Fauna e Flora de Angola
Fauna e Flora de Angola
Fauna e Flora de Angola
Agosto de 2006
Luanda – Angola
República de Angola
MINISTÉRIO DO URBANISMO E AMBIENTE
Agosto de 2006
Luanda – Angola
ÍNDICE
Capítulo 1 – Introdução.................................................................................................................... 1
1.1. Breve Historial .............................................................................................................. 1
1.2. O processo de elaboração do Primeiro Relatório Nacional ......................................... 1
Capítulo 2 – A Diversidade Biológica em Angola ............................................................................ 3
2.1. Biomas Terrestres ........................................................................................................3
2.1.1. Flora ......................................................................................................................... 5
2.1.1.1. Eco-Regiões .........................................................................................................5
2.1.1.2. Tipos de vegetação .............................................................................................. 6
2.1.1.3. Lacunas de informação sobre vegetação............................................................. 9
2.1.1.4. Espécies vegetais em risco ..................................................................................9
2.1.2. Fauna terrestre................................................................................................................. 9
2.1.2.1. Mamíferos ................................................................................................................ 10
2.1.2.1.1. Espécie sem informação.......................................................................................17
2.1.2.2. Espécies em risco ...................................................................................................18
2.1.3. Aves ............................................................................................................................... 19
2.1.2.2.1. Descrição das aves de Angola por habitats de ocorrência ................................... 20
2.1.2.3. Répteis Terrestres....................................................................................................28
2.1.2.4. Insectos.................................................................................................................... 29
2.2. Biomas aquáticos.............................................................................................................. 31
2.2.1. Grandes ecossistemas marinhos................................................................................ 31
2.2.1.1. Espécies marinhas e costeiras ................................................................................31
2.2.2. Outros ecossistemas aquáticos .................................................................................. 41
3. Sumário da Situação Actual....................................................................................................... 49
3.1. Situação legal.................................................................................................................... 49
3.2. Situação de políticas ......................................................................................................... 49
3.3. Contexto institucional ........................................................................................................ 49
3.4. Quadro legal...................................................................................................................... 49
3.4.1. A nível internacional.................................................................................................... 49
3.5. Quadro Institucional .......................................................................................................... 60
3.5.1. Organismos da Administração Central do Estado ...................................................... 60
4. Constrangimentos e ameaças .................................................................................................64
4.1. Pressão demográfica – o ciclo vicioso da pobreza e da degradação ambiental .............. 64
4.2. Sobrexploração de recursos .............................................................................................66
4.2.1. Ecossistemas e habitats terrestres .............................................................................66
4.2.4. Extracção mineira .......................................................................................................67
4.2.5. Introdução de espécies exóticas ............................................................................ 68
4.2.6. Falta de clareza na questão da terra .......................................................................... 68
4.3. Ecossistemas marinhos e costeiros..................................................................................68
4.3.1. Redução de habitats e sobrexploração de recursos................................................... 68
4.3.3. Impactos da actividade pesqueira............................................................................... 69
4.3.4.Construção de salinas..................................................................................................71
4.3.5. Poluição ...................................................................................................................... 71
4.4. Outros Constrangimentos .................................................................................................71
5. Grau de cumprimento dos princípios da Convenção................................................................. 73
5.1. Artigo 7º sobre a Indentificação e monitoria .....................................................................73
5.2. Artigo 8º sobre a Conservação in situ...............................................................................74
5.3. Artigo 9º sobre Conservação ex situ.................................................................................87
5.4. Artigo 11º sobre Incentivos ...............................................................................................90
6. Conclusão .................................................................................................................................. 95
Anexo 1.......................................................................................................................................... 96
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
ABREVIATURAS
ii
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Capítulo 1 – Introdução
Angola ratificou a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) após aprovação pela
Assembleia Nacional da resolução n.º 23/97 de 4 Julho. Aos 1 de Abril de 1998, Angola tornou-se
membro da Conferência das Partes desta Convenção. O presente relatório constitui, no seu
conjunto, uma resposta à questão de saber como a República de Angola corresponde ao
estipulado no Artigo 6º da Convenção sobre a Diversidade Biológica, assinada a 5 de Junho de
1992 na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
Caixa 1
Cada Parte Contratante deverá, de acordo com as suas próprias condições e capacidades
particulares:
Foi opinião das autoridades angolanas que, apesar do atraso na elaboração deste Primeiro
Relatório Nacional, o mesmo deveria ser preparado paralelamente a elaboração da Estratégia e
seu Plano de Acção. O Primeiro Relatório Nacional deveria descrever com pormenor as condições
básicas da biodiversidade e os respectivos desafios porque se pretende que o presente
documento cumpra funções didácticas dentro de Angola.
1
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
regionais e nacionais por forma a incorporar o parecer de um leque de partes interessadas. Estes
estudos incidiram sobre:
Neste âmbito, os seis estudos temáticos elaborados por vários consultores nacionais foram
apresentados num Primeiro Workshop Nacional sobre a Estratégia para a Conservação da
Biodiversidade. Este Workshop decorreu em Luanda nos dias 6 e 7 de Julho de 2005 e serviu
para dar a conhecer os seus objectivos e apresentar os estudos temáticos elaborados entre
Janeiro e Junho de 2005.
Finalmente, a 15 de Fevereiro de 2006 foi realizado o Segundo Workshop Nacional para validação
da Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade onde participaram delegados de
todo o território nacional em representação de instituições governamentais, autoridades
tradicionais, sector privado, sociedade civil, ensino superior, comunidades locais e imprensa. A
Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade foi aprovada em Conselho de
Ministros aos 31 de Maio de 2006.
A presente versão do Primeiro Relatório Nacional resulta desse processo de consulta prolongada
e integra sugestões e comentários surgidos desse debate nacional.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Seis biomas (ou divisões fito-ecológicas) definidos através da composição biológica e factores
edáficos, climáticos e fisionómicos são distinguidos em Angola:
• Floresta Guinéo-congolesa
• Mosaico de Floresta Congolesa-
Savana
• Zambezíaco incluindo a floresta de
Brachystegia (miombo)
• Floresta Afromontane
• Karoo-Namibe
• Kalahari - Planalto zona de transição
e zona de escarpa
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Florestas especiais
A Floresta de Maiombe faz parte do bioma Guinéo-Congolês e cobre cerca de 2.000 km2. A floresta
constitui a parte sudoeste da floresta tropical sempre verde na Bacia do Congo, oferecendo habitat para
duas espécies de grandes primatas – Chimpanzés e gorilas. Apesar da sua importância em termos de
biodiversidade, nos contextos local, nacional, regional e global, esta floresta é muito pouco protegida.
Após várias décadas de instabilidade, e como resultado das altas densidades populacionais, a Floresta
de Maiombe sofre de altas taxas de degradação, principalmente através do abundante corte das árvores
e da caça furtiva, para fins de subsistência assim como para uso comercial.
Os esforços do governo para a conservação da Floresta de Maiombe tiveram início em 2000 com uma
campanha de sensibilização pública das comunidades residentes. A chave para a protecção da floresta e
a sua biodiversidade está no compromisso do Governo e na participação activa das comunidades
residentes. Em particular, está em destaque a importância da identificação de fontes alternativas de
subsistência para o consumo não sustentável da flora e fauna. A cooperação entre os países que
partilham a Floresta de Maiombe (Angola, República do Congo, República Democrática do Congo e
Gabão), no âmbito da cooperação transfronteiriça, será essencial.
Por fim, o bioma de Savana Mosaico da Floresta Guineo-Congolesa ocupa uma área
aproximadamente de 51.911 km2 preenchidos por uma formação de Savana com arbustos em que
predomina a Hiparrhenia, Andropogon, Trachiypogon e Cordatia e de árvores da espécie de
Strichnos, Erythrina, Cussonia, Piliostigma e Combretum. Esta área esta circundada por rios vales
e florestas isoladas. Algumas florestas com tendência de se expandirem ao longo dos rios
Cuango, Luaximo, e Cassai, onde são predominantes as árvores, do género Piptadeniastrum,
Chlorophora, Ceiba, e Xylopia. Esta importante galeria de floresta, estende-se ao longo do rio
Luachimo, até ao norte da Lunda Norte com precipitações anuais para cima dos 1.400 mm.
4
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Potto Dourado
2.1.1. Flora
• Savana Húmida, ocupa cerca de 70% do território e é caracterizada por precipitações que
variam entre 500 a 1.400 mm/ano na estação chuvosa e uma grande variedade de tipos de
solos geralmente pobres em nutrientes;
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Em Angola podem ser distinguidos pelo menos 30 tipos de vegetação (ver Figura 1).
1. Floresta de nevoeiros
2. Florestas húmidas semi-decíduas de baixa altitude
3. Floresta húmida de nevoeiro, semi-decídua
4. Floresta seca, densa, semi-decidua (em areias)
5. Mosaico de Floresta húmida densa, savanas e gramíneas
6 Mosaico deflorestas de galeria densas, matas e savanas de gramíneas
7. Mosaico de savanas de gramíneas
8. Mosaico de florestas dependentes da água; savana de gramíneas e Matagais arbustivos
9. Mosaico de Florestas semi-decíduas e deciduas e savanas secas de baixa altitude
10. Mosaico de Graminais mal drenados; savanas e floresta ribeirinha, nas areias do Kalahari
11. Mosaico de: Matagal arbustivo; savanas de gramíneas altas de média altitude
12. Mosaico semi-árido(em solos fersialíticos: entre o Rio Zaire e o Rio Dande
13. Mosaico de matagal de arbustos altos; mata: savana mal drenada
14. Mosaico de miombo degradado e savanas graminosas
15. Matas de miombo alto a médio (10-20 m) em areias de Kalahari
16. Miombo aberto
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17A. Miombo aberto (10-20 m) com Brachystegia spiciformis var latifoliolata, Julbernardia
paniculata e B. longifolia com estrata graminal de Hyparrhenia)
17B. Miombo com de Brachystegia spiciformis var. latifoliolata, B. boehmii, Julbernardia
paniculata, e, por vezes maciços de Marquesia, Berlinia e Daniellia
18A. Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (principalmente a Sul do rio Keve)
18B. Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (entre os vales dos rios Keve e Kwanza)
19. Miombo mediano do planalto continental
20. Mosaico de Mata xérica (decídua); e savanas xéricas. .
21. Mata arbustiva mal drenada de Colophospermum em solos de barros (argilosos)
22. Mosaico de: (1) mata de baixo crescimento (2) savanas de gramíneas altas
23. Mosaico de savanas xéricas, Matagal arbustivo xérico e Matas de Adansonia
24. Mosaico de graminais mal drenados; e matas de miombo
25. Mosaico de Matas de Baikiaea; graminais mal drenados
26. Mosaico de savana de gramíneas altas; e matas de Adansonia-Sterculia em solos
calcáreos (Baixa de Cassange)
27. Mosaico de matas arbustivas de Xerófitas; graminais anuais e mata de arbustos anões
28. Graminais anuais com manchas de Welwitschia. SW Namibe
29. Vegetação desértica, esporádia em dunas movediças: Tômbwa à Foz do Cunene
30. Prado palustre – Cyperus papyrus, etc
31. Graminais mal drenados nas areias do Kalahari
32. Prados de altitude ou “Anharas” (em solos ferralíticos e delgados)
Florestas Fechadas
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Mosaico de: (1) Matagal arbustivo; (2) savanas de gramíneas altas de média altitude. (1&2)
Annona spp., Combretum spp., Hymenocardia spp., Hyparrhenia spp., Andropogon spp., ).
SW. Kwanza Norte, W. Malanje, N. Kwanza Sul.
Mosaico semi-árido (em solos fersialíticos: entre o Rio Zaire e o Rio Dande de: (1) matagal
arbustivo; (2) savanas; graminal xérico de baixa altitude. (1) Crossopteryx spp., Adansonia
spp., Heteropogon spp.) SE. Zaire, N. Bengo.
Mosaico de: (1) Matagal de arbustos altos; (2) mata: (3) savana mal drenada. (1) Croton
spp., Combretum spp. (2) Baikiaea spp., Brachystegia spp., Julbernardia spp., (3)
Themeda spp., Andropogon spp., Hyparrhenia spp.). S. Huila
Mosaico de: (1) miombo degradado; (2) savanas de Hyparrhenia. (1) Julbernardia spp.,
Brachystegia spp., (2) Hyparrhenia spp., Andropogon spp.).
Matas de miombo alto a médio (10-20m) em areias de Kalahari (Brachystegia spp.,
Marquesia spp., Julbernardia spp., Cryptosepalum, Pterocarpus spp. etc).
Miombo aberta (10-20m) com Brachystegia spiciformis var latifoliolata, Julbernardia
paniculata e B. longifolia com estrata graminal de Hyparrhenia).
Miombo com de Brachystegia spiciformis var. latifoliolata, B. boehmii, Julbernardia
paniculata, e, por vezes maciços de Marquesia e Berlinia
Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (principalmente a Sul do Rio Keve) –
Brachystegia spiciformis, Julbernardia paniculata, etc.
Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (entre os vales dos rios Queve e Kwanza)
– Brachystegia spiciformis, B. wangermeeana (localizada) e B. boehmii.
Miombo mediano do planalto continental (em solos ferralíticos– Brachystegia spiciformis,
B. floribunda, B. utilis. Cazombo, Calunda e Macondo
Mosaico de: (1) Mata xérica (decídua); e (2) savanas xéricas. (1) Colophospermum
mopane, Boscia spp. (2) Schmidtia spp., Enneapogon spp.).
Mata arbustiva mal drenada de Colophospermum em solos de barros (argilosos).
Mosaico de: (1) mata de baixo crescimento (2) savanas de gramíneas altas. (1)
Cochlospermum spp., Terminalia spp., Piliostigma spp., Albizia spp.).
Mosaico de: (1) savanas xéricas (2) Matagal arbustivo xérico; (3) Matas de Adansonia. (1)
Heteropogon spp., Schmidtia spp., (2) Strychnos spp., Dychrostachys spp., Combretum
spp., (3) Adansonia spp., Sterculia spp. Em solos argilosos, com manchas arenosas:
Ambrizete e Luanda.
Mosaico de: (1) graminais mal drenados; e (2) matas de miombo. (1) Loudetia simplex,
Tratchypogon spp. Ctenium spp..
Mosaico de: (1) Matas de Baikiaea; (2) graminais mal drenados. (1) Baikiaea plurijuga,
Diospyros spp. Combretum spp., Ricinodendron spp).
Mosaico de: (1) savana de gramíneas altas; e (2) matas de Adansonia-Sterculia em solos
calcáreos (Baixa de Cassange).
Graminais
Mosaico de: (1) matas arbustivas de Xerófitas; (2) graminais anuais; (3) mata de arbustos
anões. (1,2,3) Colophospermum spp., Acacia mellifera, Rhygozum spp., Welwitschia
mirabilis. Aplanações sublitorais do Sul.
