Artigo Grupos e Gestalt-Terapia PDF
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Group of gestalt therapy : what is it ?. IGT na Rede, Rio de Janeiro, RJ, 12.22, 14 09 2015.
Disponível em: <http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=513>. Acesso em: 02 11
2015.
ARTIGO
RESUMO
ABSTRACT
Através dos atendimentos clínicos com casais e famílias, entendidos como grupos
primários, pessoas que convivem íntima e regularmente, desenvolvi a compreensão
sistêmica dos fenômenos.
Todos os grupos podem ser vistos no contexto das relações interpessoais, que são
canais invisíveis por onde circulam afetos. A experiência relacional também ocorre
na psicoterapia individual, mas esta carece de um terceiro, exterior, que olhe para
essa relação. Exceto pelo papel do supervisor, que interage apenas com o
psicólogo, essa relação só pode ser vista de dentro pelos que dela participam.
Em uma psicoterapia individual podemos ser vistos pelo psicólogo, quando escuta o
relato de nossa questão, e quando observa nossas alterações e expressões,
diretamente, daquilo que lembramos, imaginamos, contamos. Mas em uma terapia
com grupo podemos prescindir desse esforço de trazer passado ou futuro para
elaboração: o momento psicoterapêutico é também o resultado da interação
imediata entre os membros, com todo o colorido vivencial que isso aporta.
Cheguei a uma terceira terapia como cliente, desta vez de grupo, com encontros
semanais, conduzida por duas psicólogas. O grupo revelou-se ele mesmo
terapêutico2 , embora ao psicólogo coordenador coubesse garantir a permanência
do encontro, sem deter o monopólio da cura3. Há algo que só ele pareceu fazer:
oferecer e cuidar do ambiente, espaço físico e temporal do encontro, bem como da
efetividade da técnica. Ele foi mais um maestro do que um músico virtuoso. E mais
klinikós4 do que herbarium5. Para além dele se apresentava o grupo em sua
expansividade de vida não contida nem domada. O grupo, no qual se incluía o
psicólogo, era maior e diferente daquilo que o psicólogo planejasse fazer com ele,
desdobrando sempre novas possibilidades relacionais, estas, sim, terapêuticas e
não as técnicas se as houvesse fora das relações.
Ao longo desse período como cliente de psicoterapia, também atuei enquanto
psicólogo com indivíduos e grupos, experimentando o desafio que é conduzir
grupos e a necessidade de uma formação teórica que oriente o profissional em suas
decisões do momento. É muito difícil fazer um bom trabalho grupal baseado em
intuição na medida em que é necessário manter uma coerência sistemática das
ações e decisões terapêuticas. Não seria produtivo mudar o referencial a cada
sessão, fazendo ensaios e experiências para ver o que funciona. Mesmo dentro do
referencial gestáltico existem várias formas de se conduzir grupo, como veremos
adiante, sem falar nas configurações de outras correntes teóricas. Para o trabalho
com grupos é preciso ter um mapa e uma bússola, para haver condição (e ainda
não a garantia) de saber aonde se quer chegar e de como fazer para isso.
Devo reconhecer que os dias mais espontâneos e acolhedores eram aqueles em que
se festejava o aniversário de alguém. Não deixava de haver, para o psicólogo, certo
conflito metodológico com essa invasão do “profano” no ambiente “sagrado” da
psicoterapia. Conflito que era expressão de uma “pureza” (ou, por que não,
preconceito) do modelo terapêutico, mas que fez surgir a reflexão acima exposta
que indicava a conveniência de outro formato de grupo, mais aberto, que
promovesse a convivência. Este existe no trabalho de “ambulatório ampliado”, uma
experiência vigorosa que antecedeu o surgimento dos CAPS em alguns municípios.
Atualmente, ao que parece, quem ocupa o espaço do grupo de acolhida é a Terapia
Comunitária, criada pelo brasileiro Adalberto de Paula Barreto, modelo que desde
2008 integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do
Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde7
O encontro pode ser terapêutico desde o início, se for dada permissão às pessoas
de estarem juntas, ainda que às vezes problematizando esse desejo de encontro e
permanência. No grupo pode haver um elixir terapêutico que harmonize os afetos,
amenize as dores, amplie os horizontes da vida, um aroma que vem do outro e vai
para o outro. Esse “elixir”, e “aroma”, invisível gerador de mudança, é um tema
cujo estudo nos leva da técnica para além dela, perpassando a poesia, a literatura,
a filosofia e a arte, o corpo, a música, a dança e a transcendência.
Introdução
O homem, ser de relação, vivencia grupos desde o início de sua história, quando
foram necessários dois gametas para a formação de um embrião.
Um casal faz planos para o filho por nascer, que durante a gestação recebe
influências do ambiente externo e do estado emocional da mãe, como o som de
uma música ou a batida rítmica do coração materno.
Serão apresentados conceitos sobre grupo, segundo sua etimologia e história; pelo
ponto de vista do autor existencialista Jean-Paul Sartre; e conforme a Gestalt-
terapia. Em seguida, será feita uma distinção entre três tipos de psicoterapia,
empregando-se como auxílio as preposições em, de e do (psicoterapia em / de /
do grupo). Depois, apresentaremos uma revisão bibliográfica de publicações
ocorridas nos últimos cinco anos (2009 e 2013). Ao longo do texto alguns livros e
mesmo artigos mais antigos são citados como material de apoio.
