Omb - História e Doutrina Do Martinismo

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História e Doutrina

d o M ar t i n i s m o

Compilação feita por Martinistas do Chile

1
EXPLICAÇÕES GERAIS SOBRE O MARTINISMO

Qual é a base da Iniciação Martinista? Um ritual da Ordem nos diz nos seguintes
termos:

Encerra a filosofia de nosso Venerável Mestre, baseada


especialmente nas teorias dos Egípcios, sintetizadas por Pitágoras e
sua Escola. Contém, em seu simbolismo, a Chave que abre o mundo
dos Espíritos e que não está cerrado; segredo inefável, incomunicável
e unicamente compreensível ao verdadeiro Adepto. Este trabalho não
profana a santidade do Véu de Ísis por imprudentes revelações.
Aquele que é digno e está versado na História do Hermetismo, em
suas doutrinas e em seus ritos, em suas cerimônias e hieróglifos,
poderá penetrar na secreta, porém real, significação do pequeno
número de símbolos oferecidos à meditação do Homem de Desejo.

O Martinismo é uma Escola de alto Hermetismo que se descobre a muito pouca


gente, preferindo a qualidade à quantidade, como qualquer associação que não deseja ter
ação política e que, se pensa proceder socialmente, prefere elevar a multidão à seleção,
no lugar de descer da seleção até a multidão.
A Iniciação Martinista é o resultado de um ensinamento, porém há em seu
desenvolvimento uma parte imensa de formação pessoal. A Iniciação é gradual,
conforme as capacidades daquele que deve seguir as fases de seu ensinamento antes de
chegar aos graus superiores. Este é o sentimento que podemos extrair do célebre
discurso pronunciado por Stanislas de Guaita e que encontramos no “Umbral do
Mistério”:

Fizemos-te iniciar: o papel dos iniciadores deve limitar-se aqui.


Se chegares por ti mesmo à inteligência dos Arcanos merecerás o
título de Adepto; mas, vê bem; seria em vão que os mais sábios
Mestres quisessem revelar-te as supremas fórmulas da Ciência e do
Poder mágico.
discurso: A Verdade
cada um Ocultacriá-la
deve evocá-la, não poderá ser transmitida
e desenvolvê-la em si. em um
És Inciciado: aquele que outros colocaram no caminho;
esforça-te em chegar a Adepto, aquele que conquista a Ciência por si
mesmo; em uma palavra: o Filho de suas obras.

A Iniciação Martinista compreendida desta maneira, não pode transcorrer sem


provas; porém estas não tem nada de comum com as de outras instituições iniciáticas. O
discurso de Stanislas de Guaita, que não podemos aqui transcrever inteiramente, merece

2
estudo e reflexão. Ele desenvolve esta doutrina: A Iniciação é, certamente, o resultado
de um ensino, porém há em seu transcurso uma imensa parte de formação pessoal.
Qualquer poder concedido pela Natureza ou pela Sociedade, para ser útil, deve
desenvolver e adaptar à sua função aquele que deverá beneficiar-se com ele.
Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro
Martinista:
possibilidadesé de
a afinidade
compreensão entre
e deespíritos unidos
adaptação; unidosporporum
um mesmo grau em suas
mesmo comportamento
intelectual, pelas mesmas tendências, do qual se segue a constatação obrigatória de que
o Martinismo está composto, exclusivamente, por seres isolados, solitários, que
meditam no silêncio de seu gabinete, buscando sua própria iluminação.
Cada um destes seres tem a obrigação, uma vez adquirido o conhecimento das
leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão alcançada, para aqueles que possam
compreender e participar daquilo que ele crê constituir a verdade em sua vida espiritual.
É aqui, então, que intervém a Missão de Serviço do Martinismo, é somente neste sentido
que esta corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição Ocidental.
Os assuntos de dinheiro são quase desconhecidos na Ordem; as quotas, “o tronco
da viúva”, os direitos pelos diplomas não existem e os graus são conferidos sempre ao
mérito e não podem nunca ser objeto de tráfico.
Todo chefe de Loja é o proprietário de sua Loja e deve cobrir a maior parte de
seus gastos e, em regra geral, todo membro da Ordem deve cobrir pessoalmente as
despesas necessárias ao exercício de seu cargo.
A filiação à Ordem Martinista é buscada, sobretudo, pela instrução que leva
bastante longe e que compreende o estudo aprofundado das ciências simbólicas e
herméticas.
Por outro lado, a Ordem abre suas portas tanto aos homens como às mulheres;
não exige de seus membros juramento nenhum de obediência passiva, nem tampouco
lhes impõe nenhum dogma; acolhe sem distinção a todos os que sentem em seus
corações o amor ao próximo e que desejem trabalhar pelo bem comum.
Dentro da Ordem é de rigor possuir a maior tolerância, ou melhor, o espírito de
compreensão mais acentuado. No que diz respeito à ajuda mútua, ela constitui também
uma das características essenciais do Martinismo, cujos adeptos se esforçam, segundo
suas possibilidades, em ajudar aos demais seres humanos, sejam ou não iniciados,
pertençam ou não a nossa Ordem.
A Ordem Martinista compreende três graus: Associado, Iniciado e Superior
Incógnito, conferidos de acordo com rituais que procuram dar a quem os recebe uma
ajuda poderosa.

correnteJá cavalheiresca
dissemos que oque
Martinismo
persegueé uma cavalaria, ou por individual
o aperfeiçoamento outra, é umae tendência
coletivo. ou
É
necessário, portanto, que o Martinismo em todas as terras esteja formado por servidores
perfeitos e sucessores dos verdadeiros Mestres do movimento; os Superiores Incógnitos,
dos quais um dos primeiros a ser conhecido pelo mundo profano foi Louis Claude de
Saint-Martin, que ainda pode ser conhecido como o Filósofo Desconhecido.
Porém, qual é a srcem histórica da Ordem Martinista?

3
Procuraremos responder brevemente dando uma resenha geral. No mundo nada
ocorre por si; da mesma maneira que as pessoas, as sociedades humanas tem também
seus pais e seus antecessores, quer dizer, sua genealogia.
Começaremos por descrever as etapas principais do desenvolvimento e as cor-
rentes mais importantes do esoterismo ocidental. Não é nosso propósito ocupar-nos
agora
tempo.daAgora,
histórianecessitamos
das tradições de
(Escolas Esotéricas),
uma parte das quais
relativamente falaremos
curta em seu devido
e esquemática desta
história.

A ORDEM TEMPLÁRIA

Iniciaremos pelo aparecimento das Escolas Iniciáticas na Europa. Isto foi em


1118, época da fundação da Ordem dos Templários, que trouxe da Arábia e Palestina,
durante as Cruzadas, a Luz do Ensinamento Gnóstico. O ideal da Ordem era o
estabelecimento do Reino de Deus sobre a terra, encarnado no estado perfeito e
equilibrado, nos três planos. Reino da Unidade e da Paz de todas as nações, sem
distinções de raças e nem castas. Em tal estado, o Influxo Superior devia emanar da
região mística, vivificar o poder astral e dirigir e instruir o poder realizador, criando por
seu intermédio a prosperidade, a felicidade e a possibilidade do trabalho evolutivo.
A base da doutrina Templária foi o sistema sintético dos três planos da metafí-
sica Egípcia, conhecido com o nome de Hermetismo; incorporado na corrente das
interpretações Cristãs-Gnósticas. O rito principal dos Templários era o culto de
Baphomet, palavra que resulta da leitura, da direita para a esquerda, da frase Templi
Omnium Hominum Pacis Abbas, o que significa: “O Sacerdote do Templo da Paz de
Todos os Homens”. Sobre este termo se tende o instrumento universal, de realização,
quer dizer, o torvelinho astral dos impulsos da Cadeia. A estátua de Baphomet
representava o esquema simbólico do torvelinho astral que na Cabala denomina-se
Nahash.
O poder mágico e as grandes riquezas da Ordem produziram temor e inveja por
parte do rei da França - Felipe o Belo, assim como despertaram idêntica reação no Papa
Clemente VI. Os Cavaleiros Templários foram vilmente caluniados e acusados de
dedicarem-se à prática da magia negra e da heresia. Em 1307, parte dos Cavaleiros
foram queimados vivos; e seu Grão-Mestre Jacques Borgundo de Molay ao perecer
envolto pelas chamas, citou ao Papa e ao Rei no Juízo de Deus. Constatamos que ambos
morreram antes de cumprir-se um ano da morte trágica do Grão-Mestre.

4
A ORDEM ROSA CRUZ

Depois de uns oitenta anos da destruição física da Ordem dos Cavaleiros do


Templo, a alma coletiva
Rosacrucianismo primário.Templária materializou
A nova Ordem, segundo nanos
terra o movimento
conta a lenda, foidenominado
fundada na
Alemanha por Christian Rosencreutz (1378 a 1484). Era composta por místicos que se
reuniam no misterioso Templo do Espírito Santo. Este Templo suprafísico excitava a
curiosidade dos profanos que em vão o buscavam em algum lugar da Terra. Não se é
obrigado a crer nesta lenda, porém devemos admitir que a Ordem Rosa-Cruz é a
herdeira espiritual da Ordem Templária, digamos, sua reencarnação é possuidora da
Sabedoria Gnóstica, do Hermetismo e do Cristianismo Joanita dos primeiros séculos. O
ideal da Ordem está expresso pelo símbolo da Cruz com uma Rosa em seu centro,
símbolo da fé e do conhecimento, da religião e da ciência.
O Rosacrucianismo primário tinha pouquíssimos adeptos porque as exigências
eram muito grandes e o regulamento da Ordem sumamente severo, sendo poucos os
adeptos capazes de cumpri-lo.
No século XV o Rosacrucianismo primário se transformou em secundário.
Agora se exigia dos membros da Ordem tão somente estarem dotados de capacidade
para o pensamento científico, possuir interesses amplos e dedicados à ideia do bem.
Tratava-se de naturezas altamente místicas, panteístas 1 e com tendências práticas,
porém, em todo caso, eram pessoas excepcionais pelo desenvolvimento de seu intelecto,
erudição, vontade poderosa e com conceitos bem preciosos sobre a humanidade futura.
Possuíam múltiplos segredos da Cabala e procuravam adaptar os ditos segredos, tanto
de modo especulativo como prático. Também não eram alheios ao desejo de aumentar
seu poder em todos os planos do universo, mediante o conhecimento adquirido.
Consideravam-se em si mesmos o espírito da humanidade e a sua atividade como a
manifestação material desse espírito; do ponto de vista metafísico e filosófico tinham
razão.
Deve-se mencionar as características que assumiu a política da Ordem com res-
peito a sua influência sobre a sociedade. No princípio esta política foi de caráter
puramente ético, embora tivesse tomado depois um forte caráter realizador. Em todo
caso, a ação do Rosacrucianismo secundário no mundo externo foi muito prudente
porque esteve bastante viva a recordação do trágico fim da Ordem Templária e a alma
coletiva da Cadeia de Jacques de Molay vibrava no sentido da cautela. Como resultado
desta vibração nasceu a Ordem Maçônica.
A ORDEM MAÇÔNICA

Existem muitas lendas acerca da genealogia Maçônica e resultaria muito extenso


passar revista a todas estas interpretações. Por outra parte, no momento, nos interessa
em maior grau o aparecimento daquelas correntes Maçônicas provocadas pela atividade
1
- Doutrina que concebe Deus como realidade primordial e o mundo como realidade emanada. O Panteísmo foi
desenvolvido por Spinoza. (N. Rev.).

5
do Iluminismo Cristão do século XVII. A Fraternidade Rosa-Cruz encarrega a alguns de
seus membros, entre os quais sobressaem por sua atividade Ashmole, Fludd e Bacon, da
criação desta Ordem com as seguintes finalidades:

1. Desenvolver e, se possível, propagar na humanidade a confiança no ensino


esotérico
preparaçãoe moral
em seus representantes
e espiritual, sem ao qual
respeito por seus símbolos
é impossível assimilar easfacilitar
bases da a
Cabala.
2. Assegurar, em sua devida pureza, a transmissão dos elementos do simbolismo.
3. Criar um meio desenvolvido moral e espiritualmente, para usá-lo como depósito
de energia para atuar sobre a sociedade e, em parte, para escolher entre seus
membros, seus futuros adeptos.

Seguindo o caminho dos movimentos iniciáticos ocidentais e da nova Ordem,


formada pelas associações de construtores que no século XVIII recebe a denominação
de Maçônica, chegamos à metade do século XVIII, período no qual nos deteremos para
analisar as correntes do Iluminismo Cristão.
Um espírito novo sopra sobre a humanidade: as antigas crenças se desmoronam
e o riso sarcástico de Voltaire faz retumbar os cantos da velha Europa. Naquela época,
como hoje em dia, os povos bailavam sobre um vulcão de sangue e lodo, que sacudiria
o antigo continente na passagem do século e sepultaria sobre um monte de escombros o
estado social carcomido e faria surgir em seu lugar a espada refulgente de um déspota.
A Alemanha estava cheia de sociedades secretas. Umas iluminadas, outras subversivas
sob uma capa de iluminismo, como a de Adam Weishaupt. A sociedade deste último
quase consegue seus fins, de convulsionar a Europa inteira. Tudo está pronto, falta só
acender a mecha, quando em Rastibona, um adepto, um sacerdote apóstata chamado
Lans, cai fulminado por um raio, na rua, ao lado do próprio Weishaupt. Levado à casa
de um particular, encontrou-se em sua carteira o plano da revolta. Avisado a tempo, o
Eleitor de Baviera2 toma suas precauções, o movimento se esvai... não importa, vinte
anos depois nada poderia deter a Revolução Francesa...
Ocultamente, os partidos se preparam para a luta. Uns personagens misteriosos
cercam os povos. O enigmático Conde de Saint-Germain é o favorito da corte frívola de
Luiz XV. Lascaris, mais enigmático ainda, percorre o mundo pedindo esmolas e
deixando atrás de si uma moeda de ouro. Apesar de todas as investigações não se
descobriu, no entanto, o real papel que desempenharam estes desconhecidos na história
secreta daquele tempo, assim como o do fantástico Conde de Gagliostro. Porém,
quaisquer
do ateísmo,que
quetenham
estavasido, é evidente de
se espalhando queuma
conseguiram diminuir, em
maneira alarmante em todas
parte, as
os escalas
efeitos
sociais.

2
- Príncipe alemão que nomeava ou elegia o imperador. (N. Rev.).

6
EMANUEL SWEDENBORG3

Mais conhecida é a obra do famoso iluminado Swedenborg, fundador de uma


nova escola. Era ele um sábio conhecido por Conselheiro da Corte da Suécia. Seus
antecedentes, sua elevada situação social, não permitiram a seus contemporâneos
considerá-lo como um charlatão e um alienado, como sucedia e sucede, ainda, aos que
se creem ou se dizem iluminados.

Laica deSwedenborg
Cristo. Sua teve, segundo
obra de parece,
realização a missão de
compreendia trêsformar uma Ordem de Cavalaria
seções:

1. Seção de ensinamento, com estudo de seus livros.


2. Seção religiosa, com a aplicação ritualística de seus ensinamentos.
3. Seção encarregada da tradição simbólica e da tradição prática. Estava constituída
pelos Graus Iniciáticos do Rito Swedenborgiano.

É esta seção que nos interessa agora. Ela estava subdividida em três seções se-
cundárias: a primeira era elementar e Maçônica; a segunda elevava o candidato até o
Iluminismo e a terceira era ativa4.
A primeira seção compreendia os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. A
segunda compreendia os Graus de Aprendiz Cohen (ou Mestre Eleito), Companheiro
Cohen e Mestre Cohen. A terceira era formada pelos seguintes Graus:

1. Aprendiz Rosa-Cruz.
2. Cavaleiro Rosa-Cruz, Comendador.
3
- Emanuel Swedenborg e o Conde de Cagliostro, apesar de iniciados, são considerados pelos Mestres de nossa
Ordem, posteriores a eles, como falsos profetas. São comparados aos fanáticos precursores do “Iluminismo Alemão”,
como o celerado Adam Weishaupt. São os chefes de um misticismo dissidente e subversivo. A respeito de Cagliostro
encontramos passagens esclarecedoras no Templo de Satã de Stanislas de Guaita. De Swedenborg, Eliphas Levi diz
que foi “o mais honesto e o mais doce dos profetas de falso iluminismo”, e que “não era por isso menos perigoso
que os outros”. (História da Magia. São Paulo, Ed. Pensamento, s/d, página 310). (N. Rev.).
4
- O temo Iluminação, que segundo Joseph de Maistre não deve ser confundido com o Iluminismo Alemão do termo
de Weishaupt (Iluminados da Baviera) é o coroamento da Iniciação. É conseguido pela senda ativa, isto é, pelo
trabalho em todos os planos, pelo esforço individual, pela exaltação da Vontade e pela prática da Caridade. (N.Rev.).

7
3. Rosa-Cruz Iluminado ou Kadosh (Mestre Grande Arquiteto).

Entre os Iniciados de Swedenborg, houve um a quem os poderes invisíveis pres-


taram uma ajuda constante e que era dotado de extraordinárias faculdades de realização.
Este era Martinez de Pasqually 5, do qual falaremos mais adiante. Emmanuel
Swedenborg era um
foi bruscamente sábio, efísico,
inspirado químico
escreveu e matemático
um certo número dedeobras
grandeentre
valor.
as Como Pascal,
quais as mais
célebres foram: “Arcanos Celestes” e a “Nova Jerusalém e sua doutrina celeste”, onde
desenvolve uma interpretação mística dos livros santos e do Apocalipse. Durante sua
longa existência, Swedenborg teve muitos discípulos. Nasceu em 1691 e morreu em
Londres em 1771.
Devemos recordar que foi Emmanuel Swedenborg o primeiro que divulgou a
chamada Lei das correspondências, que se encontra na base de diversos ramos do
ocultismo e que é, também, perfeitamente válida na psicologia objetivamente
experimental dos fenômenos de sugestão, hipnose, sonambulismo, etc. Por
correspondente, entendia Swedenborg algo mais, pois designava com essa palavra toda
coisa que, no mundo físico, existe conforme sua correspondente do mundo espiritual e
cujo significado constitui o sinal da influência do espírito sobre o físico.
Porém, Swedenborg não foi um ocultista puramente teórico; com sua vista cla-
rividente soube do incêndio de Estocolmo antes que chegassem as notícias desta
catástrofe ao lugar onde se encontrava; da mesma maneira predisse a volta e o destino
de amigos ausentes.
MARTINEZ DE PASQUALLY

Martinez de Pasqually recebeu em Londres a Iniciação do Mestre e foi encarre-


gado de propagá-la na França. É assim que o ensinamento de Swedenborg se encontra
inteiro no de Martinez. Porém, quem era Martinez de Pasqually? Ninguém o sabe e nem
jamais se soube. Durante muito tempo foi geral a crença que Martinez foi um judeu-
português, crença temerária que não tem sérios fundamentos, já que seus mais caros
discípulos, seus amigos mais íntimos não souberam nunca onde havia nascido. No
entanto, é provável que tenha sido espanhol porque assinava com o título de Don e não
Dom, como teria feito se fosse português.
Não obstante as lacunas que oferece a biografia de Martinez de Pasqually, sa-
bemos por características suas que era homem de grande generosidade, de sentimentos
honrados e de escrúpulos quase puerís, gostando de gozar a vida sem consumi-la com
ambições e decepções. Os documentos da época que se conservam, indicam claramente
5
- Documentos manuscritos pertencentes à Ordem assinalam que Martiinez de Pasqually teria sido iniciado pelo
Conde de Saint-Germain. Isso não impede, entretanto, que ele tenha tido um primeiro iniciador. É possível, ademais,
que tenha recebido de Swedenborg o esboço do sistema iniciático Cohen e que o tenha aperfeiçoado. Sabemos hoje
que o próprio sistema de Martinez, que foi um grande Mestre, precisava sofrer alterações para ser adaptado à época.
Isso foi realizado por Saint-Martin e Willermoz, seus principais discípulos. Eles buscaram na Alemanha a forma
contida no Rito Escocês Retificado, precisou do Sopro Vivificador de outras formas de revelação para expressar-se
com todo o seu explendor. Como aconteceu com Swedenborg, a obra de Martinez foi vivificada por seus principais
discípulos. Uma vez mais o iniciado “mata” seu iniciador! Existe, ainda, uma lenda que diz que o “pai” de Martinez,
um velho rabino versado em Cabala, vendo aproximar-se o dia de sua morte, o chamou à Espanha para lhe conferir o
último grau de seu sistema iniciático, bem como todos os manuscritos existentes em seu poder. (N. Revisor).

8
que foi ele quem instituiu a organização denominada Ordem Martinista, pelo menos na
Europa. No entanto, vários arquivos indicam que houve um indivíduo ou um grupo de
indivíduos ou Iniciados, que o precederam e que idealizaram e conceberam a forma
física da intituição, que se baseava nas atividades de uma sociedade muito antiga sobre
a qual falaremos mais adiante.

Cohen, Seja como for,


conhecida Martinez
também sob ochegou
nome adeParis em 1750eeàaliqual
Martinismo fundou a Ordem
se poderia dos Elu
denominar
com mais propriedade Swedenborgismo Adaptado, pois Martinez conservou todos os
nomes dados nos Graus dos Seres Invisíveis, os quais foram transmitidos por
Swedenborg. Além disso, tanto o rito deste como o daquele, seguiram o mesmo fim: a
reintegração do neófito em sua dignidade primitiva. Seguindo a moda que reinava na
época, a Ordem dos Elu Cohen em seu aspecto ritualista não apresentava senão
analogias com a Maçonaria. Porém, sobre este particular, devemos citar o famoso
historiador Maçônico Arthur Edward Waite, que expressa:

No entanto existe a possibilidade que Martinez de Pasqually tivesse


atuado sob a direção de uma Ordem anterior, digamos que dos Rosa-
Cruzes com quem esteve filiado. Quando apareceu pela primeira vez
em Paris, o fez em sua qualidade de membro dessa misteriosa
irmandade.

No início a Grande Loja da França, em 1765, recusou reconhecer a este sistema


e não foi senão mais tarde que o Grande Oriente, de acordo com sua política de
absorção reconheceu-o como Rito Maçônico.
Para expandir sua Ordem, Martinez viajou através de toda a França. No entanto,
suas sedes principais foram em Bordeaux e em Paris. A Ordem dos Elu Cohen ou Sa-
cerdotes Eleitos alcançou grande prosperidade entre os anos 1760 e 1775.
Até 1771 os arquivos dos Elu Cohen, foram depositados nos arquivos dos
Philaléthes (Iluminados), onde foram encontrados depois da revolução.
O Objetivo da Ordem dos Elu Cohen, como já disse, era conseguir a reintegra-
ção dos seres humanos em sua dignidade primitiva. Para conseguir este objetivo, seus
membros esforçavam-se em adquirir, pela pureza corporal e espiritual, aqueles poderes
que permitem ao homem entrar em relação consciente com os Seres Invisíveis.
Martinez conferia o grau mais elevado da Ordem somente a quem conseguisse pôr-se
em contato com ditas entidades. Tratava de desenvolver cada membro de sua Ordem por
meio de seu trabalho pessoal, deixando-lhe toda liberdade e inteira responsabilidade por
seus atos. Selecionava
uma verdadeira cuidadosamente
aristocracia intelectual. cada membro e não conferia seus Graus senão a
Os Iniciados já treinados reuniam-se para ajudar-se mutuamente, bem como, aos
débeis e aos principiantes. Estas reuniões tinham lugar em certas épocas astrológicas
determinadas.
Do ponto de vista administrativo, a Ordem dos Elu Cohen seguiu exatamente os
Graus de Swedenborg.

9
Martinez não veio ensinar coisas novas, mas a renovar e a pôr em prática anti-
quíssimos ensinamentos, esquecidos e menosprezados, para detrimento da humanidade.
No catecismo dos Aprendizes Cohens, se lê, com efeito, seguinte:

P. - “Qual é a srcem da Ordem que professamos?

temposR.de- Adão
Sua srcem
e de lávem
até do Criador
nossos dias.e começa desde os primeiros
P. - Como pôde perpetuar-se esta Ordem até nós?
R. - Pela misericórdia do Grande Arquiteto do Universo, que
enviou emissários adequados para manifestar esta Ordem entre os
homens, para sua própria glória e justiça.
P. - Que utilidade tinha esta Ordem para os homens dos
primeiros tempos?
R. - Servia-lhes de base e fundamento espiritual para executar
as cerimônias do culto do Eterno e, também, para conservar a pureza
de seus princípios primitivos e suas virtudes e poderes espirituais.
P. - Que emissários empregou o Grande Arquiteto para
perpetuar esta Ordem entre nós?
R. - Desde Adão até Noé, desde Noé até Melquizedec, até
Abrahão, Moisés, Salomão, Zorobabel e o Cristo.

Martinez proclama, desta maneira, sua ortodoxia e continua a obra social e ci-
entífica que principiou quando apareceu o homem sobre a terra e que não concluirá até
que a raça humana venha a se extinguir.
É certo que a Tradição não se perdeu nem pode perder-se, porém, quando os
encarregados de transmiti-la faltam a seu dever, os Guardiões Invisíveis da Verdade,
mandam missionários a quem conferem poderes especiais; afim de que as nações não
sumam pôr completo na noite espiritual.
Martinez, no seio da Ordem dos Elu Cohen, praticava o que se denomina ope-
rações mágicas. Conforme o próprio testemunho de Saint-Martin, o Mestre reunia seus
discípulos em uma habitação qualquer, sem dúvida purificada por meio de uma
operação preliminar. Martinez traçava em seguida um círculo no centro do quarto e
escrevia nele, em língua hebraica, o nome dos Anjos e outros de caráter Divino que
fossem necessários.
Tais preparativos assombravam aos principais e, possivelmente alguns teriam
perguntado, no início, porque eram necessários tantos preparativos para comunicar-se
com o Céu. Porém,
arrepender-se estes tais
em empregar em precauções,
seguida davam-se
uma vezconta que não
que, desde havia razão
o instante em quepara
as
conjurações eram formuladas, as Influências Superiores começavam a manifestar-se e a
dar eloquentes provas da realidade de sua existência no mundo invisível. Aqueles que
assistiam a tais experiências tornavam-se iluminados, quer dizer, para eles a existência
do mundo invisível e a imortalidade da alma convertiam-se em realidade mais positiva
que a existência do mundo físico. Desta maneira, estes iluminados chegavam a
desprezar a morte e estavam sempre dispostos a tudo para propagar e defender as
doutrinas que professavam.

10
Nos ensinamentos de Martinez, em consequência, os Trabalhos práticos tinham
um grande destaque. Estes trabalhos consistiam na evocação do que Martinez chamava
“A Coisa”; a que se manifestava por certas fases, quer dizer, por aparições fugitivas e
luminosas. Esta entidade, posteriormente, firmou seus escritos com o pseudônimo de
Filósofo Desconhecido, pseudônimo que Louis Claude de Saint-Martin adotou em
seguida,
escreveu pôr
umaordem
parte da
de própria “Coisa”.
suas obras Conforme
sob seu ditado.declaração
O Filósofoprópria de Saint-Martin,
Desconhecido ditou 166
Livros de Instruções, dos quais Saint-Martin conseguiu copiar alguns. Destes livros,
mais ou menos 80 foram destruídos em 1790 pelo próprio Filósofo Desconhecido, a fim
de que não caíssem em mãos de Robespierre, que havia mandado dois de seus sequazes
para deles se apoderarem.
O último grau dos Elu Cohen era o de Réau-Croix. Os historiadores, seguida-
mente, confundiam este grau com o de Rosa-Cruz. No entanto, este último constitue o
cume de uma larga Tradição esotérica, transmitida através dos séculos, enquanto que os
Réau-Croix (Poderosos Sacerdotes) constituíam a mais alta dignidade hierárquica do
sistema ocultista de Martinez. Willermoz, em uma carta dirigida, em 20 de outubro de
1780 ao Príncipe de Hesse, escreveu:

Admito os conhecimentos dos Rosa-Cruzes, mesmo que se baseiem em


um fundamento temporal em sua natureza, de maneira que não
operem senão sobre a matéria mista, ou seja, sobre uma mistura do
material e do espiritual e obtenham, em conseqüência, resultados
mais aparentes do que os Rèau-Croix, que operam sobre o espiritual-
temporal e cujos resultados se apresentam em forma de hieróglifos.

A influência das ideias de Martinez foi enorme. A ele pode-se atribuir a vocação
de Pernety, o fundador dos Iluminados e dos quais derivaram os Philaléthes, a quem se
pode considerar, por sua doutrina, os precursores da Revolução Francesa.
Martinez contou no número de seus mais ardorosos discípulos, além de Saint-
Martin e Willermoz, dos quais falaremos adiante com mais destaque, o Barão de
Holbach, o célebre autor do Sistema da Natureza; Duchantenau, a quem se devem os
quadros místicos mais procurados pelos amantes deste gênero de pintura; Andreas
Chenier; Gazotte; Mirabeau; etc.. Em 1772, Martinez embarcou para São Domingos,
onde um parente seu lhe havia deixado uma herança muito grande. Ãli morreu em 1774.
Pode-se dar a denominação de Martinezismo à corrente de pensamento e ao
movimento ao qual deu srcem Martinez de Pasqually. A Ordem dos Elu Cohen foi
dissolvida
Wilhemsbad,emno
1780,
qual,desaparecendo
entre outros, oficial e oficiosamente
estiveram presentes os no Convento
mais Maçônicodas
altos dignitários de
diversas Ordens Iniciáticas daquela época. Entre estes, deve-se mencionar Louis Claude
de Saint-Martin, Willermoz e o Conde de Saint-Germain, como emissário dos Grupos
R+C mais secretos da Europa.
Martinez de Pasqually expôs suas doutrinas em seu livro intitulado “Tratado da
Reintegração dos Seres em suas primeiras propriedades, virtudes e poderes espirituais

11
e Divinos”6. Nesta obra, Martinez expõe sua teoria da Queda e da Reintegração. O
capítulo II estará dedicado a esta obra da qual transmitiremos uma síntese.

6
- Editada em português pela Edições 70 (Coleção Esfinge), em 1979. (N. Rev.).

12
ANÁLISE DO TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS
SERES

Como todos os esoterismos, a doutrina Martinista, tal como foi definida por
Martinez de Pasqually em seu “Tratado da Reintegração dos Seres”, recorreu
necessariamente ao exoterismo para expressar as verdades metafísicas, pouco
compreensíveis e difíceis de expressar em razão de sua natureza. É assim que a doutrina
Martinista encontra-se relacionada de maneira integral com a Tradição Ocidental e,
muito especialmente, com a corrente Judaíca-Cristã.
Com respeito ao problema da Causa Primeira (Deus), o Martinismo faz suas, as
conclusões a que haviam chegado os teólogos cristãos e os Cabalistas hebreus, pelo
menos no que diz respeito aos princípios sobre os quais estão de acordo e tem estado
sempre as diversas escolas: ternário Divino, pessoas Divinas, emanações, etc.. Quanto
ao resto, é mais particularmente gnóstica (ainda que apresentando esta tese sob uma
forma diferente das escolas conhecidas com esta denominação), já que faz presente, em
princípio,
deve, paraaoperar
necessidade igual de Conhecimento
completamente, e de
ser completada comFéação,
e a circunstância de que ea com
com a inteligência Graçaa
compreensão e a liberdade do Homem. Por estes diversos motivos é que Martinez de
Pasqually apresentou o esoterismo de sua Escola sob o aspecto da tradição judaica-
cristã. Esta lenda, cujo autor certamente foi o Mestre, baseou-se em documetnos
tradicionais, propriedade de sua família, depois que um de seus avós, membro do
tribunal da inquisição, os havia colhido dos hereges árabes e judeus, na Espanha. O con-
junto destes documentos, era formado por manuscritos em latim, cópias de srcinais
árabes, derivados mesmo, de clavículas hebraicas.
Seja como for, heis aqui um resumo do “Tratado da Reintegração dos Seres”,
obra tão rara como pouco clara para quem não esteja perfeitamente ao corrente das
tradições gerais em que se inspirou:
O Mundo, considerado como um “domínio material”, submetido a nossos sen-
tidos e as “regiões espirituais” do Invisível, não constituem a obra de Deus,
considerado como o Absoluto. É o próprio Evangelho de São João que nos assinala:
“No princípio (quer dizer, no começo dos Tempos, ou seja, daqueles períodos
em que se manifestam os seres relativos), era o Verbo” (o Logos, a Palavra Divina).
“O Verbo estava com Deus ...” (expressão literal mais apropriada).
“O Verbo era Deus ... (não Deus com maiúscula. O texto grego não levava
artigo. O Verbo é pois, um dos “Elohim”, quer dizer: um dos filhos de Deus (7); esta
palavra “Elohim” significa em hebreu “Eles, os deuses” assim também o assinala e
sublima o Abade Loisy, em seu“Quarto Evangelho”).

7
- Para melhor compreensão do que seja o Verbo, veja Stanislas de Guaita, “Le Problème du Mal”. (N. Rev.).

13
“Todas as coisas foram feitas por ele; e sem ele nada do
que foi feito se fé". (São João 1,3).
É a este Logos que a Cabala denominaAdam Kadmon; (de
acordo com todas as tradições religiosas da Antiguidade); ele cria
os seres inferiores por meio de sua palavra, designando-os,
nomeando-os,
manifestada”): chamando-os (entende-se à “vida real e
“E Adão colocou nome em todos os animais e aves dos
Céus e em todos os animais do campo; mas para o Homem, não
achou ajuda que fosse idônea para ele...” (Gênesis: 2, 20).
Estes “animais dos campos”, estas “aves dos Céus” não
são os seres comuns que conhecemos com estes nomes. Com um
sentido esotérico denomina-se, dessa maneira, às criaturas que são
inferiores ao Homem-Arquétipo e que povoam os “planos” ou mundos do Invisível,
regiões espirituais às quais já fizemos alusões anteriormente.
Com respeito a esta criação, Deus serve-se de um intermediário. Isto nos con-
firma o Capítulo 1º do Gênesis (1, 2, 3), que nos diz:
“A Terra (a matéria primordial, o Caos) era informe e vazia e o Espírito de Deus
movia-se sobre as Águas” (o nous Egípcio, ou seja, o elemento mais sutil desta
Matéria). O Termo “Espírito de Deus” está escrito com maiúscula, designando-se dessa
maneira um Espírito diferente de Deus; de nenhuma maneira se alude desta forma a
Deus, o que constituiria um absurdo, pois, Deus é necessariamente, em si mesmo,
espírito. O Gênesis não nos diz que “Deus se movia sobre as Águas...”
É por isso que, mais adiante, nos diz que “Deus, o Eterno, tomou, pois, o
Homem e o colocou no Jardim do Éden, para que o cultivasse e o cuidasse...” (Gênesis
2, 15).
O dito Jardim é um símbolo que significa o Conhecimento Divino, acessível aos
seres relativos. Com efeito, a Cabala, ou tradição secreta, pode ser designada, com
freqüência, como o “Jardim” místico. Em hebreu jardim ou campo se pronuncia
guineth, palavra formada pelas três letras seguintes: , , , (Gimel, Num, Tav) e que
constituem as iniciais das três ciências secundárias que são as chaves da Cabala: a
Gematria, o Notaricon e a Temurah.
O Homem Primitivo, referido pelo Gênesis em seu relato exclusivamente sim-
bólico, não é um ser de carne, semelhante em sua forma a nós, mas um espírito
emanado de Deus, composto de uma “forma” (à qual o Gênesis chama “Corpo” porém,
semelhante ao “Corpo Glorioso” que definiram os teólogos, criado pelo Deus eterno, e
composto, por outra
que o Gênesis parte,
nos dia quepor
foi uma centelha
o Alento animadora,
mesmo de Deus.que é integralmente
Nosso Divina, jáé
Homem-Arquétipo,
pois, semi-Divino. Por uma parte saiu da Matéria Primordial (do Caos composto de
Terra e de Água, para falar simbolicamente), no que diz respeito a sua “forma”; por
outro lado, é uma emanação de Deus, já que é o alento Divino que o anima (o dito
alento provém de Deus mesmo).
Adão e o Verbo Criador são parecidos, uma vez que o Homem-Arquétipo con-
tinua, no simbólico Jardim do Éden, a obra começada pelo Espírito de Deus. Em
conseqüência, este Verbo Criador e o Verbo Redentor são diferentes.

14
É indiscutível que o Cristo (a quem Martinez denomina O Reparador) é Deus
por sua srcem e homem por sua encarnação. A teologia o demonstrou. Porém, assim
como o menino de dez anos e o ancião serão mais tarde um só e mesmo ser (embora
com características e aspectos diferentes)... Existe entre eles absoluta continuidade de
consciência, apesar de não existir semelhança no aspecto ou em suas reações inferiores.
Da mesma
será idêntica a si maneira, a almaséculos
mesma vinte que animou
depoisum corpo humano
animando outro, em uma encarnação,
embora sejam duas
manifestações diferentes. Essa identidade existe, mesmo que as manifestações sejam
diametralmente opostas, em razão da manifestação exilatória, conhecida pelo vocábulo
“Carma”.
Paralelamente a Adam Kadmon (o Homem Arquétipo ou Cósmico), existiam
outros seres gerados em sua criação anterior; diferentes por sua natureza e pelo plano
em que habitavam, tinham relação com a que nos explica a tradição contida no Gênesis.
Esta Criação anterior se denomina Angélica, à qual também se referem outras Tradições
e teologias. Trata-se de duas criações diferentes que estão subentendidas pelo Gênesis
em seu primeiro versículo:

No começo, Deus criou o Céu e a Terra (Gênesis 1,1).