Graminais anuais com manchas de Welwitschia. SW Namibe
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Deserto
Prados
Os dados que a seguir se apresentam estão incluídos nas listas vermelhas da IUCN publicadas
desde há 11 anos atrás e incluem as seguintes:
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palanca preta gigante, que só vive numa certa região de Angola. É de salientar que a diversidade
da fauna angolana tem sido mais exaustivamente estudada do que os recursos botânicos do país,
no entanto a maior parte do estudos, encontram – se relacionados com a componente
vertebrados. A rica avifauna angolana foi catalogada 1963, com levantamentos actualizados em
1983 e 1988.
2.1.2.1. Mamíferos
A diversidade de mamíferos que abundam o país é uma das mais ricas do continente, com 275
espécies registadas. Cerca de 49 destes mamíferos estão em situação preocupante do ponto de
vista da conservação.
Desde 1975, grande parte dos mamíferos de Angola tem sido severamente reduzida, senão
completamente eliminada. Um extermínio geral de elefantes, rinocerontes, gungas, palancas,
guelengues do deserto, cabras de leque, golungos, nunces, songues, e de muitas outras espécies
ocorreu em todos os parques e reservas. Possivelmente algumas manadas poderão ter
sobrevivido o suficiente para se poderem recuperar se lhes for dada a protecção necessária, e
eficiente. As populações de mamíferos, cuja carne não tem valor comercial, poderão não ter sido
afectadas, outras espécies foram beneficiadas pelo desmoronamento das actividades agro-
pecuárias e industriais, em particular das espécies que se encontram na floresta Guineo-
Congolesa. Na realidade nenhuma espécie recebeu protecção desde 1975 e são poucos os dados
disponíveis sobre o estado actual e sua distribuição.
Iremos nesta secção proceder a uma descrição da diversidade de cada uma das ordens que, em
Angola, tem sido sujeitas a estudos e actualizações.
ORDEM PHOLIDOTA
O pangolim terrestre do Cabo é o único dos três pangolins que ocorrem em Angola que está
inscrito na Lista Vermelha dos Mamíferos da UICN. Porém, a condição das duas outras espécies
deve ser semelhante
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Norte).
Cercopithecus Macaco Bem disseminado Considerável população nos
aethiops Cinzento Parques Nacionais, da Kissama,
Bikuar e Iona, como na reserva
natural Integral da Lunda Norte
Colobus angolensis Colobo de Localizado (galeria de Ocorre nas áreas propostas para
Angola florestas do nordeste) Reservas na Lunda Norte
Gorilla gorilla Gorila Distribuição muita restrita Em 1975 ocorria na área
nas florestas de Cabinda. proposta como Reserva Natural
Estado actual é Integral do Maiombe
desconhecido
Pan troglodytes Chimpanzé Raro mas mais Ocorria em 1975 na proposta
disseminado que o gorila área de Reserva Natural Integral
do Maiombe,
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Chevrotain
Lista dos artiodáctilos de Angola
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Mesmo nos mamíferos de grande porte há falta de informação sobre o estado de conservação
actual. Um exemplo é o elefante que em Angola ocorrem nas sub-espécies: a Loxodonta africana
africana (Elefante da savana) e Loxodonta africana cyclotis (Elefante da Floresta). Os últimos
dados sobre a sub-espécie da Savana são de 1975 e reportavam uma distribuição disseminada
mas em parte alguma abundante. Nessa altura a população total estimava-se entre os 5.000 e os
10.000 animais, na sua maioria localizados na província do Cuando-Cubango.
No Parque Nacional da Kissama, a população de cerca de 800 elefantes existentes em 1975, foi
reduzida a menos de 100 que se encontram concentrados ao longo do rio Kwanza. Na região Sul
do país, existem relatos vindos da zona a sul da cidade de Cazombo (Província do Moxico),
segundo os quais manadas ainda ocorriam no Parque Nacional do Bikuar. Há ainda relatos sobre
a destruição de culturas efectuadas por estes na província do Cunene. Na área do rio Coporolo
(província de Benguela), também foram observados elefantes.
É presumível a existência de alguns elefantes adaptados ao deserto (um raro ecotipo de Elefantes
das savanas), na região sudoeste na província do Namibe. A província com maior distribuição
calcula-se ser a do Cuando Cubango com relatos sobre insignificantes influxos de elefantes
originários da Zãmbia, Namíbia e Botswana, devido a finalização da guerra.
Num reconhecimento aéreo preliminar efectuado pelo Dr. Hall Martin, fez-se uma contagem de
700 elefantes numa simples transcendência fazendo-se uma estimativa de que a população para
toda a província deverá ser na ordem dos 10.000 elefantes. As estimativas de 1975 podem ter
sido subestimadas, uma vez que está claro que o maior abate de elefantes para aproveitamento
da carne e do marfim ocorreu durante os últimos 26 anos, sendo as estimativas de exportação de
marfim da ordem das dezenas de toneladas.
Por exemplo, só em 1989 foram confiscados durante o transporte através da Namíbia, 6,8
toneladas de marfim que se crê ser de origem angolana. A exploração corrente continua a colocar
sérias pressões sobre as populações de elefantes existentes (numa pequena cidade do Cuando-
Cubango matavam-se dois elefantes por semana para fornecer carne). As medidas de gestão
(que reconhecem que a maioria dos elefantes se encontram fora das áreas protegidas) terão de
evoluir rapidamente.
Na região norte do país, floresta do Maiombe, ainda se julga existirem elefantes da floresta, mas
há observações de elefantes nas florestas das províncias do Zaire, Uíge, Malanje e Kwanza Norte.
No que respeita ao rinoceronte preto os dados são os seguintes: em 1975 já era extremamente
raro em todas as áreas de distribuição. Uma pequena população aparentemente estável de + 30
animais existia no Parque Nacional de Iona. Em áreas das vizinhanças, bem como de Tchimporo
na província do Cunene, haviam relatos de existência de outros grupos também muito pequenos.
De Luengue e do Mucusso, áreas situadas na província de Cuando-Cubango, relatava-se também
a observação de outras populações, ao que parece de maior número. Todas estas populações
devem provavelmente ter sido eliminadas durante a guerra.
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Quanto ao rinoceronte branco os dados são igualmente preocupantes receando-se o pior apesar
de registos não confirmados da sua ocorrência. Um grupo de 10 exemplares oriundos da Zululand
foi introduzido no Parque Nacional da Kissama, em 1968. Em 1974 tinha-se observado a
existência de uma cria. A população do Parque da Kissama foi aparentemente exterminada.
Faltam igualmente dados sobre as duas espécies de zebra, a Equus burchelli (Zebra da Planície)
e a Equus zebra hartmannae, que se acredita poderem estar à beira da extinção. A girafa
encontrava-se em 1975 numa situação crítica, actualmente quase extinta em Angola. Em tempos
era numerosa no parque Nacional de Mupa, a população foi reduzida a menos de trinta animais
até 1975, abandonando o parque regularmente para deambular em pequenos grupos na área de
Tchimporo. Outra população também muito pequena tinha sido observada na área de Mucusso no
extremo sudeste de Angola.
De acordo com a IUCN 50 das 275 espécies de mamíferos em Angola estão na Lista Vermelha. O
que quer dizer que 18 em cada 100 espécies requerem especial atenção de conservação.
A categoria dos vulneráveis inclui seis dos quais a maior parte são felinos (chita, leão, fato
dourado, gato de pés pretos) e ainda o manatim e o elefante.
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Fonte: Red Data List IUCN, 2004 ; (I) Inglês, por ausência de nomenclatura conhecida em português
2.1.3. Aves
A diversidade de aves em Angola é realmente incomparável
no contexto da África Austral: 847 espécies para uma média
de 319 para os restantes países da região. Esse elevado
número de espécies torna Angola um dos pontos “quentes”
do “bird watching”. Sabe-se que a guerra produziu efeitos
nefastos neste património mas desconhecem-se dados
actualizados e que cubram o território nacional. Apesar de
não se conhecer o estado de conservação da maior parte da
avifauna a verdade é que este grupo é do que foi objecto de
levantamentos mais extensos do ponto de vista taxonómico.
Angola dá abrigo a várias espécies endémicas que
constituem atracção para ornitologistas do mundo inteiro.
Espécies endémicas incluem as seguintes: Eupodotis
rueppellii, Poicephalus ruepellii, Agapornis roseicollis, Apus
bradfieldi, Phoeniculus damarensis, Tockus monteiri,
Ammomanopsis grayi, Certhilauda benguelensis, Parus
carpi, Turdoides gymnogenys, Lanioturdus torquatus,
Francolinus griseostriatus, Francolinus swierstrai Colius
castanotus, Tauraco erythrolophus, Melaenornis brunneus,
Platysteira albifrons, Laniarius amboimensis, Malacanotus
monteiri, Prionops gabela, Sheppardia gabela,
Xenocopsychus ansorgei, Macrosphenus pulitzeri e
Cinnyris ludovicensis.
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Dada a intima relação entre os diversos habitats e a distribuição das aves trataremos da
biodiversidade da avifauna com referência a cada uma das zonas fito-geográficas de Angola.
Grande parte desta área situa-se a altitudes compreendidas entre 1400 m e mais ou menos, 2000
m nos pontos mais altos da Huíla, Luimbale, Lepi etc., e assenta sobre rochas eruptivas. Muitas
são as aves que habitam o planalto central de Angola, área considerada, a mais rica em espécies.
Ora, sendo esta área dominada quase absolutamente pelo «Miombo», é natural que uma grande
parte da avifauna angolana ocorra neste ambiente. Assim dentro desta cintura, podem encontrar-
se outros habitats, nomeadamente ao longo das depressões de drenagem, como manchas de
floresta sempre-verdes e estreitas bandas de prados, que não são frequentadas pelas espécies
próprias do «Miombo». Para Angola, as espécies que mais estreitamente se mantêm ligadas aos
limites destes habitats, e fora dele, nunca foram assinaladas, mais que se podem considerar
endémicas, são:
Note-se que a espécie Prodotiscus insignis ocorre em meios mais húmidos, como em Canzele na
galeria florestal, e em N’dalatando nas florestas cafeeiras. As espécies a seguir citadas confinam-
se geralmente ao «Miombo» angolense, mas podem ocasionalmente ocorrer fora, dos limites
deste. É o caso das:
Trata-se de bosques secos de folha caduca conhecidas em Angola abreviadamente por matas de
«mutiati», que é composto do dominantemente por Colophospermum mopane. Todavia, sob o
ponto de vista ornitológico, estes dois tipos de formações vegetais apresentam uma população
aviana semelhante à do domínio de mutiati. E tem como espécies dominantes, (se bem que
nenhuma delas se possa considerar endémica) as seguintes:
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Biológica
Todavia, algumas destas espécies não ocorrem em Angola, ou ainda não foram
localizadas neste país, e muitas outras são citadas como características da floresta
secundária, que nós preferimos indicar separadamente.
Esta floresta, como a de Buco Zau, Conde, Necuto e Pangamango, formada pela ribeira
da Inhuca e a do Luali, que vai encontrar-se com o rio Luango. Nas proximidades de
Lela, a volta de Buco Zau e em torno de Belize desenvolve-se uma floresta secundária.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade
Biológica
7,5 nas árvores de maior porte, acima deste nível até ao alto da copa. Com maior
destaque para as seguintes espécies:
Do ponto de vista ornitológico, este tipo de floresta cerrada traduz-se num habitat que
só ocorre no país ao sul do rio Zaire, em altitudes geralmente inferiores aos 1000 m,
nomeadamente em uma grande mancha que se estende desde as serras de Canda a
Mucaba, a ocidente da província do Úige, até N’dalantando, atingindo nas zonas de
Quiculungo-Quibaxe e Quitexe-Quixico larguras de aproximadamente 100 km, mas que
se expandem consideravelmente para oeste, pela incorporação de vastas extensões de
um mosaico de savana com este tipo de floresta, que, na província do Úige,
ultrapassam o Bembe e no leste da Província do Bengo, atingem, entre outras, as
regiões de Nambuangongo e do Úcua.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade
Biológica
O habitat criado por esta floresta densa ocupa pequenas áreas a sul e leste de
Macondo, localidade próxima de Cazombo, no Móxico. Além destas manchas existem
outras áreas dispersas na Lunda, no Huambo meridional, Huíla setentrional, em torno
de Malanje e, para sul, de Cangamba e Menongue até quase aos 1º S.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade
Biológica
Estes dois tipos de manchas, quer climática, quer geologicamente, são muito
semelhantes, o primeiro, todavia, caracterizado por mais elevadas precipitações e
humidade, uma vez que a sua exposição é mais favorável aos ventos carregados de
humidade e nevoeiros, mais ambas têm como suporte rochas cristalinas quartzíferas do
Sistema do Congo Ocidental.
Esta área estende-se por uma grande parte do norte das províncias do Úige, de Malanje
e da Lunda. No Úige, uma grande mancha que inclui, entre outras, as regiões de
Maquela do Zombo, Quimbele, Damba, Santa Cruz e Sanza Pombo. A outra prolonga
até a norte de Massangano, e de Marimba na província de Malanje, até encontrar o rio
Cuango, através do qual passa para a província da Lunda, onde forma uma outra boa
mancha nas regiões de N´Zovo (Mabete), Cafunfo, Cuango e Capenda Camulemba até
encontrar o «Miombo» em Caungula, e Cacolo, só reaparecendo na mesma província,
entre os rios Cassai, e Luangue, constituindo extensas galerias que, para sul,
ultrapassam a zona de Saurimo e Chilunge, ao longo dos rios Canzar, Luembe,
Chiumbe, Luachimo, Chicapa, Lóvua, Luxico,do Zaire em regiões próximas do, Dundo,
Canzar, Andrada, Capaia, Cossa, Luia, Camissombo, etc.
Todos estes domínios vegetais são muito ricos em espécies orníticas, nomeadamente
os muxitos.
Todavia, poucas destas espécies são endémicas nestes habitats. Seleccionadas entre
os “non passeres”, inclui as seguintes espécies, consideradas as mais características
deste biótopo:
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade
Biológica
Ocupa uma mancha triangular na província do Zaire com base entre o Soyo e Pedra do
Feitiço e o vértice no Ambrizete. A vegetação desta região é de certa forma complexa,
uma vez que são os retalhos de floresta tropófitas, em solos firmes, florestas palustres e
formações abertas de savana, forma um mosaico rico em palmeiras com savana, que
predomina na zona mais chegada ao litoral, povoada por brenhas e formações
estepóides. Nas florestas destas formações têm o seu biótopo, entre outras, as
seguintes espécies de aves:
Esta formação vegetal ocupa uma extensa área do território angolano, na direcção
Norte-Sul compreendida entre os paralelos de 11 a 16º S, encravada no Moxico entre a
vegetação do «Miombo» até ao sul, em sentido leste da província do Cuando–Cubango,
entre Mavinga e Caiundo. Na região, central da zona sul desta mancha, entre Caiundo,
Longa e Cuito-Cuanavale,são encontradas várias espécies de aves que ocorrem
igualmente em outras zonas de Angola, aqui representadas em regra por subespécies,
que são típicas desta formação vegetal:
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade
Biológica
Estas formações vegetais ocupam, a sudeste e no extremo sul do país, uma área ainda
maior do que a anterior, que tem a sua maior extensão na direcção leste oeste, entre os
paralelos de 16º e 18º, conectando a oeste com a mata seca de mutiati de que é em
parte o seu prolongamento. Neste habitat, respectivamente nas áreas de Cuangar,
Calai e Dirico, encontram-se um bom número de espécies de aves próprias deste
biótopo, de que citamos as seguintes:
Esta zona de estepe, situa-se entre 200 a 500 m de altitude, estende-se na direcção
norte-sul, desde o Sumbe, um pouco a sul do paralelo de 11º S, até alcançar o rio
Cunene nas proximidades da sua foz, ao sul do paralelo de 17º S, quando inflecte para
leste até ao sul de Oncócua.
