Sistema Romano Germano
Sistema Romano Germano
Sistema Romano Germano
2. CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
A história do sistema jurídico romanista se desenvolve em três períodos: um, que se inicia com
o renascimento dos estudos de direito romano nas universidades, por volta dos séculos XII e XIII d. C.;
outro, no qual, durante cerca de cinco séculos, a doutrina tem destaque e chega a exercer grande
influência no conteúdo de diferentes direitos nacionais; e um último, iniciado no século XVIII com a
Escola do Direito Natural, e que persiste até os dias atuais, em que há o predomínio da legislação como
fonte do direito (DAVID, 1972, p. 57).
O Império Romano, fundado por Augusto em 27 a.C., conheceu uma civilização brilhante, cujo
gênio legou ao mundo um sistema jurídico nunca antes visto. As invasões de diversos povos bárbaros,
em especial os germanos, contudo, levaram à queda do Império Romano do Ocidente no século V d.C.
(MELLO; COSTA, 1995, p. 172). [1] Em decorrência, as populações romanizadas e os bárbaros passaram
a viver lado a lado, seguindo, uns e outros, as suas próprias leis. Gradualmente, foi-se verificando a
miscigenação entre os diversos grupos étnicos e, com a feudalidade crescente, voltaram a vigorar os
costumes locais, com perda do valor primitivo conferido à lei (DAVID, 1972, p. 58).
Esse movimento de abstração normativa conduziu a um declínio do direito escrito, que, por sua
vez, levou à decadência da própria ideia de Direito durante a Alta Idade Média (séculos V ao XI d.C.).
Com efeito, muitos dos costumes vigentes no auge do período medieval contavam com a utilização de
ordálios ou “juízos de Deus” (judicium Dei) como critérios para a solução de litígios. Tratava-se de uma
espécie de prova judiciária usada para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da
participação de elementos da natureza, cujo resultado era interpretado como um juízo divino. [2]
Para que serve conhecer e precisar as regras do direito quando o sucesso duma parte depende de
meios tais como o juízo de Deus, o juramento das partes ou dos “conjuradores” (compurgação) ou a
prova dos “ordálios”? Para que serve obter um julgamento se nenhuma autoridade, dispondo de força,
está obrigada ou preparada para pôr esta força à disposição do vencedor? Nas trevas da Alta Idade
Média, a sociedade voltou a um estado mais primitivo. Pode existir ainda um direito: a existência de
instituições criadas para afirmar o direito (as rachimburgs francas, as laghman escandinavas, as eôsagari
islandesas, as brehons irlandesas, as withan anglo-saxônicas) e até mesmo o simples fato da redação
de leis bárbaras tende a convencer-nos disso. Mas o reinado do direito cessou. Entre particulares como
entre grupos sociais os litígios são resolvidos pela lei do mais forte ou pela autoridade arbitrária de um
chefe. Mais importante que o direito é sem dúvida a arbitragem, que visa menos a conceder a cada um o
que lhe pertence, segundo a justiça e como o direito exige, do que manter a solidariedade do grupo,
assegurar a coexistência pacífica entre grupos rivais e fazer reinar a paz. O próprio ideal de uma
sociedade fundada no direito é abandonado pela maior parte: uma sociedade cristã não deverá antes
procurar fundar-se sobre as ideias de fraternidade e de caridade? S. Paulo, na sua primeira epístola aos
Coríntios, exalta a caridade em vez da justiça e recomenda aos fiéis que se submetam antes à
arbitragem dos seus pastores ou dos seus irmãos em vez de recorrerem aos tribunais. Santo Agostinho
defende a mesma tese. No século XVI, também um adágio, na Alemanha, diz Juristem, böse Christen
(Juristas, maus cristãos); se se aplica de preferência aos romanistas, o adágio vale para todos os
juristas; o próprio direito é coisa má. (DAVID, 1972, p. 59-60)
O afastamento geral da ideia de Direito não coincide, contudo, com um período de total
inexistência de legislação. No Império Romano do Oriente, e, em certa medida, na Itália, Justiniano
publicou, de 529 a 534 d. C. um conjunto de obras que, no século XVI, veio a ser denominado de Corpus
Iuris Civilis (o Código, o Digesto ou Pandectas, as Novelas e as Institutas). [3] Os dois primeiros são
compilações consolidadas e sistematizadas, respectivamente, das leis e doutrinas romanas, do reinado
de Adriano ao de Justiniano; as Novelas registram as normas editadas por Justiniano e seus sucessores
diretos, ao passo que as Institutas representam um manual de estudos, contendo os princípios do Direito
extraídos do Código e do Digesto, elaborado por uma comissão de juristas nomeada pelo Imperador,
formada por Triboniano, Doroteu e Teófilo, professores das escolas de Constantinopla e de Bento, nos
moldes das Institutas de Gaio, do século II d. C. (MELLO; COSTA, 1995, p. 202). No território do antigo
Império Romano do Ocidente, a partir do século VI, foram redigidas leis bárbaras para a maioria das
tribos germânicas, reunidas, em 1861, na coleção das Monumenta Germaniae Historica. Na França e na
península Ibérica, a Lex Romana Wisigothorum ou Breviário de Alarico, promulgada em 506 d.C. –
compilação de leis romanas em vigor no reino visigodo de Tolosa, durante o reinado de Alarico II (487-
507 d.C.) –, ilustra, igualmente a utilização do direito escrito pelos povos bárbaros que ocuparam o
continente europeu (DAVID, 1972, p. 58).
Por conseguinte, não obstante o valor conferido ao costume e o desapego à noção de Direito
na Europa Ocidental dos séculos V ao XI, fruto da descentralização política inerente à estrutura feudal,
associada ao aumento da influência dos ideais de fraternidade e caridade da Igreja, sobreviveu um corpo
normativo escrito, produzido no limiar da Idade Média, que serviria de base à reformulação de uma teoria
jurídica no alvorecer da Idade Moderna. O renascimento comercial e urbano iniciado no século XI e, de
resto, o inteiro fenômeno do renascimento cultural na Europa, que atingiu seu apogeu dos séculos XIV
ao XVI, marcando o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, repercutiu no plano jurídico com a
retomada de consciência da necessidade do direito.