Imediatamente o Gênesis deixa de lado a primeira Criação (sobre a qual parece


que Moisés não possuía maiores conhecimentos) e passa a referir-se à segunda:

A Terra era informe e vazia, as Trevas cobriram a superfície do


abismo” (Gênesis 1, 2).

Outros elementos da Tradição Judaica-Cristã nos ensinam que os seres desta


criação primitiva (simboliza pelo Céu), quer dizer, os Anjos, dividiram-se em duas
categorias, os Anjos fiéis e os Anjos rebeldes, depois de uma prova feita por Deus.
Isto nem sempre foi bem compreendido. Deus, princípio de infinita perfeição,
não poderia tentar os Anjos depois de sua emanação, nem afastá-los depois de sua
involução. Muito pelo contrário, certas entidades, uma vez chegadas ao fim da Missão
para a qual Deus as havia emanado (quer dizer, uma vez liberadas, ou seja, dotadas de
livre arbítrio, necessariamente) recusaram reintegrar-se no Absoluto, conforme
correspondia com o plano Divino, fonte do Soberano Bem. Em consequência,
preferiram o momentâneo, perecível e ilusório em relação ao Ser Eterno, real e
imperecível. Preferiram viver fora de Deus antes que reabsorver-se Nele e beneficiar-se,
desta maneira,
afastaram com suas perfeições
momentaneamente de Deus,infinitas. Portanto
em virtude de umsãoatoestas entidades
livre, as errado.
ainda que que se
Não foi o Absoluto que as afastou injustamente, nem foi o Absoluto a causa de seu
exílio. Disto se conclui que o retorno posterior e sua redenção são possíveis quando
essas entidades caídas quiseram voltar e seguir o caminho da Divindade.
Porém, enquanto não se realiza este retorno à Luz, à Verdade Imanente devido
às suas atitudes egocêntricas, esses seres permanecem: rebeldes (em relação à oferta
Divina primitiva e permanente); extraviados (uma vez que saíram do curso de seu

15
legítimo destino); perversos (já que vivem fora do Soberano Bem) e, em consequência,
atolados no mal.
Toda coisa corrompida tende, por sua natureza, a corromper o que é são. E isto
ocorre com maior razão no domínio dos seres espirituais do que no reino dos corpos
materiais, uma vez que naqueles misturam-se a inveja (ou consciência, apesar de tudo,
de uma real(diminuída,
inteligência porémo operando
inferioridade), orgulho em
(ou proporção
vontade de dizer em
máxima a última palavra) e a
seus erros).
É por isso que a Tradição nos ensina que o conjunto dos seres espirituais per-
versos (ou Egrégoras do Mal) simbolizado pela imagem da serpente, sentiu ciúmes do
ser perfeito, o Adam Kadmon, superior a eles e imagem de Deus, do qual pretendiam
subtrair-se estas entidades caídas.
Estas entidades atuaram, pois, (ou seja, exerceram uma influência parecida com
a Telepática) sobre Adam Kadmon, incitando-o a passar para além dos limites de suas
possibilidades naturais.
Ser místico por sua natureza, meio espiritual e meio formal, andrógino no qual
se interpenetravam mutuamente Forma e Espírito, o Homem-Arquétipo devia conservar
uma certa harmonia, um equilíbrio necessário no lugar onde Deus o havia colocado.
Devia zelar pela manutenção desta condição e trabalhar no sentido de continuar a
empresa deste Espírito de Deus, do qual era reflexo, o dirigente, o celeste mestre-Jaques
imediato... O Adam Kadmon estava destinado a desempenhar este papel de Arquiteto do
Universo; embora fosse um Universo mais sutil do que o nosso, tratava-se daquele
Reino que não é deste mundo e do qual falam os Evangelhos.
Sob a influência das Entidades metafísicas perversas, o Homem-Arquétipo
transformou-se em um Demiurgo independente. Renovando sua falta, modificou e
perturbou as leis que tinha obrigação de conservar e observar. Pretendeu, de maneira
rebelde, fazer-se por sua vez, criador e igualar-se por suas obras a Deus. Porém, seu
único êxito foi modificar seu destino primitivo.
Aqui nos deparamos com duas lendas paralelas e idênticas a de Lucifer, o pri-
meiro dos Anjos e a de Adam, o primeiro dos Homens. Pode ser desta Tradição que
derive o costume de consagrar aos deuses ou a Deus as primícias de uma colheita ou o
primeiro dos animais de um rebanho. É indubitável que na história simbólica da
Humanidade, e conforme nos refere o Gênesis, todos os primogênitos: Caim, Cham,
Israel, Esaú, etc., estão misteriosamente marcados com um destino contrário.
Enquanto Deus, em suas infinitas possibilidades pode conseguir qualquer coisa
do Nada, o Homem, criatura limitada em suas possibilidades, o que pode fazer é
modificar o que já existe, sem poder extrair coisa alguma do Nada.
O Homem-Arquétipo,
Deus havia desejando
criado os Anjos, não fez maiscriar seresobjetivar
do que espirituais,
seusdapróprios
mesma conceitos.
maneira como
De-
sejoso de proporcionar-lhes corpo, não pode fazer outra coisa que integrá-los na Matéria
mais densa e grosseira. Querendo animar o Caos (as Trevas Exteriores), da mesma
maneira como Deus havia animado o mundo metafísico que primitivamente lhe havia
confiado, nada mais fez do que afundar-se em areia movediça.
Com efeito, Deus sendo, no sentido mais absoluto da palavra (“Sou o que sou”,
disse a Moisés sobre o Sinai, deve ser preexistente ao Nada. Para criar a matéria
primitiva, Deus simplesmente separou uma parte de suas infinitas perfeições de uma

16
porção de sua essência infinita. Esta retirada parcial da perfeição espiritual mais
absoluta conduziu, inevitavelmente, à reação traduzida em uma imperfeição material e
relativa. Isto explica porque a Criação, qualquer que seja, não pode jamais ser perfeição.
É necessariamente imperfeita pelo fato dela não ser de Deus.
Imitando o Absoluto, Adam Kadmon pretendeu, pois, criar sua matéria pri-
mordial.
Queda. Por tratar-se de um alquimista inexperiente, encontramos aqui a srcem de sua
O Homem-Arquétipo é um ser andrógino. Nos diz o Gênesis (Cap. 1, 27 e 28):
“E criou; homem e mulher os criou”. É este elemento negativo, feminino, que Adam
vai jogar fora de si mesmo. É o lado esquerdo, feminino, passivo, lunar, tenebroso,
material o qual ao separar-se do lado direito, masculino, ativo, solar, luminoso,
espiritual, dará nascimento à Eva. A Mulher-Arquétipo foi, pois, extraída de um dos
lados do Andrógino e não de uma de suas costelas (Todas as religiões antigas
conheceram um ser Divino, srcinal, que era masculino e feminino).
Assim nos expressa o Gênesis (Cap. 2, 23 e 24): “E disse Adam: Isto é agora
osso dos meus ossos e carne de minha carne (ele conserva o Espírito, a alma), esta será
chamada Mulher (em hebraico “Isha” porque do homem foi tirada - em hebraico
“Ish”).
É nesta matéria nova, na Eva do Gênesis, a mulher simbólica, a quem Adão
penetra para criar a Vida. O Homem-Arquétipo degradou-se, pois ao tentar igualar-se a
Deus. Seu novo mundo ou domínio foi chamado Mundo Hílico pela Gnose, nosso
universo material, mundo cheio de imperfeições e de males. O pouco de bom que nele
existe provém das antigas perfeições do Homem-Arquétipo. Uma vez que se dividiu em
dois seres diferentes, a soma das ditas perfeições srcinais não pode ser total em cada
um deles: daí, pois a Queda. Aqui encontramos a razão pela qual os antigos cultos
haviam deificado a Natureza, que é a Mãe de tudo o que é. Porém, com respeito a tudo o
que é “abaixo dos Céus”: Isis, Eva, Demeter, Rhea, Cybeles, não são mais do que
símbolos da Natureza material emanada de Adam Kadmon, personificadas pelas
Virgens Negras, símbolos da Matéria Prima.
A essência superior de Adam Kadmon, integrada no seio da nova Matéria, é o
Enxofre, expressão alquímica que designa a alma do mundo. A segunda essência, o
mediador plástico, aquele que constituía a forma de Adam, seu duplo superior,
sobreveio do Mercúrio, outra expressão alquímica que designa o Astral dos ocultistas, o
plano intermediário. A Matéria, saída do Caos segundo é o Sal alquímico, o suporte, o
receptáculo, a prisão.
Paralelamente, podemos dizer que Adam é o Enxofre, que Eva é o Sal e que o
Caim do com
conhece Gênesis é o Mercúrio desta
as denominações de Rei,trindade simbólica,
da Rainha termosdos
e do Servidor queSábios...
a Alquimia também
É possível conceber, então, porque em todos os seus graus a Matéria Universal
seja algo vivo, como o admite a antiga e a moderna química e como, em suas
manifestações, pode ser mais ou menos consciente e inteligente.
Através dos quatro mundos da Natureza: mineral, vegetal, animal, hominal
(entre os quais não existe nenhuma solução de continuidade), está o Homem-Arquétipo,
o Adam Kadmon, a inteligência Demiúrgica primitiva, manifesta, dispersa,

17
disseminada, aprisionada. Daí aquele revestimento de “peles de animal” que se refere o
Gênesis: “E Deus deu ao homem e sua mulher túnicas de pele e os revestiu” (3, 21).
Este novo universo Divino, igualmente o refúgio das Entidades caídas, que se
refugiaram nele para esconderem-se ainda mais do Absoluto, na quimérica esperança de
escapar das leis Eternas, presentes em tudo.
Tais presente
perso, mas entidadesemcaídas
todastêm,
as pois,
partesum
da interesse
Matéria, primordial em oque
que constitui o Homem,
Universo dis-
visível,
continue organizando e animando este domínio, que mais adiante será de propriedade
deles.
Como a alma do Homem-Arquétipo ficou aprisionada na Matéria Universal,
também assim a alma do homem individual se encontra prisioneira de seu corpo
material. E as mortes físicas e as reencarnações sucessivas são os meios pelos quais as
Entidades caídas manifestam sua solicitude pelo ser humano. De acordo com isto, nos é
possível compreender melhor as palavras do Redentor e dos Profetas. Assim, Isaias
quando nos disse: “Oh! Morte, onde está tua vitória? Oh! Morte, onde está teu
aguilhão?” (1Coríntios 15,55).
Com o termo “aguilhão” de alude ao aguilhão dos sentidos, que incitam à alma
separada a reencarnar-se em um corpo material.
A Força, a Sabedoria, a Beleza que se manifestam ainda neste mundo material,
constituem os esforços do Homem-Arquétipo para voltar a ser o que era antes de sua
Queda. As qualidades contrárias constituem a manifestação das Entidades caídas,
manifestações destinadas a manter o clima que desejaram criar para subsistir, tal qual o
quiseram, quando deliberadamente interromperam seu retorno até o Absoluto.
Porém, o Homem-Arquétipo não voltará a tomar posse de seu primitivo Es-
plendor e de sua liberdade, senão separando-se da matéria que o absorve por toda parte.
Para ele, é necessário que todas as células que o formam, quer dizer, os homens
individualmente considerados, possam depois de sua morte natural, reconstituir o
Arquétipo, reintegrando-se definitivamente nele e escapando, desta maneira, ao ciclo
das reencarnações.
Então, os microcosmos farão o Macrocosmo, os Homens individuais, reflexos
materiais do Arquétipo, são pois, igualmente, reflexos Divinos (mesmo que inferiores
alguns escalões). Da mesma maneira, o Arquétipo é, também, o reflexo de Deus, do
primitivo Verbo Criador ou Logos, do Espírito de Deus do qual fala o Gênesis.
É correto referir-se a ele, então, como o Grande Arquiteto do Universo. Todo o
culto de adoração dirigido a este último é, pois, um culto satânico, já que é dirigido ao
Homem e não ao Absoluto. É por isso que a Maçonaria o invoca, porém, sem adorá-lo.

inferior)Para escapar aoque


é necessário ciclo das reencarnações se
o Homem-individual neste mundo
liberte que(in-ferus
infernal
de tudo o atrai :para
lugara
Matéria e se desprenda, desta forma, de escravidão a que é submetido pelas sensações
materiais. Ainda assim, é preciso elevar-se moralmente. Contra esta tendência para a
perfeição lutam as Entidades caídas, tentando-o de mil maneiras, com o propósito de
atraí-lo ao seio de Mundo invisível e manter oculta a influência que exercem sobre ele8.

8
- Essa mesma teoria encontramos no livro de Saint-Martin, “LeCrocofile” ou “La Guerre du Bien et du Mal”. (N.
Rev.).

18
É contra elas que deve lutar o Homem-individual, desmascarando-as e expul-
sando-as da esfera de sua existência. Isto se consegue, de uma parte, mediante a
Iniciação que o une aos elementos do Arquétipo já reunidos e reintegrados, o que
exotericamente se designa com o nome de Comunhão com os Santos; e, por outra parte,
através do conhecimento libertador, que lhe ensina os meios de apresentar a libertação
pessoalReferente
definitiva ae da Humanidade
estas cega, valendo-se
últimas possibilidades, do trabalho
deve-se referir pessoal.
às grandes Operações
Equinoxiais, que tendem a purificar a Aura Terrestre, mediante exorcismos e
conjurações, de acordo com os ritos da Alta Magia, aos quais os Elu Cohen
denominavam Os Trabalhos ou O Culto.
Então, quando houver esta libertação individual, dar-se-á a grande libertação
coletiva, aquela que por si só permitirá a reconstituição do Arquétipo e logo sua
reintegração no seio da Divindade, da qual emanou primitivamente.
Abandonado por si mesmo por seu animador, o Mundo da matéria dissolver-se-
á, ao ficar sem a vida, harmonia e direção do Arquétipo. Sob a pressão naturalmente
anárquica das Entidades caídas, esta desagregação das partes do Todo irá se acelerando.
Então, o Universo terá chegado ao seu fim; este será o fim do mundo, anunciado pelas
tradições universais.
“Da mesma maneira que um livro cuja leitura termina, terminarão o Céu e a
Terra...”
A Essência Divina recuperará, então,
gradualmente, o acesso àquelas regiões próprias
de sua essência e das quais se havia separado
primitivamente. As ilusões momentâneas
chamadas com os nomes de criaturas, seres,
mundos, desaparecerão. Porque Deus é o Todo e o
Todo está em Deus, ainda que o Todo não seja
Deus! O Absoluto nada extraiu de um Nada
ilusório, que não poderia existir fora de Ele sem
ser Ele próprio.
Só este desprendimento da essência Divina
é que permitiu a Criação dos Mundos Angélicos,
materiais, etc., assim como é o desprendimento ou
retratação desta mesma essência que permitiu a emanação dos Seres espirituais.
Desta maneira, realizar-se-á a simbólica Vitória do Bem sobre o Mal, da Luz
sobre as Trevas, pelo simples retorno das coisas até o Divino, mediante uma
reassimilação
Tal é odos seres, purificados
desenvolvimento e regenerados.
esotérico da Grande Obra Universal.
Martinez de Pasqually consignou suas teorias iluministas através de graus, em
número de nove, em sua Ordem dos Elu Cohen. Tais graus denominavam-se: Aprendiz,
Companheiro, Mestre, Eleito, Aprendiz Cohen, Companheiro Cohen, Mestre Cohen,
Grande Arquiteto e Cavaleiro Comendador.
O sistema deste Rito, combina com as teorias expostas no Tratado da Reinte-
gração abrangendo a criação do primeiro homem, seu castigo e as penas do corpo, da
alma e do espírito daquele que estava em prova. O propósito a que se propõe a Iniciação

19
é regenerar o homem, reintegrando-o em sua essência primitiva e nos direitos que
perdeu por sua queda. Divide-se em duas partes. Na primeira, o candidato não é, aos
olhos daquele que o inicia, mais que um composto de barro e lama e não recebe a vida
senão com a condição de não provar do fruto da Árvore da Ciência. O Neófito promete
cumpri-lo, porém, sente-se seduzido, quebra sua palavra e por isso é castigado e lançado
nas chamas.
virtuosa, Nosua
repara entanto, se por para
falta, renasce meiouma
de vida
trabalhos
nova. úteis e de uma vida exemplar e
Na segunda parte, o candidato se encontra animado de um sopro Divino, está
apto para conhecer os segredos mais ocultos da natureza, a Cabala, a adivinhação, a alta
química e a Ciência dos seres incorpóreos lhe são muito familiares.
Quando em 1767 Martinez de Pasqually se radicou em Bordeaux, contraiu ma-
trimônio com a sobrinha do senhor Collás, Major do Regimento de Foix, chamada
Margarida Angélica Collás de Saint-Michel. Por motivo de seu matrimônio, Martinez
conheceu muitos oficiais do Regimento de Foix, recrutando entre esses oficiais vários
membros para sua Ordem dos Elu Cohen.
No ano seguinte, em 1768, sua mulher deu à Luz a um filho a quem puseram o
nome de João Jacob Felipe Joaquim Anselmo, sendo assistido em seu batizado por
quatro Cohens da Ordem, como padrinhos.
Durante todo este tempo trabalhou Martinez, em Bordeaux, na confecção dos
rituais de Iniciação dos diferentes graus, na propaganda e na fundação de novas Lojas,
em trabalhos de Magia prática e em compartilhar seus ensinamentos, por
correspondência ou diretamente, a alguns discípulos escolhidos. Com frequência recebia
a visita dos discípulos que viajavam a Bordeaux, a fim de ficarem uma temporada em
contato pessoal com o Mestre.
Martinez de Pasqually vivia modestamente e, às vezes, chegou a passar por si-
tuações econômicas penosas, porém com dignidade.
Em 1772 Martinez embarcou para São Domingos, onde um parente seu lhe havia
deixado uma herança de importância. Ali morreu em 1774.
A última carta que Willermoz recebeu de Martinez de Pasqually, tem data de 03
de agosto de 1774, do Porto Príncipe, de onde seguia dirigindo a Ordem. Nesta carta
anuncia a remessa de rituais para seis graus da Ordem, por um irmão que viajaria à
Europa. Falava de sua enfermidade e nomeava o irmão Caignet de Lester seu sucessor
espiritual na direção da Ordem.

20
OS PRINCIPAIS DISCÍPULOS DE PASQUALLY

Martinez de Pasqually faleceu em Porto Príncipe em 20 de setembro de 1774.


Seu sucessor na Ordem dos Elu Cohen foi o Senhor de Gainet, Comissário da
Marinha Francesa, porém, sua atuação influiu muito pouco no desenvolvimento do rito;
seus verdadeiros chefes foram Louis Claude de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz.

JEAN BAPTISTE WILLERMOZ

A figura de Willermoz, a que já nos referimos, merece destaque por sua impor-
tância.
Willermoz nasceu em Lyon, em 1730 e morreu nesta mesma cidade em 1824.
Foi iniciado na Maçonaria em 1750 e em 1755 fundou, em Lyon, a Loja da Perfeita
Amizade, da qual foi eleito Venerável. Organizou a Maçonaria em toda a região
Lyonesa; em 1762-1763, chegou a ser Grão Mestre da Loja Matriz.
Em 1776 Willermoz teve conhecimento da existência da Ordem dos Elu Cohen,
sendo nela iniciado no mesmo ano por Martinez de Pasqually, em Versalhes. Em 13 de
março de 1768, Bacon de la Chevalerie, em sua qualidade de substituto geral do rito dos
Elu Cohen, deu a Willermoz o Grau de Réau-Croix 9.

ordem eEm 1771, Willermoz recebeu instruções de Saint-Martin, no qual apreciava a


o método.
Willermoz foi um ocultista muito apegado à organização e às “experiências”,
ainda que se sentindo constantemente decepcionado por seus insucessos. Saint-Martin

9
- Bacon de la Chevalerie foi um dos fundadores do Grande Oriente da França. Marechal de campo do exército
Francês, literato e autor da obra intitulada “Estado do Grande Oriente da França”. (N. Rev.).

21
tratou de fazê-lo acessível à “Voz Interior”, por ém Willermoz, que na vida comum era
um comerciante sagaz e por isso, essencialmente prático, não pode segui-lo 10.
Willermoz necessitava “provas” para afirmar seu espiritualismo. Por outro lado,
sentia-se fascinado pelo cerimonial e pelo ritualismo.
Jean Baptiste Willermoz teve o imenso mérito de organizar o Convento
11
Maçônico das Galias
que foi presidido em 1778
pelo Duque e o Convento
de Brunswick, dede
neto Wilhemsbad
Frederico II.em 1782, na Alemanha,
Saint-Martin, Willermoz e seus seguidores adotaram os métodos da Ordem dos
Elu Cohen até 1782, ano do Convento de Wilhemsbad, quando fizeram uma aliança
com a Ordem da Estrita Observância Templária. Willermoz recebeu a missão de
organizar o chamado Rito Escocês Retificado, sendo designado Soberano Delegado
Geral do Movimento para a região de Lyon.
Disse Roberto Ambelain, em um folheto que publicou em Março de 1948, inti-
tulado “O Martinismo Contemporâneo e suas verdadeiras srcens” (publicado em “Os
cadernos dos Destinos”):

Com efeito, temos estudado cuidadosamente os diversos rituais


e instruções (do Rito Escocês Retificado), tanto de suas Lojas de São
João como das Lojas de Santo André e de sua Ordem Interior. Tudo
encontra-se marcado com o selo Martinista. Pode-se comparar as
instruções dos diversos graus dos Elu-Cohen (Sacerdotes Eleitos),
publicadas por Papus em sua obra sobre Martinez de Pasqually, com
o Ritual das Lojas Escocesas Retificadas. Observa-se aí a tendência
marcante de perpetuar os ensinamentos teóricos do Mestre. Isto é in-
discutível. Esse fato não deve nos assombrar se recordarmos que no
Convento de Wilhemsbad estas instruções foram reimpressas,
apresentadas e aprovadas por Willermoz e seus amigos...
Que o Martinismo teórico seja ignorado pela maior parte dos
Maçons do Regime Escocês Retificado; que o Martinismo prático (ou
seja, teúrgico) igualmente o seja pelos altos dignitários da Ordem
Interior (Escudeiros ou Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa), é
igualmente indiscutível.

Em síntese, depois da morte de Martinez de Pasqually, Jean Baptiste Willermoz


tratou de perpetuar seus ensinamentos no seio do Rito Escocês Retificado; dentro do
qual a Ordem Interior dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa vinha a ser o quartel
general
doutrina do Martinismo.
de Martinez por Em outras da
intermédio palavras, Willermoz
Maçonaria. Dentro esforçou-se em perpetuar
do Rito Escocês Retificado,a
10
- Após a partida de Martinez de Pasqually para São Domingos, Saint-Martin e Willermoz, assim como os demais
discípulos franceses do Mestre, ficaram desorientados. Eles ainda não estavam em condições de portar todas as
verdades que Martinez poderia lhes transmitir. Por essa época (1782), Saint-Martin tinha editado seu primeiro livro
“Dos Erros e da Verdade” e fazia muito sucesso entre os Iniciados da diferentes seitas e no mundo profano.
Willermoz permenecia em Lyon organizando sua Maçonaria a realizando os trabalhos Cohen com base no sistema de
Martinez, em busca da “Coisa”. Um dia Saint-Martin chegou a Lyon e teve uma grata surpresa, vendo os resultados
dos trabalhos de Willermoz. A partir desse dia penetrariam mais intensamente na senda interior a doutrina de
Martinez de Pasqually e de Jacob Boehme. (N. Rev.).
11
- Região de Lyon, França. (N. Rev.).

22
o “Colégio dos Grandes Professos”, Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, cuja
existência devia permanecer secreta, devia ser a instituição depositária e conservadora
da Maçonaria esotérica. No conceito de Willermoz a Maçonaria tinha por objetivo o
estudo das Ciências Ocultas. Os Grandes Professos tiveram seu centro em Lyon. Porém,
logo contaram com filiais em Turim, Nápoles, Cambéry, etc.. Por outro lado, pretendeu
Willermoz
e consideravaunirao Cristo
ocultismo com o cristianismo,
o Reparador. investigar
Crê em Cristo, o esoterismo
porém do cristianismoa
renega decididamente
autoridade do Vaticano e do catolicismo de Roma. No Rito Escocês Retificado seus
princípios aparecem como Cristãos, fundamentados nos Evangelhos, dos quais fazia um
elogio entusiasta.
Willermoz manteve correspondência regular com o Duque de Brunswick, o
Duque de Salm, Charles de Hesse, von Hund, Saint Germain, Cagliostro, Savalete de
Lange e pretendeu introduzir na Maçonaria uma reforma com o objetivo de elevá-la à
mais pura iniciação tradicional.
Quando eclodiu a Revolução Francesa, Willermoz correu a uma casa retirada,
onde se reuniam os iniciados e, em dois baús, colocou os arquivos e os trouxe para a
cidade. No dia seguinte, aquela casa ficou reduzida a cinzas. Na casa onde se alojava em
Lyon, caiu uma bomba sobre um dos baús e o desmanchou com todos os documentos.
Willermoz fugiu levando o que restava dos arquivos. O resto enterrou ou colocou em
mãos seguras. Estes incidentes foram relatados por ele mesmo em uma carta que
escreveu em 1810 ao Príncipe Carlos de Hesse-Cassel. Poucos anos depois, antes de sua
morte, confiou os arquivos a Profés, seu sobrinho, a quem havia iniciado. Quando este
morreu, sua esposa confiou os papéis a um amigo seguro e que compartilhava das
mesmas ideias, Cavarnier. Este entusiasta do ocultismo dava-se conta da
responsabilidade que sobre ele pesava e o depósito dos arquivos o preocupava.
Enquanto isso, havia se constituído novamente a Ordem Martinista na França, através
da filiação de Louis Claude de Saint-Martin com suas características peculiares, como
veremos mais adiante, sob a direção Dr. Encausse (Papus), cujo representante em Lyon
era o livreiro de irmão Elias Steel.
Um dia em que Cavarnier passava diante da livraria de Steel, entrou e através de
conversa que teve com o proprietário, ficou sabendo que era um Iniciado da Ordem
Martinista e contou a Steel a história do depósito dos arquivos de Willermoz. Pouco
depois fez a entrega deles à Ordem Martinista reorganizada por Papus, Stanislas de
Guaita e outros.
Em suma, podemos dizer que Willermoz, uma vez passada a tormenta revoluci-
onária, graças aos rituais que havia salvo, reorganizou a Maçonaria Espiritualista. Após
sua morte, esubsistiram
Alemanha Itália. Lojas de seu sistema trabalhando com êxito em toda a França,

23
LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN

Antes de seguir adiante, desejamos esclarecer que o Martinismo é sobretudo um


método de pensar. Se em certas ocasiões apoiou-se em grupos Maçônicos, isto não foi
senão uma tática necessária em uma disciplina de conduta; porém, queremos insistir no
seguinte postulado: A Maçonaria e o Martinismo são organizações completamente
independentes uma da outra. É verdade que seguidamente os Martinistas provieram de
filas Maçônicas,
necessário dentre
esclarecer os émembros
que não necessáriomais esclarecidos
ser Maçon para ser da Maçonaria, porém é
Martinista.
O principal discípulo de Martinez de Pasqually foi Louis Claude de Saint-
Martin. Nasceu em Amboise, província de Touraine, em 18 de janeiro de 1743. Seus
pais eram muito piedosos e de boa situação social e econômica. Pouco tempo depois de
seu nascimento morreu sua mãe e posteriormente, seu pai voltou a contrair matrimônio.
Grande parte da formação espiritual de Saint-Martin deveu-se a sua madrasta, que
ensinou ao menino, desde a sua mais tenra idade, a significação dos mais altos
princípios espirituais. Cumprindo o desejo paterno estudou advocacia na Escola de
Jurisprudência de Orleans. No entanto, sua orientação espiritual não se coadunava com
o exercício dessa profissão. Eis porque não é estranho que tenha obtido a nomeação de
tenente comissionado no Regimento de Foix, exercendo as funções na cidade de
Bordeaux, posição que lhe deixava tempo e suficiente tranqüilidade para perseverar em
seus estudos filosóficos. Conhecia a fundo todos os clássicos do século. Foi nesta cidade
que conheceu Martinez de Pasqually, ficando impressionado com sua sabedoria e com
as faculdades espirituais que evidenciava e, sobretudo, por ser ele detentor de uma Teur-
gia... a arte de mandar nos Seres Invisíveis e de fazê-los aparecer e desaparecer durante
as sessões da Loja, quando sempre se preparava antecipadamente um assento para quem
ia manifestar-se12. Saint-Martin iniciou-se na Ordem dos Elu-Cohen em 1768 e durante

12
- Em seguida Saint-Martin veio a desaprovar essas “manifestações sensíveis”, como dizia. O objetivo era produzir
fé nos presentes. Mas para Saint-Martin aquele que não tem um desejo inato e tendência para a “Coisa” não se
sensibiliza com o fenômeno. “Eu só procuro Homens de Desejo -- dizia - e é para eles que escrevo. Por isso sou
obscuro”. A fé pode ser aumentada pelo bom exemplo e pelo verbo de um homem de vontade, mas ela dev emergir
do interior de cada um. O maior resultado do fenômeno é a profanação dos mistérios. Quem pratica um prodígio está
abrindo os véusç do santuário a um profano. (N. Rev.).

24
os últimos anos que Martinez permaneceu na Europa foi seu Secretário, renunciando à
carreira militar. É a Saint-Martin a quem se deve a idéia do selo que se via e se vê
estampado em todos os documentos Martinistas.
Toda a existência de Saint-Martin, toda sua vida interior foi determinada por esta
Teurgia Divina, que é o grande trabalho interno da Reintegração. Para Saint-Martin já
não
magiaseelementar,
tratava demas
fazerdecom
criarque se manifestassem
no centro as entidades
do ser humano, secundárias, aobra
lenta e pacientemente, da
Figura
do “Eu” Celeste, do qual Jesus é o símbolo. É esta a grande obra do Alquimista
Espiritual, do Mago, e do Iniciado. Toda a obra de Louis Claude de Saint-Martin centra-
se no comentário deste Princípio.
Porém, sua Iniciação na Ordem dos Elu-Cohen foi sua única filiação iniciática?
Não! pois Martinez de Pasqually iniciou-o, igualmente, na Sociedade dos Filósofos
Desconhecidos cujas constituições remontam a 1664 e seus Estatutos foram dados a
conhecer em 1784 pelo Barão de Tschoudy, em sua obra “Estrela Flamejante”. Alguns
sustentam que esta Ordem era um ramo dos Rosa-Cruzes da Boemia. Foi a esta Ordem
ou Fraternidade mística que pertenceram Khunrath, Gichtel, Salzmann, Böehme. Foi a
esta Ordem que se uniram os “Irmãos do Oriente” e da qual um dos protetores foi o
Imperador Alexis Cannone e que é ainda mais antiga. Daqui derivaram os símbolos
fundamentais do Martinismo posterior, como os seis pontos misteriosos da Ordem e as
letras que mencionam o terceiro grau da Ordem Martinista. Foi desta Fraternidade que
Saint-Martin recebeu as chaves da Voz Interior, que depositou nas mãos dos membros
de sua “Sociedade dos Íntimos”.
Saint-Martin foi iniciado, também, na Franco-Maçonaria em 1785, fazendo parte
dela até 1790, quando solicitou sua exclusão.
Para evitar confusão deve-se esclarecer que Saint-Martin também continuou a
obra de seu Mestre Martinez de Pasqually, porém de forma diferente. Julgou mais útil
um trabalho individual, conforme a Tradição dos Superiores Incógnitos e independente
da formação de Lojas, a fim de vencer a oposição dos Maçons franceses que, sob o
pretexto de combater o clericalismo, iam caindo no erro de afastar-se de toda idéia
elevada e espiritual em harmonia com a Iniciação Tradicional. Assim, pois, Saint-
Martin continuou iniciando nas doutrinas e ensinamentos do Martinismo aqueles que
julgou aptos para isso, dando sempre mais importância à qualidade do que à quantidade,
o que não impediu que suas iniciações fossem numerosas. Por outro lado, admitiu na
Ordem as mulheres, em um plano de igualdade com os homens. Recordemos suas
próprias palavras:

Acaso
revesteaoAlma
corpofeminina não provém
masculino? da mesma
Acaso não fonte
tem que que aquela
realizar que
a mesma
obra, combater o mesmo espírito e esperar os mesmos frutos? 13

13
- Sem querer contrariar essas afirmações, que julgamos corretas, pois a mulher como ser criado deve reintegrar-se
igualmente na Unidade Divina, lembremos contudo que Saint-Martin tinha muito cuidado ao iniciar uma mulher. Em
sua autobiografia afirma que elas são “em pequeno número e escrupulosamente examinadas”, “o mal d e muitas
mulheres é não saber guardar o silêncio”. É claro que muitos homens sofrem desse grande defeito, pois a força do
Iniciado está em calar. “As grandes verdades só se ensinam bem no silêncio”. (Saint-Martin, Mon Portrait Historique
et Philosophique, pag. 21. (N. Rev.).

25
Em harmonia com esta linha, Saint-Martin expressa, em sua carta de quatro de
julho de 1790, que renunciou a toda organização Maçônica, começando a propagar seu
sistema pessoal somente a partir de 1793. Sobre este particular é interessante citar
alguns parágrafos da cartas que se conservam, do próprio Saint-Martin, uma das quais,
dirigida a Liebirsdorf (carta X), diz:

Aquelas iniciações pelas quais passei em minha primeira escola e


que deixei depois de muitos anos para dedicar-me à única que é
verdadeira ao meu coração .... Posso assegurar-lhes que recebi da
voz interior verdades e gozos mil vezes superiores aos que recebi do
exterior. Não existe maior Iniciação que a de Deus e de Seu Verbo
Eterno, que mora em nós...
A única Iniciação que prego e que busco com todo o ardor de
minha alma é aquela pela qual podemos entrar no Coração de Deus e
fazer entrar o Coração de Deus em nós... Não existe outro mistério
para chegar a esta Santa Iniciação, do que mergulharmos cada vez
mais nas profundidades de nosso ser...

Uma passagem das Recordações do Conde de Geichen nos dá a conhecer que


Saint-Martin havia aberto em Paris uma pequena escola. Uma artigo de Varuhagem Von
Euse, de 1821, diz: “Saint-Martin decidiu fundar uma sociedade cujo fim seria a
espiritualidade mais pura.”
Ragon anota em sua Ortodoxia Maçônica, a existência de um Rito Martinista
que compreendia, inicialmente, dez graus e que, em seguida foram reduzidos a sete. É
improvável que Louis Claude de Saint-Martin em alguma época haja criado um Rito
Martinista Maçônico (?). Ocorre que seguidamente há uma confusão entre o nome de
Pasqually e o de Saint-Martin. Daí o nome de Martinismo dado, indiferentemente, à
Maçonaria de Martinez de Pasqually e à organização criada por Saint-Martin. É
inconcebível que Saint-Martin, que havia se retirado da Franco-Maçonaria haja criado
um rito particular e que, sobretudo, lhe tenha dado o seu nome. Além disso, como já
dissemos, Saint-Martin incluiu em seu trabalho uma novidade para sua época, a
instituição da Iniciação Livre, que dava a possibilidade da transmissão dos três
elementos: mental, astral e físico, não sendo necessárias a existência de Lojas.
Durante a Revolução Francesa, os Martinistas, que eram contrários à violência,
foram perseguidos encarniçadamente pelos chefes revolucionários, sendo guilhotinados
mais de dois mil. Saint-Martin e Willermoz foram presos e quase subiram ao patíbulo,
quandoNa a queda de na
Rússia, Robespierre
pessoa delhes devolveu
Novikov, a liberdade.deixou uma aura na educação
o Martinismo
pública. Ele foi, não somente o primeiro Martinista, mas, também o primeiro mártir de
suas convicções. A imperatriz Catarina II, assustada com a Revolução Francesa e com a
enérgica atividade despendida pelos Martinistas, especialmente os de Moscou,
encarcerou Novikov, em Shliserburg.
O Martinismo dessa época caracterizou-se por contar entre suas fileiras grandes
idealistas, místicos desinteressados e inclinados a toda classe de obras filantrópicas. Sua
fonte de inspiração na maioria dos casos, foi a filosofia espiritual de Louis Claude de

26
Saint-Martin. O Ritual era grandemente sensível. Compunha-se de Oração e da
Cerimônia de Iniciação. Após a morte de Saint-Martin e até 1890 a Iniciação Martinista,
seguindo a filiação do Filósofo Desconhecido, transmitiu-se a poucos. Aos nomes
anteriores, deve-se agregar os de chaptal, Delaage, Eliphas Levi, Balzac, Cazotte, Fabre
d’Olivet, Joseph de Maistre, Saint-Yves de Alveidre, Papus, Stanislas de Guaita, etc..
Passemos agora
Sua primeira a estudar
obra, a obrae escrita
Dos Erros de Saint-Martin.
da Verdade, ou os Homens chamados ao Prin-
cípio Universal das Ciências, foi publicada em 1775, com o seguinte título: Obra na
qual, fazendo notar aos observadores a incerteza de suas buscas e seus contínuos
desprezos, se lhes indica a rota a seguir para adquirir a evidência física sobre a srcem
do bem e do mal, sobre a justiça civil e criminal, sobre as Ciências, as línguas e as
artes. Por um Filósofo Desconhecido.
Esta obra foi escrita por Saint-Martin quando estava radicado com Willermoz,
em Lyon. Willermoz e o pequeno círculo de fiéis tomavam conhecimento da obra à
medida que Saint-Martin a revista. Debatiam, então, o que se podia dizer e o que e devia
calar. Não era muito fácil decidir e mais de uma vez se abriram discussões. As melhores
provas sobre a existência do mundo imaterial e Divino eram justamente aquelas sobre as
quais haviam jurado guardar um segredo inviolável.
Que grau de esclarecimento podia dar-se às noções sobre o por que e como das
coisas cujo conhecimento está reservado, em todos os tempos, a um número
reduzidíssimo?
Estavam todos de acordo em que não era necessário expressar tão preciosas
verdades, senão de uma maneira simbólica com o fim de salvaguardar as promessas
sagradas que em todos os séculos tem sido ordenadas rigorosamente aos Iniciados: O
Silêncio e o Incógnito.
Isto explica as obscuridades e as reticências que se encontram no livro.
A segunda obra de Saint-Martin é o Quadro Natural da relações que existem
entre Deus, o Homem e o Universo, publicado em 179214; O Novo Homem, em 1792;
Considerações filosóficas e religiosas sobre a Revolução Francesa, em 1796; O
Crocodilo, ou a guerra do bem e do mal, em 1798; O Homem de Desejo, em 1790; Ecce
Homo, em 1792; Luz sobre a Associação Humana, em 1797; O Mistério do Homem-
Espírito, em 1802, para citar apenas suas principais obras.
Saint-Martin traduziu algumas obras de Jacob Böehme, notadamente A Aurora
Nascente ou a Raiz da Filosofia, da Astrologia e da Teologia.
Esta obra foi publicada em 1800 e fez-se uma reimpressão em idioma francês em
Milão, em 1927 e em 197615.