No primeiro caso, conta-nos Nise da Silveira (SILVEIRA, 1998) o que é, para ela, a
primeira história de psicoterapia que se tem registro: a relação entre a divindade
Tot, o deus egípcio da sabedoria, e Tefnut, filha de Rá, o grande deus sol.
Tot, na forma de macaco, é enviado por Rá para acalmar sua filha Tefnut, na forma
de leoa, e trazê-la de volta à casa paterna. Sujeita a grandes cóleras, é capaz de
emitir fogo pelos olhos, pela boca e pelo nariz.
A maioria dos filmes que retratam terapia com grupo deixa a impressão de
apresentar grupos temáticos de autoajuda, no modelo dos Alcoólicos Anônimos,
enfatizando a tolerância, o respeito, a escuta e a partilha.
Por fim, o capítulo com as Considerações Finais, e também um anexo sobre o termo
“ubuntu”, alcunha de Nelson Mandela, além do apêndice com uma poesia de José
Régio.
1 – O que é grupo?
Eis um esquema do que será apresentado nesta primeira parte do capítulo um:
Por sua vez, grop é derivado do alemão Kruppa com significado de massa
arredondada ou círculo, remetendo à distribuição circular das pessoas em grupo,
como nos lendários Cavaleiros da Távola Redonda. Porém, “o mero sentar-se em
círculo não determina igualdades hierárquicas nem atenua os jogos de poder. (...)
pareceriam ter muito mais peso os intercâmbios (...) de olhares que a distribuição
espacial escolhida possibilita”. (FERNÁNDEZ, 2006, p. 21). Lembremo-nos do
Panóptico, de Erwing Goffman, uma organização também circular, porém de
controle, onde o poder de vigiar e punir estão centrados naquele que tudo vê, mas
não é visto.
De acordo com FERNÁNDEZ (2006, p. 17), os séculos XVII e XVIII dirigem suas
indagações ao indivíduo, principalmente com Descartes. O século XIX investiga o
ser da sociedade, sobretudo com Durkheim e Marx. Mas é no século XX que surgem
as questões referentes ao grupo, geralmente entendido como um conjunto restrito
de pessoas, intermediário ou mediador entre a sociedade e o indivíduo.
O que daria nó, fazendo surgir a coesão grupal? Ou, nas palavras de Fernández
(2006, p. 20), “que enodamentos-desenodamentos se organizam dentro de um
conjunto reduzido de pessoas?”.
Precisa ser a carne e o sangue? Um membro pode ser adotado, recebe como
herança o direito de pertencer permanentemente. Aliás, se tiver o sangue e não for
acolhido, não deu nó: são os filhos abandonados. Por que não dá nó? Como na
epígrafe: “tempo ou oportunidade não determinam a intimidade, apenas a
disposição”.
Por que alguém não se dispõe a dar nó? Talvez não se acredite capaz, mas inábil.
Acredita-se sozinho. Talvez não queira dar o nó por não desejar as consequências
desse nó. Ficar ligado. Pertencer ao outro. E o outro pertencer a si. Isto daria medo
e levaria a fugir da possibilidade de fracassar, para não ser rotulado como incapaz
de formar laços.
Mas por que se realizaria a solidão que se teme? Porque assim parece que optou-se
livremente, e alguma dignidade resta, a dignidade de ter escolhido, ainda que
arrogante, como se depreende lendo “Cântico Negro”, poema de José Régio, em
anexo. Ou porque a pessoa não teve a oportunidade de desenvolver o senso de
intimidade e de confiança, de liberdade e igualdade, necessários para estabelecer
vínculos.
O que dá nó em uma família? Talvez, quando o casal escolha montar uma família,
ela seja o projeto em si, as pessoas se encontram para essa finalidade e livremente
se colocam na condição para execução desse projeto: a de que um precisa do outro
para concretizá-lo. E para que montar uma família? Para ter laços, para formar nó,
e fica eleito que este será o nó mais forte que será dado na vida. Para que? Para
estar com alguém, e ser com esse alguém. Não apenas estar com alguém, mas
com alguém que precisa de nós. Viver no desejo do outro, pois quem não se
percebe necessário ao outro sente a iminência de ser descartado e esquecido, sente
raiva e tristeza, ainda que esse outro seja um animal de estimação.
Conforme tradição encontrada no Antigo Testamento, ter um filho é uma forma de
vencer a morte e de ser abençoado com aqueles que cuidarão do ancião; o filho é a
esperança de uma promessa de vida, de sobreviver nas gerações seguintes. Por
isso – e não querendo polemizar – a visão religiosa se opõe ao aborto por entender
que o filho não é maldição, mas promessa. Os povos antigos depositavam
esperança nos filhos, “os filhos são a benção / herança do Senhor, o fruto do ventre
é uma recompensa / uma dádiva! Como flechas na mão de um guerreiro são os
filhos de um casal de esposos jovens” (Salmo 126, 3-4).
Somos seres de relação, desde a infância em íntima dependência dos adultos, cujo
tempo de vinculação excede o dos outros animais que em poucas horas de nascidos
já ficam de pé e conseguem andar para longe da genitora. É na prolongada relação
inicial do bebê com seus genitores que o homem se torna um ser disponível para a
cultura.
