Este documento apresenta um resumo da vida e obra do filósofo francês Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu. Após uma breve biografia, destaca os principais pontos do pensamento iluminista e como Montesquieu se encaixa nessa corrente com sua principal obra "O Espírito das Leis".
Direitos autorais:
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia online no Scribd
Este documento apresenta um resumo da vida e obra do filósofo francês Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu. Após uma breve biografia, destaca os principais pontos do pensamento iluminista e como Montesquieu se encaixa nessa corrente com sua principal obra "O Espírito das Leis".
Este documento apresenta um resumo da vida e obra do filósofo francês Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu. Após uma breve biografia, destaca os principais pontos do pensamento iluminista e como Montesquieu se encaixa nessa corrente com sua principal obra "O Espírito das Leis".
Direitos autorais:
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia online no Scribd
Este documento apresenta um resumo da vida e obra do filósofo francês Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu. Após uma breve biografia, destaca os principais pontos do pensamento iluminista e como Montesquieu se encaixa nessa corrente com sua principal obra "O Espírito das Leis".
Direitos autorais:
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 13
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa sobre a vida e a
obra de Montesquieu, solicitada pelo Prof. Raimundo Inácio Neto, como pré- requisito para obtenção da 2ª nota de avaliação parcial, da disciplina Estado e Sociedade, do Curso de Administração, da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Para falar sobre a teoria política de Montesquieu, se faz necessário compreender a influência da corrente de pensamento no contexto histórico da época, assim como a biografia do autor. Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu, nasceu em 18 de janeiro de 1689, em Bordeaux, na França. Os pais eram de origem inglesa e francesa e pertenciam a famílias nobres da época. Seu aprendizado inicial foi em casa e somente aos onze anos entrou para o colégio Juilly (colégio nobre), comandado por padres oratorianos que ensinavam os alunos utilizando a doutrina iluminista da época. Aos 16 anos entrou para a faculdade de direito da Universidade de Bordeaux e em menos de três anos já estava exercendo a profissão de advogado em Paris. Sua experiência como advogado durou um estágio de apenas dois anos, pois teve que voltar para Bordeuax devido à morte do pai. Por essa razão, foi obrigado a assumir os negócios da família e ficou tão envolvido nisso que em menos de dois anos casou-se tendo com a esposa, Jeanne de Lartigue, três filhos. Neste período foi nomeado Barão de Montesquieu, título herdado de um tio falecido. Os negócios passaram para as mãos da esposa que tinham notável desenvoltura com cálculos. A fortuna da família foi aumentando com a morte de outros parentes e o jovem escritor, com menos de 30 anos, já tinha sua estabilidade financeira garantida por vários anos. Foi então que tomou a decisão de também se dedicar aos estudos. Inicio-se, na Academia de Bordeaux, estudos do direito romano e à biologia, física e geologia. Com estes estudos, Montesquieu pode se aprofundar no estudo iluminista que tinha iniciado no colégio Juilly, aliando as ciências naturais e as questões humanas. Em pouco tempo o autor publicou artigos sobre o direito romano e artigos científicos. Sua primeira obra de maior destaque foi publicada em 1721, intitulada Cartas Persas, Obra de sua juventude, é um relato imaginário, sobre a visita de dois fictícios amigos persas, Rica e Usbeck, a Paris, durante o reinado de Luís XIV. Eles escrevem para seus amigos na Pérsia tudo o que vêem lá. Por meio desta narrativa, critica a sociedade, os costumes, as instituições políticas e os abusos da Igreja e do Estado na França e Europa da época. Espirituoso e irreverente, esse primeiro livro de Montesquieu tem um fundo sério, pois relativiza os valores de uma civilização pela comparação com os de outras muito diferentes. Verdadeiro manual do Iluminismo. Foi uma das obras mais lidas no século XVIII. Depois do êxito alcançado com Cartas Persas foi admitido nos grandes círculos intelectuais de Paris. Aos 