ESTRATOS DAS OBRAS DE SAINT-MARTIN

Para dar uma compreensão da doutrina de Saint-Martin citaremos algumas pas-


sagens de suas obras, tiradas da recapitulação publicada por André Tauner, em 1946.

14
- Esta obra foi reimpressa em 1900 por Papus e reeditada em 1976. O livro tem 22 capítulos, em analogia aos 22
arcanos do Tarot. (N. Rev.).
15
- Lembremos também que Saint-Martin traduziu de Böehme: Da Tríplice Vida do Homem (1793); Dos três
Princípios da Essência Divina, 2 vol. (1802). (N. Rev.).

27
Eis aqui um extrato sobre a Origem e o Fim do Homem contido no Quadro
Natural. Sente-se nitidamente, nesta passagem, a influência de Martinez de Pasqually e
da doutrina da Reintegração:

Afastemos pois, de nós as ideias criminosas e insensatas desse


nada, à qual nosso
envileçamos homensser,
cegos
queensinam
é feito que devemos
de uma nossadiferença
sublime srcem. Não
que
constitui seu Princípio, pois segundo as leis físicas, nada pode elevar-
se senão ao grau de onde desceu. No entanto, essas leis deixariam de
ser verdadeiras ou universais se o princípio do homem fosse o nada.
Tudo nos indica nossas relações com o mesmo centro, produtor da
universalidade material e da universalidade corporal, mesmo que
todos nossos esforços tendam continuamente, a apropriar-nos de um
ou de outro e a atrair as virtudes até ao redor de nós.
Observemos, ainda, que está doutrina sobre a emanação do ser
intelectual do homem, concorda com a que nos ensinaram, que todos
nossos descobrimentos não são senão reminiscências. Pode-se dizer,
ainda, que estas duas doutrinas sustém-se mutuamente, pois se somos
emanados da fonte universal da verdade, nenhuma verdade deve
parecer-nos nova e, reciprocamente, se alguma verdade nos parece
nova, ela é só aparente. No entanto, nós não percebemos senão a
recordação e a representação do que estava escondido em nosso inte-
rior; em conseqüência, devemos ter tomado conhecimento dessas
verdades, primitivamente, na fonte universal da verdade.
Pode-se dizer que todos os seres criados e emanados na região
temporal, inclusive o homem, trabalham na mesma obra: redescobrir
sua identidade com o Princípio, isto é, crer sem cessar até chegar ao
ponto de produzir seus frutos. Eis aí porque o homem, tendo a
recordação da luz e da verdade, prova que ele descende da morada
da luz e da verdade.

As seguintes considerações sobre o tempo e o espaço, são notoriamente meta-


físicas:

O tempo não é mais que um intervalo entre dois atos, não é mais que
uma contração, uma suspensão nas faculdades de um ser. Também cada
ano,
seres;cada hora,
é esta cada momento,
alternativa o Princípio
que forma o tempo, Superior tira e dá poderes
que está submetida aos
às mesmas
progressões do tempo, que faz com que o tempo e o espaço, sejam
progressivos.
Enfim, consideremos o tempo e o espaço contido entre duas linhas que
formam um ângulo ou vértice, tanto mais obrigados estão a dividir sua
ação, para completá-la ou para percorrer o espaço que fica entre uma
linha e outra. Ao contrário, quanto mais perto estão dessa ponta, tanto
mais se simplifica sua ação. Julguemos, pois, o que deve ser a sim-

28
plificação de ação, no Ser Fundamental e Princípio de tudo, que é a ponta
do ângulo. Este Ser não tendo que recorrer senão à unidade de sua
própria essência para alcançar a plenitude de todos seus atos e de todos
seus poderes, não reconhece senão a nulidade do tempo, o tempo é
absolutamente nulo para Ele...

Eis aqui uma passagem que não seria desaprovada por nossos físicos modernos:

É inquestionável que a matéria não existe senão pelo movimento,


pois vemos que, quando os corpos encontram-se privados dele,
dissolvem-se e desaparecem insensivelmente. É também igualmente
verídica a observação que o movimento é o que dá a vida aos corpos
e que não lhes pertence, propriamente, uma vez que o vemos cessar
neles, tendo deixado de ser sensíveis a nossos olhos, e nós mesmos
não podemos duvidar que eles estão completamente sob sua
dependência, uma vez que ao parar este movimento, acontece o pri-
meiro ato de sua destruição. Concluímos, pois, que se tudo
desaparece à medida que o movimento cessa, é evidente que a
existência não existe senão pelo movimento; é bem diferente dizer que
o movimento pertence à existência e que está na existência...

Para Saint-Martin, o candidato à Iniciação espiritual denomina-se Homem de


Desejo. Eis aqui algumas linhas do Ministério do Homem-Espírito, que esclarecerão
esta denominação:

Por um lado, a magnificência do destino natural do homem,


consiste em poder, real e radicalmente, querer por seu desejo,
somente a coisa que pode, real e radicalmente, possuir. Esta coisa só
é o desejo de Deus; todas as outras coisas que arrastam o homem,
este não as deseja em absoluto, sendo tão somente escravo ou joguete
delas. Por outro lado, a magnificência de seu mistério consiste em
não poder, radical e realmente, atuar senão de acordo com a ordem
positiva, pronunciada a todo instante, como por um professor ao seu
redor, e isto por aquela autoridade que só é equitativa, boa,
consequente, eficaz e conforme o desejo eterno.

O MARTINISMO É CRISTÃO, PORÉM NÃO É CATÓLICO


Já se disse, com razão, que o Martinismo é essencialmente cristão. É Cristão
porque se relaciona com o fundo da religião cristã, independente de toda forma ou culto,
porém não é católico romano16. Para convencermo-nos basta recorrer a certas críticas de
Saint-Martin contra o catolicismo romano e recordar que, em seus últimos instantes de
vida, repeliu a ajuda de um sacerdote católico, conforme nos relata Joseph de Maistre.
Porém, leiamos a respeito, suas próprias frases:
16
- Católico significa Universal; o termo Católico Romano é uma limitação daquele. (N. Rev.).

29
O Catolicismo, ao qual pertence o título de religião, é o caminho
das provas e dos trabalhos para elevar o Cristianismo. O
Cristianismo é a região da emancipação e da liberdade; o catolicismo
não é mais que um seminário do Cristianismo, é a região das regras e
da disciplina do neófito.
O Cristianismo banha toda a terra tal como o espírito de Deus. O
catolicismo não banha senão uma parte do globo, ainda que o título
que leva, apresente-o como universal.
O Cristianismo leva nossa fé até a região luminosa da eterna
palavra Divina; o catolicismo limita esta fé à palavra escrita ou à
tradição.
O Cristianismo dilata e estende o uso de nossas faculdades
intelectuais; o Catolicismo encerra e circunda o exercício dessas
mesmas faculdades. O Cristianismo mostra Deus descoberto, no seio
de nosso ser, sem o auxílio de fórmulas; o Catolicismo nos deixa a sós
para encontrar a Deus, sob um ritual e cerimônias. O Cristianismo
não faz nem monges nem anacoretas, porque não pode afastar-se da
luz do sol; o Cristianismo expandiu por todas as partes seu esplendor.
É o catolicismo que provou os desertos de solitários e as cidades de
comunidades religiosas, uniu-os para conseguir de uns sua salvação
particular e de outros para oferecer ao mundo corrompido algumas
imagens de virtude e de piedade, que o despertassem de sua letargia.
O Cristianismo não tem nenhuma seita, uma vez que abraça a
unidade sendo só, não pode ser subdividida. O Catolicismo viu nascer
em seu seio, multidões de sistemas, seitas e cismas que aumentaram
mais o reino da divisão do que o da concórdia; e é neste Catolicismo,
no qual se crê no mais perfeito estado de pureza, que encontramos
apenas dois de seus membros nos quais a crença seja uniforme. O
Cristianismo criou guerra apenas contra o pecado, porém o
catolicismo, criou-a contra os homens.

A seguinte citação do Quadro Natural, demonstra claramente que Saint-Martin


acreditava que o Espírito do Homem é só e verdadeiramente o Templo particular:

O homem, ao descobrir a ciência de sua própria grandeza,


aprende
intelectualque
chegaapoiando-se sobre Templo,
a ser o verdadeiro uma base universal,
que as tochas queseu ser
devem
iluminá-lo são as luzes do pensamento que o rodeiam e o seguem por
toda parte, que o Sacrificador é a confiança na necessária existência
do Princípio da ordem e da vida; é esta persuasão, ardente e fecunda,
que faz desaparecer a morte e as trevas e com a qual os perfumes e as
ofertas traduzem-se na oração, no desejo, o ciúme pelo reino da
unidade exclusiva; que o altar é esta convicção eterna, fundada sobre
sua própria emanação e à qual Deus e o homem vêm render-se para

30
encontrar ali, um sua glória, outro sua felicidade. Em uma palavra,
que o fogo destinado à consumação dos holocaustos, esse fogo que
jamais deve extinguir-se, é o da centelha Divina que anima o homem
e que, se houvesse sido fiel à sua primitiva lei, a teria mantido sempre
como uma lâmpada refulgente, situada no círio do Trono do Eterno, a
fim de oclarear
enfim, homemosjápassos dos duvidar
não deve que caminhavam afastados;
de que recebeu porque,
a existência
somente pelo sentido vivo da luz e da Divindade.

A verdade alumia cada fenômeno do Universo. O conhecimento íntimo e pro-


fundo é acessível a cada um, se sabe meditar e compreender. Tal o exórdio que faz
Louis Claude de Saint-Martin no Quadro Natural, comparando o Universo com um
livro:

A Causa Primeira é o escritor ou a Natureza Naturante. A


Natureza é o livro escrito. O Homem é o leitor. Porém, este leitor não
compreende (ou muitas vezes compreende mal) o sentido exato das
páginas do livro; é necessário, para isto, ter a inteligência de
pacientes meditações.

Saint-Martin distingue duas naturezas no homem: o ser sensível e o ser intelec-


tual. O primeiro manifesta-se no impulso dos sentidos e o segundo na deliberação do
espírito.

O Pensamento Criador é superior e anterior ao objeto criado


pelo homem, que dispõe de sua máquina pensante antes que chegue a
mecanizar seu pensamento. Porém, de quem ou de que o homem tira
sua faculdade de pensar? De quem ou de que tira seu ser físico?
É impossível pensar que só o acaso tenha produzido o mundo.
Diante de uma máquina qualquer, construída por um homem, ao ser
examinada pode-se conhecer o inventor, seu ser físico, suas
faculdades espirituais. No entanto, os materialistas, ao tentarem ex-
plicar o mundo, constatam que a máquina está feita para funcionar;
examinando atentamente todo o mecanismo, maravilham-se com o
jogo exato e preciso de todos os órgãos, porém assombram-se quando
se admite um possível inventor, independentemente da máquina.

que Nossos descobrimentos,


deixar claro em todos
a relação que existe os domínios,
entre não fazem
nossa própria luz mais
e as
coisas. Esta dependência do homem dá ideia de uma força e de uma
sabedoria suprema e única.
Todas as doutrinas filosóficas e religiosas tendem para a
Unidade. O Martinismo é inteiramente a doutrina da Unidade.
Nenhuma religião, nenhuma filosofia respeita tanto o individualismo
dos que participam delas, como o Martinismo. Esta doutrina eleva o

31
homem, espiritual e interiormente, porque é verdadeiramente
esotérica.

Para os espíritos piedosos, que suspiravam doloridos ante a difusão aterradora da


incredulidade e a impiedade de Voltaire e da Enciclopédia, Saint-Martin era um profeta,
que
novofazia renascerem
Cristianismo as fontes dasoposto
transcendental, crenças
ao antigas, uma vez
Cristianismo que havia
exotérico que éelaborado um
uma religião
feita para o vulgo, e se elevava de grau em grau às verdades sublimes, tais como as que
possuíam os primeiros cristãos, que eram os verdadeiros iniciados nos mistérios.
No próximo capítulo trataremos do Martinismo moderno e sua linha de sucessão
ou de filiação iniciática, até chegarmos à Gerard Encausse (Papus) e a Agustin
Chaboseau.

32
O MARTINISMO PAPUSIANO

HENRI DELAAGE

Papus foi Iniciado no Martinismo em 1882 por Henri Delaage, poucos meses
antes de sua morte. Impôs-lhe as mãos e o consagrou S. I. , conforme a Tradição. É a
esta Iniciação que se refere Papus, sem nomeá-la, em seu interessante folheto
Martinesismo, Willermosismo, Martinismo e Franco-Maçonaria, quando escreve:

Alguns meses antes de sua morte, Delaage quis transmitir a outro a


semente que lhe havia sido confiada e da qual já não pensava obter
nenhum fruto. Humilde depósito, construído por duas letras e alguns
pontos que reúnem a doutrina da iniciação e da trindade, que havia
iluminado todas as obras de Delaage. Porém, ali estava presente o
Invisível, que encarregou-se de vincular as obras à sua srcem real e
de permitir a Delaage lançar a semente em uma terra na qual podia
desenvolver-se.

Delaage nasceu em 1825 e morreu em 1882.


A Iniciação de Papus, em consequência, remonta a esta época. Henri Delaage foi
o autor de um certo número de obras, entre as quais podemos citar: Iniciação nos
Mistérios do Magnetismo (1874); Aperfeiçoamento Físico da Raça Humana (1850);
Doutrinas das Sociedades Secretas (1852); O Mundo Profético (1853); A Eternidade
Revelada (1854); O Mundo Oculto (1856); A Ciência do Verdadeiro (1882).
Não possuímos maiores informações sobre Henri Delaage.

33
GERARD ENCAUSSE

Nasceu em 13 de julho de 1865 em La Corunã, Espanha. Foi filho do médico


Francês Louis Encausse e de mãe espanhola, srcinária de Valladolid, Espanha.
Formou-se em medicina em 1894. Conforme expressou-se em uma de suas obras, foi a
leitura das três obras de Louis Lucas:A Nova Química (1854); O Romance Alquímico
(1857) e A Nova Medicina, que o encaminhou ao estudo do ocultismo.

Rouge daDesde logo, travou


Sociedade amizade
Teosófica; comcom F. K.(seu
Barlet Gaboriau, que nome
verdadeiro dirigiaAlbert
a revista Le Lotus
Faucheaux),
que foi um dos mais sábios ocultistas da época. Porém, foi somente a partir de 1887 que
o Dr. Gerard Encausse começou a ocupar-se ativamente do ocultismo.
Em outubro de 1887, entrou como membro do Ramo Francês da Sociedade
Teosófica17. No seio da Sociedade Teosófica deu numerosas conferências e colaborou
em Le Lotus Rouge. O Lotus era uma “revista de altos estudos teosóficos, tendentes a
favorecer a aproximação do Oriente com o Ocidente, sob a inspiração de H.P.
Blavatsky”.
Em O Ocultismo Contemporâneo Papus se referiu a Mme. Blavatsky com os
seguintes termos:

Iniciada no Oriente, caluniada por todos os lugares, Secretaria da


Sociedade Teosófica e escritora muito distinguida, é autora de uma
obra admirável sobre o Ocultismo, intitulada Isis sem Véu. É um dos
poucos autores, que, segundo nosso conhecimento, une a prática à
teoria...
Quando ocorreu o falecimento de Mme. Blavatsky, o Dr. Encausse rendeu uma
nova homenagem à sua personalidade, consagrando-lhe, na revista A Iniciação, as
seguintes palavras:

17
- Porém naõ ficou muito tempo, por discordar do sistema preconizado pela Sociedade Teosófica. Segundo Papus,
os métodos adotados no Oriente não podem ser aplicados no Ocidente, onde os costumes são bastante diferentes. (N.
Rev.).

34
O chefe intelectual da Sociedade Teosófica deixou de existir. Mesmo
que tenham sido diferentes nossos caminhos de realização, a morte
cobre com um véu sagrado as personalidades, somente as obras
subsistem.
A obra de realização de Madame Blavatsky é considerável. Foi a
primeira aque
primeira quebrou
chamar os hábitos
as multidões dasparticiparem
para Sociedades dos
Esotéricas; foi a
ensinamentos,
até então conservados secretos, do hermetismo; forçou as Sociedades
Ocidentais a saírem de suas reservas e organizar a difusão dos dados
elementares da Ciência Oculta.
A imprensa fez justiça à personalidade de Madame Blavatsky.
Subscrevemos de todo o coração estes elogios merecidos por uma
vida de luta, dura, tenaz e sem piedade... O porvir pertence agora aos
pesquisadores independentes. Oxalá não esqueçam a grande reali-
zadora que foi Madame Blavatsky.”

Papus foi co-fundador, em Outubro de 1888, do Ramo Hermes da Sociedade


Teosófica, com sede em Paris.

Porém em seguida, compreendendo que a Sociedade Teosófica -


escreve Marc Haven - lançava o ocultismo sobre um falso terreno e
um caminho onde sua fecunda atividade cairia, trocada por uma
estéril obediência de sectarismo, apresentou sua renúncia ao Ramo
Hermes, sendo seguido por Gaboriau. Papus desejoso de defender a
tradição puramente Ocidental, deu uma nova orientação às suas
atividades.

Papus lutou energicamente, em nome das tradições ocidentais, contra o ocul-


tismo puramente oriental dos teósofos. Papus não participava, inteiramente, das crenças
dos teósofos dos Mahatmas confinados nas regiões inacessíveis do Tibet, os quais,
segundo eles, seriam os únicos depositários do Saber. Sem negar sua existência (a este
respeito é clara sua carta de 22 de junho de 1890, dirigida a Madame Blavatsky)
argumenta que não eram os únicos depositários da Ciência Sagrada. Acreditava na
existência de uma Tradição conservada nos tempos do antigo Egito e que havia
perpetuado até nós.

O Caminho
concernentes que nos
ao Homem, conduziu eaa Deus
ao Universo nossas- escreveu
concepções
em Oatuais
que é
o Ocultismo? - esta muito longe de ser novo, uma vez que se vincula
às ideias ensinadas nos Templos Egípcios desde 2600 anos antes de
Jesus Cristo. Essas ideias constituíram mais tarde o Platonismo e, em
grande parte, o Neoplatonismo... Muitos pesquisadores de boa fé
dirigiram-se a esta antiga filosofia dos Patriarcas, dos Iniciados
Egípcios, de Moisés, dos Gnósticos e dos Cristãos Iluminados, dos
Alquimistas e dos Rosa-Cruzes, tradição que jamais variou em seus

35
ensinamentos através dos séculos... Esta filosofia é conhecida
atualmente sob a denominação de Ocultismo.

Em outra obra sua, O Diabo e o Ocultismo, Papus reafirma sua fé no Cristia-


nismo ao escrever:

Consagramos esta obra ao encaminhamento da elite intelectual


da França à crença no Invisível; empregamos a época mais querida
de nossa juventude, nossos ganhos e esforços, utilizamos revistas,
Sociedades de Estudos, Congressos, Conferências, Grupos Fechados
e Sociedades de Iniciação e, em alguns anos, havíamos comovido
muitas consciências, encaminhando muitas almas extraviadas a terem
fé. Interessamos nestes fenômenos inquietantes este grande mundo e
estas pessoas distantes cujo frio ceticismo afetava a alma nacional em
seus mais íntimos movimentos.

Foi após ter abandonado, a Sociedade Teosófica que Papus, juntamente com
outros iniciadores e colaboradores, fundaram e organizaram o Grupo Independente de
Estudos Esotéricos (GIDEE), círculo exterior, e reorganizou sob novos moldes a
Tradição Iniciática que denominamos Martinismo.

O GRUPO INDEPENDENTE DE ESTUDOS ESOTÉRICOS


Disse Phaneg na obra que consagrou ao Dr. Papus, em 1909:

As finalidades do GIDEE, que depois tomou o nome de Escola


Hermética, eram as seguintes:

1º - Dar a conhecer, no possível, os dados principais da Ciência


Oculta em todos seus ramos;

2º - Formar membros instruídos para todas as sociedades ocultistas:


Rosa-Cruz, Martinismo, Franco-Maçonaria e Teosofia;

3º - Formar conferencistas em todos os ramos do ocultismo;

4º - Estudar
tanto os de
do ponto fenômenos do espiritismo,
vista teórico do magnetismo e da magia,
como prático.

E tudo isto proclamado por todas as partes que a Verdade é uma


e que nenhuma religião pode reclamá-la somente para si. Os
professores do GIDEE ensinaram que em toda filosofia, em toda
religião, pode-se encontrar algumas manifestações da Verdade Una e
eles sempre se esforçam por conciliar as antinomias, buscando aquilo
que pudesse uni-los. Na Escola Hermética não se estudou senão o

36
aspecto atraente das Ciências Ocultas: O Hebraico, o Sânscrito e a
Alquimia formavam, igualmente, parte do programa, pois é neces-
sário que todos os estudantes sejam capazes, pelo menos, de procurar
uma palavra sânscrita ou hebraica em um dicionário e de
compreender o sentido geral da linguagem alquímica...

sem Os representantes
desconfiança da Igreja moral
a autoridade Católica
e oRomana não puderam
êxito desses homens quever
diziam a todos os que haviam abandonado a religião: não confundam
o clero com as idéias religiosas. O Homem pode, sem intermediários,
chegar à conclusão de que existe um Criador no Universo, podendo,
ainda que sem conhecer sua essência, sentir por si próprio como os
Raios do Sol Invisível projetam-se até ao investigador sincero.
L’INITIATION começou a ser publicada em junho de 1891 e os mais
hábeis escritores católicos fizeram todo o possível para destruir este
movimento espiritualista livre. Certos redatores católicos de
L’INITIATION foram obrigados a demitir-se, para não serem
excomungados. No entanto o GIDDE continuou seu progresso sem ter
que enfrentar maiores problemas.

No ano de sua fundação, o GIDDE outorgou 42 cartas Constitutivas e contou


com 350 membros. Possuía uma biblioteca, uma livraria e uma sala de conferências. Ao
mesmo tempo, publicava, em Paris, a revista mensal L’INITIATION e o diário LE
VOILE D’ISIS, em Lyon, a revista mensal L’UNION OCCULTE FRANÇAISE.
O GIDDE transformou-se em um ponto de reunião de poetas, escritores, artistas,
estudantes e sábios como Victor Emile Michelet, Peladan, Chamuel, Stanislas de
Guaita, Albert Poisson, Barlet, Polti, Gay de La-Croze, o Coronel de Rochas, Paul
Adam, Lemerle, Paul Sédir, Marc-Haven, Agustin Chaboseau, Phaleg, o Dr. Rozier,
Jollivet Castelot, Serge Basset e tantos outros cuja influência foi imensa.
Este foi o círculo exterior. E o círculo interior?
Em sua documentada obra, História e Doutrina do Martinismo, Robert Ambelain
evoca desta maneira a obra desempenhada por Papus no que diz respeito ao Martinismo:

Nesta época, Agustin Chaboseau, bibliotecário do Museu Chimet,


Jean Moréas, Charles Maurras e o Dr. Encausse, cada terça-feira
almoçavam juntos em um pequeno restaurante que havia na margem
esquerda do Sena. Durante estes almoços falava-se de tudo e de
todos;
Papus ee Chaboseau,
foi assim, por
quepura
haviacasualidade,
sido iniciadodurante umaporconversa,
em 1886 sua tia
Mme. Amélie de Boisse-Montemart, descobriram serem ambos
discípulos legítimos e regulares de Louis Claude de Saint-Martin; em
seguida, Papus e chaboseau trocaram suas Iniciações e resolveram
constituir em Paris o primeiro Supremo Conselho da Ordem. Esta
dupla Iniciação teve lugar em 1888. Em março de 1891, os membros
do Supremo Conselho eram: Papus, Chaboseau, Stanislas de Guaita,
Oswaldo Wirth, L. Chamuel, Blitz, Barlet, Lejay, Marc-Haven, Paul

37
Sedir, G. Montière, Burget, Pèladan, Paul Adam, Georges Vitoux, J.
Lermina, Dr. Fugarion, Eugène Nus, Emile Goudeau e duas irmãs: a
Princesa Lanskoy e Mme. Wolska. Alguns, em seguida, foram
substituidos, como sucedeu em Pèladan ao cabo de um ano e Blitz na
América, por causas que conheceremos mais adiante...

As primeiras Iniciações pessoais, confirma Papus em seu folheto Martinismo,


Willermosismo, Martinesismo e Francomaçonaria, tiveram lugar entre 1884 e 1885. A
primeira loja teve sua sede na rua Pigalle e nela iniciou-se Arthur Arnould, começando
aí os estudos que deviam separá-lo, definitivamente, do materialismo. Os membros do
GIDDE, transformado depois na Escota Superior Livre de Ciências Herméticas,
julgados com condições, foram Iniciados nas quatro lojas Martinistas de Paris: A
Esfinge, grande Loja-Mãe onde faziam-se os estudos gerais; na Loja Hermanúbis,
dirigida por Sédir e na qual se aprofundava o estudo do misticismo e da Tradição
Oriental; na Loja Velleda, consagrada ao estudo do simbolismo e, finalmente, a Loja
Fenix, reservada sobretudo às adaptações artísticas.
Já mencionamos como chegaram em
mãos do Supremo Conselho recém formado da
Ordem Martinista os arquivos primitivos de
Willermoz. Logo a Ordem Martinista
designou delegados e fundou Lojas, tanto na
França, como em outros países da Europa, nas
duas Américas, no Egito e na Ásia.
Desta maneira, a Ordem prosseguiu
sua luta contra o ateísmo e o materialismo,
servindo de porta de entrada à maior parte das
Ordens Iniciáticas mais herméticas da época.
Em maio de 1898 o número de Grupos
Martinistas era o seguinte: França 27; Bélgica
3; Alemanha 3; Dinamarca 1; Espanha 3; Itália
8; Boêmia 1; Suécia 9; Holanda 1; Suíça 2;
Romênia 1; Rússia 2; Grã-Bretanha 2; Vietnã
2; Egito 1; Tunísia 1; USA 36; Havana 1;
Colômbia 1; Argentina 7; ou seja, um total de
113, com 73 novos grupos em relação a maio
de 1897. Na época da morte de Papus, em
1916, seu número
A obra era 160. é muito interessante por suas diversas projeções, inclusive
do Martinismo
no que diz respeito à Franco-maçonaria Chilena. Já citamos como membro do Supremo
Conselho, o Irmão Oswaldo Wirth, da Ordem Martinista. Houve um grupo de Irmãos
daquela época que se preocuparam em infiltrar na Maçonaria uma influência do mais
puro espiritualismo, procurando levá-la ao estudo sério e profundo de seu simbolismo,
em harmonia com a Tradição Rosa-Cruz verdadeira e Martinista.
Atualmente, por autorização expressa do Irmão Oswald Wirth, concedida à
Grande Loja do Chile em 1894, os LIVROS DE APRENDIZ, COMPANHEIRO E

38
MESTRE constituem a fonte mais preciosa de Instrução Maçônica, da qual beberam as
sucessivas gerações de Maçons tanto no Chile como em outros países da América do
Sul.
Inúmeros SS⢎⠆ II⢎⠆ contribuiriam desinteressada e silenciosamente, na tarefa de
manter acesa a Luz do esoterismo tradicional nas Lojas Maçônicas.

IniciadoÉdo
umporte
problema difícil
de Gerard fazer umporque
Encausse, brevesua
esboço
vida da
foi personalidade e vida de Foi,
pródiga em realizações. um
sobretudo, um divulgador do ocultismo e muito especialmente, um REALIZADOR,
tanto em sua vida interna como externa.
Phaneg, em sua biografia de Papus conta a seguinte anedota:

Uma dama ricamente vestida desceu de um carro, em frente á


porta do Dr. Papus. No mesmo instante em que ela entrava no
consultório médico, o Dr. Gérard Encausse a fitou e lhe disse:
“Senhora, por que duvida? Não é necessário consultar um médico em
quem não se tem confiança. Você padece de uma nevralgia, há muito
tempo e que lhe afeta o rosto por cima do olho esquerdo. Só vai ter
mais uma crise e sua dor vai desaparecer”.
A dama quedou-se admirada da entrada tão repentina na
matéria e seu assombro aumentou, ainda mais, depois que Papus
começou a revelar-lhe detalhes de sua família, sobretudo de sentir
que sua nevralgia havia desaparecido subitamente. Agradeceu-lhe e
colocou discretamente uma moeda de ouro sobre a mesa, dando volta
para retirar-se. Papus a olhou, deteve-a um momento e, logo, com voz
um tanto comovida, lhe disse: “Tomai e sse dinheiro, senhora, pois
não tem tanto em vosso lar”. A dama caiu em pranto confessando que
essa era sua triste realidade. O carro não lhe pertencia e era este seu
último dinheiro.

Esta história nos retrata Papus por inteiro, mostrando-nos sua maravilhosa cla-
rividência, seus poderes e sua bondade.
Igualmente acontecia de dizer a um cliente que vinha em seu consultório pela
primeira vez:

Seu caso é muito menos sério que o de fulano (um familiar, um irmão,
uma irmã, um amigo íntimo do cliente), diga-lhe que venha ver-me. O
cliente nãotempo
tinha tido podiadeacreditar emuma
pronunciar seuspalavra
próprios
paraouvidos, já que não
dar a conhecer sua
identidade. O Dr. Gérard Encausse já podia fazer diagnósticos à
distância, com referência a pessoas que não conhecia previamente.

Finalmente, desejo narrar uma última história acerca do Iniciador Papus, publi-
cada em primeiro de janeiro de 1930 no jornal O Mercúrio da França e que reproduz
uma carta do grande pintor O.D.U. Guillonet:

39
Fazia aproximadamente um ano que tinha feito um desenho de
Mme. Mac Leod para uma Messalina, sem saber desta perigosa
criatura mais do que o que ela mesma havia contado. Uma tarde
recebi a visita do Dr. Encausse. Enquanto conversávamos, eu arru-
mava e guardava os desenhos. De repente o doutor lançou uma
exclamação:
– Oh! Mostra-me essa cabeça de mulher! Quem é?
– Um modelo que pousou para mim somente durante uma sessão,
tem um tipo singular.
– Bem, respondeu-me o Dr. Encausse, esta mulher mostra os
sinais mais terríveis que se podem contemplar. Em seu rosto, leio que
será causadora de duelos, mortes trágicas, ruínas, etc.. Será
interessante seguir o curso de sua vida. Oh! Porém isto é espantoso!...
Poderia dar-me este desenho? Classificá-lo-ei em minhas fichas e
tratarei de saber o que chegará a ser Mme. Mac Leod. É um demônio.

Madame MacLeod, posteriormente, veio a ser a famosa espiã Mata Hari.


Assinalo este caso como uma espécie de adivinhação, se assim quereis explicá-
lo, como um curioso caso de leitura do caráter pela análise dos traços fisionômicos.
Disse o Dr. Philipe Encausse, seu filho:

Devo esclarecer, finalmente, que o dom de clarividência e às vezes de


clariaudiência, não se manifestavam em Papus de maneira perma-
nente e que meu pai incorria, às vezes, em erros mais ou menos
graves, o que é necessário reconhecer aqui com toda a
imparcialidade. Teria de ser Deus para não errar jamais. Porém é um
fato fora de dúvida que Papus tinha dons notáveis. E, no entanto, não
era mais do que um “garotinho” ao lado de seu Mestre Espiritual,
Philipe de Lyon, de quem falaremos mais tarde.

Ao eclodir a primeira guerra mundial Papus alistou-se como voluntário, sendo


designado médico chefe, com o posto de capitão, entregando-se inteiramente a seu
trabalho patriótico e humanitário. Sua dor foi imensa ao presenciar tanto sofrimento e
tanta destruição. As linhas seguintes, extraídas de sua última obra O Que Acontece aos
Nossos Mortos, provam-no:

A Chaumont-sur-Argonne,
encontrava-se morto um jovemperto de Pierrefitte,
alemão, tendo sobreem uma trincheira
a cabeça, na
altura dos olhos, seu livro de orações...
Pobre vítima da loucura dos grandes, te saúdo e uno minhas
orações àquelas que iluminaram teu espírito no momento da partida.
Sentindo chegar a morte, preparaste valentemente tua alma para a
separação física e, obscuro herói, conseguiste chamar Aquele que nos
houve a todos... Bendito seja teu gosto. Que me importa que sejas
inimigo de minha Pátria e um enviado desses orgulhosos que

40
sacrificaram a flor e a nata de seus homens para a baixa satisfação
de suas ambições.
Pequeno grão de areia neste choque imenso; partiste, obedeceste
e foste destruído fisicamente em uma trincheira qualquer, em meio
dos campos da França e perto dos bosques... Porém, se teu corpo

oretorna
qualà Terra que teforça
nenhuma havia nutrido
materiale feito
temcrescer,
poder,teu libertou-se
Espírito sobre
e,
gloriosamente, elevou-se até os planos do empíreo...
No coração de Nosso Senhor, não existem amigos nem inimigos,
quando a morte vem, terrível; não existem mais, senão Espíritos que
se sacrificaram pelo Ideal e que chegaram ao brusco fim de seu
caminho terrestre.
E o perfume da oração santificou teus últimos momentos... Passei
e senti teu Espírito sereno em sua bem conquistada evolução e eu quis
também unir minhas orações às tuas...
Inimigos de ontem, saibamos comungar-nos hoje no Ideal
Superior, que está por cima das lutas humanas.
Tens uma família, pobre garoto, uma mãe que te vai prantear,
irmãos que hão de te recordar e irmãos, talvez, que te imitarão...
E todos em tua dor vão, também, ajoelhar-se e orar... Vítima
inocente de cegas ambições contra a evolução consciente e luminosa
dos Povos Livres, cumpriste teu dever, porém a mão Inexorável do
Destino assinalou-te com seu dedo e tua evolução realizou-se.
Amanhã retornarás à terra, porém já terás bebido o leite...
Vítima desconhecida... Saúdo-te e rezo contigo...
(Nice, 19 de setembro de 1914)

Durante meses Papus consagrou-se inteiramente aos feridos. Esforçou-se, com


uma tenacidade digna de elogios, na luta contra a Morte, contra o Mal, destruidor das
vidas humanas. Lamentavelmente, seu corpo físico, esgotado por tanto trabalho,
somado ao seu trabalho incessante por mais de 33 anos, já não pode resistir mais.
Diabético, o médico chefe Encausse contraiu a tuberculose e teve que retirar-se. Foi
nomeado para desempenhar suas funções no hospital militar de Tours, em Paris, onde
trabalhou até o limite de suas forças. Até o último instante permaneceu fiel a seu Ideal.
Sabia que logo teria de abandonar o plano físico. Havia assinalado a data de 25 de
outubro, para seus amigos.
Com efeito,
a obedecer-lhe. foi ido
Havia em ao
25 Hospital
de outubro
de de 1916 que
Caridade seuconsultar
para corpo jácom
extenuado, negou-se
seu amigo o Dr.
Sergent, tisiólogo famoso. Ao subir a escada, bruscamente rolou pelos degraus,
fulminando pela tuberculose galopante que o minava. Faleceu no mesmo lugar em que
havia começado sua carreira médica.

Esta morte súbita – conta-nos Philipe Encausse – impediu que


meu pai avisasse minha mãe que o esperava em seu carro
estacionado diante da porta do hospital. Do hospital telefonaram

41
para nossa casa, porém não havia ninguém em nosso lar. Foi uma
amiga fiel, a Condessa de Béarn a quem Papus admirava
especialmente por suas faculdades de vidência e desdobramento no
astral, a primeira a ser advertida em circunstâncias bastante
curiosas. Com efeito, uma hora depois da morte de Papus, evento
quevéspera,
na ignorava, percebeu
o qual, comaarseumuito
lado preocupado
seu amigo Papus, vestido
lhe disse: como
“Querida
amiga, não sei o que acaba de suceder-me. Eu caí. Já me
examinaram. É necessário avisar minha pequena Jeanne, minha
mulher, com urgência. Conto com você”. Subitamente ele desapa-
receu. A condessa de Béarn não esqueceu jamais esta última visita
de seu médico e amigo.

