Apontamento Da Justiça Constitucional Angolana
Apontamento Da Justiça Constitucional Angolana
Apontamento Da Justiça Constitucional Angolana
SECÇÃO I. DEFINIÇÃO
O direito constitucional é a parcela da ordem jurídica que rege o próprio estado enquanto
com unidade e enquanto poder 1. É o conjunto de normas que recortam o contexto jurídico
correspondente a comunidade politica como um todo e ai delimitam os indivíduos e os
grupos uns face aos outros em relação ao Estado poder e que, ao mesmo tempos, define a
titularidade do poder, os modos de formação e manifestação de vontade politica, os órgãos
de que esta carece e os actos em que se traduz. Chama – se também direito político, por
esses serem normas que se reportam, específica e directamente ao Estado, que constituem
o estatuto jurídico do estado ou do político, que exprimem um particular enlace da instância
e da instancia jurídica da vida humana2.
O direito constitucional é direito da constituição, e esta pode ser definida como o conjunto de
normas jurídicas que definem, estrutura (povo, território e poder politico), fins (segurança,
justiça estar económica), e funções do estado (politica, legislativa, judiciária e
administrativa), ainda a organização (económica, politica e social), titularidade (órgão),
exercício político (processo de feitura e execução de leis), exercício político (fiscalização da
constitucionalidade, tribunais e provedor da justiça)
O direito constitucional é ramo de direito público interno formado pelo conjunto das normas
constitutivo do Estado jurídico do político (sobretudo formalmente constitucionais), quer
estabelecem os princípios do direito politico e jurídicos da sociedade, regulam matéria
processual e formalmente a organização do poder politico, consagram e garantem os direitos
e deveres fundamentais dos cidadãos e pessoas jurídica e definem positivamente a ordem –
quadro, social e cultura.
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DUVERGER Maurice, Grandes Sitemas Político, Coimbra, Almedida, 1985
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SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Lisboa, Reis dos Livros,
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Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
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Ciência Política e Direito Constitucional
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Hoje em dia, entende – se por fenómenos políticos todo aquele que pressupõe uma relação
de poder, uma relação entre governantes e governados.
A moderna Ciência politica norte – americana estuda os fenómenos políticos não
enquadrados na estrutura do estado, mas no âmbito global das actividades políticas de uma
sociedade enquadradas num sistema político (conjunto de variáveis que permitem
estabelecer relações entre os fenómenos políticos). Isto porque hoje se entende que o
politico é estadual, mas vai alem dele, abrangendo a actividade de estruturas e exteriores ao
Estado. A ciência politica é assim descritiva e não normativa.
O âmbito de sobreposição das ciências politicas e do Direito Constitucional
O direito constitucional é o direito da constituição. E esta pode ser definida como estatuto
jurídico do político
Direito público e direito privado
Todo o ordenamento jurídico permite e até exige o estabelecimento no seu interior de certas
divisões e arrumações.
Segundo a divisão clássica (SUMA DIVISIO), o direito divide –se em dois grandes grupos: o
direito público e o direito privado. Esta classificação oriunda do direito romano, dizia
ULPIANO ‘’ o direito público era aquele concernente ao Estado dos negócios romanos, o
direito privado era o que disciplinava os interesses particulares. Esta distinção não é sem
críticas
Critério de distinção e apreciação
Os critérios apresentados pelos diversas autores para o estabelecimento de uma delimitação
ou distinção entre o direito público e o direito privado reconduzem – se hoje, essencialmente
a três teoria que são: a teoria dos interesses prosseguidos pelas normas jurídicas, a teoria
da posição dos sujeitos na relação jurídica e a teoria da qualidade dos sujeitos na relação
jurídica. Todas essas teorias postulam a separação entre o Estado e a sociedades civil.
A. Teoria dos interesses:
Segundo esta teoria, o direito público corresponderia a interesse público e o direito privado o
interesse privado. E, consequentemente seria normas de direito públicas o que respeitassem
ao interesse geral da comunidade, pertencendo ao direito privado aos interesses
particulares.
Este critério é sujeito a várias críticas certeiras
Criticas
Acentue – se, em primeiro lugar, que todo o direito público e privado – visa proteger
simultaneamente interesses públicos e interesses particulares. As normas de direito privado
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Ciência Política e Direito Constitucional
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O direito público regula por vezes, relações entre entidade numa relação de
equivalência ou igualdade como acontece com as relações entre municípios e bairros.
O direito privado disciplina, também algumas vezes situações e infra – ordenação como
acontece com o poder parental, com as relações entre associações e sociedades e os
seus membros.
C. Critério da teoria dos sujeitos
O critério mais adequado e que hoje reúne a maioria das sufrágio pode ser designado por
teorias dos sujeito, em virtude de assentar na qualidade dos sujeitos das relações jurídica
disciplinadas pelas normas a qualificar como direito público ou direito privado.
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Segundo este critério, o direito privado regula as relações jurídicas estabelecidas entre
particulares ou entre particulares e o Estado, ou outros entes públicos, e os mais intervindo o
Estado, ou esses entes públicos em veste de particular, isto é, de despidos de imperium ou
poder soberano. Acontece esta última hipótese quando o Estado ou um município por
exemplo compra um automóvel, arrenda um prédio para instalação de um serviço etc. em
casos deste tipo o Estado é um ente público menor, como qualquer particular que celebrasse
aquelas compras ou aquele arrendamento, actuam em pé de igualdade com vendedor ou
com o senhorio e estão fora de exercício de quaisquer funções soberanas. Se a relação
jurídica disciplinada pela norma não se apresenta com estas características estamos perante
uma norma de direito público.
Este critério é o que permite destacar os dois ramos de direitos com mais precisão e
segurança e o que melhor se amolda ao âmbito de cada uma das duas grandes divisões
como elas são entendidas actualmente.
Alcance prático de distinção entre o direito Público e o direito Privado e apreciação
É legítimo que nos perguntamos qual é o interesse prático ligado a esta distinção entre o
direito privado e o direito público, para o qual têm sido, como vimos, propostos vários
critérios. A divisão efectuada e a exacta integração de cada norma na categoria
correspondente, além de satisfazerem um interesse de ordem científica na sistematização e
no lógico agrupamento e separação de grande grupos de normas jurídicas, revestem
interesse no próprio plano da aplicação do direito.
Vamos dar dois exemplos desses alcances práticos.
A distinção entre direito público et direito privado, vai muitas vezes determinar as vias
judiciais a que o particular que considera lesado pelo Estado ou por uma autarquia local
deve recorrer ou vice – versa.
Se o particular tem uma pretensão contra o Estado ou contra um ente público menor ou vice
– versa, há que averiguar, no fundo, se a relação jurídica donde essa pretensão deriva é
uma relação de direito público ou direito privado. Essa averiguação ira determinar o tribunal
competente para apreciação da lide, pois a competência deste é demarcada, também,
segundo um princípio de especialização, isto é, um função da matéria sujeita a sua
apreciação
A responsabilidade civil
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Constitucionalismo inlgês, americano, francês, asiáticos, latino americano e africano.
4
Esta Constituição inspirou Constituições posteriores como a espanhola de 1931, a portuguesa de 1933 e a
brasileira de 1934, coincidindo não por acaso com a construção do Estado – Providência, depois da II Guerra
Mundial, várias Constituições dedicaram alguns preceitos à conformação da respectiva ordem económica, foi o
caso da Constituição francesa de 1946, da helvética de 1947 e da italiana do mesmo ano. Cfr. AA.VV. Direito
Económico, 4ª ed. Almedina – Coimbra, Portugal, 2001, pág.33.
5
Idem. Cfr. AA.VV. Direito Económico, 4ª ed. Almedina – Coimbra, Portugal, 2001, pág.33.
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das prerrogativas do soberano. Segundo os termos da Magna Carta, João deveria renunciar
a certos direitos e respeitar determinados procedimentos legais, bem como reconhecer que
a vontade do rei estaria sujeita à lei. Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um
longo processo histórico que levaria ao surgimento do constitucionalismo.
b. A Petition of Right
A Petition of Rights de 1628, foi imposta pelo parlamento a Carlos I de Inglaterra, que
sucedeu a Jaime I e VI da Escócia e iniciava a dinastia dos Stuart. Não obstante o seu
carácter meramente declarativo, era já uma tentativa de tomada de posição do parlamento
sobre os princípios fundamentais das liberdades civis, para lembrar à lei o respeito divido as
leis do reino. Tenta fixar as fronteiras exactas entre o poder do Rei e o poder da lei, pondo
mas clara alguns princípios da magna carta e foi regido pelo Sir Edward Coke.
c. O instrument os government
O instrumento os government de Cromwell de 1653, é considerado como a primeira
verdadeira constituição escrita de um Estado moderno, a aproximando – se das formulas
constitucionais autoritárias da época contemporâneo.
d. Bill of Rights
Bill of Rights de 1689 ou declaração de direito, após de posição de Carlos Stuart, no reinado
de Guilherme e Maria d’Orange afirmava que sub nenhum pretexto o Rei poderia violar as
leis fundamentais do reino, abstendo – se de perseguir os cidadãos. Entretanto encontramos
a concessão de Forais, que implicava o reconhecimento pelos monarcas de certas
liberdades aos residentes de certa circunscrição territorial, envolvendo a definição de
algumas normas básicas de administração local. Também o pactum subjectionis: pacto de
sujeição medieval, de acordo com ao qual o povo confiou ao monarca e ao seu governo,
contra a garantia de governação obedecer ao dilema da equidade, de forma justa, caso
contrario e legitimo o exercício do direito de rebelião popular. Ainda encontramos as leis
fundamentais do reino, a que as reis deviam obediência, não as podendo modificar, como
regras relativas a sucessão do reino, á natureza e constituição, fins e privilegio das ordens,
natureza e representação nas cortes, indisponibilidade do domínio territorial do reino.
Todavia, não havia até aqui, de uma forma generalizada a preocupação de codificar de
norma fundamentais.com a revolução francesa, em 1789, pretendeu – se pôr termo ao
absolutismo real, mediante a consagração do princípio da separação dos poderes. O poder
passou a ser confiado a vários órgãos, o poder legislativo caberia ao parlamento, o poder
executivo ao rei e o poder judicial aos tribunais. No sistema assim criado, a função executiva
ficará subordinada a lei, embora um sentido negativo seja a administração podia fazer tudo
aquilo que a lei não proibisse e se o executivo violasse a lei, o parlamento forca – lo – ia
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demitir – se, enquanto os tribunais fariam a justiça relativamente aos particulares que
violasse a lei. Apenas o parlamento não estava sujeito a fiscalização vindo se posteriormente
a submete – lo ao direito através da justiça constitucional.
Passou a entender – se que existia um poder supremo, o poder do povo de elaborar o pacto
da sua organização, ou seja, a sua constituição, de que constaria os órgãos com a
capacidade para exercer o poder, as suas atribuições, bem como os direitos dos cidadãos
perante esses órgãos.
Aparece então as primeiras constituição escritas. O primeiro texto foi a declaração de
direitos de Estados de Virgínia, em 1776, seguida pela constituição dos outros estados
Americanos ate a constituição da confederação dos Estados Unidas de América. De 1781, e
a constituição da federal de 1787. Em 1789 surgiu a declaração de direito do homem e do
cidadão e em 1791 a primeira constituição francesa, reforçando assim o ciclo iniciado com
as revoluções americano e precisando – se os contornos do chamado Estados
Constitucionais.
Só a partir daqui é que se incarnou a constituição como um conjunto das regras jurídicas
definidoras das relações de poder, de modo a limitar os governantes e legitimar os actos do
Estado.
B. Sistemas e Famílias Constitucionais.
1. Encandeamento temático
Em todo o mundo contam-se hoje perto de 200 Estados formalmente soberanos, todos com
os seus ordenamentos particulares e quase todos revestidos de Constituições escritas.
Trataremos das diversas famílias a que eles pertencem, num estudo quer de trabalhos
comparativos ex professo, quer de exposição perfunctória antecedente do estudo da
formação do Direito Constitucional angolano e dos grandes temas da teoria da Constituição.
Na esteira de Jorge Miranda, são diversas as perspectivas que podemos adoptar para
atingirmos os objectivos a que nos propomos aqui: o recurso à Teoria Geral do Estado 7, a
tipologia das formas políticas8, a observação de experiências constitucionais 9, a formação de
7
Em boa verdade, repousa no enlace com ela, a qual fornece os temas e problemas a considerar, sendo
depois as respectivas soluções procuradas pela investigação comparativa. As matérias de Direito
Constitucional comparado correspondem aos conceitos mais ou menos gerais e abstractos elaborados pela
Teoria do Estado, e esta vai colhendo os resultados da comparação, de modo a actualizar ou substituir
conceitos ultrapassados pelas mutações políticas e sociais.
8
Ela consiste em distribuir os diferentes sistemas constitucionais em razão dos sistemas políticos que
instituam, em inserir as Constituições em esquemas classificados de formas de governo ou de sistemas de
governo e em proceder à respectiva descrição. Oferece, portanto, o óbice de as formas políticas não
esgotarem, de modo algum, os sistemas constitucionais. As Constituições não se reduzem à sua
regulamentação, ocupam-se de outras matérias, desde a estrutura do Estado, os direitos fundamentais e a
economia à sua própria garantia e revisão.
9
É nisso em que se assenta o sistema constitucional de cada país como um todo e procura-se conhecer a sua
origem, quais os elementos políticos, económicos, culturais e religiosos que o têm condicionado, quais os seus
traços dominantes actuais e quais as suas linhas de projecção provável para o futuro. É a experiência da
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Ciência Política e Direito Constitucional
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sistemas e famílias de Direito constitucional. Perfilharemos esta última, que consiste, por um
lado, em examinar o Direito Constitucional de um país tal como se apresenta na sua
realidade de sistema dotado de vida própria e, por outro lado, em tentar agrupar sistemas
semelhantes ou afins num pequeno número de famílias ou tipos constitucionais.
2. A formação de famílias constitucionais
Para RENÉ DAVID, que trabalhou voltado para o Direito privado, contribuiu muito para a
difusão; dele se aproxima dalgum modo KONRAND ZWEIGERT, KARL LOEWENSTEIN e
SANCHEZ AGESTA.
Para DAVID, o Direito não vem a ser unicamente um conjunto de regras jurídicas, variável
de época para época e de país para país. Em cada país pode mesmo dizer-se que ele
permanece idêntico a si mesmo nos conceitos, nos métodos de trabalho, nas ideias sobre a
sociedade e a justiça, nas estruturas em que se insere. Mas um direito pertence à mesma
família de outro, desde que o jurista seja capaz de lidar se dificuldade com os conceitos,
institutos e construções dogmáticas de qualquer deles. Refere-se o segundo requisito à
comunidade de princípios filosóficos, políticos e económicos 10.
DAVID estuda então, com base nesses critérios, a família romano – germânica, os Direitos
socialistas, o sistema de Common Law e dos Direitos religiosos e tradicionais muçulmano,
da Índia, do Extremo Oriente e da África e de Madagáscar.
Para KONRAD, que toma como critério os modelos dos sistemas jurídicos e considera
factores determinantes de certo modelo a origem histórica do ordenamento, os modos de
pensar dos juristas, os institutos jurídicos caracterizantes, as fontes de Direito e a sua
interpretação e os factores ideológicos.
Como sistemas jurídicos enuncia o romanístico, o germânico, o anglo – americano, o
escandinavo, o dos países socialistas, os do Extremo Oriente, o islâmico e o indiano.
Contraposta é a formulação de LOEWENSTEIN entre Constituições originárias e derivadas,
sendo originária uma Constituição que contém um principio fundamental novo,
verdadeiramente criador e, portanto, original para o processo do poder político e para a
formação da vontade estadual e derivada aquela que segue fundamentalmente um modelo
nacional e estrangeiro.
Considera como tipos originários de Constituição o parlamentarismo britânico, o sistema
constitucional americano, o constitucionalismo francês de 1793 que produziu o tipo de
governo de assembleia, as constituições napoleónicas que introduziram o cesarismo
plebiscitário, a Constituição francesa de 1814 de monarquia constitucional de base
organização jurídico política de cada povo, produto de uma mentalidade e de um ambiente peculares, que se
cuida de recortar ao longo das várias vicissitudes históricas por que tenha passado.
