Estudos Do Séc XVI Capítulo

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Américo da Costa Ramalho

POYNT COPY

ASTA A 30 ESTUDOS
SOBRE O SECULD XVI
2. edição aumenfada

coEISSARAPO
EDRUAO o n O8 AUSPTero8 DO
CIRNCIA CULTrURA
RURoPEIA DE ARTH
RARA A V EXNICAO

RENASCIMENTO
RA ROPA DO
CKE ooBRrMENTON POTGUR
cONSELHO DA EUROPA

temas portugueses
CULURA
80REYAA OE 87ADo DA
OM 2 PATROCIN DA
IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA
servir a biblogre
set Conseho aoministracdo, o permiir-wos
thustre professo
easisrc portugesa c o m o vro do
exprimimos a este um reconhectmerind
Nesiaede de Coimbra,
contrihuto: ele vai constitu
ialtente sinrefo pelo seu valtoxe Culturul Portugues, ullan nd
a hoeoleeydo do Ceniro
ismo ClassicoHamanisme Moderno
HUMANISMO
DO
INTRODUÇAO
Paris. Janeiro d 1980 A EM PORTUGAL

O Director do Centro Cultural Portuguès


aconteci-

Prtugál é
um

José . de Pina Martins Humanismo em datável de


introdução do exactamente,
A mais
XV,
mento dos finais do século
de inte-
1485 em diante não e x c l u o as
manifestações
atirmação, esta ültima,
Com esta e latina,
s o b r e tudo por
cultura grega sejam como
resse pela fim da
I d a d e Média,
nossa
conhecem, no por
inicia-

que todos o u empreendidas


do latim, feitas por, inicio do
as traduções mim, o

principes da de Avis. Mas, para


casa
Parisio
Liva de, de Cataldo
Humanismo em Portugal data da chegada.
Pais, em.1485.
Siculo ao nosso deste ano ou do seguinte, e por-
em tavor
Os argumentos no meu livro
encontram-se
sua actividade inicial,
menores da Renascimento e não vOu aqui repe
Estudos sobre a Epoca do lactOs
recordar dois Ou tres
ti-los. Mas creio que
valerá a pena
nome.
sobre a constituição do seu
Michaëlis em
chamou D. Carolina
«Siculo eParísio lhe deste modo,
da 2-edição), sugerindo
Notas Vicentinas (p. 151 E também
além da origem siciliana, estudos feitos em/Paris
e m Portugal,
assim pensava o Dr. Jerónimo Münzer que & yisiteu

Professores de
Lição inaugural do «I Curso de Actualização
para
«huma-
Clássica», 4 de Janelro de 1972. Entende-se aqui por
Filologia em
Humanismo Greco-Latino renascentista. Em n o s
nismo», naturalmente, o
variados
de lingua inglesa, há muitos e
sOs dias, sobretudo nos paises
«humanismosP.

XI
em 1494. Mas a verdade é anteriores
que o apelido «Parisius» nada tem Das cartas pessoais, as dirigidas a italianos são
que ve com estudos feitos em Paris. Era um excepção das escritas a Lucio
apelido de familia à sua vinda para Portugal, c o m

que Cataldo usa a seu próprio respeito, por exemplo, em uma Marineo, c o m o ele siciliano, que se encontrava e m Espanha, e as
das cartas a seu primo Francisco Parísio, inserta no volume T Francisco e tal
(fol. d iij ve) das Epistolae.
remetidas a o mencionado
já Parisio, seu primo
vez duas ou trés mais. Há ainda duas dúzias de italianos, mas
Também há quem continue a chamar-lhe «Aquila», só ou algumas das cartas têm mais o ar de modelos fictícios, para
associando este sobrenome ao de «Parísio», e arranjando deste
I imitação dos alunos, do que de correspondéncia realmente tro-
modo um imponente conjunto onomástico: «Cataldo cada. Coloco nesta categoria os bilhetes dirigidos a Francisco
Aquila Parí-
sio Siculo». Mas «Áquila» não é nenhum nome de Cataldo, é Filelfo e a João Joviano Pontano. Estes impressionami pela bre-
sim o de um dos seus volumes de versos, como já tive ocasião vidade formular e pelo tom convencional. Já as dus cartas a
de demonstrar no livro atrás referido. Aqui, o engano data do Francisco Parísio pertencem a um género muito próximo da
século XVI e deve ter vindo da edição de António de Castro, reportagem histórica, se me é permitido usar a linguagem jor
que em 1569 publicou os manuscritos de Cataldo na convicção nalistica. Pois que outra coisa são aquelas infornações sobre
de que o humanista não tinha sido impresso antes. A verdade a familia, gostose personalidade de D. Dinis, sobrinho do rei
é que do volume de versos, saído nos começos do século XVI, D. Manuel, ou sobre o Senhor D. Alvaro, irmão do Duque de
há exemplares em algumas grandes bibliotecas do mundo, mas
da edição de António de Castro não escapou um único
Bragança, justiçado por D. João Il12 O pormenor anedótico,a
exemplar. bisbilhotice doméstica de quem era professor de um, D. Dinis,
Se
D.António Caetano_de Sousa a não tivesse reproduzido, e preceptor dos filhos do outro, D. Álvaro, dão um interesse de
embora incompletamente, nas Provas da História Genealágica da crónica mundana a estas
cartas. E Cataldo, quando para ai vol
Casa Real Portuguesa não fariamos dela qualquer ideia. Habent tado, não era dos memorialistas mais discretos.
stua fata libelli! As outras epistolas a italiano[ têm
Não será despropositado, igualmente um interesse
como introdução, referir alguns /
autobiogratico que ja em ocasião anterior pus em relevo, pelo
trabalhos deCatal do. Começarei pelo livro intitulado Epistolae et que me
dispenso de tratar este ponto. Bastar recordat que o
Orationes quaedam Cataldi Siculi, cujo cólofon traz data de núcleo maior dessa
21 de Fevereiro- de 1500. Quarenta e oito anos
a
correspondência com compatriotas se retere
depois, em Coim-
bra, proferia também a 21 de Fevereiro, a oração
à poderosa familia Malvezzi de Bolonha e sobretudo a um dos
inaugural do seus membros mais jovens, Bessårion, até hà
Colégio das Artes o humanista franc s Arnaldo Fabricio. dido com o
pouco
famoso cardeal do mesmo nome. De tudo isto
contun
Mas voltemos a Cataldo, cujo me
primeiro volume de Cartas ocupei nos Estudos sobre a Epoca do Renascimento.
com algumas Orações toi
impresso em Lisboa pelo alem o Valen- A
Lim Fernandes.
latim inclui
correspondência diplomática que Cataldo verteu para
As cartas de Cataldo, con tidas nes te primeiro volume, são epístolas dirigidas aos papas Inocéncio VIII Ale- e
xandre VI, a Henrique VII de Inglaterra, a Carlos VIII de
dirigidas a
portugueses e a italianos. Incluidas também no livro
encontram-se epistolas diplomáticas, escritas a França, ao imperador Maximiliano e ao
soberanos estran a
duque Filipe, seu tilho,
Fernando, rei de Nápoles, a Ludovico Sforza,
geiros,mas por ordem de
D. João II e D. famoso Ludo-
foi apenas Manuel. Ai, Cataldo vico «il Moro»,
o