O ensino do direito nas universidades medievais, contudo, não era pautado em regras
positivas, mas em princípios gerais e postulados filosóficos que buscavam expressar os sentidos da
justiça. Tratava-se de realidade imposta, inclusive, por restrições de ordem prática, na medida em que o
direito positivo, na maioria dos países, incluindo a Itália e a França, berço do novo modelo de estudos,
apresentava-se de modo caótico e incerto, ante o predomínio do regime feudal e a inexistência de um
soberano geral e incontestado, em cenário no qual se presenciava intenso conflito entre as ordens
normativas positivas, tais como os direitos reais, feudais, comunais e corporativos (DAVID, 1972, p. 62).
Nesse contexto, objeto de grande admiração era o direito romano, sobre o qual a Igreja havia
edificado o direito canônico. O direito romano encontrava-se disponível na forma das compilações de
Justiniano e seu conteúdo havia sido preservado na língua que a Igreja conservou e divulgou, o latim.
Ademais, era a lex romana a obra de uma civilização brilhante, “que se estendera do Mediterrâneo até o
Mar do Norte, de Bizâncio à Bretanha, e que evocava no espírito dos contemporâneos, com nostalgia, a
unidade perdida da Cristandade” (DAVID, 1972, p. 63). Em decorrência, e tendo em vista, ainda, o
caráter transnacional das universidades e a incoerência das ordens normativas internas, que
inviabilizavam o estudo do direito positivo, o direito romano e o direito canônico passaram a ser utilizados
como o modelo de sistema jurídico sobre o qual deveriam as faculdades debruçar-se em esforço de
análise e interpretação.
O estudo sistemático dos direitos romano e canônico pelo meio acadêmico culminou na
constituição do denominado jus commune, o direito comum das universidades, ensinado nos diferentes
Estados nacionais, que serviu de base à formação do jurista do continente europeu. Diferentemente dos
juízes e solicitadores da Inglaterra, que aprendiam a profissão a partir de um treinamento eminentemente
prático, o jurista europeu era tipicamente letrado e sua formação, centrada em princípios suprapositivos,
contribuiu para a estabilização da ideia de Direito nas sociedades politicamente divididas do alvorecer da
Idade Moderna. Nesse sentido, José Reinaldo de Lima Lopes afirma que
Em 1620, em Upsala, Suécia, inicia-se um processo de valorização dos direitos nacionais pela
comunidade acadêmica, que teve como marco expressivo a instituição, em 1679, na Universidade de
Sorbonne, em Paris, de uma disciplina de direito francês. Mas é somente no século XVIII que se verifica
uma generalização do movimento pela Europa, incluindo-se definitivamente o estudo do direito positivo
nacional pelas universidades de Wittenberg, Alemanha (1707), da Espanha (1741), de Oxford e
Cambridge, no Reino Unido (1800) e de Portugal (1772). A pesquisa e o ensino do direito romano,
contudo, permaneceriam como os elementos mais importantes dos cursos de Direito até o século XX e o
período das grandes codificações, ocupando o direito nacional, em relação a ele, papel claramente
secundário (DAVID, 1972, p. 64).
Durante todo esse período, contudo, a abordagem do direito romano pelas universidades não
foi uniforme, tendo sido várias as escolas que se sucederam, cada uma com preocupações e métodos
próprios (DAVID, 1972, p. 67). Uma primeira escola, a dos glosadores, no século XII, procurou
reencontrar e explicar o sentido das leis romanas (MASSAÚ, 2013, p. 1). [4] Nessa época, alguns textos
das compilações de Justiniano foram abandonados, por se referirem a instituições da Antiguidade que
caíram em desuso. Atingiu seu ápice com a Grande Glosa de Acúrsio, que, retomando o trabalho de
seus predecessores, produziu uma obra que comporta cerca de 96.000 glosas (DAVID, 1972, p. 67). O
movimento subsequente, denominado de escola dos pós-glosadores, no século XIV, é marcado pela
progressiva distorção do direito romano, com sua adaptação às novas necessidades sociais, e pela forte
sistematização do direito, com a definição de ramos inteiramente novos, a exemplo dos direitos
comercial e internacional privado. A esse direito romano amplamente modificado, ministrado nas
universidades europeias nos séculos XIV e XV, deu-se o nome de usus modernus Pandectarum (DAVID,
1972, p. 64). Nos séculos XVII e XVIII, uma nova escola, dita do “direito natural”, triunfa nas
universidades, tendo por preocupação, em lugar de compreender as regras de direito romano, descobrir
e ensinar os princípios de um direito puramente racional (DAVID, 1972, p. 66). Diferenciou-se do trabalho
dos pós-glosadores por abandonar o método escolástico, elevar o estudo do direito a um alto grau a
sistematização e recusar a concepção clássica alicerçada na vontade divina e na natureza das coisas. O
direito passa a ser visto como o resultado puro e simples da vontade humana, com a constatação de
que, se o homem cria o direito, pode também modificá-lo. Nessas circunstâncias, somente a razão pode
servir de guia à construção de um direito justo, pelo que o papel das universidades deveria ser, em
esforço racional, “proclamar as regras de justiça de um direito universal, imutável, comum a todos os
tempos e a todos os povos.” (DAVID, 1972, p. 67) É essa exaltação da razão pela filosofia iluminista,
associada à nova função reconhecida à lei pelas doutrinas voluntaristas que acabou por preparar o
caminho para a via da codificação. [5]
3. FUNDAMENTOS
A doutrina comparatista costuma elencar características próprias dos direitos da família
romano-germânica não verificáveis nos países de common law. Trata-se de institutos ou princípios
estruturais do sistema jurídico justificados por uma formação histórica peculiar, notadamente, a influência
do direito comum das universidades construído sobre a base dos direitos romano e canônico.