10
Cfr. JORGE MIRANDA, ob. Cit. Pág. 103 – 105, tomo I.
11
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11
MIRANDA Jorge, Manual de Direito Constitucional, 2000, Tomo II – Constituição, 4.ª Edição, Coimbra Editora,
64 – 67.
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cidadãos frente ao poder. É radicada na Soberania do Estado, torna-se também ponte entre
a sua ordem interna e a ordem internacional (arts. 15.º, 16.º 17.º L. C.). 12
Constituição pode ser entendida como o conjunto de regras que definem os diferentes
órgãos do Estado, fixando as relações entre eles e os cidadãos. Consagra igualmente os
princípios políticos, económicos, sociais e culturais e até religiosos sobre os quais assenta a
sociedade, bem como estabelece o catálogo dos direitos e deveres fundamentais dos
cidadãos.Sentido das constituições
a. O constitucionalismo e os sentidos de constituição em sentidos material e em
sentido formal
Podemos definir a constituição como um conjunto de normas jurídicas fundamentais que
definem e estrutura, os fins e as funções do estado, a organização, a titularidade. O
exercício e controlo de poder político e fiscalização do acatamento das normas
constitucionais.
Mas existem desde logo duas perspectivas por que pode ser considerada a constituição:
uma material, em que se atende u ao seu objecto ou ao seu conteúdo, quando se delimita
com a matéria com dignidade constitucional, uma formal, em que se entende á posição das
normas jurídica e ao modo como se articulam e se recortam no plano sistemático do
ordenamento jurídico, normalmente inseridas num texto escrito elaborado por um órgão com
poderes especiais, mediante um processo próprio e onde contam os princípios fundamentais
de dada ordem jurídica. A estas perspectivas fazem – se corresponder diferentes sentidos.
Assim, a constituição em sentido material abrangerá todas as normas que versem matéria
com dignidade constitucional. E a constituição em sentido formal será o conjunto de normas
qualificadas de constitucionais e revestidas de força jurídica superior a quaisquer outras
normas. Assim os países de constituição em sentido material são também países em
constituição em sentido formal. Quase única, e aliás decisiva excepção, é a Inglaterra que
possui constituição em sentido material e não tem constituição em sentido formal.
b. Os requisitos de existência de uma Constituição formal
As normas formalmente constitucional são decretadas por um poder que se legitima para
esse fim, o que significa que são normas de fontes legal e exigem um processo específico
de formação. Para alem disso, integram – se num processo sistemático, com uma unidade e
coerência próprias, dentro da unidade e da coerência do ordenamento jurídico e gozam de
12
A Constituição tem de ser constantemente confrontada com os princípios e é por eles envolvida em grau
variável; tem de ser sempre pensada em face da realidade politica, económica, social e cultural que lhe está
subjacente e que é uma realidade não apenas de factos como ainda de opiniões, ideologias, de posturas
políticas, de culturas cívica e constitucional; e esta cultura carrega-se, por seu turno, de remissões para
princípios valorativos superiores, o que significa que se dá uma circulação entre valor, Constituição e realidade
constitucional. Cfr. Jorge Miranda, op. Cit. Pág. 68.
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Intencionalidade da formação;
Consideração sistemática;
Intencionalidade da formação
As normas formalmente constitucionais sã criadas com intenção de ser constitucionais,
elaboradas por um poder com legitimidade para esse fim e de acordo com um processo
especifico de formação.
Consideração sistemática
As normas formalmente integram – se num conjunto sistemático com uma unidade e
coerência próprias, dentro da unidade e da coerência gerais do ordenamento jurídico e
entendem – se colocadas no tipo desse ordenamento jurídico.
A força jurídica própria
As normas formalmente constitucionais gozam de estatuto ou regime imposto por tais
características e pela função que exercem o que é notório na sua interpretação, integração,
aplicação e garantia.
c. A possibilidade e relativo interesse de uma distinção entre Constituição Formal e
instrumental
A constituição em sentido instrumental é um documento onde inserem ou depositam normas
constitucionais. A reivindicação de existência de uma constituição escrita equivale á
reivindicação de que as normas constitucionais se contenham num texto ou documento
visíveis, com as inerentes vantagens de certeza e de prevenção de violações. Em sentido
amplo, a constituição em sentido instrumental será todo e qualquer texto constitucionais,
seja ou não constituição em sentido formal. Em sentido mais estrito, é o texto chamado
constituição e aqui depende sempre de existência de uma constituição em sentido formal.
A constituição instrumental depende pois da existência de uma constituição formal, mas sem
ela se confundir forçosamente.
As normas formalmente constitucionais podem, em relação á Constituição em sentido formal
surgir de quatro maneiras, relacionando os conceitos:
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Escrita
Não-escrita
Denomina-se a constituição escrita aquela que assume uma forma solene, Cerimoniosa,
litúrgica, para expressar o modo de ser jurídico de determinado Estado, apresentando as
regras concernentes à disciplina do poder soberano sob a tutela estatal. Trata-se de um
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Dogmáticas;
Históricas/Costumeiras.
Popular/Democrática/Votada/Promulgada;
Outorgada.
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Rígida;
Flexível/Plástica;
Semi-rígida.
a. Constituição rígida
Entende-se por constituição rígida aquela cujo processo de alteração do texto
constitucional vigente imprime toda uma dificuldade para a sua modificação. Assim, o
processo de reforma constitucional passa por um ritual solene e cerimonioso criando
dificuldades para a alteração do texto vigente. Neste modelo de constituição são previstos
procedimentos especiais para a implementação da reforma constitucional, sendo
encontraria, inclusive, o elenco das matérias susceptíveis e não susceptíveis ao alcance do
poder constituinte reformador. Esse processo cerimonioso de reforma constitucional marca o
timbre de distinção entre as leis e a constituição, pois que aquelas têm o seu processo de
alteração submetido a um procedimento ordinário e comum, enquanto nesta a reforma se
processa por meio de um rito especial e cerimonioso.
b. Constituição flexível
Constituição flexível (também conhecida como constituição plástica) é aquela cujo
processo de alteração do texto vigente não se mostra dificultoso, admitindo procedimentos
ordinários de reforma, tais como aqueles implementados para as leis. Neste caso, não
existem marcantes diferenças entre as regras constitucionais e as legais, pois que o
processo de alteração dos respectivos diplomas se mostra semelhante. Há casos, inclusive,
em que a edição de uma lei ordinária chega a ter o poder de alterar o regime constitucional
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vigente. Eis que neste modelo de constituição não fica evidenciada a questão da supremacia
constitucional em sentido formal.
c. Constituição semi-rígida
Constituição semi-rígida é a que contém uma parte rígida e uma flexível em sua estrutura,
ou seja, é a constituição que de acordo com o teor matéria nela insculpido e sujeito à
alteração o processo de reforma varia. Assim, tratando-se de tema para o qual o constituinte
originário entenda de maior envergadura e cuidado, a sua eventual alteração processar-se-á
mediante expediente especial e solene; caso entenda o constituinte originário tratar-se de
assunto de cunho não essencialmente constitucional, embora consignado no corpo da
própria constituição, seu processo de reforma dar-se-á por meio de procedimento ordinário.
Logo, nas constituições semi – rígidas existem presentes dois mecanismos de alteração da
constituição, um mais brando e outro mais litúrgico.
1.5. Quanto ao conteúdo:
Material;
Formal.
a. Constituição material
Entende-se por constituição material aquela concebida em sua substância, considerando
os elementos de regramento essencialmente constitucionais. Essa concepção prescinde da
forma escrita, pois diz respeito à própria ontologia da ideia de constituição. Esse modelo de
constituição vem plasmado nas formulações conceituais apresentadas para o vocábulo
constituição, de tal sorte que sua noção se alinha à própria formação da ideia de
constituição. Se tomada sob a luz das constituições escritas, o termo constituição material
estará designando o facto de que o diploma jurídico escrito adstringe seu corpo de regras
aos assuntos materialmente constitucionais, ou seja, sua disciplina normativa atém-se aos
temas concernentes à titularidade e ao exercício do poder, aos modos de aquisição,
transmissão e extinção do poder, aos limites do poder em face dos direitos e garantias
fundamentais dos cidadãos, bem como aos órgãos que exercem as prerrogativas da
soberania estatal. Sob a luz das constituições não-escritas o conceito de constituição
material se confunde com a própria noção de constituição, pois esta advém da percepção
colectiva da existência de regras consuetudinárias concernentes à organização política
fundamental do próprio Estado.
Segundo o professor José Afonso da Silva: “a constituição material é concebida em sentido
amplo e em sentido estrito. No primeiro, identifica-se com a organização total do Estado,
com regime político. No segundo, designa as normas constitucionais escritas ou
costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a
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Sintéticas/Lacônicas;
Analíticas/Prolixas.
a. Constituição sintéticas
São consideradas sintéticas as constituições que limitam o seu regramento ao conjunto de
temas essencialmente, materialmente, substancialmente constitucionais, concentrando-se
na disciplina dos direitos e garantias fundamentais, bem como na estrutura do Estado em
face de seus órgãos, agentes e competências funcionais e institucionais.
b. Constituição Analíticas
Analíticas são as constituições que incorporam ao seu conjunto de regras a disciplina de
temas não contemplados classicamente como de essência ou substância constitucional, tais
como reforma urbana e rural, propaganda comercial de tabaco, drogas e álcool, etc.
A doutrina actual critica eventual postura intransigente no que tange aos temas considerados
materialmente constitucionais, quando o posicionamento se mostra inflexível à incorporação
de novos valores que expressem essência constitucional, tais como aqueles ligados
especialmente aos direitos difusos, como o direito do consumidor e ao meio ambiente. Tais
assuntos seriam inimagináveis perante a doutrina clássica.
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Se bem que pudesse ser extensivo a normas de origem consuetudinária quando recolhidas por escrito, o
conceito são coevo das Constituições formas escritas. A reivindicação de que haja uma Constituição escrita
equivale, antes de mais, à reivindicação de que as normas constitucionais se contenham num texto ou
documento visível, com as inerentes vantagens de certeza e de prevenção de violações.
20
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14
Do Grego: Onto = ser e Logia = Ciência ou tratado. Ontologia e a ciência que estuda o ser enquanto ser, o
ente e o escente.
15
Permitem a coexistência de ideias e correntes antagónicas, mas só podem subsistir se os protagonistas
institucionais aceitam um determinado fio condutor do processo político.
21
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20
CANOTILHO, Gomes, op. cit. p. 339.
21
Cfr. MORAIS GUERRA, José Armando, Direito da Economia Angolana, 1ª ed. Escher, Lisboa – Portugal.
1994, pág. 72.
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CAPÍTULO II.
O PODER CONSTITUINTE
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Observe-se, porém, que, embora se possa falar de poder constituinte relativamente a uma
Constituição não – escrita, propriamente a distinção entre poder constituinte e poderes
constituídos só tem interesse relativamente à Constituição rígida. De facto, naquela é o
mesmo poder que gera as regras ordinárias e as regras constitucionais, assim, poder
legislativo e poder constituinte se confundem – donde a flexibilidade da Constituição. Em
relação à Constituição rígida é que se pode mostrar distintamente a existência de um poder
anterior e inicial.
Seria um poder “inicial, autónomo e omnipotente”. É inicial porque não existe, antes dele,
nem de facto nem de direito, qualquer outro poder. É nele que se situa por excelência, a
vontade do soberano (instância jurídico – política dotada de autoridade suprema). É um
poder autónomo: a ele só a ele compete decidir se, como e quando, deve “dar-se” uma
constituição à Nação. É um poder omnipotente, incondicionado: o poder constituinte não
está subordinado a qualquer regra de forma ou de fundo”.
SECÇÃO II. ESPÉCIE DO PODER CONSTITUINTE
A. Poder Constituinte Originário ou próprio ou pré – jurídico ou de 1.º grau
A natureza do poder constituinte Originário
Alguns autores entendem que o poder constituinte originário é o momento de passagem do
poder ao Direito. É inegável que o poder constituinte originário é o momento maior de
ruptura da ordem constitucional, onde o poder de facto que se instala, forte o suficiente para
romper com a ordem estabelecida, é capaz de construir uma nova ordem sem nenhum tipo
de limite jurídico positivo na ordem com a qual está rompendo. Se entendermos o Direito
como sendo sinónimo de lei positiva, posto pelo Estado, o poder constituinte originário será
apenas um poder de facto. E é justamente neste ponto que reside sua força. É claro que não
reduzimos o Direito nesta perspectiva positivista já ultrapassada, que reduz o Direito à regra,
transformando construção do Direito em uma simples aplicação da receita pronta da lei ao
caso concreto.
O que nos interessa no estudo de poder constituinte originário é entender a sua força como
poder de facto, capaz de romper com a ordem vigente, e, portanto, um poder ilegal e
inconstitucional em relação a ordem com a qual rompe, e pela qual não se limita. Esta
afirmativa contém a essência da segurança que busca o constitucionalismo moderno: a
Constituição na sua essência deve ser tão forte e perene que nenhum poder constituinte
pode romper com seus fundamentos e estrutura, mas somente um poder social tão forte,
que nem mesmo a Constituição poderá segurá-lo pois é o poder de transformação social da
própria história.22 Neste recurso do Direito Constitucional ao poder social, ao poder de facto,
22
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
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23
Idem
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24
CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do Direito Constitucional. Curitiba: Juruá Editora, 2001
25
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
27
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ou a aprovação desta Constituição por outra esfera de poder federal. Isto caracteriza a
essência da Federação, a inexistência de hierarquia entre os entes federados (União, Estado
e Municípios no caso brasileiro), pois cada uma das esferas de poder federal nos três níveis
brasileiros, participa da soberania, ou seja, detém parcelas de soberania, expressa na suas
competências legislativa constitucional, ou seja, no exercício do poder constituinte
derivado26.
Não estamos afirmando que os estados membros, a União e os municípios são soberanos,
pois soberano e o Estado Federal e a expressão unitária da soberania, ou seja, sua
manifestação integral, só ocorrem no Poder Constituinte Originário. O que afirmamos, é que
no Estado Federal, além de uma repartição de competências legislativas ordinárias,
administrativas e jurisdicionais, há também, e isto só ocorre no Estado Federal, uma
repartição de competências legislativas constitucionais. Esta repartição de competências
constitucionais implica na participação dos entes federados na soberania do Estado, que se
fragmenta nas suas manifestações.
Entretanto, este poder constituinte decorrente, embora represente a manifestação de parcela
de soberania, não é soberano, e por este motivo deve ser um poder com limites jurídicos
bem claros, limites estes que podem ser materiais, formais, temporais e circunstanciais. No
caso por exemplo da Constituição de 1988 da república federativa do Brazil, esta estabelece
limites materiais expressos e obviamente implícitos, deixando para o poder constituinte
decorrente, que é temporário (assim como o originário), prever o seu funcionamento, e o
funcionamento do seu próprio poder de reforma e seus limites formais, materiais,
circunstanciais e temporais. O poder constituinte decorrente é segundo grau (se dos Estados
membros) e terceiro grau (se dos municípios), subordinados a vontade do poder constituinte
originário, expressa na Constituição Federal 27.
Quanto aos limites do poder constituinte decorrente encontramos em vários momentos na
constituição Federal e são limites materiais expressos e implícitos. Os limites expressos
ocorrem todo momento que a Constituição distribui competências e normativas condutas dos
entes federados. Quanto aos limites implícitos, estes são os princípios estruturantes e
fundamentais da República, que se impõem a todos os entes federados como por exemplo,
a democracia, a separação de poderes, os direitos humanos, a redução das desigualdades
sociais e regionais, a dignidade humana, entre outros.
Alguns entendem que a Constituição Federal deve ser quase que copiada pelos entes
federados o que no nosso entendimento é anti – federal. Se a Constituição federal
expressamente não mencionou mandamentos aos entes federados, está livre o constituinte
26
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
27
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
28
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
dos Estados e Municípios para dispor, desde que respeitados os princípios que estruturam e
fundamentam a ordem constitucional federal. Por exemplo: se a Constituição Federal prevê
o quórum de três quintos em dois turno para emenda a Constituição Federal, como norma
regulamentadora do funcionamento do poder constituinte derivado federal, nada impede que
o Estado Membro ou o Município estabeleçam quórum diferente, desde que respeitados o
princípio da rigidez constitucional que caracteriza sua supremacia em relação as leis
ordinárias e complementares e respeitado o princípio da separação de poderes.
