Aula 07
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"Os reis, aristocratas e tiranos, independentemente da nação a que pertençam, são escravos
que se revoltam contra o soberano da Terra, isto é, a humanidade, e contra o legislador do
universo, a natureza", declarou em 24 de abril de 1793 Robespierre, uma das figuras mais
importantes da Revolução Francesa.
Político "incorruptível"
Robespierre ajudou a fundar e foi líder do Partido Jacobino na Convenção Nacional
(parlamento francês de 1792 a 1795). Seus discursos captavam o espírito da França
revolucionária. "É natural que o bom senso avance lentamente. O governo viciado encontra
nos preconceitos, nos costumes e na educação dos povos um poderoso apoio. O despotismo
corrompe o espírito humano a ponto de ser adorado e, à primeira vista, torna a liberdade
suspeita e terrível", afirmara no discurso Contra a Guerra.
"Os habitantes de todos os países são irmãos; os diferentes povos devem se apoiar
mutuamente como cidadãos de um Estado. Quem oprime uma nação declara-se inimigo de
todas as nações. Quem faz guerra contra um povo, para impedir o progresso da liberdade e
sufocar os direitos humanos, deve ser perseguido por todos os povos. Não apenas como
inimigo comum, mas como assassino rebelde e bandido."
A lei da guilhotina
Proclamada a república, em 1792, Robespierre mostrou sua nova face. Não hesitou muito para
selar o destino do rei, aprisionado por revolucionários. Luís 16 foi julgado, condenado e, a 21
de janeiro de 1793, decapitado na guilhotina. Robespierre justificava o reinado do terror, o
qual "nada mais é do que a justiça rápida, violenta e inexorável. É, portanto, uma expressão da
virtude".
A guilhotina funcionava sem parar. Com a ameaça de morte pairando sobre todos, deputados
moderados da Convenção Nacional tramaram a prisão de Robespierre e seus colaboradores
mais próximos. Em 28 de julho de 1794, deram aos ilustres prisioneiros o mesmo destino que
estes haviam dado ao rei Luís 16: a guilhotina.
De 1795 a 1799, o poder foi organizado sob a forma de uma república colegiada de notáveis,
tendo o Diretório como poder executivo. Nesse período, a França mergulhou numa nova crise
econômica e social, agravada por ameaças externas. Para manter seus privilégios políticos, a
burguesia entregou o poder a Napoleão Bonaparte, que o exerceu com o mesmo absolutismo
que havia sido derrubado pela Revolução Francesa.
A REVOLUÇÃO FRANCESA
Na França, surgiu a primeira constituição escrita da Europa, em 1791. A experiência francesa
contribuiu com duas idéias principais:
a) Garantia de direitos individuais;
b) Separação dos Poderes. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão é de
1789 e serviu de preâmbulo para a Constituição Francesa de 1791.
A apelação do constitucionalismo norte-americano aos juízes nos casos de violação dos
direitos naturais inerentes ao homem, no modelo francês, é substituída pela apelação ao povo
mediante um direito de censura das leis ordinárias, assim como de variadas formas de reforma
constitucional e referendo.
No modelo francês Constituição não se limita a fixar as regras do jogo, como na experiência
norte-americana, pois é concebida como um projeto político destinado a promover uma
transformação política e social
7.1.3. Democracia Liberal em Tocqueville
Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador político e estadista francês. Foi considerado
um dos grandes teóricos sobre a democracia americana. Especulou sobre a natureza essencial
da própria democracia, suas vantagens e perigos. Alexis Charles-Henri-Maurice Clérel de
Tocqueville (1805-1859), conhecido como Alexis Tocqueville, nasceu em Paris, França, no dia
29 de junho de 1805. Descendente de família aristocrata formou-se em Direito e atuou como
juiz. Alexis Tocqueville viveu no período mais crítico da história francesa, durante o século XIX.
Nasceu pouco tempo depois da Revolução Francesa (1789), sobre a qual escreveria uma obra
clássica. Passou a infância na época das Guerras Napoleônicas (1803-1815). Assistiu à
restauração da Monarquia com Luís XVIII, até 1824, quando este foi sucedido por Carlos X (a
quem seu pai serviu), e a sua derrubada por Luís Felipe, em 1830. Em 1830 iniciou-se na vida
política quando foi eleito deputado. Apesar de aristocrata, tinha ideias com inclinações
democráticas. Viajou para os Estados Unidos, para estudar o sistema democrático em
funcionamento. Ficou impressionado com a nascente democracia norte-americana. De volta à
França, em 1832, escreveu sobre o que havia visto: a radical democratização de uma
sociedade, na qual todos, com exceção dos escravos, eram iguais perante a lei,
independentemente da origem social. Publicou sua obra prima, “A Democracia na América”
(1835-1840), em quatro volumes, que o consagrou e abriu-lhe as portas das mais importantes
instituições, entre elas, a Academia Francesa, em 1841. (FRAZÃO, 2016)
O pensador francês Aléxis de Tocqueville (1805‐1859) tem sua fama garantida nos anais da
Filosofia Política por duas grandes obras. A primeira, a mais famosa, tem como título A
democracia na América (1835) e a segunda, O Antigo Regime e a Revolução (1856). Essas duas
obras bastaram para tornar a leitura de Tocqueville obrigatória para os que se interessam pela
questão da democracia e da liberdade. Tocqueville escreveu A democracia na América depois
de viajar extensamente pelos Estados Unidos, em companhia de um amigo; o objetivo da
viagem era estudar as prisões norte‐americanas. Nessa obra, Tocqueville apresenta, em dois
volumes, um completo retrato dos Estados Unidos da época de sua visita, concentrando‐se no
que havia de novo no sistema político e social norte‐americano. Procura mostrar como um país
fundado sobre princípios tão diferentes daqueles que fundamentavam as constituições dos
países europeus podia funcionar, e funcionar muito bem. A democracia na América é uma
obra que apresenta um estudo sobre as condições e modos de um novo sistema político, e
reflexões sobre o presente e o futuro desse sistema, o qual, segundo Tocqueville, estava
destinado a se espalhar pelo mundo. (RAMOS, 2014, pp. 143-144)
Para Alexis de Tocqueville a verdadeira democracia liberal resultaria da necessária soma dos
seguintes valores: liberdade, igualdade e soberania popular.