No transcurso desta existência agitada, de uma vida fulgurante, faleceu aos 51


anos Gerard Encausse, Papus. Teve, como todos, seus pesares, suas dores e
desfalecimentos; porém triunfou, sabendo esconder por trás de um perpétuo sorriso,
suas dores e suas angústias pessoais. Teve o valor de carregar não só sua cruz, que era
bastante pesada, mas também a dos outros.
Como médico e, sobretudo, como ocultista, Papus publicou um bom número de
livros e artigos. No entanto, é necessário mencionar que suas principais obras ocultistas,
foram escritas em sua juventude: O Tratado Elementar de Ciência Oculta aos 23 anos;
O Tarot dos Bohemios aos 24 anos; O Tratado Metódico da Ciência Oculta aos 26
anos; A Cabala aos 27 anos; O Tratado Elementar de Magia Pratica aos 28 anos. São
estes, entre tantos outros, títulos de glória de Papus.

42
43
O MARTINISMO NA RÚSSIA

Na Rússia, os três ramos da árvore da Tradição Ocidental, a Maçonaria,


principalmente através do Rito Escocês Antigo e Aceito, a Ordem Martinista e um ramo
importante da Rosa-Cruz, estiveram brilhantemente representados.
Eugênio Lennhoff disse em sua obraOs Maçons ante a História, que a primeira
Loja Maçônica Russa foi a de Moscou, fundada em 1731 pela Grande Loja de Londres,
porém até 1771 não se estabeleceu a Loja de São Petesburgo. Em 1772 criou-se a
primeira Grande Loja Russa, com o que iniciou-se o período mais florescente e
brilhante que teve a Maçonaria na Rússia. Não houve nobre que não tivesse recebido a
Luz Maçônica.
No início, Catarina II protegeu a Maçonaria, fomentando o estabelecimento de
Lojas em seus Estados, dando-se o título de protetora da Loja Clio, ao Oriente de
Moscou. A mesma imperatriz levou seu filho Paulo I à Iniciação.
Época muito importante foi o ano de 1783, quando foi fundado em Moscou um
Ramo da Ordem
F.F.R.C.R., Rosa-Cruz,
que significam que passou
Rosa-Cruzes a serdaconhecido
Russos na Europa pelas iniciais
Fama Fraternitatis.
No fim do reinado de Catarina nasceu o Martinismo na Rússia, na Universidade
de Moscou, tendo por chefe o Professor
Schwartz, que professava as mesmas
doutrinas dos Martinistas franceses.
Traduziram algumas obras de Saint-Martin e
realizaram um grande trabalho de realização
espiritual.
Joseph de Maistre fundou, durante sua
permanência em São Petesburgo, de 1802 a
1816, um Centro Martinista. Tanto o Conde
de Saint-Germain, que colaborou ativamente
com a Ordem dos Elu-Cohen, como os altos
oficiais das Ordens Iniciáticas da época,
fizeram inúmeras viagens à Rússia, de acordo
com as atividades místicas.
Porém, voltemos aos Elu-Cohen da
época de Catarina II. Além de João Eugênio Schwartz sobressaíram-se por seu trabalho,
projetado até o mundo profano, o célebre fundador do periodismo russo Nicolai
Ivanovitsch, Novikov, Lopzeu, o Príncipe Truvetzkoy, Gamaleg, Turgenev e outros.
Todos eles eram homens muito cultos que não só influíram ativamente na
Ordem Maçônica e Martinista, como também na vida intelectual da Rússia.

44
O Rosa-Cruz Schwartz era professor de filosofia e de alemão. Além disso, foi
diretor do Instituto Pedagógico da Universidade de São Petersburgo. Fundou hospitais,
escolas de ensino primário e vários institutos docentes, publicou ainda, livros texto.
Sucessor hierárquico de Schwartz foi Novikov.

Novikov
Maçonaria, considerou,
combater também,
por todos comoo um
os meios dos fins essenciais
analfabetismo e a falta da
de
cultura para elevar o nível das massas populares. Fundou e dirigiu
uma impressora com a qual foram editados uma grande quantidade
de livros populares, científicos e religiosos. Uma magnífica biblioteca
estava à disposição de todas as classes sociais. Por outro lado, seus
amigos incentivavam financeiramente a educação de meninos pobres,
cujas atitudes despertavam algumas esperanças para o futuro.
Novikov – prossegue E. Lennhoff – desenvolveu amplamente a
obra iniciada por Schwartz. Novas escolas e hospitais foram fundados
e, coisa incrível naqueles tempos, criou uma sociedade cujo objetivo
era proporcionar subsistência aos habitantes das vastíssimas zonas
que, frequentemente, sofriam as consequências de más colheitas.

A imperatriz Catarina simpatizava e mantinha correspondência com os enciclo-


pedistas franceses e a maioria dos filósofos de seu tempo. Porém logo se assustou com
os acontecimentos da revolução francesa e com a força e desenvolvimento que iam
adquirindo os ideais de Liberdade, Igualmente e Fraternidade, cujos maiores
propagandistas eram os Iniciados da época.
Em seguida, Catarina mudou radicalmente sua atitude ante os Maçons e
Martinistas. Em carta por Catariana ao Conde Bezborod, disse:

Veio ao meu espírito aproveitar a primeira ocasião que se manifeste,


para dirigir um manifesto ao meu povo, para colocá-lo em guarda
contra a sedução de uma invenção estrangeira: as Lojas Maçônicas
de toda a espécie e, junto com elas, as doutrinas alquimistas dos
Martinistas e outras heresias místicas que lhes estão afiliadas. Elas
tendem a destruir a ortodoxia cristã e todo o governo. Em todos os
lugares fazem nascer a desordem sob a forma de uma pretendida
igualdade que não existe na natureza, ao mesmo tempo fomentam
todos os crimes contra as leis humanas e Divinas do mundo
civilizado,
a busca do renovando
ouro ou de cerimônias pagãs,
uma panacéia as invocações aos espíritos,
universal.

Catarina chegou a escrever várias obras teatrais, nas quais pretendeu pôr em
ridículo os Maçons e Martinistas:

 O Mentiroso, comédia em cinco atos, na qual apresenta uma espécie de ilumi-


nado ou Martinista.

45
 O Enganado, comédia em cinco atos. Este enganado acredita saber como se
fabrica o ouro e os diamantes no crisol; como se fabricam os metais com o
sereno da noite e certas ervas; acredita conversar com os invisíveis, etc.. Para
terminar, declara ter sido enganado e compromete-se por escrito, “a não entrar
onde estão os Martinistas de triste figura”.

Em O Chacal da Sibéria, comédia em cinco atos, termina com esta réplica:
“Vós, em todo o caso, vos pareceis com os Chacais.
Tanto vós como eles, vos equivocais igualmente, assim
como todos os que em vós confiam.”
 Em O Segredo da Sociedade Anti-Absurda, um
pequeno folheto, Catarina compara os Maçons com
crianças e suas lendas com contos de amas secas.

Porém, a atitude de Catarina não se limitou unicamente


ao campo literário, pois os esforços deste grupo de Iniciados
para dissipar um pouco as trevas russas não tardaram em
tropeçar com tenaz resistência. Desta maneira, os fanáticos e
intolerantes que se chamavam “verdadeiros crentes” e que se
levantaram em todas as partes contra a Maçonaria, não se des-
cuidaram, também, na Rússia. Acusaram Novikov de propagar
ideias subversivas entre as massas.
O local onde estava estabelecida e imprensa foi cercado, buscando-se ali as ar-
mas que se dizia estarem depositadas para concretizar a conspiração contra o regime
estabelecido. Nada foi encontrado, no entanto, Novikov foi condenado a quatro anos de
prisão na fortaleza de Schlisselburg. Desta maneira, os inimigos do progresso
conseguiram que, subitamente, fosse destruído todo o trabalho tão positivamente
iniciado pelo irmão Schawrtz. Novikov somente recuperou a liberdade com o advento
de Paulo I. Alexandre II, que herdou o trono em 1885 esteve filiado as Ordens
Principais da Europa e manteve contato com numerosos ocultistas da Rosa-Cruz de seu
tempo.
O museu de Moscou exibe hoje insígnias e jóias usadas em seus rituais por estes
primeiros Martinistas Russos.
Papus foi apresentado ao último Tzar, Nicolau II, pelo Grande Duque Nicolau
Michailovitch. Papus fez três viagens à Rússia: em 1901, 1905 e 1906 e permaneceu em
relações com a família imperial e sua corte até sua morte.
Em sua qualidade de Presidente do Supremo Conselho da Ordem Martinista,
fundou
consta, em
foi São Petesburgo
o próprio Tzar uma LojaII.
Nicolau Martinista,
As mais cujo
altasFilósofo Desconhecido,
personalidades da cortesegundo
foram
membros desta Loja. Por outro lado, em 1914 a maior parte dos Príncipes balcânicos
eram Martinistas, conforme nos relata Victor-Emile Michelet em sua obra
Companheiros da Hierofania.
Papus foi muito estimado na corte da Rússia pelos membros da família imperial
e seu Tratado Elementar de Ciência Oculta foi traduzido para o russo.

46
Maurice Paléologue, membro da Academia Francesa, em suas recordações como
embaixador da França na corte russa, revelou a cena impressionante que teve lugar di-
ante de Nicolau II e da Tzarina.

No início de outubro de 1905, Gerard Encausse foi mandado a


São Petersburgo
grande pordesolicitação
necessidade suas luzesdenaseus discípulos
inevitável russos,
crise que tinham
que atravessava
a Rússia.
Os desastres da Mandchúria haviam provocado em todas as
partes do Império transtornos revolucionários, lutas sangrentas,
cenas de pilhagem, massacres e incêndios. O imperador vivia
consumido em uma cruel ansiedade e não se decidia em escolher
entre os conselhos apaixonados e contraditórios de seus familiares, de
seus ministros, de seus dignatários e generais e de membros de sua
corte.
Uns lhe diziam que não tinha o direito de renunciar ao
autocratismo ancestral e exortavam-no a não desfalecer ante os
rigores necessários a uma reação implacável; outros aconselhavam-
no a deixar o lugar às exigências dos tempos modernos e inaugurar
lealmente um regime constitucional.
No mesmo dia em que Papus chegava a São Petersburgo, um
motim desencadeava o terror em Moscou, enquanto que um
misterioso sindicato proclamava a greve geral dos ferroviários.
O Mago foi chamado imediatamente a Tzarskoie Sélo. Após uma
rápida conversa com o Imperador e a Imperatriz, organizou-se para o
dia seguinte um grande ritual de encantação e necromancia. Além dos
soberanos, somente uma pessoa assistiu a esta liturgia secreta, um
jovem ajudante de câmara de sua Majestade, o Capitão Mandhyka,
hoje Major General e Governador de Tiflis. Por uma condensação
intensa de sua vontade o “mestre espiritual” teve êxito em evocar o
espírito do piedoso Tzar Alexandre III; sinais indiscutíveis provaram
a presença do espectro invisível.
Apesar da angústia que lhe constrangia o coração, Nicolau II
perguntou calmamente a seu pai, que se apresentava, se devia ou não
reagir contra a corrente liberal que ameaçava tomar conta da Rússia.
O Fantasma respondeu: “Deves fazê-lo, custe o que custar, deves
sufocar
renascer ae será
revolução que se do
mais violenta inicia; porém
que hoje. um dia
Porém, não ela voltará
importa, meua
filho, não deixes de lutar.
Enquanto os Soberanos meditavam com espanto nesta predição
agourenta, Papus lhes afirmou que seu poder mágico permitia-lhe
conjurar a catástrofe predita, porém que a eficiência de sua
conjuração cessaria tão logo deixasse de existir sobre o plano físico.
Finalmente, executou solenemente os ritos conjuratórios.

47
Depois de 25 de outubro último, já o Mago Papus não mais
existia sobre o plano físico e, assim, ficou abolida a eficácia da
conjuração. Isto significa que a revolução está acercando-se ...
Depois de haver deixado a Mme. R...., acrescenta Maurice
Paléologue, retornei à embaixada e abri a Odisseia, no canto XI, no
famoso episódio
escutar, de Nekina.
esta cena Sob a da
magnífica influência do relato
humanidade que acaboessa
primitiva, de
fantasmagoria tenebrosa e bárbara parece-me também muito natural,
tão natural como se tivesse tido lugar agora. Contemplo Ulisses no
brumoso país dos Cimérios, oferecendo seu sacrifício aos defuntos,
sondando a terra com sua espanada, fazendo libações de vinho e de
leite e logo degolando na beira da fossa um cordeiro negro. E a
multidão de sombras, surgindo do Érebo, precipitando-se para beber
o sangue derramado. Porém, o rei de Itaca os expulsava
violentamente, por que a única alma que desejava ver aparecer é a de
sua mãe, a venerável Antilea, a fim de que lhe descubra o futuro por
intermédio do Divino Tirérias... E imagino que de Ulisses a Nicolau
II, só transcorreram trinta séculos...

Este relato de Maurice Paléologue foi desmentido pelo “Véu de Isis”, em outu-
bro de 1922, com as seguintes palavras:

Conforme o que dizem pessoas que estão a par dos assuntos


russos, o dito artigo contém muitos erros. A cena de encantamento é
pura imaginação, assim como o fato de escrever que Papus afirmara
possuir o poder necessário para conjurar a ameaça que se
apresentava sobre a Rússia e a corte. Jamais Papus pronunciou tais
palavras. Papus só dizia sorrindo: “Dizem que sou a reencarnação de
Cagliostro, porém, na realidade não é assim. “Escrever que um
homem pode suspender o destino de um povo inteiro ou da
humanidade, se se observa o curso dos acontecimentos, é sustentar
algo inverossímil. Nenhum homem teve jamais semelhante poder, nem
os Budas, nem Moisés, nem mesmo Cristo teve tal poder.”18
Sim, Papus foi um grande coração, que sempre será defendido
pelos amigos verdadeiros. Foi um dos renovadores e divulgadores do
ocultismo. De Mago não teve senão o nome.” 19 (Este artigo foi
assinado por Tidianeu).
18
- O problema central, a meu ver, não está em saber se o Adepto tem poderes para realizar prodígios, mas em
discutir se ele deve procurar o fenômeno. O adepto sabendo agir sobre a Luz Astral, tem poderes para comandar a
Natureza. Entretanto, por princípios, pela própria condição do Adeptado, ele não age contra os desígnios da
Providência, mas a senda ativa do interior; não opera diante de profanos, pois sua ciência é sagrada. Se por ventura
age no sentido de aliviar o sofrimento de uma alma, por Caridade, o faz no silêncio. Os milagres que sabemos de
Jesus foram realizados, na maior parte, no silêncio. Foi a indiscrição dos próprios benefíciados, apesar do silêncio
pedido, assim como o relato posterior dos discípulos, que popularizou os feitos do Mestre. (N. Rev.).
19
- Deve-se entender aí “Mago” no sentido da Magia Vulgar, tal como relatam que ele teria feito na Rússia. Existe
uma magia que atua no Mundo Fenomênico e outra que opera no Plano Divino, que Eliphas Levi chama de “Alta
Magia” ou Teurgia.

48
Philippe Encausse, em sua obra Ciências Ocultas falou sobre este assunto:

“Se bem que participo inteiramente da opinião de Marc Haven e de


Tidianeu ao afirmarem que Papus não podia e não tinha o poder de
conjurar
de acordoa com
ameaça
elesque se abatia
quando sobrepôr
parecem a Rússia e a corte,
em dúvida não estou
a existência da
mesma sessão de evocação. Papus conhecia suficientemente o manejo
das forças astrais (consultar a respeito seu Tratado Metódico de
Magia Prática), para conseguir obter uma manifestação desta
natureza. É por isso que estou certo que a sessão à qual se referiu
Maurice Paléologue teve realmente lugar e que o Tzar conseguiu
comunicar-se com seu falecido pai. Já tive oportunidade de assistir a
diversas evocações sérias e posso assegurar que elas não tiveram
nada de ridículo nem de abstrato. O contato com os mortos é muito
raro PORÉM EXISTE. Assim o afirmo, ainda que cada qual seja livre
de ter sua opinião a respeito.”

No decorrer de uma conferência esotérica Papus referiu-se, sem nomeá-lo, a seu


Mestre Espiritual, sem ocultar a admiração que sentia por ele. Daí despertou o interesse
em conhecê-lo, e a indiscrição de um Martinista Russo revelou sua identidade. Porém, a
biografia do Mestre Philipe será o tema de outro capítulo; por agora limitarnos-emos a
relatar o desenvolvimento do Martinismo na Rússia.
Foi em 1910 que o Dr. Czinski Czeslaw (Punas Bhava) foi designado Soberano
Grão-Delegado da Ordem Martinista na Rússia. Já um ano antes o governo de São
Petesburgo o autorizou, em sua qualidade de representante oficial da Ordem, a dar
conferências sobre ocultismo. A partir daí a Ordem experimentou um grande
desenvolvimento nesse país. O órgão ocultista Isida chegou a ser publicação oficial do
Martinismo na Rússia.
No mesmo ano, em 1910, o Conselheiro de Estado Grégoire Ottnovich de Mébes
(GOM) preside a nova Loja Martinista de São Petersburgo. Talvez seja interessante
confirmar que GOM foi, ainda, Sereníssimo Grão Mestre na Grande Loja Franco-
Maçônica de São Petersburgo, que trabalhava no Rito Escocês Antigo e Aceito. Por
outro lado era dignitário da Rosa-Cruz.
Mestre GOM tem para nós muita importância, pois nosso ramo Martinista conta
com os Cadernos de Instrução que GOM distribuiu em sua Loja Martinista de São Pe-
tersburgo na épocaministrados
dos ensinamentos czarista. Da mesma
tanto pelo maneira os Martinistas
Martinismo Chilenos
na Rússia como beneficiam-se
na França.
A partir de 1910 e nos anos seguintes, foram fundadas na Rússia as seguintes
Lojas Martinistas:

 Estrela Nórdica e Apolo, em São Petersburgo.


 Leo Ardens e São João, em Moscou.
 Santo André, em Kiev.

49
 Cruz e Estrelas, no Palácio Imperial, em Tzarskoie Sélo, presidia pelo Tzar
Nicolau II.
 Delphinus, em Tiflis.

Ao iniciarem-se os distúrbios revolucionários, as Ordens Tradicionais foram


toleradas até chegar o ano de 1926. Neste ano, o Ilustre Irmão Boris Astromov, sem
consultar os demais Presidentes de Lojas Martinistas, decidiu apresentar um
requerimento a Stálin para legalizar tanto a Maçonaria como o Martinismo. O resultado
não se fez esperar. As Lojas Maçônicas, Martinistas e Rosa-Cruzes foram arrasadas pela
polícia secreta e seus membros.
A primeira vítima foi o próprio Irmão Astromov, juntamente com mais trinta
Irmãos. Todos foram submetidos a Processo Secreto em um dos tribunais da G.P.U..
Não se lhes deu a oportunidade de defenderem-se e foram condenados de acordo com o
parágrafo 58º do Código Penal, por pertencerem a organizações burguesas contra
revolucionárias.
Nessa ocasião, o diário Pravda de Leningrado, deu a conhecer publicamente que
a polícia havia surpreendido a existência de organizações maçônicas contra
revolucionárias e que os maçons russos se autodenominavam “espigas não ce ifadas no
campo revolucionário”.
Os dignitários, oficiais e membros das três Ordens foram presos imediatamente.
Assim aconteceu com os Irmãos de Mébes, Astromov, Palisadov, que presidia a Loja
Martinista Leo Ardens, Gredinger, o Barão Drisen e A.M. Petrov, entre outros. Todos
foram relegados por três anos ao campo de concentração de Solovki, em uma pequena
ilha do Mar Branco, onde havia existido um mosteiro. Posteriormente, foram trazidos ao
continente, ao campo de concentração de Medveya. Cumpridos os três anos de prisão,
aplicaram-lhes mais três anos de exílio. De Mébes foi exilado para a pequena cidade de
Ust Sisolsk. A Astromov, o Barão Drisen, Petrov e Gragiergev exilaram para um local
nos montes Urais. Palisadov e outros Irmãos foram exilados em Tashkevt. Todos esses
Irmãos eram Presidentes de Lojas Martinistas. O resto dos Irmãos Martinistas foram
enviados para Narin, na Sibéria e para a Ásia Central.
No entanto, nenhum dos exilados em 1925 foi fuzilado, embora muitos tivessem
morrido no exílio. De Mébes faleceu em Ust Sisolsk em 1930, aos 76 anos de idade.
As Lojas Martinistas que não foram surpreendidas continuaram trabalhando com
a maior prudência e discrição.
Mesmo em Moscou, as Lojas prosseguiram suas atividades sob a direção de um
discípulo do Irmão Palisadov, o Irmão Petr. Mijailovitch Kayser, professor no Instituto
de Idiomas Orientais
Porém, de Moscou.
a espionagem comunista era intensa e em 1930 a G.P.U. descobriu as
atividades destas Lojas Martinistas. Desencadeou-se uma onda de prisões e desta vez a
detenção foi ainda mais severa. O Irmão Kayser foi fuzilado e os demais Martinistas
foram condenados a trabalhos forçados em diversos campos de concentração. Durante
as investigações e interrogatórios o Irmão Kayser manteve-se firme e sereno e não
delatou nenhum Martinista que ainda não havia sido preso. Por isso seus colaboradores
que conseguiram escapar à prisão, não foram molestados.

50
Junto com o Ilustre Irmão Kayser foram fuzilados em Leningrado, os seguintes
dignitários e queridos Irmãos, também pertencentes à Maçonaria Russa: Alexander
Serguvich, ex-coronel do Exército; o Barão George Aksevich e o Irmão Klodt, ex-
subtenente do regimento de Pablo.
O Ilustre Irmão Dr. Czynski Czeslaw faleceu em Paris, pouco depois de eclodir a
revolução.
pequenos dePosteriormente, começou-se
dois ou três Irmãos a trabalhar
Martinistas, sem queindividualmente ou em entre
se mantivesse conexão grupos
os
diferentes grupos.

51
PHILIPPE NIZIER, O MESTRE ESPIRITUAL DE PAPUS

Gérard Encausse (Papus) penetrou ainda mais na senda interior depois que co-
nheceu Mestre Philippe. Saint-Yves d’Alveydre, de quem se falará posteriormente, foi
seu Mestre
EsteIntelectual;
“Enviado” Philippe foi seu Mestre
que apregoava Espiritual.
a caridade, a bondade e a fé em Nosso Senhor
Jesus Cristo, foi para Papus seu Mestre venerado, como atesta a carta que ele dirigiu a
Philippe em 1904:

Recebi sua carta, que agradeço, uma vez que sempre constitui
para mim um prazer receber correspondência sua. O que você me
disse é demasiado certo para que não obedeça imediatamente.
Conversei com você a respeito, em nossa entrevista em Lyon, e nesse
momento não me fez objeções. Você fez-me conhecer a amar o Cristo.
Disto hei de ficar eternamente grato e não posso evitar de pronunciar
o nome do Amigo ao falar do Grande Pastor. Se recorri à sua
autoridade foi porque, desde muitos anos e até neste mesmo momento,
combatemos contra um movimento anticristão, poderosamente
organizado. Este movimento manifesta-se por meio de revistas e livros
e é neste mesmo terreno que me esforço por combatê-lo, ainda que
estando certo de ser mais pecador e orgulhoso que meus irmãos que
atacam a Cristo. Porém, pelo menos, faço com que amem os
Evangelhos e seu autor.
Sirva-me o Céu de testemunha que na Rússia fiz com que o amem,
ainda que sem nomeá-lo e foi a indiscrição de um Martinista que fez
conhecer seu nome aos poderosos daqui de baixo. Porém, tiveram que
pagar muito caro uma vez que estes pequenos, deixaram de receber
suas visitas e deixaram de vê-lo desde o dia em que você foi chamado

52
ao palácio... Por onde tenho passado, tenho feito que o amem e que o
honrem...

Papus consagrou uma de suas Conferências Esotéricas à definição do termo


Mestre. Segundo ele, somos guiados passo a passo em nossa evolução. Os guias que nos
enviaram
faculdadesdoqueInvisível
devemos provém de Estes
evoluir. diferentes
são osplanos ou moradas,
Mestres, segundo o dar
porém é necessário gênero de
a este
termo sua verdadeira significação. O Mestre é um guia que pode dedicar-se a fazer
evoluir três classes de faculdades humanas. Papus distingue, em consequência:

a) O mestre que dirige a evolução da coragem, do trabalho manual ou das forças


físicas e que atua sobre a parte física das faculdades da humanidade. É o caso do
Conquistador que faz evoluir as células humanas da mesma maneira que a febre,
quer dizer, mediante o combate, o terror, o sacrifício e a matança em todos os
planos.
b) O Mestre cuja ação se projeta sobre a evolução do plano mental da humanidade.
Esta classe de Mestrado é dominada por um enviado do plano Invisível e se
caracteriza pelas luzes que projeta em todos os planos de instrução. É o que
Papus denominava de Mestre Intelectual e que, em seu caso foi Saint-Yves
d’Alveydre.
c) O Mestre propriamente dito e que só ele tem direitos a este título, tendo a seu
cargo fazer evoluir as faculdades espirituais da humanidade, para o que põe em
movimento certas forças pouco compreendidas e cujo poder é extraordinário.
Trata-se do Mestre Espiritual, segundo a terminologia que emprega Papus; a
quem Marc Haven, em sua bela obra consagrada a Cagliostro, chama o Mestre
Desconhecido, aquele a quem Sédir, em seus comentários sobre os evangelhos,
denomina o Homem Livre.

É ao Mestre Espiritual a quem se refere Sédir em uma de suas conferências:

Quando o Mestre aparece é como um sol que surge no coração


do discípulo, todas as nuvens dissipam-se, tudo o que é baixo se
desagrega. Expande-se uma nova claridade sobre o mundo;
esquecem-se as amarguras, os desesperos e as ansiedades e o pobre
coração lança-se até as radiantes paisagens entrevistas e sobre as
quais o aprazível esplendor da Eternidade despeja suas glórias; nada
obscurece
adoração eanonatureza;
amor. tudo, enfim, se harmoniza na admiração, na

Porém, de onde provém este nome de Mestre? Papus explica na referida


conferência:

Este termo provém do latim Magister que decomposto em suas


raízes, nos dá:

53
MAG, fixação em uma Matriz (intelectual ou espiritual) do
princípio A pela Ciência G;
IS, domínio da serpente S pela Ciência Divina I, característica do
nome ISIS;
TER, proteção pelo sacrifício abnegado de toda expansão R.
Se, deixando
acabamos de nos deservir,
lado recorrendo
as chaves hebraicas e o Tarot,
ao sânscrito, das quais
obteremos duas
palavras: MaGa, que significa bondade e sacrifício, com seu derivado
Magoni, a Aurora e: isTa, que quer dizer o corpo do sacrifício, a
oferenda.
O Mestre, o Mago Ista, ou o Magister, o Mago, é, pois, aquele
que se sacrifica, o que oferece seu próprio ser em oferenda para o
bem de seus discípulos. Agora, vários compreenderão o símbolo
maçônico do Pelicano.

Philippe Nizier era um Mestre Espiritual em toda a acepção da palavra e foi,


para Papus, a tocha que iluminou seus últimos anos sobre a terra...
Filho de pais franceses, José e Maria Vachot, Philippe nasceu em 1849, em uma
pequena cidade de Savoya, quando era ainda italiana. Seus pais eram muito pobres e o
pequeno Philippe os ajudava da melhor forma que podia. Entre outros trabalhos, levava
as ovelhas a pastar nos vales e planaltos dominados pelo Monte Tournier.
Com idade de 14 anos abandonou Lasieux, sua pequena aldeia, dirigindo-se a
Lyon, onde viveu em casa de seus tios, donos de um açougue, a quem ajudava
encarregando-se de repartir a mercadoria entre os fregueses. Fez seus estudos no
Instituto Saint-Barbe, em Lyon, onde um dos padres sentiu por ele um grande afeto. Já
nesta época manifestavam-se em Philippe Nizier certas faculdades. É o que acentuou M.
Schewebel no artigo que consagrou ao Mago Philippe no Mercure de France de 16 de
junho de 1918, no qual transcreve as seguintes palavras do próprio Philippe:

Ignoro tudo sobre a minha pessoa, jamais compreendi nem tratei


de explicar meu mistério. Quando tinha 6 anos apenas, já o cura de
minha aldeia inquietava-se com certas manifestações, a respeito das
quais eu não tinha consciência... Conseguia curar desde a idade de 13
anos e, então, era ainda incapaz de dar-me conta das coisas
estranhas que se realizavam em mim.

Philippe
Medicina resolveu
de Lyon, entre estudar
novembromedicina
de 1874e tomou
e julhoquatro inscrições
de 1875. na Faculdade
No Hospital de
freqüentou
diversos cursos, seguindo assiduamente as classes clínicas do Professor B. Teissier.
Em suas Lembranças sobre o Mestre Philippe, Mme. Lalande refere-se desta
maneira, sobre a passagem do Irmão Philippe pelos hospitais de Lyon:

Frequentou os hospitais de Lyon, sendo apreciado por uns e


detestado por outros. Consolava os enfermos e, seguidamente,
solicitava aos médicos que não os operassem. Ás vezes, os enfermos

54
saravam antes da data fixada para a operação. Vendo os aflitos e os
enfermos, e distribuindo entre os pobres tudo o que recebia, Philippe
retornava, de tempos em tempos, à Savoya para ver sua família, sem
que esta pudesse dar-se conta da extensão de sua faculdades.

obtido oPorém, soube-se


diploma oficial.um dia,sacrilégio
Que no hospital,
paraque
os era um curador,da
representantes embora
ciêncianão houvesse
acadêmica!
Daí porque, devido à intervenção do médico interno Albert, Philippe foi afastado do
curso do Professor Teissier, e foi-lhe recusada sua quinta inscrição por “praticar a
medicina oculta e por ser um verdadeiro charlatão...”.
Este gesto sem igual não impediu, felizmente, o Mestre de continuar em seu
trabalho de aliviar o sofrimento dos demais, proporcionando-lhe consolo e cura.
Contraiu matrimônio em 6 de outubro de 1877 com a Srta. Landar, pertencente a
uma importante família de industriais de Lyon e que, conforme expressa André
Lalande:

Trouxe-lhe uma grande ajuda; possuía muitas casas na cidade e


uma nos arredores de Arbresle, o domínio de Colonges, o sítio
Landar, cujo castelo, o vasto terraço e os plátanos dominam a
entrada do tunel por onde passa a antiga linha de Bourbonnais. Esta
fortuna, acrescenta André Lalande, era utilizada por Philippe para
ajudar seus semelhantes. Aos pobres e aos enfermos ele enviava
discretamente os recursos e os medicamentos necessários, indo às
vezes pessoalmente realizar sua caridade.

Creio útil mencionar aqui algumas de suas curas, conforme foram contadas por
diversos testemunhos, entre os quais Papus e o Doutor Lalande. Elas podem parecer
incríveis a alguns leitores desta biografia, porém como disse o Dr. Philippe Encausse:
“Não ponho dúvida em tais fatos, embora pareçam estranhos a um leigo”.

Em 21 de maio de 1897, foi levada a Philippe uma menina de 10


anos. Sua mãe a conduzia em uma cadeira de rodas, já que não podia
mover suas pernas e apresentava um marcado desvio na coluna
vertebral. A mãe explicou que sua filha permanecia neste estado há
sete anos e que os médicos não tinham conseguido nenhuma melhora.
Philippe perguntou-lhe se estava em condições de pagar o que ia
pedir. A mulher
dinheiro. Não épôs-se a chorar,
fortuna crendo
que lhe peçoque lhe pediriaPhilippe,
acrescentou uma somamas
em
unicamente a promessa de nada dizer a ninguém até que sua filha
tenha 21 anos de idade. Promete-me?
Uma vez que a mãe, banhada em lágrimas, respondeu
afirmativamente, Philippe fez a menina descer de sua cadeira,
dizendo-lhe: “Examine sua filha e veja se ob serva alguma melhora.”
Estava curada! Logo, dirigindo-se a menina disse-lhe: “Levanta-te,
sozinha, sem apoiar-se neste banco.” Depois de algum esforço a

55
garotinha levantou-se sã, enquanto todos os presentes a
contemplavam cheios de emoção.
Um garotinho de 5 anos, incapaz de andar por si só, foi
conduzido a Philippe por sua mãe. Seu caso havia sido abandonado
pelos médicos. O mestre disse que o garoto estava curado e, na
realidade,
sua o menino
mãe chorava voltou caminhando da sala contígua, enquanto
de alegria.

O Dr. Bricaud fala em seu livro sobre O Mestre Philippe nos seguintes termos:

Consegui presenciar estranhas sessões de magnetismo oculto. As


curas efetuadas pelo Mestre pareciam ser verdadeiros milagres. Suas
faculdades de clarividência e clariaudiência, sua percepção das
enfermidades a distância, sempre produziam espanto, mesmo entre
seus alunos que podiam contemplar, sem obstáculos, frequentes
exemplos como os anteriores.”

Papus, por seu turno, assinala dois casos de cura de que foi testemunha:

Em uma das sessões chegou uma pobre mulher do povo,


levando em seus braços um menino raquítico, de 18 meses, que foi
examinado por dois médicos e dez testemunhas. Possuía um desvio em
arco, do círculo das tíbias; o menino não conseguia permanecer de pé
um segundo que fosse.
“Como essa senhora é muito rica, disse Philippe (tratava-se
evidentemente de uma riqueza espiritual), vamos solicitar a Deus a
cura de seu filho.”
A cura produziu-se em dez segundos. Os dois médicos e as dez
testemunhas puderam verificar que as tíbias endireitaram; a criança
firmou-se sobre as pernas, enquanto que a mãe caía em prantos.
No dia seguinte chegou outra mãe, cuja aparência exterior
demonstrava ser uma pessoa abastada. Sua filha de 10 meses padecia
de uma bronquite tuberculosa, complicada por uma tuberculose
intestinal. O médico da família, depois de fazer uma junta com um
professor, declarou-a irremediavelmente perdida.
Senhora, disse-lhe Philippe, não sois suficientemente rica
pagar-me. Desfruta
e de outros; da riqueza
partilhou tão poucomaterial,
de suaporém
riquezafala
commuito mal de que
os pobres uns
dispõe muito pouco das moedas da provas, do sofrimento e da
abnegação, as únicas moedas que o Céu reconhece e que em seu
acentuado favor nos autorizou a receber, apesar de indignos que
somos. A moeda de César aqui não circula, só a moeda do Cristo é
respeitada neste lugar. No entanto nos vem pedir que o Céu cure a
sua filha?” Não é difícil adivinhar a resposta da mãe.

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“Bem, continuou Philippe, solicitaremos aos presentes que nos
auxiliem a curar sua filha. Senhores e Senhoras, desejais que esta
menina sare?” Todos os presentes responderam afirmativamente.
“Bem! Todos vós prometeis não falar mal de vosso próximo
durante três dias? Prometei-o? Sim!”
“Senhora,
depende a vidapromete-me a mesma
de sua filha? coisa, tendo
Promete-me nãopresente quemais,
caluniar disto
sucessivamente, suas amizades?” Prometo-o de todo o coração e para
sempre” - respondeu.
“Só lhe peço três meses de esforço. Pode retirar -se, sua filha
está curada.”
“Pudemos constatar - acrescenta Papus - a manutenção
integral da cura. Estes dois exemplos demonstram a verdade da frase:
Enriquece-os, ainda que somente para saber de que riqueza se trata.”

O Dr. Bricaud nos proporcionou alguns detalhes interessantes acerca da organi-


zação habitual das sessões:

Eram realizadas duas vezes ao dia. Tão logo chegavam os


enfermos, Philippe fazia duas seleções, perguntando-lhes se vinham
pela primeira vez ou se já haviam seguido seu tratamento; depois
despedia as pessoas capazes de perturbar a atmosfera fluídica. Os
presentes tomavam assento em fileiras de cadeiras como na igreja e
ele lhes solicitava que se recolhessem em si mesmos enquanto se
retirava para uma peça vizinha. Quando fazia sua entrada definitiva,
geralmente dizia: Levantem-se!
Logo recomendava o recolhimento durante alguns minutos e
que fizessem uma invocação ao Ser Supremo. Durante este tempo
olhava um a um, fixamente, todos os presentes. Fazia-os sentarem-se
e, depois, com as mãos atrás das costas, passeava pela nave central.
De repente, bruscamente, detinha-se diante de um doente, tocava-o e
olhando fixamente, dava-lhe a ordem de sarar. Continuava andando
por entre os assistentes, dedicando a cada um, alguns minutos de
atenção e colocando-lhes seguidamente a mão sobre o ombro, lhe
dizia: Isto vai passar – falava com plena segurança da cura. Sobre
certos enfermos fazia passes magnéticos, a outros recomendava orar,
em determinadas condições.
Acusando-o de charlatanismo, embora não cobrasse jamais
honorários por suas curas, e alegando que lhes privava de uma boa
parte de sua clientela, os médicos da cidade fizeram-no, muitas vezes,
comparecer ante o tribunal, acusando-o do exercício ilegal da
medicina; finalmente, os médicos lioneses cessaram de perseguir
Philippe e, ainda houve alguns deles que lhe enviavam seus clientes,
em casos para eles sem solução.

