Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica PDF
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VILA VELHA - ES
2010
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VILA VELHA - ES
2010
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Banca Examinadora
_____________________________________
Aloísio Silva
_____________________________________
Beatriz Christo Gobbi
_____________________________________
Luciana Genelhú Zonta
VILA VELHA - ES
2010
3
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 09
CAPÍTULO 1 - DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO ................................................ 12
1.1 CAMINHOS A TRILHAR NO PROCESSO DIAGNÓSTICO .......................... 13
1.1.1 Primeira Entrevista ....................................................................................... 13
1.1.1.1 Anamnese ...................................................................................................... 14
1.1.1.2 Motivo da Consulta ......................................................................................... 15
1.1.1.3 E.F.E.S (Entrevista Familiar Exploratória Situacional) ................................... 16
1.1.1.4 E.O.C.A (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) ......................... 17
1.1.1.5 D.I.F.A.J (Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem
em uma só Jornada) ...................................................................................... 18
1.1.2 Segunda Sessão Diagnóstica / Hora do Jogo ........................................... 18
1.1.3 Terceira Sessão Diagnóstica / Provas Psicométricas .............................. 20
1.1.4 Quarta Sessão Diagnóstica / Provas Projetivas ........................................ 21
1.1.5 Quinta Sessão Diagnóstica / Provas Específicas ..................................... 21
1.1.6 Sexta Sessão Diagnóstica / Análise do Ambiente .................................... 22
CAPÍTULO 2 - DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM .................................................... 23
2.1 CRITÉRIOS E DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DE
APRENDIZAGEM ......................................................................................... 26
CAPÍTULO 3 - DISLEXIA ............................................................................................. 31
3.1 ETIOLOGIA .................................................................................................... 34
3.2 COMO DIAGNOSTICAR A DISLEXIA ........................................................... 37
3.3 ADAPTAÇÕES AO DISLÉXICO ..................................................................... 40
3.4 COMO TRATAR E AUXILIAR O DISLÉXICO ................................................ 41
3.4.1 A Dislexia na Família .................................................................................... 43
3.4.1 A Dislexia na Sociedade .............................................................................. 44
8
INTRODUÇÃO
Como uma profissional na área da educação, busco obter mais conhecimento, ampliar
meu campo de atuação e aprimorar meu método de trabalho dentro daquilo que se
refere a distúrbios e dificuldades de aprendizagem, onde diagnosticar e intervir
significam favorecer a saúde escolar e contribuir para uma sociedade de aprendizes
bem-sucedidos.
Utilizando os meios a mim acessíveis como a internet, periódicos, simpósios e livros, foi
realizado um levantamento bibliográfico, onde diversos estudos e teorias sobre os
distúrbios de aprendizagem foram explorados. Foi possível identificar o "passo a passo"
de um diagnóstico psicopedagógico e conhecer a visão que as Federações Mundiais de
Saúde têm em relação aos distúrbios e as leis estabelecidas a favor da educação
inclusiva.
observação atenta do mesmo pelos pais e pessoas ligadas à criança para que haja um
diagnóstico precoce e uma intervenção adequada a tempo.
1.1.1.1 – Anamnese
Weiss coloca como um optativo a Anamnese com os pais podendo ser esta a primeira
sessão diagnóstica. Já Paín (1989), denomina esta sessão como Hora Vital e sugere
que esta seja feita após conhecer previamente seu paciente e é importante que a
realize, portanto, na segunda sessão diagnóstica.
A Anamnese ou Hora Vital é feita com os pais (ou responsáveis) do paciente se este for
uma criança ou um adolescente, no caso de um adulto a entrevista é feita com ele
mesmo tentando obter o máximo de informações possível. Nesta entrevista o
psicopedagogo obterá dados da história de vida do indivíduo desde o planejamento e
as expectativas do casal em relação à concepção/gestação da criança até o momento
presente.
Sobre situações dolorosas: como luto, separação dos pais. Sobre o diálogo familiar:
como a família interage, os assuntos que são falados com o paciente, respostas às
suas dúvidas, a recepção dos pais ao que ele tem para falar, entre outros.
15
Tanto Weiss como Paín afirmam que com esta entrevista o psicopedagogo não abre
oportunidades para medidas de ansiedade, precipitação e deslocamentos.
Proposta de Sara Paín (1989) para uma primeira entrevista feita também com os pais
ou responsáveis do paciente, ou com o próprio paciente se este for um adulto,
estruturada em torno do motivo da consulta.