SECÇÃO III. A TEORIA DE TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE 28
a. Generalidade
Acredito que a resposta para a pergunta sobre quem deve ser o titular do poder constituinte
é clara para os cidadãos. Entretanto devemos responder a pergunta sobre quem é o titular
deste poder nas suas várias manifestações históricas.
Retornando a visão (talvez um pouco romântica) dos clássicos da teoria constitucional,
encontramos no revolucionário SIÈYES a afirmação de que ’a nação existe antes de tudo – é
a origem de tudo. Sua vontade é invariavelmente legal – é a própria leis. Uma visão idealista
importante como construção do discurso do Estado constitucional mas que obviamente não
resiste a uma análise histórica. Podemos mesmo perceber que a construção conceptual da
ideia de nação para SIÉYES se constitui numa forma de legitimar a vontade do grupo no
poder que actua em nome da vontade da nação 29.
É SIEYES que surge a ideia de poder constituinte, diferenciando este poder constituído, que
não pode, na sua acção autónoma, atingir as leis fundamentais contidas na Constituição,
criada por um poder constituinte, que, por sua vez, é produto da vontade da nação.
Constitucionalista Brasileiro, PINTO FERREIRA, afirma que somente o povo tem a
competência para exercer os poderes de soberania. Quando analisa os termos Convenção
Constitucional, assembleia Constituinte e convenção Nacional Constituinte afirma que a
assembleia constituinte é o corpo representativo escolhido a fim de criar a Constituição 30.
Existem para o autor dois tipos principais de organização do poder constituinte. Um será o
modelo da convenção constitucional, que é o tipo primitivo onde existe uma assembleia
eleita pelo povo para elaborar a Constituição, e não há necessidade de ratificação popular. O
segundo modelo é o sistema popular direito, onde a Constituição é votada pela convenção
nacional e posteriormente é submetida à aprovação popular através do referendo. Para o
autor, este segundo modelo está mais próximo do espírito democrático.
28
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional E Ciências Política,
Lisboa, Editora Reis dos Livros, 2000
29
SIÈYES citado por BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001
30
PINTO FERREIRA citado por, BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 11. ed. São Paulo:
Malheiros, 2001
29
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
Na história do Estado constitucional, o sujeito do poder constituinte, o seu titular, pode ser
individual ou colectivo, capacitado para criar ou revisar a Constituição. Desta forma
encontramos na história distorções graves da teoria democrática, onde o titular é um Rei, um
ditador, uma classe, um grupo (o que obvio está por detrás do titular individual), todos em
nome do povo ou legitimados por poderes outros que o poder que efectivamente os
sustenta. O discurso esconde a real fonte do poder, ou mais, o discurso constitui uma fonte
do poder ao disfarçar, encobrir sua origem. Entretanto encontramos também, exemplos que
poderes constituintes que de forma diferentes, em graus diferentes, expressam a vontade de
parcelas expressivas do povo nacional.
Não há dúvida que a vontade do poder constituinte deve emanar de mecanismos
democráticos, que permitam que o processo de elaboração da constituição assim como de
sua reforma, seja aberto a ampla participação popular, não apenas através de diálogo com
os representantes eleitos, mas através de legitima pressão da sociedade civil organizada.
Este poder será democrático na medida em que o processo constituinte sirva como arena
privilegiada de demonstração dos grandes temas nacionais, para que, a partir daí, seja
possível que as manifestações do jogo de forças sociais sejam legitimamente exercidas. É
fundamental para isto que o poder de manipulação do marketing político, da propaganda, o
poder de pressão económica seja minado ao máximo. Não pode uma minoria nos bastidores
se sobrepor a vontade presente nas ruas e no campo.
Embora seja importante a existência de um processo democrático na elaboração do texto, a
constituição é muito mais do que texto, e são vários os exemplos históricos, como no caso
da Lei Fundamental alemã de 1949, que embora tenha nascido de forma inadequada, passa
a ser incorporada pela sociedade, sendo hoje sentida e vivida pela sociedade como uma
verdadeira Constituição para os alemães.
b. As diferentes teorias da titularidade do Poder Constituinte
Há muitas teorias sobre a titularidade do poder constituinte, nomeadamente:
A teoria do direito divino
A teoria de contratualistas
A teoria monocrática do despotismo iluminado
A teoria da democracia liberal
A teoria da soberania de estado
A teoria marxista
1. A teoria do direito divino
Segundo esta teoria, a fonte de poder reside em Deus. O seu representante na Terra é o
Papa, que delega tal poder no Rei ou no imperador. Daí a necessidade de o Rei seja
30
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
sagrado pelo Papa. Esta teoria justificam a existência de um vigário de Deus no plano
temporal, porque todo poder vem de Deus. Temos assim:
1.1. Teoria do direito divino sobrenatural (ou da legitimidade carismática)
Os governantes são directamente escolhidos por deus, governam pela graça de Deus. O
poder será assim um dom divino concedido a certas pessoas, dado possuírem um certo
carisma. O que revelaria a escolha divino seria por exemplo o seu aparecimento em
circunstâncias difíceis e salvando o povo de dificuldades existentes, outras vezes a
participação em milagres.31
1.2. Teoria do direito divino providencial
Deus ao criar o mundo teria criado leis que haviam de governar o mundo e os homens só
excepcionalmente interviriam para modificar essas leis. O poder vem de Deus para a
sociedade que depois o confia aos governantes. Essa ordem providencial que regula a
harmonia das coisas e atende ás necessidades dos homens regeria também a designação
dos governantes.
2. Teoria contratualista (ou da pactum subjecionis)
Segundo esta teoria a fonte do poder temporal era o povo. O fundamento da autoridade
política resida num contrato de submissão pelo qual o povo voluntariamente instituía um
poder que regesse. A doutrina é dividida neste ponto, há um grupo de autores que pensava
que este pacto era rigorosamente irrevogável, mas, para os outros o pacto é revogável pelo
seu titular. Assim temos.
2.1. Teoria do poder popular alienável
Segundo estas doutrinas o povo detém o poder e transfere – o para o monarca através de
um pacto de sujeição. Essa transferência pode ser definitiva e irrevogável passando o
governante a exercer o poder por direito próprio ficando superior ao povo. O que tornasse
monarquia absoluta.
2.2. Teoria do poder popular inalienável
Para outros autores, o povo limita – se a conceder o uso ou o exercício do poder, mas
reserva para si a raiz da autoridade, permanecendo assim superior ao monarca. Podendo
assim, quando este não observasse as clausulas do pactos, depô – lo. Esta situação foi na
base da revolta contra os Reis32.
3. As teorias monocráticas do despotismo iluminado
Segundo esta teoria as massas populares é incultas e ignorantes, vivendo naquilo que se
chama obscurantismo, daí que não poderia participar no governo já que a sua acção seria
31
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, idem, p.
32
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional E Ciências Política,
Lisboa, Editora Reis dos Livros, 2000
31
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
nefasta aos seus próprios interesses. Assim o poder caberia a minoria esclarecida, detentora
da moderna cultura e capaz de implantar as reformas pelos progressos da ciência.
Esta ideia tem como origem a força do iluminismo, um movimento cultural que, nasce na
Inglaterra e na Holanda que preconizava a destruição de dogmas, a predominância da
razão, começou a fazer – se a apologia de governos minoritários. Assim esta doutrina
favoreceu o poder absoluto dos monarcas uma vez que se pensava que o ideal seria o
despotismo esclarecido, ou seja, o poder ilimitado de um soberano posto ao serviço da razão
e da ciência.33
4. Teoria da democracia liberal
Esta teoria começou a partir das obras de Montesquieu e John Locke com as bases da
democracia liberal que tem como fundamento essencial a liberdade individual à qual é dado
um conteúdo preciso. A liberdade é concebida como a zona da autonomia do indivíduo
perante o Estado. O poder político deve ser organizado de modo a não atentar contra a
autonomia individual. Desta teoria decorrem as seguintes:
4.1. A teoria da soberania nacional
Nesta teoria o titular da soberania é a Nação como uma entidade abstracta distinta do
conjunto dos cidadãos, tendo como consequências deste pensar as seguintes teorias:
a. A teoria do mandato representativo: se a soberania cabe a Nação, e esta é entidade
abstracta, deve exercer o poder através dos representantes, mas que representa toda
Nação e não aqueles que elegeram (mandato não imperativo)
b. A teoria do eleitorado – função: a soberania pertence á Nação, que é entidade
abstracta, como tal é necessário que os eleitores designem representantes, mas o
que seja designado os órgãos e não a forma como se delega. Assim os eleitos não
exercem um direito ma uma função: eles exprimem a vontade nacional.
c. A teoria do mandato representativo: conduz a irresponsabilidade dos representantes.
O mandato é irrevogável34.
4.2. A teoria da soberania popular
Segundo esta teoria o poder cabe ao povo, cabendo a cada elemento uma parcela da
soberania. Como desta teoria consequências destacamos:
a. O povo titular da soberania exercerá, tanto quanto possível, o poder segundo
forma de democracia directa.
b. Como cada cidadão é titular de uma fracção de soberania, deve eleger os seus
representantes. É a teoria do eleitorado directo, que leva ao sufrágio universal, que
todos cidadãos gozam do direito de voto.
33
ibidem
34
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional E Ciências Política,
Lisboa, Editora Reis dos Livros, 2000
32
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
c. O poder político encontrando as suas origens no povo e sendo exercido pelo povo
não há necessidade de limitações porque ele nunca será despótico. 35
5. Teoria da soberania do Estado
O Estado é uma entidade autónoma, não depende da vontade dos homens. Segundo esta
teoria o povo é um simples elemento do estado, este é que o titular do poder soberano, não
fazendo sentido falar do povo como seu titular porque este não tem razão de ser antes do
Estado e da constituição.
6. Teoria da soberania do Marxista
Segundo a teoria da soberania popular marxista, o poder constituinte cabe ao detentor dos
meios da produção, que formam a classe dominante, do ponto de vista económico. Esta
teoria insere – se nas teorias de governo minoritário.
c. Forma de exercício do poder constituinte
As formas de exercício do poder constituinte são condicionados pelas estruturas
económicas, políticas e sociais dominantes em cada sociedade e em cada momento
histórico do momento. Fundamentalmente temos três formas de exercer o poder constituinte
1. Democrática, o povo exerce o poder intervindo directamente ou indirectamente na
feitura da constituição;
2. Ditatorial ou autocrática, o poder é exercido por um indivíduo ou por um grupo de
indivíduos;
3. Mista ou pactuada em que a constituição resulta de acordo ou pacto entre o povo (ou
seus representantes).
A forma democrática pode ser:
a. Representativa, o poder constituinte cabe ao povo que elege os seus representantes
que reunidos em assembleia (assembleia constituinte) vão elaborar a constituição.
b. Directa, o texto constitucional é elaborada por uma assembleia formada por todos os
cidadãos eleitores, pelo povo sem mediação de quaisquer representantes.
c. Semi – directa ou referendária o texto constitucional é elaborado por um órgão eleito e
em seguida submetido á popular. São os governantes (parlamento ou governo) que
tem a iniciativa e depois consultam os cidadãos sobre um projecto que eles
elaboraram. Esta consulta chama – se referendo. Podendo os cidadãos aprovar ou
rejeitar o projecto. A teoria da soberania nacional conduz logicamente á democracia
representativa. A teoria da soberania popular embora não exclua a possibilidade de
governo representativo está mais próxima da democracia directa ou semi – directa.
A forma ditatorial pode ser:
1. Monocratica, quando o poder é exercido por um só indivíduo:
35
Ibidem
33
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
CAPÍTULO III.
A SUBSISTÊNCIA E MODIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
SECÇÃO I MODIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
A. Noções de modificação ou revisão da Constituição.
Segundo Duverger, a criação de uma constituição envolve duas realidades distintas no
tempo, mas unidas na sua natureza: a faculdade de gerar ex novo uma constituição e a
34
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
faculdade de rever a constituição existente. O poder derivado tal como o originário é também
omnipresente, incondicionado36.
Para os outros, como Harriou, o poder constituinte derivado está limitado pelo poder
originário, estando sujeito a limite consagrado na constituição. Nesta prisma, o poder
derivado é uma paródia do poder constituinte originário, que só exercido quando há uma
ruptura na ordem constitucional37.
Enquanto para os primeiros autores a revisão total é sempre possível, para os segundos só
é possível quando a própria constituição o preveja, pois de outro modo a revisão total será
uma ruptura na ordem constitucional. A revisão total pode ser formal, quando engloba todos
textos constitucionais, ou material, quando engloba a alteração da principiologia filosófica da
constituição, alterando as normas constitucionais caracterizadoras de Estado.
A revisão pode consistir em:
Rupturas constitucionais
Desconstitucionalização
1. Rupturas constitucionais
Rupturas constitucionais, que são regulamentações constitucionais específicas, contrarias
ao regime genérico consagrado na constituição e que vale para os restantes casos. No
entanto são admitidas pela própria constituição e só se verificam em casos excepcionais.
Exemplo:
38
BASTOS, Celso Ribeiro. Op.cit.
39
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, op.cit
36
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
40
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 2.ed. São Paulo: Rideel, 1999
41
É a passagem de uma Constituição material a outra com observância das formas constitucionais, sem
ruptura, portanto. Muda a Constituição material, mas permanece a instrumental e, eventualmente, a
Constituição formal.
Quanto a nós, em fase de normas constitucionais excepcionais, há que distinguir conforme a derrogação afecta
um princípio fundamental da Constituição ou não e, no primeiro caso, ainda, se se trata de derrogação
originaria ou de derrogação superveniente.
42
Menos estudada do que a revolução vem a ser o fenómeno que apelidamos de transição constitucional.
Menos estudado, não só por até há poucos anos ser muito menos frequente mas também por ser mais difícil de
registar ou de fixar, com todo o rigor.
Na transição ocorre sempre um dualismo. Pelo menos, enquanto se prepara a nova Constituição formal,
subsiste a anterior, a termo resolutivo; e nada impede que o mesmo órgão funcione simultaneamente como
órgão de poder constituído à sombra da Constituição prestes a desaparecer e como órgão de poder constituinte
com vista à Constituição que a vai substituir.
O processo de transição é, na maior parte das vezes, atípico, dependente das circunstâncias históricas. Outras
vezes adopta-se o processo de revisão constitucional; e pode até suceder que a Constituição admita
expressamente formas agravadas de revisão para se alterarem princípios fundamentais da Constituição e,
portanto, para se transitar para uma nova Constituição. Cfr. JORGE MIRANDA, Manual de Direito
Constitucional, ob. Cit. Pág. 86 – 89.
37
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
Iniciativa popular;
Órgão especial, cujo titulares são eleitos apenas para a tarefa de revisão ou podendo
ter por base o órgão legislativo ordinário mas ultrapassando – o.
Órgão legislativo ordinário, podendo não se esgotar nele sendo necessária a votação
popular através de refendo, ou ainda exigir a renovação do órgão legislativo ordinário
mediante eleições.
As maiorias para aprovar a lei de revisão, que devem demonstrar uma adesão ou
consenso inequívoco dos representantes quanto ás alterações da constituição, exigindo – se
normalmente uma maioria qualificada, diferente da maioria relativa.
39
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
40
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
processo agravado em relação ao processo de formação das Leis ordinárias. Esta escolha
de um processo agravado de revisão, impedindo a livre modificação da lei fundamental pelo
legislador ordinário, considera-se. O processo é um instrumento dessa garantia – a rigidez
constitucional é um limite absoluto ao poder de revisão, assegurando, desta forma, a relativa
estabilidade da Lei Constituição.
1. Iniciativa, regime e limites (materiais, formais, circunstanciais e temporais.
Os órgãos competentes para exercer a iniciativa de revisão são dos deputados, diferindo do
processo legislativo ordinário em que a iniciativa é mais alargado (art.158.º e 88.º ali. a) da L.
C.) e o Presidente da República.
O órgão competente para aprovar a lei de revisão, é a Assembleia Nacional, ou seja, o
órgão legislativo ordinário (art. 158.º n. º 1 da L. C.). A maioria exigida para aprovação da lei
de revisão é de um terço deputados em efectividade de funções e ao PR.