57
No Tratado Elementar de Ocultismo, Papus se refere aos poderes de Philippe,
que eram realmente extraordinários. Por isso é fácil compreender que muitos de seus
adversários, ainda que entre os diplomados, não hajam persistido em desprezá-lo e,
muito pelo contrário, lhe deram sua confiança.

Encontrava-me ali – escreve Papus – com outros dois médicos,


quando uma mulher de 20 a 22 anos aproximava-se trazendo em seus
braços um menino de 5 anos, tendo a cabeça pendente e os olhos
vidrados. Esta dama disse a Philippe: Meu filho deve morrer dentre
de duas horas e como já me salvou a vida há 10 anos atrás, venho
agora pedir-lhe que salve a meu filho.
Nós os médicos, examinamos o menino e diagnosticamos um
caso de meningite tuberculosa muito avançada. O garotinho estava
condenado a morrer. Diante de todos os que o rodeavam, disse
Philippe: Pode-se curar este pequeno, uma vez que todos se
comprometam a não falar mal dos ausentes durante três meses. –
Respondemos-lhe que era impossível obter a cura. – Compreendo,
respondeu o Mestre Philippe, porém prometem-me não falar mal de
vossos semelhantes durante duas horas? – O menino, enquanto isso,
estava na sala ao lado. Depois de duas horas foi buscá-lo. Tomou-o
pela mãozinha e deu uma volta em torno da sala. Estava
completamente são.
Tive a oportunidade de presenciar outros casos, como o de uma
pessoa que sofria do estômago. Ninguém havia conseguido
diagnosticar a sua enfermidade. Philippe que era muito modesto e
gentil e que sempre tratava de ocupar o lugar mais humilde, roga aos
médicos presentes que examinem o paciente. Meus colegas e eu
mesmo o examinamos e não encontramos absolutamente nada. Logo,
Philippe nos perguntou amigavelmente: Já verificaram se tem
apêndice xifóide? (Trata-se de um pequeno osso situado abaixo do
esterno).
Novamente voltamos a examinar o doente e constatamos que o
externo detinha-se claramente apêndice xifóide. Em seguida, Philippe
nos disse: “Creio que o apêndice xifóide tenha dado vol ta até ao
interior. Este desprendimento produz uma pressão sobre o estômago e
provoca
enquantoapressionamos
gastralgia.”–-ali,
Colocamos a mão
ligeiramente, sobre a parte
o apêndice afetada,
xifóide voltou e,a
tomar sua posição normal sem que Philippe haja tocado no enfermo.
Havia produzido uma ação a distância.

Como já se disse, Philippe passou nos exames de medicina, porém não pode
receber o diploma de doutor em seu país, porque teve a audácia de ressuscitar um
morto, enquanto era apenas estudante de primeiro ano. Como consequência, não lhe
permitiram voltar a matricular-se. Por outra parte, era filho de camponeses pobres. O

58
que sabia, possuía de nascimento. No entanto, era-lhe necessário passar pela Faculdade
para aprender as coisas terrestres; sendo muito pobre e não desejando solicitar nada a
ninguém, Philippe empregou-se em um açougue e se encarregava de distribuir a
mercadoria entre os fregueses. Com o dinheiro proveniente do trabalho, custeava seus
estudos.
Finalmente,
seus últimos examesPhilippe recebeu na Rússia
devia diagnosticar seu diploma
cinco enfermos. de doutorum
Assinalarei emfato
medicina.
curioso:Em
os
médicos terrestres notaram que todo enfermo visitado por Philippe Nizier obtinha, em
seguida, sua cura. Os examinadores indicaram-lhe um enfermo e pediram-lhe que
diagnosticasse; Philippe respondeu que tinha um abcesso (Abcesso de Richer) no
ouvido. Os médicos opinaram que não era verdade e que se tratava de um reumatismo.
Enquanto discutiam sobre este segundo diagnóstico, de repente arrebentou o abcesso e o
pus começou a derramar-se para fora da orelha. O enfermo havia obtido a cura. Philippe
Nizier, em consequência, passou na Rússia pelos exames práticos e clínicos mais
completos e que tem um certo valor para os médicos. Posteriormente, o Tzar confiou-
lhe uma missão de importância na saúde dos portos, com o cargo de general do exército
Russo.
Porém, Philippe não foi só um terapeuta digno deste nome, já que possuía outros
poderes, entre eles o de mandar nos elementos. Foi assim que, em presença de Papus,
atraiu um raio que veio a cair a seus pés, em um pátio do imóvel que ocupava na Rua
Tête-D’Or, em Lyon.
Papus durante toda sua vida, ficava comovido ao recordar este feito.
Outra vez, escreve Mme. Lalande, o Mestre estava de visita em
nossa casa, acompanhado de toda sua família. Encontravam-nos no
campo; estavam presentes outras pessoas e convidados
impressionados e nervosos, temendo que de um momento para outro,
desabasse uma tempestade. Minha mãe disse, dirigindo-se a Philippe
e observando as nuvens negras, que se desabasse a tempestade,
certamente vários adoeceriam. O Mestre olhou o céu respondeu com
aquele sorriso tão cheio de bondade que o caracterizava: Bem! Hoje
não teremos tormenta.
Para nossa satisfação, observamos que as nuvens se
dispersavam imediatamente e o céu continuava sereno e calmo.

Durante sua permanência na Rússia, de 1901-1902, o Dr. Lalande viu o Mestre


acalmar o vento
passeio de e a tempestade
iate e isso a pedido doque se havia
próprio Tzar.desencadeado, enquanto o Tzar dava um

Na mesma época um grande vendaval ia estragar uma revista. O


Mestre disse ao Dr. Lalande que o vento não podia ser suprimido,
porém seria possível desviá-lo para que não tocasse na terra e não
levantasse poeira.
Durante seu matrimônio, ao nascer sua filha e quando do
casamento desta com o Dr. Lalande, produziram-se tremores e

59
tempestades. Neste último caso, produziu-se na saída da Igreja e do
restaurante, uma tempestade sobre Lyon e caíram mais de sessenta
raios! O Dr. Lalande lhe havia solicitado evitar a presença de
curiosos e inoportunos!
Durante um desfile militar na Rússia, Philippe acompanhava,
vestido de civil,
observando a Tzarina
de longe este civilemsentado
seu carro...
ao ladoUm dos Grão-Duques,
da Soberana, chegou a
galope, assombrado por esta anomalia contra as normas protocolares
e da etiqueta. Em seguida constatou que a Tzarina estava sozinha!
Isto ocorreu várias vezes em muitas ocasiões... Philippe se havia feito
invisível.
Depois de meio dia havia caído uma tempestade. Papus
encontrava-se com o Mestre Philippe no pátio. Sem deixar de fumar
seu cachimbo, perguntou a Papus se havia visto alguma vez cair um
raio; este lhe respondeu negativamente e os dois dirigiram-se ime-
diatamente ao jardim enquanto o céu fulgurava com os relâmpagos.
De imediato caiu um raio, fazendo saltar os pedregulhos do jardim.
Em Abresle uma praga havia atacado todas as vinhas, com
exceção das suas.
Durante uma sessão para demonstrar a Papus o que é a morte,
tomou um dos presentes e lhe deteve o coração. A pessoa caiu
desmaiada. Depois de alguns minutos devolveu o movimento ao
coração do paciente, o qual levantou-se dizendo ter sonhado que
havia tomado o trem.
Um dia o procurador da República acusou-o de atrair às
sessões, pessoas para despojá-las de suas joias. Dois dias depois o
filho do Procurador caiu enfermo; o pai, desesperado, vem suplicar-
lhe que salve seu filho. Philippe roga a cura a Seu Amigo e a obtém.
Em 1870 celebrava suas sessões perto de Perrache. Desde
manhã, cerca de 500 pessoas dirigiram-se ao Prefeito para reclamar.
Este faz com que ele compareça à sua presença e lhe pede que dê um
exemplo do poder que lhe é atribuído. Um conselheiro da prefeitura,
presente à entrevista, indivíduo alto e forte, desafia-o para que o faça
cair enfermo... O Mestre recolhe-se durante alguns segundos e os
presentes verificam em seguida, que o conselheiro cai como um objeto
inanimado sobre o solo. Havia desmaiado.

Loup Uma
onde de
um suas primeiras
menino curas remonta
havia morrido, apesara dos
1866cuidados
em George du
de dois
médicos. Tomavam-se já as medidas necessárias para os funerais,
quando Nizier disse ao menino que se levantasse, o que fez com
grande surpresa dos presentes.
Uma vez o Mestre explicava que existem sete véus ou cortinas e
que detrás do primeiro encontram-se ocultos os seres mais avançados
que já habitaram este mundo. Solicita a cooperação de um jovem e
nos anuncia que vai levantar o primeiro véu, que separa este mundo

60
do outro. Imediatamente, todos os presentes sentem uma corrente de
ar mais fria e mais rápida, que produz um inexplicável bem-estar.
Havendo todos expressado o desejo de que levantasse o segundo
véu, o Mestre consente. No mesmo instante, o jovem cai desmaiado e
todos os presentes sentem-se possuídos pelo medo, alguns
experimentando
impressão geral algo
foi desemelhante a uma atração
que todos teríamos para o ovazio.
experimentado mesmoA
fenômeno se o Mestre não houvesse parado com a experiência.
Durante outra sessão encontram-se presentes 110 pessoas,
alunos e pacientes. Uma enferma de 60 anos assistia pela primeira
vez; ela tinha uma dormência no ombro esquerdo há três anos; era
uma anquilose do cotovelo que lhe impedia de mover o antebraço e os
dedos. O Mestre nos disse: há um mundo no qual ao homem são
outorgados todos os poderes. Vou dar-lhes um exemplo. - Logo nos
explica que faria com que os fluídos magnéticos se condensassem e
que seriam depositados sobre nossas pernas-. Imediatamente e com a
rapidez de um relâmpago, os presentes sentiram uma pressão
sumamente fria sobre suas pernas. O Mestre acrescenta: Neste mundo
o homem faz o que é bom, porque ele mesmo é a Força e a Luz. É por
isso que lhes afirmei que esta mulher obteria, imediatamente, sua
cura.
Efetivamente! A enferma levanta seu braço como se não tivesse
nenhuma enfermidade! Em seguida, o Mestre nos disse: Vede o que se
fez, sem a menor aplicação da vontade e sem nenhum esforço próprio
do magnetismo. Não fui eu quem o fez, mas Deus assim o quis para
demonstrar nos que não pertencemos a este mundo, mas que estamos
chamados a ir muito mais alto.

Refere Papus:

Conhecia uma família burguesa, rica, considerada com um


pouco da respeitabilidade tão procurada pelas famílias burguesas da
província. O pai havia morrido; a mãe ficou só com sua própria mãe
e dois meninos de 10 e 12 anos. Pude observar como a miséria
entrava pouco a pouco nessa família enquanto a mãe fazia todo o
possível para manter o lar, valorosamente. No entanto, a miséria
aumentava
seus bens e,sem piedade eativeram
finalmente, famíliaque
só vender seus móveis
pode subsistir pela ecaridade,
todos os
vivendo refugiada em um sótão. Eu quase havia acusado o céu pelo
que fazia com esta mãe de família.
Foi então, que expressei meu pesar por esta situação diante do
Mestre, quando nos encontrávamos em um pequeno aposento, ao lado
da sala onde fazia suas curas milagrosas. Recorrendo à oração, de
repente se me apresentou um espetáculo. Philippe me disse: Vais ter
resposta à tua pergunta; será um grande bem para ti, porém também

61
uma grande responsabilidade. Antes de receber esta resposta eras
ignorante e recebias o salário dos ignorantes; agora serás instruído e
receberás o salário dos que sabem. Mais tarde compreenderás o que
quero dizer. Solicitamos ao Amigo que levante para ti os véus que
separam os planos.
Nesse mesmo
se abriram. - É umainstante,
criação parece queimaginação?
de minha os muros do Trata-se
pequeno de
recinto
uma
realidade? É, certamente, a iluminação de um clichê, devido à
palavra do Mestre?... Que importa!
Philippe disse: Estas mulheres deixaram morrer de fome um
familiar do qual queriam herdar e diante de mim contemplo o velho
castelo feudal, reconheço a mãe e a avó, não obstante diferentes em
seus trajes. Vejo uma jovem mulher encerrada em uma masmorra
escura, suplicando a essas mulheres que não a deixem morrer de fome
e que lhe dêem alimento. Foram miseráveis - ajunta o Mestre.
Voltaram à terra depois de haverem aceitado pagar suas faltas e de
haverem consentido em morrer de fome, da mesma maneira como ha-
viam feito morrer sua parente. Porém, a Virgem piedosa, mediante
uma oração de seus antepassados, mudou o destino e lhes permitiu
que pudessem alimentar-se e, depois de haverem sido humilhadas,
voltarão a viver uma vida normal. E assim aconteceu, com efeito. A
mãe e a avó salvaram-se graças ao trabalho dos dois filhos, que
foram dois grandes espíritos encarnados pelo céu nesta família de
demônios femininos, para salvá-las.
Este relato, para mim, tem um grande valor, por ter sido dado
para minha instrução pessoal. Pouco importa que se tome com lenda
ou realidade! A parte de outro que encerra é bastante brilhante, o
suficiente para esclarecer aos corações capazes de compreender.

Em outra obra, O Tratado Elementar de Ocultismo, Papus cita outro exemplo do


poder do Mestre:

Um senhor assistia a uma da sessões de Philippe e manifesta seu


desejo de falar-lhe. Philippe pergunta-lhe: “Sua consulta é sobre
algum assunto pessoal?” “Sobre mim”, responde-lhe este senhor... –
“Acredita-me tão idiota como todos os que estão aqui? Não! Venho
cumprir
Philippe um encargo
olha-o e de minha“Senhor,
e responde: parte nada tenho
teria a abondade
pedir-lhe.”
de
acompanhar-me à sala ao lado?” – O interessado aceita e o Mestre
dirigindo-se a ele diz: “Recorda o que o senhor fez em 28 de julho de
1884, às 3 horas da tarde?... quando estrangulou uma mulher! Não
tema, só eu o vi, porém a polícia não tardará em descobri-lo. Se
deseja sinceramente pedir perdão ao Céu, imediatamente, não será
descoberto.

62
Então, prossegue Papus, este indivíduo que queria se fazer de
forte, cai de joelhos e implora ao Céu que o perdoe.
Possuía uma noção completa da vida presente em todos os seus
detalhes e dos seres terrestres com os quais se punha em contato;
Dizia-lhes: “Tal dia você quis suicidar-se em tal condição; tinha tudo
preparadoistopara
momento que se porque
não ocorreu pensasse em acidente,
eu estava, invisívelporém em dado
a seu lado.”
Um dia, ao entrar em uma igreja para ser o padrinho de um dos
filhos de Durville, o pequeno Henri, inclinou-se para falar ao ouvido
de um mendigo, pseudo - paralítico, meio oculto entre as portas e lhe
disse: Tens 15000 francos ocultos em teu colchão, 10000 francos em
ouro e 5000 em notas; neste exato momento vão te roubar. - O
mendigo, espantado, saiu correndo em toda velocidade para salvar o
seu dinheiro, o qual, efetivamente, corria perigo.
Segundo uma Tradição Secreta, existem sempre sobre a terra,
três enviados do Pai, seja que encarnem na mesma época ou que
operem cada um em um plano diferente, isso pouco importa. Cada um
destes enviados possui uma característica especial. O que nosso
coração recordará sempre, pelas palavras de vida que nos ensinou,
chamava-se o espírito mais velho da terra; tinha grandes poderes, um
poder especial sobre o raio que obedecia suas ordens e mandava
igualmente no elemento ar e água. Seriam necessárias páginas e pá-
ginas para relatar tudo o que fazia este enviado do Pai sobre a terra.
Era como um raio de sol dissipando as trevas infernais, era riqueza
de piedade entre corações de pedra, era um raio de luz em meio do
egoísmo e crueldade que nos rodeiam e isso nos fazia amar um pouco
a vida.
Tais são, os que vêm voluntariamente, são aqueles que
recordam verdadeiramente porque, na realidade, recordam, porém
não dizem jamais que tenham sido tal ou qual personagem, nem
sequer evocam o que realizaram em suas existências anteriores.

Jean Bricaud também nos proporcionou interessantes detalhes sobre o Mestre,


que teve oportunidade de conhecer em Lyon:“Fui apresentado ao Mestre Philippe,
escreve Bricaud, no decurso de uma das sessões da Rua Tête-d”Or, por seu genro o Dr.
Lalande e me citou como um de seus discípulos.”

À primeira vista, nada no Mestre atraía a atenção. De ombros


quadrados, de forte corpulência, de aspecto jovial, podia ser tomado
como um pequeno capitalista bonachão. Cabelos castanhos,
abundantes, repartidos ao meio, rodeando uma fronte alta e desco-
berta. Uma ruga bastante acentuada separava os olhos que, por
contraste azuis, irradiavam bondade, com as pálpebras caídas, índice
de predisposição à clarividência. Apresentava um grande bigode,
meio caído. Um pescoço forte suportava este conjunto fisionômico.

63
Devido à sua srcem campesina, conservava um aspecto de
bonomia e gostos sensíveis.
Tal era a impressão que produzia à primeira vista. Só depois de
conversar com ele é que a assombrosa doçura de seu olhar
penetrante, a gentileza de suas palavras, o som de sua voz e seu
sorriso, produziam
persuasivo, umamaravilhosas
servido por grande influência. Erapsíquicas.
qualidades em alto grau um
Com seu encanto e a torrente de fluidos magnéticos que
projetava ao seu redor, exercia uma grande influência sobre aqueles
que o rodeavam, podendo lhes impor as mais severas disciplinas,
exercendo uma autoridade que nenhum homem poderia alcançar.
Pertencia à raça dos grandes homens, dos que engendram a fé,
aquela fé que move montanhas.
Porém, o Mestre Philippe não era somente um terapeuta inato,
como aqueles que se encontram de tempos em tempos e que, graças a
uma faculdade psicológica ainda inexplicada pela medicina moderna,
realizava curas tão reais como surpreendentes, já que os sobrepujava
infinitamente por seu profundo sentimento das forças desconhecidas,
pela vivência da presença Divina e por sua inspiração, ao mesmo
tempo que por sua autoridade moral, que exercia sobre a multidão. O
espetáculo de sua atuação fazia pensar aos que ali estavam, ainda
que fosse como simples observadores, como seriam os Profetas,
rodeados por seus Apóstolos.
Algo de extremamente livre se desprendia de sua pessoa e sua
autoridade absoluta se traduzia sem nenhum esforço em “mise en
scène”. Seguidamente, ao acercar se alguém do Mestre, lhe dizia em
duas palavras algo acerca do que o preocupava desde algum tempo e
que não sabia como expressá-lo convenientemente a Philippe. Outras
vezes, relatava a um dos presentes um feito qualquer da vida deste,
conhecido somente por ele ou uma palavra dita por essa pessoa em
segredo e, sobretudo, dava a quem o rodeava, a força moral para
suportar as provas... Operava numerosas curas à distância. Ao
observar o sofrimento no coração angustiado de algum dos presentes,
dava-lhe o consolo ou às vezes fazia uma observação que, durante o
intervalo de sua assistência às sessões, não havia cumprido com a
promessa feita para obter a cura ou que havia atuado de maneira
errada,
Quem eracircunstância que pensava
sacudido desta maneira,serficava
ignorada por todo
confundido o mundo.
e não sabia
onde meter-se...
Philippe estimava e afirmava que a prática vale muito mais do
que a teoria, ainda que a prática ensinada por ele dirigia-se, quase
sempre, a um auditório composto por pessoas sensíveis e, muito
seguido, sem cultura. Não é necessário, por isso, concluir que
Philippe não falava jamais de outra maneira; ele respondia a cada
um conforme seus conhecimentos e capacidades.

64
Era tão diferente de nós, tão grandes seus conhecimentos, tão
livre, que nenhuma de nossas medidas se lhe adaptavam. Lógica,
moral, sentimentos familiares, tudo isso não era para ele o que é para
nós, já que a vida inteira se lhe apresentava unida, com o passado e o
futuro, em um só todo espiritual, do qual conhecia a natureza, a
essência,
seria as razões,
necessário as leis
antes e seu
falar comencadeamento. Falar dias,
o Mestre durante dele? escutá-lo,
Para isso
referir-se a tudo o que nos rodeia: matéria, força, pensamento, sen-
sação de haver chegado a obter uma concepção perfeita sobre o
Universo e o ser humano. Depois, quem o houvesse escutado, teria a
vivência de que o centro de tudo está em nós e que esse centro é o
coração e não a razão, haveria chegado a experimentar a realidade,
a verdade de um ser como ele, não como algo possível mas
necessário. E somente então, quem falasse sobre ele poderia, talvez,
ter chegado a compreendê-lo.
E, como já se disse, o ensinamento que dava Philippe Nizier
resumia-se em pouca coisa, a bem pouca coisa... a um só ponto, do
qual dependem todos os demais: a modificação de si mesmo, do
temperamento, das maneiras, o aperfeiçoamento individual até que a
pessoa chegue a expulsar de si o egoísmo, enchendo sua vida de amor
e de bondade para com os demais, pois sem isso tudo o mais é
necessariamente falso e está fadado a morrer, uma vez que se trate de
ciência ou virtude, atos, teorias, pensamentos, vida ou felicidade...
tudo!
Em troca, tudo lhes é dado... progresso, harmonia, poder,
alegria e a possibilidade de dar felicidade, e desta maneira pode-se
conseguir o conhecimento progressivo de tudo, do mundo e de Deus.
Juro-lhes que é tudo o que Philippe ensinava e praticava.
Porém, como ele estava já tão alto sobre este caminho, tão alto que
não podíamos dizer se estava a três quartas partes do apogeu ou mais
além, uma vez que estávamos tão abaixo; possuía o conhecimento, o
poder do qual já lhes falei e com o qual sonhamos e ele, com suas
curas morais e físicas, com seus atos de sabedoria e os milagres (quer
dizer, a ciência para nós), provava-nos que seu ensino era
verdadeiro.

Eis aqui
necessário umas frases
começar de Philippe:
pela base, porque se“Para construir
começa uma
por cima, casa
tudo viraé
abaixo. É preciso ter materiais e os materiais são “amar a seu
próximo como a si mesmo” e o que nos falta, muito seguidamente, são
esses materiais”. (Mme. Marie Lalande; Recordações de Mestre
Philippe).

Sem ser rico, Philippe desfrutava de uma certa fortuna. Muito


zeloso de sua independência, não lhe agradava dever nada a

65
ninguém, ainda que fosse de um grande da terra. Provou-o
recusando, sistematicamente, tudo o que o Tzar quis oferecer-lhe:
cargos, honras, condecorações, pensões... Declinou de tudo.
Nicolau II acrescentou sua estima por este homem que não lhe
pedia nada. No palácio Peterhof, os personagens da Corte não
podiam perguntar
interrogavam a este ao
queTzar o que delheresponder-lhes.
se abstinha havia dito Philippe, então
Eis porque Philippe, como os que o frequentavam, fizeram-se
suspeitos. Como eu pertencia a estes últimos (declara Papus),
acusaram-nos à polícia; como esta não pode averiguar nada
interessante, imaginou que Philippe e eu devíamos ser dois gênios
maus que havíamos tomados ascendência sobre o espírito do Tzar,
fazendo com que os mortos falassem.

Estas linhas de Papus, expressa nosso Grão-Mestre Philippe Encausse, referem-se


à ação de Philippe Nizier e de Papus na Rússia sob o império dos Tzares, onde exer-
ceram uma ação, com efeito, sumamente importante.
Em novembro de 1895, por proposta de Papus (que alguns anos antes havia
conhecido Philippe por intermédio de Mme. Encausse, cuja mãe morava em Arbresle e
que havia ficado maravilhada com os poderes do Mestre), foi fundada a Escola
Secundária de Magnetismo e de Massagem, em Lyon. Philippe foi convidado para
assumir a direção do estabelecimento a aceitou. Foi designado, então, professor titular
da classe de Clínica Magnética e, de acordo com a proposta de Jean Chapas, foi também
designado mestre de conferências, cargo dos cursos de história do magnetismo. Esta
escola obteve um legítimo êxito. 20
Philippe encarregou-se inteiramente de dar ajuda a todos, aos humildes
camponeses ou aos grandes da terra. Porém, se teve amigos devotos até sua morte,
também teve invejosos sectários e espíritos fortes, que se esforçavam em aniquilá-lo.
Suas duas viagens e suas intervenções na Rússia, atraíram-lhe novos ataques e pesares,
no que se distinguiu muito especialmente certo policial. O estado de sua saúde alterou-
se. Logo veio o grande sofrimento de sua vida: a morte prematura, em 1904, de sua filha
muito amada; a doce e jovem Vitória Lalande. Ele que assombrava os desconhecidos e
que até havia conseguido ressuscitar os desconhecidos e que até havia conseguido
ressuscitar os mortos, nada podia fazer por sua filha, conforme as leis do ocultismo.

Estas vendo o que me sucede! – dizia a uma amiga da família e


seu rosto se alterava
se inclinou com indescritível
humildemente emoção.
ante a vontade Porém,Encontrei
Divina. foi corajoso
umae
pequena nota manuscrita do Mestre, escrita em 13 de julho de 1896,
as 19 horas e 15 minutos: Meu Deus, aceito as consequências de meu
pedido e te prometo suportar com resignação todas as provas que
queiras enviar-me

20
- Parece-me que essa escola não tinha outro papel que o de legitimar perante a lei as sessões e demais trabalhos
realizados pelo Mestre. (N. Rev.).

66
E, portanto, Philippe esforçou-se em resignar-se ante a cruel prova, conforme o
que havia escrito e ensinado, porém o choque não deixou de ser, menos doloroso...
Depois da morte de sua filha, Philippe sofreu mais e mais. Seguidamente passava
semanas inteiras em Paris, para grande alegria de Papus e de seus demais discípulos
parisienses, entre os quais estavam Phaneg e Sédir. A eles anunciou sua próxima partida
para osEm
planos superiores...
2 de agosto Retornou
de 1905, aos 56ao sítiodeLandar,
anos Em grande
idade, este Arbresle.
espírito, o guia que era
todo amor, o poderoso terapeuta das almas e dos corpos, abandonou o plano físico, onde
havia cumprido tão fielmente sua missão, tendo posto em prática, sempre, a comove-
dora lição de amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, seu Mestre e Amigo...
Alguns dias antes de sua
morte escreveu a seu fiel amigo
Papus, que sua morte estava
próxima. Porém, Papus não pode
crer em um desaparecimento tão
rápido e foi em Paris que recebeu a
triste notícia, através do seguinte
telegrama enviado pelo Dr.
Lalande: “Meu pobre amigo, chora
comigo! Abandonou-nos esta
manhã. Enterro no sábado pela
manhã às 10 horas. Avisa os
amigos de Paris”.
Mais adiante, no curso dos
Graus Martinistas e através dos
capítulos sucessivos, voltaremos a
nos referir à pessoa deste Venerável
e amado Mestre Philippe Nizier,
teremos o privilégio de conhecer
seus ensinamentos e outros detalhes
e histórias de sua vida, que não
podem ser tratados nestes capítulos preparatórios à Iniciação Martinista.
No entanto, podemos adiantar que este Ilustre e Amado Mestre foi o Orientador
Espiritual da Ordem Martinista... segue sendo... e o será ainda por muito tempo... na su-
cessão dos anos terrestres, que não são senão fugazes instantes no acontecer Cósmico...
Sua orientação e proteção espiritual está incentivando nossos Grupos e cada um de seus
Iniciados.

67
O MARTINISMO POSTERIOR A PAPUS

Para compreender o que segue, é necessário recorrer a um resumo já expresso,


seguindo a exposição cronológica do Martinismo, segundo Papus.
Devemos distinguir na Tradição Martinista quatro correntes que enumeraremos e
que se sucederam no tempo, até nossa época atual.

a) O Martinismo – Quer dizer, o movimento srcinado de Martinez de Pasqually e


que manifestou-se entre 1767 e 1780 na Ordem dos Elu Cohens. Em 1780, esta
Ordem desapareceu oficialmente, ainda que na Alemanha, Itália e outros países,
continuem existindo Lojas de Elu Cohens.21

b) O Willermozismo – Willermoz tratou de perpetuar o ensinamento de seu Mestre


Martinez de Pasqually no seio da Maçonaria, corrente que se manifestou entre
1772, ano em que Martinez de Pasqually abandonou a França para mudar-se
para São Domingos, e 1824, época em que faleceu Jean Baptiste Willermoz.

Willermoz, cumprindo sua missão, constitui e funda o Rito Escocês Retificado.


A existência deste Rito foi aprovada em 1782, no Convento Maçônico de Wilhelmsbad,
presidido pelo Duque Fernando de Brunswich. Lá estiveram representados a maioria
dos poderes Maçônicos Europeus. Apoiaram Willermoz no dito Convento, o Conde de
Saint-Germain, Louis Claude de Saint-Martin e outros ilustres Dignitários da Maçonaria
e das Ordens Tradicionais do Ocidente.
O Rito Escocês Retificado era formado por dois círculos; o círculo exterior,
formado pelos seguintes Graus: Aprendiz, Companheiro, Mestre, e Mestre Escocês. O
círculo interno era secreto e estava formado pelo grau de Cavaleiro Benfeitor da Cidade
Santa ou da Beneficência e estava dividido em três sessões: Noviço, Professo e
Cavaleiro. O círculo transmitia o ensinamento teórico; o círculo interior o ensinamento
prático do Martinismo.
Cabe acrescentar que, tanto a Ordem dos Elu Cohens como o Rito Escocês
Retificado eram ordens exclusivamente masculinas, em obediência ao Landmark
tradicional que fez da Maçonaria uma Ordem masculina, em harmonia com seu
simbolismo
suas colunas,e pela
rituais e que, portanto,
modalidade de seu não harmonizavam
trabalho com
profano, que foi,a muitas
presença feminina
vezes, em
perigosa
(e segue sendo), dado os fortes interesses sectários que sempre se opuseram a seu
trabalho.

c) O Martinismo propriamente dito – Quer dizer, o grande movimento que deu


srcem Louis Claude de Saint-Martin, o Filósofo Desconhecido e que
21
- O Grão-Mestre atual da Ordem dos Elu Cohens é Ivan Mosca e sua sede está na Itália; mas esta Ordem está
desativada. (N. Rev.).

68
manifestou-se, principalmente, no plano organizativo, ideológico, cultural e
espiritual. Foi entre 1780, ano em que Saint-Martin fundou sua secreta
Sociedade dos Sábios Solitários ou Sociedade dos Íntimos e 1883, ano em que
faleceu Henri Delaage, que durou esse movimento.

O Martinismo
pela transmissão caracterizou-se
desta pela instituição
corrente espiritual da Iniciação
diretamente Livre, aquer
de Iniciador dizer,
Iniciado,
prescindindo da existência de Lojas e de todo o elemento Maçônico. Saint-Martin
iniciou igualmente a mulher. Esta Ordem ou corrente iniciática possuía a espiritualidade
mais pura e o ritual era sumamente sensível.

d) O Martinismo Moderno – É o movimento maravilhoso e dinâmico reorganizado


por Papus que, introduziu os ensinamentos ocultos de Saint-Martin nos moldes
organizados por Willermoz, criando a instituição que é a Ordem Martinista. Ela
foi fundada em 1888 e continua com força e vigor até o presente. O Martinismo
de Papus caracterizou-se por manter-se estritamente independente de toda a
conexão Maçônica. Iniciou a mulher em igualdade de condições com o homem.
Combinou o regime de Iniciação Livre como o da Iniciação em Lojas, Grupos
ou Centros Martinistas, constituindo na realidade, uma Ordem Iniciática dirigida
por um Supremo Conselho e com Lojas em todas as partes do mundo.

Em 1899 o Supremo Conselho da Ordem Martinista designou Delegados Gerais


e Delegados Especiais em alguns países europeus, assim como na Grã-Bretanha,
Estados Unidos da América, Argentina e em países do Oriente.

Até 1902, o Dr. Blitz, que era o Soberano Delegado da Ordem na


América do Norte, nomeado por Papus, teve êxito em organizar um
grupo de membros Martinistas de bastante importância, possuindo
uma Carta Constitutiva emanada, como já se disse, de Papus.
Em 1902, o Dr. Blitz publicou umas notas acerca de sua
Ordem Martinista modificada, através das quais informava que ia
fazer de sua seção americana uma organização semimaçônica, na
qual só seriam admitidos Maçons. Pretendia ser, também, o
Supremo Mestre desta Ordem Martinista modificada. Reuniu uma
convenção geral da Ordem em Cleveland, Estado de Ohio, em 2 de
junho de 1902 e publicou um Manifesto Americano. Neste Manifesto
proclamava que suadeorganização
modificados, serviriam Martinista e doseus
chave para a interpretação Ritos
cerimonial
e alegorias Franco-Maçônicas. Ao ler-se tal Manifesto tinha-se a
impressão que os Maçons obteriam maiores vantagens se fossem
filiados à Ordem Martinista do Dr. Blitz do que pertencendo a suas
próprias Lojas Maçônicas. Em seu Manifesto não fazia a menor
menção ao Supremo Conselho da Ordem em Paris, assim como,
tampouco, falava da autorização que havia recebido em Paris para
estabelecer a Ordem Martinista nos EUA. Este Manifesto, em sua

69
totalidade, tinha a aparência de um alegado em favor do
reconhecimento do Martinismo Norte – americano pelas Lojas
Maçônicas da América.
Este procedimento do Dr. Blitz não foi aprovado por Papus e o
Supremo Conselho da Ordem na França. Em consequência,
publicou-se um editalonde
Estrela do Oriente em Paris, em uma pequena
se acentuava que a revista
Ordem chamada A
Martinista
estabelecida nos EUA não era um rito Maçônico, mas uma Ordem
de Cavalaria Cristã Laica. Além disso expressava que a Ordem
Martinista baseava-se em princípios Martinistas e não em princípios
Maçônicos. Este edital anunciava, também, que o cargo de
Soberano Grão Delegado Geral para os Estados Unidos, que se
havia conferido ao Dr. Blitz, ficava abolido e que o referido cargo
era repassado pelo Inspetor Geral da Ordem para os EUA., e confe-
rido a Margaret B. Peeke, a única entre os Martinistas Norte-
americanos, que tinha posse do Grau Rosa-Cruz. Em conseqüência,
este decreto de Papus e do Supremo Conselho, dissolvia o Grande
Conselho da Ordem Martinista dos EUA., na forma como o havia
organizado o Dr. Blitz.
Nada se sabe do trabalho do Dr. Blitz e de sua Ordem
Martinista, depois da censura da Papus por motivo de seu Manifesto
Americano. É provável que a organização tenha desaparecido
rapidamente; como é lógico supor, os Maçons dos EUA não lhe
haviam permitido funcionar como uma dependência da Maçonaria.
Em 1916 Papus morreu e não se sabe de outras comunicações
de sua parte, com a América.
Em 1902 um Rito Martinista Modificado foi fundado na
Inglaterra. Ele abriu suas portas os dois sexos, porém sem pretender
obter um reconhecimento da Maçonaria. Copiou, no entanto, alguns
dos Rituais da Organização do Dr. Blitz, embora evidenciando
características muito peculiares.
O Martinismo na América só pode prosperar com a condição
que os Maçons não tenham motivos e razões para crerem que o
Martinismo revele os segredos Maçônicos, nem imaginarem que o
Martinismo aspira obter um reconhecimento da parte deles. Para
alcançar um certo êxito na América, o Martinismo deve ser
absolutamente
repetir o erro doindependente dapodemos
Dr. Blitz. Não Maçonaria e não
saber seriafaleceu
quando conveniente
o Dr.
Blitz; sabemos somente que deve ter ocorrido entre 1920 e 1924.
(Este documento vem do Dr. H. Spencer Lewis e estes dados
foram tomados de fontes americanas dignas de fé e de algumas
anotações do próprio Papus)

Papus faleceu sem designar um sucessor para o cargo de Gão Mestre da Ordem.
O certo é que o Ilustre Irmão Téder (Charles Detré) foi designado por alguns membros

70
do Supremo Conselho, para sucedê-lo. No entanto, neste ponto quebrou-se a unidade da
Ordem Martinista de Papus, já que o sucessor do Irmão Téder, o ilustre Irmão Jean
Bricaud, que assumiu a Presidência do Supremo Conselho e o cargo de Grão Mestre da
Ordem, ao falecer Téder após dois anos da sua designação, iniciou uma série de
reformas na Ordem que, praticamente, significaram o nascimento de outra Ordem
completamente distinta
separou-se, em vista e diferente
deste situação,do Martinismo
fundando de Papus.
a Ordem O Irmão
Martinista Victor Blanchard
e Sinárquica, e outros
membros do Supremo Conselho, que não aceitaram a presidência de Blanchard,
constituíram a Ordem Martinista Tradicional. Joules Boucher, em 1948, constituiu a
Ordem Martinista Retificada.
Passemos a nos referir a cada um destes ramos, baseando-nos em dados que
temos em nossos arquivos.

