracia alemã. Não é no entanto menos verdade que ela não deixa de pôr em relevo -
nomeadamente nas suas notas de prisão sobre a Revolução Russa - a cardeal importância da
democracia na relação do partido com as massas, de um modo que se pretende uma advertência
dirigida aos bolcheviques. Mas, como o mostrou Gilbert Badia, tendo-se ela, depois de sair da
prisão, informado melhor sobre a situação real na Rússia, fica quase totalmente de acordo com
a atitude concreta de Lenine. Que sobeja finalmente de todo este processo de acusação? Para
um julgamento válido exige-se que, pelo menos, nos abstenhamos previamente do
antileninismo militante, quando não atrevido, que hoje tão frequentemente se impõe.

Neste espírito sem preconceitos, coloquemos de novo a questão no duplo terreno dos princípios
e dos factos: não sofreria o centralismo leniniano de um défice constitutivo de democracia? Não
seria este o inevitável preço dessa original desconfiança da espontaneidade de que decorre?
Esse risco existe, como o mostram várias derrapagens na própria época de Lenine: indicação que
tem para nós a maior das importâncias. Mas não se acredite que o desprezo do espontâneo está
necessariamente contido na recusa do espontaneísmo: o espontâneo é antes do mais o
dinamismo do povo, o motor de qualquer combate revolucionário. Lenine sabe-o tão bem que,
para ele, a vanguarda deve permanentemente instruir-se no interior do movimento espontâneo,
tanto quanto deve esforçar-se por nele introduzir de fora a consciência e a organização, de que
aliás nele se encontram formas embrionárias: o partido mais não é do que «o intérprete
consciente de um processo inconsciente». Pelo que o centralismo democrático não implicava
nos seus princípios nenhuma relação de sentido único entre organização e espontaneidade:
ponto não menos importante. Em segundo lugar, quando Lenine advoga uma rigorosa
subordinação da base à cúpula, não se poderia fazer pior contrassenso do que identificar o
segundo termo com um qualquer aparelho autocrático: para ele, a cúpula é antes de mais o
Congresso, emanação fiel da base - e haverá algo de mais democrático que os debates e as
decisões de uma tal instância?

Esta é a teoria, mas o que se passa com a prática? Os factos falam por si: uma vez libertado do
czarismo e dos seus entraves, o POSDR, depois PC(b), realizou, de 1917 até à morte de Lenine,
em Janeiro de 1924, um congresso por ano - sete congressos em sete anos, mesmo nas piores
conjunturas. E não essas grandes missas cantadas, escritas antecipadamente, em que se
tornarão as assembleias rituais de um PCUS estalinizado, antes congressos vivos em que
delegados em número razoável - frequentemente uma centena - fazem as mais francas
discussões sobre projectos de teses precisos e com implicações claras. Eis o que era
para Lenine a cúpula, num partido que fez a revolução, será necessário lembrá-lo(?), sem
Comissão Política nem Secretário-Geral, unicamente com um Comité Central onde - meça-se
bem isto - Lenine se viu mais do que uma vez em ... minoria, e isto precisamente quando se tinha
tornado Presidente do Conselho dos Comissários do Povo... Será esta a imagem de um partido
vertical e monolítico? O confronto público entre orientações estruturadas ia mesmo tão longe,
pondo em perigo a coerência de direcção num momento muito difícil, que, em 1921 - só em
1921! - o X Congresso decidiu proibir a organização em tendências. Uma medida muitas vezes
apresentada como pré-estalinista. Mas será que se tem em conta que, mesmo nessa altura e
nomeadamente por impulso de Lenine, foi conservado o direito de, em caso de discordância
grave numa questão importante, submeter ao Congresso vários textos concorrentes, ao mesmo
tempo que era tomada a decisão de publicar com regularidade uma folha de discussão que
permitisse prolongar o debate sobre princípios mesmo para além do Congresso? Será que
aqueles que querem ver no centralismo leniniano o esquisso já identificável dos métodos
estalinistas têm em consideração o que dele dizia uma testemunha tão capital como Boukharine
quando, na sua mensagem póstuma «A futura geração dos dirigentes do partido» (cf. Oeuvres
choisies, Librairie du Globe, Paris-Moscou 1990, p. 518), nas vésperas da sua execução, fala da
época leniniana nos seguintes termos: «Eram outros tempos, em que reinavam outros
costumes. O Pravda publicava uma tribuna de discussão, todos debatiam, todos procuravam
caminhos, desentendiam-se e reconciliavam-se, e juntos avançavam.»