duque de Milão, ao doge veneziano,


secretário latino dos dois reis. Agostinho
Barbarigo, numerosos cardeais a
e a
quem D. João II encomen-
dava negócios seus na Cúria. Muitas
delas foram traduzidas
Francisco Rodrigues Lobo e por
CE. Luis de Matos, Nótulas sobre
Parisio Siculo-, A Cidade de
o humanista italiano Cataldo crito existente no Museu publicadas, a
partir de um manus
Evora, 35-36, 1954, p. 9. título de Britânico, por Ricardo Jorge, com o
Cartas dos Grandes do
Mundo, em 1934. Uma das que
3
única a Vasc
de Cataldo, à epístola
sCO
No livro I das Epistolas «Cataldus
é dirigida a «Cesa,
titulo:
o u t r a ' que tem por
Rodigues Lobo não verteu para portuguès
medico .S.» (tol. c).
Nessa carta F e r n a n d e s de
Lucena segue Este
carddal de Valença», o famigerado César Bórgia. rodorico philosopho
et regio
outrem senão
ter-se juntado a maliciaa do s e u secretario
do rei e magistro nao e
devem médico real»,
«filósofo e t e r e s t a d o do
Fernando de Almeida, m e s t r e Rodrigo,
lating, a o recomendar o bispo de Ceuta, D. F e r n a n d e s de
Lucena que, por
Alexandre VI, pai do de Vasco c o ntiscados os
que tnha certa pretensão junto do Papa
irmão
Alfarrobeira, viu
o

infante D. Pedro e m
ternmos, entaticamente: do n s o V. Com
cardeil, nos seguintes lado
favor de s e u irmão Vasco, por
D. A f o

bens, de m e s t r e Rodrigob
seus e m
melhorou a situação
o advento de D. João II,
E que não ignoramos quanto vale a tua autoridade junto de Cataldo, junta-
do deus da terra. » encontrar entre os protectores
que v a m o s c a m a r e i r o - m o r D. João
Sousa e c o m o
mente c o m D. Diogo de
Ihe paguem
Non e2in ignoramus uanton apud terrarun deunn tita fazer que os almoxarites
Manuel, quando s e trata de
valeat auctoritas. (Ep. 1, fol. fvj).
a sua tença.
encontramos o nome de alguns
Através da correspondência,
Sim o Vaz, que pri-
Este deus terrarum» é paganismo renascentista, mas não A mestres de gramática desconhecidos, c o m o
menos desrespeito católico pelo_papa Bórgia... meiro ensinou latim a D. Pedro de Meneses, e Diogo Alvares

as
Todavia, as cartas que mais nos interessam são com certeza
que o Sículo recomenda n u m a carta a Pedro
de Alcaçova para

dirigidas portugueses, pois retratam o ambiente culturalda


a
professor do s e u filho (Ep. 1, g vj v°). O mestre de gramática da

corte.edos.magnates da nobreza. No livro I, de que nos vimos Universidade, Pedro Rombo, ouviu também aulas suas.
ocupando, eis alguns dos corresponden tes de Cataldo: os reis
D. João II D . Manuel; o principe D. Afonso, filho legítimo, e
Não Ihe falta u m a palavra amável aos cortesaos, as vezes
condimentada de qualquer pitada irónica, como na carta a Garcia
D. Jorge, tilho ilegitimo de D. João II; D.
Dinis, sobrinho do rei Moniz, um dos fun dadores da Misericórdia; ou sem malicia a p a
D. Manuel; D. Fernando de Meneses, conde de Alcoutim
e, depois
de 1-99, marquès de Vila Real; a condessa de Alcoutim e, mais rente, n o que dá a Martim de
elogio franco por Sousa, tazeer
ensinar latim aos jovens que em Africa estão sob o seu comando,
tarde, marquesa de Vila Real, D. Maria Freire; o jovem conde
de ao mesmo tempo que lhe pede informações para a crónica que
Aldoutim, D. Pedro de Meneses
que, com sua irm D. Leonobr
de intentava escrever sobre os feitos dos portugueses em Atrica.
Nolonha, foram os alunos mais brilhantes e
predilectos de Se os problemas políticos e militares Ihe interessam, não
Cataldo o camareiro-mor e colaço do rei, D. João Manuel; )
D. Diogo de Sousa,
bispo do Porto e futuro arcebispo de Braga; está menos atento à religiosa, como na carta que dirigiu
questão
diversos Noronhas da casa de Vila Real, como D. a Próspero, um rabi siciliano em terra portuguesa, para que se
nha, seu irmão D. João de Noronha
Diogo de Noro-
convertesse, aproveitando a boa vontade com que o rei
D. Manuel
que foi prior do Mosteiro
de Santa Cruz de Coimbra procurava integrar. os seus súbditos judaicos na comunidade/x
onde, a propósito,
ainda existente, esta errado, D. Fernando Coutinho, epitáfio
o seu
nacional. A argumentaç ão com Próspero é menos de ordem reli
Lamego, e outros da nobreza, tanto de sangue como bispo de
giosa que pragmática e está cheia de preconceitos, como o de
Entre os intelectuais da corte, há no volume I eclesiástica.
que todos os judeus cheiram mal, por mais perfunmados e bem
uma carta a
Vasco Fernandes de Lucena, vestidos que só perdem o mau cheiro, quando se con-
não deve ter tido boas
já velhoe susceptivel, com quem
verteme recebem o
andem,
e

relações. A carta azeda


testemunha a interferéncia maléfica de Pedro que
lhe escreveu, baptismno.
Rombo, inalmente, este primeiro livro termina como comecou,
que adiante encontraremos eDvolvido em gramático 1sto e, em torno do seu
rias de outra ordem. polémicas universitá discipulo predilecto, D. Pedro de Mene
ses, conde de Alcoutim, a quem é
dirigida a carta inicial a e
quem pertence a epístola final, endereçada ao impressor Valen-