ORDEM MARTINISTA UNIVERSAL (DE LYON)

Depois da morte de Papus, como já foi dito, o Irmão Charles Detré (Téder) foi
designado Grão-Mestre da Ordem Martinista e Presidente do Supremo Conselho. Foi
Téder quem redigiu junto com Papus, em 1913, o Ritual da Ordem Martinista, na forma
que hoje é conhecido. Téder faleceu dois anos após ser designado para seu alto cargo.
Foi substituído, então, pelo Irmão Jean Bricaud, de Lyon.
Bricaud conhecia Papus desde 1899. Porém, só em 1903 recebeu o terceiro grau
da hierarquia Martinista. Não obstante foi somente a partir de 1908, por ocasião do
Congresso Espiritualista, que intensificou suas relações com a Ordem.
Chevillon escreveu uma biografia de Jean Bricaud em 1934. Conforme o que
expõe Chevillon em seu trabalho, o programa Martinista de Papus havia se estabelecido
sobre bases que discordavam da sã tradição Willermozista. Eis porque Bricaud tomara a
decisão de corrigir as coisas para “Colocá-las em seu reto caminho”, segundo as
próprias palavras de Chevillon. Acrescenta este que Téder e alguns iniciados
mostravam-se desgostosos com o aumento de adeptos, praticado sem discriminação.

71
Em 1914, Bricaud havia lançado em Lyon o movimento Martinista, sobre as
bases das normas aceitas em 1911, de acordo com as regras de seleção de adeptos,
adotada já antes por Willermoz e Antoine Pont, seu sucessor.

Papus, escreveu Chevillon, era um ocultista brilhante, dotado de


profundaera
entanto, erudição. Assimilava
um discípulo com extraordinária
demasiadamente exclusivo defacilidade. No
Eliphas Levi,
de Saint-Yves e de Fabre d’Olivet, razão pela qual havia descuidado
de atender a uma elite de membros do Iluminismo 22. Téder, pelo
contrário, conhecia e, consequentemente, completava Papus,
permanecendo na sombra. É por meio de Téder que Bricaud
conseguiu convencer Papus a associar o Martinismo com a Gnose.
Bricaud presidia uma organização denominada Igreja Gnóstica
Universal; era o Patriarca Gnóstico Universal. Em 1911, conseguiu
convencer Papus a firmar um tratado que fazia da Igreja Gnóstica
Universal a Igreja oficial do Martinismo.

Recordamos termos assistido em 1942-1943 reuniões presididas pelo Ilustre


Irmão Leon Tournier, nas quais pudemos ouvir a exposição de algumas das doutrinas
filosóficas do primitivo gnosticismo, sobre a base de material remetido ao Chile pelo
Irmão Bricaud.
Prossegue Chevillon:
A Maçonaria e o Martinismo se superpõem sem se confundirem.
As duas organizações tem suas raízes na Gnose por intermédio dos
Templários e dos Rosa-Cruzes, seus sucessores... O Martinismo de
Papus tinha sua srcem no espiritualismo, porém possuía um
ecletismo demasiado vasto. Dava a seus adeptos uma orientação
geral, ainda que sua finalidade fosse imprecisa em um ideal de
reintegração mal definido. Representava no mundo espiritual o que a
classe dos invertebrados representa no reino animal. Naturalmente
que a principal causa desta situação era o materialismo, tendência
cada vez mais predominante na Maçonaria Latina. Porém, isto não
era suficiente e assim o compreendeu Jean Bricaud, que conhecia as
doutrinas de Chefdebier, Marconis e Willermoz, Iluminados
tradicionais.

Bricaud faleceu em Lyon, em 21 de fevereiro de 1934.


Em síntese, a Ordem Martinista de Lyon tinha as seguintes características:

a) Não aceitava como membros senão Mestres Maçons.

22
- Papus, juntamente com Stanislas de Guaita, representava a senda ativa da iniciação, aquela que conduz o Adepto
a tomar “o céu por assalto”. O Desejo transmuta-se em Vontade; a Vontade exalta-se e pela Graça produz a luz.
Augustin Chaboseau, Sedir e outros eram os representantes da corrente mística, passiva, doutrina derivada do
Oriente. (N. Rev.).

72
b) Não aceitava mulheres na Ordem.
c) Deixava de lado certos ramos do conhecimento oculto, como por exemplo a
Astrologia, considerando a organização que Papus havia dado ao Martinismo
como amorfa.
d) Manifestou um evidente afastamento de tudo o que fosse ensino do Oriente.
e) Requisito
Maçonaria;prévio para conferir
para obter o grau deo Iniciado,
Grau de oAssociado
grau 18º; era
parapossuir o 3º grauSda
ser consagrado ⢎⠆
I⢎⠆, o grau 30º e, para ser iniciado no grau de S⢎⠆ I⢎⠆ I⢎⠆, o grau 33º.

A Ordem Martinista de Lyon estabeleceu no Chile uma Grande Loja Martinista,


designando como Delegado Geral para a América do Sul o Irmão Leon Tournier,
conforme decreto expedido em Lyon, em 1º de abril de 1940, com o nº 538. Este
Decreto levava os nomes dos Ilustres Irmãos Constant Chevillon como Presidente do
Supremo Conselho e de Henri Dupont como Grande Chanceler23.
Temos em nossos arquivos uma cópia desse Decreto, pelo qual era facultado ao
Irmão Tournier nomear Delegados e Inspetores da Ordem, para iniciar em todos os
graus hierárquicos, orientar o trabalho de Triângulos e Lojas Martinistas em todo o
território da América do Sul.
Devemos acrescentar que o Irmão Leon Tournier havia sido iniciado na Ordem
Martinista, na França, pelo próprio Irmão Papus. Esteve radicado vários anos em
Concepción, onde realizou um intenso trabalho Martinista, que desenvolveu em seguida
em Santiago.
Nesta capital fundou a Loja Lumen, cujas colunas viram-se enriquecidas por
elementos de real valor. Devemos dizer que o Irmão Tournier era membro destacado da
Grande Loja do Chile (30º) e Chefe do Departamento de Ritos e Simbolismo, ex-
Venerável Mestre, de Lojas Maçônicas e de grande preparação no campo do esoterismo.
No entanto, devemos expressar, com pesar, que uma vez mais repetiu-se a de-
sagradável experiência do Dr. Blitz nos EUA, porém agora no Chile.
Pessoalmente, consideramos errada a direção dada pelo Irmão Bricaud e seus
sucessores, ao Ramo de Lyon, ao estabelecer uma relação sui generis entre o
Martinismo e a Maçonaria, que não se justifica, do ponto de vista tradicional e
iniciático, como bem o compreenderam Papus e o Supremo Conselho de sua época.
Tanto a Maçonaria como o Martinismo são dois ramos da Iniciação Ocidental
que operam em duas esferas diferentes, seus trabalhos estão destinados a diferentes
modalidades de investigadores e ambas as ordens devem seguir trabalhando, como
sempre o fizeram, dentro de seus respectivos campos, com completa independência.
Recordemos
Rito dos Elu Cohensa triste experiênciaFrancesa;
na Maçonaria de Martinez de Pasqually,
lembremos ao tentar
que Louis Claudeintroduzir o
de Saint-
Martin obteve o mesmo resultado, renunciando à Maçonaria para continuar a obra de
seu mestre Martinez de Pasqually, mediante a Iniciação Livre. Pouco nos resta hoje do
Rito Escocês Retificado.

23
- Os sucessores de Papus na presidência da Ordem Martinista foram, pela ordem: Téder (1916-1918); Jean Bricaud
(1918-1934); Constant Chevillon (1934-194.); Henri Charles Dupond (194.- 1960); e Philippe Encausse, filho de
Papus, após 1960. (N. Rev.).

73
Para receber os graus da hierarquia Martinista era indispensável, na Ordem
Martinista de Bricaud ou de Lyon, como vimos, possuir certos graus Maçônicos. O
Irmão Tournier, devido às dificuldades em obter para seus filiados no Martinismo esses
graus na Maçonaria Chilena, que exige requisitos muito estritos de antiguidade e outros
não menos drásticos de preparação e trabalho ativo dentro da Ordem, viu-se na
necessidade
Rito Orientalde
defundar umae Loja
Memphis Maçônica para esse fim, o que fez sob os auspícios do
Misraim.
O Rito de Memphis e Mizraim foi sempre olhado pelas Grandes Lojas da Europa
e América com certas reservas quando à sua “regularidade”.
Como acredito ser de interesse para alguns de nossos Irmãos conhecer certos
aspectos desse Rito, vamo-nos permitir fazer um parêntesis em nossa exposição para
dedicar algumas linhas a esta interessante matéria.

74
MEMPHIS-MIZRAIM E OUTROS RAMOS
MARTINISTAS

Apesar de não pertencermos aos Ritos de Memphis e Mizraim, temos em nosso


poder alguma documentação interessante sobre a matéria.
Os Ritos Orientais de Memphis e Mizraim representavam na Europa a
Maçonaria Ocultista e Hermética. Em tais ritos procurava-se admitir aqueles Irmãos que
tinham interesse em se aprofundar no estudo da doutrina Maçônica. Através de seus
rituais, graus, símbolos, inserem-se uma série de Tradições Iniciáticas Antigas que não
deixam de interessar aos SS⢎⠆ II⢎⠆ e FF. RR. CC.. A própria denominação destes Ritos:
Memphis e Mizraim, perpetua dois importantes Centros da Iniciação e do Sacerdócio
Egípcio na mente de todos os iniciados do Ocidente.
A este Rito pertenceu na Europa o Irmão Ragon, que esteve em contato com o
Imperator R+C ou Chefe dos Rosa-Cruzes e, inclusive, foi seu aluno o Conde de Saint-
Germain. Por outro lado, na Itália este Rito teve uma grande importância nos
acontecimentos históricos que deram nascimento à nação Italiana. Devemos recordar
que Garibaldi pertenceu a esta Ordem. No nosso vizinho país, a Argentina, o Rito de
Memphis teve um período de grande esplendor não faz muito tempo, chegando a contar
com cerca de setenta Lojas.
O Rito de Memphis é de srcem oriental. Foi renovado em 1820 pelo Irmão
Boulage, professor da Faculdade de Direito de Paris, sujeitando-se ao plano dos
Grandes e dos Pequenos Mistérios do Egito e da Grécia Antiga. O Rito de Misraim,
também denominado Egípcio e, as vezes, judaico, foi fundado em Paris, em 1805, pelo
Irmão Lechangeur.
Conforme o traçado arquitetônico destes Ritos da Maçonaria Oriental, a srcem
da Ordem se remonta às primeiras idades do mundo, supondo-se que um nasceu na
Índia o outro no Egito, nas margens do Nilo, sendo uma continuação dos antigos
Mistérios. Consideram-se fundadores diretos do Rito os Cavaleiros da Palestina e os
Irmãos Rosa-Cruzes do Oriente.
75
Os diversos graus do Rito de Memphis e Mizraim foram tomados do Escocismo,
do Martinismo, da Maçonaria Hermética e de vários outros sistemas e reformas que
praticaram-se com êxito na Alemanha, França e Itália, em épocas anteriores a 1730. Um
documento muito interessante sobre a Maçonaria Oriental e Espiritualista é a “Muito
Santa Trinosofia” escrita pelo Conde de Saint-Germain.

sófica eOmística.
Rito conta
Porcom
outroumlado,
totalo de 96 Misraim
Rito graus divididos em três
conta com simbólica, filo-
séries:classificados
90 graus em
quatro séries e divididas em 17 categorias, a saber:

1. Primeira Série – Simbólica: compreende os 33 primeiros graus divididos em seis


classes, que ensinam a moral e o estudo do homem.
2. Segunda Série – Filosófica: compreende 33 graus a partir do 34º ao 66º,
divididos em quatro classes. Ensina as ciências naturais, a filosofia da história e
explicação os mitos poéticos da Antiguidade que, sob a alegoria da fábula,
encerram a srcem dos Mistérios.
3. Terceira Série – Mística: compreende 11 graus, do 67º ao 77º, divididos em
quatro classes, desenvolve a parte transcendental da Filosofia Maçônica.
4. Quarta Série – Cabalística: Inclui os 13 últimos graus, do 78º ao 90º, divididos
em três classes e contém as chaves do ensinamento e doutrinas do Rito, chaves
que são de índole Cabalista, conforme as Tradições Rosa-Cruzes do Oriente.

Cabe-nos esclarecer que estes Ritos não são trabalhados em todos os graus, e
seus números, palavras de passe, sinais, toques, marchas, aclamações, etc., traduzem
profundos significados relacionados com uma série de tradições iniciáticas.
A organização e estabelecimento destes Ritos exige por parte dos Dignitários um
perfeito conhecimento das Tradições Iniciáticas do Oriente e do Ocidente, além de
outras condições muito especiais que não se podem improvisar. A menos que estes
requisitos sejam cumpridos, torna-se muito difícil subsistirem tais ritos.
Em seguida transcreveremos algumas denominações de seus graus, nos quais os
SS⢎⠆ II⢎⠆ e os FF. RR. CC. notarão como os Ritos Orientais Memphis e Miszraim
conseguiram perpetuar um conjunto de símbolos muito sagrados da Iniciação Antiga e
Medieval. Ainda que em alguns aspectos esta terminologia possa nos parecer pomposa e
bizarra, devemos compreender que não era considerada desta maneira no século XVIII,
a cujo espírito e compreensão obedece.
Cavaleiros: da Abóbada Sagrada, da Espanha e do Oriente, de Jerusalém, da
Águia Vermelha e Negra, do Oriente e do Ocidente, Rosa-Cruz, Noaquita ou da Torre,
da Serpente de Bronze,
Filalete: Doutorda Cidade
dos Santa daSábio
Planisférios, Alegria, do Tabernáculo.
Sivaísta, príncipe do Zodíaco, Sublime
Filósofo Hermético, Cavaleiro das Sete Estrelas, das Sete Cores ou do Arco-Iris, Rei
Pastor dos Hurtz, Príncipe da Colina Sagrada, Sábio das Pirâmides.
Filho da Lira: Cavaleiro da Fênix, da Esfinge, do Pelicano, Sábio do Labirinto,
Pontífice de Cadméa, Mago Sublime, Príncipe Brahman, Cavaleiro do Templo da
Verdade, Sábio de Heliópolis, Pontífice de Mithra, Guardião do Santuário, Sublime
Kavi, Sapientíssimo Muni.

76
Sublime Príncipe da Cortina Sagrada: Intérprete dos hieróglifos, Doutor Órfico,
Guardião dos Três Fogos, Guardião do Nome Incomunicável, Doutor do Fogo Sagrado,
Doutor dos Vedas Sagrados, Cavaleiro do Tesouro de Ouro, Sublime Cavaleiro do
Triângulo Luminoso, Sublime Cavaleiro do Temível Sadah, Sublime Cavaleiro
Teósofo, Sublime Mestre do Anel Luminoso, Sublime Mestre da Grande Obra,
Soberano Príncipe
Alguns dos de Memphis,
Sinais etc.. e Cabalísticos:
Hieroglíficos
Paralelogramo com 7 pontos – arco-iris – o ponto no centro de um quadrado–
duas linhas cruzadas dentro de um quadrado – duas linhas cruzadas dentro de um
quadrado com um ponto no centro – um círculo com um quadrado dentro e um ponto no
centro destes – dois círculos concêntricos dentro de um quadrado – quadrado com três
pontos, no centro, formado um triângulo – duplo círculo encerando a estrela de quatro
pontas – edifício quadrado e de pedra sobre o qual repousam as bases de quatro
triângulos em cujo centro figura um olho, ou uma gama, uma estrela, esferas,
crescentes, flechas, claves, orlas dentadas, serpentes, águias negras ou vermelhas,
varetas floridas e de ouro, as Tábuas da Lei, a Arca da Aliança – o Tabernáculo, altares
de sacrifício e dos perfumes, palmas e lauréis, candelabros de três, sete ou nove velas, o
Livro dos Sete Selos, salamandras, castelo com ameias, abóbadas estreladas,
subterrâneos luminosos, Sol de Ouro, Lua, Estrela Polar, uma medalha de ouro cunhada
em 2995 AC, o Zênite e o Nadir, cabeças de mortos e ossaturas – uma tumba, etc.
Os diferentes graus contém invocações a Jehovah, Adonai, Iod, Alá, Emmanuel,
Salomão, Hiram, Zorobabel, Abraão, Daniel, Jonas, Zabulão, com elementos das lendas
Hebraícas, Caldéias e Islâmicas.
De seus rituais convém lembrar o termo “Autópsia”, tomado dos Mistérios An-
tigos. Nenhum outro poderia simbolizar melhor a conclusão da Obra Iniciática. Da
mesma maneira que o médico busca nos órgãos a causa da morte de um sujeito para
tentar preservar os outros seres humanos, assim também o Iniciado deve buscar nele as
causas do Mal para combatê-lo e fazer triunfar o Bem.
Transcrevemos a continuação, tomados de seus diferentes graus, algumas má-
ximas morais e filosóficas enunciadas em seu simbolismo e que merecem o interesse
dos Iniciados:

Demi-our-gros, reunião das palavras gregas: Demo (eu


construo), ouranos (o céu), gros (a terra), simbolizando o “Grande
Arquiteto do Universo”.

Pensa
sondar, semque,
medo,para chegar da
os mistérios à esfera da inteligência, é preciso
morte física.

Despoja-te do homem velho para renascer na virtude. Lança um


olhar para teu passado. Busca motivos de esperança no porvir.

A morte não pode separar o que está unido pela virtude. Proceda
assim como queres que procedam contigo.

77
Se a bebida que te oferecem é amarga em lugar de ser agradável,
ao menos, bebe-a com resignação, porém afasta-a dos demais, já que
a bebida amarga é o símbolo da adversidade.

Tu que desejas passar rapidamente pelos graus de instrução,


recordadequetranscorridos
depois antigamente sete
não anos
era admitido ninguém
dedicados a Maestria
ao estudo senão
das ciências
úteis ao gênero humano e haver compreendido os segredos da Na-
tureza. Estuda suas forças e busca suas causas segundas.

Busca as causas e as srcens, compreende o mito poético dos


antigos, desenvolve teu sentido humanitário e compreensivo.

O Conhecimento completa, ao Iniciado, sua ascensão para além


do plano em que moram seus semelhantes.

O mundo é uma eterna figueira, cujas raízes estão no céu e que


estende seus ramos sobre o abismo. Recorda este princípio dos Vedas.

Tudo segue de 7 em 7, em todos os sistemas e em todas as seitas:


7 esferas celestes dos antigos, os 7 dias da semana, as 7 cores e os 7
sons fundamentais, etc..
O gênero humano é Um, apesar da diversidade de línguas.

Todas as religiões assemelham-se com suas lendas: Rama, o


Indiano; o Egípcio Osiris; Adônis; Hércules e Baconos Gregos; o
Atys dos Frígios e o Cristo não são mais que uma só e mesma
alegoria.

Não te ocupes senão de trabalhos úteis, iluminando-os com a


tocha da tua razão e trabalha na elevação e enobrecimento do
espírito humano.

O mais útil dos conhecimentos é o de si mesmo, pelo qual


aprenderás a desenvolver tua natureza, tomando consciência de tua
dignidade.
Para que uma civilização material não se degenere, é necessário
que seja limitada por uma civilização moral.

A escala misteriosa das existências deve ser subida


progressivamente pelos que se acham dignos de chegar perfeitos ao
triângulo. Não é senão pelo estudo e a perseverança que se pode
chegar até lá.

78
O Espírito sobrevive à matéria, animada por sua força e que vai
se aperfeiçoando mediante os corpos que vai animando
sucessivamente.

paraAs partículas
constituir, da Matéria,
reconstituir animadas por
e aperfeiçoar as esta força, aglomeram-se
espécies.

A morte é um sono seguido de renascimentos.

Recorda as máximas e conselhos do programa iniciático.

A iniciação não é nem uma ciência nem uma religião, mas uma
escola em que se é instruído nas Artes, Ciências, Moral, Filosofia e
nos fenômenos da Criação, com o propósito de conhecer a verdade
sobre todas as coisas.

Não é a iniciação que faz o iniciado, mas a educação e a


meditação.

Faz sair a luz das Trevas, a Beleza da Incoerência.

Mais vale esclarecer os inimigos da virtude do que combatê-los.

Regula as ações de acordo com a Razão e não conforme as


paixões.

Os atos dos homens não são senão a sucessão do que viram e


aprenderam, da mesma maneira que a forma da pedra bruta depende
dos golpes que o artista vai lhe dando com seu martelo e cinzel.

O homem é mais ou menos vicioso, ou mais ou menos


esclarecido, segundo as verdades ou os erros que se lhes inculquem.

Estuda a arte de dirigir os homens para concentrar o domínio da


Verdade, modular a propagação, deter a perigosa e demasiada
dispersão.
A inteligência é a causa e não o efeito da evolução.

A cadeia das causas e dos efeitos constitui o Mundo.

A pluralidade, concentrada na Unidade, governa tudo.

79
Saber, calar, querer, ousar. Sabedoria, Força, Beleza na
harmonia.

Tudo vem do Fogo, condensador e animador universal, sem o


qual o Grande Todo voltaria a cair na noite do caos primitivo.

Em um interessante folheto publicado por Jean Bricaud, em Lyon, em 1933 e


reeditado por Chevillon em 1938, intitulado “Notas históricas sobre o Rito Antigo e
Primitivo de Memphis-Mizraim”, consta que:

Em 1908, constituiu-se em Paris um Soberano Grande Conselho


Geral do Rito de Memphis e Mizraim para a França e suas
dependências. A Patente Constitutiva foi outorgada pelo Soberano
Santuário da Alemanha e estava assinada e selada em 24 de junho,
em Berlim, pelo Grão-Mestre Théodor Reuss (Peregrinus).
Foram designados Grão-Mestre e Grão-Mestre Adjunto o Dr.
Gérard Encausse (Papus) e Charles Détré (Téder). A Loja
“Humanidade”, anteriormente auspiciada pelo Rito Nacional
Espanhol, chegou a ser a Loja-Mãe do Rito de Memphis e Mizraim
para a França24.

Em sua obra “O que deve saber um Mestre Maçom”, Papus que havia obtido os
graus 33, 90 e 96 diz:

Se a Maçonaria é uma simples sociedade de ação social, por que


existem então estes mistérios, esta linguagem tão peculiar e toda essa
decoração? Se isso não serve de nada, francamente, poderia ser
suprimido. Porém, se sob esses símbolos oculta-se uma elevada
verdade, cujo conhecimento pode conduzir a adaptações sociais
libertadoras da Humanidade, então estudemos esta ciência maçônica
com todo o devido respeito.
Não é na França, onde quase todas as tradições,
lamentavelmente, se perderam, mais no estrangeiro, na Inglaterra, na
Espanha e, sobretudo, na Alemanha, que prossegui minhas
investigações sobre esse ponto.
Em minhas conversações com o meu Ilustre Irmão John Yarker,
chefe SupremoRosacruciana
da Sociedade do Rito Primitivo e Original;com
da Inglaterra; comVillarino
o Dr. W.delWescott,
Villar,
ilustre Maçom Espanhol e com os Rosa-Cruzes e Alquimistas da
Alemanha é que consegui estudar de uma maneira séria, fora dos
livros, a srcem da Ciência Maçônica.

24
- Papus, assim como Téder e Bricaud, estava consiente de que o Martinismo deveria respaldar-se na Maçonaria,
onde buscaria seus adeptos e onde instruiria os seus próprios iniciados no simbolismo. A Maçonaria fornece um
embasamento tanto filosófico como moral, acostumando o iniciado a obedecer a hierarquia e relacionar-se com os
irmãos. (N.Rev.).

80
Em nosso país, o estabelecimento do Rito de Memphis
e Mizraim atraiu a censura da Grande Loja do Chile, que se
sentiu menosprezada em sua exclusividade para auspiciar
Lojas Maçônicas no território da República, conforme o
direito de território
Como que possuem
consequência distoasosGrandes
IlustresLojas.
Irmãos que, na
realidade, sustentavam as Colunas de Memphis e Mizraim
com seu talento e capacidade, retiraram-se, deixando o dito
Rito abandonado à sua sorte, porque a Ordem de Memphis e
Mizraim deixou de existir no Chile, em seu aspecto espiritual
e iniciático. Atualmente, continuam trabalhando com esse
Rito, algumas Lojas de Santiago e Valparaiso, ainda que sem
maiores irradiações espirituais e cada dia com maior flacidez.
Conversações mantidas com Irmãos conhecedores de ambos os Ritos: o Escocês
Antigo e Aceito e o de Memphis e Mizraim, levaram-nos à conclusão de que as poucas
Lojas deste Rito, que ainda existem em nosso país, realmente não justificam sua
existência. Na realidade contribuem apenas para semear a confusão e a anarquia no
campo Maçônico. A Grande Loja do Chile é o único poder regulador da Maçonaria
Simbólica no Território Nacional. Em tal qualidade, está reconhecida pela maioria das
Grandes Lojas do estrangeiro. Em consequência, não se justifica, no Chile, a
organização de outras Obediências.
Uma vez mais, a corrente do Martinismo de Bricaud, só havia produzido uma
situação desagradável e desconfortável para o Martinismo no Chile, pela tendência em
confundir duas esferas da Iniciação: a Martinista e a Maçônica, que pelo menos no
Chile, devem funcionar com absoluta independência, pois seus campos de estudos
cobrem áreas diferentes25.

A ORDEM MARTINISTA E SINÁRQUICA

Tendo em vista as reformas introdutórias por Bricaud, que praticamente


equivaliam a estabelecer uma nova Ordem, Victor Blanchard, que fora Grão-Mestre
Substituto da Ordem Martinista, separou-se da Ordem Martinista de Bricaud e fundou a
Ordem Martinista e Sinárquica, na qual foi reconhecido Grão-Mestre.
Na palavra “sinárquica” não devemos ver uma orientação política, mas uma
homenagem à obra de Saint-Yves d’Alveydre.
Este ramo extinguiu-se durante a última guerra mundial.

25
- O Martinismo e a Maçonaria são realmente duas correntes autônomas. Nada impede, entretanto, que os
Martinistas frequentem as Lojas Maçônicas, ou que Martinistas possam manter uma Lojas Maçônicas, ou que
Martinistas possam manter uma Loja independente de qualquer potência Maçônica nacional ou internacional. (N.
Rev.).

81
A ORDEM MARTINISTA TRADICIONAL

Em 1931, alguns membros do Supremo Conselho de Papus, que não admitiram as


diretrizes e reformas de Bricaud e que, por outro lado, não seguiram Blanchard,
fundaram a Ordem Martinista Tradicional, da qual foram seus Grão-Mestres os Irmãos
Victor Emíle Michelet, Augustin Chaboseau e Jean Chaboseau.
Temos em nosso poder uma cópia de um Manifesto, enviado aos Martinistas por
este Ramo do Martinismo e que diz assim:

A Ordem Martinista, que teve um período de perfeita atividade


iniciática desde sua organização em Obediência em 1890,
infelizmente, ficou muito diminuída desde 1919.
Em realidade, desde essa época, com bons propósitos e por
iniciados reais, fizeram-se intentos para modificar os Regulamentos e
Tradições da Ordem, porém em flagrante contradição com a
organização imutável de nossa Venerável Ordem. Desta maneira,
pode-se observar a abolição errônea das Iniciações, dos Grupos, não
admissão de Irmãs e algumas outras obrigações.
Em 1931, os irmãos Augustin Chaboseau, Victor Emile Michelet
e Lucien Chamuel, únicos sobreviventes do Supremo Conselho de
1890, decidiram continuar e conservar a Ordem, conforme suas
precedentes diretivas e normas, e sabida consideração e seus poderes
“ad vitam”. Em consequência procederam à reorganização, em
Silêncio e discretamente,
únicos membros. Com a ajudado Supremo Conselho,
dos Irmãos do qual
da Ordem, com eram os
os quais
novamente se haviam reunido, começaram a realizar novas
Iniciações, dando força e vitalidade a duas Lojas, que desde então,
alcançaram grande prosperidade e insuperável vitalidade.
Estabeleceram-se vários Capítulos ou Grupos e mantiveram
incomunicável a Constituição da Ordem com referência ao direito
imprescritível dos SS. II. para transmitir a Iniciação.

82
Trabalhando sob o Manto, suas realizações não foram vãs;
Irmãos e Irmãs da França e de países estrangeiros, assim como os
membros do Supremo Conselho que foram designados posteriormente
aos fundadores, e que haviam trabalhado separadamente, novamente
se uniram à atual Ordem Martinista Tradicional.
A passagem
conhecidos, ao de
autores Oriente
váriasEterno de vários
reformas tanto membros notoriamente
no Supremo Conselho
como na Ordem, a perpetuação de sua sucessão e a manifestação de
ser Presidente da Ordem, obriga os membros do Supremo Conselho
Tradicional a saírem de seu silêncio e reserva, vendo-se obrigados a
fazê-lo ao contemplar a extraordinária colisão do Martinismo com
diversas organizações iniciáticas, Igrejas Esotéricas, agrupamentos
pró-maçônicos, etc., que podem ser muito respeitáveis em si mesmos,
porém com respeito às quais, a Ordem Martinista parece nãos ser
mais que uma espécie de anexo.
Em vista da confusão que subsistia após a Presidência de seu
Primeiro Grão-Mestre, PAPUS, os promotores da restauração de
1931, decidiram estabelecer, novamente, a Ordem e desde tal ano isso
foi regulamente assegurado. O SS⢎⠆ II⢎⠆ que no presente dirige os
destinos da Ordem Martinista, deve seus poderes a seus pares, os
quais livremente o elegeram e os direitos e prerrogativas dos AA⢎⠆.,
II⢎⠆ e Superiores Incógnitos são mantidos e preservados, tal como foi
promulgado pelos fundadores da Ordem.
A Ordem Martinista está aberta a todos os investigadores
sinceros, a todos os Homens de Desejo, a todos os seres que tenham
sede de conhecimento iniciático; todos podem participar de seus
Mistérios, sem haver diferenças de sexo, raça, credo ou profissão,
isso após uma rigorosa investigação com respeito à moralidade do
solicitante.
As Lojas ou Grupos que dependem de nossa jurisdição, podem
admitir como visitante ou à filiação, todos os Martinistas
regularmente Iniciados, que estejam de posse dos Sinais e Palavras
de passe e que prestem sempre sua formal promessa de obediência ao
Martinismo Tradicional, do qual o Supremo Conselho Universal é só
e exclusivo depositário.
Agora, mais que nunca, os Homens de Desejo devem unir-se para
conhecerem-se e apreciarem-se
que estamos remetendo fraternalmente
a presente comunicação.e é com este propósito
Pelos Números, somente de nós conhecidos, o saudamos, muito
querido Irmão!

SUPREMO CONSELHO DA ORDEM MARTINISTA TRADICIONAL

Como está referido no Manifesto anterior, dirigido a todos os


Martinistas, um pequeno número, porém suficiente, de sobreviventes

83
do Supremo Conselho de 1890 reuniu-se em 1931 e proclamou a
perenidade da Ordem que Papus fundara com eles, como uma
continuação da Sociedade dos Íntimos de Saint-Martin, declarando
serem os únicos indicados para manifestar esta regularidade,
constituíram um Supremo Conselho que elegeu como Grão-Mestre o
mais antigo
acordo com osemusos
idade profana e inciática e fundaram Grupos de
dos antigos.
Devemos lembrar que, além dos antigos sobreviventes do
primeiro Supremo Conselho, já nomeados, e que responderam ao
chamado de Augustin Chaboseau, figuraram o Dr. Béliar, preso pela
Gestapo durante a ocupação alemã; o lembrado Gustave Louis
Tautain, Jean Chaboseau, etc..
Augustin Chaboseau foi, até seu falecimento, um dos mais
esforçados animadores da Ordem Martinista Tradicional. Seu filho
Jean participou, também, muito ativamente da OMT da qual chegou a
ser, a pedido de Augustin Chaboseau e depois de regular votação, o
Grão Mestre. No entanto, o Ilustre Irmão Jean Chaboseau julgou ser
seu dever, em Setembro de 1947, apresentar sua renúncia face às
dificuldades, tanto materiais como morais, que enfrentou.
Assim, a Ordem Martinista Tradicional deixou de existir em
Paris, situação que permanece até agora26.
Pelo interesse histórico, transcrevo a Carta de Filiação Iniciática
do Supremo Conselho da Ordem Martinista Tradicional, que seguia
junto com o Manifesto já citado.

LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN

Tendo sido iniciado por Martinez de Pasqually na Ordem dos Elu


Cohens, Saint-Martin foi admitido, em 1793, na Sociedade dos
filósofos Desconhecidos, com a missão de perpetuar a Iniciação
Tradicional dos Superiores Incógnitos, tal como foi estabelecida na
França, pela Constituição de 1646.

O certo é que Jean Chaboseau não obteve, em 1947, a unanimidade dos votos do
Supremo Conselho da Ordem Martinista Tradicional, motivo pelo qual vários de seus
membros demitiram-se e retiraram-se da Ordem. Em setembro desse mesmo ano, como
já foi dito, de
ilegitimidade o uma
IrmãoOrdem
Chaboseau abdicou
Martinista por assim
qualquer, sua própria vontade, afirmando a
se expressando:

Não devo designar nenhum sucessor porque jamais foram


determinadas os Regulamentos Gerais e Particulares da Ordem
Martinista Tradicional e porque não reconheço nenhum outro valor
que o da presidência administrativa deste pretendido cargo. Assim,
26
- Alguns grupos da OMT permaneceram funcionando nos Estados Unidos, junto com a AMORC. Foi através da
AMORC que a OMT retornou à França. (N. Rev.).

84
parece-me difícil que um novo Grão-Mestre possa fazer-se reconhecer
“urbi et orbi”, salvo que isso ocorra só pela vontade de quem deseja
que assim seja.

A ORDEM MARTINISTA RETIFICADA

Em 1948, Jules Boucher fundou na França aOrdem Martinista Retificada. No


entanto, o Ilustre
destino desse RamoIrmão Boucher faleceu em 1955 e nada mais podemos saber do
Martinista.
Durante a última guerra mundial a França sofreu com a ocupação nazista.
Quando os alemães apoderaram-se de Paris, Pétain promulgou um decreto pelo qual
ficava proibido a existência de Ordens Iniciáticas e ordenava que as mesmas fossem
dissolvidas. Imediatamente a Gestapo lançou-se à perseguição da Maçonaria, das Lojas
Martinistas e Rosa-Cruzes em toda a Europa ocupada pelos alemães.
Houve um ramo especial da polícia secreta alemã encarregada de deter os mem-
bros destas Ordens, os quais eram mandados, sem maiores trâmites, aos campos de
concentração.
Lançaram-se sobre os Templos Maçônicos, destruindo-os e apoderando-se de
seus arquivos. O mesmo ocorreu com os diferentes Ramos Martinistas e Rosa-Cruzes.
Foram muitos os Irmãos destas Ordens e Sociedades Inciáticas que pagaram com a vida
a devoção aos ideais espirituais. Entre eles, o Irmão Constant Chevillon, Grão-Mestre
da Ordem Martinista de Lyon, que foi assassinado em Paris por militares por ordem dos
alemães.

85
UNIÃO DAS ORDENS MARTINISTAS

Já descrevemos as diversas correntes que se produziram dentro do Martinismo, de


maneira que poderíamos perguntar-nos qual é a característica essencial do Martinismo.
É aquisão
e que queperfeitamente
nos ajudam claras,
as palavras
sobredo
esteIrmão Jean Chaboseau, contidas em sua renúncia
particular:

Nosso lembrado Irmão Augustin Chaboseau escreveu algumas


notas sobre o que chamou de sua “Iniciação” pela sua tia Amélia de
Boisse-Montemart, que não deixam a menor dúvida a respeito.
Tratava-se unicamente da transmissão oral de um ensinamento par-
ticular e de certas compreensões das leis do universo e da vida
espiritual, o que em nenhum caso pode-se considerar uma iniciação
ritualística propriamente dita. As linhas que uniram Augustin
Chaboseau, Papus e outros e que provém de Saint-Martin são, com
efeito, linhas de afinidades espirituais...27
É justamente neste ponto que aparece a profunda contradição
existente, de um lado, entre o desejo de liberdade interior que deve
desprender-se de todo formalismo para permitir à personalidade
espiritual estabelecer-se e definir-se fora de toda classe de coletivida-
des e, de outro lado, esta espécie de desmentido ao anterior que
parecem aportar certos ocultistas dos fins do século XIX, ao criar
suas associações, Ordens e Sociedades.

Citamos no início deste livro:

27
- Documentos da época de Papus atestam que Papus e Augustin Chaboseau iniciaram-se mutuamente, unindo as
duas correntes de que eram depositários, para não deixar dúvida quanto à legitimidade das iniciações que portavam e
que remontavam a Saint-Martin. (N. Rev.).

86
Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o
verdadeiro Martinista, é aquela afinidade entre espíritos unidos por
um mesmo grau em suas possibilidades de compreensão e adaptação,
por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências,
de tudo o qual se segue a constatação obrigatória de que o
Martinismoqueestá
solitários, composto,
meditam exclusivamente,
no silêncio de seres
de seu gabinete, isolados,
buscando sua
própria iluminação.
Cada um destes seres tem o dever, uma vez que adquiriram o
conhecimento das leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão
adquirida ao seu redor, a fim de que aqueles que forem chamados a
compreender, participam daquilo que ele cria, por sua vida espiritual
ou pela verdade que encerra. É aqui, então, que intervém a “missão
de serviço” do Martinismo e é somente neste sentido que esta
corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição
Ocidental.
É isto é tão verdadeiro que sempre se manteve nos diferentes
Ramos Martinistas, o regime da Iniciação Livre, em forma paralela
àquela que se conferia nas Lojas, como uma recordação daquela
liberdade individual de que dispunha todo verdadeiro Martinista e
que, em princípio, está por cima de toda “Obediência”.