Os dados obtidos na EFES (WEISS, 1987 apud WEISS, 1992, p.36) devem ser
comparados e relacionados com outros materiais e informações colhidas em
anamnese, testes, outras entrevistas e outros instrumentos. A EFES acontece com a
presença dos pais e do paciente em nível de igualdade perante o Psicopedagogo, o
que para o paciente, principalmente o adolescente, é de grande valia. Cria-se, portanto,
um clima de confiança, fundamental para que sentimentos e informações sobre o
paciente e a dinâmica familiar fluam o mais natural possível.
Sugerida por Jorge Visca (1987 apud WEISS, 1992, p.41), a EOCA permite ao paciente
construir a entrevista de forma espontânea, porém dirigida de forma experimental.
Espontânea por que o paciente escolhe o que fazer com o material que está à sua
disposição (jogos, hidrocor, livros, papéis, massa de modelar, etc) e Experimental pelo
fato de o Psicopedagogo, segundo suas percepções clínicas, intervir solicitando alguma
ação/resposta do paciente durante sua atividade/discurso lúdico visando captar
informações deste através da reação à intervenção feita.
Alícia Fernandéz (1990 apud WEISS, 1992, p.44) nos propõe o DIFAJ para analisarmos
como é a dinâmica de aprendizagem familiar, qual o significado desta na e para a
família e como é o vínculo afetivo familiar na rotina do paciente. O DIFAJ é realizado
com os pais e irmãos do paciente, onde estes são observados em seus
relacionamentos e discursos por uma equipe multidisciplinar (psicólogos,
psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicolinguístas...) para a análise do quadro geral,
compreensão da problemática, levantamento de hipóteses e delineamento de uma linha
de reeducação para sanar déficits de aprendizagem e obter a colaboração familiar
durante o processo.
A visão de Winnicott (1975 apud WEISS, 1992, p.58) nos possibilita ter uma
compreensão mais abrangente do que é o brincar integrado à aprendizagem e a
importância de se levar o lúdico para dentro dos consultórios psicopedagógicos. Os
19
pacientes apresentam um déficit no brincar que está diretamente ligado aos seus
déficits de aprendizagem.
O processo lúdico nos revela com facilidade aspectos que não apareceriam em
situações mais formais, neste momento do diagnóstico já se faz um movimento em
direção à saúde e à cura, pois o brincar é universal e saudável não só para a área
cognitiva do ser humano, mas também para a área afetivo-social. Segundo Andrade
(2001, p.165) “não há construção do saber, se não se joga com o conhecimento”.
O processo terapêutico trata de duas pessoas que brincam juntas de acordo com as
afirmações feitas pelo próprio Winnicott (apud WEISS, 1992, p.59), e por esta razão o
lúdico se torna tão essencial em um trabalho psicopedagógico. É uma possibilidade de
compreender o funcionamento dos mecanismos cognitivos e afetivos de cada paciente
e como ele lida com o objeto de conhecimento, é um momento onde o paciente se
revela ao Psicopedagogo e se auto-conhece, pois “(...) é no brincar, e somente no
brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade
integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)” (WINNICOTT,
1975 apud WEISS, 1992, p. 58).
É chegada a sessão chamada de Hora do Jogo , estruturada por Sara Paín (1989), que
também pode ser utilizada como a primeira sessão diagnóstica, de acordo com a
sensibilidade do Psicopedagogo. Em a hora do jogo, Weiss (1992, p.59) sugere que se
considere as fases de desenvolvimento de J. Piaget para aplicar os jogos e atividades
estratégicas levando em conta o nível operacional do paciente por sua idade
cronológica, conseguindo, com isso, flexibilidade para um atendimento mais
individualizado e, assim, obter dados relacionados à aprendizagem escolar formal do
paciente, ou seja, seu nível pedagógico.
Tem por objetivo especificar o tipo de dificuldade do paciente, assim como o grau de
gravidade do problema e se pode haver ou não algum tipo de distúrbio ou disfunção
que está comprometendo o desenvolvimento cognitivo e a escolaridade do paciente.
Este momento é perfeito para se solicitar exames multiprofissionais comprobatórios a
fim de confirmar hipóteses já levantadas em outras sessões e comparadas com os
resultados obtidos por estas provas. Algumas provas específicas são: Lateralidade
(determina o hemisfério cerebral predominante sobre o outro), Lecto-escrita (determina
o tipo de dificuldade que predomina no fracasso do paciente na aquisição da escrita e
da leitura).
22
A cognição, no entanto, está deixando de ser o centro das atenções somente na fase
do desenvolvimento infantil e, graças a estudos e pesquisas, afirma-se que a
capacidade cognitiva pode e deve ser trabalhada e desenvolvida em todas as fases da
26
vida.