5
tim Fernandes de Morávia. Antes, porém, numa carta-manifesto
ao pai de D. Pedro, a saber, D. Fernando de Meneses, segundo
Porque teria Cataldo recorrido a Salamanca, através seu
Reitor, para obter uma opinião, e eventuais correcões, sobre o
do
marques de Vila Real, Cataldo faz a primeira defesa da cultura
seu manuscrito? Haveria falta de portugueses competentes para
clássica,em Portugal, desta vez contra «quosdam theologiculos», o mesmo efeito? Tenho razões de sobra para acreditar que não
teólogos de meia-tigela, que defendiam o latim escolástico e pro- foi esse o motivo.
curavam dissuadir das graças das Musas e das
elegâncias do Assim vejamos: quem leia assiduamente Cataldo não colhe
latim clássico os filhos da nobreza, sob pretexto de que a cultura
sobre a sua pessoa qualquer impressão de humildade. Pelo con-
paga era inimiga da fé e dos bons costumes. O humanista reba-
trário. O seu orgulho, sobretudo da qualidade de poeta latino,
te-lhes a ignoråncia e a má-fé com a autoridade dos
padres da manites ta-se a cada passo e deve ter-Ihe causado não poucós dis-
Igreja e as decisões dos concilios que recomendavam a leitura
sabores. Portanto, não era para eventuais correcções, mas para
dos bons autores latinos. Cita exemplos de
poetas e prosadores fazer prova do seu talento, em prosa e em verso, que o Siculo
de Roma, em que estes se mostram bons conselheiros, dentro
se dirigia ao Reitor de Salamanca. Aliás, da sua obra não consta
dos ditames da mais
rigorosa moral católicca. que tenha aguardado quaisquer emendas ao texto para o publicar.
De restO, já em tempos me ocupei das relações difíceis do
O segundo volume das Epistolae refere-se quase exclusiva-
humanista com os seus confrades portugueses. Destes só lhe
mente aportugueses so a um ou outro estrangeiro como o
interessavam os que tinham importantes posições na corte ou
Reitor de Salamanca, a quem Cataldo recorda a boa impressao
em
casas nobres, como os
Doutores Diogo Pacheco, Francisco
deixara quando, cerca de très lustros
que a
Universidade lhe
atrás, là havia passado n o regresso de Saragoça, onde acompa Barradase Lopo da Fonseca. A estes ea
outros, de semelhante
situaçao, ha repetidas referencias em prosa e em verso na
nhara D. Manuel, em 1498. A carta sera, portanto, u m pouco
sua obra.
anterior a 1513. Aproveita na ocasião um portador para lhe
cnviar alguns trabalhos seus. Mas será melhor traduzir Cataldo:
A oposição à s u a actividade e pretensões de escalada social
não vinha apenas dos
«theologiculi», de que atrás talámos, o u
Tendo achado finalmente agora maneira de env1a-los, remeto dos membros do clero e m geral,
que não veriam com bons olhoos
vános, a saber, a segunda parte das epistolas e de alguns dis- o educador do filho querido de D. João II, o real bastardo
Cursos, e os cinco ivTOS das VISOes, compostos em ritmo ele- D. Jorge,
giaco, para que os discutais antes de eu Os imprimir. Se vos educador laico e chamado de propósito de além-
-fronteiras.
parecer que ha coisa a acrescentar ou a suprimir, nao poupeis
Havia ainda a camada moderna, Os
a s correoções. E
para o futuro tende-me ao vosso dispor, como humanistas c o m treino
se fora um dos vossos alunos mais 1gual a0 seu. Já mencionei asco
antigos. (Ep. 1I, Ciij v). Fernandes de Lucena, mas esse
era demasiado velho e devia estar desactualizado.
O portador deve ser o
nobre (ge1erosus) Manuel Teles a u m a das s u a s
Entretanto,
quem, numa epistola logo a seguir, remete Outro poema seu, o Ocupaçoes, que nunca preencheu devidamente, e r a
a de historiador oficial. Ora
De perfecto homine, que dedicara ao rei D. João Cataldo, que cantou o s feitos doDs
11, duas décadas portugueses em versO, e m poemas como a Arcit 1nge, sobre a con-
atrás. Pede a Manuel Teles que não deixe de escrever-l he de
quista de Arzila e de Tänger, e o luto nacional
Salamanca. Todavia, es te Manuel Teles não figura entre o s estu- pela morte do
dantes portugueses da escola salmantina, no livro que sobre eles
principe D. Afonso, nos quatro cantos do seu De obitu
Alfonsi, Cataldo que proclammou repetidas vezes a Principis
publicou o Professor Verissimo Serrão necessidade
urgen te de um Homero ou de um
Virgilio que interpretasse
numa epopeia o momento glorioso que o s
Joaquim Verissimo Serräo, «Lusitani» viviam
Partugues es no Estudo de Salamanca Cataldo sempre desejou ser o
historiador latino, oficial,
(1250-1550), em Revista da
Faculdade de Letras, 111 Série, ne 5, Lisboa,
1961 cional da gesta portuguesa. internd-
Decerto, inspirado por ele, o Conde
Teixeiras não há qualquer referência e m Cataldo. Ligado a eles
de Alcoutinm proclamava na oração latina que pronunciou em
por mútuos serviços
de intelectual e de compa
por amizade
e
18 de Outubro de 1504, na abertura solene das aulas na Uni- e n c o n t r a - s e Henrique Caiado que
s e refere
versidade de Lisboa: triota n o estrangeiro,
Teixeira poemas, saídos em Bolonha,
a o s filhos de João
n o s s e u s

em 1501. Também não esqueceu Caiado o seu antigo mestre


Oxalaeu tivesse nascido em qualquer påtria que não fosse
Cataldo a quem dedica um epigrama laudatório e faz u m a refe
a lusitanal Grego, por exemplo, satisfeito solo humilde
com um
1496 dirige
epobre, desde que pudesse ser estrangeiro, mas muito elo- rência amável n a carta que em 13 de Fevereiro de
quente, de modo a ser capaz de livremente exprmir, csem
a D. Jorge, a anteceder a Ecloga III. Poisestas
a gentilezas
suspeita de parcialidade, tudo quanto distintamente oiço, e homena-
com mais clareza do Cataldo não correspondeu publicamente com qualquer
que a luz vejo, experimento, toco e
E não se tratava de glorificar um inte
conhego! (Ep 17. fol. E). gem e m prosa o u v e r s o .