Uma primeiro elemento típico do regime de civil law é a divisão sistemática entre direito público
e privado (DAVID, 1972, p. 98). O direito romano é, basicamente, um direito privado, e a instituição do
direito público, na Europa continental, surge apenas tardiamente e de modo deficiente, na medida em
que o problema originário da legitimidade e imparcialidade do juiz, qual órgão do Estado, para decidir
demandas movidas contra a Administração Pública, mostrou-se complexo e de difícil solução. O que hoje
parece uma solução evidente – independência funcional do Poder Judiciário, temperada pela imposição
da supremacia do interesse público sobre o privado, com presunção de legitimidade dos atos
administrativos [6] – revelou-se, no período de formação dos Estados nacionais, desenvolvimento de
intrincada composição, na medida em que governo e sociedade não estavam acostumados a essa
sistemática, pesando, em verdade, severa desconfiança por parte dos particulares acerca da idoneidade
do julgamento de dessa sorte de demandas. Como esclarece René David,
O fato é que, tanto pela relativa novidade da matéria quanto pela sensibilidade política em torno
do tema, o direito público atingiu, nos países de tradição romano-germânica, um grau de
desenvolvimento e perfeição bastante inferior ao do direito privado. A divisão básica entre direito público
e privado no sistema de civil law, além de se justificar pela discrepância dos períodos de surgimento das
respectivas regras de fundo, acompanhou as reais dificuldades da ciência do Direito em formular teorias
e arranjos estruturais que viabilizassem a execução prática de normas limitativas do poder público. Nos
países de common law, inexiste essa diferenciação: construído eminentemente sobre considerações de
processo e, ao menos originalmente, desvinculado do vasto arcabouço privatista do direito romano, todo
o direito anglo-saxônico é tido como direito público. E, talvez pela ausência de uma formação científica
para os juristas de common law, não houve sistematização das soluções judiciais para as demandas
entre particulares ao ponto de se cristalizar uma divisão categórica entre os ramos de direito público e
privado. De seu turno, o direito romano-germânico desconhece a divisão entre common law e equity,
soando até mesmo absurda para um jurista de civil law, formado por universidades que operavam longas
considerações de ordem jusnaturalista, a concepção um direito que, em si mesmo, não seja equitativo.
No século XIX, o triunfo dos ideais positivistas desencadeou um movimento de codificação nos
países da família romano-germânica. [7] Influência decisiva nesse processo exerceu a França, com a
publicação, em 1804, do Código de Napoleão, o Código Civil Francês, e, posteriormente, mais quatro
códigos napoleônicos (Código Penal, Código de Processo Penal, Código de Processo Civil e Código
Comercial). Nos diversos Estados do civil law, encontram-se os mesmos cinco códigos de base, sendo
exceção, na Europa, os países nórdicos, que optaram por promulgar, cada um deles, um único Código,
voltado a abarcar todo o direito nacional – caso da Dinamarca, em 1683, Noruega, em 1687, e Suécia e
Finlândia, em 1734. Idêntica disposição demonstrou a Prússia, como o Allgemeines Landrecht, de 1794
e a Rússia, com o Svod Zakonov, de 1832 (DAVID, 1972, p. 128-129).
Não significa isso dizer, contudo, que a jurisprudência não seja importante fonte do direito nos
países de civil law: como já referido, há, também nesses países, uma consciência geral da incapacidade
do legislador de antever todos os fatos passíveis de submissão ao crivo do Judiciário, diante do que, não
raro, a própria lei autoriza o recurso, nas decisões judiciais, à analogia, aos costumes e aos princípios
gerais do direito. É o caso, por exemplo, do art. 4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,
segundo o qual “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.” (BRASIL, 1942, p. 1). Por analogia pode-se compreender, por óbvio, as
decisões judiciais já proferidas para casos semelhantes, pelo que a jurisprudência é, inegavelmente,
recurso fundamental para o suplemento da ordem jurídica.
Verifica-se, porém, por tudo quanto já exposto, uma cultura geral na qual o magistrado abstém-
se o quanto possível de, declaradamente, criar o direito. Chega-se ao ponto de mascarar a atividade
normativa por uma suposta interpretação do direito, notadamente, quando do manejo de conceitos
jurídicos abertos ou indeterminados. O direito jurisprudencial, pois, nos países de civil law, é
reconhecidamente fraco quando em comparação com a lei; é frágil e suscetível de modificação a todo
tempo, vez que, em regra, não obriga ou compele senão às partes do litígio, não vinculado o órgão
jurisdicional que emanou o julgado, nem as jurisdições a ele inferiores, e, muito menos, particulares não
integrantes da relação processual originária; é, precisamente, o oposto do precedente de common law,
ostentando, em regra, eficácia meramente persuasiva.
Nesse contexto, evidente que a hodierna rejeição à regra do precedente vinculante ou stare
decisis pelo regime de civil law não é fruto do acaso. É o resultado da opção histórica dos países do
continente europeu pela adoção do modelo pré-fabricado do direito romano, em oposição à estratégia
tipicamente inglesa de outorgar aos magistrados o poder de, a partir do caso concreto, construir um
direito de base jurisprudencial. A regra do stare decisis é contrária à original tradição romanista
exatamente porque não há, nos países de civil law, a necessidade verificada nos regimes anglo-
saxônicos de conter o arbítrio do julgador, que, em sede de common law, é livre para ditar o direito
segundo o que lhe pareça a justiça no caso concreto, vez que a lei, ali, somente possui eficácia na
medida em que reconhecida pelo precedente. A partir da segunda metade do século XX, porém, esse
quadro passou a apresentar forte tendência de mudança.
Jaime Domingues Brito e Flávio Luís de Oliveira (2013, p. 1), de seu turno, após estudo
minucioso do papel do precedente nos países de origem anglo-saxônica, declaram que “Não há dúvida
de que o sistema jurídico brasileiro tem-se aproximado do sistema da common law que vigora na
Inglaterra e nos Estados Unidos da América”, referindo a um gradativo Processo de vinculação da
jurisprudência, iniciado já pelo Código de Processo Civil de 1939, “que, em seu artigo 861, trazia
disposição expressa de que o Tribunal poderia promover o pronunciamento prévio sobre a interpretação
de qualquer norma jurídica.”
Corroborando a ideia de aproximação entre os sistemas, Roberta Calvano, citada por Brito e
Oliveira (2013, p. 1), ao tratar da ordem jurídica italiana após o surgimento da Lei Fundamental de 1947,
declara que o stare decisis, antes tido como especificidade do sistema inglês, atualmente é encontrado,
em seus traços gerais, como prática difundida em todo o continente europeu.