“a realidade afetiva primeira, originária e imediata (...) que funda todas as relações
vividas, está na base dos laços grupais (e por isso) não precisa ser explicada ou
construída, mas des-coberta pelo grupo. É um processo que mobiliza angústias
profundas e faz surgir estruturas defensivas que, no decorrer da vida do grupo se
modificam e – espera-se – tornam-se menos rígidas e restritivas, podendo,
eventualmente, se superar.”
“caracterizado por uma cooperação face a face (sendo) o resultado de uma fusão
íntima (...) de tal modo que a meta e a finalidade do grupo são a vida em comum,
objetivos comuns e um sentido de pertencimento, com um sentimento de simpatia
e identidade.”
Nisto, Ribeiro não teria a concordância de Bleger (2003), psicanalista, para quem é
antiterapêutico o grupo (operativo) construir como finalidade a existência em si
mesmo, considerando o enrijecimento advindo desse esforço: a meta deve ser,
para Bleger, o aprendizado grupal e não uma vida em comum.
O amor existe nas dimensões de amor por si mesmo, amor pelos outros, amor pelo
divino e pela criação.
A ideia de grupo pode permanecer ainda que ele deixe de existir, e nesse sentido a
fenomenologia de Husserl, para alguns autores, se aproxima de um idealismo.
Para esse autor, grupo é uma experiência de “nós-objeto” que se verifica quando
eu e outro(s) somos vistos por um terceiro excluído de nossa relação que nos
apreende como um todo. O terceiro excluído descobre fins comuns nas ações dos
indivíduos de uma coletividade por ele unificada de fora (PERDIGÃO, 1995, p.208-
211). Um exemplo: duas pessoas estão tirando fotografias uma da outra, alguém
chega e identifica ali um grupo. Ele se oferece para tirar fotografia das duas
pessoas juntas, sendo que uma quarta pessoa identifica um grupo naquele trio, e
todos podem ainda se alternar no papel daquele que fotografa os demais.
Críticas ao modelo de Sartre diriam que sua visão do ser humano é utilitarista,
coisificando as pessoas, como no modelo de senhor-escravo da dialética de Hegel.
Sartre não acreditaria na possibilidade de relação Eu-Tu como Martin Buber, mas
Eu-Isso, como que invertendo a crença psicanalítica (Isso-Tu) onde só o paciente é
sujeito. As implicações das crenças sartreanas para nosso trabalho em Gestalt-
terapia, no qual predomina a relação dialógica em vez da dialética, são de ordem
ética, estética e metodológica.
1.4 – Grupo, segundo a Gestalt-terapia
Uma contribuição do Gestaltismo para a teoria acerca dos grupos foi a ideia de que
o todo é diferente da soma das partes: portanto, o grupo não seria a soma dos
indivíduos, e a sociedade não seria a soma dos grupos. No entanto, aquela visão de
grupo, como mediador entre o indivíduo e a sociedade, é a recorrente nos textos.
Quanto aos tipos de campo, RIBEIRO (1994, p.63-64) explica haver o geográfico, o
psicológico e o comportamental. Campo geográfico é aquele ainda não significado,
é a realidade em si: uma praia, uma rosa. É o grupo em seus primeiros momentos:
um conjunto de pessoas em uma sala. As emoções surgem mais por fruto das
experiências anteriores do que da realidade presente. Os membros são figura, as
necessidades individuais vêm primeiro que as do grupo, que é fundo. Já o campo
psicológico é o que recebe uma significação a partir das emoções que afetam um
relacionamento presente, aqui e agora. E o campo comportamental é o que decorre
dos anteriores: em função de afetos (em um grupo) surge um tipo de
comportamento.
As manifestações do grupo devem ser vistas, segundo Ribeiro (1994, p. 16), como
uma unidade biopsicossocioespiritual, que adoece quando perde ou afrouxa os laços
dessa unidade.
Grupos convivem com dois medos básicos, conforme Ribeiro (1994, p. 43): o de
perdas (sobre o equilíbrio atingido) e o do novo (de enfrentar a mudança de
quando os antigos parâmetros não são mais válidos e os novos ainda não são
suficientes). Algo semelhante, no indivíduo, Fritz Perls chamou impasse existencial:
“uma situação onde o apoio ambiental não está disponível e o paciente é, ou
acredita ser, incapaz de lidar sozinho com a vida” (PERLS apud STEVENS, 1977, p.
34).
A Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) define psicoterapia de grupo como “forma de terapia da
qual dois ou mais pacientes participam sob a orientação de um ou mais psicoterapeutas, com
o propósito de tratar distúrbios emocionais, desajustamentos sociais e estados psicóticos”. 22
Paciente vem do latim patiéns ou patiéntis, aquele que suporta, que resiste, que
sofre, que sente paixão (do latim passividade, sofrimento) (Verbete. Dicionário
Houaiss). O entendimento kantiano define paixão como “inclinação emocional
violenta, capaz de dominar completamente a conduta humana e afastá-la da
desejável capacidade de autonomia e escolha racional”. Paixão seria um
sentimento, gosto ou sofrimentos intensos que chegam a ofuscar a razão. Conduz a
pessoa para um estado ao qual ela permanece a despeito de sofrer com ele.
