Analgésicos

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Farmacologia dos Sistemas I – P3

Lorena Cambota

Analgésicos Opióides

Os alcaloides opióides, como a morfina, produzem analgesia através de suas ações em regiões do
cérebro que contem peptídeos com propriedades farmacológicas semelhantes às dos opióides. O termo
atualmente utilizado para referir-se a essas substâncias endógenas é: peptídeos opióides endógenos ou
endorfina.

Foram descritas detalhadamente 3 famílias de peptídeos opióides endógenos. Entre os peptídeos


opióides com atividade analgésica, os mais bem caracterizados são os pentapeptídeos metionina-encefalina
(met-encefalina) e leucina-encefalina (leu-encefalina). Tanto a met-encefalina quanto a leu-encefalina
apresentam afinidade levemente maior pelo receptor de opióide δ do que pelo receptor µ. Esses peptídeos
opióides endógenos derivam de 3 proteínas precursoras: a pré-pró-opiomelanocortina (POMC), a pré-pró-
encefalina (pró-encefalina A) e a pré-pró-dinorfina (pró-encefalina B).

Afinidade por Peptídeos


Subtipos de Receptores Funções
Opióides Endógenos
Analgesia supra-espinhal e
espinhal; sedação; inibição da
respiração; redução do trânsito
µ (mu) Endorfina>encefalinas>dinorfinas
GI; modulação da liberação de
hormônios e neurotransmissores
(NTs)
Analgesia supra-espinhal e
Encefalinas >> endorfinas e
δ (delta) espinhal; modulação da liberação
dinorfinas
de hormônios e NTs
Analgesia supra-espinhal e
Dinorfinas >> endorfina e
κ (kapa) espinhal; efeitos psicomiméticos;
encefalinas
redução do trânsito GI

Mecanismo de Ação:

Os agonistas opióides produzem analgesia através de sua ligação a receptores específicos acoplados à
PTN G, que se localizam principalmente no cérebro e em regiões da medula espinhal relacionados com a
dor.

1. Tipos de Receptores: foram identificados 3 classes de receptores opióides (µ, δ, κ) em vários locais
do SNC e em outros tecidos. Os opióides podem atuar com diferentes potências como agonista,
agonista parcial ou antagonista.
2. Ações celulares: os opióides apresentam duas ações diretas bem estabelecidas sobre os neurônios:
(1) fecham os canais de Ca 2+ regulados por voltagem nas terminações nervosas pré-sinápticas e,
portanto, reduzem a liberação de transmissor, e (2) hiperpolarizam e, assim, inibem neurônios pós-
sinápticos através da abertura de canais de K +. a ação pré-sináptica – depressão da liberação do
transmissor- foi demostrada para a liberação de grande número de NTs, incluindo glutamato, o
principal aminoácido excitatório liberado das terminações nervosas nociceptivas, bem como ACh,
NA, 5-HT e substância P (figura 31.2).

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3. Relação entre os efeitos fisiológicos e o tipo de receptor: os analgésicos opióides atualmente