rior, uma vez que Caiado alcançou fora de Portugal, na própria


Estaria assim sugerindo conveniència de entregar a nar-
a
ração das glórias nacionais a um estrangeiro que certamente
Itália, uma reputação
Siculo nunca conheceu
depoeta latino.
para a sua obra.
aliás justificada, que o

havis de ser o seu mestre Cataldo. Todavia, Ao grupo de portugueses então em Itália pertence também
por mais estorços
que o humanista fizesse para obter elementos, nunca (ao que
o
Martinho de Figueiredo, que Caiado não esqueceu,
jurista
parece os obteve, nem mesmo quando, como ocasionalmente ainda que para se rir dele num epigrama, acusando-o de falta
Sucede, comunica aos seus de sinceridade, por n u n c a dizer mal de ninguéme passar o tempo
correspondenteso desejo de se ocupar
da Historia de Portugal ou quando solicita ao próprio rei que a louvar toda a gente sem distinção. Também sobre Figueiredo
lhe faculze informações, como neste final duma carta a D. Manuel: nem uma palavra nas cartas e nas muitas eentenas de versos
que Cataldo escreveu.
H a uma só coisa que te
suplico, e é que mandes
sobre os assuntos da Asia e da Africa um memorialentregar-nme número dos que sabiam latim pertenciam naturalmente
Ao
ou comen-
tario, sem o s quais, vagueio nas trevas Rui de Pina. o «Rodericus Pinarius", a quem Caiado escreve de
um cego que
daqui para ali, como
perdeu o bordão.= (Ep. 11, fol. Itália e dedica uma écloga, e
B v). Lourenço de Cáceres que toi mestre
do Infante D. Luis, nascido em 1504. Recordo estes
dois, porque
Neste procedimento foram conformes D. João II
Aqucle, não obstante os oferecimen tos de Cataldo, estava na dis-
e D. Manuel. a
eles, em seguida a Vasco Fernandes Lucena, foi cometida
de
pelos reis D. João II e D. Manuel a composição de obras
posição de confiar a Angelo
Policiano a missão de escrever a ricas
histo-
que, aliás,o último, Lourenço de Cáceres, nunca chegou a
sua cronica oficial em
latim, para divulgação na Europa. O publicar. Dele, O encargo passou a seu sobrinho João de Barros.
assunto e por demais conhecido Não tenho qualquer dúvida de
para que eu me detenha a con- que a preferência por Cáceres
siderá-lo aqui. Como também é sabido, o
a efeito. porque Angelo Policiano morreu
projecto não foi levado deve ter contribuído para a rivalidade entre
este e Cataldo. A
em 1494 e, um ano verdade é que o livro II das Epistolas
de Siculo, cuja publica-
mais
tarde, falecia o próprio D. João 11,
apenas com quarenta ção pouco depois de 1513 me tem proporcionado estes comen-
anos de idade.
tários, foi seguido de muito perto, se é que os dois livros n o são
Sabe-se quem sugeriuo nome de Policiano e serviu de
mediário entre o humanista florentino e o inter contemporâneos, pelo Epigrammmaton Libellus de Lourenço de
rei de Portugal Caceres. Ai se celebram a
tomada de AzamoF e a chegada a Lis-
Foram os filhos do chanceler João
de Policiano.
Teixeira, que eram
discípulos boa do rinoceronte (aquele
que Dürer desenhou sem o ver), acon-
tecimentos do ano de 1513.
Pois aos
Teixeiras, nem mesmo a Luís Teixeira, cuja pre- Dir-me-ão que este último livro foi publicado talvez
sença em Itáliae prestigio como
jurista não devia
em
ignorar, aos Salamanca, como pensa Eugenio Asensio, e o de Cataldo em
Lis-
boa. E verdade, mas as
personagens da corte a quem Cataldo
envia cartas e Lourenço dedica figuras mais gradas da nobreza, incluindo algumas senhoras.
versos säo em
entretanto os dois autores não se parte comuns. E Excepto em poucos casos, como pode veriticar-se pela sua cor-
mencionam sequer.
Para já, notemos uma espondência, Cataldo foi chamado sobretudo para alunos adian
LibelluS de Cáceres: particularidade do EpigrammatOn tados, com o encargo de aperteiçoar os conhecimentos dos dis-
figuram nele composições de outros poetas, cipulos. Em regra não é cortês com os seus predecessores e des-
quase em proporção idêntica às do autor do
livro. Adiante, pre- faz sem escrúpulos no que eles fizeram.
cisarei de recordar este facto a
Em qualquer caso, o Siculo
propósito de Cataldo. Através da correspondência, temos um quadro dos
não é mencionado pelo s e u nome autores
n o Livro de
Epigramas de Cáceres, mas quanto mais leio Càceres, latinos então em
mais do
voga e que não é muito diferente, embora muito
mais me
convenço de que ele pode ser o alvo de
alguma daquelas amplo, elenco de autores preferidos hoje. Aqui,
sur
breves composições
epigramáticas de destinatário anónimo, sar- preendemos Cataldo explicar Cicero
a aos seus/alunos, ali reclama
cásticas e azedas, que
por lá se encontram. Entre o s poetas
que
um
mente
Lucrécio
o
que tarda ser-lhe restituido, além
pai de determinado escolar de
a avisa mansa-
dirigem versos ao cantor do duque D. Jaime dele recebem este parece traduzir
que
vores, encontra-se Aires e lou- sobretudo Ovídio. O escolar e r a D. Jorge e o pai D. João II. Tam-
Barbosa, introdutor do Grego e m Espa não
nha, que ent o ensinava em
bosa estä ausente das
Salamanca. Pois também Aires Bar- bem aprova que um filho de António
Carneiro leia os Amores
ovidianos. Os meninos estudam Virgilio e u m almoxarife
epistolas e dos poemas de Cataldo. Como que Ihe
acabanmos de ver, não taltavam não pagava, ainda por cima, ouvia dele o s
portugueses cultos que pudeS Tris
sobretudo Plauto. Algures menciona o s comentários
tia de Ovidio, mas
sem opinar a
respeito dos seus trabalhos. que compòs
Antes de voltar à corte e à a Horácio. Infelizmente não chegaram até nós, mas deviam s e r
fidalguia ilustrada, com que n o género do Commentum in Plinii
tanto se
comprazia Sicul0, dems uma volta
o Naturalis Historiac Prologtn
dade de mestre de Gramatica pela sua activi1 que Martinho de Figueiredo publicou e m Lisboa, e m
e
por alguns oticiais do mesmo 1529,
oficio, destes anos à roda de 1513. embora talvez com menos de dispêndio erudição em segunda
Ele nao mão. Este livro é entre nós muito
gostava de ser gramático. Dava-lhe mais lustre admirado, principalmen te
ser
poeta, historiador o u orador: «orator» e m por alguns estudiosos que ainda o não leram,
latim. A comp tive Oca-
signiticar «diploma ta», se o «orator» e r a mandado aopalavra podia sião de ver, há
tempOS, em uma das nossas páginas literárias.
ferir uma oração de obediencia, em nome do papa a pro-
mente em seu nome, rei, o u se, igual Mas voltemos
discursava em solenidade no a Cataldo e aos
gramáticos portuueses à roda
Pais o u no
estrangeiro, ou em missão de carácter dos primeiros anos da segunda década do século
Cataldo gostava de ser, e e s s e
é o título
diplomático. « Orator» exactamente entre o a n o
XVI, mais
que Ihe dá o Dr. Münzer que nos tem ocupado, o de 1513, e
gue, em mau latim (o de Cataldo O de 1516
_em que vem a lume a Ars
era melhor),
visita à corte de D. João
II, n o Jtinerarium. O
escreveu sobre a
Cavaleiro. O prólogO desta obra, saida Grammatica deEstévão
t radutor portu- dos prelos no mesmo
guès, Basilio de Vasconcelos, não ano do
por «pregadorn, Grande
entendeu e traduziu «Orator» Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, e um documento
desgosto teria Cataldo, se pudesse ante da mais alta importância História para a do Humanismo
Cipar a descortesia! emn
Portugal.
Mas vamos a
Cataldo, mestre de latim, Mas é preciso confessar que muitas das suas
proticientemente a trés lingua que ensinou seriam alusões não
principes, como diz com
orgulho, e às
inteligíveis sem a
revelação feita enm 1955 pelo erudito
Rocha Madahil', da existência na Biblioteca
Basilio de Vasconcelos, Pública de Braga
tos) Itimerário do Dr. Jerónimo
Coimbra, Imprensa da Miinzer (Excer-
Universidade, 1932, P. 14. Novos Testemunhos da Actividade
culo XV (Trés Tipográfica
Incundbulos Portugueses Desconhecidos). Lisboa no de Sé.
10 Lisboa, 1955.
11
CRTCAP e K