Muitos distúrbios de aprendizagem não são percebidos até que o indivíduo comece a
falhar insistentemente em habilidades acadêmicas mais específicas e essenciais do
currículo escolar. Gallegher e Kirk (1999) citam alguns critérios para se identificar e
definir categoricamente e de forma diferencial os distúrbios de aprendizagem, estes
critérios auxiliarão um diagnóstico específico e minucioso para se delinear uma
27
Gallagher e Kirk (1999, p. 379) explicam a diferença entre causa e fatores contribuintes,
"[...] o objetivo da procura das causas é prevenir a condição. O objetivo da procura dos
fatores contribuintes é corrigir a condição".
Na fase escolar é possível identificar algum distúrbio quando a criança não consegue
aprender a ler, escrever, soletrar e calcular tendo já passado pelos processos de
aquisição destas habilidades e tendo idade cronológica adequada para tal.
Gallagher e Kirk (1999) sugerem três estratégias de recuperação que entroncam duas
abordagens: 1) Treinamento em Tarefa/Habilidade: Com a abordagem de Análise de
Tarefa (AT), simplifica-se tarefas complexas de modo que seus componentes possam
ser dominados de forma independente e sintetizados a níveis complexos de acordo
com a exigência da tarefa; 2)Treinamento em Capacidade ou Processo: Dá-se a ênfase
a um distúrbio específico de desenvolvimento que bloqueia o progresso da criança
objetivando sua recuperação. Faz-se uma "análise da criança", onde se observa seu
comportamento e desvios psicológicos, como atenção, percepção, memória e outros, e
aplica-lhe treinamentos específicos que tentam desenvolver suas habilidades e
melhorar suas deficiências; 3)Treinamento em Tarefa e em Capacidade ou Progresso:
reúne-se a "análise de tarefa" e a "análise da criança" em um mesmo processo, que
visa a recuperação das duas categorias de distúrbios.
CAPÍTULO 3 – DISLEXIA
Pavão afirma que qualquer problema nesta articulação decorre sintomas típicos da
Dislexia. Shaywitz (1998 apud PAVÃO, 2006) comprova em seus estudos com
disléxicos e não disléxicos, através da ressonância magnética, que esta articulação é
hipoativa nos quadros de dislexia. Conclui-se, no entanto, uma desordem neurológica
na área léxico-ortográfica cerebral.
Sendo assim, muitos autores confirmam que, por causa da ligação estreita entre leitura-
escrita-soletração, transtornos como a disgrafia e disortografia são sequelas da
Dislexia. Contudo, nada impossibilita de a Dislexia ocorrer isoladamente, o que é raro
de acontecer segundo a Federação Mundial de Neurologia, e as diversas classificações
existentes dessa desordem variam conforme sua evolução, sintomas e origem. Não
existe um grupo homogêneo de dislexias, muitos teóricos as classificam em alguns
tipos como:
33
Dislexia Adquirida – qualquer um dos tipos de dislexia citados adquirido após lesão
cerebral em indivíduos normalmente alfabetizados;
Pré - Dislexia – crianças de até 9 anos de idade ou mais que possuem algumas
dificuldades persistentes na área da leitura e escrita dentro do período de alfabetização
e treinamento leitor. A identificação destas dificuldades não conclui quadro de dislexia,
pois sua atividade cerebral é completamente normal. Com treinamento pedagógico
34
De acordo com os tipos de erros cometidos na leitura, pode-se designar dois graus de
dislexia, o primário e, o mais grave, o secundário. Dislexia Primária – caracterizada
pelos erros fonéticos de percepção (visual, auditiva e motora) através de omissões,
adições, inversões e substituições e Dislexia Secundária - caracterizada pelos erros
linguísticos como os erros de ligação, de união entre itens linguísticos e de morfemas.
A Dislexia em si causa uma série de problemas ao seu portador. Pelas dificuldades que
o indivíduo tem de enfrentar ele sofre conflitos na área sócio-afetiva e lida com
elementos agressivos relacionados às suas incapacidades ao ponto de desencadear
processos de hostilidade, fuga e indisciplina. Estes comportamentos inadequados, se
não tratado o distúrbio, podem acompanhar o sujeito por toda sua vida e muitos se
marginalizam e se alienam do mundo por não conseguirem superar seus obstáculos.
3.1 - ETIOLOGIA
formação cerebral. Segundo seus estudos, neurônios migram do núcleo para a periferia
do cérebro do feto e alguns destes neurônios se desviam e comprometem áreas
cerebrais responsáveis pelo desenvolvimento do processo de linguagem. Tanhez e
Nico (2002 apud LOPES e OLIVEIRA, 2007, p. 04) realizaram pesquisas sobre as
atividades cerebrais de alguns disléxicos e encontraram uma suborganização destas
células nervosas.