39 anos foi estudar na Academia Francesa e como partes dos estudos iniciou uma maratona de viagens pela Europa que lhe proporcionaram a oportunidade de conhecer obras importantes para sua formação como as do historiador Pietro Giannone e do filósofo Vico. Depois de passar pela Itália, Holanda e Alemanha terminou sua peregrinação na Inglaterra lugar onde concluiu sua formação intelectual. Na Inglaterra relacionou-se com os círculos políticos, entrou para a maçonaria e para a Academia Real. Neste período teve grande contato com a doutrina iluminista. Com a conclusão das viagens Montesquieu ficou recluso por dois anos, dedicando-se exclusivamente a escrever a sua principal obra “O Espírito das Leis” que se tornou referência mundial para advogados, legisladores e obra obrigatória na utilização de método científico para análise de fatos. Fez um vasto estudo nas áreas de direito, economia, geografia e teoria política que percorreu mais de dez anos até sua publicação, em 1748. Ele sofreu elogios e represálias após a publicação. Publicou posteriormente um livro resposta chamado Defesa do Espírito das Leis. O autor faleceu, aos 66 anos, em 10 de fevereiro de 1755. Montesquieu é um escritor de corrente iluminista. O termo Iluminismo indica um movimento intelectual que se desenvolveu no século XVIII, cujo objetivo era a difusão da razão, a "luz", para dirigir o progresso da vida em todos os aspectos. Daí o nome iluminismo, tradução da palavra alemã "aufklarung", que significa aclaração, esclarecimento, iluminação. Essa corrente, mais do que um conjunto de idéias, foi uma nova mentalidade que influenciou grande parte da sociedade da época, de modo particular os intelectuais, a burguesia e mesmo alguns nobres e reis. Os iluministas eram aqueles que em tudo se deixavam guiar pelas luzes da razão e que escreviam e agiam para dar sua contribuição ao progresso intelectual, social e moral e para criticar toda forma de autoritarismo, fosse ela de ordem política, religiosa ou moral. Esse modo de pensar e de agir difundiu-se em muitos países da Europa, no século XVIII, o "século das luzes". Suas primeiras manifestações ocorreram, no século XVIII, na Inglaterra e na Holanda, com a contribuição do pensamento de Descartes, Newton, Spinoza e Locke. Mas o Iluminismo tornou- se um movimento especialmente forte na França, onde a crise do governo absolutista levou os filósofos a um debate profundo sobre a política e a sociedade de um modo geral. Os filósofos franceses do século XVIII (D’Alembert, Diderot, Montesquieu, Voltaire e outros) aplicaram as teorias de Descartes à política e às reflexões sobre religião, buscando negar a importância da tradição e do direito divino no exercício do governo, princípio de sustentação da monarquia absolutista. Tais filósofos combatiam o absolutismo, mas não propunham, com raras exceções, a supressão da monarquia, queriam apenas reformá-la. Os iluministas franceses questionavam a divisão da sociedade em "estados" ou "ordens", que privilegiava a aristocracia, em detrimento da burguesia e do povo em geral. No campo da política, criticavam a teoria do "direito divino" e da "soberania absoluta" dos governantes, defendendo a idéia de que o Estado e o poder monárquico eram resultado, não da vontade pessoal, mas de um contrato entre governantes e governados. Não haveria mais uma verdade “divina” conforme pregava a igreja, contida na Bíblia ou nos dogmas da fé. Nem seria necessário pedir a iluminação divina para a compreensão da natureza e da vida social. Daí a crítica dos iluministas às crenças e práticas religiosas tradicionais. A própria religião deveria ser submetida a critérios racionais. O chamado livre pensamento, que surgiu na Inglaterra e na Holanda no século XVII, defendia uma espécie de deímo (crença em Deus sem mediações institucionais - igrejas e sacerdotes). O importante era discernir entre o bem e o mal, a prática de uma vida virtuosa e a certeza de que, após a morte, um ser supremo recompensaria os justos. Na França, onde essa corrente difundiu rapidamente ao longo do século XVIII, os livres pensadores tenderam ao anti-clericalismo. Além do racionalismo e do deísmo, o pensamento iluminista elegeu o ser humano como objeto de estudo, independente da teologia, que considerava a humanidade como criação e reflexo da vontade de Deus. Para os iluministas, o ser humano é o criador