[pgs 158_164. Começar pelos Fins - a nova questão Comunista; Lucien Séve; Campo das Letras
Editores, S.A, 2001. www.campo-letras.pt.

FONTE: https://www.marxists.org/portugues/seve/1999/comecar/cap28.htm
3. O CENTRALISMO DEMOCRÁTICO
Serge Goulart 30/03/2015

A luta pela construção do partido revolucionário decorre de uma necessidade histórica. A


construção do partido revolucionário depende da atividade prática do homem, ou seja, é um
ato de vontade. A luta pela construção do partido revolucionário é a expressão mais elevada da
atividade consciente dos homens.

Toda história do movimento revolucionário, de 1848 até nossos dias, e através dela, toda a
história do marxismo, consiste numa tentativa contínua de expressão consciente, isto é,
organizada, do movimento inconsciente, ou em parte inconsciente, das massas em luta contra
o modo de produção capitalista, em escala internacional.

O socialismo científico nos ensina que a passagem do capitalismo ao socialismo não se efetuará
fatalmente ou automaticamente. Ao contrário, ela só poderá se efetuar se o proletariado tomar
nas mãos seus interesses revolucionários e assumir a direção do processo histórico de liberação
da humanidade.

O materialismo histórico permite compreender que o proletariado – “pela sua situação nas
forças de produção e pelos seus interesses” – é a única classe revolucionária da nossa época, e
é ao mesmo tempo uma classe da sociedade burguesa, submetida à exploração e também à
ideologia da classe dominante que envolve todas as atividades da sociedade.

Sob o regime capitalista, a força de trabalho proletária é apenas uma mercadoria e os proletários
sofrem todas as consequências da exploração constituindo-se numa “classe em si”. Para chegar
à vitória da revolução social o proletariado deve se transformar em “classe para si”, isto é, em
força social revolucionária capaz de destruir as relações de produção e o estado capitalista, e de
construir relações socialistas de produção.

Se a burguesia teve a capacidade histórica de começar a construir sua economia no interior do


modo de produção feudal, o proletariado não dispõe de nenhuma possibilidade desta espécie,
pois não há base econômica proletária no interior do modo de produção capitalista. Ao contrário
de todas as revoluções anteriores, a revolução proletária não substituirá um modo de
exploração por outro, mas sim abolirá a exploração do homem.
Para destruir a sociedade existente não é suficiente o movimento espontâneo das massas que
as leva a entrar em conflito com a classe dominante e seu estado. É necessário que o movimento
seja dotado de um partido revolucionário capaz de assegurar a direção da revolução proletária.
Isto é, para se transformar de “classe em si” em “classe para si”, para levar até a vitória final seu
combate histórico, o proletário dispõe de apenas uma arma: a organização revolucionária.

Construir o Partido revolucionário do proletariado

Desde as suas origens a classe operária luta pela sua sobrevivência criando primeiro, associações
mutuais, cooperativas, depois seus sindicatos. Mas, todas estas organizações econômicas são
insuficientes para transformá-la de “classe em si” em “classe para si”.

Esta transformação exige que o proletariado enfrente a burguesia não apenas no terreno
econômico e social, mas também no terreno político, no qual se coloca a decisiva questão de
Estado. Por isso, Marx ressaltava a importância dos diversos níveis da organização operária e
militou toda sua vida pela construção de uma organização política internacional do proletariado.

Marx e Engels, em relação estreita com o movimento operário da época, constataram que a luta
de classes constitui o fio condutor da história e que é necessário para a classe operária se
organizar e construir o partido revolucionário para vencer esta luta.