Desequilíbrio funcional dos hemisférios cerebrais: Outro gene foi descoberto pelo
professor de genética molecular Juha Kere, do Instituto Karolinska de Estocolmo,
denominado de Robo 1, este gene é responsável pelo desenvolvimento que guia
conexões entre os dois hemisférios do cérebro chamadas de axônios. Essas conexões
também têm grande influência na decodificação de sistemas linguísticos.
Para Geraldi (1996 apud GUARINELLO, 2006) os aprendentes deveriam ser expostos
às diversidades de interações para que a construção de significados e categorias
pudesse lhe trazer uma gama interpretativa de sua realidade e assim se apropriarem
dos critérios do discurso.
O ensino de leitura é ineficiente quanto aos seus efeitos pelo uso de textos
demasiadamente simplificados e fragmentados, pouco significativos e muito artificiais.
Na opinião de Kato (1988 apud GUARINELLO, 2006, p. 251) esta estratégia de ensino
é chamada de "embecilização dos textos" e para ela isso gera um resultado
aparentemente progressivo na decodificação de símbolos gráficos, mas, por não
oferecer a oportunidade de apreender o mundo via linguagem escrita, acaba por
bloquear a aprendizagem da leitura. Pela visão da autora, uma leitura eficiente é aquela
recheada de significado aonde o mundo venha fazer parte de nós e a decodificação vá
além das letras e palavras alcançando a decodificação de infinitas ideias.
Kramer (2001 apud GUARINELLO, 2006) defende o fato de que a leitura leva à reflexão
sobre o sentido da vida dentro de um processo criativo. A leitura é mais do que um ato
mecânico de decodificação de grafemas, é preciso fazer uso absoluto de interpretação
e compreensão de textos levando a uma atividade cerebral mais complexa e,
consequentemente, de sucesso sobre a deficiência da leitura que, infelizmente, se
encontra tão comum nos dias de hoje.
mecanismos de leitura. Os autores deixam claro, desta forma, que um ensino assim
previne muitas deficiências e distúrbios nessa área.
Entre os sinais: Haverá sempre: dificuldades com a linguagem e com a escrita, lentidão
na aprendizagem da leitura, a fluência, então, não será atingida por consequências
neurológicas; Haverá muitas: vezes disgrafia, discalculia, disortografia, dificuldades com
a memória de curto prazo, dificuldades com a organização, dificuldades em seguir
direções e executar sequências de tarefas complexas, dificuldades para compreender
textos escritos, dificuldades em aprender uma segunda língua; Haverá às vezes:
dificuldades com a língua falada, com a percepção espacial e confusão entre direita e
esquerda.
O disléxico faz parte das pessoas que são portadoras de necessidades especiais.
Apesar de não ser deficiente físico, visual, auditivo ou mental, a lei garante ao disléxico
atendimento diferenciado e flexibilidade nas redes de ensino para que adaptações nos
métodos de ensino sejam realizadas. Com estas adaptações as autoridades visam
diminuir a incidência de evasão escolar e com a inclusão social procuram minimizar a
marginalização dos casos de distúrbios de aprendizagem.
Avaliação escolar: Prefira aplicar avaliações orais; Dê tempo extra para as avaliações
escritas e entrega de trabalhos; Evite testes de múltipla escolha; Valorize os trabalhos
pelo conteúdo e não pelos erros de escrita; Garanta um local tranquilo e individual para
fazer os teste e manter sua atenção.
41
O tratamento visa fazer com que os disléxicos tenham qualidade de vida normal. Depois
da confirmação do diagnóstico dá-se início a um tratamento individualizado levando em
conta o nível atual do paciente e sua história de vida. É normal os disléxicos chegarem
aos consultórios psicopedagógicos com baixa auto-estima por conta de seus diversos
problemas.
Quanto mais estreito for o vínculo familiar, mais chances de o tratamento ter resultados
satisfatórios. O Psicopedagogo auxilia os familiares mais próximos do paciente e, por
1
Os métodos encontram-se descritos no Anexo 1.
2
Propostas de atividades para disléxicos, vide Anexo 1.
44
que não, trabalhar neles também a problemática que a dislexia causa no âmbito
familiar. Primeiramente os pais precisam se comprometer inteiramente com o
diagnóstico, precisam ser presentes em todas as etapas das avaliações, buscar
conhecer mais sobre o transtorno, dialogar com o filho sobre o problema, acompanhar
sua vida escolar, ajudá-lo e auxiliá-lo durante os deveres escolares.