de seu próprio mundo, isto é, de sua civilização. Segundo os pensadores dessa corrente, civilização seria a expressão da humanidade; quanto mais civilizado, mais humano. E ser civilizado era superar o que eles chamavam de estado de natureza (selvagismo) para passar ao estado de cultura (civilização). Outro ponto em comum entre os iluministas era a certeza de que a educação era o único caminho possível para se chegar à igualdade, eliminando à enorme distância que separa os indivíduos cultos, moralmente bem formados e socialmente bem educados, da plebe ignorante, supersticiosa, inclinada aos maus costumes e mal-educada. Os iluministas pregavam a tolerância como um dever moral e uma conduta exigida pela própria razão. O pensamento dos iluministas, não tinha como propósito conduzir a uma revolução. Eles propunham a reforma do Estado, submetendo as monarquias absolutistas às restrições emanadas das leis aprovadas pelos parlamentos ou assembléias de representantes do povo. Eles consideravam necessário educar "os monarcas, a fim de que estes pudessem preservar os direitos do cidadão e a liberdade do indivíduo. Do ponto de vista econômico, criticavam os monopólios, as restrições à produção de mercadorias por corporações de ofício, as leis de proteção a determinado número de indústrias e a intervenção do Estado na economia, considerada desnecessária. Enfim, tal como o Renascimento, o movimento iluminista no qual Montesquieu fez parte tinha como pilar o racionalismo. Essa manifestação cultural ocorreu durante o auge do Regime Absolutista, nos séculos XVII e XVIII. Através das críticas, os iluministas anunciavam um novo tempo que mais tarde iria se traduzir num período contemporâneo, através da Revolução Francesa. A contribuição de Montesquieu para a Ciência Política, encontra-se em especial na obra “O Espírito das Leis” que se divide em várias partes. Podém alguns autores a divide em apenas três grandes partes. Em primeiro lugar, os treze primeiros livros que desenvolvem a teoria bem conhecida dos três tipos de governo (sociologia política), onde o autor tenta reduzir a diversidade das formas de governo a alguns tipos, definidos, ao mesmo tempo, pela sua natureza e pelo seu princípio. A segunda parte vai do livro XIV ao livro XIX. É consagrada às causas materiais ou físicas (influência do clima e do solo sobre os homens), os seus costumes e as suas instituições. A terceira parte, que vai do livro XX ao livro XXVI, estuda sucessivamente a influência das causas sociais, comércio, moeda, número de homens, religião, sobre os costumes, os hábitos e as leis. Essa divisão de capítulos da obra permite colocar os problemas essenciais da interpretação de Montesquieu. Como o nosso objetivo é dialogar sobre a contribuição de Montesquieu para a Ciência Política decidimos nos deter apenas aos capítulos que tratam sobre os tipos de governo, suas implicações e sobre a distribuições do poder. Montesquieu escreveu a primeira parte da obra antes da sua viagem a Inglaterra, numa época em que se encontrava sob a influência dominante da filosofia política clássica (a Política, de Aristóteles, era o livro essencial). Portanto sofreu influencia aristotélica, quando analisa nos primeiros livros (II ao VIII), sobre os três tipos de governo. Podemos identificar, em algumas páginas, referências a Aristóteles sob a forma de alusões ou de críticas. A partir daqui, seria fácil mas pouco satisfatório mostrarmos O Espírito das Leis como a sobreposição de duas maneiras de pensar, de duas maneiras de estudar a realidade. Montesquieu seria, por um lado, um discípulo dos filósofos clássicos. Enquanto tal, desenvolveu uma teoria dos tipos de governo que, mesmo que difira, da teoria clássica de Aristóteles, se encontra ainda de acordo com o clima e a tradição desses filósofos. Ao mesmo tempo, Montesquieu seria um sociólogo que investiga a influência que o clima, a natureza do solo, o número de homens e a religião podem exercer sobre os diferentes aspectos da vida colectiva. Antes de nos resignarmos a uma interpretação devemos procurar a ordem interna que Montesquieu, com razão ou sem ela, via no seu próprio pensamento. O problema que aqui se levanta é o da compatibilidade entre a teoria dos tipos de governo e a teoria das causas. Montesquieu distingue três tipos de governo, a república, a monarquia e o despotismo. Cada um destes tipos