Na actual L. C., quanto aos limites50 temporais, as revisões constitucionais podem ser feitas
“a todo o tempo” mediante aprovação dos dez deputados em efectividade de funções e
desde que isso justifique tal revisão (art. 158.º, n.º 3) 51.
Os Limites materiais visam garantir os princípios fundamentais, são o núcleo essencial da
Constituição, sendo a sua permanência necessária para a identificação da Constituição e
vêm previstos no art. 159.º da actual L. C.
Estes limites, teoricamente, podem ser interpretados de duas maneiras:
Como garantia de determinados princípios e independentemente da sua concretização na
Constituição, caso em que os limites não impediriam a revisão total das mesmas; ou (art.
159.º)
Como garantia de cada principio referido, de acordo com a sua expressão concreta na
Constituição e implicariam a intocabilidade dos artigos que regulam as matérias indicadas
(art. 158.º n. º5).
Desde logo a revisão deve respeitar o regime constitucional como limite absoluto, que pode
alargar o âmbito dos direitos fundamentais, mas não pode eliminar qualquer dos direitos
fundamentais, e só os pode restringir nos casos previstos da Constituição, sem poder criar
reporta à modificação e à subsistência das normas constitucionais.
A rigidez constitucional revela-se um corolário natural, histórico decorrente da adopção de uma Constituição em
sentido formal. A força jurídica das normas constitucionais liga-se a um modo especial de produção e as
dificuldades postas à aprovação de uma nova norma constitucional impedem que a Constituição possa ser
alterada em quaisquer circunstâncias, sob a pressão de certos acontecimentos, ou que possa ser afectada por
qualquer oscilação ou inversão da situação política.
50
Melhores desenvolvimentos podem ser retirados in GOMES CONOTILHO, ob. Cit, pág. 1060 – 1069 e para
uma visão global dos sistemas de revisão em direito comparado, cfr. JORGE MIRANDA, ob. Cit. Pág. 134.
51
São todos estes limites formais: os processos específicos de modificação da constituição baseiam-se
essencialmente nas várias formas de participação popular, na escolha do órgão a quem é atribuído o poder de
revisão, na exigência de um iter processual mais complexo do que o processo legislativo, e no exercício
temporal do poder de revisão.
42
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
outras restrições. Há outros limites que não devem ser entendidos no sentido da
intocabilidade do regime constitucional, mas no sentido de impedir a sua eliminação. (vide
ante – projecto de Constituição).
A revisão, quanto aos limites circunstanciais, não pode ser efectuada nem continuada na
vigência de estado de sítio ou estado de emergência 52. Durante tais períodos a revisão não
pode ser iniciada, nem continuada, nem concluída e se já foi iniciada ficará suspensa.
Cabe ao presidente da República declarar 53 o estado de sítio54 e o de emergência, mas devia
fazê-lo ouvindo o Governo e obtendo autorização a Assembleia Nacional (arts. 160.º, que
consagra o princípio da vinculação do legislador à Constituição, art. 66.º al. r), que consagra
um princípio da reserva da Constitucional).
D. A problemática dos limites materiais do poder constituinte derivado
Coloca se a questão de saber se os limites materiais são limites absolutos, isto se não pode
ser superado pelo exercício do poder de revisão ou limites relativos, se condicionam o
exercício do processo de revisão, mas não impedem a modificabilidade das normas
constitucionais desde que cumpridas as condições por eles impostas. Muitas teses são
desenvolvidas a partir desta questão nomeadamente:
A tese da irrelevância jurídica dos limites matérias, segundo qual todo que a
constituição escrita contem podem ser sujeita a modificação. A soberania não pode ser
congelada num dado momento histórico, não pode ser limitada ad eternum pelo legislador
que age num dado momento histórico.
52
Regulada pela Lei n.º 17/91, de 11 de Maio
53
Esta declaração é feita através de um Decreto que é um acto político, com uma natureza normativa, já que
suspende a ordem jurídica, no que toca aos direitos fundamentais, devendo especificar quais os direitos
suspensos e nos termos do regime legal previsto. Só pode ter lugar, em todo ou parte do território nacional,
nãos casos de: agressão efectiva por parte de forças estrangeiras, grave ameaça ou perturbação da ordem
constitucional democrática, calamidade pública.
54
É mais grave que o Estado de emergência e pode levar à suspensão total de direitos, enquanto o estado de
emergência só pode levar à suspensão parcial dos direitos, liberdades e garantias. Nestas circunstâncias a
Assembleia Nacional também pode ser dissolvida.
43
Ciência Política e Direito Constitucional
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A tese da relevância jurídica absoluta dos limites materiais, segundo esta tese os
limites materiais são absolutos, se alterados modifica – se a essência da constituição. o
poder de revisão é derivado e portanto subordinado ao poder constituinte originário.
E. A inconstitucionalidade de uma lei da revisão constitucional
O exercício do poder de revisão constitucional está sujeito a limites. A não observância dos
limites estabelecidos na constituição coloca – nos perante o problema de desconformidades
constitucional da lei de revisão, problema que não é substancialmente diferente do problema
da inconstitucionalidade das leis ordinárias, posto que o poder de revisão seja um poder
constituído.
Contudo, é possível uma lei de revisão sofrer de inconstitucionalidade por ter sido aprovado
por um órgão sem poder constituinte ou mesmo durante o estado de emergência ou
aprovada sem a maioria exigida, ou, caso em que se torna inexistente. Uma lei de revisão
que viole os limites formais sofre de inconstitucionalidade e violando os limites materiais
também.
G. A nulidade da lei de revisão constitucional
As leis de revisão que violem os limites formais e materiais são inconstitucionais do ponto de
vista formal ou material, desde que:
Nestes casos são nulas, embora só depois de publicada possa o Tribunal supremo na sua
função constitucional.
CAPITULO IV
FINS E FUNÇÕES DE ESTADO
44
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
estar organizadas do ponto de vista político — a generalidade está – o. Não o tem de estar
necessariamente. Isto é, a organização política não é conditio sine qua non para que uma
sociedade exista como tal55.
A generalidade das sociedades, porém, está organizada do ponto de vista político. Mas
mesmo essa organização política não quer necessariamente dizer que deva revestir — a
existir — a forma de Estado. Também já se referiram outras formas políticas de organização
da sociedade que a História nos foi mostrando. Sabe – se, contudo, que, sobretudo nos
tempos modernos, o Estado constitui a forma por excelência de organização política da
sociedade. Há, portanto, que questionar a sua razão – de – ser.
Na sequência do ensinamento dos autores clássicos, na tradição da própria civilização oci-
dental de cariz profundamente cristão e acentuado espírito humanista e personalista, pode-
remos afirmar, como já o fazia por exemplo S.Tomás (e vieram a fazer os neo – tomistas
como Jacques Maritain ou Emanuel Mounier) que a finalidade do Estado é prover à
realização do bem – comum. O Estado existe fundamentalmente para realizar o bem – co-
mum.
Todavia, se esta é a vocação inata do Estado, temos de concluir também tratar – se de algo
de muito genérico e vago que necessita de uma concretização. A doutrina costuma analisar
esta grande finalidade do Estado desdobrando – a em três vertentes. O bem – comum
sintetizará e englobará três finalidades mais específicas atribuídas ao Estado, aparecendo
como a síntese de todas elas. O bem – estar, a segurança e a justiça
1. As principais finalidades de Estado
A. O bem – estar
Em primeiro lugar aparece – nos o bem – estar. O Estado tem por missão promover o bem
– estar dos seus cidadãos. Por bem – estar não se entende apenas, como o fazem os defen-
sores de concepções puramente materialistas, a melhoria das condições de vida materiais
da população. Seria um entendimento reducionista que, por isso mesmo, é de excluir e de
rejeitar. Sem dúvida que o Estado se deve preocupar com o nível de vida material da po-
pulação.
O bem – estar deve, contudo, ter um entendimento e um alcance diferente. Sobretudo mais
amplo. Além de proporcionar a melhoria do nível de vida material da população, o Estado
deve igualmente prover ao desenvolvimento espiritual e cultural dos cidadãos. Quando se
fala em bem – estar deve ter – se presente, portanto, esta dimensão abrangente e não
reducionista da expressão e do conceito. O bem – estar é, portanto, a primeira finalidade do
Estado, a que este deve prover. Tão importante quanto o bem – estar é a segurança.
55
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, op.cit
45
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
B. A segurança
Uma das razões que levou à organização política das sociedades prendeu – se com a ne-
cessidade de garantir para esta um mínimo de segurança e de estabilidade nas relações
inter subjectivas que têm por palco e por cenário a sociedade humana. Compreende – se,
assim, que, enquanto forma de organização política da sociedade, ao Estado esteja atribuída
a missão de garantir e manter a ordem e a estabilidade da sociedade.
A segurança é, portanto, a segunda grande finalidade que qualquer Estado deve pretender
alcançar para salvaguarda e defesa da sua população. Não, porém, uma segurança a
qualquer preço, a qualquer custo. Não uma segurança em nome da qual poderes erráticos
dêem livre curso ao seu arbítrio e aos seus desmandos. Mas uma segurança que seja pau-
tada por regras objectivadas e pré – estabelecidas, conhecidas dos seus potenciais
destinatários. Uma segurança que se caracterize pela certeza em face do ordenamento
instituído. A justiça
C. A justiça
E com isto estamos já caídos na terceira grande vertente em que se analisa o bem – co mum
enquanto finalidade do Estado — a justiça. A justiça é, de facto, uma das principais fina-
lidades ou atribuições do Estado. Incumbe ao Estado promover a justiça como forma de
alcançar o bem – comum. A ideia de justiça é tão antiga quanto a formação organizada dos
povos. Sinónimo de equidade, poder – se – á tentar definir a justiça como o esforço no
sentido de atribuir a cada um o que é seu, o que lhe pertence.
2. A Interdependência e complementaridade dos fins de estado
Do ponto de vista histórico, pode afirmar – se que foi Aristóteles o filósofo que mais longe le -
vou, até hoje, a análise do conceito de justiça. Para Aristóteles a justiça não é mais do que
igualdade: todavia o clássico grego distingue diversos modos pelos quais esta [a justiça]
pode ser aplicada, o que o levou a subdividiu – a em várias espécies, segundo um critério
formal que ficou clássico. Em harmonia com esse critério, a justiça pode ser distributiva ou
sinalagmática.
A primeira, que é a do Estado nas suas relações com os súbditos, exprime – se na fórmula:
a cada um segundo o seu mérito; é com base nela que se repartem os bens e as honras
públicas.
A segunda, que se aplica nas relações dos cidadãos entre si, exprime – se na fórmula: que
cada um, naquilo que dá ou que recebe, dê ou receba um valor objectivamente igual ao da
prestação da outra parte. Esta segunda espécie de justiça, porém, pode ainda revestir duas
modalidades. Se se trata de relações de pura troca livre entre indivíduos, segundo um
critério de valor exacto objectivamente determinável, chama – se comutativa. Se se trata de
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Ciência Política e Direito Constitucional
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delitos que geram obrigações já não voluntárias, como a da reparação de um dano injusto,
com intervenção do juiz, chama – se judiciária. Mas em todo o caso — e isto é o importante
— é sempre um critério de igualdade que constitui o princípio da justiça. Como salienta a
melhor doutrina, não é concebível que os três fins do Estado se nos deparem isolados.
A interdependência dos fins do Estado assume particular importância em relação à grande e
última finalidade do Estado: a promoção do bem – comum. Efectivamente a promoção do
bem – comum ficará seriamente comprometida sempre que não seja possível realizar
qualquer uma das vertentes em que se analisa e desdobra.
Se existir segurança mas não existir justiça, campeará certamente o totalitarismo. Em nome
da segurança permitir – se – ao e abrir – se – ao as portas para todos os tipos de injustiças.
Em nome de uma certeza falível e questionável, alimentar – se – ao formas despóticas ou
totalitárias de poder do Estado. A justiça é um elemento fundamental na prossecução da
finalidade do Estado, na assunção deste como um Estado de Direito. Mas não deve ser
considerada isoladamente ou como o fim último a atingir pelo Estado. Desde logo porque é
impossível haver justiça sem a correspondente segurança que lhe subjaz.
A justiça pressupõe a segurança. Justiça sem segurança é a negação da própria ideia de
justiça. Da mesma forma não basta existir justiça e segurança para assim se conseguir
alcançar o bem – comum. Ignorar o bem – estar das populações, não curar do seu nível não
só económico ou material mas também cultural ou espiritual, conduz necessariamente a si-
tuações latentes de revolta ou contestação, de agitação social, de conflitualidade — sendo
certo que tudo isto acabará por questionar a própria segurança.
A interdependência é, portanto, a característica última que relaciona todos os fins do Estado.
A este propósito, conjugado com este entendimento sobre a finalidade última do Estado, não
podemos deixar de relembrar o que foi dito supra sobre a questão da origem do Estado: este
deve ser considerado como fazendo parte da circunstância do Homem, como um
instrumento ao dispor do Homem e feito para o servir. Eis, pois, como esta visão sobre a
origem do Estado acaba por ser complementar e estar em estreita conexão com a questão
tratada no texto acerca da finalidade do próprio Estado. Como instrumento ao dispor do
Homem e feito para o servir deve o mesmo, em primeira linha, prover à realização do bem –
comum.
A finalidade do Estado, a prossecução do bem – comum, deve ser ditada pela consideração
dos valores imanentes à personalidade humana. Não apenas dos indivíduos que compõem
as gerações actuais. Mas, como salienta Cabral Moncada, Filosofia do Direito cit., dos
indivíduos que compõem as gerações futuras e cuja personalidade igualmente deve ser
levada em conta na determinação dos fins do Estado. Este, em síntese, existe para servir o
47
Ciência Política e Direito Constitucional
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Homem e possibilitar, dentro dos limites do possível, que este alcance a perfeição que
permanentemente busca.
B. Fins e funções do Estado na Constituição
A constituição de, possuía três artigos fundamentais para a compreensão dos fins do
Estado:
- Os artigos 1-previa transformação da sociedade “numa sociedade sem classes”
-0 Artigos 9-,alínea c), previa o bem-estar económico e social e qualidade de vida do povo,
especialmente das classes trabalhadoras emediante a realização da justiça pela abolição da
exploração e opressão do homem pelo homem;
-o artigos 9-, alínea a), garantia a independência nacional;
-o artigos 2-, defendia a democracia politica, mediante o respeito da soberania popular,
garantia dos direitos e liberdades fundamentais e pluralismo de expressão.
No entanto, com a revisão constitucional de 1987, os artigos os 1-e 9-foram alterados. Os
objectivos de bem-estar económico e social e justiça estavam inicialmente ligados a
transição para o regime Económico socialistas, segundo uma concepção marxista da
constituição, a abolição de classes levaria a uma justiça material.
Hoje, os objectivos de bem-estar económico e social e justiça estão consubstanciados no
(artigos 9-alinea d), que prevê como tarefa fundamental do estado: “promover o bem-estar e
a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os português, bem como a efectividade
dos direitos económicos, sociais, culturais e ambienteis, mediante a transformação e
moderação das estruturais económicas e sociais.”
Os objectivos da segurança colectiva objectivem n garantia da independência nacional
(artigo 9-,alínea a), e a defesa da democracia politica e dos fundamentais serão condição
para a segurança individual (artigos 9-,alínea b)e c).
No entanto, não existe uma separação absoluta, mas antes uma inter – relação. A defesa
dos direitos fundamentais, por exemplo, releva para efeito da concretização do bem-estar
económico e social e para efeito da justiça social.
No artigo 9-, a expressão democracia surge em sentido formal, ou seja como conjunto de
instituições e modos de organização estadual regras do jogo político e princípios jurídicos.
C. Tipos e caracterização dos fins do Estado.
As funções do Estado serão as actividades levadas a cabo pelos os órgãos do poder
político, com vista a realização dos objectivos consagrados na constituição. Cada órgão
realiza um conjunto de actos dependentes ou independentes de actos de outros órgãos, mas
tendo todos em vista a prossecução de fins comuns.
48
Ciência Política e Direito Constitucional
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56
Desde logo, procedimento legislativo é um complexo de actos, qualitativo e funcionalmente heterogéneos e
autónomos, praticados por sujeitos diversos e dirigidos à produção de uma lei do Parlamento. É a forma da
função legislativa, isto é, o modo ou iter segundo o qual se opera a exteriorização do poder legislativo. Cfr.