Osvaldo Agripino de Castro Júnior (2013, p. 1), a seu tempo, relata que, com a globalização da
economia, a criação de blocos econômicos, o comércio entre os vários povos, o aumento das
comunicações entre os Estados e a necessidade de maior segurança jurídica entre os vários sistemas
jurídicos, “verifica-se um processo de aproximação gradual, ou melhor, fusão dos dois maiores sistemas
jurídicos do mundo ocidental,” a saber, o common law, também denominado de direito anglo-saxônico ou
inglês, e o civil law, de origem romano-germânica ou continental.
A pureza teórica da common law, em sua perspectiva originária, tem sido mitigada na atualidade.
Apesar de não se cogitar da supressão do precedente, passou-se a concebê-lo apenas como o ponto
inicial da solução da lide. Espancou-se definitivamente a inexorabilidade do leading case. [...] O Brasil se
encontra hoje em uma estranha posição relativamente à sua filiação jurídica. Nos livros de doutrina ele
pertence , como dito, ao tronco da civil law. Entretanto, no plano normativo essa petição de princípio é
desmentida. De fato, ao lado de incontestável predomínio da regra escrita existe a supremacia da
vinculação a uma decisão tomada por um tribunal mais alto. É o que ocorre com as decisão prolatada na
denominada Ação Declaratória de Constitucionalidade. (MEDEIROS, 2013, p. 1)
Outrossim, Beatriz Medina Maia Novaes de Castro (2010, p. 29), em interessante dissertação
de mestrado oferecida à Universidade Estadual do Rio de Janeiro, alude a uma aproximação entre os
sistemas da common law e da civil law, ao declarar que “a jurisprudência tem ampliado seu papel nos
países da família romano-germânica, apresentando-se, em cada país, de forma mais ou menos forte.”
Aduz, ademais, que a autoridade da jurisprudência é reforçada nos países que possuem codificação
antiga, uma vez que as a legislação se mostra, em muitos casos, insuficiente, já que deixa de refletir a
realidade social da época, dando azo a que as decisões reiteradas dos tribunais ganhem relevo,
passando a ser o socorro imediato para a solução de determinado caso concreto (CASTRO, 2010, p.
29).
Guilherme Levien Grillo (2013, p. 1) afirma que há, de fato, uma “aproximação do direito
continental ao direito anglo-saxão”, pelo que se faz necessário compreender o funcionamento deste,
além de confrontá-lo com a posição contemporânea da hermenêutica. Nesse sentido, declara que,
também “dentro do sistema da common law, a cega observância dos precedentes, sem qualquer
atividade de interpretação, é radicada no interior de uma concepção ultra-positivista”, pelo que se faria
necessário o desenvolvimento de uma hermenêutica dos precedentes (GRILLO, 2013, p. 1).
Dário Moura Vicente (2013, p. 1), professor catedrático da Universidade de Lisboa, comunga do
entendimento de que a moderna experiência jurídica brasileira vivencia uma espécie de fusão entre os
sistemas inglês e continental ao afirmar que “a convergência entre os sistemas jurídicos em exame [i.e.,
os da common law e da civil law] deu-se também, posto que de forma mais mitigada, no Brasil, onde se
manifestou sobretudo no Direito Constitucional.” Entende o doutrinador, contudo, que a influência do
direito anglo-saxão remonta a um período anterior ao das recentes reformas legislativas. Com efeito,
leciona o eminente jurista:
Felipe Quintella Machado de Carvalho (2009, p. 1), na mesma linha, sustenta vivenciar-se
“tempos de forte aproximação entre os dois grandes sistemas jurídicos ocidentais – os já referidos
sistemas de common law, ou anglo-saxão, e de civil law, ou romano-germânico”, pelo que reputa de
interesse à doutrina brasileira proceder a um estudo das fontes formais do Direito nos Estados Unidos,
onde, segundo afirma, a teoria das fontes foi bem desenvolvida desde a independência do país em 1776.
Na perspectiva das mudanças pelas quais o Direito passou nas últimas décadas, com a Revolução
dos Direitos Humanos ocorrida no pós-guerra, adoção de constituições democráticas com declarações
de direitos fundamentais, a assunção dos direitos humanos e fundamentais com status de supremacia no
âmbito político e jurídico das sociedades contemporâneas, percebe-se um crescimento da atividade das
supremas cortes e cortes constitucionais em diversos Estados, tanto aqueles com tradição no civil law
quanto aqueles com tradição no common law. Esse aumento de atividades assumidas pelo Poder
Judiciário e cortes constitucionais se dá não só do ponto de vista quantitativo, de aumento dos casos e
da demanda da sociedade em relação ao Judiciário, mas também sob o ponto de vista qualitativo,
passando os tribunais a terem de enfrentar diversos assuntos que envolvem questões políticas, morais,
econômicas, de relevante importância para a comunidade. Aliado ao movimento da judicialização da
política, tem-se que o caráter aberto das normas de direitos humanos e fundamentais acaba conferindo
aos juízes o poder de instituir os valores de moralidade política que irão dar significados a esses direitos,
muitas vezes em detrimento de uma deliberação política por parte do Parlamento. (MEDINA, 2013, p. 1)
Paulo César Busato (2013, p. 1), ao discorrer sobre as fragilidades de ambos os sistemas,
afirma que os dois últimos séculos “demonstraram a necessidade de reciclagem do sistema do common
law” e que “as perspectivas sociais e econômicas do futuro apontam para exigências ainda mais intensas
no que tange à prestação jurisdicional e à necessidade da uniformização de decisões”. Declara, ainda,
que nessas circunstâncias, “o sistema inglês deverá também forçosamente migrar em direção de uma
aproximação com o civil law.” (BUSATO, 2013, p. 1)
5. CONCLUSÃO
O Império Romano, fundado por Augusto em 27 a.C., conheceu uma civilização brilhante, cujo
gênio legou ao mundo um sistema jurídico nunca antes visto. As invasões de diversos povos bárbaros,
em especial os germanos, contudo, levaram à queda do Império Romano do Ocidente no século V d.C.
Gradualmente, foi-se verificando a miscigenação entre os diversos grupos étnicos e, com a feudalidade
crescente, voltaram a vigorar os costumes locais, com perda do valor primitivo conferido à lei.