Em segundo lugar, ter a consciência de que o disléxico não atingirá fluência na leitura,
mas deixar claro para ele que suas dificuldades podem ser atenuadas e superadas. Em
terceiro e último lugar, valorizar as conquistas e potencialidades dos disléxicos,
destacar suas habilidades e jamais exigir dele a perfeição.
Os familiares são o ponto chave do tratamento, é preciso que haja amor, respeito,
confiança e segurança no lar; a estabilidade familiar é fundamental para a auto-estima
do disléxico que passa a se enxergar como capaz.
O disléxico não difere dos normo-leitores, eles são muito inteligentes e suas habilidades
totalmente compensatórias. A Dislexia não impede o indivíduo de almejar níveis mais
altos na sociedade, não o impede de ser aceito, de trabalhar, de conquistar. Os
disléxicos têm uma capacidade superior aos demais de se superar, afinal, eles, se
diagnosticado e tratado, aprendem a lidar com suas limitações e desenvolver
estratégias para vencê-las desde cedo.
Contamos com exemplos de ícones das ciências e das artes que são grandes modelos
de superação, temos Walt Disney, Tom Cruise, Albert Einstein, Rodin, Nelson
Rockfeller e Cher; disléxicos que desafiaram o distúrbio e ultrapassaram seus limites.
Eles são a prova de que a Dislexia não tem que ser uma sentença de vida.
46
CAPÍTULO 4 – DISGRAFIA
De acordo com Borges (2008, p. 141), há vários níveis de disgrafia, desde a dificuldade
em segurar um lápis e traçar uma linha até a apresentada por indivíduos capazes de
desenhar, porém não de copiar figuras ou palavras mais complexas. A escrita para um
47
disgráfico pode se tornar uma tarefa de tortura trazendo diversos problemas para o
desenvolvimento do ego do sujeito e sua relação com o mundo. Contudo, o
atendimento e diagnóstico psicopedagógicos adequados recuperam seu
comportamento.
4.1 – ETIOLOGIA
A Disgrafia não tem uma única causa que justifique sua etiologia, mas há hipóteses de
sua origem ser neurológica, psicológica e por fatores que contribuem para sua
manifestação. Não há registros, porém, de que seja um transtorno hereditário ou
genético. Pode-se, então, apontar como possíveis causas da Disgrafia os seguintes
transtornos:
escrita.
Adultos disgráficos, como é o caso da maioria dos médicos, que procuram atendimento
psicopedagógico também recebem tratamento e o diagnóstico segue os mesmos
princípios básicos. Normalmente, a recuperação destes pacientes é de grande sucesso,
apesar do diagnóstico tardio e de já instalada a disgrafia.
Ajuriaguerra (1988 apud CAMARGO np) diz que "[...] Disgrafia padronizada não existe,
encontram-se diversos tipos de disgrafia, [...] com modalidades que lhe são próprias
imprimindo-lhe estilo pessoal". Os sintomas da Disgrafia são vários e requer muita
atenção e observação minuciosa para que se determine o seu tipo, sua origem/causa e
fatores contribuintes.
Com base nestes sintomas, Cinel (2003, p.24) sugeriu uma ficha de Coleta de Dados
(vide anexo 2) que fora adaptada para acompanhamento clínico e/ou escolar. Com ela
é possível avaliar e analisar progressiva e cuidadosamente os dados coletados
oferecendo melhores condições para identificação, acompanhamento e elaboração de
atividades de recuperação dos pacientes ou alunos tanto de forma individual como
grupal.
Outra sugestão de avaliação é dada por Ajuriaguerra (1988 apud CAMARGO, 2008 np)
de aplicação individual com indivíduos à partir de sete anos de idade. É um teste
específico de grafismo denominado "Teste Grafomotor" ou "escala D" onde três
aspectos são analisados: 1)Aspecto da Página / Conjunto do Texto; 2)Inabilidade,
regularidade das letras, espaçamentos, enlaces, entre outros; 3)Erros de Forma e
Proporção, observando a postura, inclinação, preensão do lápis, etc. Camargo (2008)
51
Caraciki (2006) diz que a letra exprime o estado físico e psíquico do indivíduo, ou seja,
é individualmente marcado e identificado por sua escrita. Portanto, o tratamento deve
ser singular e diferenciado com a prática de paciência e muita habilidade
psicopedagógica e linguística para que haja estímulo adequado do paciente. Assim, se
destaca a importância de se trabalhar com outros profissionais de forma multidisciplinar
para que o tratamento seja eficaz e o paciente melhor compreendido.
3
Propostas de atividades contidas no Anexo 2.