GOMES CANOTILHO, ob. Cit. Pág. 870 – 872.
57
Idem. Ob. Cit. Com maiores desenvolvimentos e adequados ao estudo que se pretende.
49
Ciência Política e Direito Constitucional
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50
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CAPÍTULO V.
A GARANTIA E CONTROLO DA CONSTITUIÇÃO59
58
Cfr. art 7.º da Convenção de Viena sobre direito dos tratados.
59
Ou fiscalização da constitucionalidade na terminologia dalguns autores.
51
Ciência Política e Direito Constitucional
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60
São, no geral, os seguintes meios e institutos de defesa da Constituição:
A vinculação constitucional dos poderes públicos;
Os limites da revisão constitucional;
A fiscalização judicial da constituição;
A separação e interdependência dos órgãos de soberania;
C. Forma de A inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade pode ser:
53
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exigência constitucional de acção, não bastando o simples dever geral de legislar para dar
fundamento a uma omissão inconstitucional.
As omissões legislativas inconstitucionais derivam desde logo do não cumprimento de
imposições constitucionais legiferantes em sentido estrito, ou seja, cumprimento de normas
que, de forma permanente e concreta, vinculam o legislador à adopção de medidas
legislativas concretizadoras da constituição.
62
O sistema norte – americano de fiscalização judicial, em que todo e qualquer juiz, qualquer tribunal se pode
recusar a aplicar uma norma que considere inconstitucional num litigio que tenha de dirimir (difuso, concreto,
incidental e por via de excepção).
63
A ideia de um controlo concentrado está ligada ao nome de Hans Kelsen, que o concebeu para ser
consagrado na constituição austríaca de 1920. a concepção Kelseniana diverge substancialmente da judicial
review americana.
64
È o que caracteriza o sistema austríaco de tribunal constitucional, em que só um tribunal aprecia a
constitucionalidade das normas e decide definitivamente (concentrado, abstracto, por via principal e por via de
acção ou concreto, mediante a subida obrigatória da questão da constitucionalidade para o tribunal a quo).
55
Ciência Política e Direito Constitucional
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65
Este controlo anda geralmente associado ao controlo difuso. O incidente da inconstitucionalidade pode
suscitar-se em qualquer tribunal para efeitos de desaplicação da norma inconstitucional ao caso concreto. Mas
é incorrecto dizer-se hoje que o controlo por via incidental se identifica com o controlo difuso. Em Angola, o
controlo difuso pode conduzir a um controlo concentrado através do Tribunal Supremo da sua veste de Tribunal
Constitucional.
66
Cfr. Rui Barbosa, Os Actos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo, pág. 82.
67
Tribunal Constitucional, entre o Supremo.
68
Entre nós, a última experiência resulta da propositura pelo PR ao Tribunal Supremo da Lei Eleitoral, para que
este Tribunal se pronunciasse sobre a constitucionalidade da disposição relativa à eleição do PR. Não é menos
importante também, a pratica pelos deputados da UNITA e da oposição no geral que têm pedido ao Tribunal
Supremo, na veste de Tribunal Constitucional para que se pronuncie sobre várias matérias que lhe sejam
submetidas para aprovação.
No entanto, o controlo por via principal tanto pode reconduzir-se a um controlo abstracto de leis ou actos
normativos como uma garantia concreta de direitos fundamentais. Este último caso é que se observa na
constituição alemã que lhe chama acção constitucional de defesa e no recurso de amparo da constituição
mexicana e espanhol.
56
Ciência Política e Direito Constitucional
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69
Pela inflação dos processos de controlo que a acção popular universal poderia originar, a regra é a da
restrição da legitimidade, qualquer que seja o tipo de controlo. No controlo abstracto de normas, os titulares de
legitimidade impugnatória são certas e determinadas entidade ( PR, Provedor de Justiça, uma fracção de
deputados); no controlo difuso incidental a legitimidade está naturalmente circunscrita ao juiz, ministério Público
e partes na causa submetida a juízo. Cfr. GOMES CANOTILHO, ob. cit. pág. 895 – 902.
57
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58
Ciência Política e Direito Constitucional
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as outras ciências, porque o âmbito do seu objecto dirige as restantes actividades humanas.
A este respeito escreveu Aristóteles: ‘’ é claro, que, em todas as artes, o destino dos que
podem ser chamados ordenadores ou directores é mais desejável ou mais importante do
que o das artes que lhes estão subordinadas’’. Aristóteles via na política ‘’a Ciência Maior’’
da sua época e do seu próprio sistema filosófica. Do resto, a sua política cobria um domínio
mais vasto do que o estudo global de todas as relações morais e sociais do homem. O
estudo empreendido por Aristóteles baseai – se na convicção de que o homem é um animal
político, de que as relações económicas e sociais são condicionadas na política e de que as
relações económicas e sociais são condicionadas pela política e de que o seu valor
significativo se mede essencialmente pela influencia na política. 70 No entanto, Aristóteles
não conseguiu estabelecer, com clareza, a fronteira entre a ética e a ciência política,
considerando que o objecto da ética é uma espécie de política. É como Platão, um bom
moralista. O seu espírito é dominado pelo conceito de valor. Assim desenvolve a teoria do
Estado ideal não a descrição dos Estados reais. Todavia, os seus trabalho baseia – se na
observação dos factos, aos ao quais emprestou o método indutivo.
A influência de Aristóteles sobre os estudiosos dos fenómenos políticos fez – se sentir
através do tempo, desde a Antiguidade latina até á época moderna.
As concepções modernas de ciência Política, porem radicam na admirável obra de
Maquiavel O Príncipe (1513). ‘’O príncipe’’ de Maquiavel é, sem dúvida, uma importante obra
de ciência política.
A obra mais importante na história da ciência política até ao século XIX é, juntamente com a
‘’Política’’ de Aristóteles, o espírito das leis (1748) de Montesquieu, Montesquieu deu um
novo impulso ao desenvolvimento do método de observação relativamente a Aristóteles.
Maquiavel tinha desenvolvido um método de observação numa base histórica. No entanto
Montesquieu descurando a observação histórica, utiliza também o método de observação
numa base geográfica.71
A segunda metade do século XVII e o Século XVII foram, no dominó político, épocas d
mutações particulares profundas. Nesta época que apareceu o numero apreciável de obras
de ciência política nomeadamente ‘’Dois tratados sobre o Governo’’ (1960) de John Locke,
e, o ‘’o Contrato Social ‘’ de Jean Jacques Rousseau.
É só no século XIX que a Ciência política adquire a feição de ciência dos factos políticos. O
termo Ciência político começa a entrar na terminologia corrente na segunda metade do
século XIX
70
FERNANDES, António José. Introdução á ciência política, Porto, Porto editora, 1995, p.22-23
71
FERNANDES, António José. Op.cit, p.24-25
60
Ciência Política e Direito Constitucional
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b. Do século XX a globalização
B. Definição
C. Afirmação Ciência Política como disciplina indispensável nas Universidades
Na Grécia Antiga, para Aristóteles a política deveria estudar a pólis e as suas estruturas e
instituições (a sua constituição e conduta). É considerado o pai da Ciência Política, porque
considerou a política a ciência “maior”, ou mais importante do seu tempo. Criou, ainda, um
método de observação que permitiu uma sistematização e explicação dos fenómenos
sociais. Preocupava-se com um governo capaz de garantir o bem-estar geral (o bom
governo).
No século XVI, Maquiavel e a sua obra dão origem à modernidade política. A sua
preocupação era a criação de um governo eficaz que unificasse e secularizasse a Itália.
Defende um príncipe ou dirigente de governo sem preocupações morais ou éticas, um
dirigente que não olha a sensibilidades para atingir os seus fins. A política, era assim a arte
de governar, ou seja, uma técnica que permitisse ao dirigente ou governante alcançar os fins
independentemente dos meios, não visa a realização geral mas sim pessoal. Introduziu,
ainda, um método comparativo-histórico, fazendo comparação entre dirigentes da sua época
e de épocas anteriores através de exemplos. Introduziu, também, e reforçou a importância
do Estado e da Instituição Estatal.
Na segunda metade do século XVI, Jean Bodin escreve “República”, obra que era também
uma sistematização e explicação dos fenómenos políticos. Dá também grande relevância à
ideia de soberania do Estado, é com base nesta teoria de soberania do Estado que Bodin
cria o conceito de soberania (segundo o qual, o poder não tem igual na ordem interna e nem
superior na ordem externa). Divide, portanto, o Estado em ordem interna e ordem externa e
apenas considera um Estado soberano, se este for superior nestas duas dimensões.
No século XVIII, Montesquieu em pleno iluminismo, difunde ideias políticas que têm por base
a acção humana. Esta surge, assim, como alternativa às ideias de Aristóteles, chamando a
atenção para a “natureza das coisas”. Procurou explicar a natureza das coisas pelas suas
idiossincrasias. Foi com Montesquieau que a geografia dos Estados ou a geopolítica se
tornou um elemento importante na análise política. Introduz o método comparativo de base
geográfica. Faz a distinção entre república, monarquia e despotismo, afirmando que este
último deveria ser irradiado e afastado, na república o poder pertence ao povo ou a uma
parte esclarecida deste, na monarquia o poder pertence ao monarca, no despotismo, o
poder pertence a um indivíduo, o déspota que governa sem honra e que utiliza o terror e a
violência como forma de governação. Para irradiar o despotismo, Montesquieu apresenta a
teoria da separação de poderes, de forma que o poder seja descentralizado das mãos de
61
Ciência Política e Direito Constitucional
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uma só pessoa para que não o use em proveito próprio. Resolvia-se então o perigo do
despotismo com a institucionalização da separação de poderes.
A partir da segunda metade do século XVIII, a investigação dos fenómenos políticos
começaram a perder terreno e a dar lugar a ciências como a sociologia, o direito e a
economia. Embora a ciência política não tenha desaparecido.
A prová-lo está o contributo dado por três autores e pensadores do século XIX. A. Comte
(alertou para a necessidade de analisar com objectividade os fenómenos ou factos políticos);
Alexis de Tocqueville (chama a atenção para o estudo do sistema político norte-americano,
na sua análise introduziu um conjunto de entrevistas, o que lhe permitiu uma comparação
entre estas e irradiar erros ou alguma falha possível. Fazendo um quadro onde apresentava
detalhadamente o sistema político norte-americano como se de uma fotografia se tratasse);
Karl Marx (introduz uma nova perspectiva de abordagem dos fenómenos políticos e de
poder, uma vez que faz uma análise do ponto de vista económico e social, o fenómeno
político é uma consequência das relações de produção, e o regime político era o reflexo da
organização das forças produtivas). É também nesta altura que surgem as ciências políticas
especializadas em determinados fenómenos (economia política, direito político, geografia
política, etc.)
Nos finais do século XIX a Ciência Política é reconhecida nos EUA nas universidades, como
forma de combater o caciquismo no poder local e a corrupção nos partidos políticos.
Só após a Segunda Guerra Mundial, a Ciência Política volta a ganhar relevo e a tornar-se
também uma disciplina autónoma nos quadros das universidades europeias. Além disso
ganha força a análise de sistemas eleitorais, e também do comportamento do eleitorado.
Os fenómenos que contribuíram para o reforço da ciência política foram a proliferação dos
sistemas democráticos, dos partidos políticos, dos mas media, de organizações
internacionais, pelo próprio sistema internacional, etc. Estes factos levaram ao aumento de
estudos sobre estes assuntos, o que suscitou também uma maior proliferação da ciência
política (criação da IPSA, associação onde cientistas políticos discutiam as suas posições e
que deu origem a outras organizações sobre a mesma temática)
62
Ciência Política e Direito Constitucional
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CAPÍTULO I.
TEORIA DE ESTADO
SECÇÃO I. HISTORIA E EVOLUÇÃO DO CONCEITO ESTADO
A. Historia e evolução do conceito Estado.
B. Estado e as primeiras aproximação ‘’ Doutrina sobre o Estado’’
a. Definição o ‘’Estado’’
O estado é de resto uma realidade objecto de interesse por ciências diversas e de acordo
com métodos de análise variados. E assim dele se ocupam, por exemplo, a ciência política,
a sociologia política, ou a ciência jurídica. É sobretudo no âmbito da primeira e da última que
a nossa averiguação se desenvolve. Mas, ainda assim, quando pretendemos estudá – lo do
ponto de vista jurídico devemos restringir a análise a uma perspectiva específica. Por isto, na
63
Ciência Política e Direito Constitucional
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senda do Freitas do Amaral, podemos aludir ao estado como entidade actuante na ordem
internacional, ao estado como pessoa colectiva pública que desempenha a actividade
administrativa ou ainda ao Estado como forma de organização política. Se na primeira
perspectiva o estado é alvo de atenção do direito Internacional e na segunda do direito
administrativo, é na terceira acepção que releva para efeitos de direito Constitucional. 72
Mas que é na realidade um Estado? Para George Burdeau, o Estado é um ser com
existência própria, uma organização política. Por Bobbio Norberto, o Estado é uma realidade
que nasceu algures no século XVII e pode, com o devir histórico, desaparecer. 73 Por
paradoxal que passa parecer, o Estado é um pouco de tudo isso. Ele é, simultaneamente,
uma ideia e um facto, imã abstracção e uma organização. Por um lado, o Estado não deixa
de poder ser encarado como uma ideia, dado que existe na mente de quem o concebeu e
própria noção de Estado diverge de autor.
Há também quem admita, como BELLADORE PALLEIRI, que o Estado é uma realidade
histórica, na justa medida em quem se trata de um produto da idade Moderna, podendo
questionar – se se existiu na Antiguidade. Finalmente e numa posição mais radical, há quem
considere o estado como um mal não necessário e sonhe ‘’com uma sociedade sem Estado,
nem leis, que tenha como base a espontâneo e voluntária cooperação dos indivíduos
associados, respectivamente livres no respeito de uns pelos outros e iguais entre si’’ 74, como
sustentam os teóricos do anarquismos.
Mas afinal de que conceito de Estado deveu partir para, em seguida, proceder á análise dos
seus elementos, das suas vicissitudes, das suas formas, dos seus fins, das suas funções,
dos seus órgãos? Um voo panorâmico, ainda que breve, pela doutrina jus constitucionalista,
é suficiente para constatar a existência de formas variadas de encarar o Estado. Assim, se
para DUGUIT tratar – se – ai de qualquer ‘’sociedade humana em que existe diferenciação
política, diferenciação entre governante e governados, segundos a expressão consagrada –
uma autoridade política’’75
Para MORTATI ele é uma ordem jurídica com objectivos gerais, exercendo o poder
soberano sobre um dado território, ao qual estão subordinados de modo necessário os
sujeitos pertencentes àqueles’’76. Por seu lado, Kelsen define – o como ‘’ uma ordem jurídico
relativamente centralizada, limitada no seu domínio espacial e temporal d vigência, soberana
ou imediatamente subordinada ao direito Internacional, globalmente e em regra eficaz’’
enquanto HARIOU o considera com um agrupamento humano fixado num território
72
AMARAL, Freitas Do. Curso de direito administrativo, Lisboa, 1994, pág. 211.
73
NORBERTO, Bobbio, Estado, op.cit, pág 268.
74
Ibidem
75
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Ciência Político e Direito Constitucional,
Lisboa, Universidade de Lusíada Editora, pág. 50.
76
Ibidem
64
Ciência Política e Direito Constitucional
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determinado e em que existe uma ordem social, política e jurídica, orientada para o bem
comum, estabelecida e mantida por uma autoridade dotada de poderes de coação.
Também no seio da doutrina portuguesa se podem encontrar distintas definições. Com
efeito, se Marques Guedes afirma, sucintamente, que o Estado é ‘’ a colectividade
politicamente organizada e estabelecida em território delimitado’’ 77, José Carlos Moreira
considera que ele é um’’ conjunto de homens, geralmente fixados num território, e que vivem
sujeitos ao domínio de uma autoridade comum, irresistível e suprema’’. Freitas do AMARAL
define o Estado como ‘’ comunidade constituída por um povo que, a fim de realizar os seus
ideias de segurança, justiça e bem – estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por
autoridade própria, o poder de dirigir os seus destinos nacional e impor as normas
necessárias á vida colectiva.78
Que conclusões podem retirar – se deste brevíssimo excurso pela doutrina? O Estado que
hoje conhecemos é apenas um dos tipos de Estado possível. Para o explicar, é para nós
pacifica uma definição que arranque da teoria dos três elementos do Estado e que considere
79
que este é constituído pela justaposição de um povo, um território e um poder político.