É oportuno resgatar a origem grega do conceito de clínica como visto na página 10:
inclinar-se (para ouvir o sussurro do doente acamado e enfraquecido). Em latim,
clínica é o conjunto de clientes, que são indivíduos dependentes. Afinal, a klinika
que fazemos recebe clientes (nessa acepção) ou paciente (conforme página 34)?
Sabe-se que no Sistema Único de Saúde (SUS) não é nem um nem outro: são
chamados “usuários” de um serviço prestado.
Ainda nessa linha de atualizar o conceito de clínica, aquele inclinar-se para ouvir o
murmúrio pode assumir o sentido de escuta atenta, inclinada ao desejo e à voz do
coração que o paciente não sabe inicialmente ouvir sem ajuda, e denota interesse
pelo outro, já sendo um primeiro fator terapêutico e também moderador do furor
curandis (ímpeto curativo) que desprezaria o que o sujeito tem a dizer sobre si.
Fritz fala de seus workshops: “o que eu estou fazendo é uma terapia individual em
contexto de grupo, mas não se limita a isto” (PERLS, 1977, p. 105). Ele não se
refere à Gestalt-terapia de grupo com encontros semanais, mas a workshops que
podiam durar cinco semanas, antes de concluir que tanto um quanto outro são
obsoletos e decidir “dar início ao primeiro Gestalt-kibutz”, em que haveria
permanentemente cerca de trinta pessoas (idem, p.106):
“Nos meus workshops de Gestalt, quem sentir necessidade, pode trabalhar comigo.
Estou disponível, mas não forço nada. Uma díade é desenvolvida,
temporariamente, entre o paciente e eu, mas o resto do grupo é totalmente
envolvido, embora raramente como participantes ativos. Na maioria das vezes, eles
agem como uma plateia, que é estimulada pelo encontro a fazer um pouco de
autoterapia silenciosa (...). Em contraste com o tipo usual de encontros grupais, eu
carrego o peso da sessão, ou fazendo terapia individual, ou conduzindo
experimentos coletivos. Frequentemente interfiro quando o grupo começa a fazer o
jogo de opinar ou interpretar, ou a ter interações meramente verbais sem substrato
experiencial; mas mantenho-me fora quando algo genuíno ocorre”. (PERLS, 1975,
p. 35-36)24
Boris (1993/94, p. 48-49) afirma que o modelo de psicoterapia grupal de Perls foi
utilizado especialmente em seus últimos dez anos de vida, na década de 60. Era
um trabalho um-a-um com:
Yontef (apud BORIS, 1993/94, p. 48-49 e 60) critica esse modelo “menos por sua
efetividade e mais por sua restrita abrangência”, por se tratar de uma perspectiva
individualista centrada no psicoterapeuta, comparando esse modelo de relação com
os raios de uma roda, na qual o psicoterapeuta é o eixo e toda interação passa por
ele.
"Eu uso seis instrumentos para poder funcionar. Um é a minha habilidade; outro
é o lenço de papel. E há o lugar quente (hot seat). É para aí que vocês estão
convidados se quiserem trabalhar comigo. E há a cadeira vazia que trará consigo
um bocado da personalidade de vocês e de outros – vamos chamar assim, por
enquanto – encontros interpessoais. Então há os meus cigarros (e) o meu
cinzeiro". (grifos meus)
Essa abordagem foi própria da psicanálise dos grupos, que buscava a aprovação
das Sociedades Psicanalíticas e não conhecia constructo para outra prática que não
fosse a individual (FERNÁNDEZ, 2006, pag. 99).
Ribeiro (1994, p. 54) assegura que em seu trabalho atende o grupo como “uma
unidade de referência”, um todo sem partes nem relações internas dignas de
trabalho: “minha tendência é trabalhar o grupo como um todo e entender qualquer
coisa que ocorra no grupo como algo que pertença à matriz grupal”, fazendo uma
leitura de influência lewiniana ao se referir à matriz: um elemento permanente (em
oposição ao elemento transitório chamado processo), uma realidade invisível,
semelhante a conceitos como inconsciente grupal, atmosfera de grupo, mentalidade
de grupo (idem, p.34) ou interação sincrética para Bleger (2003). A matriz é
construída pelo sistema de comunicação, ou seja, tudo o que acontece no grupo
pelo corpo (postura, roupa, perfume) e pelas palavras e, embora elemento
permanente, não é imutável.
Segundo Ribeiro (1994), ela pode ser percebida após cerca de dezesseis horas de
grupo, quando normas, valores e uma cultura grupal estão delineados e a eles o
grupo recorre para saber o que fazer em casos de dúvida (RIBEIRO, 1994, p. 34-
36. Ver também VIEGAS, 2009, p. 18).
Foulkes inspira o trabalho dos citados Jorge Ponciano Ribeiro e Therese Tellegen,
como veremos a seguir. Siegmund Heinrich Foulkes, psicanalista inglês e fundador
da Psicoterapia de Grupo Analítica, buscou uma concepção de psicoterapia de grupo
que não simplesmente transferisse conceitos e procedimentos da psicanálise
individual para a situação de grupo. Fez uso do conceito de campo de Lewin e do
conceito de figura e fundo da psicologia da Gestalt. “Nesse sentido”, diz Tellegen
(1984, p. 19), “as suas obras tornaram-se importantes para mim”. E Ribeiro afirma
ser um discípulo de Foulkes, ter feito sua tese de doutorado sobre a obra dele, e
então “aprendido com ele a ver, no método fenomenológico, um grande
instrumento de trabalho, que ele intuíra pela Teoria do Campo de Lewin e da Teoria
Holística Organísmica de Goldstein. Daí para a Gestalt Terapia (sic) foi apenas uma
passagem” (RIBEIRO, 2007b, p.74).