Neste habitat, tanto a Norte como a Sul, foram encontradas as seguintes espécies
avianas, Rhinoptilus africanus bisignatus, Pterocles namaqua, Mirafra sabota ansorgei,
Lanius colaris subcoronatus e Fringillaria impetuani, que ocorrerem também, na zona
sub-desértica vizinha.
A lista que segue inclui mais algumas espécies quet êm o seu biótopo nestazona:
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
A área deste tipo de vegetação ocupa em Angola uma pequena mancha de 30 km de largura, que
corre paralelamente ao litoral desde um pouco ao norte de Lucira até Namibe, e alargando depois
para sul até encontrar o Cunene.
Trata-se de uma zona sub ou semidesértica que, ocorre a sul do Namibe, até a Baia dos Tigres. A
espécie ornítica, mais característica deste habitat é, a Cisticola subruficapilla, encontrada, pela
primeira vez em Angola, que era até então desconhecida, representada pela subespécie Newton.
Um caso interessante é o Agapornis roseicollis (conhecidos por peach-faced lovebirs) que apesar não
estarem registados como estando em risco de conservação existem relatos de autores que referem a
exportação de milhares de pássaros desta espécie a partir de Angola.
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A classe de répteis, inclui lagartos e cobras (Ordem Squamata), tartarugas (Ordem Chelonia),
Jacarés e Crocodilos (Ordem Crocodilia).
O clima de Angola e suas principais características, é propício para a família de répteis tanto em
espécies como em indivíduos, (tartarugas, lagartos, cobras e crocodilos). Os répteis ocupam
grande variedade de habitats. As grandes jibóias, habitam nas florestas, nas galerias de floresta, e
nas margens de grandes rios. Os crocodilianos, nos rios, nos riachos, lagos e lagoas. A maioria de
tartarugas vive dentro ou próximo de água. O caso da tartaruga marinha, que habita desde a foz
do rio Kwanza, até a foz do rio Longa, ou seja 120 km de extensão, identificadas, quatro espécies,
que necessitam de proteção, nomeadamente: Dermochelys coriácea, Lepidochelys olivacea,
Chelonya mydes, Caretta caretta. Estas espécies serão analisadas em secção própria quando se
tratar dos organismos marinhos.
A terrapene habita o chão aberto das florestas e bosques. A maioria de lagartos e obras é
terrestre, mas alguns sobem em rochas e árvores a procura de alimento que é o caso do
camaleão (Chamaeleo chamaeleon) e do lagarto do género Agama atricollis (ganga, ou
tschimbulo), inimigo das abelhas, habita em todo planalto central, e nas províncias e Moxico,
Lundas, e Kuando-Kubango.
Diversas pressões ameaçam os répteis em Angola como, por exemplo, a urbanização, expansão
de actividades agrícolas e industriais e, em particular, o comécio de peles de crocodilo e de
grandes serpentes como a jibóia. O comércio de tartarugas, xtensamente vendidos como animais
de estimação, principalmente em vários mercados da cidade, e Luanda e a venda de carapaças
de tartarugas marinhas são outros importantes factores de ameaça.
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Espécies como o Crocodilo Anão (Osteolaemus tetraspis) são consideradas vulneráveis e estão
incluídas na lista da CITES. Não se consideram aqui as tartarugas marinhas que se tratarão mais
adiante.
2.1.2.4. Insectos
Estudos realizados apontam para a importância de uma variedade de insectos como fontes de
proteína animal, a saber:
Todos os autores são unanimes em reconhecer o alto valor nutritivo destes alimentos e pesquisa na
região central e nortenha de Angola confirmam que este recurso pode ser um complemento alimentar
em termos de gorduras e proteínas.
Autores como Wellman referem ainda as seguintes espécies que servem de alimentação humana:
Coleoptera
o Buprestidae
Chrysobothris fatalis Harold, larva
Psiloptera wellmani Kerremans, larva
Steraspis amplipennis Fabr., larva
Sternocera feldspathica White, larva
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o Cerambycidae
Zographus ferox Har.
o Curculionidae
o Rhynchophorus phoenicis Fabr., larva
o Scarabaeidae
Camenta sp., larva
Isoptera
o Termitidae
Macrotermes subhyalinus Rambur, adulto alado
Macrotermes subhyalinus, adulto alado
Lepidoptera
o Saturniidae
Imbrasia ertli Rebel, larva
Usta terpsichore M. & W., larva
Orthoptera
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Figura 9: Grande Ecossistema Marinho da Corrente Figura 10: Grande Ecossistema Marinho da Corrente da
Benguela (BCLME). Adaptado de LME of da Guiné (GCLME). Adaptado de LME of the the World (2003).
World (2003).
De uma forma geral, não se conhece grande parte da biodiversidade existente em águas
territoriais angolanas, carecendo muitos grupos taxonómicos de uma descrição completa da sua
diversidade específica. Da biodiversidade conhecida, pode ser apontada a ocorrência de maior
informação para os peixes cartilagíneos, peixes ósseos, répteis, aves e mamíferos marinhos,
embora pouco se saiba sobre a sua ecologia e distribuição. De salientar também a ocorrência de
informação sobre uma flora diversificada de algas e angiospermas marinhas em águas de pouca
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
2.2.1.1. 1. Plâncton
Composto por organismos de pequenas dimensões que flutuam ao sabor das correntes marinhas
o plancton inclui:
Fitoplâncton
Estudos efectuados estabelecem que as classes marinhas dominantes na costa de Angola são as
Bacillariophyceae (diatomáceas), Dinophyceae (dinoflagelados), Prymnesiophyceae
(cocolitoforídeos), Clorophyceae e Crisophyceae (silicoflagelados).
Dos grupos identificados nas diferentes zonas aponta-se a zona sul como sendo a detentora de
maior percentagem de dinoflagelados e a zona norte, como aquela que apresenta a maior
percentagem de diatomáceas. Entre 1953 e 2003 de entre as espécies fitoplanctónicas
identificadas, verificou-se o domínio de Chaetoceros didynus a norte, Sketelonema spp. ao centro
e Prorocentrum micans ao sul. Em termos de diversidade específica e densidade, a zona centro
regista-se como sendo a de maior riqueza e abundância, seguida pela zona sul e por último, a
zona norte.
Marés vermelhas em Angola foram reportadas desde 1951, onde a espécie Exuviella baltica foi a
espécie encontrada com maior densidade na maré vermelha entre o Namibe e Luanda. A mesma
espécie foi novamente encontrada em 1959, na região de Benguela e Luanda, causando grande
mortalidade em peixes e caranguejos. Dados mais recentes do Instituto de Investigação Marinha,
apontam para a ocorrência de marés vermelhas em 1997, 2000 e 2002 em diferentes áreas
costeiras, destacando-se Cabinda, Luanda, Benguela e Namibe.
Zooplâncton
Dados de zooplâncton para a costa de Angola são ainda escassos. Assume-se que devido aos
processos de “upwelling” que ocorrem e ao número de espécies de peixes que se alimentam de
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Ictioplâncton
Nas várias revisões de literatura conduzidas para o presente estudo, não se encontraram obras
publicadas sobre ictioplâncton. Contudo, a região suporta uma pescaria intensa em Sardinella sp.
que desova na plataforma continental. Os ovos e larvas deste género irão formar parte do
ictioplâncton. Outros potenciais constituintes na plataforma continental são os ovos e larvas do
carapau (Trachurus sp.) e possivelmente os ovos e larvas de atum ao largo da costa.
Informação específica sobre a fauna invertebrada marinha e costeira de Angola também é muito
limitada. O gastrópode Littorina punctata é característico da orla litoral da região, sendo
substituída pela L. cingulifera em áreas influenciadas por água doce. A ostra Saccostrea cucullata,
a lapa Siphonaria pectinata e o gastrópode Nerita atrata (N. senegalensis) são característicos da
zona mediolitoral.
Sobre areias descobertas rijas ao longo das praias, mesmo acima do nível máximo da maré-alta,
o Ocypode cursor ou o “caranguejo fantasma” é uma espécie típica. Nas planícies de lama com
lama arenosa ou areia lamacenta ocorrem outras espécies de caranguejo como a Uca tangeri,
Calinectes marginatus e o Sesarma huzardi.
Estudos feitos no bloco 15 da quadrícula de exploração petrolífera, referem que foram amostrados
42 estações em Fevereiro e Março de 2000, tendo sido identificados nas amostras 143 taxa.
Nestas foram recolhidas 80 espécies de anelídeos representando 55,9% do total das espécies, 33
espécies de Artrópodos correspondendo a 23,1%, 5 espécies de equinodermes representando
3,5%, 20 (14%) espécies de moluscos, enquanto sipunculídeos e nemertíneos somam 3,5% do
total das espécies, constatando-se que Onchnesoma streenstrupi é uma das espécies
características na região
Outras espécies de camarão presentes na plataforma continental são Penaeus notialis, abundante
em águas de profundidade inferiores a 100 m, Solenocera membranaceum e Syciona spp. Um
crustáceo com importância comercial, existente no talude continental ao largo da costa de Angola,
é o caranguejo de águas profundas Chaceon maritae.
2.2.1.1.3. Vertebrados
Poucos são os dados existentes sobre a biologia e distribuição de Chondrichthyes nas águas
territoriais angolanas.
Devido às condições hidrológicas da costa de Angola, a fauna piscícola inclui tanto espécies
tropicais e sub-tropicais como espécies de águas temperadas.
Bianchi (1986 & 1992) identificou várias populações de distintas espécies em 87 famílias e 264
espécies ao longo da região costeira, determinando que a sua distribuição é controlada por
gradientes transversais em profundidade (termoclinas) e pelo tipo de fundo.
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É de notar que algumas espécies típicas de águas temperadas penetram em águas territoriais
angolanas graças à corrente fria de Benguela. Os principais grupos das comunidades demersais
apontados por Bianchi (1986), podem ser classificados da seguinte maneira:
- As que vivem acima da termoclima, na área da termoclina, ou capazes de viver acima e abaixo
da termoclina, tais como Brachydeuterus auritus, Balistes capriscus, Trichurus lepturus.
Estudos realizados com técnicas de arrasto têm mostrado que os peixes demersais estão bem
espalhados na isóbata de 200 m ao longo de toda a costa angolana. Na área entre Luanda e
Cabinda, as principais espécies capturadas, por ordem de domínio, foram o roncador de olhos
grandes (Brachydeuterus auritus), o espada lírio (Trichiurus lepturus), o tico-tico (Pagellus
bellottii), e outras espécies de bicas (Dentex spp., Miracorvina angolensis, Umbrina spp.) e meros
(Epinephelus spp.).
Uma outra espécie de peixe explorado comercialmente em águas de mar profundo do norte de
Angola é o Merluccius polli, que surge em águas da plataforma, principalmente a norte de 12º S .
Segundo os resultados da campanha de investigação dos recursos demersais, em 2004, na zona
norte foram capturadas 106 famílias, abarcando 255 espécies e uma biomassa de 19.399 kg e, na
zona centro capturaram-se 90 famílias, abarcando 194 espécies e uma biomassa de 37.998 kg.
Este relatório aponta como consideração uma depleção de forma geral dos mananciais
pesqueiros.
Dentre as espécies pelágicas, a Trachurus trecae ea T. Capensis, eram apontadas como sendo o
maior recurso encontrado, distribuindo-se a primeira ao longo de quase toda a costa, e a segunda,
uma espécie sub-tropical, encontrando-se principalmente no sul de Angola (Figura 13).
A Sardinella aurita é outro recurso muito importante. Está largamente distribuída pelo Atlântico
Centro-Oriental, especialmente na área de importante upwelling. Angola representa o limite sul da
sua distribuição (Figura 13A Sardinella maderensis tem uma área de distribuição muito similar à
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da S. aurita, apesar de ser mais costeira e mais eurihalina. Também é mais importante na parte
norte do país. As migrações sazonais parecem ser semelhantes às da S. aurita.
Outras espécies pelágicas importantes são Engraulis encrasicolus e a Sardinops ocellata. Esta
última é originária das águas mais temperadas da Namíbia que tem como limite norte o Banco da
Baía dos Tigres.
O atum voador (Thunnus albacares) e o atum patudo (Thunnus obesus) são as espécies de
peixes pelágicos de grande porte mais importantes, no que respeita a capturas na costa angolana.
Estas espécies efectuam grandes migrações com distribuições transoceânicas e, permanecem
numa mesma área durante longos períodos. O atum voador capturado em Angola faz parte de
uma população Atlântica que desova no Brasil e no Golfo da Guiné e que migra para a zona este
do Atlântico Equatorial no Verão Austral. O atum patudo faz parte de uma população do Atlântico,
cuja distribuição principal se estende do noroeste de África até ao sul de Angola.
A seguir se apresenta a lista dos peixes ósseos incluídos em categorias de conservação e que
ocorrem em águas angolanas.
Existem referências sobre a presença e nidificação das seguintes tartarugas marinhas na costa de
Angola.
• Tartarugas-marinhas
Lepidochelys olivacea
Lacunas de informação
Não existem dados actualizados e que cubram as águas e os territórios de nidificação que
permitam proceder a uma avaliação sistemática e de conjunto das populações das diferentes
espécies.
Três das cinco espécies de tartarugas marinhas constam da lista da IUCN das espécies em risco
de conservação. As principais razões para a extinção são a captura acidental em redes de pesca,
a redução de habitats de desova e a destruição dos ninhos.
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Das aves presentes perto da costa incluem-se os falaropos, gaivotas e gaivinas. É possível que o
falaropo-de-bico-grosso (Phalaropus fulicarius) ocorra, pois tem sido registado a sua presença ao
longo da costa da África Ocidental (Senegal e Camarões) e ao longo da costa da Namíbia. A
gaivota-de-asas-escuras (Larus fuscus) ocorre a norte de Luanda, onde vários registos sugerem
encontrar-se presente de Agosto a Maio. A gaivota-dominicana (Larus dominicanus) não tem sido
registada a norte de Luanda. Já a gaivota-de-Sabine (Larus sabini) ocorre perto da costa e em
praias arenosas a sul de Luanda.