Durante a Alta Idade Média (séculos V ao XI d.C.), verificou-se significativo declínio do direito
escrito, que, por sua vez, levou à decadência da própria ideia de Direito, época em que muitos dos
costumes vigentes contavam com a utilização de ordálios ou “juízos de Deus” (judicium Dei) como
critérios para a solução de litígios.
BRITO, Jaime Domingues; OLIVEIRA, Flávio Luís de. A convergência do sistema da civil
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Acesso em: 17
Resumo: Para se adquirir uma real compreensão do sistema jurídico do Brasil ou, até mesmo,
da concepção da “commolização do direito brasileiro”, é necessário analisar a origem e as estruturas
jurídicas da sociedade. Com isso, será possível compreender toda a evolução do sistema brasileiro. Para
tanto, será trazida a sua formação, demonstrando as suas peculiaridades e retratando as duas principais
famílias, que receberam ingerências do direito romano que são civil law e common law, sendo de fato os
dois essenciais modelo jurídicos reais, com todos aspectos históricos. Importa destacar que os dois
sistemas sofreram influições do direito romano em sua estruturação, mais reagiram cada um desses
sistemas de formas distintas, portanto o ordenamento jurídico vigente, faz uma junção de ambos os
sistemas, mais tendendo para civil law não esquecendo da “tradição” do common law. Entretanto, este
enredo histórico é imprescindível para nos buscarmos o entendimento da metamorfose que está
ocorrendo dentro do ordenamento jurídico brasileiro. [1]
Abstract: In order to acquire a real understanding of Brazil's legal system, or even the
conception of "commolization of Brazilian law", it is necessary to analyze the origin and legal structures of
society. With this, it will be possible to understand all the evolution of the Brazilian system. In order to do
so, it will be brought to its formation, demonstrating its peculiarities and portraying the two main families,
who received interferences of the Roman law that are civil law and common law, being in fact the two
essential legal model real, with all historical aspects. It is important to emphasize that both systems were
influenced by Roman law in their structuring, but each of these systems reacted in different ways, so the
current legal system makes a combination of both systems, more tending to civil law, not forgetting the
"tradition" Common law. However, this historical plot is essential for us to seek the understanding of the
metamorphosis that is taking place within the Brazilian legal system.
1 INTRODUÇÃO
A sociedade é formada por uma grande metamorfose, a qual demonstrou diversos progressos
e aprendizagens de forma significantes para os desenvolvimentos dos homens. Com isso, Direito vem
sempre acompanhado a sociedade como uma sombra, ou seja, como obscuridade produzida pela
interceptação dos raios luminosos por um corpo opaco. Assim, tornam-se os fatos que a sociedade
produz como se fosse um corpo e o sol como se fosse a Carta Magna, portanto, os conflitos entre
matérias e luzes surgem às sombras, o qual figura-se o direito.
“267. A conquista normanda (1066). A conquista normanda, em si, não vai modificar este
estado de coisas. Guilherme, o Conquistador, mal cognominado, pretende reinar na Inglaterra como
sucessor do rei Eduardo, o Confessor, e não pelo direito da conquista. Ele proclama expressamente que
o direito anglo-saxônico se mantém em vigor e ver-se-ão, até os nossos dias, juristas e juízes ingleses
invocarem, quando as circunstâncias o exigem, e mesmo aplicarem esta ou aquela lei da época anglo-
saxônica” (DAVID, 2002, p. 352).
Importa destacar que esse acontecimento refletiu diretamente no direito inglês em forças e
centralização do poder, ou seja, a era tribal chegou ao fim na Inglaterra e surge o feudalismo, onde os
senhores normandos que apoiavam Guilherme em suas conquistas, ganharam suas propriedades e se
alojaram em volta de seu soberano objetivando unificar o poder, assim ocorria muita divergência de
cultura e língua local. (DAVID, 2002, p, 353). Para proteger Guilherme, um grande exército acampa na
Inglaterra, tendo em vista a segurança e organização da sociedade. “Este caráter militar, organizado do
feudalismo inglês é um dos elementos que vai permitir, por oposição ao continente europeu, o
desenvolvimento da common law”.
Pelo fato que em 1086, do Domesday, pelas documentações relatas surgiram cerca de 15.000
dimínio (manors) e os 200.000 lares na Inglaterra. Assim, ocorreu um desenvolvimento econômico muito
grande dentro da Inglaterra, o que mudou na sua estrutura econômica e cultural, a qual passou de tribo
para era feudal, por estes fatores extingue-se a era tribal e surge a era feudal na Inglaterra, diante disso
ocorreram muitos conflitos em virtude dos ingleses não aceitarem o que era novo, com isso, Guilherme
sempre teve que se resguardou contra atribulação que simbolizava os vassalos, tendo em vista de ser
muito poderosos na região. Diante o exposto, esta foi a justificativa por Guilherme ter criado um grande
centurião em sua volta para melhor administrar o seu novo governo, e implantar todo o seu sistema de
governos. Assim, foi plantado o sistema common law como desdobraremos a seguir. (DAVID, 2002, p,
353).
Segundo Marinoni, o sistema common law advém de uma vasta codificação, tendo em vista
quando havia um julgamento, era analisado as suas semelhanças com outros litígios que ocorria dentro
da sociedade. Com isso, era relatado e reduzido a termo, ou seja, formava-se um precedente. Portanto,
a diferença do civil law para common law não é a codificação, mas sim a importância que se dá para as
leis e códigos em cada um deles. (MARINONI, 2009, p. 46-47). Assim, será desdobrado a seguir.
A definição da common law, conhecida na época por comune ley na gíria normanda (Law
French), assim no século XVII será a língua usada pelos juristas inglesas, mesmo o latim sendo a língua
mais falada no resto da Europa. Assim, a comune ley ou common law é distinto de todos os costumes
locais, sendo o direito compartilhado a toda a Inglaterra. (DAVID, 2002, p, 354).
Igualmente, “o common law não foi sempre como é hoje, mas a sua principal características
sempre esteve presente: casos concretos são considerados fonte do direito”. (WAMBIER, 2009, p. 54).