Foulkes (apud RIBEIRO, 2007b, p. 69) considera ser necessário, primeiro, uma
clara consciência do "que" e só após passar ao "como", aceitando as muitas
interpretações que surgem no grupo como necessárias para fazer cada um ver e
concordar com tais perguntas. Por fim, aparece o "porque", mas não qualquer
porque, senão um porque agora, porque deste modo, porque através dele ou dela.
É, portanto, uma interpretação direta, baseada no aqui e agora, centrada no visível,
na figura, no fenômeno, de pouca especulação 26.
Para Ribeiro (2007b, p. 69-70) a palavra do paciente não é o bastante para explicar
o mecanismo de resistência, sendo necessário observar as formas não-verbais. O
ponto certo de informação é o paciente e seu corpo. Se o terapeuta trabalha um
subsistema qualquer, e nele promove insight ou fechamento de Gestalt, isto leva
harmonia aos demais subsistemas e ao grupo como um todo. "Quem não resiste
não se cura" (idem, p. 70), afirma ao assumir que a resistência nasce da sabedoria
do organismo pela necessidade de se defender de um suposto mal maior. Se não
houver resistência talvez não haja autocrítica, autoestima, capacidade de
discriminação.
“O homem se revela nas relações que trava no mundo, tanto naquilo que faz e
empreende, quanto no trato com o outro. Viver significa participar de um
entrelaçamento, uma rede imbricada que origina o tecido de relações no mundo.
Viver é, fundamentalmente, ‘conviver’".
Boris (1993/94, p. 49), por sua vez, chama de “processo de grupo gestáltico” à sua
forma de fazer psicoterapia de grupo, em que “o trabalho de awareness se
concentra, alternadamente, no relacionamento no grupo e no grupo como-um-
todo”, sendo que, neste modelo, “integrando princípios e práticas da Gestalt-terapia
e da dinâmica de grupo”:
“o líder grupal atenta tanto ao desenvolvimento individual no grupo quanto ao
desenvolvimento do grupo enquanto sistema social. Assim, o grupo já não é
percebido apenas como um conglomerado de indivíduos, mas numa perspectiva em
que o espaço grupal se torna um potente meio psicossocial que afeta
significativamente os comportamentos, sentimentos e atitudes individuais e, por
sua vez, é profundamente afetado pelos determinantes individuais. Este modelo
baseia-se no pressuposto de que o desenvolvimento do potencial criativo individual
depende de um sistema social saudável (...); outro pressuposto é o de que (...) os
grupos (...) atravessam estágios de desenvolvimento comportamental (...):
dependência, (...) contra dependência, interdependência”. (BORIS, 1993/94, p.
49). [grifo meu]
Passemos agora ao objetivo específico de procurar compreender como está sendo praticada
a Gestalt-terapia de grupo no Brasil, através da leitura de artigos, considerando-os em
ordem cronológica decrescente.
“A clínica não pode ser entendida como uma ação sobre o indivíduo desconectado
de seu contexto. Porém, não podemos partir do pressuposto de que quando nos
referimos à comunidade, estamos diante de um conceito fechado, criado por nós a
partir de um olhar de cima para baixo”.
Vieira et al (2010) defende a opção pela Gestalt-terapia por ser “uma terapia de
concentração, do aqui e agora” (p. 36), pois “um dos encontros tinha por objetivo
situar o sujeito no seu próprio corpo”, tendo sido escolhidos “alguns exercícios de
contato” a princípio para com o próprio sujeito e posteriormente promovidos com o
outro (p. 37), “seguindo a ideia de Polster e Polster (2001) de que só há
crescimento através do contato”. Transcrevo o exercício como descrito na página
37:
“Um dos exercícios propostos consistia em que a pessoa, com os olhos fechados,
tocasse todo o seu corpo, passando por cada traço, reentrância, contorno e
observasse a textura, a temperatura, a consistência de cada parte, iniciando pela
cabeça; depois, perceber qual a sensação de cada toque, nas mãos como na
própria parte tocada. Esse exercício estendia-se pelo pescoço, ombros, braços,
mãos, tórax, abdômen, quadril, coxas, pernas e pés. Induzíamos o percurso para a
sequência da mudança da parte a ser tocada, lentamente, buscando a percepção
total de si mesmo. A pergunta ‘como esse corpo está sendo percebido, ouvido,
sentido?’ era repetida durante a vivência. Em seguida era feito um alongamento
suave dos músculos do pescoço, braços, mãos, coluna e pernas, sem nenhum
esforço, buscando um relaxamento completo como se espreguiçar ao acordar. Após
o encerramento abríamos o círculo para troca de experiências entre os membros”.
Para a autora, “o terapeuta é um observador” (p. 307) das “formas peculiares dos
membros de interagir com o mundo (que vão sendo reveladas) à medida que o
grupo vai acontecendo” e das “propriedades desenvolvidas pelas relações
estabelecidas entre os seus membros, que promovem o caráter terapêutico a esse
tipo de atendimento” (p. 304).