Daí a nossa preferência por uma definição do tipo daquela avançada por, que entende o
estado como ‘’ um povo fixado num território, de que é senhor, é que dentro das fronteiras
desse território institui, por autoridade própria, os órgãos que elaborem as leis necessárias á
vida colectiva e imponham a respectiva execução 80.
SECÇÃO II. TIPOS HISTÓRICO DO ESTADO
A classificação dos diversos tipos históricos de Estado é tributária de Jellinek e tem sido
acolhida pela globalidade da nossa doutrina jurídico – constitucional, nomeadamente por
Freitas do AMARAL81. Pode assim falar – se, numa perspectiva histórica, em Estado
Oriental, Estado Grego, Estado Romano, Estado Medieval e Estado Contemporâneo
A. Estado Oriental
É o tipo histórico que se desenvolve nas civilizações mediterrânicas da Antiguidade oriental,
nomeadamente as Babilónia, do Egipto e dos Hititas. Trata – se de Estudas que assumiram
a forma de monarquias despóticas, portanto com nulo significado dos directos dos cidadãos,
baseados no poder teocrático (os monarcas eram considerados entidades divinas, mas
apoiavam – se nas castas sacerdotais, as quais influenciavam ou chegavam mesmo a
exercer o poder político).
77
GUEDES, Marques. Introdução ao estudo de direito, Lisboa, 1969, pág.60
78
AMARAL. Freitas do. op. cit. pág.31
79
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Ciência Político e Direito Constitucional,
Lisboa, Universidade de Lusíada Editora, pág. 53.
80
CAETANO Marcello, Manual de ciência política e direito constitucional, Coimbra, Coimbra editora, 1995,
pág.108
81
AMARAL, Freitas Do. op.cit. pág.1156 e ss.
65
Ciência Política e Direito Constitucional
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B. Estado grego
o Estado grego foi desde logo caracterizado pela sua reduzida expressão territorial ( Estado
sob a forma de polis ou cidade Estado)
O termo Cidade – Estado designa regiões controladas exclusivamente por uma cidade.
Cidades – Estados eram comuns na Antiguidade, principalmente na Grécia Antiga, tais como
Tróia, Atenas e Esparta. Mais tarde as cidades – estado e ligas de cidades – estado também
vieram a fazer um papel importantíssimo na Itália. Por exemplo, Gênova, Pisa, Florença,
Amalfi e, a mais famosa de todas, Veneza.
O mesmo ocorreu na Alemanha, como a Liga Hanseática medieval ('Hansa' é um termo do
alemão antigo que significa 'Liga'). Na Alemanha moderna existem três cidades – estado:
Hamburgo, Berlim e Bremen.
Actualmente, o termo cidade – estado também é, às vezes, empregado para designar
cidades que se transformaram em minúsculos países, como: Vaticano e Mónaco.
Politicamente auto-suficientes.
Singapura, na Ásia, conhecida internacionalmente como um dos Quatro Tigres do Oriente,
uma referência a sua robusta economia, também é uma cidade – estado. Ainda na Ásia,
Hong Kong e Macau também são consideradas cidades – estado por possuírem a maioria
de sua população em uma grande e dominante cidade em termos de território total.
É na Grécia que, pela primeira vez, se esboçam as concepções do poder politico e os
quadros classificatórios dos sistemas políticos que inspiraram as grandes correntes do
pensamento ocidental.
C. Estado Romano
As características do Estado Romano variam muito em função do período histórico em que
nos situamos, fruto naturalmente da evolução que o império foi sofrendo. No inicio, por volta
do século V ACN, Roma era uma cidade – estado similar ás gregas, alguns séculos mais
tarde, com expansão e as conquistas assistiu – se á criação de um império, gigantesco em
termo de territoriais e autocrático em termos políticos. com a consolidação do poder de
Imperador desenvolve –se á noção de poder político, como poder supremo e uno, exercido é
certo por aquele, mas brotando da comunidade política dos cidadãos. É curioso como em
Roma, apesar de tudo, se reconheceu normalmente que a autoridade política residia, em
ultima grau, no povo.
Na base da concepção romana de Estado está a ideia da clara separação entre aquele e os
indivíduos, o que, em termo jurídicos, leva a uma linear distinção conceptual entre o poder
público do Estado e o poder privado (pater famílias), bem como á caracterização do
indivíduo como pessoa jurídica com determinados direitos e prerrogativas.
66
Ciência Política e Direito Constitucional
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Mas tarde, verificam – se alteração radicais, com a extensão da cidadania a todo o Império
(século III DCN) é, após o surgimento do cristianismo e, posteriormente, a sua consagração
como religião oficial, a valorização da pessoa humana e a contestação do carácter
absoluto.82
D. Estado Medieval
Para Jorge Miranda, na idade Média não há Estado com as características que geralmente
se lhe apontam, em quase toda e Europa. Isto porque, na sua opinião, feudalismo dissolve a
ideia de Estado, na medida em que o poder se privatiza e passa do ‘’imperium’’ para o
‘’dominium’’: é a concepção patrimonial do poder.
Ao invés, Freitas do Amaral contesta este ponto de vista, falando de um tipo de Estado
Medival e definindo – lhe as características por forte descentralização política, concepção
patrimonial das funções públicas, colocação do principio como centro da vida política
(monarquia de direito divino), elaboração das doutrinas da origem popular do poder (São
Tomas de Aquino) e surgimento dos primeiros documentos esboçando a definição de
garantias individuais facxe ao Estado (Magna Carta).
E. Estado moderno
É tipo histórico característico da idade Contemporâneo (Séc. XVI a XX). Trata – se assim de
um período bastante extenso, ao longo do qual é por isso possível identificar e isolar várias
evoluções, por vezes até em sentidos contraditórios. O Estado Moderno serve de base à
Ciência Política. Esta é uma consequência da própria modernização da sociedade que
começa no séc. XVI e culmina com a Revolução Industrial. Este processo tem um elemento
central, a tecnologia. Esta modernização possibilita igualmente uma maior mobilidade social.
A sociedade moderna é caracterizada pela tecnologia, pelo aumento da produtividade, pela
mobilidade da população e pelo aparecimento de novos grupos sociais. É a época da
ascensão da Burguesia. Outra novidade do Estado Moderno é a nova forma de legitimação
de poder. Antes quem legitimava o poder era um Deus Absoluto, mas quem vai se tornar o
novo elemento legitimador é o Povo. Assim, surgem novas Instituições como os
Parlamentos, onde o povo se faz representar.
Este Estado Moderno não nasceu de uma só vez, mas foi o resultado e um longo processo
de mais e três séculos. A fase mais antiga é a Monarquia. A Monarquia acompanha o
desenvolvimento do Estado Moderno e vai, pelo processo de burocratização, lançar a
primeira forma de Estado Moderno. Por isso se diz que D. João II foi o primeiro monarca
moderno em Portugal.
82
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Ciência Político e Direito Constitucional,
Lisboa, Universidade de Lusíada Editora, pág. 58.
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colonizou quase toda a Europa sendo um exemplo a Hispânia região onde hoje fica Portugal
e Espanha. Antes dos romanos, os fenícios tinham também estabelecido colónias a toda a
volta do Mediterrâneo e na Península Ibérica, tendo-se também estabelecido em Goa por
volta de 1775 a.C.; mais tarde, os árabes ocuparam muitas partes dessa região, para além
de regiões a oriente e conquistaram quase toda a Visigotia na Península Ibérica que se
tornou conhecida como Al Andaluz.
No final da Idade Média na Europa, alguns países costeiros – dos quais o primeiro foi
Portugal – começaram a explorar o mundo, como forma de expandir os seus mercados.
Primeiro, estabelecendo acordos com os povos que “descobriam”, mas depois entrando em
conflito com eles – e uns com os outros – no sentido de tentarem obter o monopólio de
determinados produtos e rotas comerciais. Esta foi a primeira forma de imperialismo, em que
vários países europeus, principalmente Portugal, Espanha, França e a Inglaterra (mais tarde
o Reino da Grã-Bretanha), constituíram grandes impérios coloniais abrangendo praticamente
todo o mundo.
c. Colonização recente
A exploração desenfreada dos recursos dos territórios ocupados – incluindo a sua
população, quase totalmente aniquilada, como nas Américas, ou transformada em escravos
que espalharam pelo resto do mundo, neste caso aproveitando-se das sociedades
escravocratas africanas – levou a movimentos de resistência dos povos locais e, finalmente
à sua independência, num processo denominado descolonização, terminando estes impérios
coloniais em meados do século XX.
Em uma situação colonial, os nativos do território colonizado carecem de autonomia —
embora possam estar politicamente representados em corpos governamentais— e estão
sujeitos à soberania do território metropolitano. Grande parte da África e a totalidade da
América foram colônias das potências da Europa durante séculos (especialmente entre o XV
e o XIX), até que as guerras de independência do século XIX e o processo de
descolonização auspiciado pela ONU imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial
permitiram aos territórios ganhar sua independência.
d. Situação actual
Actualmente, 16 territórios no mundo são considerados colónias (Anguilla, Bermuda,
Gibraltar, Guam, Ilhas Caimão, Ilhas Malvinas, Turks e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas
Virgens Americanas, Montserrat, Nova Caledônia, Pitcairn, Saara Ocidental, Samoa
Americana, Santa Helena e Tokelau), ainda que a denominação possessões ultramarinas
contenha um bom número de entidades sujeitas a um status jurídico similar. Outras
69
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
unidades, ainda que não correspondam exactamente a esta definição, são consideradas às
vezes colónias por elementos nacionalistas, como as Ilhas Canárias.
Não existem colónias no sentido político estrito referido acima - a última a ganhar a sua
independência foi provavelmente o Timor-Leste, em 2002 -, mas existem colonatos nos
territórios árabes ocupados por Israel e o Saara Ocidental encontra-se ocupado pelo
Marrocos, o que podem considerar-se formas de colonização.
Por outro lado, a ingerência das potências industrializadas nos assuntos internos de outros
países menos desenvolvidos, tem sido considerado como uma forma de colonização,
referida como neocolonialismo. Como exemplos, podem apontar-se a exportação massiça
de armamento russo para Moçambique e outros países recém-independentes ou a recente
invasão do Iraque pela coligação de países ocidentais.
Alguns territórios decidiram democraticamente manter-se ligados à antiga potência colonial,
como “territórios ultramarinos”, que gozam de autonomia, têm governo próprio e apenas se
subordinam à “mãe-pátria” em termos militares e diplomáticos, não podendo, portanto,
considerar-se colónias, no sentido político do termo. Exemplos destes territórios são várias
ilhas das Caraíbas, como Guadeloupe e Martinica, que são dependências de França, as
Antilhas Holandesas e a Bermuda, dependente do Reino Unido.
SECÇÃO IV ELEMENTOS CONSTITUÍDOS DO ESTADO
A. O Povo
a. Noção ‘’ o conceito Povo’’
O povo é o conjunto de indivíduos que se encontram ligado ao Estado pelo vínculo da
nacionalidade ou cidadania. É portanto, um conceito ilustrativo de uma realidade especial
que é a relação em que individuo se acha para com a sociedade politicamente organizada a
que pertence.83 Mas facilmente se depreende que a noção que a expressão ‘’povo’’ se pode
confundir com outras afins, tais como a nação ou a população. No que toca á primeira vimos
que já que, por vezes são considerados como sinónimos os conceitos de povo de um Estado
e de uma nação. Todavia, como se referiu, o que a é próprio da Nação é sobretudo o
elemento espiritual e cultural, o que afasta, desde logo, qualquer tipo de similitude entre os
dois conceitos. Já que á destrinça entre povo é população as dificuldades são menores.
População é um conceito económico – demográfico de Natureza fática, que designa
conjunto de residentes em dado território, independentemente de serem nacionais,
estrangeiros ou apátridas, enquanto que o povo corresponde a uma noção jurídico – política
de conteúdo preciso, representando o conjunto de cidadão ou nacionais de cada Estado.
b. Cidadania ou nacionalidade
83
SOUSA, Marcelo Rebelo de. Direito constitucional, Lisboa, Universidade Lusíada editora, pág.110.
70
Ciência Política e Direito Constitucional
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A privação: é o acto pelo qual o Estado retira, por razoes várias, a um seu nacional.
Em matéria de cidadania podemos distinguir: a cidadania plena e semi cidadania, a
cidadania activa e a cidadania passiva.
A cidadania plena é aquela que envolve o reconhecimento do conjunto de direitos e deveres
que certa ordem jurídica atribui aos seus cidadãos. A semi cidadania verificava – se nas
sociedades colonizadas, nas quis os súbditos não foram considerados cidadãos para efeitos
do respectivo estatuto, daí decorrendo a normal não concessão de direitos políticos.
A distinção entre a cidadania activa e não activos nascem nos primórdios do
constitucionalismo e assenta na posse ou não da capacidade eleitoral. A cidadania activa é
pois a que consiste no exercício concreto de direitos que traduzem uma efectiva participação
na escolha e condução do poder político (maxime, o voto) 87 e a cidadania não activa é
aquela em que os direitos políticos sofrem limitações (caso dos menores). A situação de
86
MANIN. Philippe., Droit international public, Paris,1979, pág.201.
87
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 79
72
Ciência Política e Direito Constitucional
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cidadania dupla ou plural, que ocorrem quando o mesmo individuo é considerado como seu
nacional por dois ou mais Estados.
B. O Território
O território, como elemento geográfico que é, baliza a actuação do poder político do Estado
e prende – se também, como vimos, com os requisitos para atribuição da cidadania ou
nacionalidade. Existe poder do Estado quando este consegue impor a sua autoridade sobre
certo território. O estado é um elemento imprescritível ao conceito de Estado, na medida em
que delimita o âmbito espacial de validade das normas emanadas dos órgãos do poder
político.88 O território de um Estado pode integrar o território terrestre, o território aéreo e o
território marítimo. Com efeito, se existência do território terrestre e aéreo é obrigatória, já o
território marítimo é eventual, na medida em que só os Estados costeiros dele dispõem e
muitos estados há que o não têm.
Solo
Terrestre
Subsolo
Aguas interiores
Plataforma
Fig.1
a. Território terrestre
O território terrestre abrange todo o espaço delimitado pelas fronteiras, que podem ser
definidas por recurso aos elementos naturais ou por via convencional. Jurisdição do Estado
sobre o seu território abrange não apenas o solo, mas também todo o subsolo e ele
subjacente. O Estado exerce aí soberania total, o que fica patente no facto de a entrada no
território, por parte de estrangeiros, estar tradicionalmente sujeita a autorização, a qual
assume a forma de visto89.
88
MIRANDA. Jorge., ‘’o Território’’in Estudo sobre a Constituição, Vol.II, Lisboa, 1978, pág.73
73
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
b. Território Marítimo
O Território Marítimo é o domínio de uma certa extensão de mar a partir das suas costas,
tem também sido sujeito a convenções internacionais que acabam por ser repercutir nos
ordenamentos jurídicos internos.
Na primeira conferência das Nações Unidas sobre o direito do mar, realizada em 1958 90, foi
assinada uma convenção sobre o mar territorial e a zona contígua de acordo com a qual
existe uma zona denominada mar territorial, adjacente ás costas do estado e á qual se
estende a soberania estadual. Se se assentou que a linha de base normal para medir a
largura dessa Zona é a linha da maré baixa, não foi possível chegar a acordo quanto á sua
largura. Só na terceira convenção das Nações Unidas 91 sobre o direito do Mar que teve início
no ano 1973 e terminou em 1982 se obteve um acordo quanto a largura do mar territorial.
Que foi estimado a 12 milhas marítimas (art.3).
A soberania do Estado Costeiro exerce sobre o seu mar territorial é quase plena e respeita
não apenas ás águas, mas ao solo e subsolo correspondente, encontrando – se contudo
limitada por um instituto de natureza consuetudinárias designado direito de passagem
inofensiva, segundo qual os navios de qualquer Estado gozam de direito de passagem no
mar territorial de outro Estado quer para se dirigir para ás águas interiores ou porto, quer
somente para o atravessarem, passagem que não deve ser prejudicial á paz, a boa ordem
ou á segurança do Estado Costeiro92. As águas interiores, referidas no artigo 8 da convenção
de Montego Bay, incluem realidades tão díspares como os portos, as enseadas e molhes, as
baias históricas, os estuários, etc., e nelas o ‘’ius imperii’’ do Estado não sofre quaisquer
limitações, excepto aquelas que o mesmo eventualmente aceite, por via convencional.