As gaivinas são o grupo mais abundante que ocorre ao longo da costa angolana, com várias
espécies de reprodução Paleárticas, duas espécies de criação da África Ocidental/Paleárticas,
uma espécie de criação da África Ocidental e uma espécie de criação da África Austral como
visitantes regulares. As gaivinas-pequenas (Sterna albifrons) reproduzem-se no Paleárctico e
Mauritânia, Senegâmbia, Gana, Nigéria e Camarões, deslocando-se para o sul em pequenos
números ao longo da costa em Setembro e regressando em Março. A gaivina-real (S. maxima)
reproduz-se em cinco localidades na Mauritânia e Senegâmbia, emigrando na estação de não-
criação, ao longo da costa, até à cidade do Namibe em Angola. As gaivinas-de-Damara (S.
Balaenarum) reproduzem-se na costa da Namíbia (possivelmente ao Norte da foz do Rio Cunene
em território angolano) e deslocam-se para Norte para passar a estação de não-criação (Abril-
Setembro), ocorrendo na costa de Cabinda em passagem para o norte em Maio e para o Sul de
Agosto a Setembro..
A gavina-preta (Chlidonias niger) é uma espécie vulgar ao longo da costa de Angola, desde
Cabinda até ao Tômbwa. Bandos de até 200 aves foram registados em Luanda, entre meados de
Agosto até aos princípios de Abril
Um aspecto de grande importância, prende-se à Ilha dos Pássaros e Ilha da Cazanga, a 8 kms a
sul de Luanda, pois albergam um dos mais importantes pontos de nidificação de diversas
espécies de garças do paíse a parte sul de Angola (Baía dos Tigres) alberga importantes colónias
como possível área de nidificação do corvo-marinho-do-cabo (Phalacrocorax capensis), corvo-
marinho-de-face-brancas (P. carbo) e pelicano-branco (Pelecanus onocrotalus)
Eis a lista das aves que ocorrem ao logno da costa Angolana e que estão consideradas como em
risco de conservação.
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No caso do penguim do Cabo são necessárias medidas que vão desde a pesquisa (determinar e
monitorar tendências de mudança) até à protecção de habitats e a reintrodução quando estiverem
reunidas as condições de protecção.
Historicamente, a costa ocidental da África, ao sul do equador era uma das áreas de pesca à
baleia mais importantes do mundo, sendo explorada principalmente por navios de longo curso.
Contudo, os esforços de caça deslocaram-se para o sul, sugerindo que o recurso de baleias ao
largo das costas de Angola e da Guiné, ou estaria a decrescer, ou era somente disponível
intermitentemente. A operação de pesca à baleia baseada na costa em Cap Lopez, Gabão,
alvejava quase exclusivamente baleias de bossa. Durante as estações de 1949 e 1950, foram
capturadas respectivamente
dos Tigres, atingindo alguns indivíduos regiões a norte de Luanda em determinada altura do ano
(tempo frio.
Outros mamíferos aquáticos que se revelam em alguns estuários, são os manatins (Trichechus
senegalensis). A vasta distribuição do manatim que se estende desde o Senegal a Angola,
contrasta com o baixo nível de informação sobre a biologia da espécie, distribuição e localização
actual, particularmente em Angola onde frequenta fundamentalmente, senão exclusivamente,
águas interiores até às zonas estuarinas desde o Rio Longa para norte Para o caso dos
manatins (Trichechus senegalensis), reportados como tendo um grande valor sócio-económico e
cultural para as populações residentes nas proximidades dos seus habitats.Têm vindo a ser
usados continuamente como fonte de alimentação e produção de óleo, apesar do Anexo I da Lei
da Caça de Angola actualmente em vigor lhe conferir protecção total, constar da UICN Red List
(Lista Vermelha), como espécie vulnerável para extinção e, protegido pela Convenção sobre o
Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas.
Lacunas de informação
A Balaenoptera physalus é talvez a espécie mais em risco ocrrendo nas costas de Angola. Nas
últimas 3 gerações, em todo o mundo, o número de exempalrs diminui em 50 por cento. Com uma
distribuição cosmopolita, acredita-se – embora não existam dados comprovativos- que as
populações do Hemisfério Sul, outrora muito caçadas, estão hoje recuperando favoravelmente.
Uma segunda espécie em risco é o Manatim africano, já referido anteriormente, do qual
igualmente se sabe pouco.
Cerca de 10 mamíferos marinhos estão registados pelas Listas Vermelhas da IUCN como estando
em risco de conservação em Angola.
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2.2.2.1. Estuários
Os estuários são áreas costeiras estabelecidas pela desembocadura dos rios no mar e
abrangendo toda a área de intrusão de água doce e salgada, criando um sistema particular. Eles
retêm areia, argila e matéria orgânica morta da parte continental e do oceano. Muitos animais
encontram nos estuários alimentação na matéria orgânica suspensa e nas plantas verdes. Os
animais das regiões estuarinas incluem bivalves, camarões, caranguejos e peixes. Estes habitats
também suportam populações de aves que se alimentam dos inúmeros invertebrados e peixes,
algumas espécies de tartarugas, como a tartaruga do Nilo e tartaruga verde, e ainda são visitados
por mamíferos como os manatins nos rios em que estes se fazem presentes.
Os estuários apresentam níveis de salinidade variáveis que vão desde baixos a altos. As
profundidades são importantes nas mudanças de temperatura e mistura das águas. Os estuários
com águas rasas, tendem a ter maior variação de temperatura e salinidade.
A diversidade biológica, principalmente das espécies piscícolas, tende a reduzir-se do mar para o
rio, já que poucas são as espécies de água doce que suportam as condições ambientais extremas
existentes nos estuários. No entanto, muitas espécies de peixes marinhos utilizam os estuários
como locais de viveiros de reprodução.
Dos sistemas mais significativos ao longo da costa de Angola, destacam-se o do Rio Congo, Rio
M´bridge, Rio Dande, Rio Kwanza, Rio Longa, Rio Cuvo e Rio Cunene. Há que frisar que o Rio
Congo possui o sistema de estuário mais extenso e mais complexo de todos os sistemas fluviais
que correm para o oceano Atlântico.
2.2.2.2. Mangais
Em Angola, os mangais representam cerca de 0,5% da fitocenose total (Azevedo, 1970), com
aproximadamente 1250 km² (Booth, et al., 1994), localizando-se a maior concentração no estuário
do Rio Congo a norte de Angola e no estuário do Rio Kwanza.
Florestas de mangal estão bem desenvolvidas em Cabinda, nas reentrâncias profundas da Baía
de Chicamba e no estuário do Rio Chiloango. Eles também ocorrem na pequena Baía por trás da
Ponta Malembo e perto da cidade de Cabinda. A maior extensão de mangais angolana encontra-
se na margem Sul do estuário do Rio Zaire. Existe uma faixa contínua de mangais com um
comprimento de 35 Km e uma largura de 13Km cobrindo cerca de 27 300 ha. Da foz do Rio Zaire,
a costa arenosa prolonga-se na direcção Sudeste e não tem mangais excepto nos estuários dos
Rios Lucunga, M'Bridge (, Sembo, Loge, Uêzo , Onzo , Lifune , Dande e Bengo/Zenze.
Os mangais também ocorrem ao longo do litoral Baía de Mussulo que é protegida da influência do
mar aberto pela Restinga as Palmeiras. A Sul da Baía de Mussulo mangais ocorrem somente nas
fozes dos Rios Kwanza , Longa , Cuvo , Cambongo, Cubal e Balombo. A formação de mangais na
foz do Rio Catumbelo, entre Lobito e Benguela, marca o limite meridional da sua ocorrência na
costa do Oeste Africano. Os mangais na costa de Angola pertencem á zona florística do Atlântico
oriental, neles ocorrendo as seguintes espécies:
Rhizophora racemosa
Rhizophora harrisonii
Rhizophora mangle
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Avicennia nitida
Laguncularia racemosa.
As praias arenosas são estreitas parcelas de areia que se estabelecem entre o mar e a terra. Ao
longo da costa angolana, estas são de origem marinha e continental, existindo secções extensivas
de praias que normalmente não são mais do que cerca de 100 m de largura e relativamente
íngremes, com uma grande expressividade na região norte, desde Cabinda até Benguela, e em
quase toda a extensão do Namibe até à foz do rio Cunene.
Somente acima do nível máximo da maré-alta (em cristas de praia de 1 -5 m) ocorrem plantas
com uma caracterização típica de espécies herbáceas rizomáticas e prostradas tais como a
Ipomoea stolonifera, Ipomoea pescaprae, conhecida pelas suas folhas alucinogénicas, a
Canavalea rosea, Canavalia maritima, Cyperus maritimus, Alternanthera maritima e a Scaevola
plumieri. Em dunas baixas, cobertas por vegetação densa e baixa, a Chrysobalanus icaco e a
Dalbergia ecastophyllum encontram-se frequentemente presentes (Prins, Reietsma & Zieren,
1989).
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As praias rochosas existem onde o efeito das ondas no contorno do litoral é principalmente
erosivo, transportando os materiais inconsolidados e deixando as rochas expostas. De notar que,
onde há declive, há variedade de meios habitáveis: praias expostas, penhascos protegidos, poças
de maré, areia dentro de fissuras ou sob seixos.
Ao longo da costa de Angola faz-se sentir uma maior distribuição de praias rochosas, a partir da
região do Sumbe até à cidade do Namibe. Para norte da cidade de Luanda encontramos as praias
rochosas da Barra do Dande.
O oceano aberto estende-se para trás da área costeira e pode ser dividida em diferentes áreas.
Assim, encontramos até à profundidade de aproximadamente 200 m a Plataforma Continental;
entre o declive da plataforma continental e grandes profundidades (aproximadamente 3500 m),
encontramos o Talude Continental; na região acima desta profundidade encontramos a área
Abissal (Figura 11 e 12). Ao longo do espelho de água encontramos a zona nerítica que cobre a
plataforma continental, com a área epi-pelágica que fica perto da superfície e mesopelágica ao
meio. E a oceânica que se estabelece além da plataforma continental, compreendendo uma zona
eufótica que se estabelece até à penetração da luz solar na coluna de água e cobrindo a área
batipelágica e abissal-pelágica. Sobre estas últimas áreas, muito pouca ou quase nenhuma
informação está disponível para as águas territoriais angolanas.
Sabe-se que a riqueza hidrológica de Angola está associada a um enorme leque de diversidade
biológica. Al maior parte dessa biodiversidade foi sendo tratada ao longo das secções anteriores.
Trataremos aqui apenas dos peixes das águas interiores e dos anfíbios.
Ao longo do curso médio do Rio Cunene e próximo da sua confluência com o Rio Calanga,
ocorrem extensas planícies de inundação (“as planícies de Cunune”). Durante a estação chuvosa
podem ser inundadas áreas superiores a 150 000 ha em cerca de 150 km ao longo do rio e com
uma largura máxima de 15 km.
Estreitas planícies de inundação ocorrem ao longo do curso médio do Rio Cubango entre as
latitudes 15º05' - 16º03'S. As planícies de inundação mais vastas são conhecidas como Mulola
Chioca/Mulalo Camondo e Mulola Lueque/Malalo Cune com uma largura máxima de 3 km.
As maiores planícies de inundação ocorrem no Rio Cuando, ao longo da fronteira com a Zambia.
No pico de inundação, são cobertos pela água mais de 200 000 ha numa largura de cerca de 15
m. Imediatamente antes da confluência com o Cuando, o Rio Luiana atravessa um grande
pântano de 40 km de comprimento e de mais de 16 km de largura que atinge uma área de
40 000 ha na estação chuvosa.
43
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
O Rio Kwanza drena uma bacia de 145.917 km2. Na confluência dos rios Luando e Kwanza
próximo de Jimbe na província de Malanje existem extensas planícies de inundação,
principalmente no rio Luando. Extensas planícies de inundação costeiras e lagoas ocorrem nos
rios Bengo, Kwanza e Longa. Uma lagoa de 19 km de comprimento ocorre no rio Bengo
imediatamente a montante do seu delta. Existem vários lagos no baixo Kwanza, o maior dos quais
sendo o Lago Negolame.
Vastas zonas húmidas ocorrem na região central do interior de Angola. Esta área pantanosa é
drenada por cerca de 25 rios que fluem principalmente para o este em direcção ao rio Zambeze.
Entre estes dois rios (os rios Chemfumgage e Luena) ocorrem vários lagos num pântano extenso
no Parque Nacional da Cameia.
44
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
45
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
2.2.2.8.1. Peixes
Angola possui uma variedade enorme de espécies de peixes que estão distribuídas pelos vários,
rios, riachos, lagos, lagoas, e albufeiras. Essa biodiversidade fornece uma base para actividades
de aquacultura que, para além do interesse económico, permitem reduzir a pressão sobre os
ecossistemas naturais.
As espécies de maior cultivo, e de maior valor comercial, são as várias espécies de Cacusso
(família Tilapia), várias espécies de Bagre, Clariallabes platyprosopos (Família Clariidae) e da
Tukeya, nome dado as espécies de peixe miúdo, da região do Cassay, englobando as seguintes:
Barbus viviparus, Barbus puellus, Aplocheilichthys gohnstonii e Pelmatocromis-ruweti. Esta
variedade de peixe é encontrada na região das Anharas alagáveis das linhas hidrográficas do
Luena e do Chifumaje, que se transformam periodicamente em zonas piscatórias.
A pesca da tuqueia, a par da contribuição importante que presta a alimentação das populações,
daquela zona e das zonas limítrofes, constitui uma considerável fonte de receita comercial
Referenciando enorme variedade, de espécies que Angola possui, nos rios Cunene, província do
Cunene), Cuangar (província do Kuando Kubango), Cutato, Cuito, Kwanza, (Bié) estão
identificadas algumas espécies como o Langbeard Barb. (Barbus unitaeniatus) ou o Barbes
bifrenatus, o Barbus brevidorsalis, Barbus Thamalakanansis, Shorthead Barb (Barbus brevicep),
Barbus barotseensis Pellegrin, Barbus Lineoxmaculatus.
Na província do Moxico, rios, Cuito, Luando, Lungue Bungo, e Luena, estão identificadas as
seguintes espécies, Family Kneriidae (Kneria polly Trewavas), Familia Genus Mormyros
(Mormyrus Lacerd) outras por identificar, é recomendável, fazer um levantamento das mesmas.
Nas províncias do Kuando Kubango, e Cunene rios Cubango, Cuangar, Lomba, Luengue, e
Cunene, encontram-se as seguintes espécies Cubango Kneria (Parakneria fortuita)
Petrocepphalus catostoma, Polimyrus castelnani, Hemgrammocharax multifasciatus,
Hemigrammocharax pellegrin. Ë recomendável o levantamento das várias espécies.