disponíveis atuam, em sua maioria, primariamente nos receptores opióides µ. Tanto a analgesia
quanto as propriedades euforizantes, depressoras respiratórias e de dependência física da morfina
resultam de suas ações no receptor µ. Apesar da morfina atuar em sítios dos receptores κ e δ, não se
sabe ao certo até que ponto isso contribui para a ação analgésica da droga.
4. Distribuição dos receptores e mecanismo neurais da analgesia: todos os 3 receptores principais
são encontrados em altas concentrações no corno dorsal da medula espinhal. São encontrados
receptores tanto em neurônios de transmissão da dor na medula espinhal quanto nos aferentes
primários que transmitem a mensagem da dor. Os agonistas opióides inibem a liberação de
transmissores excitatórios a partir desses aferentes primários e inibem diretamente o neurônio
transmissor de dor do corno dorsal. Consequentemente, os opióides exercem um poderoso efeito
analgésico diretamente na medula espinhal.
5. Tolerância e Dependência física: com a administração frequente e repetida de doses terapêuticas de
morfina ou seus substitutos, verifica-se uma perda gradual da eficácia, isto né, ocorre tolerância.
Para reproduzir a resposta original, é necessário administrar uma dose mais alta. Juntamente com a
tolerância, verifica-se o desenvolvimento de dependência física. A dependência física é definida pela
ocorrência de uma síndrome de abstinência característica quando a dose é interrompida ou quando
se administra um antagonista. O mecanismo de desenvolvimento da tolerância e da dependência
física ainda não está bem elucidado, porém a ativação persistente dos receptores µ, como a que
ocorre com o tratamento da dor crônica intensa, parece desempenhar um papel primário na sua
indução e manutenção. Além do desenvolvimento da tolerância foi observado que a administração
persistente de analgésicos opióides aumenta a sensação de dor. A dinorfina espinhal é um importante
candidato na mediação da dor e hiperalgesia induzida por opióides.

Efeitos da Morfina e seus Substitutos sobre os Sistemas de Órgãos


A. Efeitos sobre o SNC: analgesia, euforia, sedação e depressão respiratória. Com uso repetido,
verifica-se o aparecimento de um elevado grau de tolerância a todos esses efeitos.
a. Analgesia: a dor consiste em componentes tanto sensitivos quanto afetivos (emocionais). Os
analgésicos opióides tem a capacidade de reduzir ambos os aspectos da experiência da dor,
particularmente o aspecto afetivo.
b. Euforia: os paciente que recebem morfina intravenosa apresentam uma sensação agradável,
com redução da ansiedade e do desconforto. Entretanto, pode ocorre disforia, um estado
desagradável caracterizado por inquietação e mal-estar.
c. Sedação: a sonolência e a turvação da consciência frequentemente acompanham a ação dos
opióides. Ocorre pouca ou nenhuma amnésia. Os opiáceos induzem sono mais frequentemente
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em idosos do que nas pessoas jovens e sadias. O sono é leve, mas quando há associação da
morfina com fármacos sedativos-hipnóticos, o sono pode ser muito profundo. Ocorre sedação
mais acentuada com o uso de compostos relacionados aos derivados fenantrênicos, e, com
menos frequência, os agentes sintéticos, como a meperidina e o fentanil.
d. Depressão Respiratória: todos os analgésicos opióides podem produzir depressão respiratória
significativa ao inibir mecanismos respiratórios do tronco encefálico. A depressão respiratória é
relacionada à dose e é influenciada pelo grau de estímulo sensitivo que ocorre no momento.
Uma diminuição pequena a moderada da função respiratória, medida por elevação da PaCO 2,
pode ser bem tolerada no paciente sem comprometimento respiratório anterior. Mas em
indivíduos com elevação da pressão intracraniana, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, a
redução da função respiratória pode não ser tolerada.
e. Supressão da Tosse: a supressão do reflexo da tosse é uma ação bem conhecida dos opióides.
A codeína tem sido utilizada em indivíduos acometidos de tosse patológica e em pacientes nos
quais é necessário manter a ventilação através de um tubo endotraqueal. Todavia, a supressão da
tosse pelos opióides pode propiciar o acúmulo de secreções e, assim, resultar em obstrução das
vias aéreas e atelectasia.
f. Miose: observa-se a constrição da pupila com praticamente todos os agonistas opióides. A
miose é uma ação farmacológica à qual ocorre pouca ou nenhuma tolerância e, mesmo em
dependentes com elevada tolerância verifica-se a ocorrência de miose. Assim, sua presença é
valiosa no diagnóstico de superdosagem de opióides. Essa ação pode ser bloqueada por
antagonistas dos opióides, é mediada por vias parassimpáticas, que, por sua vez, podem ser
bloqueadas pela atropina.
g. Rigidez do tronco: foi observada uma intensificação do tônus nos grandes músculos do tronco
com diversos opióides. A rigidez de tronco diminui a complacência torácica e, portanto,
interfere na ventilação. O efeito é mais aparente quando são administradas rapidamente grandes
doses de opióides altamente lipossolúveis (fentanil, sufentanil, alfentanil) por via IV. A rigidez
do tronco pode ser superada pela administração de um antagonista opióide, que irá antagonizar
também a ação analgésica do opióide. A prevenção da rigidez com preservação da analgesia
requer o uso concomitante de fármacos bloqueadores neuromusculares.
h. Náusea e Vômitos: os analgésicos opiódes podem ativar a zona de gatilho quimiorreceptora do
tronco encefálico, produzindo náusea e vômito.