é definido por referência a dois conceitos, que o autor chama a natureza e o princípio do governo. A natureza do governo é o que o faz ser o que é. O princípio do governo é o sentimento que deve animar os homens no interior de um tipo de governo, para que este funcione harmoniosamente (ideologia). Assim, a virtude é o princípio da república. Esse governo só será próspero na medida em que os cidadãos forem virtuosos. A natureza de cada governo é determinada pelo número dos detentores da soberania, ou seja, do poder. Para o autor o governo republicano é aquele em que o corpo do povo ou apenas uma parte do povo detém a força suprema; o monárquico, aquele em que um só governa, mas por meio de leis fixas e estáveis; ao passo que no despotismo, um só sem lei e sem regra, tudo arrasta segundo a sua vontade e os seus caprichos. (O Espírito das Leis, liv. ti, cap. 1; O. C., t. II, p. 239.) A distinção entre o corpo do povo ou só uma parte do povo, aplicada à república, tem por fim lembrar as duas espécies de governo republicano: a democracia e a aristocracia. Mas estas definições mostram de modo imediato que a natureza de um governo não depende apenas do número dos que detêm a força soberana, mas também da maneira como esta é exercida. Monarquia e despotismo são ambos regimes que comportam um só detentor da soberania, mas no caso do governo monárquico o detentor único governa segundo leis fixas e estabelecidas, enquanto no despotismo governa sem leis e sem regras. Convém acrescentar o terceiro critério, o do princípio do governo. Um tipo de governo não é suficientemente definido pela característica quase jurídica da detenção da força soberana. Cada tipo de governo é também caracterizado pelo sentimento, à falta do qual não pode durar nem prosperar. Segundo Montesquieu, há três sentimentos políticos fundamentais, cada um deles assegurando a estabilidade de um tipo de governo. A república depende da virtude, a monarquia da honra e o despotismo do medo. A virtude da república não é uma virtude moral, mas uma virtude propriamente política. É o respeito pelas leis e a dedicação do indivíduo à colectividade. A honra, é uma honra falsa, é o respeito por cada um daquilo que deve à sua categoria. Quanto ao medo, não precisa de definição. É um sentimento elementar e por assim dizer infra-político. Mas é um sentimento do qual trataram todos os teóricos da política, porque muitos dentre eles, desde Hobbes, consideraram que era o sentimento mais humano, o mais radical, o sentimento a partir do qual se explica o próprio Estado. Mas Montesquieu não é, à maneira de Hobbes, um pessimista. Aos seus olhos, um regime assente no medo é por essência corrompido, e quase no limiar do nada político. Os súbditos que só por medo obedecem já quase não são homens. Montesquieu considera antes do mais democracia e aristocracia, que, na classificação de Aristóteles, são dois tipos distintos, como duas modalidades de um mesmo regime chamado republicano, e distingue esse regime da monarquia. Para o autor a monarquia, só foi automaticamente realizada nas monarquias europeias. Esta originalidade explica-se por uma razão profunda. A distinção dos tipos de governo, em Montesquieu, é ao mesmo tempo, uma distinção entre organizações e estruturas sociais. A contribuição decisiva de Montesquieu vai ser precisamente retomar o problema na sua generalidade e combinar a análise dos regimes com a das organizações sociais, de tal modo que cada governo se mostre ao mesmo tempo como uma certa sociedade. Isso é o que o diferencia da Ciência Política Clássica. Montesquieu liga igualmente a classificação dos regimes à análise das sociedades baseando-se na noção de princípio de governo, quer dizer, de sentimento indispensável ao funcionamento de um certo regime. A teoria do princípio leva manifestamente a uma teoria da organização social. Se a virtude na república é o amor das leis, a dedicação à colectividade, o patriotismo, desemboca em última análise num certo sentido da igualdade. Uma república é um regime no qual os homens vivem para e pela colectividade, no qual se sentem cidadãos, o que implica que sejam e se sintam iguais uns aos outros. Em contrapartida, o princípio da monarquia é a honra. Montesquieu teoriza-a num tom que, se diria polémico e irônico. Esta análise não é inteiramente nova. Desde que os homens começaram a reflectir sobre a