Nas províncias do Planalto Central rios Kwanza, Lucala, Longa, Cutato, Cunhinga, as espécies
destes rios são na sua maioria idênticos aos dos rios, Cubango Cuangar, Lomba e Cunene.
2.2.2.8.2. Anfíbios
Não existem estudos completos e actualizadas que cubram todo o território angolano no domínio
da diversidade de anfíbios. Foram até à data identificados 99 diferentes espécies espécies. As
seguintes 19 são consideradas endémicas.
Kassina 2 -
Leptopelis 8 3
Breviceps 2 -
Phrynomantis 7 1
Silurana 1 -
Xenopus 4 -
Afrana 1 -
Amnirana 4 1
Aubria 1 -
Hildebrandtia 2 -
Hoplobatrachus 1 -
Ptychadena 15 -
Pyxicephalus 1 -
Tomopterna 4 -
Chiromantis 1 -
Total 99 19
Fonte: Global Amphibian Assessment-World Conservation Union, 1999
2.2.2.8.3. Répteis
Outras espécies de répteis associados a ambientes aquáticos e presentes nos principais estuários
desde Cabinda à foz do Rio Cunene, são os crocodilos (Crocodylus niloticus) e as tartarugas do
Nilo (Trionyx triunguis). Esta última, foi reportada para a região da foz do Rio Cunene em 1996,
com uma população estimada em três (3) animais por quilómetro.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
CAPITULO III
48
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Políticas sectoriais foram desenvolvidas pelo Governo de Angola para a protecção ambiental. O
Plano Nacional de Gestão Ambiental é um dos principais instrumentos do Ministério do Urbanismo
e Ambiente para a gestão da Diversidade Biológica. Outros documentos cujos objectivos estão
directamente ligados à protecção e gestão da Diversidade Biológica são o Programa de Educação
e Consciencialização Ambiental (PECA), a Estratégia de Combate à Pobreza (ECP) e a Política
Nacional de Águas.
a) Não existe ainda uma Estratégia Nacional para a Gestão dos recursos naturais. que forneça
uma visão clara, integrada e compreensiva das prioridades na gestão da biodiversidade.
Existem cinco Convenções globais que dizem respeito directo à biodiversidade, a saber:
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Cada uma destas Convenções fornece instrumentos de trabalho específicos, mas todas elas
actuam de forma complementar e reforçando-se mutuamente. Assim, é importante que o conjunto
das Convenções sejam assinadas e ratificadas.
A relação da República de Angola com cada uma destas Convenções globais é desenvolvida nos
tópicos seguintes.
A Convenção sobre a Diversidade Biológica – CDB é um acordo entre a vasta maioria dos
governos do mundo para conservar a diversidade biológica , usar racionalmente os seus
componentes e assegurar uma justa e equitativa partilha dos benefícios do uso dos recursos
genéticos.
Esta Convenção foi aprovada por Angola através da resolução nº 23/97, de 4 de Junho e
publicada no Diário da República nº 32, I Série. A ratificação por parte de Angola teve lugar a 1 de
Abril de 1998.
Angola assinou ainda o Acordo sobre Recursos Genéticos que reconhece o direito dos Estados à
conservação e uso dos seus recursos biológicos e genéticos.
A Convenção tem como objectivos a protecção de espécies migratórias e dos seus habitats, bem
como a cooperação internacional relacionada com as espécies catalogadas em perigo de
extinção.
Angola não assinou nem ratificou a Convenção mas subscreveu um Memorando de Entendimento
respeitante às Tartarugas Marinhas da Costa Atlântica de África.
50
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
O Memorando de Entendimento para protecção das Tartarugas Marinhas da Costa Atlantica de Africa
foi estabelecido sob os auspícios da CMS (Convenção para a Conservação das Espécies Migratórias
da Fauna Bravia) e tornou-se efectiva desde 1 de Julho de 1999. O propósito do Memorando é
proteger as seis espécies de tartarugas marinhas cujas populações se estima estarem descrescendo
devido à exploração excessiva (acidental ou intencional) e à degradação dos habitats de que
dependem para se alimentar e desovar. Pretende-se ainda proteger os corredores de mirgação
reconhecidos ao longo dos 14 mil quilómetros de costa separando Marrocos da República da África
do Sul. As espécies de tartarugas são descritas no Capítulo III do presente Relatório.
A Convenção de Ramsar ou das Zonas Húmidas tem como objectivo prevenir a perda actual e
futura das áreas de pântano, charcos, turfas ou águas, naturais ou artificiais, permanentes ou
temporárias, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo áreas de água
marítima com menos de seis metros de profundidade.
Foi adoptada em 1971 na Cidade de Ramsar, Irão. Angola não assinou nem viabilizou a sua
adesão a esta Convenção.
Apesar de Angola ter assinado e ratificado esta Convenção a 7/11/99 o país não apresentou
nenhuma proposta para um Local de Património Mundial.
Angola pode e deve identificar locais cujo património ambiental ou cultural e cujo valor
internacional justifique a adopção de medidas particulares de valorização e protecção. Para além
de assumir responsabilidades particulares na conservação destes locais, Angola pode candidatar-
se a fazer parte de programas regionais e internacionais e beneficiar de apoios especiais para
este fim. O quadro seguinte ilustra o número de locais já definidos com sendo parte do Património
Mundial para cada um dos países da África Austral.
Namíbia 0
Swazilândia Não assinou a Convenção
A Convenção sobre o Combate à Desertificação nos Países afectados por seca grave e/ou
desertificação, particularmente em África, abreviadamente (CCD), foi adoptada em Paris, em 16
de Junho de 1994. Angola aprovou a adesão a esta Convenção pela Resolução nº 12/00, de 5 de
Maio e publicada no Diário da República nº 18, I Série.
Esta Convenção foi aprovada na República de Angola pela Resolução nº 13/98 de 28 de Agosto,
da Assembleia Nacional e publicada no Diário da República nº 37, I Série. Angola ratificou esta
Convenção A 17 DE Maio de 2000.
Esta Convenção foi ratificada por Angola através da resolução nº 17/90, de 6 de Outubro e
publicada no Diário da República nº 44, I Série.
Esta Convenção tem como objecto o estabelecimento de uma ordem jurídica para os mares e
oceanos que promova os usos pacíficos dos mares e oceanos, facilite a utilização equitativa e
eficiente dos seus recursos, para além da conservação dos recursos vivos e o estudo, da
protecção e a preservação do meio marinho. A Convenção dá um especial enfoque à
problemática referente à conservação dos recursos vivos.
A MARPOL 73/78 tem por objectivo principal a prevenção da contaminação do mar, cobrindo os
aspectos relativos à poluição proveniente de navios, salvo aquela por alijamento e resultante da
exploração e aproveitamento dos recursos minerais do fundo marinho, matérias reguladas pela
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Foram aprovadas pela Assembleia Nacional as Convenções Internacionais indicadas abaixo e que
têm relevância para a protecção da poluição marinha por hidrocarbonetos e por substâncias
nocivas potencialmente perigosas.
53
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
A intervenção a nível regional, quer sejam por via de acordos bilaterais ou de adesão a protocolos
comuns, são importantes porque grande parte da biodiversidade diz respeito a áreas geográficas
transfronteiriças e vias de migração que afectam toda a região austral.
Acordos existem ainda entre Angola e o Botswana para o uso partilhado dos recursos hídricos da
bacia hidrográfica do Rio Okavango. Foi criada uma comissão permanente, designada por
OKACOM, composta por representantes dos dois países que controlam a implementação deste
acordo.
Protocolos da SADC
De acordo com a SADC a República de Angola ratificou este Protocolo em 1 de Abril de 2003,
mas o texto deste Protocolo não foi ainda publicado em Diário da República. O Protocolo tem
como objectivo promover o aproveitamento responsável dos recursos aquáticos vivos e seus
ecossistemas de interesse dos Estados Parte com o fim de: a) promover e melhorar a segurança
alimentar e a saúde humana; b) salvaguardar os sistemas de vida das comunidades pesqueiras;
c) criar oportunidades económicas para os nacionais na região; d) garantir que as gerações
futuras beneficiem destes recursos renováveis e aliviar a pobreza.
Este Protocolo aplica-se às seguintes áreas: a) aos recursos aquáticos vivos e ecossistemas
dentro da jurisdição dos Estado Partes; aos recursos aquáticos vivos dos Estados Partes, cujo
raio se estende para além das áreas sob sua jurisdição pesqueira, ou os recursos do alto mar que
poderão ser considerados como de interesse do Estado Parte; b) às actividades piscatórias dos
nacionais dos Estados Parte, e às actividades a que estão directamente relacionados; e c) às
actividades internacionais fora da SADC, que promovam os objectivos do presente Protocolo.
A Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos recentemente aprovada está em consonância com este
Protocolo.
A República de Angola assinou este Protocolo em 18 de Agosto de 1999, mas até à presente data
o mesmo não foi ainda ratificado.
Este Protocolo aplica-se à conservação e ao uso sustentável dos recursos da fauna, exceptuando
os recursos florestais e pesqueiros, e tem como objectivos o estabelecimento na Região e no
quadro das respectivas leis internas de cada Estado Parte, abordagens comuns da conservação e
do uso sustentável dos recursos relativos à fauna e apoiar na aplicação eficaz das leis inerentes.
O Protocolo tem como objectivos específicos: a) promover o uso sustentável da fauna; b) facilitar
a harmonização dos instrumentos jurídicos inerentes ao regulamento do uso e da conservação da
fauna; c) promover a aplicação das leis inerentes à fauna entre os Estados Partes; d) facilitar a
troca de informações concernente à gestão, ao uso e à aplicação das leis relativas à fauna; e)
54
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
apoiar na formação de técnicos nacionais e regionais para a gestão da fauna e da aplicação das
leis relativas à fauna; e) promover a conservação dos recursos faunísticos comuns, através da
criação de áreas interfronteiriças de conservação; f) facilitar a prática de gestão comunitária dos
recursos naturais relativos à fauna.
A República de Angola assinou aos 3 de Outubro de 2002, mas ainda não o ratificou.
A República de Angola assinou este Protocolo aos 7 de Agosto de 2000, mas ainda não o
ratificou.
• Constituição da Republica
55
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
ambiente”. A Constituição prevê que leis especificas venham a criar as “bases do sistema de
protecção da natureza, do equilíbrio ecológico e do património cultural.” O mesmo Artigo 90
considera relevante “a protecção da diversidade biológica”.
Está em curso um processo de revisão da Lei Constitucional que pode vir a alterar o quadro
constitucional da protecção diversidade biológica.
O Decreto sobre a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) regula o Artigo 16º da Lei de Bases do
Ambiente que estabelece que a AIA é um dos principais instrumentos de Gestão e Protecção
Ambiental.
O Anexo ao Decreto indica os projectos que estão sujeitos a uma Avaliação de Impacto
Ambiental. Estes projectos incluem: 1 – Agricultura, Pescas e Florestas; 2 – Indústria Extractiva; 3
– Indústria de Energia; 4 – Fabrico de Vidro; 5 – Indústria Química; 6 – projectos de infra-estrutura
e 7 – Outros Projectos.
Uma outra lei importante que dá cobertura geral à protecção ambiental é a Lei do Ordenamento
do Território e do Urbanismo – Lei n.º 3/04 de 25 de Junho
Os Decretos n.º 40.040 de 20 de Janeiro de 1955 e Decreto n.º 44.531 de 21 de Agosto de 1962
aprovam o Regulamento Florestal e regulam a exploração de produtos florestais. Estas decretos ,
datados do tempo colonial, são posteriormente actualizados pelos seguintes decretos: A)
Decretos Executivo Conjunto n.º 26/99 de 27 de Janeiro, dos Ministérios das Finanças e da
Agricultura e Desenvolvimento Rural, determinando o exercício da actividade e exploração
florestal deve estar sujeito a normas de ordenamento florestal; B) Despacho n.º 149/00 de 7 de
Julho, do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, actualizando as normas de emissão
de licenças de exploração florestal
O Decreto n.º 40.040 de 20 de Janeiro de 1955 regula a protecção da fauna selvagem terrestre e
define uma lista dos animais cuja caça é proibida – (mamíferos, espécies de aves e répteis). Mais
detalhes para o controle e punição de infracções e actualização das lista de animais interditos ou
sujeitos a defesa foram definidas nos Decreto Executivo Conjunto n.º 36/99 de 27 de Janeiro de
1999, dos Ministérios das Finanças e da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e no Decreto
Executivo Conjunto n.º 37/99 de 27 de Janeiro de 1999 dos Ministérios das Finanças e da
Agricultura e do Desenvolvimento Rural.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
A Lei n.º 6-A/04 de 8 de Outubro, dos Recursos Biológicos Aquáticos (LRBA), acolhe princípios da
Lei de Bases do Ambiente e também de Instrumentos Internacionais como a Convenção sobre a
Diversidade Biológica, a Convenção sobre o Direito do Mar e o Protocolo da SADC sobre as
Pescas. Define competências junto ao Ministro das Pescas para fixar as capturas totais
admissíveis das pescarias e para estabelecer as medidas necessárias à preservação das
espécies de recursos biológicos aquáticos e para prevenir praticas e métodos de pesca que sejam
danosos para os recursos biológicos e ecossistemas aquáticos.
• Áreas de Protecção
Este Decreto foi a primeira legislação sobre a conservação da natureza e sobre o estabelecimento
de áreas protegidas. O Decreto cobre aspectos relativos à protecção do solo, fauna e flora,
estabelecimento de parques nacionais, reservas naturais e áreas protegidas de caça.
Este Diploma refere que com base no Decreto n.º 40.040 de 1955, foram criados os Parques
Nacionais da Quiçama, Cameia e de Porto Alexandre, por transformação das reservas de caça.
Estabelece as bases gerais do regime jurídico das terras integradas na propriedade originária do
Estado, os direitos fundiários que sobre estas podem recair e o regime geral de transmissão,
constituição, exercício e extinção destes direitos.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
conservação, acesso e uso devem visar o seu uso sustentável, com o fim de contribuir para o
desenvolvimento sustentável
Decreto n.º 40.040 de 20 de Janeiro de 1955 - estipula entre outras coisas que «as espécies
exóticas só poderão ser introduzidas nas águas interiores e nas áreas de protecção com
autorização do Governo».
Diploma Legislativo n.º 2.873 – Regulamento de Caça – estabelece que «nos parques
nacionais e nas reservas naturais integrais, é proibido introduzir espécies exóticas» (art. 19º/i).
Aprova o regulamento sanitário da República de Angola que tem como objectivo a fiscalização das
medidas de ordem sanitárias integradas nas actividades gerais de saúde pública, com vista à
promoção da saúde das populações, o saneamento do meio ambiente em particular dos
aglomerados humanos, recintos públicos e das habitações.