de très incunábulos impressos por Valentim


obras gramaticais de Pedro Fernandes, com xados estão certos e correspondem a verdade, esses
Rombo e António Martins. dúvida alguma, não são latinos n e m janais leram
tais, sem
Entretahto estas livros lati
Biblioteca Nacional depreciosidades bibliográticas toram para a
Lisboa, onde pude examiná-las. Trata-se
nos. Leiam, por isso, Os
proprios autores latinos de gramática,
das edições de ouçam os poetas latinos, manuseiem oS seus oradores e
Pastrana, com o titulo de Thesaurus de tudo Cicero, pai da
lingua latina, Os volumes dos
acima
situe
Spectuluriz Puerorum editum Pauperum histo
iOgrafos latinos. Se assim fizerem, aborrecer-se-ão do seu bár-
e duma adaptaço magistro Johanne de Pastrana
a
intitulada Materiarum editio ex
a
petro rombo in artibus Baculo cecoru baroe ridículo Pastrana, lançá-lo-ão das mãos e corrê-lo-ão a
são de 1497. baccalaurio collecta. pontape, porque tanto tempo os enganou e fez cair
Encadernado com eles está um Estes dois livros
na arma-
dilha dos
tada, mas com o terceiro sem por- eros.» (fol. Aiij v).
cólofon seguinte:
Faço apenas esta
Expliciunt o
Prólogo
citaço da longa e violenta diatribe que é
da Gramática de
cum
regulis materieAntonii Martini/a baculo
cecorum collecte Estêvão Cavaleiro, porque a situaçao
rum ut sui
compositionum de amar et
por amar et
é bemm clara: nomes como Tesouro dos Pobres,
discipuli
ter 2ore tradiderunt preceptores in scriptis huiusmodi relatiuo nos e Bordão
dos Cegos Espelho dos Meni-
geaitricis virginis
ad honor dei
omnipottis necnõ
suo
se opunham a reflectem uma tradiço medieval a que
tinum ferdinandi de
marie. Impressum vero et sue
Ulixbone per Valen- busca das tontes e o espirito
fundamentais do movinmento critico, como
O Prólogo faz, dados
morauia. Anno incarnationis
Simo
quadringentesimo nonagesimo septimo. Die vero
Sis Junij. a
domini mille tigura de humanístico.
manifesto desse movimentO. Um manitesto assim,
XX men
por issO mesm0, talvez violento
Das très obras mestre da Arte exagerado, uma vez que Pedro Rombo e,
conclui-se que a Nova, como atesta o era
conhecida gramática de Pastrana da sua
posse que vi na Torre do documento de
por três nomes,
PatuperLuP, Speculum pelo menos, asaber, os de Thesaurus
era
cópia. A posse foi-lhe dada Tombo e de que conlirmação
António PuerorUm e nas Escolas possuo fotO-
Martins, mestre de Pedro Baculum Caecorum. Dela fez de 1490, na
presença Gerais a 6 de
cida por
Materiae, talvez porque Rombo, uma adaptação conhe estando também João
do Reitor e
dos lentes Setembro
materiam, etc.n. Foi, muitos velha» e «ho Fernandes, conselheiros, ai
das Materiae. pelo menos, o quecapítulos começam «Circa bacharel Joham vaaz E «lente de
Gramatica
Destas conclui de uma matica darte noua». d. aluarez darte
sinopse do livro de Materiae de António Martins, leitura
Carneiro, um dos
A certidão
real foi lentes de gra-
decerto com fins Pastrana, fez Pedro Rombo espécie de
todos sabem, correspondentes
de
passada por António
tica de comerciais, pois uma
edição, escrivão da Cataldo, que era,
Diz ele
Estévao Cavaleiro o ataca
o
ProloguS» da Ars
Gramma-
nas
Escolas Gerais toi Cânmara de el-rei D.
João II. A como
ferozmente, por esse motivo. segundo reza o precedida duma espécie de posse
Pela minha documento: eleição,
parte, antes quero beber
autores que do riacho limosoe da
liimpida
turbulento de tal fonte dos E ho dicto
E dos
seus
sequazes, Reitor fez
mostrar os seus erros que direi? Faltar-me-ia doutrina. se
dicto bacharel pgunta aos dictos lentes
era o