Em consequência, existe uma grande contradição entre o espírito digno e livre do


mesmo Claude de Saint-Martin, de seus sucessores, os SS⢎⠆ II⢎⠆ e a atitude de alguém
que se sentiu o exclusivo depositário da Tradição do Filósofo Desconhecido,
declarando-se possuidor da categoria de regulador supremo desta Iniciação e o único
Martinista regular, excluindo a todos os que não o seguissem.
Ainda mais, devemos recordar que cada Fil⢎⠆ Desc⢎⠆ ou Presidente de Grupos
ou Lojas Martinistas pode dar à sua coletividade a orientação espiritual que julgue mais
conveniente, de acordo com sua consciência, conhecimento e experiência.
Em consequência, Jean Chaboseau, ex-Grão Mestre da Ordem Martinista Tra-
dicional, não deixa de ter razão ao afirmar:

As distensões de toda espécie nada mais são do que a prova da


ilegitimidade fundamental de toda Ordem Martinista oficializada28.
Sinceramente desejo, em razão desta circunstância, que o
Martinismo volte a ser o que sempre devia ter sido: uma simples
28
- Muito se tem escrito sobre a legitimidade da transmissão iniciática das diversas ordens que, através dos séculos,
povoaram a terra de grandes homens. Antes de nos preocuparmos se um agrupamento iniciático é o legítimo
representante de uma Ordem legendária qualquer, é preciso que examinemos seus princípios de base, sua doutrina, e
verificarmos se estão de acordo com o ensinamento e objetivos tradicionais. De nada adianta pertencermos a uma
Ordem que no passado produziu seus Adeptos, se hoje ela perdeu o Conhecimento. Por outro lado, é possível
atingirmos a Luz partindo de uma sociedade “nova”, fundada há um século ou na década passada, desde que essa
sociedade seja séria, que busque a Verdade e que seja “Legitimada” pela Graça de Deus. É dito que a Egrégora
Diviina muda tanto de Ordem como de povo, em função das mutações por que passa a humanidade. Assim, mais vale
procurar a Ordem que detém o Círio da Verdade do que a legitimidade hereditária entre as sociedades hu manas. (N.
Rev.).

87
associação de espíritos unidos pelas mesmas aspirações espirituais e
guiados pelas mesmas investigações, sob a luz do Cristo... fora de
toda e qualquer preocupação de Ordem ou Obediência.
O Martinismo é essencialmente Cristão. Não se pode conceber
um Martinista que não seja um fiel discípulo de Jesus Cristo, o
Salvador que
esclarecer e Reconciliador,
nosso conceito deEncarnação do não
Jesus, o Cristo, Verbo! (Devemos
concorda com o
do Catolicismo Romano mas com o gnosticismo e da corrente Joanita
Rosacruciana ou Cristianismo Esotérico da Igreja de João) Porém,
parece que um grande número de Martinistas não esteve, ou não está
compenetrado deste espírito perfeitamente universal na mais ampla
significação do termo. Desejando singularizar-se, particularizar-se,
desejando presidências, Grão-Mestrados, títulos, graus e honras, em
nome de um Filósofo no qual a modéstia e a sensibilidade eram
proverbiais, parecem ter esquecido um dos primeiros princípios ou
preceitos cristãos29.

Sabemos que os Grupos e Lojas Martinistas para seu bom funcionamento, de-
vem ter sua diretoria, oficialidade, regulamentos, etc. Mas essa estrutura deve
permanecer sempre enquadrada dentro dos limites essenciais e genuínos ao espírito do
que chamamos Martinismo. Ele está em contradição com as vaidades, ambições,
ansiedade em escalar graus, colecionar títulos e dignidades iniciáticas; são atitudes que
revelam falta de maturidade espiritual.
O verdadeiro Martinista é um ser silencioso, humilde, tolerante e compreensivo.
Em nosso grupo Bethel esperamos que todo o membro Aderente e Associado
saiba colocar-se em um plano de compreensão que lhe permitia elevar-se acima dessas
ninharias. Se não for assim, na realidade estaria incapacitado para beneficiar-se dos
conhecimentos espirituais da Ordem.
Terminaremos estas “Explicações Gerais sobre o Martinismo”, transcrevendo
um importante documento emanado do Supremo Conselho da Ordem Martinista, com
sede em Paris:

UNIÃO DAS ORDENS MARTINISTAS


Câmara de Direção

Artigo
EmI uma reunião fraternal celebrada em Paris, no dia 26 de
outubro de 1958, por iniciativa do Doutor Philippe Encausse,
congregando os representantes qualificados do Martinismo de
Tradição, constitui-se uma “União da Ordens Martinistas”, dirigida
pelos três sobreviventes legítimos e atuais desse Martinismo, a saber:

29
- Jean Chaboseau fala dos Martinistas cismáticos, classificando aí seu próprio pai, que se rebelaram contra a
orientação do Chefe da Ordem, Jean Bricaud, legítimo sucessor de Téder e de Papus. (N. Rev.).

88
a) A Ordem Martinista-Martinezista (Ramo de Lyon), da qual é
Soberano Grão-Mestre o Muito Ilustre Irmão Henri Charles Dupont,
como sucessor legítimo e regular dos Muito Ilustres e lembrados
Irmãos Téder, Bricaud e Chevillon, sucessão que remonta a 1916,
quando da morte do Muito Ilustre e saudoso Irmão Papus, falecido a
25 de outubro
cemitério desse
de Père ano, cujo
Lachaise, naaniversário de mortereunião.
véspera da referida comemorou-se no

b) A Ordem Martinista, da qual é Soberano Grão-Mestre o Muito


Ilustre Irmão Philippe Encausse, sucessor natural e regular do Muito
Ilustre Irmão Doutor Gérard Encausse (Papus) seu pai – Ordem
reativada em 1953, em Paris.

c) A Ordem Martinista dos Elu-Cohen, da qual é o Soberano Grão-


Mestre o Muito Ilustre Irmão Robert Ambelaim, uma vez que foi
nomeado Grão-Mestre Substituto pelos Ilustres e lembrados Irmãos
Georges Lagreze e Camille Savoire, “Cavaleiros Benfeitores da
Cidade Santa”; tinha tal caráter por ocasião do despertar da Ordem
em 1942 e era detentora regular dos arquivos autênticos (século
XVIII) do Martinismo.

Artigo II
O organismo diretor desta União das Ordens Martinistas é uma
Câmara de Direção formada por seis membros, composta pelos três
Grão-Mestres acima nomeados e por outros tantos Irmãos
Assistentes, substitutos de cada um deles.

Artigo III
A União das Ordens Martinistas tem como objetivo manter os
contatos mais fraternais entre os Irmãos das três Ordens, por meio de
visitas recíprocas entre os Grupos e Lojas e pela participação em
conferências comuns.

Artigo IV
A Câmara de Direção velará por intermédio de seus Membros,
com plena confiança e sinceridade, que o Supremo Conselho de cada
uma
aindadelas, dirijam
profanos, e orientem
atendendo lealmentee os
os interesses candidatos
tendências eventuais,
espirituais de
cada um desses candidatos, para a Ordem cuja orientação espiritual
melhor corresponda às suas próprias tendências e suas capacidades
físicas, psíquicas e espirituais: O Martinismo de Saint-Martin (Via
“Cardíaca”); o Martinismo de Dom Martinez de Pasqually (Via
“Operativa”);

Artigo V

89
Considerando que as três Ordens Martinistas que a constituem
representam as três fontes autenticamente indiscutíveis do Martinismo
Moderno, de diversos graus e diferentes ângulos: Martinismo,
Willermozismo e Martinezismo; considerando que todos os Grupos
Martinistas atuais, no plano internacional, derivam sem exceção, seja
do Movimento
(Papus), fundado
que foi em 1891pelo
assessorado peloIlustre
ilustre eIrmão
não Gérard Encausse
menos lembrado
Irmão Augustin Chaboseau; seja do Regime pró-maçônico dos
Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, constituído em Lyon, em
1778 pelo Ilustre e lembrado Irmão Jean-Baptiste Willermoz (Eques
ab Eremo); seja (se esta fonte ainda existe em sua pureza primitiva)
da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elu-Cohen, fundada em 1758 por
Dom desta maneira, todos os grupos Martinistas internacionais,
quanto à sua própria srcem, derivam seus poderes de constituição,
de alguma destas três Ordens, que tiveram sua srcem na França e
que ainda existem em tal país.
Por estas razões, a União das Ordens Martinistas declara-se
habilitada para conferir, somente ela, por meio de uma das três
Ordens que a compõem, os poderes de constituição de novos Grupos
Martinistas internacionais, como para confirmar aos já existentes os
poderes que detenham.
Detentora, pelas três Ordens que a compõem, das Tradições e
dos arquivos do Martinismo autêntico e regular, a União das Ordens
Martinistas considera-se igualmente habilitada para zelar pela
perpetuação e a pureza srcinal das duas vias tradicionais desta
Escola:

 O Martinismo de Saint-Martin (Via “Cardíaca”).


 O Martinezismo de Don Martinez de Pasqually (Via
“Operativa”).

Artigo VI
Para levar a efeito a decisão solene do dia 26 de outubro de
1958, a União das Ordens Martinistas decide que sua Câmara de
Direção deverá reunir-se quatro vezes ao ano, pelo menos, sem
prejuízo de outras sessões, quando justifiquem as necessidades ou as
circunstâncias.
domingo Ema um
que siga princípio, taisou
equinócio sessões realizar-se-ão no primeiro
solstício.

Artigo VII
A Câmara de Direção preocupar-se-á, no prazo mais breve
possível, em voltar a tomar contato com os diversos Grupos
Martinistas estrangeiros.

90
Procederá com toda sinceridade e lealdade ao resolver,
imparcialmente, as divergências que possam surgir entre duas
organizações Martinistas de um mesmo Estado.
Com o objetivo de obter que os Martinistas do estrangeiro, de
todas as tendências, voltem a unir-se fraternalmente pelo bem da
Tradição Comum,
constituam, a Câmara
com a maior de Ordens
brevidade, Direçãoque,
cuidará para
no plano que see
nacional
estrangeiro, repitam o que realizou a União das Ordens Martinistas,
em Paris, no dia 26 de outubro de 1958. É preciso obter, em um breve
prazo, que os Irmãos do estrangeiro voltem a se encontrar nas
Cadeias de União que, por serem diferentes em sua própria
organização e em suas práticas externas, estarão, no entanto,
iluminadas por uma Luz comum. Com efeito, trata-se de uma União,
de um agrupamento das Ordens Martinistas, nas quais cada uma
conserva sua independência; porém, têm tantos pontos comuns em
suas finalidades, que não podem continuar ignorando-se e, por isso,
devem unir seus esforços no prosseguimento dos trabalhos e
realizações, no domínio do Espírito.

Artigo VIII
Em caso de demissão ou falecimento de um Membro-Assistente, o
Grão-Mestre do qual obteve diretamente seu cargo, deverá designar
seu sucessor.
No caso de falecimento de algum dos três Grão-Mestres, seu
sucessor na Câmara de Direção será ipso-facto o Grão-Mestre que se
nomeie ou lhe suceda.

Artigo IX
A Câmara de Direção está facultada para outorgar plenos
poderes e para conferir mandato de representação ao Irmão de
alguma das três Ordens que ela ache conveniente nomear, para o
propósito de que a represente em qualquer Convenção, Assembléia,
Posse de Grupo ou de Loja, tanto no plano nacional como no
internacional.

Artigo X
Todasera correspondência
deverá relacionada
dirigida ao Doutor comEncausse,
Philippe a Câmara46de Bld.
Direção
de
Montparnasse, em Paris (15 e), França que a encaminhará aos
interessados.
A revista A INICIAÇÃO, fundada por Papus em 1888, publicada
sob sua direção desde 1888 até 1914 e novamente impressa desde
1953, sob a direção do Ilustre Irmão Philippe Encausse, como órgão
oficial da Ordem Martinista, passa a ser órgão oficial da União das

91
Ordens Martinistas . Cada uma das três Ordens disporá de certo
número de páginas para publicação a partir de 1959.

Artigo XI
Os Irmãos signatários, titulares e assistentes, ao firmarem o
presente
com issotexto que serve denão
comprometem, Estatuto e dehonra,
só sua Convenção, reconhecem que,
em consideração aos
artigos que o constituem, mas também a das Ordens que lhes ou-
torgaram mandatos e lhes deram poder para agir em seu nome.
Subscrito em Paris, domingo, 15 de dezembro de 1958 e firmado
com o Selo de cada Ordem.

- Seguem as firmas dos Soberanos Grão-Mestres:

ORDEM MARTINISTA-MARTINEZISTA: Henri Dupont.


ORDEM MARTINISTA: Philippe Encausse.
ORDEM MARTINISTA DOS ELU-COHEN: Robert Ambelain.

Em primeiro de dezembro de 1959, os três Grão-Mestres decidiram uniformizar


no âmbito das três Ordens as palavras, sinais e toques, tanto para os Associados, como
para os Iniciados e para os Superiores Incógnitos.

No sábado, 13 de agosto de 1960, em Coutances (Manche), o


Ilustre e lembrado Irmão Henry Charles Dupont, Soberano Grão-
Mestre da Ordem Martinista-Martinezista (ex-Ordem Martinista de
Lyon), designou o Ilustre Irmão Philippe Encausse, filho de Papus e
Soberano Grão-Mestre da Ordem Martinista, como seu sucessor
único e regular. Dupont presidia a Ordem desde a morte do Ilustre e
lembrado Irmão Constant Chevillon, assassinado na cidade de Lyon
em março de 1944, por militares a soldo dos invasores hitleristas.
Henry Charles Dupont faleceu aos 84 anos de idade, em 1º de
outubro de 1960, às 22 horas, em Coutances.

É conveniente assinalar, por outra parte, a existência no estrangeiro de duas


Ordens Martinistas, nascidas das Ordens criadas srcinalmente na França, após a morte
do Doutor Gérard Encausse (Papus). Trata-se, respectivamente, da Ordem Martinista e
Sinárquica (Grã-Bretanha,
Unidos da América da Ordementre outros países)
Martinista e a antiga
Tradicional, delegaçãofoipara
cujo fundador os Estados
o Ilustre Irmão
Agustin Chaboseau, companheiro desde a juventude de Papus e que faleceu em dois de
janeiro de 1946, em Paris.
As Lojas da Inglaterra e do Canadá da Ordem Martinista e Sinárquica concedem
o direito de visita aos membros (regularmente iniciados) das Ordens que constituem a
União das Ordens Martinistas, atualmente agrupando a muitos milhares de membros,
rapartidos em trinta países.

92
DISCURSO MARTINISTA

As seguintes palavras foram dirigidas a vários profanos por um Ilustre Irmão que
presidia um Grupo Martinista na França, há quase um século. Pronunciou-as ante um
grupo de neófitos que estavam sendo cuidadosamente preparados para receber a
Iniciação Martinista. Seus conceitos são tão válidos naquela época como hoje, pois
delimitam plenamente a esfera e finalidade dos estudos de nossa Venerável Ordem.
Deve-se meditar cuidadosamente em seu significado e transcendência, já que este
capítulo constitui um passo a mais no processo de preparação que deve culminar na
Iniciação ao Grau de Associado Martinista.

⢎⠆
Tu que estás no umbral do mistério, que força te empurra a afrontá-lo? É simples
curiosidade? Queres com mão ímpia, já que será indiferente, levantar o véu que esconde
o que somente grandes estudos podem revelar? Se é este propósito, retirar-te e não sigas
adiante, uma vez que a nossa é uma obra de trabalho, não uma diversão.
Persegues a satisfação dos instintos grosseiros e a dominação do Mundo?
Esperas encontrar nestes estudos a possibilidade de saciar tuas paixões, teus ódios, teus
amores, tuas ambições e teus rancores? Neste caso, nossos estudos não estão destinados
a ti. Seu conteúdo não te proporcionaria mais que desilusões, já que o objetivo a que se
propõe é totalmente diferente, ainda mais, completamente oposto.
Desejas o benefício material? Não será aqui que o encontrarás; nossos estudos
são desinteressados e buscam dar a todos a felicidade proporcionada pela paz da alma e
do bem feito a seus semelhantes. Aqui não há nenhuma ideia ambiciosa.
Curioso sois vós, ambicioso, que credes haver nascido para conquistar o mundo:
nossa obra não foi feita para vós, nem para vossas almas, que albergam um núcleo de
paixões vãs. Vós não podeis dar o que solicitam estes trabalhos: um coração tranquilo e
uma alma forte. Não falamos a mesma linguagem e os conceitos que emitiríamos não
fariam mais que alargar a barreira que nos separa; assim pois, se não modificais vossos
não prossigais, não tenteis levantar o véu.

enigmaPorém tu, que ao


que conduz sofreste
umbralintensamente
do caminhoe averdadeiro;
quem a dorturevelou a palavra
que queres do grande
abrigar-te da
tormenta e devolver o bem pelo mal; tu, que, sinceramente desejas que os demais
participem da paz Divina que o sofrimento fez nascer em teu coração, dedica-se a estes
estudos; estão destinados para ti, bem como a todos os que se apaixonam na busca
desinteressada do bem e da verdade.
Tu que vens a nós imbuído destes sentimentos, segue valentemente o caminho
iniciado. É o caminho que buscas em tua angústia e no final do qual encontrarás a

93
alegria que proporciona a força tranquila e soberana e a paz Divina que não se
encontram, a não ser seguindo o caminho do bem.
Nós ajudar-te-emos a encontrá-los, a fim de que tua colheita seja tão doce como
foi clara a semeadura; a dor é uma semeadora cruel, porém muitas vezes necessária.
Podes entregar-te a estes estudos com toda a segurança, os quais te seduzem e em cuja
prática Se
acharás as energias
tua ambição desejadas.
é somente aperfeiçoar-te no silêncio, acelerar a evolução de teu
espírito, sem se deixar levar pela opinião alheia, estuda, trabalha; o resultado não se fará
esperar; sobrepujará o limite de tuas esperanças.
Se teu coração, oprimido na vida material, aspira a mais formosas e vastos
horizontes, segue os passos dos Iniciados; vem conosco, seguindo o caminho que
conduz até a luz, vem e verás brilhar uma nova vida sob a caricia de um sol sempre
radiante. A verdade, a Alegria e a Paz brilham no cume da subida.
Vem, estamos a teu lado para sustentar-te.
Nossa obra não contém nada de novo. Louca pretensão seria imaginar que se
renova seguindo os Sábios e os Iniciados. Não ensinaram eles, em todos os tempos, as
verdades eternas, seguindo sua própria natureza e sua própria missão? Se estas palavras
servem para expressar-se, é necessário adaptá-las à vida moderna para que seu fruto seja
mais abundante. As palavras, não sendo novas, perdem a força? Não se escuta sempre
com agrado uma velha música, ouvida infinitas vezes? O que ama não experimenta uma
grande emoção ouvindo murmurar, novamente palavras que o culminam de felicidade?
Não lhe são cada dia mais queridas? O coração apaixonado vibra sempre, docemente, ao
evocar doces recordações.
A ciência que tu buscas é uma ciência de todos os tempos. Sua finalidade é
aperfeiçoar o ser humano e fazê-lo feliz, não lhe oferecendo satisfações grosseiras e
envilecedoras, mas fazendo-o conhecer seu lugar exato no mundo, revelando-lhe o
objetivo que deve alcançar. Os elementos desta ciência estão repartidos em muitos
livros.
Longe das miradas profanas, encontramos singular prazer em folhear os velhos
livros onde dorme a Sabedoria do mundo, em decifrar os enigmas que os sábios viram-
se obrigados a consignar nos tempos das perseguições; em encontrar no símbolo das
antigas religiões e iniciações, os pensamentos que rejuvenescem e vivificam nosso
espírito.
Propomo-nos a ensinar uma ciência: porém qual? Esta ciência confere poderes:
porém quais? Os autores antigos ensinavam as iniciações severas e medidas que se usa-
vam em seu tempo. Indicam com palavras cobertas, porém claras para aquele que quer
entendê-las,
humanidade os dons
pode sublimes do
orgulhar-se quemagnífico
resultavam do trabalho
patrimônio queárduo, ao qual se ligavam. A
representam.
Trabalhando produz-se uma magnífica reação. A intuição, que todos possuímos
em estado latente e em diversos graus, não é no Adepto um dom caprichoso, sumindo
de acordo com variações imprevistas. Esta intuição chega a ser um sentido aperfeiçoado
e chega-se a governá-lo como a vista ou o ouvido. Aprende-se a ver a sentir, não
somente os fatos que afetam diretamente os órgãos dos sentidos, mas também os que se
encontram longe deste raio de ação e até os que se produzem no mundo interior da

94
alma. O mesmo pode-se dizer das demais faculdades que adquirem uma perfeição e uma
flexibilidade que ultrapassam todas as previsões.
Salústio definiu perfeitamente o objetivo da Iniciação, dizendo: “A finalidade da
Iniciação é elevar o homem até Deus.” O platônico Proclus acrescentou: “A Iniciação
serve para retirar a alma do mundo material, enchendo-a de Luz.” Para ver a vida sob
um novo aspecto,
resumindo-se em concede-nos mais formosura
um desenvolvimento integralmoral e mais
de todo o energia
ser, até física
uma ebeleza
intelectual,
mais
perfeita. A Iniciação permite-nos sentir os ritmos e as harmonias que convertem a vida
em algo tão maravilhoso como os mais formosos poemas. Também nos permite
conhecer as leis que regem os fatos tangíveis (como o ritmo do universo) e nos mostra a
necessidade de conhecê-los.
Um novo ciclo começa para ti, já que cedes ao prazer apaixonante da ciência.
Apreciarás todos os encantos de uma nova vida, se souberes refletir e embeber-te bem
dos ensinamentos que vais receber. Não é somente um ensinamento teórico, mas
também uma doutrina moral e intelectual e um chamado que tem por objetivo
modificar-te profundamente. Seque os conselhos que te serão dados e sentirás crescer
teu espírito para abraçar as ideias magníficas e eternas. Teu coração abrir-se-á
fraternalmente ao amor.
Em ti, como em um diamante bruto, reside uma força que pode fazer milagres;
no que se refere ao diamante, primeiramente deverá ser arrancado da pedra e é neces-
sário que seja talhado para receber o puro beijo da luz e irradiá-la em cores cintilantes.
O que seria a luz se a recebesses sem projetá-la sobre o mundo com a mesma potência e
doçura com que te foi dada?
Talvez este trabalho te pareça pesado; mas ele não o é, em absoluto! A solidão
pode converter em áridos os mais admiráveis pensamentos, sobretudo quando é
necessário valer-se de si mesmo para adquiri-los. Neste caso, em troca, terás apoio e
ajuda, sentir-te-ás em perfeita harmonia com um grupo fraternal que compartilha teus
sentimentos.
A solidão que experimentas, fez-te refletir as desilusões que sofreste levaram-te
a considerar este mundo e a vida sob um prisma mais exato. Livrando a ti mesmo,
converteste no crisol duro da prova, tudo o que obscurecia a pureza de tua visão.
Duvidaste do bem e do mal. Sentiste que caías sem ter apoio nem em ti mesmo, contra o
desespero que te afligia. Agora, com passo seguro, marcharás para a luz que pressentes
e buscas e que algumas vezes já se revelou no fundo de teu ser agitado, em forma de
breves relâmpagos, como uma miragem brilhante. Estes relâmpagos passageiros
converter-se-ão em uma forte claridade constante, que não deixará de iluminar todos os
passos
fora dasdetrevas
teus do
caminhos.
egoísmo.A sombra dissipa-se, completamente, quando se busca a luz
A vida se abre ante teus passos; a vida tal como é e deve ser, a vida em sua
formosa plenitude. Vais dirigir-te ao conhecimento do que somente imaginas e que te
acolherá com a benfeitora paz, concedida aos que trabalham. Diante de ti, vão revelar-se
vastos horizontes de pensamentos, embriagando ao mesmo tempo tua vista e teu
espírito. O esplendor destas serenas visões é tão grande e tão perfeita que sua formosura
penetrará até o fundo de teu coração como a harmonia de um canto. Guiado por estes
suaves encantos, avançarás com crescente alegria até chegar ao templo da Sabedoria.

95
Considerando que estamos rodeados de forças, muitas delas malignas, devemos
procurar não ser sua presa fácil. Para obter êxito, não há outro caminho senão fazer um
chamado às forças superiores e construtivas que nunca nos negam sua ajuda. Uma vez
conhecidas e invocadas, nos é possível sair da tormenta, buscar e encontrar a paz do
coração, a expansão do espírito e o ritmo de evolução. Tu, que te aproximaste destes
estudos, comdos
esforços aos toda segurança
outros. experimentas
Vendo-te a sensação
ao mesmo tempo desentirás
ajudado que nãoreviver
estás teu
só; coração
une teus
maltratado.
Deves começar por conhecer-te a ti mesmo. Não é sem razão que os antigos
haviam feito deste conhecimento o primeiro estudo de sua iniciação. Deves saber quais
são tuas qualidades e teus defeitos; deves desenvolver as qualidades e eliminar os
defeitos. Purificar-se tem sido a primeira parte de todas as Iniciações e tem sido
praticada em todos os tempos e em todos os agrupamentos de filósofos.
Primeiramente, deves limpar teu corpo; por meio de uma higiene racional, deves
dar-lhe as forças e a potência que pode haver perdido, por uma enfermidade, por ali-
mentação defeituoso, ou por falta de ar e exercício. Deves adotar uma regra de vida
mais saudável, baseada nos princípios que regerão tua conduta. Teu corpo deve
obedecer a teu espírito; se ele não estivesse em condições de seguir o movimento do
pensamento, para que te serviria? Então deveria ser considerado um mau servidor. Se
segues as regras que aconselhar-te-emos, adaptarás tua economia material e os órgãos
que te estão submetidos a ritmos que são o eco dos ritmos superiores. Por meio desta
cultura aderirás ao plano Divino.
Cumprido este preceito, será necessário que efetues a educação de teu espírito.
Esforçar-te-ás por obter dele uma direção mais segura e uma vontade tranquila e ativa.
Deves desenvolver em ti estas faculdades e não entregar-te à ideia de que não podes
adquiri-las. Desenvolve também teu discernimento já que, sem ele, a vontade é como
uma barca sem piloto, abandonada aos escolhos do mar e da vida.
Cultiva também o silêncio; nele ser-te-ão revelados os poderes ocultos. Trata-se
de obter calma em teus pensamentos para que se desenvolvam harmoniosamente. Cala,
e ante manifestações de opiniões contrárias, reflete. Tua força consistirá em dizer, no
final, a palavra conciliadora que une todas as opiniões. Tu só, não podes possuir toda a
verdade. Tem calma e teu exemplo será mais eficaz que as palavras. É o primeiro passo
que se deve dar para obtenção dos altos poderes, a conquista de forças em ti e em teu
redor.
Em seguida, efetuarás a educação do coração. A maioria, sobretudo os que já
sofreram por esta causa, esquecem este cuidado tão necessário e estão crentes que
procedem
de escutarbem negando-se completamente
demasiadamente ao coração;
os próprios impulsos. estes males
Finalmente, são consequências
tratarás de refrear a
impulsividade e o entusiasmo exagerado.
Talvez, atraído por qualidades exteriores, te sintas empurrado para pessoas que
não estão à altura de teu ideal elevado. A essas pessoas não podes pedir um intercâmbio
de ideias semelhantes às tuas; quando manifestam-se contrariamente a teus desejos,
causam-te profunda contrariedade. Isto sucede por julgar os demais semelhantes a ti, o
que deve ser evitado cuidadosamente. A dor que sofreste tem a vantagem de te servir de
experiência e guia para futuros acontecimentos. Seu papel consiste em iluminar-nos

96
para que saibamos compreender o que nos convém; também nos ensina a ter paciência
para esperar a manifestação dos sentimentos alheios. De todas as maneiras, refrear os
impulsos do coração não quer dizer suprimi-los, mas ao contrário. Quando teu caminho
apareça seguro, animado pelos melhores sentimentos, poderão buscar a alegria e o
carinho de um afeto compartilhado. A satisfação de haver encontrado um ideal sonhado
proporcionar-te-á alegrias
um desejo momentâneo oujamais
de umasentidas, já que o objetivo
vitória passageira, mas umade comunhão
tua busca não será oque
de idéias de
te levará a desejar o bem do ser amado antes que o teu. Teu coração dilatar-se-á e,
deixando a parte os sentimentos conhecidos, aprenderás a amar a Natureza e a extrair de
seu seio amigo lições de calma, de bondade, de doçura e de fraternidade universal.
Gostarás da expansão de uma nova vida e da alegria superior de compreender o que
começaste a seguir, cegamente.
A Natureza mesma te oferecerá o ensinamento dos altos poderes. Que mais
podes desejar? Obterás estas faculdades que pertencem ao Iniciado, se fores digno disso.
Tu o serás se em lugar de pedir o domínio não pedires os que buscam seu caminho.
Assim, semelhante ao Sol, irradiarás sobre o Universo todas as forças benfeitoras.
O Verbo humano, modelo de forças elevadas, tem poderes ilimitados, acessíveis
ao que sabe fazer-se dono delas. Experimentarás e poderás conhecer a potência mágica
de que está dotado todo ser humano, quando a Iniciação te revelar e quando souberes
conquistar teu império interior.
A realidade dos feitos se volta sempre contra nós, quando forem efetuados com
intenções egoístas. Péladan já disse: Aquele que pede ao Hermetismo o poder da sedu-
ção, de vencer seus inimigos e de humilhar seus rivais, perecerá. É a transposição
mágica das palavras do Cristo: “Aquele que fere com a espada perecerá por ela.” A teu
redor irradiam forças e vibrações inéditas que podes criar e dirigir a teu gosto. Esta
atmosfera física influi nos que te rodeiam e até podes trabalhar à distância. Uma vez que
hajas penetrado neste arcano, que não se confia rapidamente, conhecerás o segredo do
Poder e da Atração, se fores servido pelas forças misteriosas.
À medida que o Templo da Iniciação abrir seus imensos horizontes, tua vista
estender-se-á por Mundos que, em tua ignorância, não havias nem sequer suspeitado.
Então descobrirás qual é teu verdadeiro lugar no Universo e verás que não tens mais
valor que uma célula consciente na maré da vida.
Por que tens orgulho? Quem és tu no imenso Cosmos? Compara tua pequenez
com à grandeza do infinito e perderás o mesquinho orgulho e as vaidades insuportáveis
que ontem te pareciam importantes.
Se a meditação é mortal à tua vaidade, crescerá tua felicidade. Pequena célula
consciente, deves conceber
Ritmos são sempre a ideia
os mesmos, sublime
do átomo aodeastro,
que eestás submetido
te verás aos Ritmos
submetido, e que
com tudo os
o que
te rodeia, aos Ciclos incomutáveis sob seus diversos aspectos.
Examina o Ciclo das estações; estuda as horas de inverno: sobre a terra tudo nos
parece morto e sem esperanças, as folhas e as flores desapareceram. Transcorre o
tempo; a alma desperta de um pesado sono e a Natureza retorna sob a carícia do Sol. É a
primavera, é a esperança, é a promessa de uma nova vida, é a certeza das próximas
colheitas. O Sol ardente que doura os trigais não se faz esperar. Todas as flores abrem
suas corolas; os frutos estão prontos para amadurecer. Também passam os dias radiantes

97
e ardentes. O outono, enriquecido com os frutos que a primavera prometeu, nos leva às
realizações esperadas. A juventude e as flores já passaram, nada mais falta senão
preparar-se para o inverno que não pode deixar de vir. O inverno de velhice e de morte
corporal será para ti a estação da calma e do repouso já que fizestes ricas provisões de
felicidade e de bem, com vistas à tua evolução. Nesta evolução continuarás os Ciclos
iniciados, acrescentando sempre algo às tuas aquisições, aumentando o resultado de teus
valentes esforços.
À medida que faças esta maravilhosa ascensão, mesclar-te-ás mais intimamente
aos Ritmos superiores e, purificando teu coração, compreendê-los-ás melhor. Sentirás
uma doce fraternidade para com todas as criaturas e com o astro que segue no céu tua
carreira rítmica; as grandiosas harmonias da criação proporcionarão um encanto
contínuo. Os mundos revelarão a força misteriosa que os dirige em suas evoluções pelo
espaço e o teu desejo será o de colocar-te de acordo com as maravilhas Divinas.
Desde o momento em que conheças estas forças, poderás chamá-las e elas te
atenderão, sentindo-te em todo o tempo inundado por sua potência. Irão dar-te um apoio
insuspeito que te proporcionará uma felicidade perfeita. A alegria do dever cumprido
inundará teu coração consciente e livre. No espaço imenso e entre todas as criaturas,
sentirás a majestosa presença de Deus, que criou todas estas coisas, concedendo-lhes
leis e cuja perfeita beleza nos deslumbra.
Voltando novamente ao mundo conhecido, descobrirás em tudo uma mesma
vida, um equilíbrio igual, matizado por diferentes cores. Porém, com a mesma essência
e dirigido sempre pela justiça eterna. Compreenderás que tua existência atual, com suas
dores e seus prazeres, é a legítima consequência de tuas existências passadas. Submeter-
te-ás sem reclamar. Aceitarás as más condições como dívidas que devem ser pagas e as
provas que serás obrigado a sofrer ser-te-ão utilíssimas, já que libertar-te-ão
rapidamente do pesado fardo de tua passividade.
Que alegria sentir-se cada dia mais livre, ainda que o credor seja benévolo! A
Iniciação permitirá pagar mais prontamente, subir mais rapidamente até as
magnificências que parecem chamar-te e que efetivamente assim o fazem. Cada novo
passo conduzir-te-á até o mundo da perfeição. Sairás da tormenta que te sacudia.
Dissiparás as forças más que pesavam sobre ti. Sendo tudo útil e justo, não poderás
desesperar-te porque conhecerás as causas de tudo o que pode suceder-te. Passarás do
pessimismo ao otimismo e a face do mundo mudará para ti.
Alcançarás prontamente a alegria que sinceramente te prometemos se fizeres um
esforço contínuo até ela sustentado, no transcurso do caminho, por uma fé mais viva. A
Fé e a Felicidade consistem no conhecimento da vida, em sua finalidade e em seus
verdadeiros interesses.
outra concepção Adquirido
e amarás estepassadas.
tuas dores conhecimento, chegarás
A meditação e anecessariamente a uma
reflexão, que antes te
pareciam muito austeras, serão então duas amigas, duas irmãs, que cheias de ternura,
iluminarão teu caminho.
Adepto futuro que te sentes inclinado até a Iniciação: trabalha, medita e per-
severa. Assim ser-te-á revelado o grande segredo. É indispensável firmar-se, analisar-se,
adquirir por si mesmo os conhecimentos necessários, desenvolver a percepção dos
sentidos, sobretudo a intuição, que acrescenta tanta potência aos sentidos habituais... O

98
trabalho pessoal é inevitável e longo. O estudo parece árido a muitos, porém é fácil ao
que se entrega a ele com Fé; ela mesma ajudar-te-á.
Para descobrir o grande segredo, estuda-te, desenvolve paralelamente teu
espírito e teu coração. As forças que queres possuir para teu bem e de teus irmãos, estão
em ti e ao teu redor; aprende a buscá-las e a descobri-las. A Natureza está diante de ti
como um imensopalpita
cujos compassos livro aberto, cujosa vida.
e se move docesEleva-te
ritmos dar-te-ão
até aquelea que
lei dos outroscom
os fixou ritmos sob
o sopro
de seus lábios e com o gesto de sua mão. Busca e todas as coisas te mostrarão Deus,
como um fragmento de espelho refletiria ao Sol. Quando houveres sentido a unidade do
Universo, chegarás a ser um Iniciado e a vida terá para ti um saber novo e inesperado.
Verás que todos os seres estão ligados e que o esforço teria que ser comum. Teu
dever consiste em sacrificar-te, ajudar teus semelhantes e encontrar a pacífica colina que
os salvará da tempestade, e a amar teus irmãos. Teu coração já sentiu o poderoso clamor
do altruísmo. Não aguardas mais que conhecer-te melhor para dar tuas forças, teus
ensinamentos, teus pensamentos que podem animar a tantos seres. Assim viverás na
alegria.
A finalidade que persegues é grandiosa; todos os Iniciados aspiram a ela. Para
consegui-la, desenvolve tua via interior, tão rica em ensinamentos pessoais. Em deter-
minadas horas, encerra-te em tua torre de marfim, no asilo interior que não permite que
os tesouros de teu coração e os pensamentos de teu espírito se dispersem no vago
torvelinho do mundo. Á medida que sobes as escadas dessa torre, sentirás a forte alegria
do esforço; terás prazer também durante longas horas com alegria do esforço; terás
prazer também durante longas horas com a alegria do bem prometido; a felicidade dos
segredos descobertos no livro aberto da Natureza; a imensa quietude, longe das
agitações mundanas, a paz que nos permite sentir todas as pulsações de nosso coração,
todos os movimentos da Natureza, todos os ritmos e imagens que fazem do Universo
um poema imenso que nos encanta por sua beleza. Nada pode penetrar neste refúgio e,
por conseguinte, nele só reina a calma. É o alto aposento da meditação e esta meditação
profunda nos concede, sem cessar, paisagens maravilhosas e segredos que não
imaginamos.
De qualquer maneira, é necessário descer e não nos deixar embriagar pelo doce
ópio de um misticismo que nos faria abandonar a terra, faltando com o nosso dever. É
necessário equilibrar a Fé com a Ciência e o Sentimento com o Trabalho. Todos nossos
deveres estão sobre a Terra; no entanto, ainda não soou a hora de nos livrar-nos deles.
Somente evoluiremos se os cumprirmos sem protestar e com alegria.
Naturalmente que elevando-te às regiões da torre de marfim, abandonarás, como
lastro pesado, as
desenvolvido agitações e de
a percepção o egoísmo que te encadeiam
tua sensibilidade à terra.livre
e te sintas Umadovezfardo
que hajas
de
preocupações, apreciarás melhor o chamado dos que sofrem e choram. Aguçarás o
ouvido e te emocionarás sinceramente. Animado por um impulso fraternal lançar-te-ás
até eles para tomar em teu coração toda sua dor e toda sua miséria. Sentir-te-ás chamado
para fazer obra útil, para levar primeiramente a felicidade e a luz a teu lar e, em
continuação, a teu país, `a tua raça e à Humanidade inteira. Todos teus irmãos tem
necessidade de ti. Não te negues a acudir ao seu chamado.