Decorre dos Decretos de Concessão que aprovam os Contratos de Partilha de Produção (PSA –
Production Sharing Agreements), a obrigação de «controlar e combater situações de poluição
causadas pelas operações petrolíferas». No domínio da poluição.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Decreto Executivo que aprova o Regulamento dos Procedimentos sobre a Gestão, Remoção e Depósito de
Desperdícios – Dec. Ex. n.º 8/05 de 5 de Janeiro
Este Decreto Executivo aprova o Regulamento dos Procedimentos sobre a Gestão, Remoção e
Depósito de Desperdícios na actividade petrolífera, concretizando o artigo 9º do Dec. n.º 39/00.
Este Decreto Executivo aprova o Regulamento dos Procedimentos sobre a Gestão, Remoção e
Depósito de Desperdícios na actividade petrolífera, concretizando o artigo 9º do Dec. n.º 39/00.
Este Decreto Executivo aprova o Regulamento que tem como objecto a definição e uniformização
dos procedimentos de notificação da ocorrência de derrames a ser prestada ao Ministério dos
Petróleos pelo operador e por outras empresas petrolíferas (art. 1º).
Decreto Executivo que aprova o Regulamento dos Procedimentos sobre a Gestão de Descargas
Operacionais no decurso das Actividades Petrolíferas – Dec. Ex. n.º 12/05 de 12 de Janeiro
Este Decreto Executivo aprova o Regulamento dos Procedimentos sobre a Gestão de Descargas
Operacionais no decurso das Actividades Petrolíferas implementando o artigo 10º do Decreto n.º
39/00.
A Lei nº14/04, de 28 de Dezembro de 2004 que aprova o programa do Governo para o Biénio
2005/2006, contempla projecto de preservação ambiental, conservação, exploração de florestas e
elaboração de políticas e estratégia nacional do ambiente.
O Plano Nacional de Contingência contra Derrames de Petróleo é uma aplicação do artigo 19º/2
da Lei de Bases do Ambiente – Lei n.º 5/98 que estipula que o Governo deve fazer publicar e
cumprir legislação de controlo da produção, emissão, depósito, transporte, importação e gestão de
poluentes gasosos, líquidos e sólidos e do artigo 14º do Decreto n.º 39/00 que estabelece a
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Para o presente Estudo, a análise dos Organismos da Administração Central do Estado, Institutos
Públicos, Universidades/Faculdades, Institutos de Investigação Científica e Organizações Não
Governamentais e da sua capacidade em recursos humanos, foi feita por abordagem selectiva.
3.5.1.1. Ministérios
Está prevista a criação de dois importantes Institutos para a protecção da Diversidade Biológica e
Ambiente, nomeadamente
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
No entanto estes institutos não estão ainda em funcionamento, estando-se na fase embrionária de
elaboração dos seus estatutos orgânicos. Para além destes dois institutos o Ministério do
Urbanismo e Ambiente conta ainda com os seguintes órgãos:
O Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural tem sob sua tutela uma série de institutos
responsáveis pela protecção e gestão da diversidade biológica.
61
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
• Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) que tem por objectivo
contribuir para a construção de um desenvolvimento democrático, sustentável, social,
ambientalmente justo.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
CAPÍTULO IV
CONSTRANGIMENTOS E AMEAÇAS
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Sendo reduzida em relação à superfície do país, a população de Angola está crescendo de forma
progressivamente acelerada. Actualmente, a taxa de crescimento da população é de 3,0% ao ano,
uma das mais elevadas a nível do mundo. A taxa total de fecundidade, estimada em 7,2 crianças
por mulher, só é ultrapassada pelo Níger e pela Somália.
De igual modo, a actual baixa densidade populacional média não traduz uma notória dispersão na
distribuição espacial da população, com valores profundamente desiguais nas regiões urbanas,
costeiras e rurais. Assim, a densidade humana atinge o valor de 1.094,2 hab/Km2 em Luanda
onde se concentra cerca de 1/4 da população do país. As densidades costeiras são sensivelmente
maiores que as das zonas interiores.
A mobilidade populacional é um dado que influenciará a demografia angola nos próximos anos.
Mesmo com o final da guerra, prevê-se que as áreas urbanas continuem a crescer rapidamente
devido à sua actual estrutura demográfica.
Deve ser referido que, em Outubro de 2004, cerca de 65% dos deslocados internos encontrava-se
ainda em áreas de deslocamento (geralmente capitais de províncias). Cerca de 50% dos
deslocados encontra-se em províncias costeiras. Nas províncias do Bengo, Luanda e Benguela, a
população de deslocados chega a representar 26%, 13%, e 12% do total de habitantes,
respectivamente.
Desigualdades sociais reflectem-se na forma como uma larga maioria vive em condição de
pobreza e na forma não equitativa como os recursos estão sendo explorados. A pobreza cada vez
maior das comunidades do litoral e o rápido crescimento demográfico nas cidades ao longo da
costa angolana, estão também a contribuir para a destruição dos mangais, pela obtenção da lenha
e da pesca com recurso a dinamites e plantas venenosas em viveiros.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Angola é o país da África Austral com maior superfície e com uma das
menores densidades populacionais. Estes dados poderiam sugerir que a
pressão humana sobre os recursos é baixa o que, infelizmente, não é
completamente verdade. Os valores médios de densidades não dão indicação
das densidades reais em redor dos centros urbanos e zonas costeiras.
Densidade
País Área População
Populacional
(/km²) (km²)
Malawi 90 118,480 10,701,824
Lesotho 73 30,355 2,207,954
Swazilândia 65 17,363 1,123,605
Tanzania 39 945,087 37,187,939
Africa do Sul 36 1,219,912 43,647,658
Zimbabwe 29 390,580 11,376,676
Moçambique 24 801,590 19,607,519
Zambia 13 752,614 9,959,037
Angola 12 1,246,700 14.228.000
Botswana 2.7 600,370 1,591,232
Namibia 2.2 825,418 1,820,916
(Fonte – Wikipedia, dados estimados para 2002- ver nota 1)
Nota 1 – A Wikipedia indicava para Angola uma população estimada em 10,593,171. Assim o valor foi corrigido a
partir de fontes angolanas do Instituo Nacional de Estatisticas
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Apesar de Angola possuir um enorme potencial de biomassa florestal a área considerada como
floresta produtiva está estimada em 2.373.000h o que corresponde a cerca de 2% da área total do
país. Aproximadamente dois terços da floresta, situam-se nas províncias de Cabinda, Uige e
Zaire, registando-se nas províncias do Kwanza Sul, Kwanza Norte, Bengo a ocorrência de
ombrófilas nos terrenos de altitude, de 9 a 15 metros. Parte considerável da cobertura florestal do
país é constituída fundamentalmente por Savanas abertas com predominância de gramíneas.
Esta formação vegetal desempenha função social bastante importante para as comunidades
rurais no tocante ao fornecimento de energia doméstica, material de construção, alimentos, pastos
e outras manifestações culturais.
Calcula-se que 65% dos angolanos usam a madeira como fonte de energia, este consumo ocorre
principalmente nas imediações das concentrações urbanas resultado do crescimento demográfico
natural, quer da migração rural para urbano, embora que certamente a guerra tenha acelerado
este processo.
b) produção madeireira
Para além da produção de lenha e carvão, o abate para extracção de madeira é uma outra causa
do desmatamento. O corte anual permite 326.000 m3 por ano ???. A exploração madeireira em
Angola nos anos 70, atingiu volumes médios acima de 181.000 m3/ano, destacando-se o ano de
1973, em que o volume de exploração, situou-se acima dos 181.000 m3, o que ultrapassa a
capacidade de recuperação da floresta estimada em 120.000 m3. Nos últimos anos, a exploração
anual situa-se abaixo do 40.000 m3 tendo registado uma significativa decaída até situar-se na
média de 15000 / 20000 m3 ano.
c) queimadas
66
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
tanto por destruição directa como pelas interferências negativas no processo de regeneração dos
componentes dos solos.
Níveis preocupantes de caça furtiva tem atingido os mais importantes ecossistemas em Angola
centrando-se em especial em três grupos de mamíferos (Ungulados, Primatas e Carnívoros)
Embora não existam levantamentos actualizados, existem sinais dramáticos das consequências
desta pratica na redução das populações de animais. Em alguns dos parques nacionais e
reservas os mamíferos de grande, médio e pequeno porte tornam-se cada vez mais raros em
determinadas regiões.
As espécies mais sujeitas na caça para o consumo de carne são de um modo geral o antílope, o
porco-espinho, o porco da mata, a pacaça, o gato bravo, o pangolim, variedades de primatas,
algumas aves e a jibóia.
No caso de Cabinda, muitas destas espécies assim como as duas dos grandes primatas Gorila e
Macaco são comercializadas ilegalmente nas fronteiras com os dois Congos, em virtude do
consumo destes não ser tradicional em Cabinda (Araújo, 2004). Os Elefantes são de um modo
geral caçados para fins comerciais (o marfim) mas há casos em que eles são caçados devido aos
danos que provocam as lavras, porém não há provas da caça maciça destes.
As crias de muitas espécies que é o caso dos Chimpanzés, dos Gorilas e especialmente de
Papagaios cinzentos (em Cabinda) são caçadas para fins comerciais e vendidos como animais de
estimação. Eles sofrem grande pressão porque a sua captura envolve a morte de muitos de seus
semelhantes.
A instabilidade vivida no País durante a guerra teve os seguintes efeitos nas espécies da grande
fauna:
a) A caça nas comunidades deixou de ser de subsistência como no passado, para ser comercial.
b) Não há selectividade do ponto de vista idade e sexo, nem período de defesa.
c) A migração forçada intra e extra territorial de algumas espécies, tendo como causa as
operações militares.
d) A pressão constante, a que estavam submetidos os animais, devido a caça incontrolada,
originou a alteração dos habitats.
A quase totalidade dos parques reservas e monumentos naturais estão sendo objecto de
processos de degradação intensiva e muitos deles não dispõem de nenhum sistema de controle e
gestão. Este assunto já foi referido com exaustão em outra secção do presente relatório.
Realizada sem que planos de desenvolvimento territorial nem Estudos de Impacto Ambiental
tenham sido traçados as práticas de extracção mineira podem ter efeitos negativos sobre o
ambiente, em particular, sobre os recursos hídricos vizinhos. Não existem estudos sobre a
gravidade e extensão deste problema em Angola mas os níveis de mineração justificam
preocupação e adopção de medidas de prevenção e rectificação.
67
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Nos rios, lagos e lagoas as espécies exóticas como o Jacinto de água podem provocar impactos
directos de redução da disponibilidade de ar, luz e oxigénio nos reservatórios naturais de água e
desencadear, em cadeia, processos de degradação dos ecossistemas aquáticos.
Deve ser sublinhado ainda que a Lei prevê a apresentação de planos de exploração da terra como
requisitos para a concessão. Entretanto não há capacidade institucional (técnica e administrativa),
para avaliação dos impactos ambientais decorrentes da actividade proposta nos planos de
exploração. O reassentamento de deslocados de guerra estima-se que milhões de hectares
venham a ser utilizados para o reassentamento da população. Mesmo que o reassentamento
ocorra em áreas previamente abandonadas, há um risco de degradação dos recursos naturais
(especialmente degradação dos solos e do coberto florestal e arbustivo) associado principalmente
a agricultura itinerante que inclui práticas de queimadas e remoção de vegetação. Cumpre
ressaltar que 50% dos deslocados encontram-se nas províncias costeiras (especialmente, Luanda
e Benguela). No interior as maiores concentrações encontram-se na província da Huila, Huambo,
Uige, Moxico e Malanje. Desses deslocados, uma parte deverá ser reassentada na própria
província, outra migrar para outras províncias vizinhas o restante vai permanecer nos locais de
deslocamento. Em 2003-2004 as províncias que receberam maior número de deslocados foram
Huambo, Uige, Moxico e Zaire. Se os maiores movimentos populacionais ocorrem em direcção ao
Planalto Central, os principais ecossistemas afectados serão eventualmente as Savanas Húmidas
e a Floresta Aberta.
A maior ameaça à diversidade biológica nas zonas costeiras de Angola parece ser a degradação
e redução de habitats, associada à sobre-exploração dos recursos biológicos.
68
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
O desenvolvimento costeiro, a rápida expansão das cidades, muitas das quais sem prévia
planificação e o aumento substancial dos detritos resultantes das actividades terrestres e
marinhas, originam os principais focos de poluição para os ecossistemas costeiros e marinhos.
Estes factores associados ao aumento substancial da exploração e produção de crude, bem como
o aumento do volume de petróleo transportado na região, poderão ter um impacto directo na
deterioração da qualidade da água. Assim, a existência de riscos significativos na contaminação
de áreas costeiras, potencialmente frágeis, bem como danos aos ambientes costeiros e recursos
migratórios, são de difícil prognóstico.
Os mangais são dos ecossistemas mais atingidos por esta expansão e sobreutilização.
Estes EIAS não asseguram, como é óbvio, que impactos e riscos de acidentes estejam ausentes
do funcionamento das actividades de extracção é transporte de petróleo. Alguns desses riscos
são:
Algumas petrolíferas operando em Angola incluíram nos seus estudos, modelos teóricos de um
eventual derrame. Estes estudos baseiam-se em dados sobre as correntes na área de exposição,
ventos e temperatura da água. De uma forma geral, os resultados mostraram existir uma grande
probabilidade deste contaminante chegar à costa, na direcção Sul-Norte.
69
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
A pesca semi-industrial e industrial têm lugar a partir de 2 milhas náuticas (3,7 km) da linha da
costa, estendendo-se até às 200 milhas náuticas. Esta pesca é realizada por médias e grandes
embarcações, com capacidade considerável de carga e detentoras de diferentes artes de captura.
Um dos aspectos impactantes, relacionado com a falta de uma gestão coesa e de uma
fiscalização, é a grande redução de stocks devido à sobre-exploração, principalmente de espécies
pelágicas e de alguns crustáceos. De salientar, que determinadas artes de pesca utilizadas quer
na pesca industrial, quer na semi-industrial, capturam acidentalmente numerosas aves e
mamíferos marinhos (golfinhos e lobos marinhos) que são atraídos pelo engodo do pescado.
• Pesca artesanal
A pesca artesanal ao longo da costa angolana é permitida por lei, numa área inferior a duas
milhas náuticas da linha da costa. Esta actividade está sujeita a restrições nos campos
petrolíferos. Tal limitação rege-se pelas cláusulas da Convenção Internacional da Lei do Mar,
reportada em 1994.
Uma dessas praticas é a pesca clandestina com explosivos. Este método, não apenas mata os
peixes presentes na área como também mata toda a comunidade biótica presente (ovos e larvas,
bem como outras espécies da fauna e flora marinhas), interferindo em grande medida na cadeia
alimentar dos diferentes organismos presentes.
• cobertura com redes de emalhar de acessos às zonas de mangal e de extensivas áreas nas
desembocaduras dos rios impedindo a entrada de peixes para desova;
• deposição de redes de forma paralela e junto à linha da costa impossibilitando a ascensão de
tartarugas à praia para desova;
• o uso do método long line fishing tem provocado a captura de numerosas espécies de aves
marinhas.