52
CAPÍTULO 5 – DISORTOGRAFIA
Muitos autores dizem que a Disortografia, na maioria das vezes, pode ser sequela da
Dislexia pela relação estreita entre leitura e ortografia. Porém, este transtorno também
acontece de forma isolada e o indivíduo disortográfico pode manifestar sucesso em sua
oralidade e habilidade leitora (BASTOS, 2009 np).
Vicente Martins (2005) diz que por de trás da Disortografia está a falta de consciência
fonológica, ou seja, o desconhecimento do princípio alfabético da relação grafema-
fonema (escrita-fala); esta afirmação é confirmada nos estudos de Vânia Pavão (2006)
que revelam a importância deste modelo estar bem construído e treinado no
processador ortográfico cortical para que tal habilidade seja bem sucedida quando
reproduzida e memorizada.
5.1 - ETIOLOGIA
É uma posição que não se pode ser explicada por uma causa específica. Porém,
suspeita-se que a origem da Disortografia seja de ordem neurológica, pedagógica,
psicológica e perceptiva, não se encontrando registros relacionados à herança
hereditária que justifiquem o transtorno.
É importante saber se o indivíduo está com o seu intelecto deteriorado, como ele se
encontra emocionalmente, qual o seu nível pedagógico e entre outras informações que
devem ser investigadas minuciosamente para que o diagnóstico seja diferencial e mais
assertivo. Vale ressaltar que somente dificuldades na ortografia sem outras alterações
de escrita não fecha diagnóstico.
Primeira postura a se tomar diante do disortográfico é fazer com que ele tenha a
certeza de que o Psicopedagogo, o Professor e mesmo os familiares estão presentes
para ajudá-lo e motivá-lo, e não para destacar suas dificuldades.
Martins (2005) sugere um modelo de intervenção que pode ser usado na sala de aula
ou na clínica. É um modelo de intervenção psicolinguística que trabalha e fortalece o
campo léxico-ortográfico e semântico do indivíduo. Através de um Lapsograma
(neologismo dos linguístas cubanos), onde se faz a tabulação dos erros ortográficos
cometidos durante a realização de uma tarefa, é possível se trabalhar cada insucesso
do sujeito de forma individualizada.
Lapsograma
4
Exemplos de Exercícios de Pares Ortográficos, vide Anexo 3.
58
CAPÍTULO 6 – DISCALCULIA
6.1 - ETIOLOGIA
A etiologia desta desordem não é explicada por uma causa única e simples, mas
podem-se encontrar associações a fatores que problematizam o domínio da leitura e/ou
da escrita. Estes fatores podem ter sua origem em causas pedagógicas, disfunções do
sistema nervoso central e limitações na capacidade intelectual. Silva (2008) aponta 5
elementos que possivelmente estão relacionados à causa da Discalculia:
distúrbio, mas nada foi confirmado até o momento. Contudo, já foram registrados casos
significativos de discalcúlicos com antecedentes familiares.
Como já mencionado, a Discalculia não têm especificamente uma única causa, mas um
conjunto delas que se relacionados a fatores internos e externos do sujeito é possível
diagnosticá-la com sucesso e determinar seu tipo. Como todo distúrbio de
aprendizagem, o processo de diagnóstico da discalculia requer observação minuciosa e
atenção aos sintomas e fatores contribuintes. Fatores internos e externos: Memória,
atenção, percepção-motora, organização espacial, habilidade verbal, falta de
consciência, falhas estratégicas, dificuldades em operacionalizar funções matemáticas
simples, maneiras de se ensinar e aprender as habilidades aritméticas, ambiente de
estudo e familiar, entre outros.
Uma observação importante feita por Silva (p. 24) é a de que o portador de discalculia
escreve pouco por medo de errar, suas respostas são geralmente monossilábicas e
dificilmente se expõe em atividades em grupo. Durante as sessões de diagnóstico de
uma pessoa com suspeita de Discalculia é importante ficar atento aos sintomas e
investigar seu histórico.
O sujeito discalcúlico pode não apresentar todos estes fatores, mas a maioria com
certeza se caracterizará, e é possível, também, que ele apresente outros novos, pois
cada indivíduo é único e traz consigo histórias de vida diferentes. Outro aspecto a se
levar em conta é que alguns discalcúlicos têm o seu raciocínio lógico intacto, porém têm
extrema dificuldade em lidar com números, símbolos e fórmulas matemáticas. Outros,
de acordo com Sacramento (2008 np), serão completamente capazes de solucionar
representações simbólicas como 3+4=7, mas incapazes de resolver "João tinha três
reais e ganhou mais quatro. Quantos reais ele tem ao todo?".