Diferente é a Zona Contígua, que é um domínio que poderia atingir uma largura máxima de
12 milhas marítimas93 sobre o qual o estado Costeiro exerceria apenas poderes de
fiscalização em matéria de emigração, sanitária, aduaneira e fiscal. A convenção de
Montego Bay aumentou esta largura a 24 milhas marítimas 94. As Zona Económica Exclusiva,
cuja extensão é fixada em 200 milhas marítimas, não está sujeita á plena jurisdição do
Estado, não integrando o seu território, na medida em que o Estado Costeiro goza de
poderes limitados, ligados sobretudo á prossecução de fins de natureza económica como
89
TOUSCOZ. Jean, Droit international, Paris, 1993, pág. 142
90
A conferência de 1958 proporcionou a assinatura dos seguintes documentos:
a. Convenção sobre o Alto Mar
b. Convenção sobre o Mar territorial e Zona contígua
c. Convenção sobre a plataforma continental
91
Terceira convenção das Nações Unidas sobre o direito do Mar, foi realizado em Montego Bay de 1973 a 1982
92
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 98
93
Artigo 24 nº2 Convenção de Genebra de 1958
94
Artigo 33 Convenção de Montego Bay
74
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
95
Artigo 58 Convenção de Montego Bay
96
Artigo 2 nº2 convenção das Nações Unidas sobre o direito do Mar
97
Artigo 1 da Convenção de Chicago de 1944
98
A doutrina de STIMSON (Secretário do Estado Norte Americano) consagrou o principio segundo qual não
podem ser objecto de reconhecimento as situações criadas pelo uso da força fora dos casos aceite pelo Direito
Internacional Público, a carta das Nações Unidas Artigo 2 nº3 consagra o principio da resolução pacifica dos
litígios como prevê no mesmo artigo nº4 que não pode ser admitido o recurso á força contra a independência
nacional ou a integridade territorial dos de outro Estados. Definindo assim que a força pode ser usada em
legitima defesa, a ocupação como meio de aquisição do território não é lícita.
75
Ciência Política e Direito Constitucional
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A sucessão dos Estado pode decorrer de quatro tipos de situações, todas elas envolvendo
mutações territórios;
Cessão – passagem de parte do território de um Estado para a soberania de outro
Estado (a qual pode ocorrer o título gratuito ou oneroso);
Descolonização – ascensão á independência de um Estado que era anteriormente um
território dependente;
Unificação – união de dois ou mais Estados num mesmo Estado;
Separação – criação de dois ou mais Estados a partir do território de um Estado;
independentemente do desaparecimento ou da mutação do anterior Estado.
e. Relevância jurídica – politica do território.
È tripla a relevância jurídico – política do território:
Constitui condição de independência nacional;
Circunscreve o âmbito do poder soberano do Estado;
Representa um meio de actuação jurídico – política do Estado. 99
C. O poder Político
a. O conceito ‘’ Poder Político’’
O poder político é a faculdade de traçar as estruturas e os rumos da vida comum e impor o
acatamento das directivas e das normas para uma e outra coisa estabelecidas 100. Marcelo
Rebelo de Sousa o define como a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade
própria, instituir órgãos que exerçam, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um
território, nele criando e executando normas jurídicas, usando os necessários meios de
coacção101. Marcelo Caetano define o Poder político como a faculdade exercida por o povo
de, por autoridade própria (não recebida de outro poder) instruir órgão que exerçam o
senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos
necessários meios de coacção102.
Independentemente da opção por uma destas definições ou por qualquer outra, parece
sobretudo útil analisar sob três prismas, os seus elementos caracterizadores:
Como surge;
Objectivos que prossegue
Em que se traduz.
O poder político erigido por um povo em certo território tem natureza originária, porquanto o
acto da sua instituição encontra o seu fundamento numa vontade própria e decorre de uma
manifestação da mesma, não dependendo portanto de qualquer outra. O que significa
99
SOUSA. Marcelo Rebelo de. Op. Cit.pág.123.
100
GUEDES. Marques., Ciência política, Lisboa, pág.43.
101
SOUSA. Marcelo Rebelo de. Op. Cit.pág.129.
102
CAETANO. Marcelo, Ciência política e Direito Constitucional, Coimbra, 1999,Vol. I. pág. 130.
76
Ciência Política e Direito Constitucional
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também que o poder político é um poder funcional, toso o Estado surge necessariamente por
obra de um poder constituinte, independentemente dos modos e formas a sua manifestação.
Ora poder político e órgãos de soberania são, evidentemente, realidades distintas, porquanto
o primeiro é prévio aos segundos e constitui o título legitimador da existência e
funcionamento destes.
A instituição de quaisquer poder político visa, como é evidente, a prossecução de
determinados objectivos, habitualmente designados como fins do Estado mas aos quais,
como já atrás referimos seria mais adequado chamar fins do poder político, uns de carácter
Em primeiro lugar, o exercício do poder deve ter por omissão a organização da vida
colectiva. Se um determinado povo se assenhoreou de um território e nele institui uma nova
realidade política, há que garantir a organização e estabilidade dessa comunidade
estruturada. Em que é que se traduz ‘’in concreto’’ O poder político manifesta – se,
primariamente pela definição de opções político – legislativas, ou seja. Através da adopção
de decisões fundamentais para o futuro colectivo. Exercê – lo é, antes de tudo, governar, ou
seja, decidir atentas as diferentes possibilidades que a cada momento se colocam. O uso da
força é uma condição necessária, mas não suficiente, para a existência do poder político. O
que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação aos outros
grupos que num determinado contexto social. Face á insuficiência do critério da força,
podemos aludir a três pontos essências para a definição do poder político estadual:
exclusividade, universalidade e inclusividade.
Ao aludirmos á exclusividade temos em mente ‘’a tendência que os detentores do poder
político manifestam em não permitir, no sentido de domínio, a formação de grupos armados
independentes, e em subjugar ou desbaratar aquele que se venham a também atentar para
as infiltrações, as ingerências ou as agressões do grupos políticos externos.
77
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
CAPÍTULO II.
FORMAS DE ESTADO E GOVERNO
103
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 98
78
Ciência Política e Direito Constitucional
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79
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
”O Estado Unitário é o Estado Padrão. A teoria clássica da soberania nacional foi
concebida em referência a essa forma normal de Estado, e as características da
soberania – unidade, indivisibilidade, imprescritibilidade e inalienabilidade – só ao
Estado Unitário se aplicam integralmente.”
O Estado unitário pode compreender vários modelos, que se reconduzem ao menor grau de
descentralização administrativa e política, sem que todavia deixe de existir um único centro
de poder, um só ordenamento jurídico e apenas uma Constituição. Assim o Estado Unitário
pode compreender formas tão distintas como o Estado centralizado (com ou sem
desconcentração), o Estado administrativamente descentralizado e O Estado regional ou
autonómico sendo este último por vezes tratado como categoria á parte um ‘’tertium
genus’’entre o Estado Composto e o Estado Simples104.
Sem desconcentração
Centralizado administrativa
Com desconcentração
administrativa
Estado Unitário
Administrativamente
Descentralizado
Administrativamente e politicamente
(Estado regional ou autonómico
106
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 169
107
AMARAL, Freitas do,. Direito Administrativo, Vol I, Coimbra, 1986, pp.657 e ss
108
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 171
81
Ciência Política e Direito Constitucional
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Poder Central, mesmo possuindo uma Carta Política própria está submetido
constitucionalmente ao Estado Unitário.
B. Estado Composto ou Complexo
Na forma composta, o Estado é sempre um, ou pelo menos, assim se apresenta na vida
internacional e também é formado por mais de um poder agindo sobre o mesmo território, de
maneira harmoniosa.
São consideradas formas compostas de Estado:
a. as Uniões (pessoal, real e incorporada);
b. as Confederações;
c. as Federações.
Obs.: Alem dessas, há outras formações políticas, como a Comunidade Britânica de Nações.
a. As Uniões
a) As Uniões: estas foram próprias do período monárquico, e, com o enfraquecimento
deste, já não oferecem interesse. As uniões originaram-se das circunstâncias políticas e
sociais então vigentes, e, desapareceram.
- A União Pessoal:apresenta um único monarca.
Estados gozam de autonomia no plano interno e externo Representam uma situação
temporária
Ex: Portugal e Espanha sob Felipe II, Felipe III e Felipe IV
- A União Real: embora cada Estado continue tendo autonomia interna, a vida
internacional é comum, sob o poder de um só monarca. Ex: Suécia e a Noruega, Áustria e a
Hungria durante muitos anos.
- A União Incorporada: Estados desaparecem para constituir um terceiro, o que significa a
criação de um novo Estado. Os antigos reinos da Inglaterra, Escócia e Irlanda, eram
independentes, passando posteriormente a formar a monarquia britânica.
b. As Confederações:
Em ciência política, a confederação é uma associação de Estados soberanos, usualmente
criada por meio de tratados, mas que pode eventualmente adoptar uma constituição comum.
A principal distinção entre uma confederação e uma federação é que, naquela, os Estados
constituintes não abandonam a sua soberania, enquanto que, nesta, a soberania é
transferida para a união federal. As confederações costumam ser instituídas para lidar com
assuntos cruciais como defesa, relações exteriores, comércio internacional e união
monetária.
82
Ciência Política e Direito Constitucional
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83
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
Podemos definir o Estado Federal como um estado formado pela União de vários estados;
"É um Estado de Estados".
Esta definição se ajusta a um conceito de Direito Público interno, o qual tem por objectivo o
estudo das unidades estatais na sua estrutura intima. Devemos ressaltar que o Estado
Federal se projeta como Unidade não como Pluralidade.
O Prof. Pinto Ferreira formulou a seguinte definição: "O Estado Federal é uma organização
formada sob a base de uma repartição de competências entre o governo nacional e os
governos Estaduais, de sorte que a União tenha supremacia sobre os Estados-Membros e
estes sejam entidades dotadas de autonomia constitucional perante a mesma União".
A forma federativa moderna se estruturou sobre bases de uma experiência bem sucedida
norte-americana e não sobre bases teóricas.
b). Características essenciais
São características fundamentais do sistema federativo, segundo o modelo norte-americano:
- Distribuição do poder do governo em dois planos harmônicos (federal e provincial).
O governo federal exerce todos os poderes que expressamente lhe foram reservados na
Constituição Federal, poderes esses que dizem respeito às relações internacionais da União
ou aos interesses comuns das Unidades Federadas. Os Estados-Membros exercem todos
os poderes que não foram expressa ou implicitamente reservados à União, e que não lhes
foram vedados na Constituição Federal. Somente nos casos definidos de poderes
concorrentes, prevalece o principio da. superioridade hierárquica do Governo Federal;
- Sistema Judiciarista, consistente na maior amplitude e competência do poder judiciário,
tendo esse, na sua cúpula, um Supremo Tribunal Federal, que é órgão de equilíbrio
federativo e de segurança da Ordem Constitucional;
- Composição bicameral do Poder Legislativo, realizando-se a representação nacional na
câmara dos deputados e a representação dos Estados-Membros do Senado Federal sendo
esta última representação rigorosamente igualitária;
- Constância dos princípios fundamentais da Federação e da Republica, sob as
garantias da imutabilidade desses princípios, da rigidez Constitucional e do instituto da
Intervenção Federal.
O sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal,
cada um conservando sua autonomia, chama-se federalismo.
São exemplos de Estados federais a Alemanha, Austrália, o Brasil, o Canadá, a Índia, a
Malásia, o México, a Nigéria, a Rússia, a Suíça e os Estados Unidos.
c. Problema da soberania
84
Ciência Política e Direito Constitucional
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85
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
para o Estado Federal. O grande papel dos estadistas portugueses e da colónia foi manter a
unidade territorial do país. As causas sociais da origem do federalismo brasileiro são,
portanto visíveis. É a própria imensidão territorial obrigando a uma descentralização do
governo, a fim de manter a pluralidade das condições regionais, tudo integrado na unidade
nacional.
D. Estado composto e associações de Estados.
A federação americana nasceu da confederação e da constatação das insuficiências.
Contudo a matriz confederal não é a única a evoluir para o federalismo, pois como já foi dito,
estados unitários, como Brasil e Áustria deram lugar a Estados federais.
Ou seja, é possível falar de um federalismo centrípeto, resultante da associação livre de
Estados originariamente independente e soberanos e de um federalismo centrífugo, em que
Estados Unitários dão origem a Estados Federais. Como formas de Estado composto o
Estado Federal ou a União Real compartilham de aspectos das associações de Estados,
como as organizações supra nacional ou as confederações, podendo mesmo dizer – se que
são formas mais intensas de Associação de Estados, dando origem a um novo Estado 109.
E. Distinção entre a federação e confederação
Parece clara a distinção entre confederação e federação, atento até o exemplo norte
americana. Na primeira, cada Estado membro conserva a sua soberania e independência,
excepção feitas ás competências que são vazadas na confederação por força do pacto
confederal no fundo uma aliança entre Estados – que em regra respeitam a assuntos
internacionais. Os órgãos confederais têm poderes delegados pelos Estados e não poderes
próprios, sendo que a execução das decisões da confederação há – de fazer – se através
dos órgão internos dos Estados e não mediante acção directa da confederação. A
confederação como aliança de Estados não retira ou reduz a soberania dos Estados
membros. Trata – se de um acordo entre Estados que pode ser desfeito em qualquer
momento, podendo verificar – se mesmo a secessão de um ou mais Estados,
permanecendo os restantes na confederação. Os Artigos da confederação Norte Americana
enfatizavam justamente esse ponto: ‘‘cada Estado manterá a sua soberania, liberdade e
independência e o poder, jurisdição e direitos que não sejam expressamente delegados por
esta confederação para os Estados Unidos reunidos em Congresso’’ (Artigo 2) 110.
Mais delicada é a destrinça entre a confederação e as organizações supra nacionais, como a
união Europeia. Trata – se de uma temática sujeita hoje a um profundo debate – saber quais
as fronteiras entre os Estados compostos e as organizações de Estados, como as
organizações supranacionais e nestas qual o lugar, por exemplo de união Europeia, como
109
MIRANDA. Jorge, Op.cit, Vol. III, pág. 221.
110
DALLARI. Dalmo de Abreu, O Estado Federal, São Paulo, 1986,pp.12 e ss.
88
Ciência Política e Direito Constitucional
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caso de escola mas que, em vigor, extrava o âmbito da teoria Geral do estado. A sede do
seu estudo pertence claramente, ao Direito Internacional Público.
SECÇÃO II. FORMAS DE GOVERNO
A. Noção de formas de governo e figuras afins
O professor Marcelo Caetano designava por forma política de Estado, a maneira que as
sociedades encontram – se organizada de acordo com um determinado modelo de
Estruturação do poder política 111. Este doutrinário distinguia no conceito de ‘’forma política do
Estado’’ duas áreas fundamentais: o Regime Político e o sistema de governo. O regime
político defina – se ‘’ considerando as concepções fundamentais das relações entre individuo
e a sociedade política cuja ideologia e poder político tem por missão verter na ordem
jurídica’’ e o sistema de governo era determinado atendendo á ‘’ titularidade e estruturação
do poder político, de molde a determinar quem é considerado o titular dele e quais os órgão
estabelecidos para o seu exercício’’.
Aquilo que Caetano designa de forma política do Estado, é estudado por outros autores
como forma de governo, sistema político ou mesmo forma de Estado. Giafranco Pasquino
alude ás formas de governo identificando as presidenciais, parlamentares e semi –
presidenciais112. Olivier Duhamel, como alias grande parte da doutrina francesa, considera o
sistema político o significado de sistema de governo na concepção marcelista 113.
Na doutrina portuguesa, Gomes Canotilho estuda o parlamentarismo e o presidencialismo
sob etiqueta combinada de forma de governo e sistema político 114. Jorge Miranda, por seu
lado, dá à expressão forma de governo um significado mais amplo que a aproxima do
conceito de regime político de Marcelo Caetano 115. Marquês Guedes atribui à
expressão’’sistema político’’ um sentido mais amplo que parece consumir as ideias de
regime e sistema de Governo116.