• Pesca recreativa
Esta pesca, geralmente é feita a poucas milhas ao largo da costa, sendo praticada com maior
frequência junto às grandes cidades do litoral (Luanda, Benguela e Namibe). É também
frequentemente praticada junto às fozes dos principais rios (ex: rio Kwanza) e sistemas lagunares
(ex: sistema lagunar do Mussulo).
Neste tipo de pesca são usadas, principalmente, embarcações de pequeno porte, sendo as artes
de pesca mais frequentes, o currico e o mergulho. Os seus praticantes são marinheiros e
70
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
4.3.4.Construção de salinas
Embora existam condições para a produção de sal em quase todo o litoral do país, actualmente
são as províncias de Luanda, Kwanza Sul, Benguela e Namibe as que maiores potencialidades
apresentam e as que mais produzem. De entre estas, pelas características técnicas necessárias à
produção de sal, maior radiação solar e menor pluviosidade, são as províncias de Benguela e do
Namibe as que se destacam. Existem em todo o país 22 salinas, algumas funcionando
normalmente, outras necessitando de recuperação, possuindo um potencial estimado de 82.000
toneladas por ano. A capacidade instalada para produção de sal por província é a seguinte:
Benguela-47.500 toneladas; Namibe-27.500t; Luanda-5.000t e Kwanza Sul 3.000t.
Tendo em conta os dados disponíveis (Ministério das Pescas, 2003) podemos afirmar que a
produção de sal evoluiu de 30.000 toneladas em 1996 para 47.000 em 2000, decaindo para
27.000 toneladas em 2001, devido às grandes quedas pluviométricas que ocorreram nesse
período.
4.3.5. Poluição
As áreas marinhas mais produtivas ecologicamente são, no geral, encontradas em águas calmas
e protegidas, locais ideais que também para o estabelecimento de portos e marinas. Estes
habitats costeiros, ricos biologicamente por serem locais de procriação de muitas espécies,
encontram-se actualmente entre os ecossistemas marinhos mais ameaçados do globo .
Um aspecto ligado aos portos, marinas e estaleiros navais prende-se com a introdução de
químicos no ambiente aquático. Um exemplo é a tinta anti-incrustrante – tributyltin (TBT)– usada
para manter os fundos dos navios isentos de lapas e algas. O TBT, lentamente vai vazando para o
mar, onde uma quantidade equivalente a uma aspirina poderá ser suficiente para matar todos os
organismos marinhos das redondezas.
71
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
CAPÍTULO V
GRAU DE CUMPRIMENTO
DOS PRINCÍPIOS DA CONVENÇÃO
72
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Neste capítulo avaliaremos como Angola tem cumprido com as directivas da Convenção.
Enunciaremos os artigos programáticos da CDB, comparando aquilo que está estipulado com as
acções realizadas no contexto angolano.
O artigo 7 da CDB estabelece as obrigações que cada país tem de conhecer o estado de
conservação dos componentes da biodiversidade e identificar os processos que concorrem para a
sua manutenção e para mudanças controladas e sustentáveis.
Cada Parte Contratante deverá, na medida do possível e conforme o apropriado, em especial para
o disposto nos artigos 8° a 10°:
Desde 1974, estudos da biodiversidade terrestre foram quase inexistentes. Contudo, foram
efectuados estudos específicos sobre uma espécie particular como a palanca preta gigante, a
73
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
A quase totalidade dos estudos efectuados foi dirigida maioritariamente às populações haliêuticas
de interesse comercial. Assim, o conhecimento global e integrante dos ecossistemas, habitats e
espécies marinhas é muito limitado.
ÁREAS PROTEGIDAS
O artigo 8 começa por definir um conjunto de recomendações para a definição e gestão de áreas
especiais de protecção (ver caixa a seguir)
(...) 74
A Republica de Angola estabeleceu um total de 12 548 000 hectares de áreas de protecção que
corresponde a 6.5 por cento do seu território. Este valor está dentro da faixa média da
percentagem das áreas de protecção em toda a África (média de 10 por cento).
Tabela- Área total de conservação por país e percentagem das áreas protegidas em relação à
superfície de cada território da Africa Austral
- Parques Nacionais
- Reservas Naturais Integrais
- Parques Regionais
- Monumentos Naturais
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Parques Nacionais
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Reservas Naturais
Monumentos Naturais
81
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
ilha de planícies de lama, com uma extensão de aproximadamente 2 km² que é inundada
em grande medida pelo efeito das marés. De notar, que nela afloram formações de
mangais e é um importante ponto de reprodução de aves aquáticas, bem como de
descanso e alimentação de muitas outras espécies migratórias. De momento, a Reserva
carece de qualquer programa de gestão e fiscalização e, é notória a presença humana na
recolha de mabangas (Arca senilis). O aumento crescente de actividades de lazer na Baia
do Mussulo também constitui uma ameaça séria para a reserva, dada a circulação de
inúmeras embarcações na área.
• Parque Nacional da Quiçama
Localizado a 70 km a sul de Luanda e ocupa uma extensão de aproximadamente 9.960
km² e inclui uma linha de costa equivalente a 125 km. A faixa costeira inclui extensas
escarpas elevadas e praias de areia isoladas. Esta costa é reconhecida como uma área de
nidificação para espécies de tartarugas marinhas, nomeadamente da tartaruga oliva
(Lepidochelys olivacea) e da tartaruga de couro (Dermochelys coriacea). O estuário do Rio
Kwanza marca o limite norte e o estuário do Rio Longa marca o limite sul do Parque. Ao
longo da costa é notório um elevado número de comunidades piscatórias (pesca artesanal)
que de uma forma ou de outra têm algum impacto sobre o meio, principalmente sobre a
desova de tartarugas.
Outros parques com áreas litorais são o Parque Natural Regional de Chimalavera e a Reserva
Parcial do Namibe
A quase totalidade áreas de conservação foram definidas no contexto colonial Seria necessário
requestionar as áreas actualmente proclamadas em relação às necessidades de conservação,
certificando se ecossistemas e habitats mais ricos e sensíveis estão realmente cobertas pelos
territórios formalmente protegidos.
A configuração, área e limites de alguns dos parques e reservas e a sua relação com as
comunidades vivendo dentro e nas imediações terá que ser revista nos contextos sociais e
políticos actuais e no quadro de uma estratégia nacional.
82
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
A quase totalidade das áreas de protecção estão em estado grave de abandono, sem
infraestruturais nem administração directa. Parques e reservas estão hoje ocupados por
populações humanas permanentes e são objecto de actividades de agricultura de corte e
queimada, pecuária, pesca e caça intensiva.
O critério que norteou a criação de parques e reservas em Angola foi a protecção de fauna de
grandes mamíferos, deixando em segundo plano a protecção de outros animais e flora.
É manifesta hoje a ausência de representatividade das áreas protegidas em termos dos principais
centros de endemismo. Verifica-se que apenas os biomas Karaoo-Namibe e Zambeziaco estão
representadas nas zonas de conservação existentes. O bioma Guineo-congolês, que compreende
a floresta densa e a floresta semi densa das províncias de Cabinda, Zaíre, Uige, e Kwanza Norte
e Kwanza Sul não está representado em nenhum parque ou reserva do país. O mesmo ocorre
com o bioma Afromontane, cuja floresta fria e húmida é de enorme interesse biográfico, e só
ocorre em pequenas manchas, isoladas em encostas protegidas das províncias do Huambo e
Benguela, Kwanza Sul e Huila.
Estudos realizados pela UICN em 1992 propõem a criação de 26 áreas protegidas, sendo 10
enquadradas como reservas integrais (que representariam todos os biomas do país) 6 como
parques regionais, e 10 como monumentos naturais (IUCN, 1992).
Um Relatório da UICN, elaborado em 1992, recomenda que uma legislação apropriada, seja
promulgada de acordo que as zonas de conservação existentes possam ser reclassificadas e a
criação de novas zonas possam ser estabelecidas. A área total ocupada por todas as zonas de
conservação em Angola, aumentaria de 68.100 km2 para aproximadamente 78.644 km2, um
incremento de 15,5% o qual elevaria a rede total de zonas de conservação para 6,3%, oferecendo
no entanto protecção a cerca de 90% da sua diversidade biológica. Este incremento em área teria
como resultado, a conservação de três Biomas e vinte e seis ecossistemas que não estavam
anteriormente incluídos dentro dos parques e reservas de Angola. Deste modo, Angola ficaria
dotada com zonas de conservação dos seus Biomas e Ecossistemas principais, uma situação que
seria única em qualquer parte de África
A situação de abandono e degradação é tão grave que se sugerem, com aplicação imediata,
medidas urgentes, a saber:
83
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
(...)
Aplicação em Angola
A protecção de ecossistemas e habitats tem tido pouca e dispersa realização em Angola. Mesmo
nos espaços formalmente dedicados à conservação essa protecção não está sendo efectiva como
se provou nas secções anteriores deste relatório.
Alerta também para a importação de espécies alienígenas que possam prejudicar equilíbrios
ecológicos e o património genético indígena.
Aplicação em Angola
Ecossistemas terrestres
84
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
substituição das variedades locais por variedades exóticas, a bio prospecção, a plantação de
variedades geneticamente modificadas.
Para evitar a contaminação das variedades locais e outros possíveis perigos, em Dezembro de
2004 foi publicado um Decreto do Conselho de Ministros para regular a importação e sementeira
de variedades de sementes GM. (DR 1ª Série No 100 de 14 de Dezembro 2004), pelo menos até
o desenvolvimento e implementação no país de um quadro nacional de biossegurança.
O plantio de Eucaliptos, espécie importada da Austrália, deve ser objecto de estudo e monitoria já
que extensas plantações estão ganhando terreno em diferentes regiões de Angola. É de salientar
a plantação de eucaliptos no planalto central (cidades do interior Huambo, Kuito e Malanje)
Espécies invasoras têm-se tornado comuns nos rios, lagos, lagoas e albufeiras. É o caso da
Eichornia crassipes (aguapé, jacinto d´água). Esta planta apresenta uma prodigiosa capacidade
de reprodução, e é considerada de infestante e nociva, porque obstrui os rios, lagoas e represas,
impede a navegação, a pesca, e altera o ecossistema aquático. Mas tem a parte positiva, que é
de servir de abrigo natural a organismos de vários tamanhos e aspectos, servindo também de
habitat para uma fauna bastante rica, desde microrganismos, moluscos, insectos, peixes, anfíbios,
reptéis até aves.
Angola como muitos países da região e do continente a expansão desta espécie, tem resultado
em sérios prejuízos económicos e de qualidade de vida para as populações que vivem próximo
dos rios e lagoas, dificultando o fornecimento de água, a pesca e a navegabilidade.
85
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Aplicação em Angola
Nos últimos anos foram iniciados alguns projectos pilotos de conservação da biodiversidade,
concentrando em espécies em perigo de extinção ou em perigo de desaparecer do território
nacional. Estes projectos incorporam na sua abordagem o princípio essencial de “o homem e a
biosfera”, a necessidade do envolvimento das comunidades locais em qualquer projecto de
conservação e utilização sustentável dos recursos biológicos.
Todos estes projectos realçam a importância do papel das comunidades locais na protecção
destas espécies e a necessidade das mesmas terem outras fontes de rendimento para substituir a
exploração de espécies em perigo. No caso da protecção das tartarugas foram entregues às
populações das localidades de nidificação galinhas poedeiras para evitar o consumo dos ovos das
tartarugas.
Na floresta do Maiombe foram entregues cabritas e ovelhas de criação a cada família da zona
piloto de criação para substituir a caça furtiva de mamíferos selvagens da floresta.
O artigo 8 da CDB prevê finalmente que os países signatários adoptem um quadro legislativo
capaz de lidar com as diversas questões ligadas à protecção da diversidade biológica.
Aplicação em Angola
Angola dispõe de um conjunto de leis que poderão servir de base para a implementação da
Convenção. Esse quadro legislativo é descrito com detalhe no Capítulo 4 do presente Relatório.
Constrangimentos legais
Uma avaliação critica da condição legal, de políticas e institucional de Angola permite identificar as
seguintes lacunas e constrangimentos:
86
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
• As «áreas de protecção terrestre» que estão reguladas nos Diplomas da Época Colonial e
na Lei de Terras, não incluem o regime de zonas contíguas as áreas de protecção. O
modelo de gestão destas áreas já não está adaptado à nova realidade do País.
• Ausência de legislação sobre o acesso aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais
associados ou existe insuficiente legislação como é o caso da biossegurança.
• Insuficiente legislação sobre o controlo da poluição incluindo a definição das substâncias
líquidas, sólidas e gasosas que não podem ser descarregadas para o ambiente ou os limites
dessas descargas.
• Importantes leis como Lei de Base do Ambiente (com destaque para o Licenciamento
Ambiental, a Poluição do Ambiente e a Fiscalização Ambiental) não foram ainda
regulamentadas foram regulamentadas o que dificulta a sua concretização.
• Desconhecimento generalizado das Leis por parte das Instituições responsáveis pela
protecção e gestão da diversidade biológica, assim como por parte dos cidadãos. A não
divulgação das leis, a falta de educação jurídico-ambiental e a insuficiência de programas
escolares, radiofónicos e televisivos, são factores que contribuem para a não protecção e
preservação da diversidade biológica.
Cada Parte Contratante deve, na medida do possível e conforme o caso, e principalmente a fim de
complementar medidas de conservação in situ:
(e) Cooperar com o aporte de apoio financeiro e de outra natureza para a conservação ex situ a
que se referem as alíneas a) a d) acima; e com o estabelecimento e a manutenção de instalações
de conservação ex situ em países em desenvolvimento
A conservação da agrodiversidade das culturas que se reproduzem–se por sementes tem sido
objecto de um programa colaborativo entre o Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural
e a Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto há 14 anos. Desde 1991 foram
87
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
realizadas pelo Centro Nacional de Recursos Fitogenéticos (CNRF), em colaboração com quadros
do IDA, do IIA, e administração provincial e municipal, e ONGs, numerosas missões de colheita de
amostras de variedades locais de 35 culturas nacionais. As quase 3,000 amostras colhidas estão
conservadas vivas no Banco Genético do CNRF são representativos ddas variedades de 55% dos
municípios do país e 60% das 32 zonas agrícolas. A conclusão das missões de colheita nos 45%
dos municípios ainda não visitadas é dependente da disponibilidade de verbas.
O programa Angolano de conservação dos recursos genéticos das plantas é parte integrante da
Rede de Recursos Fitogenéticos da SADC (SPGRC). Estão incluídas na responsabilidade da rede
os recursos fitogenéticos de todas espécies de plantas, incluindo plantas cultivadas, medicinais,
industriais, e ornamentais. Em reconhecimento da prioridade da segurança alimentar na região os
primeiros esforços na conservação da agrodiversidade tem sido concentrado nas espécies
cultivadas e seus parentes silvestres.