B. Efeitos Periféricos:
a. Sistema cardiovascular: a maioria do opióides não exerce efeitos diretos significativos sobre o
coração, nem efeitos importantes sobre o ritmo cardíaco (à exceção da bradicardia). A
meperidina é uma exceção, visto que sua ação antimuscarínica pode resultar em taquicardia.
Em geral, a pressão arterial é bem mantida em indivíduos que recebem opióides, a não ser que o
sistema cardiovascular esteja estressado, caso em que pode ocorrer hipotensão. Esse efeito
hipotensor é devido à dilatação arterial e venosa periférica, que tem sido atribuída à depressão
central dos mecanismo estabilizadores vasomotores e liberação de histamina. Não se observa
nenhum efeito sobre o débito cardíaco e o eltrocardiograma não é afetado. Todavia, é preciso ter
cautela em paciente com diminuição do volume sanguíneo, visto que os mecanismos citados
tornam esses pacientes muito suscetíveis à hipotensão. Os analgésicos opióides afetam em grau
mínimo a circulação cerebral, exceto quando a Pco 2 aumenta em consequência da depressão
respiratória. A elevação da Pco 2, resulta em vasodilatação cerebral associada a uma diminuição da
resistência vascular cerebral, aumento do fluxo sanguíneo cerebral e elevação da pressão
intracraniana.

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b. Trato Gastrintestinal: a constipação é um efeito dos opióides. Existem receptores opióides em


alta densidade no TGI e os efeitos constipantes são mediados através de uma ação sobre o sistema
nervoso entérico local, bem como sobre o SNC. No intestino grosso, as ondas peristálticas são
diminuídas e o tônus, aumenta; isso retarda a passagem do bolo fecal e permite maior absorção de
água, resultando em constipação. As ações no IG constituem a base do uso de opióides no
tratamento da diarreia.
c. Trato Biliar: os opióides causam contração do m. liso biliar, podendo resultar em cólica biliar. O
esfíncter de Oddi pode sofrer contração, com consequente refluxo de secreções biliares e
pancreáticas e elevação dos níveis plasmáticos de amilase e lipase.
d. Renal: A função renal é deprimida pelos opióides, podem diminuir a pressão arterial sistêmica e a
TFG. Além disso, os opióides µ exercem efeitos antidiuréticos. Também intensificam a
reabsorção tubular renal de sódio. O tônus ureteral e o tônus vesical são aumentados em doses
terapêuticas, o aumento do tônus do esfíncter pode precipitar retenção urinária, particularmente
em pacientes no período pós-operatório.
e. Útero: os analgésicos opióides podem prolongar o trabalho de parto. Tantos os efeitos periféricos
quanto os centrais podem diminuir o tônus uterino.
f. Prurido: em doses terapêuticas produzem rubor e calor na pele, acompanhados algumas vezes de
sudorese e prurido. Essas reações podem ser ocasionadas por efeitos no SNC e pela liberação
periférica de histamina.