O marxismo foi elaborado por Marx e Engels como expressão consciente do processo histórico
inconsciente, isto é, como uma teoria científica da história, inseparável da atividade militante
do proletariado revolucionário. Aprender a desenvolver o marxismo exige a participação
militante na luta do proletariado revolucionário contra a burguesia.

Isso significa que a expressão consciente do movimento histórico inconsciente somente é


realizável na e pela organização das forças do proletariado. Do ponto de vista do socialismo
científico a consciência e a organização são uma única e mesma experiência revolucionária. Ser
marxista é, portanto, militar hoje, como nos tempos de Marx e Engels, pela construção de um
partido operário internacional.

O partido revolucionário é a forma mais elevada da consciência histórica da classe operária, e


sua construção foi o objetivo perseguido por Marx e Engels no interior da 1ª Internacional, por
Engels e os marxistas à escala dos grandes partidos operários da 2ª Internacional, por Lenin e
Trotsky na fundação e desenvolvimento da 3ª Internacional; objetivo retomado por Trotsky e os
trotskistas depois da degenerescência do Comintern, através da fundação da 4ª Internacional.
A concepção bolchevique do Partido

A luta pela construção do partido revolucionário decorre de uma necessidade histórica. A


construção do partido revolucionário depende da atividade prática do homem, ou seja, é um
ato de vontade. A luta pela construção do partido revolucionário é a expressão mais elevada da
atividade consciente dos homens.

Fruto dessa atividade consciente, o partido bolchevique foi forjado pelo movimento operário
russo e internacional, que teve em Lenin sua expressão mais elevada e concentrada, como
expressão consciente, dirigindo o processo inconsciente da revolução proletária. O partido
bolchevique foi quem, segundo Trotsky “ensinou ao mundo inteiro como se realiza a insurreição
armada e a tomada do poder” (Trotsky: “Bolchevismo e Stalinismo”) e estava estruturado sobre
a base dos princípios do centralismo democrático, que Lenin desenvolveu retomando os
ensinamentos de Marx.

A concepção leninista do partido implica na construção de uma organização solidamente


centralizada e disciplinada que tem como objetivo se construir como vanguarda revolucionária
do proletariado; esta concepção foi definida intransigentemente por Lenin contra a concepção
de Martov, partidário de uma organização aberta e frouxa em termos de disciplina.

Uma organização estruturada nos moldes bolcheviques não é um clube de discussão política;
tampouco uma escola de pensamento e de ação cujo objetivo seria o de competir com outras
“escolas”. Mas sim, uma organização que utilizando o marxismo (unidade de teoria e prática, na
base da prática) prepara a revolução proletária e se prepara para a revolução proletária contra
a burguesia e contra os aparelhos contrarrevolucionários, se estruturando sobre os princípios
do centralismo democrático.

Igualmente, conforme a concepção bolchevique, uma organização revolucionária não comporta


de uma parte, militantes, e de outra, aderentes mais ou menos ativos ou honorários. Enquanto
Martov queria dar o caráter de membro do partido a quem colaborasse regular e pessoalmente
sobre a direção de uma das organizações do partido, Lenin, no seio da socialdemocracia russa,
lutou incansavelmente para que fossem considerados membros do partido os que participassem
regular e disciplinadamente em um dos organismos do mesmo.

Isto é, uma organização estruturada nos moldes bolcheviques deve ter uma “Lei” igual para
todos: todo membro da organização deve pagar as cotizações que lhe forem fixadas, participar
de um organismo de base e desenvolver uma atividade regular e disciplinada de construção da
organização. No partido bolchevique e nos partidos que depois foram constituídos segundo a
concepção leninista, os seguintes organismos essenciais exprimem o funcionamento do
centralismo democrático:

O Congresso, instância suprema composta pelos delegados eleitos representando a


organização. O Congresso elege o Comitê Central. O Comitê Central (CC), expressão centralizada
da totalidade da organização, é uma delegação do Congresso, dispondo no quadro das decisões
do mesmo, de todos os poderes.