Importa destacar com este novo sistema que se manifesta na Inglaterra por nome common law, no
decorre do tempo veio tomando a sua forma e se estruturando dentro da sociedade inglesa. Assim, era
necessário distribuir a jurisdição em suas competências:
“As jurisdições eclesiásticas instituídas depois da conquista aplicam o direito canônico comum
a toda a cristandade. A elaboração da comune ley, direito inglês e comum a toda a Inglaterra, será obra
exclusiva dos Tribunais Reais de Justiça, vulgarmente designados pelo nome do lugar onde vão
estabelecer-se a partir do século XIII, Tribunais de Westminster.” (DAVID, 2002, p, 354).
Insta salientar que a competência dos tribunais reais, veio junto com a conquista de normanda,
assim os conflitos era levados ás diferentes jurisdições. Portanto, cada tribunal era formado por uma
competência, enseja que fato litigioso dentro da sociedade era distribuído a determinada jurisdição que
acabamos de citar acima. Com isso, o rei exercia apenas a “alta justiça”, ou seja, tomava conhecimento
dos litígios excepcionais, “se a paz do reino for ameaçada, se as circunstâncias impossibilitarem que a
justiça seja praticada pelos meios normais”. Destaca-se também a Curia regis, que era conhecida com a
corte das grandes causa, era uma jurisdição restrita, ou seja, não era aberta a qualquer um. (DAVID,
2002, p. 359)
Na estrutura interna da Curia regis, no inicio do século XVII, alguns arranjos vão tender para
autonomia, como podemos citar foi o parlamento e as comissões com poderes jurisdicionais, que não
acompanha Guilherme em sua viagens e fixam sua sede em Westminster. Mas, os Tribunais Reais de
Justiça não eram dados competências universais. É evidente que deveria ter prudência com as
influências dos senhores, que objetiva ser chefes nos seus domínio, mais não querendo ser submetido a
um veredito. Embora os Tribunais Reais a sua aplicação será apenas três categorias de causas em que
se retrata natural:” questões relacionadas com as finanças reais, com a propriedade imobiliária e a posse
de imóveis', e graves questões criminais que se relacionem com a paz do reino”. (DAVID, 2002, p. 260).
De fato, o Tribunais Reais de Westminster são dividido em três tribunais – Tribunal de Apelação
(Exchequer),Tribunal de Pleitos Comuns (Common Pleas), Tribunal do Banco do Rei (King´s Bench).
Importa destacar que todos os conflitos judiciais continuavam a ser solucionado fora das competências
reais, pela Hundred ou County Courts, ou seja, pelas jurisdições senhorais e eclesiásticas, e também
alguns conflitos foram resolvidos pelas jurisdições municipais ou comerciais:
“Além das três categorias de casos que acabam de ser mencionados, todos os litígios
continuam a ser resolvidos, fora das jurisdições reais, pelas Hundred ou County Courts, pelas jurisdições
senhoriais e eclesiásticas - sendo também, ulteriormente, resolvidos pelas diversas jurisdições
municipais ou comerciais às quais o privilégio de administrar ajustiça será concedido para certos tipos de
questões; estas jurisdições aplicarão ou os regulamentos municipais ou o direito internacional do
comércio (lex mercatoria ou ley Merchant).” (DAVID, 2002, p. 360)
Enseja que o rei Guilherme se baseou na justiça para estender o seu reino, coiso isso, houve
uma necessidade de implantar os Tribunais Reais em toda área conquistada. O Rei fazia uso de seu
Chanceler para administrar o seu reino, por este fato meramente administrativo era necessário que o
Chanceler e os juízes reais conhecessem um vasto número de questões jurídicas, pelo fato que quanto
mais questões jurídicas eram reconhecidas, mais lucros administrativos judiciais proporcionavam para o
rei. Entretanto, os Tribunais Reais tinha competência para certificar presença das testemunhas e para
aplicar as decisões. Em outro giro, era evidente que o Rei conjunto a Igreja poderia obrigar os seus
súditos a prestar juramentos perante a corte, os Tribunais Reis vendo que esta ação era e grande valia,
utilizou-se do julgamento dos litígios a um júri, onde era apresentada todos os fatos e provas, dando ao
júri competência para jugar as seguintes causas. Por estes fatores que levaram os Tribunais Reais
serem os únicos administradores da justiça da época:
“Foram estas as causas pelas quais, no final da Idade Média, os Tribunais Reais são os únicos
a administrar a justiça. As jurisdições senhoriais tiveram a mesma sorte das Hundred Courts; as
jurisdições municipais ou comerciais já não apreciam senão questões de mínima importância, as
jurisdições eclesiásticas passaram apenas a preceituar sobre litígios respeitantes ao sacramento do
casamento ou à disciplina do clero”. (DAVID, 2002, p. 361)
É patente que os meios dos quais levaram a formação da common law não é por nenhuma
característica história dos Ingleses, mas pelo fato da nova cultura e administração que surgiu na
Inglaterra. Com isso, foi marcada por quatro pontos importantes:
“Em primeiro lugar, levaram os juristas ingleses a concentrar o seu interesse sobre o processo.
Em segundo lugar, elas fixaram numerosas categorias e serviram para elaborar numerosos conceitos do
direito inglês. Em terceiro lugar, levaram à rejeição da distinção entre o direito público e privado.
Finalmente, em quarto lugar, criaram obstáculos a uma recepção, na Inglaterra, das categorias e dos
conceitos do direito romano”. (DAVID, 2002, p. 364)
Destarte, que o regime inglês se perpetuou ao longo do tempo e criou raízes dentro da cultura
inglesa, no qual, até os dias atuais essas concepções tem grande estimar dentro do ordenamento
jurídico inglês. Entretanto, com o passar do tempo este estilo toma sua forma sendo um sistema
jurisprudencial por essência, mas trabalhando de forma positivada. Assim, torna-se respeito em todo o
mundo conhecido como a família common law. (DAVID, 2002, p. 364).
Uma das famílias que mais merece destaque dentro do ordenamento forense é a família
romano-germânica. Tendo em vista que família românico-germânica, também conhecida com civil law.