política, oscilaram sempre entre duas teses extremas: ou um Estado só é próspero quando os homens querem directamente o bem da colectividade; ou, uma vez que é impossível que os homens queiram directamente o bem da colectividade, um bom regime é aquele em que os vícios dos homens conspiram para o bem de todos. A teoria da honra de Montesquieu é uma modalidade, sem ilusões, desta segunda tese. O bem da colectividade é garantido, senão pelos vícios dos cidadãos, pelo menos por qualidades menores, ou até por atitudes que, moralmente, seriam repreensíveis. Com efeito, se os dois governos, republicano e monárquico, diferem essencialmente, porque um se fundamenta na igualdade e o outro na desigualdade, porque um se fundamenta na virtude política dos cidadãos e o outro num sucedâneo de virtude, que é a honra, os dois regimes têm contudo um traço comum: são moderados, neles ninguém comanda de maneira arbitrária e à margem das leis. Em contrapartida, quando chegamos ao terceiro governo, a saber, o governo despótico, saímos do âmbito dos governos moderados. Em resumo a república assenta numa organização igualitária das relações entre os membros da coletividade. A monarquia assenta essencialmente na diferenciação e na desigualdade. Quanto ao despotismo, assinala o regresso à igualdade. Mas, ao passo que a igualdade republicana é a igualdade na virtude e na participação de todos no poder soberano, a igualdade despótica é a igualdade no medo, na impotência e na não- participação no poder soberano. Montesquieu aponta no despotismo por assim dizer o mal político absoluto. É verdade que o despotismo talvez seja inevitável quando os Estados se, tornam demasiado grandes, mas simultaneamente o despotismo é o regime em que um só governa sem regras e sem leis e em que, por consequência, reina o medo. O autor defende os regimes de liberdade, nos quais nenhum cidadão tem medo dos outros. Esta segurança que a cada um dá a sua liberdade, Montesquieu exprimiu-a directamente e claramente nos capítulos consagrados à constituição inglesa, no livro XI. Para ele modelos da monarquia são as monarquias europeias, inglesa e francesa, do seu tempo. Quanto aos modelos do despotismo, são, de uma vez por todas, os impérios a que ele chama asiáticos, por meio de uma amálgama entre o império persa e o império chinês, o império das índias e o império japonês. O despotismo asiático visto por Montesquieu é o deserto da servidão. O soberano absoluto é único, todo-poderoso, delega eventualmente os seus poderes num grande vizir; mas sejam quais forem as modalidades das relações entre o déspota e o seu séquito, não há classes sociais em equilíbrio, não há ordens nem categorias; nem o equivalente da virtude antiga nem o equivalente da honra europeia; o medo reina sobre milhões de homens, através dessas extensões desmesuradas, nas quais o Estado não se pode manter amenos que um só tudo possa. A teoria dos governos de Montesquieu, na medida em que estabelece uma correspondência entre as dimensões do território e a forma do governo, arrisca-se também a conduzir a uma espécie de fatalismo. Na obra, há uma oscilação entre dois extremos. Seria fácil sublinhar numerosos textos, segundo os quais haveria uma espécie de hierarquia: sendo a república o melhor regime. Montesquieu escolhe preferencialmente esta segunda concepção da relação entre regime político e tipo social. Mas no mesmo momento, perguntamo-nos então em que medida os regimes políticos são separáveis das entidades históricas no interior das quais se realizaram. Seja como for, resta que a ideia essencial. é esta ligação estabelecida entre o modo de governo, o tipo de regime por um lado, o estilo das relações interpessoais, por outro. De fato, o que é decisivo aos olhos de Montesquieu é menos que o poder soberano pertença a vários ou a um só, mas que a autoridade seja exercida segundo as leis e a medida, ou, pelo contrário, arbitrariamente e pela violência. A vida social será diferente segundo o modo de exercício do governo. A distinção entre governo moderado e governo não-moderado é provavelmente central no pensamento de Montesquieu. Permite integrar as considerações sobre a Inglaterra que se encontram no livro XI na teoria dos tipos de governo dos primeiros livros. O texto essencial, a este propósito, é o capítulo 6 do livro XI, no qual Montesquieu estuda a constituição da