guagem latina, semeou osem conto, Pastrana, dia, se quisesse


o
proueito p* rombo conselheiros
ouuintes delle ha dictasofficiente E apto
dos
tidarios semearam cereal orruptor
sarnento e foi-se; da lin- quaães disseram gramatica p' ler a
jo10 e continuam por cima uma grande Os
seus dicta sy E q os darte noua os
dancia, que vendeim semear coOrruptelas quantidade de triste
a par gramatica
be conendado. » bem podera
discipolos q delle Ouvirem
aproueitar do ha
sem por todo o gramaticais em abun- seu leer por
vergonha, em Portugal, a
direi? Só uma coisavez do trigo, aos pobres elevado preço ee
ser

mais alunos. Os dois


Arte de
Pastra1a e afirmamousarei afirmar: os que Que mais lentes de
que todos 0s louvam aa posse de Pedro gramática
de Arte
Nova, mencionados
12 escritos por ele dei Rombo,
atrás, pois Cataldo são meus
Pedro o conhecidos.
recomendou para De um já na
de
Alcáçova. Refiro-me falei
a professor
Diogo Alvares. dum filho de
13
6KI SE AGn6aDD
C o

Toe
O outro, João Vaz, é autor de
trei há pouco, saida em 1501, como
uma
gramática que encon-
deduzo do modelo de u m a ataldd) era, portanto, ainda vivo, em 1516. E não se encon-
carta latina, impressa n a
de Janeiro de 1501. Acho gramática
e datada de Lisboa, a 28 trava sOzinho no seu esforço
renovador, como já vi escrito. Nio
provável que tosse o a n o da preciso de lembrar também que Estéväo Cavaleiro foi mestre
são. Em qualquer caso, o livro de impres-
João Vaz é anterior ao de de André de Resende.
Estêvão Cavaleiro. João Vaz,
que é bom latinista,
moderada, a o exprimir modestamente a adopta
ai u m a
posição
que seu livro
o esperança de
possa ser mais útil do que o s preceitos de Antó Mas deixemos o s latinistas
nio Martins. Todavia, João Vaz não profissionais e procuremos agora
exclui Pastrana da s u a Os seus
correspondentes entre as grandes famílias da nobreza
grafia de obras utilizadas para a parte gramatical. Na biblio e da
administração pública o u entre os homens cultos, m a s nao
consultou, segundo intorma, o s trabalhos dos estilística,
«imitadores de professores de Gramática e de Retórica, aristocratas com
Cicero, principe da eloquééncia, a saber, Lourenço Valla, Cataldo gostava de dar-se. As cartas quem
tinho Dati, Eneias Silvio e Fernando Agos- mostram que o humanista
se nao limitava a

isso,
Mançanares». enviar
correspondència latina, m a s que tam-
Por sem perda do valor como documento do movi- bém a recebia. Gostava mesmo de
estimular o convivio episto-
mento humanistico, h£ que dar ao lar, c o m cumprimentos e reterências
leiro o desconto de o considerarmos «Prologus»
de Estêvão Cava- elogiosas ou humoristicas
a
uma sátira de Pedro Rombo amigos comuns. Uma carta de Fernando de
a quem s e refere numa série de alusões maliciosas de Alcaçova, por
que me exemplo, é lida a D. Fernando de
Meneses, marqués de Vila
OCupei, há meses, em sessão da Associação Real e ao conde de
Alcoutim, D. Pedro, s e u filho (Ep. II, A ij).
dos Clássicos. A animosidade contra Rombo é Portuguesa de Estu-
No segundo livro,
tanto maior figuram entre outros
lhe atribui, a ele e aos quanto
seus sequazes, a perda do lugar n a Univer- rei D. Manuel e seu correspondentes, o

sidade. Ora isto também não deve s e r a verdade D. Jorge,


sobrinho D. Dinis; o seu
antigo discipulo
duque de Coimbra e mestre de Santiago.(e a
a rixa entre Cavalero e Rombo vinha já de 1482, e inteira, pois
motivos
s u a mulher; os Meneses
e
duquesa
Noronhas da c a s a de Vila Real, dos
não filológicos, como revela outro documento da Torrepor do Tombo. quais D. Fernando é designado
simplesmente pelo Marques, como
O manifesto de Estêvão Cavaleiro reconhece, todavia, fazia Gil Vicente, e D. Maria
Freire pela Marquesaj o camareiro-
barbárie está batendo em retirada, a o proclamar: que a
- mor, D. João Manuel; o s tios de D. Jorge, irmãos de D.
Mendoça, Ana dee
Mas s e a nossa gramatica e superior a dos
suamãe, a saber, Jorge Furtado e Arntónio de
gramaticos c o n doça, ultimo dos quais aparece
o Men
temporancos Ou nao, o s Outros que julguem. Os outros, não das Visões; Pedro
longamente n o tinal do livrO 5."
os émulos, nem o s malévolos nem Estaço e o amigo deste, Dr. Francisco Bar-
os bárbaros, mas os homens
Justos, benevolentes e latin0s, a quem nao roa a inveja, mas radas, e ainda o Dr. Lopo da Fonseca;
Aires Teles, o nascido
dleleitem o bem e oJusto, que saibam e aem ssino de
justiça. Já os há (eraças a Deus!) no nossoqueiram julgaT
COm latym» do Cancioneiro Geral, que recebe très cartas,
numa das
doutones Portugal: egregios quais se faz o elogio de s e u sobrinho Luis da Silveira.
como. principalmente, Diogo Pacheco, Luis Teixeira, Em outra, Cataldo
Francisco Cardoso, ataldo, oradores manifesta-lhe o s e u apreço, escrevendo: cA
eloquentissimos e poetas todos Os
muito alustres que nao so conhecem muito bem a
lingua latina,
portugu ses (Ll4Sttanis) OusO antepor-te, excepto a o
mas anda a ensinaran, e podem ensinar conde» de Alcoutim, naturalmente
opiniäo destes, que eu me associo. Ouanto me
mesmo hoje. E a (Ep. I1, E iij). O clä dos Alca-
alegro, ao ver ovas e António Carneiro estão
n o nosso
Portugal homens desta especie! Ah, entao sim, agra- nando de Alcáçova 1gualmente representados. Fer-
da-me viver! costumava fazer a Cataldo
(dfol. A
v) gicas sobre o latim (Ep. 11, E consultas filoló-
vj). Em uma carta, o humanista
conta a Fernando
Notc-se a reminiscéncia de Ter Ad, 444.5. Sobre quanto n a solidão intelectual que o rodeia e m
cf pp 125-51. o
Prologus-, Santarém sente a talta de convivio
com o velho Pedro
çova e c o m o próprio de Alcá-
Fernando, então convalescente de
14 grave
15
segundo informaçao de Lopo Fermandes ". /ammliaris t u s , marquesado, a Oração pronunciada por Salvador Fernandes
dgença, es,
coroado da laurea da licenciatura em direito pontilicio e
pdestissimus tuuenis (Ep. 11, B ij).
Os dois
livros de cartas contèm igualmente discursos, ora-
tto\ues: oraçóes de entrada e oraçoes de sapienca.
civil. » T.