Era é um conjunto de países nos quais as concepções forenses formaram-se sobre os pilares do direito
romano. Enseja que estas regras do direito romano são conhecidas como regra de conduta, onde há
grande preocupação com a justiça e a moral. Por certo a ciência do direito que determinara as regras
principais, passando-se para uma visão antropocêntrica, tendo a ótica da “doutrina” para a formação do
regramento. Portanto, “pouco se interessa pela aplicação do direito que é assunto para os práticos do
direito e da administração”. (DAVID, 2002, p. 23).
Dessa forma, esta família originar-se na Europa, com influencia das universidades europeias,
cuja sua elaboração ocorreu no inicio dos séculos XII e XII, utilizando-se das crestomatias do Imperador
Justiniano, que era uma concepção forense comum a todos, conforme a época. Assim, o epíteto romano-
germânico foi caracterizado para homenagear todos aqueles que trabalharam para a produção desse
novo modelo jurídico, ou seja, nada mais justo do que homenagear as universidades dos países latinos e
dos países germânicos. Importa trazer a baila, que a família do direito romano-germânico ampliou muito
o seu território, onde era aplicada a sua concepção forense, pelo fato que o modelo jurídico era visto
como modernização ou ocidentalização. Com isso, ocorria também fenômeno de incorporação nas
regiões circunvizinhas do domínio romano, as quais aderiam o sistema pela sua eficiência. (DAVID,
2002, p. 24).
“Filósofos e juristas exigem que as relações sociais se baseiem no direito e que se ponha termo
ao regime de anarquia e de arbítrio que reina há séculos. Querem um direito novo fundado sobre a
justiça, que a razão permite conhecer; repudiam, para as relações civis, o apelo ao sobrenatural. O
movimento que se produz nos séculos XII e XIII é tão revolucionário quanto será no século XVIII o
movimento que procurará substituir a regra do poder pessoal pela democracia, ou, no século XX, aquele
que pretenderá substituir a anarquia do regime capitalista pelo remédio da organização social marxista. A
sociedade civil deve ser fundada sobre o direito: o direito deve permitir a realização, na sociedade civil,
da ordem e do progresso. Estas ideias tornam-se as ideias mestras na Europa Ocidental nos séculos XII
e XIII; elas imperarão aí, de modo incontestado, até os nossos dias” (DAVID, 2002, p. 40).
Por isso, com a valorização do homem, ou seja, da ciência que é toda produção humana,
ganha mais força com a Revolução Francesa que ocorreu no século XIX. Assim, como era de comum,
em todas as sociedades da época, ha forma de governo era a monarquia, onde os nobres tinham vastos
privilégios. Embora com essas novas correntes de pensamento que ganharam foco no século XIX, que
restringia as excessivas regalias dos monarcas, o que concretizou para novo modelo jurídico romano-
germânico. Ao passo que chegando ao fim das Revoluções da época, a monarquia absolutista entra em
crise, e a burguesia e o parlamentarismo ganha um grande espaço nesse novo modelo jurídico. Conclui-
se que está nova estrutura jurídica contrariava os magistrados, porquanto restringia também os poderes
dos magistrados, não admitindo interpretação própria, mas sim a sua interpretação estava presa na letra
da lei.
“Havia forte conexão entre a lei escrita e a igualdade, pois passou a entender-se que quando a
lei impera a igualdade é garantida. Ao contrário, quando o que impera é a vontade do homem, a
arbitrariedade é favorecida. Com o passar do tempo, essas condições passaram a sofrer alterações”.
(WAMBIER, 2009, p. 56).
Indubitavelmente que todos os países que abraçaram a civil law, há um predomínio claro do
direito positivado e legislado em desvantagem das demais fontes do direito. Assim, segundo ótica desse
sistema, analisam a doutrina, jurisprudência e o costume, como um status normativo ínfero, ou seja,
permiti a sua utilização quando a legislação pátria não oferece soluções para determinado conflito de
interesses. Somente poderá ser utilizado como fonte supletiva. (LIMA, 2013, p. 82). Salienta-se que a
Constituição estar alocada no topo da ordem hierárquica, com isso, as demais normas seguem na sua
linhagem secundária. Como por exemplo, lei complementar, lei ordinária, decretos, portarias, ordens de
serviços.
Só para ilustrar, no inicio do século XIX, com o grande marco das concepções positivistas
resultou num movimento de codificação nos países da família romano-germânica. Importa destacar, que
o Código de Napoleão e o Código Francês editado e publicado na França foi uma das referencia da
codificação, e logo após mais quatro códigos napoleônicos (Código Penal, Código de Processo Penal,
Código de Processo Civil e Código Comercial). O trecho abaixo explica bem o que o autor quer mostrar:
“Todo direito, a começar pelo mais indomado, o direito civil, foi aprisionado em milhares de
artigos organicamente sistematizados e contidos em alguns livros chamados “códigos”. Foi obra
grandiosa e por tanto lados admirável; foi, porém, também um supremo ato de presunção e, ao mesmo
tempo, a colocação em funcionamento de um controle aperfeiçoadíssimo”. (GROSSI, 2006, p. 51).
Some-se a isto, ha um movimento muito forte, provavelmente pelo fato dos cinco códigos de
base, fazer parte dos diversos estado da civil law, sendo que há uma exceção, nos países nórdicos, que
promulgaram o seu próprio código, formando-se o direito nacional – “A única exceção é constituída pelas
codificações realizadas na Noruega (1683) e na Dinamarca (1687), e na Suécia e na Finlândia (1734);
excepcional, também, e a evolução verificada nos países ortodoxos, então desprovidos de universidades
e separados do resto da cristandade”. (DAVID, 1972, p. 57-58).
Recomenda-se que, novo movimento da codificação não é base para distinção entre common
law e civil law. Salienta-se que as duas famílias usa a pratica da positivação, ou seja, o direito começa a
evoluir, porque só podemos falar em segurança jurídica quando o direito é positivado. Portando, o que se
sublinha entre esta família é a valorização dos textos legais. Com isso, cada família segunda a ótica da
concepção forense dão maior valorização ao os textos legais de forma diferente. O common law baseia-
se nos julgados em regra, ou seja, os precedentes. Mas, quando não são preenchidos os requisitos,
aplica-se o direito positivo, como por exemplo, o da codificação. Importa destacar que a civil law dar mais
valorização a letra da lei, mais também segue forte influência da doutrina e dos julgados. Portanto, as
famílias assim se caracterizam de forma basilar e se estrutura de formas excepcionais, trazendo para
sociedade grande evoluções e modernizações para todo o mundo. (MARINONI, 2010).