tempo nas provas, reduzir o número de questões (sendo estas claras e objetivas) e
permitir o acompanhamento de um tutor para certificar que o aluno entendeu os
enunciados; Evitar avaliações orais; Reduzir deveres de casa; Ministrar algumas aulas
livres de erros para que o indivíduo conheça o sucesso; É importante ter em mente que
para os discalcúlicos nada é óbvio; Não descarte a possibilidade de se trabalhar com
uma equipe multidisciplinar, em destaque o Psicopedagogo que trabalhará a auto-
estima, valorizando as atividades desenvolvidas pelo sujeito e descobrindo seu
processo de aprendizagem e os instrumentos que auxiliarão no aprendizado; Optar por
jogos para trabalhar seriação, classificação, psicomotricidade, habilidades espaciais e
contagem; Deixar o aluno saber que o professor está ali para ajudá-lo e nunca para
desestimulá-lo com atitudes e palavras que destaquem suas dificuldades.
As atividades lúdicas5 devem ser valorizadas por que delas é possível desenvolver
estratégias para a solução de problemas. Para os PCN (Parâmetros Curriculares
Nacionais) os jogos
[...] constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que
estes sejam apresentados de modo interativo e favorecem a criatividade na
elaboração de estratégias de resolução de problemas e busca de soluções.
Propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções vivas e
imediatas, o que estimula o planejamento das ações
[...] podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes - enfrentar
desafios, lançar-se a busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da
intuição, da criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o
resultado não é satisfatório - necessárias para a aprendizagem da Matemática
(BRASIL, 1998, p. 46-47 apud SILVA, 2008, p. 29).
5
Sugestões de Jogos, vide Anexo 4
65
Jogos como o Tangram, Trimu, Matix, Palitos, entre outros são sugestões de atividades
promotoras de situações-problemas que podem ser utilizadas no tratamento clínico,
pedagógico e na interação familiar do discalcúlico.
66
CONCLUSÃO
Uma possível explicação que se tira deste déficit informativo é que os estudos da
discalculia, disgrafia e disortografia estão sempre à sombra das pesquisas a respeito da
dislexia, talvez por serem consideradas, por muitos teóricos, como sequelas geradas do
transtorno disléxico. No entanto, estudando os distúrbios é possível notar a co-relação
existente entre eles e, igualmente perceptível, são as suas causas isoladas e
independentes.
Há, ainda, muito o que se pesquisar, até mesmo sobre a tão falada dislexia. As
pesquisas em torno dos distúrbios de aprendizagem serão sempre uma constante,
considerando que, por ser distúrbios intrínsecos, cada caso é um caso em específico
pelo fato de sermos seres únicos com características funcionais próprias e particulares.
Portanto, é esperado que este estudo seja de grande utilidade e inspiração a quem
precise lidar com a realidade de um distúrbio e que as informações nele contidas
possam desmistificar conceitos, incitar novas atitudes e fazer saber que, por mais difícil
que possa parecer, uma vida saudável e normal é totalmente possível a todos os que
são diagnosticados como portadores de algum distúrbio de aprendizagem.
68
REFERÊNCIAS
CARACIKI, Abigail. Disgrafia: Letra feia é disleixo?: MC-Voz e Fala, 2006. Disponível
em: <http://www.opoderenergeticodavoz.fnd.br/disgrafia.htm>. Acesso em: 10 de julho
de 2010.
TOPCZEWSKI, Abram. Dislexia: Como Lidar?. São Paulo: All Print, 2010.
ANEXOS
72
ANEXO 1
DISLEXIA
73
Método criado por Hegge, Kirk e Kirk (1936 apud GALLAGHER e KIRK, 1999) chamado
de Remedial Reading Drills (Exercícios de Recuperação de Leitura), é um sitema fônico
programado que enfatiza a combinação de sons e incorpora muita experiência
cinestésica. Princípios do método:
1 - Mudança mínima, cada lição incorpora um som novo;
2 - Aprendizagem intensa através de muitas repetições de cada som novo em uma
variedade de situações e revisão frequente;
3 - Induções e confirmações;
4 - Somente uma resposta ensinada para cada símbolo;
5 - Reforço através do conhecimento imediato do sucesso e do reforço social dado pelo
professor.
Criado por Gillingham e Stillman (1936;1965 apud GALLAGHER e KIRK, 1999) este
método consiste num sistema fônico para a recuperação de distúrbios de leitura. Neste
método se aprende tanto os nomes das letras quanto os seus sons.
Procedimento sistemático:
1 - Diz-se o nome da letra e o seu som;
2 - O paciente diz o som e traça ou escreve a letra de memória;
74
• Apresentar sons gravados numa fita para que o aluno identifique e relate sua
sensação ao ouvi-lo;
• Dizer palavras sem significados (como tapete, pedal, relógio...) para que os
alunos repitam.