C. Efeitos dos Fármacos com ações tanto agonistas quanto antagonistas: a buprenorfina é um
agonista opióide que exibe alta afinidade de ligação, porém baixa atividade intrínseca no receptor µ.
Em virtude de sua taxa lenta de dissociação dos receptores µ, trata-se também de uma alternativa
atraente da metadona para o antagonismo da abstinência dos opióides. A buprenorfina atua como
antagonista dos receptores δ e κ e, por esse motivo é descrita como agonista-antagonista mista. A
pentazocina e a nalbufina são outros exemplos.

Uso Clínico dos Analgésicos Opióides


A. Analgesia: a dor intensa e constante é habitualmente aliviada com analgésicos opióides com alta
atividade intrínseca, enquanto a dor aguda e intermitente não é tão eficientemente controlada. A dor
associada ao câncer e a outras doenças terminais deve ser tratada de modo agressivo e pode exigir
o uso contínuo de potentes analgésicos opióides, que estão associados a certo grau de tolerância e
dependência. Todavia, esses aspectos não devem ser considerados como uma barreira, devendo-se
proporcionar ao paciente a melhor assistência e qualidade de vida possíveis.
Se houver distúrbios da função GI impedindo o uso de morfina por via oral, pode-se utilizar
o sistema transdérmico de fentanil. Foi constatada a eficácia da administração de opióides por
insuflação nasal e, atualmente, existem preparações nasais. Além disso, foi constatado que fármacos
estimulantes com as anfetaminas intensificam as ações analgésicas dos opióides, logo, podem ser
adjuvantes para pacientes com dor crônica.
Os analgésicos opióides são constantemente utilizados durante o trabalho de parto. Como o
os opióides atravessam a barreira placentária e chegam ao feto, é preciso ter cuidado para minimizar
a depressão neonatal. Caso ocorra, a depressão é vertida com injeção imediata do antagonista
naloxona. Os agentes fenilpiperidínicos (ex: meperidina) produzem menos depressão que a
morfina, o que justifica seu uso na prática obstétrica.
A dor aguda e intensa da cólica biliar frequentemente exige um agonista opióide forte para
alívio adequado. Todavia, o aumento do tônus do m. liso induzido pelo fármaco pode causar
aumento paradoxal da dor em consequência do espasmo aumentado. Em geral, o aumento da dose
do opióide consegue proporcionar uma analgesia adequada.

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B. Edema Pulmonar Agudo: a morfina intravenosa causa alívio na dispneia em decorrência de edema
pulmonar associado à insuficiência pulmonar esquerda.
C. Tosse: pode-se obter uma supressão da tosse em doses mais baixas do que as necessárias para
produzir analgesia. O uso diminuiu devido ao desenvolvimento de compostos eficazes que não
causam dpendência.
D. Diarreia: analgésico opiódes controlam a diarreia, mas se ela estiver associada à infecção, esse uso
não deve substituir a quimioterapia apropriada. Atualmente são utilizados substitudos sinte´ticos do
ópio com efeitos GI mais seletivos e menos ou nenhum efeito sobre o SNC, como o difenoxilato.
E. Aplicações na anestesia: os opióides são frequentemente utilizados como pré-medicação na
anestesia e na cirurgia, em virtude de suas propriedades sedativas, ansiolíticas e analgésicas. Os
opióides também são utilizados no período intra-operatório como adjuvantes de outros anestésicos e,
em altas doses, como componentes primários do esquema anestésico, mais comumente na cirurgia
cardiovascular e em outros tipos de cirurgia de alto risco, em que o objetivo primário é minimizar a
depressão cardiovascular. Nessas situações, deve-se proporcionar uma assistência respiratória
mecânica. Em virtude de sua ação direta sobre os neurônios superficiais do corno dorsal da medula
espinhal, os opióides também podem ser utilizados como analgésicos regionais, administrados nos
espações epidural ou subaracnóide da coluna vertebral. É possível obter uma analgesia prolongada
com efeitos adversos mínimos através da administração epidural de 3-5mg de morfina seguida de
infusão lenta por um cateter colocado num espaço epidural. Nesse caso, pode ocorrer depressão
respiratória que poder ser revertida com naloxona. Outros efeitos como prurido, náusea e vômito,
podem ser revertidos com naloxona. Hoje em dia, prefere-se a via epidural já que os efeitos adversos
são menos comuns. A morfina é o fármaco utilizado com mais frequência, porém o uso de
anestésicos locais em baixas doses, em combinação com infusão de fentanil através de um cateter
epidural torácico também tem sido utilizado para o controle da dor em pacientes que estão se
recuperando de uma anestesia abdominal superior de grande porte.
F. Vias alternativas de administração: os supositórios de morfina e hidromorfina são utilizados
quando as vias oral e parenteral não são desejáveis. O emplasto transdérmico proporciona níveis
sanguíneos estáveis do fármaco e melhora o controle da dor, ao mesmo tempo, evita a necessidade
de injeções parenterais repetidas. O fentanil tem sido o opióide mais bem sucedido na aplicação
transdérmica, com extenso uso em pacientes com dor crônica. A via intranasal evita as injeções
parenterais repetidas e o metabolismo de 1ª passagem dos fármacos administrados por V.O. O
butorfanol é o único fármaco disponível em formulação nasal. Outra alternativa da administração
parenteral é a via transmucosa bucal, que utiliza uma pastilha de citrato de fentanil. Outro tipo de
controle da dor, denominado analgesia controlada pelo paciente (ACP) consiste em um aparelho
de difusão parenteral controlado pelo paciente, que, ao apertar um botão, libera uma dose pré-
programada do analgésico opióde desejado. Tem bastante utilidade no controle da dor pós-
operatória.