i) Liberdade
Tocqueville, a partir da descrição da epopeia estadunidense de independência e de
autoafirmação nacional, encontra as hipotéticas condições materiais da democracia na
necessidade de estabelecer-se, objetivamente, o hábito de erigir uma sociedade com
costumes e leis democráticos a partir do desejo ou vontade de liberdade, no sentido de
independência e ordem – erigidas a partir da luta – na união e combate ao colonialismo inglês.
ii) Igualdade
Considerando que o efetivo desenvolvimento de uma sociedade liberal jaz na progressiva
igualização dos indivíduos e dos povos entre si, Tocqueville assevera que esta igualdade é
conseguida por meio do profundo patriotismo a partir da tomada de consciência formada por
esse povo acerca de sua participação no poder político, sendo este a fonte soberana de
organização social e autodeterminação popular.
Por outro lado, a aporia da soberania popular, quando não atrelada a critérios objetivos de
justiça e solidariedade, ensejaria uma tirania da maioria, na qual as minorias (políticas,
religiosas ou étnicas) seriam alijadas à anomia e à barbárie, apartadas da sociedade
participante do Estado.
• Procedimentos Universais (ou regras formais): “1) o órgão político máximo, a quem é
assinalada a função legislativa, deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos
pelo povo, em eleições de primeiro ou de segundo grau; 2) junto do supremo órgão legislativo
deverá haver outras instituições com dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local
ou o chefe de Estado (tal como acontece nas repúblicas); 3) todos os cidadãos que tenham
atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo,
devem ser eleitores; 4) todos os eleitores devem ter voto igual; 5) todos os eleitores devem ser
livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa
disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional; 6)
devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais
alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista única ou bloqueada); 7)
tanto para as eleições dos representantes como para as decisões do órgão político supremo
vale o princípio da maioria numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de
maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre; 8)
nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo
especial o direito de tornar-se maioria, em paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve
gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua vez, eleito pelo
povo” (BOBBIO, MATTEUCCI, PASQUINO, 1998, pp. 327-328).
• Ambivalência: A Revolução Francesa instituiu a dúvida acerca da validade de um
Estado democrático nos valores e mentalidades de uma sociedade burguesa; como pensar
nestes termos a efetividade de uma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, sem
limitar a definição de homem e de cidadão a um aspecto meramente formal? Essa é apenas
uma das aporias que deixará como legado ao pensamento jurídico político ocidental, em
contraste com o desenvolvimento teórico anterior que previa a democracia como base a
soberania do povo.
• Democracia Representativa: “A representação democrática, constitucionalmente
conformada, não se reduz, porém, a uma simples delegação de vontade do povo. A força
(legitimidade e legitimação) do órgão representativo assenta também no conteúdo dos seus
actos, pois só quando os cidadãos (povo), para além de suas diferenças e concepções políticas,
se podem reencontrar nos actos dos representantes em virtude do conteúdo justo desses
actos, é possível afirmar a existência e a realização de uma representação democrática
material” (CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina,1993, p.
420).
• Constitucionalismo X Ideal Democrático: Enquanto no “ideal de democracia” as
decisões da coletividade são contingencialmente apontadas por uma maioria, os limites serão
encontrados no constitucionalismo, que há de obrigatória e necessariamente excluir
determinadas questões do âmbito coletivo e condicionar, em tese dialogicamente, o modo
como aquela maioria deve decidir. Esta tensão entre os referidos ideais há de circunscrever o
ideal democrático constitucionalmente jurisdicionado. Em tese, a lógica básica deste exercício
constituinte jaz na ideia de que maioria simples, por si só, não constitui o melhor
procedimento para decidir sobre determinadas questões sensíveis ao Direito (cf. ELSTER, Jon.
Régimen de mayorías e derechos individuales. In.: SHUTE, Stephen e HURLEY, Susan [Org.] De
los derechos humanos. Madrid: Editora Trotta. 1998., p.169) - soberania popular e a vontade
majoritária consagradas por uma ideia primeva de democracia, em detrimento do
constitucionalismo, que delimita o poder (inclusive popular) e vaticina o respeito aos direitos
fundamentais (inclusive da minoria, a despeito da maioria). Todavia, a segunda assertiva não
pode ipso facto frustrar a primeira, e tal limitação há de ser problematizada.