Uma destas últimas é a do conde de Alcoutim, em


Outiabro de 1504, na Universidade de Lisboa. Tinha o conde entao
18 de o discurso tem muito interesse até para a da tipo- história
grafia em Portugal, pois foi (ou estava para ser) impresso em
17 nos. A precocidade do feito literário e o
de Sapiéncia levaram a
nivel dessa oraçao 1.1509 por umcerto Teles, em Ferreirim, cerca de Lamego, no
pôr em dùvida a autoria do discurso. Do palácio do conde de Marialva e Loulé. Nele, Salvador Fernandes
assunto me ocupei nos Estudos sobre a Epoca do Renascmento.
confirma o êxito obtido por D. Pedro de Meneses, conde
Naao me custa a admitir a ajuda do mestre, mais ou menos de
Alcoutim, cinco anos antes, na Universidade de Lisboa; e
documentada na correspondència e nos versos de Cataldo, mas a outros «actos literários concorridíssimos, na
refere-se
e descpnhecer os hábitos dos latinistas do século XVI escrever presença de mui
que a oraçáo ée obra de Cataldo, porque se encontra incluicda
tos prelados
e de principes
sábios e prudentes, com
geral
ração». O orador elogia ainda os admi-
entre cs escritos deste. Vimos, há pouco, a propósito de
fizeram dar
Marqueses, pela educação que
Lou
rengo de Caceres, como era corrente a prática de incluir traba- ao filho e pelo mecenatismo esclarecido com
Thos alheios em iivros pagam os mais altos salários aos letrados que
redigidos em latim. E ainda que a oraçao
não fosse do conde (e creio dam outros que os serveme aju
que é, não obstante a
nos seus estudos. Salvador Fernandes
colaboração
Marquès mais havia protegido. apresenta-se
de Cataldo), ainda assim estávamos como um dos que o
em
pratica db Renascimento, que talvez fosse presença de mais umna orador de Vila Real foi
O
a de
entregar um jovem da nobreza, escolhido
a
novidade entre nós:
versidade de Lisboa, entre 1511eposteriormente protessor da Uni
pelos seus méri- 1518,
t o s intelectuais, o
encargo de discursar em ocasião solene. França, onde havia feito os seus
estudos,
regressando
a seguir a
ticava-se em Itualia e talvez Cataldo tenha trazido a Pra- reira de
professor de Direito. Veio a ser para
ai continuar
a
car-
seu pais. moda dop de reitor da
Seja, porém, como for, os ecos dessa
Bourges em 1522. Universidade
oração foram dura- Salvador Fernandes
orador latino do conde deconfirma Cataldo sobre a reputação
douros. Quando em 1509,
Vila Real chegou à
no
principio do ano, o
Marqués de Alcoutim, embora nåo de
oração de eritrada em latim capital
dos seus dominiOs,
escutou ai uma
a
lisonja superlativa dos méritos, seja de excluir
em que os
que lhe recitou um mestres.
tugues que flzera em
França a sua carreira até humanista por humanistas eram
existe ainda hoje, em então. O texto Todavia,há que
reconhecer que Cataldo
cópia manuscrita, com o giou D. Pedro. A própria nem
seguinte incipit: mente. E oração de Lisboa o não sempre elo-
Aus ilustres principes, Marquése de 1511, o
quando lhe remete de satisfez
Santarém para Vila inteira-
génito, magnifico Conde de
o Marquesa, ao seu primo
e
poema Verus Salonmon, Real, cerca
rada vinda e Alcoutim,
próspera na sua
entrada em Vila Real, muito
suspi
de Castelo
Branco, conde de Vila Nova
de remessa faz
Martimus
sobre D. Martinho
cabeça do seu de
de Meneses,
uma referéncia
especial a João Portimao,
e na carta
equivalente a um retrato, não
estara
Rodrigues
de s
a
de
Provavelmente
D. Joáo
o mesmo
que, mais tarde, fez
suscitar a
ihaes Basto 111eD.
a oração
nas MemoriasCatarina
em Santarém,
publicada
na entrada
Ver, neste volume,
Por to
pcjo Laceciado por A. de Maga
Quinhentistas dum Procurador «Uma oração
Francisco Dias. nandes (Vila
Por to, 1937, d'E-Rei no Real, 1509)», pp. desconhecida, de
Salvador Fer.
16
Pp. 70-77.
do
Eneontra-se encadernado21-27.
século XVI. Outros
com vários text0s
como apontamentosS impressos. ddo começo
também, copias demanuscritos que ai hguranm
este deve ser
originais inmpressos são,
17
emulação do conde, então
entregue mais a
estudo ? caça do que ao
heroínas da Antiguidade, até as conhecidas
Só há dias reparei que pelo seti recato, ter-
conde de Alcoutime
o -se-iam apaixonado por ele.
gues de Sá de Meneses, João Rodri-
genro de D. Martinho, Cataldo procura na fantasia poética razões da
mesma idade ou quase. Com deviam s e r da perteição do
em 1487 e «Ioannes
efeito, D. Pedro de Meneses conde: o seu modelo é o rei D. Manuel, modelo de todas as
per-
nasceu
em Rodericus
1536, por confissäo », como lhe chama Cataldo, sendo
feições. E antes disso, o conde foi objecto de cuidados divinos:
nascido em 1486 ou, noprópria,
ano
«quase quinquagenário», teria
quando nasceu e m Ceuta, onde s e u pai era o governador, foi sua
note-se seguinte, em 1487. A
ama a musa Caliope. E a
intervenção de Caliope é descrita em
Sá de
que Meneses não viveu mais de propósito, cerca de 130 versos.
é voz cem anos, como
corrente, mas uns 92 ou 93, Ai pelo verso 435, o conde tem 12 anos e dá uma
de Janeiro. pois taleceu em 1579, a 25
de Retórica. De
lição pública
passagem, notarei que a esta e outras exibições
Mas voltemos ao conde de públicas, muito ao gosto do Renascimento, há referéncia expressa
Alcoutim. A sua
tica será feita por Cataldo glorificaço po.
também em verso dactilico, nas cartas. A tais
demonstrações alude também a oração de
ou Terceiro Livro das na Visão III
Visões. entrada de Salvador Fernandes, de
que há pouco tratei.
Estas «visões» são Por essa altura
poemas meio. medievais mejo
tistas, mistura de aparição
continua Cataldo o conde surpreendeu
renascen- um embaixador de
Veneza, chegado a Lisboa. Para nada lhe
diana moralizada. Na Visio hagiográfica e de metamorfose ovi faltar, é também poeta latino.
Tertia, velho D. Pedro de Meneses,
o
primeiro marquès de Vila Real, aparece ao neto Todos estes elogios devem ser
recebidos, naturalmente, Com
jovem conde de Alcoutim, homónimo, o alguma reserva, dada a propensão dos humanistas, e Cataldo não
para o felicitar
da aparição nocturna, o espirito do marquéspelo seu èxito. Antes
estivera presente à
é excepção,
para o exagero. Mas o_panegirico
conde poético_do
oração de sapiência na testemunha umn novo ideal de
Universidade. vida que o futuro de D. Pedro de
Deste modo, 0s disticos Meneses não desmentiu,
meiro no jovem elegiacos da 111 Visão exaltam pri- militar
nas missões de que foi cncarregado.
D. Pedro de Meneses o
seu valor
como c
diploma ta, e no seu gosto pela cultura.
para seguidamente recordarem outros dotes, intelectual, Em 1543, falecia com 56 anos
apenas. Era já então marquès
E bom tocador de harpa, quer execute só, espirituais e fisicos. de Vila Real. E cinco anos
depois, em 1548, o humanista João
ao so do instrumento musical (183-1 88). quer junte a sua v0z Fernandes recordava
agradecidamente a sua memória, em Coim
Ouando dança, só ou
acompanhado, a multidão admira-o (188-192). No jogo das canas,
bra, lalando De Celebrilate Academiae
Conimbricensis
torneio simulado a cavalo, é um campeáo Sua irm, D. Leonor de Noronha,
igualmente
cura poupar o generOso que pro Cataldo, traduziu do latim a Crónica do Mundo, de discipula dee
Logo após, tem Cataldo os
adversário derrotado, evitando feri-lo (193-206). nio Sabélico, saída em Marco Antó-
seus mclhores versos latinos, na des Lisboa, em 1550 (-53), no ano em
criçao viva e ágil de uma tourada, em Coimbra acabava a iniciativa que em
que o conde a cavalo, joanina do Colégio das Artes de
so na arena frente ao Mestre André de Gouveia. João
toiro bravio, que Rodrigues de Så de Meneses. de
lidadores,mata o animal de uma cstocada
alugentara o s Outros quem Cataldo escreveu com tanto
certeira (207-235). louvor, esse estará um pouco
A cstes Cxitos por toda a parte: uma filha, talvez a
desporti
vos juntam-se
os
predicados
de palaciano: mais nova, foi excelente
prudente como Catao, cloquente aluna de Rodrigo Sanches e
companheira de estudo da Infanta
e
como Cicero. Amam-no
Panheiros é adorado pelas damas da corte. As mais os com- D. Maria, filha de D. João
I1I. O mestre ansiava
famosas por conhecer o