Toxicidade e Efeitos Indesejados


Os efeitos tóxicos diretos dos analgésicos opióides consistem em depressão respiratória,
náusea, vômitos e constipação. Também deve-se considerar a tolerância e dependência.

A. Tolerância e Dependência: a dependência farmacológica de opióides caracteriza-se por uma


síndrome de abstinência relativamente específica a abstinência da dependência de um agonista forte
está associada a sinais e sintomas mais graves do que aqueles observados com a abstinência de um
agonista leve e moderado. A administração de um antagonista opióide a uma pessoa de pendente de
opióides é seguida de sintomas de abstinência de curta duração, porém agraves.

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1. Tolerância: o desenvolvimento de tolerância começa com a primeira dose do opióide, mas ela se
torna clinicamente manifesta de 2-3 semanas de exposição frequente a doses terapêuticas habituais. A
tolerância desenvolve-se mais rapidamente quando são administradas doses a intervalos curtos, sendo
minimizada pela administração de pequenas quantidades, com intervalos maiores entre as doses. Pode-se
verificar tolerância aos efeitos analgésicos, sedativos e de depressão respiratória. A tolerância também
ocorre aos efeitos antidiuréticos, eméticos e hipotemsores, mas não à ações mióticas, convulsivantes e
constipantes. A tolerância cruzada é uma característica importante dos opióides, isto é, pacientes que
desenvolvem tolerância à morfina também apresentam redução da resposta analgésica a outros agonistas
opióides. Todavia, a tolerância cruzada observada entre os agonistas dos receptores µ pode ser parcial ou
incompleta.
2. Dependência Física: o desenvolvimento de dependência física acompanha sempre a tolerância á
administração repetida de um opióide do tipo µ. A interrupção da administração do fármaco resulta numa
síndrome de abstinência característica, que reflete um rebote exagerado dos efeitos farmacológicos
agudos dos opióides. Os sinais e sintomas da abstinência consistem em rinorréia, lacrimejamento,
bocejos, calafrios, arrepios, hiperventilação, hipertermia, midríase, dores musculares, vômitos. Diarreia,
ansiedade e hostilidade. O número e a intensidade dos sintomas dependem do grau de dependência física.
A administração de um opióide nessa ocasião suprime quase que imediatamente os sinais e sintomas. O
desparecimento mais lento dos efeitos da metadona está associado a uma síndrome de menor
intensidade, que constitui a base de seu uso na desintoxicação de dependentes de heroína. Após o
desaparecimento da síndrome de abstinência, a tolerância também desaparece,nevidenciada por uma
restauração da sensibilidade ao agonista opíóide. É possível induzir uma síndrome de abstinência
explosiva e transitória- abstinência precipitada por antagonistas – num indivíduo com dependência física
de opióides através da administração de naloxina ou de outro antagonista.
3. Dependência Psicológica: a euforia, a indiferença a estímulos e à sedação habitualmente produzidas
pelos analgésicos opióides, particularmente quando injetados por via IV, tendem a promover o seu uso
compulsivo. Além disso, o dependente apresenta efeitos abdominais que foram comparados a um intenso
orgasmo sexual. Esses fatores constituem as principais razões apara a tendência ao uso abusivo de
opióides e são fortemente reforçados pelo desenvolvimento de dependência física.