Uma das ações sugeridas ao terapeuta (p. 318) é “deixar bem clara a importância
de manter confidencial tudo que é exposto no grupo” como forma de tornar menos
perigosa a exposição da intimidade.
Farah (p. 319) cita Yalom e os três estágios de um grupo: orientação, conflito,
desenvolvimento da coesão. À medida que os membros “passam a falar de suas
experiências mais pessoais, afetivas e menos intelectuais”, ficando mais no aqui e
agora, “oferecendo feedbacks mais construtivos”, o grupo está mais autodirigido e
a participação do terapeuta é menor. Ao terapeuta caberia, sempre, “o cuidado de
acolher e validar sentimentos de maneira que a pessoa possa se sentir respeitada e
ouvida” (p. 325). Há uma descrição sobre a ação das psicólogas (p. 322-3):
Convém registrar que a autora afirma ter sido “espectadora e participante” (p.
325). Participante estaria para figura, assim como espectadora, ilustrado na citação
a seguir, para fundo:
Considerações Finais
Os autores mais citados foram Yontef para Gestalt-terapia e Jorge Ponciano Ribeiro
para Gestalt-terapia de grupos. Além deles: Yalom, Zinker, Polster e Polster,
Hycner e Jacobs, Foulkes, Spangenberg.
Os autores dos artigos, em geral, fazem uso das linhas psicodramatista e reichiana.
E trabalham o corpo, embasados no conceito de fronteira de contato.
Refletindo sobre os objetivos de cada uma das três formas de fazer Gestalt-terapia
com grupo (em, do, de grupo), inclino-me para a Gestalt-terapia de grupo,
promotora de relações e de encontros presenciais. Considero que a Gestalt-terapia
(individual) em grupo obtém um alcance mais profundo e focado, na qual o cliente
pode esperar início, meio e fim de uma ação terapêutica em torno de sua questão
emergente. Por não ter experiência com a Gestalt-terapia do grupo, posso apenas
supor que seja promovida uma identidade e união entre os membros por conta de
evidenciar um inconsciente grupal comum.
Além disso, um trabalho com grupos favorece ao cliente do Sistema Único de Saúde
estar com alguém cuja origem sociocultural seja semelhante a sua, uma vez que na
realidade brasileira o profissional costuma vir de classe diferente daquela do
paciente.
Certa vez, ouvi uma pessoa dizer que “é bom participar no grupo porque estamos
juntos com pessoas que buscam a mesma coisa”.
Mas, por outro lado, alguns clientes apresentam resistência em compartilhar suas
histórias com outros membros, como observado em experiência pessoal no SUS,
em que usuários recusavam atendimento em grupo para aguardarem atendimento
individual e sigiloso. Argumentavam que ninguém os compreendia e depositavam
no profissional, “doutor que estudou”, as esperanças de acolhimento. Acrescente-se
a esse motivo o imaginário social do modelo médico de consultas individuais, e o
que se vê são pessoas participando por pouco tempo em sessões grupais,
inviabilizando os grupos fechados.
Acreditamos que as sessões devam durar uma hora e trinta minutos, talvez um
pouco mais, se o grupo for grande, com mais de dez pessoas. Um tempo menor,
como de uma hora ou hora e quinze minutos, vimos ser estabelecida uma pressão
do tempo, gerando ansiedade, disputa e pressa para falar primeiro.
Como última reflexão: Freud afirma que o terapeuta é ele próprio o remédio 28 .
Nesse sentido, questionaríamos se a psicoterapia pode ir além dos efeitos
cientificamente comprovados de um medicamento e englobar o que é próprio dos
placebos, a sugestão. Mas nossa reflexão será outra: ou “o médico é ele próprio o
remédio” (exógeno), como afirma Freud, ou o organismo tem uma tendência
autorreguladora (endógena), segundo Goldstein e Rogers.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Artigos
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em gestal-terapia: a mediação indivíduo-sociedade nos grupos gestálticos
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Livros
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FERNÁNDEZ, Ana Maria. O campo grupal: notas para uma genealogia. São
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PY, Luiz Alberto (org.). CO-TERAPIA. In: Grupo sobre grupo. Rio de Janeiro:
Rocco, 1987, p. 127-142.
ROBERTS, Monty. O homem que ouve cavalos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2001.
SILVEIRA, Nise da. Gatos, a emoção de lidar. Léo Christiano Editorial, 1998.
GINGER, Serge. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus, 1995. 4ª
ed. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=iRYzTafcQmEC&printsec=frontcover&dq=gi
nger&hl=pt-
BR&sa=X&ei=KcMcU6bfF4yskAfksIGoCQ&ved=0CDwQ6AEwAA#v=onepage&q=ging
er&f=false>, acesso em 28 abril 2014.
Monografia
Vídeos e Filmes
Gênio Indomável (Good Will Hunting). Direção: Gus Van Sant, 1997.
Bibliografia
NOTAS
*
FADEL, Fábio Costa - Monografia de Especialização em Psicologia Clínica – Gestalt-
Terapia (Indivíduo, Grupo, Família). Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento
Familiar.