As Instituições que tem estado a operar em Angola em acções na aplicação dos princípios
referidos nesta secção do artigo 8, referentes à conservação ex situ, são as seguintes:
O CNRF constitui uma das principais entidades da execução das políticas nacionais da
conservação e utilização dos recursos Fitogenéticos, e é um componente da rede dos programas
nacionais de recursos fitogenéticos da África Austral SPGRN (SADC Plant Genetic Resources
Network).
O CNRF tem por vocação a “recolha, conservação, investigação e utilização dos recursos
Fitogenéticos, de espécies de plantas cultivadas e silvestres, e dos recursos Fitogenéticos de
importância vital para o desenvolvimento sustentável da agricultura». O CNRF dedica-se, em
particular, à conservação e estudo das plantas medicinais, espécies de plantas de utilidade
industrial ou para outros fins.
A nível dos programas nacionais de recursos Fitogenéticos existe o Comité Nacional de Recursos
Fitogenéticos, órgão deliberativo que orienta as linhas mestras e gerais para a conservação e
utilização sustentável dos RF. O CNRF tem também a competência de propor legislação,
regulamentos com objectivo de juridicamente proteger os RF nacionais e tomar decisões sobre
questões nacionais e internacionais. No Comité estão representados técnicos de todas as áreas
relacionadas com a conservação e utilização de R.F. O Comité Angolano tem 15 membros e é
tutelado pelo MINADER.
Para além de uma equipe de técnicos baseados em Luanda, e nas Províncias de Bengo,
Benguela Cabinda, Cunene, Huambo, Huíla, Malanje, Namibe, Uíge, e Moxico, o Centro conta
com um grupo de técnicos médios formados em técnicas de colheita de germoplasma de
variedades locais. Estes técnicos são funcionários do Instituto de Desenvolvimento Agrário do
MINADER. De forma esporádica, o Centro conta também com o valioso apoio de algumas ONGS
nacionais e internacionais.
Herbário de Luanda
O Herbário de Luanda tem como objectivo promover a inventariação de todo o coberto vegetal do
País, através da identificação das espécies vegetais segundo as normas Internacionais de
Nomenclatura Botânica, conservação das espécies, inventariação e estudo das plantas
economicamente importantes, quer medicinais, quer selvagens de interesse comestível,
madeiráveis ou outras potencialmente importantes, de modo a contribuir para o desenvolvimento
sustentável do País.
O Herbário de Luanda alberga cerca de 35.000 exemplares botânicos colhidos nos diferentes
pontos do País, sendo os exemplares mais antigos de 1922 e os mais recentes do ano de 2004,
provenientes das províncias de Luanda, Zaire, Kwanza Norte, Namibe, Huíla e Malanje (referentes
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
ao Projecto Kapanda). Para além desta colecção própria, o Herbário alberga ainda
temporariamente 45.000 exemplares do Herbário do Instituto de Investigação Agronómica (IAA)
do Huambo pertencentes ao Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural. Esta colecção foi
transferida do Huambo para Luanda em 1992 devido à impossibilidade de se manter naquela
província, dada a insegurança reinante naquela altura e a sua consequente falta de quadros
qualificados. Existem Herbários também no Huambo e no Lubango.
O Herbário possui várias linhas de Investigação como estudos da vegetação do tipo «Mopane» e
do tipo «Miombo» nas províncias da Huíla e do Namibe. Investigação e Identificação de Plantas
Ameaçadas de Extinção para elaboração do livro sobre «Plantas Ameaçadas de Extinção na
África Austral» e da Publicação da Check List sobre a Família das Poaceae (Gramíneas). O
Herbário está intensamente envolvidos nos seguintes projectos de trabalho.
Projecto Sabonet
Este Projecto tem como objectivo desenvolver uma forte e diferenciada rede de botânicos,
horticultores e especialistas em diversidade botânica, competentes para inventariar, monitorar,
avaliar e conserva o coberto vegetal na região da África Austral. O projecto teve início em 1996 com
financiamento da USAID/UICN/ROSA através do NETCAB (Regional Networking and Capacity Building
Initiative).
Foi financiado pelo GEF (Global Environmental Facility) até Junho de 2004. A sua implementação
em cada um dos dez países que dela fazem parte tem sido facilitada pelo PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Projecto Secosud
Este projecto integra dez países da África Austral membros da SADC sediada no Malawi, e trata
fundamentalmente da identificação de plantas de utilidade medicinal, cosmética, madeireira e
alimentares. O objectivo principal é a criação de uma base de dados regional sobre plantas
economicamente importantes.
O projecto teve duas etapas: a primeira onde se fez o inventário de todas as espécies de plantas
provenientes da lista comum dos onze países envolvidos no projecto, e a segunda consistiu na
intervenção dos dados numa base criada para o efeito, com base no Precis.
89
(c) Proteger e encorajar a utilização costumeira de recursos biológicos de acordo
com práticas culturais tradicionais compatíveis com as exigências de conservação
ou utilização sustentável;
Aplicação em Angola
Apesar de avanços no campo legal existe a convicção generalizada que ainda falta muito para
que as instituições nacionais tomem em consideração os dispositivos legais e o espírito da
sustentabilidade ambiental.
Os factores que influenciam a fraca aplicação deste artigo estão desenvolvidos no Capitulo deste
relatório dedicado às condições legais e instituições de Angola.
Artigo 11 – Incentivos
Artigo 11 - Incentivos
Cada Parte Contratante deve, na medida do possível e conforme o caso, adoptar medidas
económica e socialmente racionais que sirvam de incentivo à conservação e utilização
sustentável de componentes da diversidade biológica
a) Aplicação em Angola
Este princípio não está sendo aplicado em Angola, não existindo no quadro actual medidas que
premeiem bons comportamentos cívicos ou que incentivem praticas institucionais ou empresariais
que sejam ambientalmente sãs.
a) Estabelecer e manter programas para educação científica e técnica e para formação em métodos de
identificação, conservação e utilização sustentável da diversidade biológica e seus componentes, e
prestar apoio para tal fim de acordo com as necessidades específicas dos países em desenvolvimento;
c) Promover e cooperar, em conformidade com o previsto nos artigos 16°, 18° e 20°, a utilização dos
progressos científicos em matéria de investigação sobre diversidade biológica tendo em vista o
desenvolvimento de métodos de conservação e utilização sustentável dos recursos biológicos.
90
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Aplicação em Angola
Inventários dispersos, incompletos e desactualizados existem para alguns dos grupos de seres
vivos em Angola. Este assunto foi amplamente tratado no Capítulo II do presente relatório. Ali se
pode comprovar que Angola necessita de inventários e levantamentos que identifiquem
organismos, a sua distribuição e estado de conservação. Programas de identificação de espécies,
habitats e ecossistemas serão, certamente, levados a cabo a partir d agora, aproveitando as
condições de paz e estabilidade. Nesse momento será necessário incorporar taxonomistas,
biólogos e ecologistas que sejam capazes de levar a cabo inventários completos da diversidade
biológica e das condições ambientais em que ela se pode manter.
Aplicação em Angola
Aplicação em Angola
91
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
1. Em reconhecimento dos direitos soberanos dos Estados sobre seus recursos naturais, a autoridade
para determinar o acesso a recursos genéticos pertence aos governos nacionais e está sujeita à
legislação nacional.
2. Cada Parte Contratante deve procurar criar condições para permitir o acesso a recursos genéticos para
utilização ambientalmente saudável por outras Partes Contratantes e não impor restrições contrárias aos
objectivos desta Convenção.
3. Para os propósitos desta Convenção, os recursos genéticos providos por uma Parte Contratante, a que
se referem este artigo e os artigos 16 e 19, são apenas aqueles providos por Partes Contratantes que
sejam países de origem desses recursos ou por Partes que os tenham adquirido em conformidade com
esta Convenção.
4. O acesso, quando concedido, deverá sê-lo de comum acordo e sujeito ao disposto no presente artigo.
5. O acesso aos recursos genéticos deve estar sujeito ao consentimento prévio fundamentado da Parte
Contratante provedora desses recursos, a menos que de outra forma determinado por essa Parte.
6. Cada Parte Contratante deve procurar conceber e realizar pesquisas científicas baseadas em recursos
genéticos providos por outras Partes Contratantes com sua plena participação e, na medida do possível,
no território dessas Partes Contratantes.
7. Cada Parte Contratante deve adoptar medidas legislativas, administrativas ou políticas, conforme o
caso e em conformidade com os arts. 16 e 19 e, quando necessário, mediante o mecanismo financeiro
estabelecido pelos arts. 20 e 21, para compartilhar de forma justa e equitativa os resultados da pesquisa
e do desenvolvimento de recursos genéticos e os benefícios derivados de sua utilização comercial e de
outra natureza com a Parte Contratante provedora desses recursos. Essa partilha deve dar-se de comum
acordo.
Aplicação em Angola
1. Cada Parte Contratante, reconhecendo que a tecnologia inclui biotecnologia, e que tanto o acesso à
tecnologia quanto sua transferência entre Partes Contratantes são elementos essenciais para a
realização dos objectivos desta Convenção, compromete-se, sujeito ao disposto neste artigo, a permitir
e/ou facilitar a outras partes contratantes acesso a tecnologias que sejam pertinentes à conservação e
utilização sustentável da diversidade biológica ou que utilizem recursos genéticos e não causem dano
sensível ao meio ambiente, assim como a transferência dessas tecnologias.
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3. Cada Parte Contratante deve adoptar medidas legislativas, administrativas ou políticas, conforme o
caso, para que as Partes Contratantes, em particular as que são países em desenvolvimento, que
provêem recursos genéticos, tenham garantido o acesso à tecnologia que utilize esses recursos e sua
transferência, de comum acordo, incluindo tecnologia protegida por patentes e outros direitos de
propriedade intelectual, quando necessário, mediante as disposições dos arts. 20 e 21, de acordo com
Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Aplicação em Angola
2. Esse intercâmbio de Informações deve incluir o intercâmbio dos resultados de pesquisas técnicas,
científicas, e sócio-económicas, como também Informações sobre programas de treinamento e de
pesquisa, conhecimento especializado, conhecimento indígena e tradicional como tais e associados
às tecnologias a que se refere o parágrafo 1 do art. 16. Deve também, quando possível, incluir a
repatriação das Informações.
Aplicação em Angola
2. Cada Parte Contratante deve, ao implementar esta Convenção, promover a cooperação técnica e
científica com outras Partes Contratantes, em particular países em desenvolvimento, por meio, entre
outros, da elaboração e implementação de políticas nacionais. Ao promover essa cooperação, deve
ser dada especial atenção ao desenvolvimento e fortalecimento dos meios nacionais mediante a
capacitação de recursos humanos e fortalecimento institucional.
3. A Conferência das Partes, em sua primeira sessão, deve determinar a forma de estabelecer um
mecanismo de intermediação para promover e facilitar a cooperação técnica e científica.
Aplicação em Angola
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
1. Cada Parte Contratante deve adoptar medidas legislativas, administrativas ou políticas, conforme o
caso, para permitir a participação efectiva, em actividades de pesquisa biotecnológica, das Partes
Contratantes, especialmente países em desenvolvimento, que provêem os recursos genéticos para
essa pesquisa, e se possível nessas Partes Contratantes.
2. Cada Parte Contratante deve adoptar todas as medidas possíveis para promover e antecipar
acesso prioritário, em base justa e equitativa das Partes Contratantes, especialmente países em
desenvolvimento, aos resultados e benefícios derivados de biotecnologias baseadas em recursos
genéticos providos por essas Partes Contratantes. Esse acesso deve ser de comum acordo.
4. Cada Parte Contratante deve proporcionar, directamente ou por solicitação, a qualquer pessoa
física ou jurídica sob sua jurisdição provedora dos organismos a que se refere o parágrafo 3 acima, à
Parte Contratante em que esses organismos devam ser introduzidos, todas as Informações
disponíveis sobre a utilização e as normas de segurança exigidas por essa Parte Contratante para a
manipulação desses organismos, bem como todas as Informações disponíveis sobre os potenciais
efeitos negativos desses organismos específicos.
Aplicação em Angola
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Capítulo 6 – Conclusão
Todavia, esse património não está sendo ainda protegido de forma global e sistemática. Uma
condição de pobreza alargada, pressões demográficas, distorções na distribuição da riqueza são,
entre outros, factores que estão na origem de uma delapidação da base de recursos naturais que
poderá comprometer o futuro do país.
Acções e medidas institucionais e de carácter legal tem sido levadas a cabo pelas autoridades
governamentais. Mas elas são ainda dispersas, ocasionais e fragmentadas. Não existe, até à
data, um programa específico para a protecção da biodiversidade. O presente relatório serve de
base para uma compreensão abrangente da biodiversidade angolana e fundamenta a Estratégia
Nacional para a Protecção da Biodiversidade, aprovada pelo governo angolano. Deste modo, o
presente Relatório não pode ser entendido de forma isolada e deverá ser lido em combinação com
o texto da referida Estratégia.
O presente Relatório foi elaborado a partir dos dados existentes. Como várias vezes se fez
menção, faltam em Angola estudos actualizados e sistematizados que forneçam um quadro
rigoroso de referência. Contudo, existe informação suficiente para diagnosticar os principais
componentes da situação actual e prognosticar tendências futuras de mudança. Tanto o retrato
actual como a previsão de mudança apontam para situações preocupantes que são já da
consciência e sensibilidade de alguns sectores.
É igualmente urgente dotar centros de decisão como o Ministério para o Urbanismo e Ambiente de
capacidades de coordenação e de acompanhamento das recomendações contidas neste
documento e das actividades inscritas na Estratégia Nacional para a Protecção da Biodiversidade.
Formas de articulação inter-institucional necessitam ser melhoradas uma vez que as questões
ambientais atravessam um leque de preocupações cujas fronteiras não podem ser definidas.
Numa altura em que estão criadas condições nacionais e regionais para um salto em frente no
desenvolvimento económico é necessário evitar que desvios economicistas coloquem em causa a
sustentabilidade desse progresso. É fundamental balancear as preocupações económicas e
produtivas com cuidados de preservar a harmonia ecológica e conservar a base de biodiversidade
que são a única garantia que as gerações vindouras poderão beneficiar do usufruto do progresso.
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Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
Anexo 1
Nota explicativa
Ecossistemas são o conjunto das comunidades de seres vivos que vivem numa dada área e
incluem as relações ecológicas que essas comunidades desenvolvem com o seu meio físico.
Para cada um dos biomas terrestres e ecossistemas marinhos se procederá a um balanço do que
se conhece como existente e do estatuto de conservação das espécies. Para essa avaliação
serão usados os dados, critérios e categorias utilizados pela IUCN.
Dados deficientes (DD) Não existem dados adequados para se fazer uma
avaliação directa ou indirecta do risco de extinção
baseados em dados de população e distribuição.
Não avaliado (NE) Quando não foi feita avaliação de acordo com os
presentes critérios
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