99
O Iniciado não recebe a Luz para ele só. Recebe-a par difundi-la ao seu redor,
como diamante que se cobre de cintilações irradiantes. Os raios da Luz não te perten-
cem, vêm de um sol sublime que nem mesmo o espírito pode alcançar. Não concebas o
orgulho de que vais adquiri-lo; difunde-o somente e serás feliz com o bem que verás
florescer.
Lutarás
entristecem com todas tua
e entorpecem as tuas forças Levarás
atmosfera. contra asa sombras vagasternura
luz e a serena das ideias falsas, que
à multidão que
geme na sombra. Dá-lhes tudo o que sabes. Teu dever ideal é sustentar aos que
enfraquecem e que se arrastam sem esperança e sem Fé, desesperados, rastejantes e sem
valor. Esforçar-te-ás em formar um ideal que viva latentemente em seu cérebro e em seu
coração, porém afogado por tantos escombros, que por si mesmos não podem fazê-lo
reviver, nem provar ou realizar uma ação social.
Todos estendem os braços para um amanhã melhor, que deverá suprimir as lutas
de classe e os racionamentos econômicos, que fará desaparecer as guerras e extinguir
todos os ódios. Aos Adeptos lhes corresponde atender a este chamado desesperado. A
Humanidade dolorida e ansiosa debate-se entre uma sombra compacta. As necessidades
do momento nos criam deveres novos. A nós compete prodigalizar a Harmonia e a Luz
onde não existem.
Eis aqui eu ideal. Terás o poder de difundi-lo e não te faltará ajuda para realizá-
lo. A hora das próximas auroras soou para ti. Todos os trabalhadores levantam-se; deves
trabalhar mais que aqueles que trabalham sem Fé e sem Esperança. Anda depressa; se a
tarefa é dura, a recompensa sobrepuja toda a esperança.

100
SIMBOLISMO MARTINISTA

Continuando nossas explicações sobre a Ordem Martinista, podemos informar


que atualmente existem vários Grupos e Lojas Martinistas, organizados ou em processo
de organização, tanto no Peru como no Paraguai, Argentina, Colômbia, Venezuela,
Brasil e outros países Sul Americanos.
Nesta ocasião, estamos presenciando o despertar de um grande interesse na
América Latina, pelas atividades da Ordem, por seu genuíno e desinteressado
espiritualismo.
Todos os documentos da Ordem Martinistas levam impresso o Pantáculo abaixo:

Símbolo primitivo

Símbolo Atual

Trata-se do chamado Pantáculo Universal, que não tem deixado de intrigar in-
tensamente os profanos, desde que a Ordem Martinista apareceu na Europa, no século
XVIII.
Alguns rituais da Ordem nos proporcionam as seguintes explicações:
As iniciais que encabeçam o Pantáculo significam “A Glória de Ieshua, Grande
Arquiteto do Universo”. IESHUA está escrito em letras Hebraicas. Cada inicial das
palavras latinas vai seguida de seis pontos, que podem adornar a firma dos SS. II. da
Ordem.

101
Encontramo-nos aqui em pleno Iluminismo Tradicional, corrente à qual pertence
a Ordem Martinista.
Vejamos, pois, sumariamente e muito sucintamente a que correspondem estes
Seis pontos que o Mestre Louis Claude de Saint-Martin deixou como herança a seus
discípulos e que eles, por sua vez, transmitiram a seus sucessores.

com a Reportando-nos à Escola Pitagórica,


aritmética e a geometria devemos pois,
iniciática. Notamos analisar aspectos
desde logo, relacionados
que a soma
aritmética de seis é igual a 21 (1+2+3+4+5+6). Este número corresponde ao produto do
triplo setenário. Este e o zero, formado pela circunferência passando pelos seis pontos,
nos lembra as 22 lâminas do Tarot. Podemos dizer de passagem, igualmente, que a obra
do célebre L. C. de Saint-Martin: O quadro Natural das relações que existem entre
Deus, o Homem e o Universo, consta de 22 capítulos, sem que levem nenhuma outra
denominação.
Passemos à geometria. Dispondo os Seis Pontos na forma habitual, ou seja,
formando os vértices e lados de um hexágono regular, cujo raio seja igual ao raio de um
círculo circunscrito, diversas relações vão se srcinar:

 O Espírito e a Matéria.
 Os quatro Elementos.
 O Cosmos e Deus.

O Espírito e a Matéria, ou a Força e a Inércia, estão representados o primeiro (o


Espírito) pelo triângulo com o vértice para cima, que se obtém ao unir os dois pontos de
baixo com o de cima, e a segunda (a Matéria) pelo triângulo cuja ponta está dirigida
para baixo, que se obtém ao unir os dois pontos de cima com o de baixo.
O conjunto destes dois triângulos nos proporciona o famoso Selo de Salomão,
símbolo da energia cósmica, que caracteriza pelo seu equilíbrio perfeito e que existe
entre a FORÇA e MATÉRIA, dois elementos que, concebidos como absolutos,
revelam-se ao ocultista como relativos.
Ainda mais, trata-se do símbolo do
positivo e do negativo, da dupla polarização,
sempre relativa, do Binário no nosso mundo:
Bem e Mal, Masculino e Feminino, Homem e
Mulher, o que não são se não dois aspectos do
único ADAM KADMON, o HOMEM AN-
DRÓGINO.
Traçados
aparecer, os dois triângulos
sucessivamente, os quatro vamos ver
elementos:
Fogo, Ar, Água e Terra.
Ao traçar nosso primeiro triângulo, com
o vértice para cima, vemos logo o símbolo
empregado pelos alquimistas para representar o
elemento FOGO. Se traçarmos uma linha
horizontal que divida o triângulo, obteremos a
figura que representa o elemento AR. Se, no lugar de traçar o triângulo com o vértice

102
para cima, traçarmos o triângulo com o vértice para baixo, encontramos a figura que
representa o elemento ÁGUA. Se dividirmos esta figura com um linha horizontal,
obteremos a figura simbólica que representa o elemento TERRA.
Nosso hexagrama simboliza os quatro elementos, combinados no seio da energia
cósmica duplamente polarizados e aparecem pelo movimento. Isto fica testemunhado
pelo símbolo da
deslocamento, circunferência,
sempre a de
equidistante, qual
umnão é, em
ponto verdade,
ao redor de ummais que o resultado do
centro.
Encontramos, em consequência, no simbolismo destes Seis Pontos: a represen-
tação da Energia Cósmica, da Força da Matéria (do Espiritual e do Temporal); dos
Quatro Elementos constitutivos e que formam a base de tudo o que existe e, mesmo, do
Cosmos.
Porém, não nos detenhamos aqui e consideremos atentamente, O INVISÍVEL,
quer dizer, o PONTO CENTRAL que sem estar desenhado, impõe sua presença e sem o
qual todo o resto não poderia ser. Em outras palavras, poderíamos dizer que “o
essencial é o invisível”.
Desta maneira, o Centro do Círculo simboliza Deus; o círculo a Natureza e o
Raio o Homem; encontramos, assim, visíveis à sua maneira, a Natureza e o Círculo. O
resto não é perceptível senão em virtude de uma limitação de uma limitação aparente;
logo, o invisível, implicado com o caráter do necessário: Deus o centro do círculo.
Enfim, encontramos o Homem que é representado pelo raio igualmente implicado e
projetado nas seis linhas, inscritas na Circunferência, as que formam os seis vértices do
hexágono regular: “O Homem é a medida do Universo.”
Observamos, no entanto, que o Homem e Deus podem, igualmente, aparecer em
nossa figura simbólica. Para que isto suceda basta unir, mediante uma linha vertical, os
vértices dos dois triângulos, o do FOGO e o da ÁGUA (Espírito e Matéria), para logo
traçar uma linha horizontal que esteja em ângulo reto com a vertical recém traçada, de
maneira que ambas se cortem precisamente no ponto médio dos dois triângulos.
Desta maneira, surgem o Raio e o Centro, buscando o Homem, encontraremos
Deus.
Eis aqui porque se diz: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os
deuses” e também, “O conhecimento de si mesmo, adquirido com humildade, é uma via
muito mais segura para ir até Deus, do que lançar-se na investigação de uma ciência
por profunda que seja.”
Não desejo dar por finalizadas estas explicações sobre o Pantáculo Martinista,
sem antes transcrever o seguinte comentário que figura em um antigo Ritual da Ordem:

Deus, osímbolo
do Círculo, Princípio
dade toda União,
Eternidade. está representado
A ação da Eternidadepelo
(queCentro
passa
do estado latente ao de manifestação) está simbolizada pela relação
mística que existe entre o Centro e a Circunferência; é o Raio,
projetado seis vezes ao redor do Círculo, que produz o Hexágono,
emblema dos seis períodos da Criação. O Ponto Central insinua o
sétimo período, o do Repouso. É através destas emanações criadoras
que a Natureza vai evoluindo, movida pelas grandes correntes

103
denominadas Involução e Evolução (Triângulo ascendente de cor
branca e descendente de cor negra).
A Natureza, simbolizada pelo Selo de Salomão, não chega a
coincidir totalmente com Deus, nem por meio dela podemos descrever
Deus, mas somente as forças criadoras que d’Ele emanam. Do Centro
do Universo
se, ao Círculo
desta maneira, desenvolve-se
a união dos efeitos oproduzidos
poder do Homem, realizando-
pela Divindade. Há
o encadeamento necessário e fatal dos processos da Natureza na
Unidade de sua livre vontade, simbolizada pela Cruz, que une a Alma
Humana do Centro do Universo com o próprio Deus. Tais são as
explicações que podemos proporcionar, neste momento, sobre o
Pantáculo ou o símbolo mais sintético que o gênio do Homem já
descobriu. Revela todos os mistérios da Natureza; é verdadeiramente
efetivo tanto na Física como na Metafísica, tanto com o respeito às
Ciências Naturais, como à Teologia. É o Selo que une a Razão com a
Fé, o Materialismo com o Espiritualismo, a Religião com a Ciência.
Quanto ao Selo de Salomão ou estrela de seis pontas, que faz
parte do Pantáculo Martinista, o mencionado Ritual explica como
segue:
O Selo de Salomão representa o Universo e seus dois ternários,
Deus e a Natureza; ele é, por este motivo, chamado o “Sinal do
Macrocosmos” ou do Grande Mundo, em oposição à estrela de cinco
pontas que é o “Sinal do Microcosmos”, do Pequeno Mundo, ou seja,
do Homem. O Selo de Salomão é formado por dois triângulos. O que
tem seu vértice para cima representa tudo o que ascende, simboliza o
Fogo e o Calor; psiquicamente, representa as aspirações que o ser
humano eleva até seu Criador; em um sentido material significa a
evolução das forças físicas, desde o Centro da Terra até o Centro do
Sistema planetário ao qual pertencemos, até o Sol. em uma palavra,
expressa o retorno natural das forças morais e físicas até o Princípio
do qual emanaram. O triângulo com a ponta para baixo representa
tudo o que desce; é o símbolo hermético da Água e da Umidade. No
mundo espiritual representa a ação da Divindade sobre Suas
Criaturas; no mundo físico corresponde à corrente involutiva que
parte do Sol, centro de nosso sistema planetário, até chegar ao
Centro da Terra. Estes dois triângulos combinados expressam, não só
ae do
LeiUniverso;
do Equilíbrio, como também
representam a Lei daperpétuo,
o movimento Atividadea Degeneração,
Eterna de Deuse
a Regeneração incessantes pela Água e pelo Fogo; quer dizer,
mediante a Putrefação - termo usado antigamente, em lugar da
palavra mais científica de Fermentação. O Selo de Salomão é, pois, a
imagem perfeita da Criação e é com este significado que Louis
Claude de Saint-Martin o inclui em seu Pantáculo Universal.
Explicações mais profundas, assim como suas adaptações práticas e

104
realizadoras, dar-se-ão no transcurso dos ensinamentos de nossa
Ordem Martinista.

Nenhuma filosofia pode demonstrar a existência de Deus. Nenhuma lógica, ainda


que seja cientificamente estabelecida, pode conduzir-nos a adquirir uma convicção
certa. Trata-se de um ponto que é preciso, imediatamente, sublinha; tudo aquilo que
tem relação com a Divindade não pertence à esfera de nosso intelecto e de nossa
reflexão, mas apenas a de nosso coração e de nossos sofrimentos. O coração é a Fonte
da Vida, das emanações e da inspiração; no entanto, nosso coração não quer dar-se, a
menos que seja esclarecido pela luz que emana do cérebro.
Constitui um trabalho maravilhoso esforçar-se para explicar, seguindo as pala-
vras de nossa razão atual, o caminho sempre igual da verdade e da vida. Jesus disse: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. É o que o Martinismo repete.
Que é, pois, o Martinismo? Martinismo é a designação de um método de pensar,
é uma interpretação e explicação do Mundo, do Universo e de Deus, assim como
também das relações de Deus com o ser humano; possui um método que, seguindo o
caminho místico, permite a comunhão do Iniciado com a esfera mais pura e elevada,
onde reina a perfeição total e incomunicável.
Assim como de muitas lâmpadas diferentes não emana senão uma só e única luz,
também uma só e única Verdade emana de muitas fontes diferentes e às vezes, de
aparências opostas.
O Iniciado deve saber reconhecer a Religião Primeira sob os múltiplos cultos
que a traduzem aos profanos, pois assim como não há mais de uma Verdade, também
não existe mais que uma só religião.
Nenhum culto, que se denomine Brahmanismo, Budismo, Cristianismo, Isla-
mismo, pode atribuir-se o monopólio de sua posse. Esta religião única e primordial
constituía o fundo das iniciações antigas, dos Mistérios de Memphis, de Eleusis, de
Mithra, etc..
Naquela época, os sacerdotes de todos os cultos eram Iniciados e, em conse-
qüência, sabiam unir e sintetizar todas as crenças na Unidade magnífica das revelações
filosóficas do Esoterismo. A finalidade da maior parte das sociedades iniciáticas é voltar
a estabelecer esta união entre as inteligências esclarecidas.
Pensemos no imenso progresso que significaria, nas marchas dos povos até a
perfeição, esta comunhão universal dos sacerdotes e fiéis de todos os cultos e, então,
poderíamos compreender a grandiosidade da idéia perseguida.

síntese Tal como aque


científica Fé,consegue,
a Ciência ao
deve
fim,verconciliar
nascer aounidade da diversidade,
materialismo mediantenaa
com o idealismo,
concepção total do verdadeiro.
O mundo, reino da multiplicidade e da divisão, tende com todas suas forças até a
Unidade. O bem supremo ao qual aspiram todos os seres humanos, tanto em suas
relações com os outros homens como em relação a sua alma chama-se PAZ. No entanto,
a Paz não pode nascer senão no estado unitivo; o princípio, a força atuante que impele
até esta Unidade, chama-se AMOR e sua expressão religiosa denomina-se CRISTO.

105
Um ex-Grão Mestre da Ordem, o Dr. Gérard Encausse (Papus), traçou a síntese
dos princípios fundamentais do Martinismo, para entregá-la à meditação dos Homens de
Desejo que aspiram à Iniciação Martinista. Constituem a doutrina fundamental da
Ordem:

1º) - Escolher sempre um local onde a oração se pratique, qualquer que seja o culto.
2º) - Recordar que nem sempre os Verdadeiros Mestres são excessivamente aficionados
aos livros e que colocam a sensibilidade e a humildade acima de toda ciência.
Desconfiar dos Pontífices e dos homens que se dizem perfeitos.

3º) - Não alienar jamais a liberdade por um juramento que a prenda, provenha ele do
clero ou de uma sociedade secreta; só Deus tem direito a receber um juramento de
obediência passiva.

4º) - Recordar que todo poder invisível vem do Cristo, Deus encarnado através de todos
os planos. No invisível, não ficar jamais em relação com um ser astral ou espiritual que
não reconheça desta maneira Cristo. Não buscar a obtenção de “poderes”, mas aguardar
que o Céu decida se sois dignos deles.

5º) - Não julgar as ações dos outros e não condenar o próximo. Todo espiritualista, em
razão das provas que a vida vai colocando em seu caminho por causa dos sofrimentos
que deve enfrentar ou em virtude de sua filosofia, seja cristão, israelita, muçulmano,
budista ou livre pensador e, em geral todo ser humano, conta com as faculdades
necessárias para evoluir ao Plano Divino. Julgar é próprio do Pai e não dos homens...

6º) - Ter a certeza de que o ser humano jamais é abandonado pelo Alto, mesmo em seus
momentos de negação e de dúvida. Lembrar que nos encontramos no plano físico com a
finalidade de servir os demais e não para satisfazer nossos próprios fins egoístas.

7º) - Recordar que a purificação física, recorrendo a um regime especial, constitui uma
atitude infantil se não se apoiar na purificação astral, na caridade, no silêncio, na
purificação espiritual e no esforço perseverante de não pensar nem falar mal do
próximo. Saber muito bem que a Oração, que proporciona Paz ao Coração, é preferível
a toda magia que somente traz orgulho.

mundo,Oo homem deveelegeu


Martinismo optar eentre
quis dois mestres. aDeixando
consagrar-se decima
Cristo, por lado de
o príncipe deste
toda classe de
clerezias. É como uma Cavalaria Laica do Homem-Deus. Sua finalidade: desenvolver,
em quem vem à Ordem Martinista, o coração e os sentimentos para que aprenda a amar.
São seus meios de ação: a pobreza, o silêncio, a paciência, a Fé.
O Deus em que crêem os Martinistas é o Senhor dos Tempos. Os que quiserem
ver, verão. Os que chamarem poderão entrar. O Martinismo abre suas portas a todos os
homens e mulheres de boa vontade. E... como presente de boas vindas, lhes dá o que há

106
de mais precioso em meio dos tormentos, dos infortúnios e das desgraças: A PAZ DO
CORAÇÃO!

107
DA INICIAÇÃO MARTINISTA

Iniciação deriva-se da palavra latina “initium” que significa começo. Em


consequência, a Iniciação Martinista deve ser interpretada como o começo:

A. De um novo estado;
B. Em um novo caminho.

Parte-se da ideia básica que o profano é um ser encadeado, cego, prisioneiro das
trevas e dos erros; presume-se que é um peregrino ameaçado pelos múltiplos perigos
que o esperam nas encruzilhadas de sua vida; é uma pessoa que vive em um estado de
tensão e desconformidade consigo mesma, estado do qual esforça-se por sair. Seguindo
o simbolismo alquímico, é o chumbo que deve ser convertido em ouro, depois de passar
por todas as fases da transmutação metálica. É a pedra que forma com a rocha uma só
massa e que, no entanto, deve ser extraída para ser lavrada na forma de pedra cúbica
perfeitamente enquadrada. É a cruz dos elementos sobre cujo centro deve germinar a
rosa vermelha e perfumada da alma.
Porém, é a Iniciação que verdadeiramente gera no Membro Aderente Martinista
uma nova condição, graças à qual chega a libertar-se dos preconceitos do mundo
comum e corrente, como culminação de certa Iluminação pessoal. Essa Iluminação, por
outro lado, lhe confere maior fortaleza e poder espiritual .
Desta maneira, o Membro Aderente vê como se abre diante de seus olhos um
novo Caminho. As Verdades Cósmicas começam a serem-lhe paulatinamente reveladas
com ajuda do simbolismo, que constitui a chave de marfim que lhe será entregue para
que decifre os mistérios e enigmas de seu próprio ser e do universo que o circunda,
chave de que necessitam os profanos.
Consequentemente, surge a possibilidade, assim como o dever, de utilizar a
nova luz, de que ficou provido, no SERVIÇO DESINTERESSADO E IMPESSOAL
DA HUMANIDADE. Desta maneira, o Iniciado Martinista deve transformar-se em um
foco de irradiações, livrando-se do egoísmo de toda classe de interesses mesquinhos.
Esta irradiação ou emissão de luz é, simultaneamente, calor, energia e poder.
Tal poder é o resultado de uma espécie deindução mental que circula do Inici-
ador ao Iniciado,
polarização criando-lhe
magnética, geradauma
pelanova
açãocondição mental.
do Iniciador e doEla é exaltadadestinada
Cerimonial, medianteauma
pôr
em conexão o Membro Aderente com a Egrégora Invisível que participa dos trabalhos
da Ordem. Tudo isto tende a criar um equilíbrio mais perfeito em todas as atuações do
Iniciado. Não há dúvida que se estabelece uma corrente espiritual entre o doador e o
recebedor, o que cria a harmonia.
Uma vez despertada essa harmonia, constitui um novo poder que tem caráter
permanente: “Tu és sacerdos in aeternum”; e o que de tal maneira fica estabelecido

108
jamais poderá ser desfeito, ainda que o novo Iniciado chegue, posteriormente, a cair em
indignidade.
O Iniciador Martinista é um pai para seus Iniciados e quando nasce um filho
para dito pai, essa condição não poderá ser alterada no futuro.
Essa influência espiritual ou poder iniciático foi transmitida de homem a ho-
mem,
idades.através de uma Cadeia
Os Iniciados ininterrupta
têm sido, sempre, deos Iniciados, na sucessão
veículos humanos da dos
Luztempos e das
e do Poder
Espiritual. É o que pode simbolizar a frase Sucessão Apostólica.
A referida influência espiritual transmite-se com a ajuda de um ritual especial,
que tem a virtude de abrir caminho a uma corrente de influências Superiores; produz-se
a intervenção de certas forças espirituais onipresentes que atuam como catalisadoras e
que queimam o sedimento e o lastro que consigo trazem os Homens de Desejo,
começando então, a nascer, no interior do Associado Martinista o Novo Homem: o
Cristo Interno ou Mestre Interior. Porque, como disse ECKHART: “De nada adianta
Cristo nascer mil vezes em Belém se não nascer em teu coração”.
O Martinista é, simultaneamente, beneficiário e veículo deste poder ou influên-
cia espiritual. Em conseqüência, os SS. II. II. assumem obrigação de irradiá-lo e com
este propósito devem eleger um discípulo ou grupo de discípulos que cheguem a ser
seus substitutos e sucessores para que fique assegurada a permanência ininterrupta da
Cadeia Iniciática. Receberam de seus antecessores a Sagrada Tocha e devem, por sua
vez, transmiti-las cuidando para que a chama não se apague ou fique abafada pelas
cinzas da negligência ou da indignidade.
A Iniciação Martinista é Iniciação Real; é diferente das Iniciações meramente
simbólicas ou filosóficas, que se limitam a transmitir uma série de símbolos e doutrinas
de caráter teórico. O Martinismo trabalha com forças inerentes a seu ser físico e
psíquico, assim como as energias Cósmicas. Ao ser Iniciado e ao participar do trabalho
litúrgico da Ordem, ajuda a movimentar sua Cadeia Invisível. O trabalho Martinista
diferencia-se do trabalho das Ordens simbólicas e filosóficas porque é essencialmente
Operativo.
Isso implica em sérias responsabilidades e a ameaça de um castigo indescritível
a quem se atreve a usar este poder para obter lucros materiais egoístas, para satisfazer
apetites sexuais ou prazeres mundanos em luta com a ética; ou a quem tente comerciar
com as Iniciações, trocando diplomas ou cartas constitutivas por dinheiro. A Egrégora
não o permite e sua reação é sumamente drástica.
Os rituais mágico-teúrgicos geram um ambiente astral e fluídico que rechaçam a
quem não possua pureza de propósitos e de intenção. É por isso, que no capítulo
anteriorIsto
como neste,
que foi insistimos
dito não neste pontoque
significa importantíssimo.
o Iniciador ou os Irmãos dos Centros
Martinistas recorram a medidas especiais para castigar aquele que caiu em falta. O que
acontece é muito diferente. Através do cerimonial da Ordem Martinista, põem-se em
movimento certas forças espirituais de caráter evolutivo e espiritualmente muito
elevadas e poderosas.
Recorrendo a uma analogia convido-os a imaginar um imenso rio que nasce na
montanha e faz descer suas águas até o Oceano (=Consciência Cósmica).
Contemplamos suas águas cristalinas, serenas e aprazíveis. Se nos lançarmos na água,

109
segundo o curso da corrente a experiência será agradável e fácil. Ao contrário, se
nadarmos contra seu curso chegará o momento nos será mais difícil prosseguir; se, não
obstante esta dificuldade, perseveramos em nosso empenho, vai chegar o momento em
que nos sentiremos extenuados e desfalecidos, correndo o perigo de ser arrastados pelas
águas, batendo-nos contra as rochas das margens e ainda afogando-nos. A situação seria
ainda mais séria,
sabe nadar; em talquando
caso, oquem
perigoprocede dessamuito
seria ainda maneira for um temerário que nem sequer
maior.
A única coisa que pode fazer nossa Ordem é afastar da Iniciação quem ainda
careça de certa maturidade espiritual e moral, e prevenir destas circunstâncias quem
considerar digno de receber a Iniciação Martinista. Com respeito a estes temerários e
imprudentes, que se empenham em nadar em sentido contrário à corrente evolutiva, só
nos cabe orar por eles, a fim de que a ligação dolorosa coloque-os futuramente, de
forma definitiva, no caminho da Reintegração Espiritual.
A Iniciação Martinista constitui individualmente, uma fonte inestimável de ele-
vação e superação. Este último estado é o que os Martinistas denominam Reintegração.
Sustentam os ensinamentos tradicionais do Martinismo que a humanidade,
primitivamente, desfrutava de um estado espiritual sumamente elevado, no seio do
Eterno Pleroma (a esfera, plano ou reino mais próximo da Divindade), estado do qual
caiu a humanidade, ficando prisioneira nas redes da matéria. O trabalho do Martinismo
em conseqüência, consiste em ajudar os seres humanos a compreender e adiantar-se em
relação à humanidade corrente, na marcha desta até o destino que lhe for designado pelo
Ser Supremo (ler e meditar na parábola do Filho Pródigo: Evangelho segundo São
Lucas; capítulo 15, versículos 11 a 32), reintegrando-se ao Divino Pleroma, de onde
saiu para vagar pelo Cosmos pelas infinitas mansões do universo material e psíquico.
Todo este princípio da Queda e da Reintegração dos Seres está simbolizado,
precisamente, no nome do grupo Martinista BETHEL. Em hebraico se escreve (da
direita para a esquerda): Beth, Iod, Thau, Aleph, Lamed. Corresponde à teofania (=
manifestação ou aparição da Divindade) que experimentou Jacob e que é consignada no
Gênesis, capítulo 28, versículos 10 a 22, que reproduzimos:

E saiu Jacó de Beer-Seba e foi a Harán; e encontrou um lugar e


ali dormiu, porque o sol já se havia posto; e tomou das pedras
daquele lugar e colocou-as em sua cabeceira e encostou-se naquele
lugar.
E sonhou ele que uma escada estava apoiada na terra e sua
cabeça tocava no Céu, e que anjos de Deus subiam e desciam por ela.
E Jehová oestava
de Abraham, Deus node alto dela,
Isaac; e queemdisse:
a terra Eu sou
que estás Jehová,
deitado o Deus
darei a ti
à tua semente.
E será tua semente como o pó da terra, e te estenderás ao
ocidente e ao oriente, de norte a sul; e todas as famílias da terra
serão benditas em ti e em teus semelhantes.
E estou contigo e te guardarei por onde fores, e te farei voltar a
esta terra, porque não te deixarei até quando hajas feito o que te
disse.

110
E despertou Jacó de seu sonho e disse: Certamente Jehová está
neste lugar e eu não o sabia.
E teve medo e disse: Que terrível é este lugar! Não é outra coisa
que casa de Deus e porta do céu.
E levantou-se Jacó pela manhã e tomou da pedra que havia posto
em sua cabeceira,o elevou-a
E chamou e derramou
nome daquele lugarazeite sobrejáela.que luz era o
Beth-el,
primeiro nome da cidade.
E Jacó fez voto dizendo: Se Deus for comigo e me guardar nesta
viagem e me der pão para comer e vestido para vestir.
E se retornar em paz à casa de meu pai, Jehová será meu Deus.
E esta pedra que coloquei por título, será a casa de Deus; e de
tudo o que me deres, hei de apartar o dízimo para ti.

As fileiras de anjos que descem e que sobem simbolizam as Ondas de vida que o
Ser Supremo, o Ancião dos Dias, emanam de Si e que descem até a matéria,
coagulando-se ou involuindo, revestindo-se de formas cada vez mais densas e às quais
anima, até alcançar o máximo de materialidade e condensação. Em seguida, esta onda
de Vida sobe, do ponto máximo de condensação e materialidade, para retornar ao
Pleroma, que denominamos evolução, onde é necessário libertar-se cada vez mais das
formas, mediante a sutilizarão ou sublimação das forças.
Em outras palavras, trata-se do vôo que realiza a alma humana, através dos Mil
Véus da Ilusão. Do estado de plenitude na Unidade, cai na Multiplicidade, que se
caracteriza porque nesta condição rege a necessidade, a tensão e a construção, para
novamente, subir até a Unidade ou Reintegração do Ser em seus primeiros princípios.
Eis porque todas as Escolas de Mistérios tem considerado o homem um deus
caído e encadeado à terra ou mundo físico, morada na qual jamais poderá encontrar a
imperecedoura felicidade. Às vezes tem a vaga recordação de sua glória passada. Outras
vezes sente a desilusão, a amargura, e o tédio do estado de máxima materialidade, de
máxima descida e cristalização própria da esfera física. Em outras oportunidades,
apaixona-se por flores e frutos encantados e belíssimos que existem no Jardim do Plano
físico. Luta por isto, rola pelo solo e se lastima por conseguí-los. No entanto, logo que
os tenha na palma da mão observa, entristecido, como se transformam em cinzas... e
assim continua vagando por este formoso Jardim, presa de infinitos brilhos e ilusões, em
um estado que se assemelha ao sonho. Através da vida após vida, de encarnação após
encarnação prossegue sua peregrinação até que, de repente, começa possivelmente a
intuir
pensarque
quetalvez
talveztudo não seja
em todas mais
essas que um
sombras quebelo e apaixonante
o apaixonam, nadajogo...
exista enaserealidade
detenha ae
que seja ele somente que lhes dá o sentido, prestando-lhes uma realidade, da qual por si
mesma carecem. É possível então que cesse a ilusão e a alma encontra-se novamente
desperta e pronta para começar seu retorno ou processo de reintegração. Então, todo o
seu futuro progresso caracterizar-se-á pelo máximo desenvolvimento de seu princípio
consciente até que este chegue a harmonizar-se perfeitamente com a Unidade Divina. E
da mesma forma que a gota de água, entre as infinitas gotas que formam o caudal do rio

111
que há pouco imaginávamos, desemboca e se funde nas águas do Oceano Infinito da
Divindade.
Então, a Onda de vida, formada por todos os Seres Vivos que animam o Uni-
verso material (não só os seres humanos) retorna ao Divino Pleroma e logo se reintegra
no seio da própria Divindade e o Universo deixa de existir, dissolvendo-se no Nada
Primordial
novamente, (melhor dito, emane
a Divindade na energia
de Siprimordial). É a Noite
outro Universo, Cósmica
para logo quededura
emanar até que,
Si Infinitas
Hierarquias de Seres, que vão povoar e animar suas esferas, planos e moradas,
começando o Período de Manifestação Cósmica ou Dia Cósmico.
Tradicionalmente, se fez uma diferença entre Deus Manifestado e Deus Imani-
festado, simbolizando-se isto com um Triângulo Equilátero com um Olho em seu
centro, aberto ou fechado, conforme o caso. Nas Escolas Egípcias simbolizava-se esta
situação da mesma forma que nas tradições Hindus com a Ave Hamsa que no Céu
celeste punha um Ovo Cósmico, dentro do qual involuía e evoluía um Universo. Logo
voltaremos a este tema.
Neste último capítulo Preparatório, destinado aos Membros Aderentes que estão
sendo preparados para sua Iniciação na Ordem Martinista, aproveitamos a oportunidade
para nos referirmos à atitude que deverão assumir os futuros “Associados” com seu
Iniciador e com seus Irmãos e Irmãs Martinistas. Certamente, através da leitura deste
livro, já deram se conta de quão difícil é o trabalho dos SS⢎⠆ II⢎⠆ II⢎⠆ou Presidentes dos
Grupos Martinistas.
Em razão de suas Promessas e Juramentos prestados em sua Iniciação, os Inici-
adores tem o honroso e nobre trabalho de serem, na realidade, verdadeiros Pais
Espirituais para seus Iniciados. Isto lhes impõem uma série de compromissos e
obrigações livre e espontaneamente aceitas. Em tal qualidade, os Iniciadores estão
obrigados, ante sua própria consciência, a dar de si para o êxito de sua missão, o quanto
lhes seja possível, com pleno desinteresse, sem pedir nada, absolutamente nada, nem
favores, serviços ou dinheiro, a seus Iniciados, salvo em caso de extrema urgência ou
necessidade e, ainda assim, é preferível que não o façam. Já se disse que dentro do
possível, nos Grupos e Centros Martinistas, não se deve cobrar quotas, a menos que isso
seja indispensável para financiar os gastos de aluguel do local, que por sua quantia seja
difícil de ser pago pelo Presidente.
Os Presidentes dos Grupos Martinistas devem ser respeitados como a máxima
autoridade hierárquica dentro de seu Grupo, já que sobre eles recai a grande
responsabilidade de serem os Orientadores Espirituais e Intelectuais de seu Grupo de
Iniciados, assim como os transmissores da Tradição Martinista consignada nos rituais e
livros deNenhum
Iniciação.
Irmão ou Irmã deve solicitar aumentos de grau a seu Iniciador, mas
trabalhar bem, em silêncio e com sinceridade, até ser convidado a participar no trabalho
do grau superior.
Por outro lado, todos os Martinistas estão unidos entre si pelos laços da mais
pura fraternidade, o qual requer delicadeza no trato recíproco. O Martinista jamais trata
de impor suas idéias, somente insinua, sugere e cala. Interessa-lhe, sobretudo,
demonstrar com a retidão de sua própria vida, a verdade dos princípios que sustenta.

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Todo Grupo Martinista caracteriza-se por ser uma verdadeira reunião de Filóso-
fos Desconhecidos nos quais é impossível que prime a paixão, o amor próprio, a
vaidade ou orgulho. Na serenidade dos Templos Martinistas só se trabalha com Clichês
Cósmicos e em presença da Cadeia Invisível da Ordem. Movem-se e dinamizam-se
idéias, sentimentos superiores, dentro de um ambiente da mais absoluta paz e
serenidade, de tal maneira
produzidas mediante que,ritualista
o trabalho como relâmpago e raios,através
possa difundir-se as influências geradasdae
da aura fluídica
terra, levando consolo, paz, fortaleza, inspiração e novos ideais a quem carece deles. É
por isso que os Martinistas são os verdadeiros colaboradores do Espírito Crístico
crucificado e que com seu Abnegado Sacrifício permitiu a evolução dos seres que
animam o planeta. Sua encarnação sublime manifestou-se através do Mestre Jesus... Já
se disse que a Ordem não dogmatiza, nada manda nem ordena a seus Iniciados. Só lhes
expõem certos ensinamentos, lhes assinala certos ideais e práticas, e logo... deixa a cada
um o dever de assumir a responsabilidade de vivê-los e aplicá-los em sua própria vida.
Cada um é livre de aceitar o que se lhe ensina ou deixar para o futuro. Isto entra
dentro da autonomia e liberdade interior de cada ser humano, que o Martinismo respeita
sobre todas as coisas.
A missão essencial de cada grupo Martinista é, na realidade, de formar inicia-
dores capazes de organizar e presidir, no futuro, seu próprio Grupo de Iniciados, dessa
maneira, fica assegurada a continuidade e perenidade da Ordem. É assim que os
ensinamentos que está recebendo cada Martinista de 1º, 2º ou 3º graus - este já
vinculado a um grupo ou trabalhando isolado - estão destinados a servir-lhe de ponto de
apoio para que elabore, posteriormente, e uma vez investido da qualidade de Iniciador
e Presidente de Grupo, seus próprios ensinamentos para instruir a seu grupo de
Iniciados que lhe corresponderá Iniciar e orientar no futuro.
Em conseqüência, nas reuniões, o trabalho de cada Martinista, independente do
grau que possua, deve ser ativo. Isto significa que deve perguntar, interrogar, analisar,
meditar, criticar construtivamente. Deve, desta maneira, ir VIVENDO O
MARTINISMO. Em conseqüência, quando tiver a responsabilidade de presidir seu
próprio Grupo, possuirá sua própria síntese filosófica e teúrgica; síntese vivida
pessoalmente, tanto na esfera espiritual, como na intelectual, emocional e física. Não
esquecer jamais que cada Associado deve agir em função do trabalho que lhe espera no
futuro. Chegará o momento em que deverá assumir essa nobre e delicada respon-
sabilidade, sem poder negar-se a isso e por um imperativo de sua própria consciência
interna.
“Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar escondido, nem
debaixo do alqueire, mas no velador a fim de que os que entrem vejam a Luz.”
(Lucas: 11-33)

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