B. Diagnóstico e Tratamento da Superdosagem de Opióides: a injeção intravenosa de naloxona


reverte o coma produzido por superdosagem de opióides. Outra medida terapêutica é o suporte
respiratório.

C. Contraindicações e Precauções na Terapia:


1. Uso de agonistas puros com agonistas parciais fracos: quando um agonista parcial fraco, como a
pentazocina, é administrado a um paciente que também está fazendo uso de um agonista integral,
como a morfina, existe um risco de diminuir a analgesia ou indução de um estado de abstinência.
2. Uso em paciente com lesões cranioencefálicas: a retenção de CO2 causada pela depressão
respiratória resulta em vasodilatação cerebral. Em paciente com elevação da pressão intracraniana,
isso pode produzir alterações letais na função cerebral.
3. Uso durante a gravidez: nas mulheres grávidas com uso crônico de opióides, o feto pode tornar-se
fisicamente dependente e manifestar sintomas de abstinência no início do período pós-parto.
4. Uso em pacientes com comprometimento da função pulmonar: as propriedades depressoras dos
analgésicos opióides podem levar à insuficiência respiratória aguda.
5. Uso em paciente com comprometimento da função hepática e renal: como a morfina e seu
congêneres são metabolizados primariamente no fígado, seu uso em pacientes que se encontram em
pré-coma hepático é questionado. A meia-vida desses fármacos é prolongada em pacientes com

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comprometimento da função renal, podendo ocorrer acúmulo de morfina e seu metabólito ativo,
glicuronídio. Nesses pacientes, a dose deve ser reduzida.
6. Uso em pacientes com doença endócrina: os pacientes com insuficiência supra-renal (doença de
Addison) e aqueles com hipotireoidismo podem apresentar respostas prolongadas e exageradas.

Interações Medicamentosas

Grupo de Drogas Interação com Opióides


Sedativo-hipnóticos Aumento da depressão do SNC, particularmente depressão respiratória.
Tranquilizantes Aumento da sedação. Efeitos variáveis sobre a depressão respiratória. Acentuação
antipsicóticos dos efeitos Cardiovasculares (ações antimuscarínicas e α-bloqueadoras).
Contraindicação relativa para todos os analgésicos opióides, devido à elevada
Inibidores da MAO
incidência de coma hiperpirético; hipertensão.