**
PINHEIRO, Márcia Estarque (orientadora) - Psicóloga, especialista em psicologia
clínica, especialista em atendimento de casal e família na abordagem sistêmica
(I.P.U.B. - U.F.R.J.), Gestalt-Terapeuta com experiência em atendimento clínico
desde 1992, coordenadora do curso de Especialização em Psicologia clínica -
Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e Família) sócia fundadora do IGT.
1 Será utilizada a forma “Gestalt-terapia” com “G” maiúsculo por se tratar de
palavra estrangeira assim grafada.
2 Do grego therapeutês: “que cuida, trata, cura doentes”. E therapeía “cuidado,
tratamento de doentes”. Do latim therapia. (Verbete. Dicionário eletrônico Houaiss
da língua portuguesa)
3 Medicina é em latim a “arte de curar”. (idem)
4 Do grego kline, “leito”; klino, “inclinar ou curvar”; klinikós, “que diz respeito ao
leito”, pelo latim clinìcus. A clínica ou klinike era o inclinar-se do médico sobre o
doente acamado para ouvir o que ele sussurrava. “Clínica” do latim clinìcus é
também “conjunto de cliente” – e cliente é um indivíduo dependente. (Verbete.
Dicionário Médico Stedman e Novíssimo Dicionário latino-português).
5 Latim herbarìum,ìi “obra que trata de botânica”; livro em que se reuniam
descrições e ilustrações de plantas, com indicações sobre suas propriedades
medicinais. (Verbete. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa)
6 Há uma discussão sobre a distinção entre os termos “paciente”, “cliente” ou
“usuário”. Contudo, este trabalho monográfico usará indistintamente um ou outro.
7 Disponível em < http://www.ensp.fiocruz.br/portal-
ensp/informe/site/materia/detalhe/14465>, acessado em 13 out 2014.
8 Definido como um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais
experienciais pela pessoa em desenvolvimento num dado ambiente com
características físicas e materiais específicas. Segundo a Ecologia do
Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner, microssistema pode ser definido
como o ambiente onde a pessoa em desenvolvimento estabelece relações face a
face estáveis e significativas. Neste sistema, é fundamental que as relações
estabelecidas tenham como características: reciprocidade (o que um indivíduo faz
dentro do contexto de relação influencia o outro, e vice-versa), equilíbrio de poder
(onde quem tem o domínio da relação passa gradualmente este poder para a
pessoa em desenvolvimento, dentro de suas capacidades e necessidades) e afeto
(que pontua o estabelecimento e perpetuação de sentimentos – de preferência
positivos – no decorrer do processo), permitindo em conjunto vivências efetivas
destas relações também em um sentido fenomenológico (internalizado).
9 Abrange os sistemas de valores e crenças que permeiam a existência das
diversas culturas, e que são vivenciados e assimilados no decorrer do processo de
desenvolvimento; influência dos aspectos sócio-econômico-culturais.
10 Termo emprestado de Carl Rogers, ou maduro para Fritz Perls.
11 “Em gestalt-terapia”, diz Fritz, “nós escrevemos self com ‘s’ minúsculo (...) e
significa apenas si mesmo, por melhor ou pior que seja, doente ou sadio, e nada
mais” (PERLS – Gestalt-terapia explicada, p. 110).
12 Diz Fritz em Gestalt-terapia explicada (p.38) que “onde algumas pessoas têm
um self, a maioria das pessoas têm um vazio, pois estão muito preocupadas em
parecer isto ou aquilo”.
13 BVS - http://regional.bvsalud.org/php/index.php, lançada em 1998 pelo Centro
Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (ainda
conhecido por BIREME, acróstico da outrora Biblioteca Regional de Medicina), um
centro especializado da Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS, estabelecido
no Brasil desde 1967, inclui importantes fontes de informação como Lilacs
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online, base de dados bibliográficos da
Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos), PEPSIC (Periódicos Eletrônicos
de Psicologia, que segue o modelo SciELO, um projeto da FAPESP-BIREME-CNPq),
entre outros.
14 Ciência que estuda a evolução do significado das palavras e de outros símbolos
que servem à comunicação humana; do francês e grego: “que indica, q;ue
significa” (Verbete. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa).
15 Estudo da origem e da evolução das palavras (idem).
16 Relativo a um povo germânico que em 568 invadiu, colonizou e formou um reino
no vale do rio Pó na Itália. (Verbete. Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa).
17 Povo germânico que invadiu a Gália ou França nos séculos III e IV. (Verbete.
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa).
18 Disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/palavreado/etimologias
acessado em 09 mar 2014.
19 Há autores que questionam se a Gestalt-terapia pode ser, de fato,
fenomenológica, ou se apenas recebeu contribuições da fenomenologia.Para
aprofundamento, sugerimos a leitura de COSTA, Cristiane de Figueiredo –
Fenomenologia: uma discussão acerca da articulação entre Husserl e Gestalt-
terapia. Revista IGT na Rede, v. 7, n° 13, 2010. P. 423-463.
20 Ou “construto”: construção puramente mental, criada a partir de elementos
mais simples, para ser parte de uma teoria; objeto de percepção ou pensamento
formado pela combinação de impressões passadas e presentes. (Verbete. Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa).