Os organismos básicos, as células, que são o instrumento essencial para colocar em prática as
decisões do Congresso e a construção da organização. As células são a unidade de trabalho, de
intervenção na luta de classe, que associa e controla a atividade dos militantes, exprimindo a
centralização da organização. Unidades de discussão, as células são a base da elaboração da vida
política da organização e prestam contas regularmente de suas atividades e discussões ao
Comitê Central.

Além disso, uma aquisição ocorreu após a burocratização dos partidos comunistas. Trata-se da
eleição, em Congresso, de um organismo distinto da direção: a Comissão Central de Controle,
que tem como finalidade fiscalizar o cumprimento dos Estatutos por parte de todos os
organismos e militantes da organização, sem ter poder executivo ou de sanção.

Entretanto o funcionamento dos organismos essenciais pode não ser suficiente para a expressão
da opinião dos militantes. Igualmente baseando-se no exemplo do partido bolchevique, um
boletim interno na preparação dos Congressos e Conferências, assim como o direito de
Tendência e de Fração devem estar assegurados aos militantes numa organização
revolucionária.

O direito de sanção, segundo os moldes bolcheviques, confirma o caráter centralizado e


democrático de uma organização revolucionária e sua natureza de organização operária sobre
a base dos princípios da democracia operária; as sanções devem estar sempre fundamentadas
politicamente e são aplicadas aos membros que em sua atividade externa ou interna não
respeitarem o centralismo democrático.

Trotsky, no “Programa de Transição”, retomando e reafirmando a concepção leninista


resume: “Sem democracia interna não há educação revolucionária, sem disciplina não há ação
revolucionária. O regime interior da 4ª. Internacional está fundado sobre os princípios do
centralismo democrático: liberdade completa na discussão, unidade completa na ação”.
A atualidade do Centralismo Democrático

Hoje, quando mais do que nunca, “as premissas objetivas da revolução proletária não somente
estão maduras, mas começam a apodrecer”(Trotsky: “Programa de Transição”), resolver a crise
de direção revolucionária, isto é, construir o partido operário revolucionário, está na ordem do
dia.

Neste período tumultuoso que vivemos, o trotskismo é perseguido implacavelmente, não só


pelo Estado Burguês, pelos partidos burgueses, mas também pelos partidos reformistas e
oportunistas que, com justiça, nos consideram seus inimigos mortais. Isto significa que na época
que vivemos, mais do que nunca, todo partido marxista deve se estruturar sólida e fortemente
sob os princípios do centralismo democrático.

Resumindo: O centralismo democrático exprime as necessidades e a experiência internacional


do proletariado. O centralismo é a afirmação nos métodos de construção da organização
revolucionária daquilo que a luta de classes ensinou aos trabalhadores: Na sua luta pelo poder,
os trabalhadores só dispõem de uma arma: a sua organização.

A democracia interna expressa uma necessidade que decorre da existência histórica do


proletariado, tornando-se ela, nesse processo histórico, o elemento indispensável para a
elevação do nível de consciência e organização do proletariado e, portanto, da construção do
partido revolucionário.

O centralismo democrático forma um todo harmônico no qual as partes se interligam e se


completam uma não existindo sem a outra. A democracia interna é condição indispensável do
centralismo e inversamente somente o centralismo permite uma democracia efetiva.

Entender isso e lutar pela sua concretização sobre a base do programa marxista de transição na
época do imperialismo é ter os meios de tentar exprimir corretamente o movimento
revolucionário das massas, de buscar ser a expressão consciente do movimento inconsciente
das massas.

E é por isso, reafirmando nossa ligação com o marxismo e o bolchevismo que a Esquerda
Marxista e a Corrente Marxista Internacional se constroem sobre essa tradição e todos os
partidos, organizações e grupos de nossa Internacional reivindicam ferozmente o exemplo e a
estrutura do partido bolchevique.

FONTE: https://www.marxismo.org.br/o-centralismo-democratico/

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