Fármacos Específicos

I. Fenantrenos: a morfina, a hidromorfina e a oximorfona são agonistas fortes, que tem utilidade no
tratamento da dor intensa. A heroína é potente e de ação rápida e é mais eficaz que a morfina no
alívio da dor crônica intensa.
II. Fenil-heptilaminas: a metadona é analgésico potente. Pode ser administrada por VO, IV SC e retal.
É bem absorvida pelo TGI e sua biodisponibilidade ultrapassa a da morfina oral. Além de ser um
potente agonista dos receptores µ, é capaz de bloquear tanto os receptores NMDA quanto a receptação
monoaminérgica, assim é capaz de aliviar dor de tratamento difícil (neuropática, dor causada por
câncer), quando uma terapia anterior com morfina não teve sucesso, no caso de desenvolvimento de
tolerância ou efeitos colaterais intoleráveis. A metadona é usada no tratamento de abuso de opióides.
A tolerância e dependência física desenvolvem-se mais lentamente com a metadona do que com a
morfina. Os sinais e sintomas de abstinência que surgem após a suspensão abrupta de metadona são
mais leves, embora mais prolongados, do que os da morfina, essas propriedades tornam a metadoina
um fármaco útil na desintoxicação e manutenção do dependente de heroína que sofre recidiva crônica.
Para desinroxicação do dependente de heroína são administradas doses diária de metadona (5-10mg
VO) 2 0u 2X diariamente, durante 2 ou 3 dias. Com suspensão da metadona, o dependente apresenta
síndrome de abstinência leve, porém, suportável.
III. Fenilpiperidinas: a meperidina e o fentanil são os mais utilizados. A meperidina apresenta efeitos
antimuscarínicos significativos, que pode constituir uma contraindicação se a taquicardia for um
problema. Também tem ação inotrópica negativa sobre o coração e, em altas doses ou em pacientes
com comprometimento renal, pode produzir crises convulsivas.
IV. Morfinanos: levorfanol. Se assemelha à morfina em sua ação.

Agonistas Leves a Moderados

I. Fenatrenos: codeína, oxicodona, diidrocodeína e hidrocodona, são menos eficazes que a morfina ou
apresentam efeitos adverso que limitam a dose máxima necessária. Raramente são utilizados de modo
isolado e são associados a formulações contendo aspirina e acetaminofeno.
II. Fenil-heptilaminas: propoxifeno. Apresenta baixa atividade analgésica e é inapropriado para alívio da
dor intensa.
III. Fenilpiperidinas: o difenoxilato e seu metabólito, a difenoxina são utilizados pra o tratamento da
diarreia. São utilizados em associação com a atropina. Outro fármaco é a loperamida. Todos tem
potencial de uso abusivo baixo.

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IV. Outros Fármacos: tramadol é um analgésico de ação central. É um agonista fraco dos receptores µ,
assim é apenas parcialmente antagonizado pela naloxona.

Antitussígenos
Os derivados opióides mais comumente utilizados como antitussígenos são o dextrometorfano, a
codeína, o levopropoxifeno e a noscapina

Antagonistas Opióides
Os antagonistas opióides puros, naloxona, naltrexona e nalmefeno apresentam afinidade relativamente
alta pelo sítio de ligação dos opióides µ. A naloxona tem pouca eficácia quando administrada por VO,
com curta duração de ação quando administrada por injeção. Quando administrado na ausência de
agonista, esses antagonistas são quase inertes. Em indivíduos com depressão aguda em consequência de
superdosagem, o antagonista normaliza a respiração, o nível de consciência, o tamanho das pupilas a
atividade intestinal e a percepção da dor. Em indivíduos dependentes, precipitam crise de abstinência.
Não ocorre nenhuma tolerância á ação antagonista desses fármacos e sua suspensão após administração
crônica não precipita uma síndrome de abstinência.
Uso Clínico: a principal indicação da naloxona consiste no tratamento da superdosagem aguda de
opíóides. É muito importante que a duração de ação relativamente curta da naloxona seja considerada,
visto que o paciente com grave depressão pode recuperar-se após uma dose única de naloxona e parecer
normal, para novamente entrar em estado de coma depois de 1-2 horas.
A dose inicial de naloxona é de 0,1-0,4mg por via IV para a depressão respiratória e do SNC. A
naloxona em baixas doses está desempenhando um papel crescente no tratamento dos efeitos adversos
associados ao uso de opióides.

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