Ver. neste volume, A ldade de Jolo Rodrigues


sese de Sá de Mene
Pp 199201 10
VerJorge Alves Osório, M. Jodo Fernandes,
Fama da A Oração sobre
Universidade (1548). Coimbra, 1967. a

19
pai da aluna e
dirigiu-se
a
Joana Vaz que lIhe
encontro
do
com Sá de
Meneses. E assim a sombra proporcionou
do
o

Porto reflecte-se na alcaide-mor


Sanches , correspondencia latina de Rodrigo
Graças ao Liber de
Platano, que chegou até nós
crito, também manus
Så de podemos, como Sanches, admirar o humanista
Meneses. Quandoo De Platano
Så de Meneses,
em coversa
acaba, por alturas de 1537,
des, recorda ter epistolar com mestre Joào
de Santa Cruz
visto, ainda há
pouco, em frente
Fernan
o seu
parente João Gomes da Silva ", filho
ao Mosteiro UMA ORAÇAO DESCONHECIDA,
Regedor das Justiças, que do DE SALVADOR FERNANDES
viera estudar a Coimbra
Deste modo. Cataldo,os
estio presentes na seus-discipulos e 0s seus amiOS Vila Real, 1509
Portagal 1lunmanismoHistória do Humanismo Grecol.atino
que evoluiu sem cm
eetre- NVea passagem interrupção, ao
lonpo -do
palk que-ele amou como sdo e
Siculo fica bem assinatactar neste
As oraçöes de entrada
constituíram um género túpico da
oratória püblica, mais ou menos corrente
em todos Os
Ainda hoje há sempre uma tempos.
personagem local que sauda o alto
dignitário visitante, presidente, ministro, o u entidade menor do
que estas, na sua entrada lestiva em
Nos séculos XVe povoaçao que se preze
e de latim, muita das
XVI, em tempos de Humanismo Clássico
saudaçóes eram na lingua do Láclo, outras
em portugues, 0s saudados, geralmente, membros da fami
lia real.
De uma dessas oraçOes,
desconhecida (que eu saiba), trata
rel agora. Por mais
que procurasse, na0 a encontrei impressa,
mas tao-somente o texto
manuserito existente na Biblioteca da
Universidade de Coimbra. Esse texto tanto
nal, como uma cópia do opuseulo pode ser um origi
inmpresso, mas inelino-nme maiss
para esta ultima hipótese. O cólofon dä-a
como impressa em Fer
reirim, cerca de Lamego, em 1 de Março de 1509
T'al como existe em Coimbira, a
Ver A Oratio começa com uma
Culmba, 1969 Costa Ramallho, Estudos sobre a Bpoca do Saudação ao impressors a que segue a correspondente
Sauda
Morreu em Renaseimenlo. gao ao leitors, Vem seguidamente um longo titulo que ganha em
partelo dus Silvas, Florenga e nao se encontra
sepultado no aristico ser traduzido, mantendo
Pal e Beu imke
em São
Marcos, perto de Coinbra, em latim, embora com
palavras
as pela ordem em que estao
mals velho,
DiogO onde esto seu algum prejuizo da estilistica do jport
contundido con 9 da 5ilva, Nao deVe ues. T'odavia, a colocação em
D Bebastiao embaixador de Fortugal em
tambem se
primeiro lugar dos aristocratas a
Rona, no
lempo de quem a Oratio dirigida constitui ainda um eumprimento do
Cerlimonioso orador, que
20 perderá,
se dermos às palavras uma
se

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