• Propor um jogo: se fala uma frase que deve ser repetida e ampliada pelo aluno.
2.1.5.2 - Fonemas
75
Tenha em mãos giz ou canetões de quadro branco de várias cores. Uma cor para cada
fonema.
Comece utilizando palavras com até dois fonemas e treine um de cada vez, tenha a
certeza de que a criança domina estes dois primeiros fonemas e vá aumentando
gradativamente.
Experimente um jeito tátil de a criança escrever os sons que ela ouve usando creme de
barbear (ou qualquer outra substância parecida) sobre sua carteira. Terminado cada
som, é só passar a mão sobre a superfície alisando o creme novamente e escrever um
novo som. Antes de passar para o som seguinte, esteja certo de que a criança
assimilou o som ensinado.
Com ímãs no formato de letras coloridas, ditar diferentes sons para que a criança
construa no quadro. Depois de feito alguns sons, pedir para que ela desfaça cada som
enquanto o repete. Serve também para construir palavras e frases.
76
ANEXO 2
DISGRAFIA
77
Passar o lápis vermelho por cima das letras com haste que sobe (ascendente).
Passar o lápis azul por cima das letras com haste que desce (descendente).
Passar o lápis verde por cima das letras com haste que sobe e desce.
Passar o lápis laranja por cima das letras que chamamos de pequenas.
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....................................................... ..........................................................
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ANEXO 3
DISORTOGRAFIA
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o ga___o o ga___o
3.2 - Exercícios que vão ao encontro de dificuldades que envolvam o som /l/ e /r/:
A ___ ua A ___ua
3.3 - Exercícios que vão ao encontro de dificuldades que envolvem os sons /g/ e
/r/:
3.3.1 - Das palavras abaixo diz quais possuem o som de /r/ (fraco) e qual corresponde
ao som de /rr/ (forte):
MARIDO - REDE
FERRO - AREIA
NARIZ - BARRIGA
ERVA - RAMO
GARRAFA - ARMA
CARA - RIO
BURACO - PERU
RAQUETE - NÚMERO
SERRA - PAREDE
FÉRIAS - BURRO
RÃ - BARCO
BARULHO - COLHER
ba___iga ___elógio
COLCHÃO - BLUSÃO
IRMÃOS - LEÕES
AULA - PATRÃO
CÃES - MELÕES
FURACÃO - ALGODÃO
CAPITÃO - PEÕES
JAULA - BOTÕES
CARTÕES - NATAÇÃO
SABÃO - CALÇÕES
TELEVISÃO - ESCORPIÕES
CORAÇÕES - MÃE
CAUDA - BALCÃO
FOGÃO - CARAPAU
FEIJÕES - CANÇÃO
CAMINHÃO - LIMÕES
PULMÕES - DEGRAUS
PÃES - AVIÃO
P____ P_____
3.5 - Para ir ao encontro de dificuldades que envolvem sílabas iniciadas por duas
consoantes:
Um ___ato Um ____ato
Um lo___o Um om___o
Um ra___o o maes____o
____agão Varan____a
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____uta ___umaça
Um co____e Um bi____e
97
Um ____avo Um ___aderno
Um sa____o Um mi___ofone
Um por____o Um _____onômetro
98
____ampeador ____ato
a___ulha _____uta
Um i____eja Um ____alo
99
SINAL - EXTINTOR
PROFESSOR - JORNAL
FUTEBOL - COMPUTADOR
SECADOR - CANTOR
PASTOR - AUTOMÓVEL
TÚNEL - POSTAL
ELEVADOR - AQUECEDOR
ANZOL - CACHECOL
FAROL - DESPERTADOR
BARRIL - MULHER
CASTOR - DEDAL
AVENTAL - CARACOL
JANTAR - SENHOR
MILITAR - BAR
FUNIL - SOL
100
ANEXO 4
DISCALCULIA
101
4.1 - Matix
4.2 - Palitos
O jogo inicia-se com a distribuição de três fichas da mesma cor para cada
jogador. A seguir, decide-se por sorteio quem colocará a primeira ficha na casa
correspondente a um dos nove numerais inscritos no tabuleiro. O segundo jogador
procede da mesma forma, retornando a vez ao primeiro e, assim, sucessivamente, até
acabarem as fichas.
Vencerá o jogo aquele que obtiver a soma quinze, somando-se os valores das casas
ocupadas pelas três fichas.
Caso nenhum dos dois jogadores vença depois de colocada a sexta ficha no
tabuleiro, o jogo prossegue com os jogadores mudando suas fichas de posição, uma a
uma, alternadamente, buscando atingir o objetivo do jogo.
4.4 - Tangram
4.6 - Trimu