Do que se trata é de estudar o exercício do poder político, ou seja a forma como se exerce á
autoridade suprema nem data comunidade política. E, sendo necessário que não
esquecemos o contexto histórico de tal matéria, sobre tudo na óptica das tipologias –
classificas umas, contemporâneas outras – daremos prioridade ao estudo do Estado
Moderno. Saber quem governa e como se governa, são questões que dizem respeito á
forma de governo, designação que preferimos pelas razoes que adiante se explicitarão.
111
CAETANO, Marcelo., op. cit. 6ª Edição, 1983,pp. 201 e ss.
112
PASQUINO., Gianfraco, Curso de Ciências Política, Lisboa, 2002, 2002, pp.238 e ss
113
DUHAMEL.Olivier,. Les Démocraties, Regimes, Histoires, Exigences, Paris, 1993
114
CANOTILHO., Gomes, Direito constitucional e Teoria da constituição, Coimbra, 7ª edição, 2003, pp. 573 e
ss.
115
MIRANDA. Jorge, Governo (forma e sistema de), in Polis, Enciclopédia Verbo da
Sociedade e do Estado, Lisboa, 1985, vol. III, clos.76 ess.
116
GUEDES Marquês., Sistema Políticos, Coimbra, 1990
89
Ciência Política e Direito Constitucional
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90
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
117
MAQUIAVEL., Nicolas,Oeuvres, Paris, 1996
118
MONTESQUIEU., Esprit dês Lois (vol. II), Paris, 1979
91
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
Comunista
Nacionalista
a. Totalitário: Autoritário
Fundamentali Con
s
sta ado erv
r
nd Fu
A forma democrática caracteriza – se por assentar num valor fundamental
en amde natureza talis
t
secular, que se traduz na realização da vontade popular. Por isso, oa funcionamento do
sistema democrático exige a conciliação das divergências no quadro de um mínimo
denominador comum estrutural, que são normas constitucionais que garantem o acesso ao
poder político e a possibilidade da alternância no seu desempenho. O sistema autocrático
engloba o totalitarismo, o autoritarismo e a monarquia tradicional. O totalitarismo caracteriza
– se pela existência de valores últimos de carácter sagrado, que definem uma religião
política. Os comunistas através da realização da revolução social que estabeleça a
igualdade social sem classe e sem Estado, os nazis e fascistas, unificando os interesses das
classes na suprema unidade do Estado como representante dos interesses superiores da
nação. O sistema fundamentalistas corresponde à reacção integrista religiosa do século XX
119
BURDEAU., Georges, Traité de Sciencie Politique, Paris, Tomo IV, 1952
120
BREY., Luís Bouza -., El Poder y los sistemas políticos, In Manual de Ciencias Política(miquel Caminal
Badia, ed.), Madrid, 1999, pp. 73 e ss.
92
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121
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Op.cit , pág. 211.
122
CAETANO. Marcelo. op. cit. Pp.372 e ss.
123
MIRANDA. Jorge, Ciências Políticas, Formas de Governo, Lisboa, 1992, pp.30 e ss.
124
MIRANDA. Jorge, Direito Constitucional, vol, Tomo III, 5ª ed., 2004, pp. 322 e ss
93
Ciência Política e Direito Constitucional
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o grau do controlo por parte dos cidadãos do poder politico e a efectiva possibilidade
de alternância de cidadãos ou grupos no exercício do poder 126;
b. Tipologia clássica dos regimes políticos
1. Monarquia
Do grego monos, um, e arche, governo, ou seja, governo de um.
Forma de governo caracterizada por ser exercida por apenas uma pessoa e também por ser
vitalícia. Excepção a esta regra é a dos é foros, dois reis que governavam Esparta, dividindo
o poder, e assessorados por um Senado. A monarquia, considerada a primeira forma de
governo existente na História, pode ser absoluta ou constitucional.
A monarquia absoluta
A monarquia absoluta caracteriza-se pela concentração do poder e pelo arbítrio do rei, que
governa desvinculado de qualquer limitação jurídica (solutus legibus).
A monarquia constitucional
A monarquia constitucional mostra-se limitada pela lei: rex sub legem quia lex faciat regem.
A monarquia constitucional subdivide-se em monarquia constitucional pura e monarquia
constitucional parlamentar.
125
DUVERGER. Maurice., Os grandes sistemas Políticos. Coimbra, Almedina, 1985, p. 12.
126
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 217
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4. Tirania - Despotismo
A tirania é uma forma autocrática de exercício do poder político que tem origem asiática,
passando para a Grécia a partir do século Vl a.C. O vocábulo tirania tanto pode ser originário
da Lídia, sendo o rei Giges o primeiro a ser chamado tirano, como de Canaã, de serens,
nome bíblico atribuído aos filisteus de origem nobre.
Pode, até, ser originário dos etruscos, da expressão turan, que significa poder ou senhoria,
ou de nomes próprios da Etrúria (o rei Turuns ou deusa Juturna). Aliás, já se disse que os
etruscos, que desenvolveram a mais adiantada cultura da antiga Itália, antes dos romanos,
eram descendentes dos lídios, sendo sua origem asiática, portanto.
O tirano não altera, geralmente, a Constituição. As magistraturas são mantidas, devidamente
encarnadas em homens de sua inteira confiança. O conselho e a assembleia determinam a
nova política, embora severamente fiscalizada pelo tirano, que se faz acompanhar,
prudentemente, de robusta guarda pessoal. A aristocracia é perseguida 127.
Liberdade, para o proletariado, quer dizer governo dos ricos; tirania significava o governo de
um líder anti aristocrático e, indirectamente, popular. Segundo o próprio Aristóteles, o tirano
não tinha por missão mais do que proteger o povo contra os ricos, sendo da essência da
tirania a guerra à aristocracia. A tirania é oriunda, em última análise, dos anseios de uma
burguesia florescente e, paradoxalmente, da miséria das massas e, claro, da audácia de
indivíduos sequiosos de poder e decididos a tudo para triunfar.
A tirania decadente tornar-se-ia hereditária; então, as qualidades de energia, audácia e
talento político, peculiares ao bom tirano, já se faziam escassas. A tirania arcaica continha
em si mesmos os germes de seu desaparecimento, ou seja, a composição das crises sociais
que a originaram. Com o desaparecimento destas, mediante as próprias reformas tirânicas,
os cidadãos desejariam o retorno a uma forma de governo regular, em que o exercício do
poder não se limitasse a um só homem. A tirania foi, na verdade, uma etapa necessária no
caminho da democracia, pois à tirania se sucede uma aristocracia moderada.
5. Nepotismo
Expressão derivada de nepos, espécie de escorpião, cujas crias, assentando-se sobre o
dorso materno, devoram-no pouco a pouco. Assim, conforme San Isidoro, em suas
etimologias, tem-se por nepos aqueles que dilapidam os bens de seus parentes, também
denominados nepotes. Nepotatio, então, vem a ser o acto de gastar, abusivamente, o
dinheiro dos pais.
Forma impura de governo na qual os governantes visam tão-somente o bem particular
próprio e o dos parentes. Pode também ser definido como o prática pela qual uma
127
CLÁUDE, Mossé, , La Tyrannie dans la Grece Antique, Paris, Presses Universitaires de France, 1969
96
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autoridade pública nomeia um ou mais parentes próximos para o serviço público ou lhes
confere outros favores, a fim de promover o prestígio da família, aumentar a sua renda ou
ajudar a montar uma máquina política, em lugar de cuidar da promoção do bem-estar
público. O aspecto familiar distingue nepotismo dos termos mais amplos, porém intimamente
relacionados, "pistolão" e empreguismo128.
c. Tipologia contemporâneo dos regimes Político
Podemos reduzir os regimes políticos em dois tipos: regimes políticos democráticos e regime
políticos ditatoriais.
1. Regimes políticos democráticos
No regime democrático entende – se que o poder político pertence originariamente a toda a
colectividade, ao povo, e a sua tipologia é mais complexa. Pode ser, quanto ao exercício do
poder político e aos respectivos órgão, direito e representativo. Estes podem ainda
comportar subtipos.
Direito
de concentração de
Semi – direito poderes
Regime político democrático
Parlamentar
Representativo
de separação do poderes Presidencial
Semi - presidencial
- Democracia directa
A democracia directa pressupõe o exercício permanente do poder político pela totalidade
dos cidadãos activos reunidos em assembleia plenária da colectividade 129. Consiste no
exercício integral das funções próprias do poder político pela assembleia geral dos cidadãos
– activos do Estado. É a forma perfeita do exercício da soberania popular. Actualmente a
democracia directa manifesta – se no referendo e o direito de iniciativa popular.
- Democracia Semi – directo
A democracia Semi – direito combina o exercício do poder pelos cidadãos eleitores com o
exercício do poder pelos seus representantes. Coexistem mecanismos próprios da
democracia representativa e os mecanismos da democracia directa. A constituição prevê a
existência de órgão com titulares eleitos, mas condiciona a validade de certas deliberações à
vontade do próprio povo, constituído pela totalidade dos cidadãos eleitores 130.
- Democracia representativa
128
Dicionário de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, FGV, 1986
129
SOUSA. Marcelo Ribelo de,. Direito constitucional, Lisboa, Faculdade de Direito, 1979, p. 324.
130
CAETANO. Marcelo., Ciência Política e Direito Constitucional. Tomo I. 6ª Coimbra, Almedina, 1992, p.371.
97
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131
Ibidem.
98
Ciência Política e Direito Constitucional
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fechado, correspondendo aos regimes políticos ditatoriais com exemplos histórico nos
Estados da Europa de Leste132.
Cesarista
Monocrático
Autocrático
Hitler, Mussolini). Mas o líder autoritário actua arbitrariamente no quadro de limites mal
definidos, enquanto que o líder totalitário não tem limites à actuação. O líder totalitário age
não só de forma arbitrária, mas também com recurso ao terror, com violência imprevisível,
de modo a manter vivo o medo nos cidadãos sujeitos ao regime.
Na análise do regime totalitário há todavia mais dois pontos complementares que são
importantes:
a. O monopólio estatal dos ‘’Mass Media’’, essencial para manter o poder
totalitário, a capacidade de mobilização e a presença de um partido único
organizado, de modo a aplicar o terror em extensão e profundidade.
b. A ideia de ‘’universo concentracionário’’ com permanente recurso ao terror,
cremos que traça bem a característica básica do totalitarismo 133.
Em resumo, o totalitarismo é uma forma de domínio radicalmente nova, porque não se limita
a destruir as capacidades polípticas do homem, isolando – o em relação á vida pública,
como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas procura destruir os grupos e
instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando – o estranho ao
mundo e privando – o do próprio eu.134
O regime designado de pós – totalitarismo introduz – nos na problemática das transacções e
mudanças políticas que constitui um dos temas ultimamente mais tratados nas ciências
políticas. O pós – totalitarismo significaria a evolução sofridas pelos antigos regimes
totalitários no que respeita ao pluralismo, a ideologia, á mobilização e à que nuns casos
poderá ocorrer, em outros não. Casos como a China, Coreia do Norte.
B. SISTEMAS DO GOVERNO
a. Definição
O sistema de governo stritu sensu define – se em termos meramente técnicos como a forma
como entre si se relacionam os diversos órgãos do poder político soberano; quer do ponto
de vista do seu modelo e estruturação normativas, quer no ponto de vista das situações
fácticas concretamente desenvolvidos (da pratica constitucional)135. Perante a variedade de
regimes, é possível configurar uma grande diversidade de sistemas de governo, como atrás
já se verificou nas tipologias globais de governo proposta por Jorge Miranda. Todavia, não
vamos exaurir todas as diversas tipologias de sistemas de governo, mas concentrar o nosso
estudo na análise sintética dos tipos fundamentais de sistemas de governo democráticos e
de maior relevo contemporâneo: em primeiro lugar os sistemas parlamentar, presidencial e
133
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 236
134
Ibidem
135
SOUSA., Marcelo Ribelo de., op.cit.p.12
100
Ciência Política e Direito Constitucional
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O sistema parlamentar é fruto de uma longa evolução, que se delineou historicamente muito
antes do sistema de governo presidencial, o qual foi buscar àquele o seu modelo de
instituições. Prima facie distingue – se do sistema de Governo presidencial pela colaboração
de podres que o caracteriza, expressão de uma separação flexível de poderes.
1.1.Características fundamentais do sistema de governo parlamentar
Um dos princípios fundmentais do sistema parlamentar reside no controlo do governo pelo
Parlamento e, a partir de certo momento histórico, na colaboração mútua. Daí que uma das
características essenciais do sistema parlamentar consista na responsabilidade política
exclusiva do Governo perante o Parlamento. Para além desta, importa salientar:
a. O chefe do Estado é só a mais alta autoridade do país mais não é o chefe do governo.
Ele dispõe, apenas, de poderes formais de representação, caracterizando – se pela sua
neutralidade institucional e partidária. Pode ser um monarca (monarquia constitucional9
ou um presidente da República eleito indirectamente pelo Parlamento ou por um colégio
eleitoral). Apesar de nomear e exonerar os ministros, está porem condicionado a fazê –
lo de acordo com as indicações do Parlamento e o Gabinete não responde perante si,
embora chefe do Estado e o governo sejam as partes componentes do Executivo –
Diarquia do executivo. O chefe de Estado é politicamente irresponsável, pelos os
conflitos entre o Governo e Parlamento;
b. O Governo é politicamente responsável perante o parlamento. Este, por intermédio da
última rácio do controlo parlamentar pode aprovar uma moção de censura ao Governo
ou, em sentido negativo, não aprovar uma moção de
confiança pedido pelo executivo, levando à sua demissão 137, (como resultante da
responsabilidade política, o Governo não pode iniciar ou continuar em funções sem a
confiança do Parlamento. Em principio, os ministros saem do próprio órgão
representativo, onde o Governo tem de estar permanentemente presente para justificar
as suas opções políticas, bem como sujeitar – se às interpretações e à censura
parlamentar);
c. O Governo é formado no quadro parlamentar e constituído pelos chefes dos partidos
maioritários ou coligações de partidos que tenha a maioria parlamentar. Os membros
do governo em integram o no Parlamento. 138
O PAINEL ILUSTRATIVO DO SISTEMA DE GOVERNO PARLAMENTAR
137
ARAÚJO, Raul C. Os Sistemas de Governo de transição democrática nos PALOP, Boletim da faculdade de
direito Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, p.33.
138
Ibidem
102
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Chefe de
Estado
Pres Rei
1º
Ministro
Governo Dissoluçã
Confianç o
a
Parlamento
Eleiçã
o
Povo
Puro ou assembleia
Gabinete
103
Ciência Política e Direito Constitucional
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139
SILVA. Maria Manuela Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional e Ciência
Política, Editora Rei dos Livro, 2000, p.279.
140
SILVA. Maria Manuela Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional e Ciência
Política, Editora Rei dos Livro, 2000, p.279.
104
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba
141
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 256
142
A partir do século XIV, o processo utilizado assumia a forma de lei votada pelos comuns. O Bill of attainder,
que atingia um determinado governante e que servia para pressionar a câmara dos Lordes no sentido da sua
condenação, tratava – se de um acto legislativo que carecia de sanção real, tendo sido rapidamente abandono
(ou entrado em desuso) em benefício do referido impeachent. Durante algum tempo o rei deteve a faculdade de
conceder o perdão aos condenados. Mas este poder foi – lhe retirado com o Act of settement, em 1701, para
evitar os conflitos entre o Parlamento e o Rei. O impeachement consistia a uma acusação contra um ou vários
ministros pela câmara dos Lordes.
143
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 258
105
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Veto
Presidente Parlamen
Suspensi to
vo
Governo
Eleição
Eleição
Povo
146
Hariou, André. op. cit. p.207.
107
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Direct
ório
Eleição
Parla
ment
o
Eleição
Povo
147
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 277
108
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Dissolução
Presidente Parlamento
da Republica
Suspensivo
Eleição
Governo
Eleição
Povo
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Chanceler Pesidente
Leis
Governadores de Landers
Tribunal Constitucional
de Karlsruhe 16 juízes
Landtang
Sufrágio universal
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