21 Jean-Paul Sartre é citado por ter sido um filósofo que difundiu a fenomenologia,
e por apresentar uma teoria acerca de grupos. Não se pretende apresentá-lo como
autor de referência para o trabalho de Gestalt-terapia com grupos: muito ao
contrário, como se verá.
22 Disponível em Descritores em Ciências da Saúde, (http://decs.bvsalud.org/),
acessado 09 mar 2014.
23 Instituto de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar.
24Também citado em TELLEGEN, 1984, p. 51-52.
25 Tomo a liberdade de indicar a aparente necessidade de correção no livro de
Jorge Ponciano Ribeiro (1994) que registra “terapia de grupo” na página 81,
impedindo a distinção do que nomeia na página anterior da mesma forma.
26 No sentido de "estudo teórico, baseado predominantemente no raciocínio
abstrato" (Verbete. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa).
27 Ou intrapessoal, interpessoal, grupal.
28 Remédio inclui medicamento e também qualquer cuidado e recurso terapêutico
como um banho quente, massagem, repouso, psicoterapia, acupuntura.
29 Disponível em http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2013/12/08/o-
significado-de-mandela-para-o-futuro-da-humanidade/, acessado em 08.12.2013.
Ver também http://www.youtube.com/watch?v=7C6vxC4G0CI#t=8, acessado em
07.12.2013.
30 Disponível em
http://www.flickr.com/photos/ginaarteiranaoparaquieta/9740184576/, acessado
em 08.12.2013.
31 Madiba – This is the name of the clan of which Mr Mandela is a member. A clan
name is much more important than a surname as it refers to the ancestor from
which a person is descended. Madiba was the name of a Thembu chief who ruled in
the Transkei in the 18th century. It is considered very polite to use someone’s clan
nam.
APÊNDICE
Ubuntu
Em 2013 morreu Nelson Mandela, conhecido líder sul-africano que mereceu, entre
outras, a alcunha de Ubuntu, palavra intraduzível para o português. O próprio
Mandela responde o que significa, em vídeo disponível em
<http://www.ubuntumission.org/video/what-is-ubuntu-2/>.
“um conceito alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só
posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que
liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e
de conflitos sem fim.
Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima
de Mandela: “Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação
dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre,
na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidades iguais.
É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo
qual estou disposto a morrer”.29
Enquanto nossa cultura discute se um grupo é formado por vários indivíduos lado a
lado ou é um todo indivisível. No dialeto xhosa de Mandela as crianças afirmam
uma irmandade no coletivo que, sem dúvida, foi determinante para Mandela
encontrar sua política conciliatória:
“Um antropólogo fez uma brincadeira com crianças de uma tribo africana. Ele
colocou um cesto cheio de frutas junto a uma árvore e disse para as crianças que o
primeiro que chegasse junto à árvore ganharia todas as frutas. Dado o sinal, todas
as crianças saíram ao mesmo tempo e de mãos dadas! Então sentaram-se juntas
para aproveitar da recompensa. Quando o antropólogo perguntou por que elas
haviam agido dessa forma, sabendo que um entre eles poderia ter todos os frutos
para si, eles responderam: Ubuntu, como um de nós pode ser feliz se todos os
outros estiverem tristes? UBUNTU na cultura Xhosa significa: ‘Eu sou porque nós
somos’”.30
Qual o caminho a nossa filosofia percorreu para ignorar sinônimo para ubuntu?
Talvez ela deva sua origem à cultura individualista nascida a partir de Renée
Descartes (1596-1640) no século XVII: de indivíduo para um simples indivíduos ou
vários eus, como diria Sartre, sem atingir a identidade que é pertencer ao nós.
“Madiba – esse é o nome do clã ao qual pertence Mandela. O nome do clã é muito
mais importante que um sobrenome uma vez que se refere ao ancestral do qual
uma pessoa descende. Madiba foi o nome de um chefe Tembu que governou no
Transkei no século 18. É considerado muito educado usar o nome do clã de
alguém”. (tradução livre31 do sítio eletrônico oficial de Mandela)
Fontes:
http://ourpangea.wordpress.com/2012/09/13/ubuntu-i-am-who-i-am-because-of-
who-we-all-are/
http://www.ubuntero.com.br/2013/12/r-i-p-nelson-rolihlahla-mandela/
http://desmesura.org/nubes/mandela-en-nombre-de-la-libertad-ubuntu
http://www.sowetanlive.co.za/incoming/2011/10/05/ubuntu-abused-for-various-
ends
http://fengshuitotalint.com/crecimiento-personal/ubuntu-para-la-reconciliacion-y-
la-paz/
ANEXO
Cântico Negro
“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
José Régio
José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do
Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30
anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu
principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto,
como poeta que primeiramente se impôs e a mais larga audiência que depois
atingiu. Com o livro de estreia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) —
apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras
posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e
a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso
recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e
perante a si mesmos.
Disponível emhttp://www.luso-
poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=1005, ou em
http://www.releituras.com/jregio_cantico.asp acessado em 6 julho 2013.
Queira ouvir a declamação de Cântico Negro de José Régio, interpretado por João
Villaret, em http://www.youtube.com/watch?v=qKyWRJZnu2o e a interpretada por
Maria Bethânia, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=XV_iXZFPBCk,
acessado em 30 nov 2013 e a por Paulo Gracindo disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=LkYkp3ZsmJQ, acessado em 30 nov 2013.
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