Como relato no caso em tela, o direito vem de uma grande transformação, assim, a
metodologia jurídica no século XX, o Direito teve uma imensa e importante evolução, de modo que, a
construção do direito é muito complexa pelo fato que nenhuma ciência possa prevê a ação humana,
tendo em vista, que ninguém nascer predestinado para uma ação corruptiva ou para uma vida digna.
Todavia, as cláusulas gerais são aplicadas para aplicar a ordem da sociedade, decerto seria um único
modo de manter a sociedade de forma harmônica.
Conclui-se que o processo de globalização conjunto das influencias dos regimes jurídicos,
buscam um direito flexível e mais volátil, para solucionar problemas e lide a todo o momento. Tendo em
vista que o novo modelo jurídico se apoia em regras e princípios como forma de engessar o direito.
Todavia, é evidente que o direito privado conseguiu grande proeminência, com o aumento de número de
conexões jurídicas e da complicação de tais vinculações, o alicerce jurídico necessita estar organizado e
estruturado numa estável base principiológica, dando enfoque na seara normativa. (GROSSI, 2009, p.
165).
“A única coisa que se pode firmar com é que os habitantes e cômodos modelos descritivos, que
procuravam representar esquematicamente as características fundamentais dos processos de common
law e de civil law, parecem claramente superados e não são mais utilizáveis como instrumentos para
conhecer e descrever os variados ordenamentos”. (TARUFFO, 2011, p.18).
Salienta-se que este momento de análise, trás a baila com sigo a tradição da civil law e
common law com reflexo do “modelo de distribuição de justiça” empregada no Brasil. Cumpre esclarecer
que o processo civil brasileiro, é a forma que o direitos são exercidos ou assegurados no nosso país,
pelo fato do rígido positivismo tradicional. Desta forma, fica claro que o nosso sistema jurídico sofreu
influência de ambos os sistemas, particularmente pela evolução do direito moderno. Com finalidade de
aprimorar o sistema processual e o Poder Judiciário pátrio, inclusive com o Novo Código de Processo
Civil.
Portanto, cabe demonstrar que o Direito Brasileiro é formado por ambas as inspirações de
vasto modelo jurídico, ao passo que nos dias atuais, o ordenamento jurídico tem se demonstrado muito
mais útil e desenvolvido dentro no mundo forense. Ao lado disso, “a experiência jurídica brasileira parece
ser única; é um paradigma que precisa ser observado e mais bem estudado”. (DIDIER JÚNIOR, 2015, p.
59-60). Por fim, o ordenamento jurídico brasileiro vem sendo operado com uma imensa produção
doutrinaria e uma extensa jurisprudência de forma harmônica, ao passo que posição do pensamento
jurídico brasileiro tem se desligado de sua inspiração como abordado acima, e formando um novo
modelo jurídico do divido processo legal substancial. (DIDIER JÚNIOR, 2015)
5 CONCLUSÃO
É notável que a família common law nasceu no berço de Normandia, o Rei Guilherme teve
grande influência na sua criação, pelo fato de objetivar e unificar o teu reino. Criaram-se vários Tribunais
Reais para garantir a sua estabilidade e proclamar o direito anglo-saxônico. Portanto, os tribunais teve
grande papel para forma a nova Inglaterra, tendo em vista, que quando Guilherme conquistou a antiga
Inglaterra, sua característica principal era formada por vastas tribos, onde cada tribo tinha os seus
costumes e suas leis. Guilherme implantou o seu regime, distribui titulo e terra, formando-se a sua
monarquia de maneira distinta. Ao passo que os latifundiários eram também controlados pelo rei, não
podendo passar de certos limites de riquezas, onde a coroa era o principal foco de toda a riqueza. Com o
tempo, os tribunais cada vez mais eram eficientes e cumpriam com o seu objetivo, o direito era comum
em toda Inglaterra. Assim, cada conflito era analisado de maneira detalhada, tendo em vista, que quando
surgiam diante dos tribunais casos semelhantes era aplicado o mesmo julgamento anterior da mesma
causa, assim, nasceu à teoria do precedente.
Portanto, a família romano-germânica foi formada com um punho moral, onde teve grande
influxo no mundo, ao ponto que o Império Romano também teve grande expansão territorial que contribui
para o desenvolvimento da civil law. Assim, a concepção jurídica romano-germânica era em regra toda
positivada, dentro da historia ocorreu um marco importante. Com isso, cabe destacar provavelmente pelo
fato dos cinco códigos de base, fazer parte dos diversos estado da civil law. Devido a descontinuação
com o antigo regime romano, o novo modelo ideal civil law, satisfaz diretamente as necessidades da
sociedade da época, uma visão contemporânea, onde a necessidade do povo era prioridade. Dessa
forma a lei passou a ser o espirito da justiça, ou seja, representava a vontade do povo, restringindo
qualquer meio de interpretação, obrigando-se o magistrado a ficar restrito o texto legal.
Por fim, a common law e a civil law são reflexos do direito brasileiro, entretanto, o ordenamento
jurídico brasileiro é um sistema melhorado da civil law e da common law, tendo em vista que os nosso
institutos jurídicos estão como os melhores do mundo. Todavia, o ordenamento jurídico brasileiro vem
sendo operado com uma imensa produção doutrinaria e uma extensa jurisprudência de forma harmônica,
ao passo que posição do pensamento jurídico brasileiro forma um novo modelo jurídico, que é o
ordenamento jurídico brasileiro que evoluirá em todo momento.
Referências:
DIDIER JÚNIOR, Freddie Curso de Direito Processo Civil. v. 01. 17 ed. Salvador: JusPODIVM,
2015.
GROSSI, Paola. Primeira lição sobre o Direito. FONSECA, Ricardo Marcelo (trad.). Rio de
Janeiro: Forense, 2006.
LIMA, Tiago Asfor Rocha. Precedentes Judiciais civis no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso especial, recurso extraordinário e ação rescisória.
São Paulo: RT, 2009.