Inglaterra. Este capítulo teve um tal eco que numerosos constitucionalistas ingleses têm interpretado as instituições do seu país segundo o que delas disse Montesquieu. O prestígio do génio foi tal que os ingleses julgaram compreender-se a si próprios lendo O Espírito das Leis . Montesquieu descobriu na Inglaterra por um lado um Estado que tem por objeto próprio a liberdade política, por outro lado o fato e a ideia da representação política. Quando afirma: “Embora todos os Estados tenham em geral um mesmo objecto que é o de se manterem, cada Estado tem contudo um outro que lhe é particular, escreve Montesquieu. A expansão era o objecto de Roma; a guerra o da Lacedemónia; a religião o das leis judaicas; o comércio o de Marselha... Há também uma nação no mundo que tem por objecto directo da sua constituição a liberdade política” (O Espírito das Leis, liv. XI, cap. 5; O. C., t. li, p. 396.). Quanto à representação, a sua ideia não figurava em primeiro plano na teoria da república. As repúblicas em que Montesquieu pensa são as repúblicas antigas nas quais existia uma assembleia do povo, e não uma assembleia eleita pelo povo e composta por representantes do povo. Foi só em Inglaterra que ele pôde observar, plenamente realizada, a instituição representativa. Este governo, tendo por objecto a liberdade e onde o povo é representado pelas assembleias, tem por principal característica aquilo a que se chamou a separação dos poderes, doutrina que continua a ser atual e sobre a qual indefinidamente se tem especulado. Montesquieu verifica que na Inglaterra um monarca detém o poder executivo. Uma vez que este exige rapidez de decisão e de ação, é bom que um só o detenha. O poder legislativo é incarnado por duas assembleias: a Câmara dos Lordes, que representa a nobreza, e a Câmara dos Comuns, que representa o povo. Estes dois poderes, executivo e legislativo, são detidos por pessoas ou corpos distintos. Montesquieu descreve a cooperação dos dois órgãos bem como analisa a sua separação. Mostra, com efeito, o que cada um desses poderes pode e deve fazer em relação ao outro. Há ainda um terceiro poder, o poder de julgar. Mas Montesquieu precisa que “a força de julgar, tão terrível entre os homens, não estando ligada nem a um certo estado, nem a uma certa profissão, torna-se por assim dizer, invisível e nula” (E. L., liv. XI, cap. 6; O. C., t. II, p. 398.) O que parece indicar que o poder judicial sendo essencialmente o intérprete das leis deve ter tão pouca iniciativa e personalidade quanto possível. Não é o poder de pessoas, é o poder das leis, deve-se “teme-se a magistratura e não os magistrados” O poder legislativo coopera com o poder executivo; deve examinar em que medida as leis foram corretamente aplicadas por este último. Quanto à força executora, não poderá entrar no debate dos assuntos, mas deve estar em relação de cooperação com o poder legislativo, por aquilo a que Montesquieu chama a sua faculdade de impedir. Montesquieu acfescenta ainda que o orçamento deve ser votado todos os anos. O voto anual do orçamento é como que urna condição de liberdade. Estabelecidos estes dados gerais, os intérpretes têm acentuado uns o fato de a potência executiva e a potência legislativa serem distintas, outros o fato de dever existir entre elas uma cooperação permanente. Montesquieu, em toda a sua análise da constituição inglesa, supõe uma nobreza e duas câmaras, das quais uma representa o povo e a outra a aristocracia. Insiste em que os nobres só sejam julgados pelos seus pares, pois se fossem julgados pelo povo, poderiam ficar em perigo, e não gozariam do privilégio que o mais pequeno dos cidadãos tem num Estado livre, o de ser julgado pelos seus pares. Noutros termos, Montesquieu, na sua análise da constituição inglesa, visa redescobrir a diferenciação social, a distinção entre as classes e as categorias de acordo com a essência da monarquia, tal como a definiu, e indispensável à moderação do poder. Um Estado é livre, diria eu de bom grado, comentando Montesquieu, quando nele o poder trava o poder. O que há de mais impressionante, para justificar esta interpretação, é que, no livro XI, depois de ter terminado o exame da constituição de Inglaterra, Montesquieu volta a Roma e analisa o conjunto da história romana em termos de relações entre a plebe e o patriciado. O que o interessa é a rivalidade entre as classes. Esta competição social é a condição do regime moderado porque as diversas classes são capazes de se equilibrar. No que se refere à própria constituição, é bem verdade que Montesquieu indica em pormenor como cada um dos poderes tem este ou aquele direito e como devem os diferentes poderes cooperar. Mas esta formalização constitucional não é mais do que a expressão de um Estado livre, ou, diria eu de bom grado, de uma sociedade livre, na qual nenhum poder pode alargar-se sem limites uma vez que é travado por outros poderes. Se esta análise for exata, a teoria da constituição inglesa encontra-se no centro da sociologia política de Montesquieu, não por ser um modelo para todos os países, mas por permitir identificar o mecanismo constitucional de uma monarquia, os fundamentos de um Estado moderado e livre, graças ao equilíbrio entre as classes sociais, graças ao equilíbrio entre os poderes políticos. Mas esta constituição, modelo de liberdade, é aristocrática e, têm sido propostas interpretações diversas. Consideramos apenas a que insiste no equilíbrio das forças sociais, e acentua também o carácter aristocrático da concepção de Montesquieu. Esta ideia do equilíbrio das forças sociais supõe a nobreza, serve de justificação aos corpos intermédios do século XVIII, no momento em que estes estavam prestes a desaparecer. Montesquieu é um representante da aristocracia que reage contra o poder monárquico em nome da sua classe, que é uma classe condenada. Vítima da astúcia da história, levanta-se contra o rei, querendo agir em favor da nobreza, mas a sua polémica apenas para a causa do povo será eficaz. Para além da formulação aristocrática da sua doutrina do equilíbrio das forças sociais e da cooperação dos poderes políticos, Montesquieu estabeleceu o princípio segundo o qual a condição do respeito das leis e da segurança dos cidadãos é que nenhum poder seja ilimitado. Tal é o tema essencial da sua sociologia política. Podemos concluir que Montesquieu foi um pensador influente nas áreas da filosofia da historia e do direito constitucional. A partir dele, os escritores franceses se tornaram mais que literatos e passaram a discutir os assuntos públicos e a influir nos destinos do país. Influenciado por Maquiavel, o escritor procura determinar as causas da grandeza e da queda das nações e dos Impérios e explica o curso da historia por meio de fatos naturais, econômicos e políticos, como clima, a situação geográfica, amplitude de seus domínios e o que ele chamou o ‘’gênio’’ das nações. Montesquieu parece, em parte, antecipar o positivismo cientifico do século XIX, ao usar critérios das ciências naturais. O fundo de seu pensamento já é historicista. Homem do século XVIII, porem, ele não se entregou ao pessimismo e acreditou na salvação por meio de instituições políticas adequadas, tema de sua mais influente obra. Destacamos também a elaboração de conceitos sobre formas de governo e exercício da autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos da ciência política. Considera que cada uma das três formas possíveis de governo é animada por um principio: a democracia baseia-se na virtude, a monarquia na honra e o despotismo no medo. Ao rejeitar este último e afirmou que a democracia só é visível, em repúblicas de pequenas dimensões territoriais, decide-se em favor da monarquia constitucional. Elabora a teoria da separação dos poderes, em que a autoridade política é exercida pelos poderes executivo, legislativo e judiciário, cada um independente e fiscal dos outros dois. Isso porque ele era contra o absolutismo (forma de governo que concentrava todo o poder do país nas mãos do rei). Seria essa a melhor garantia da liberdade dos cidadãos e, ao mesmo tempo, da deficiência das instituições políticas. Além disso, fez várias criticas ao clero católico, principalmente, sobre seu poder temporal e interferência política. Defendia aspectos democráticos de governo e o respeito das leis.
BIBLIOGRAFIA
BOBBIO, Noberto. A teoria das formas de governo. 10 ed. Brasília: 1998.
MONTESQUIEU. O espírito das leis. Livros alternados. Bertrand Brasil: 1996. Raymond Aron, As Etapas do Pensamento Sociológico, tradução de Miguel Serras Pereira, Lisboa, Dom Quixote, 1992 (págs. 33-45). WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 1991. William L. Langer, An Encyclopedia of World History, Boston, Houghton Mifflin, 1968