Estudos Do Séc XVI Capítulo
Estudos Do Séc XVI Capítulo
Estudos Do Séc XVI Capítulo
POYNT COPY
ASTA A 30 ESTUDOS
SOBRE O SECULD XVI
2. edição aumenfada
coEISSARAPO
EDRUAO o n O8 AUSPTero8 DO
CIRNCIA CULTrURA
RURoPEIA DE ARTH
RARA A V EXNICAO
RENASCIMENTO
RA ROPA DO
CKE ooBRrMENTON POTGUR
cONSELHO DA EUROPA
temas portugueses
CULURA
80REYAA OE 87ADo DA
OM 2 PATROCIN DA
IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA
servir a biblogre
set Conseho aoministracdo, o permiir-wos
thustre professo
easisrc portugesa c o m o vro do
exprimimos a este um reconhectmerind
Nesiaede de Coimbra,
contrihuto: ele vai constitu
ialtente sinrefo pelo seu valtoxe Culturul Portugues, ullan nd
a hoeoleeydo do Ceniro
ismo ClassicoHamanisme Moderno
HUMANISMO
DO
INTRODUÇAO
Paris. Janeiro d 1980 A EM PORTUGAL
Prtugál é
um
Professores de
Lição inaugural do «I Curso de Actualização
para
«huma-
Clássica», 4 de Janelro de 1972. Entende-se aqui por
Filologia em
Humanismo Greco-Latino renascentista. Em n o s
nismo», naturalmente, o
variados
de lingua inglesa, há muitos e
sOs dias, sobretudo nos paises
«humanismosP.
XI
em 1494. Mas a verdade é anteriores
que o apelido «Parisius» nada tem Das cartas pessoais, as dirigidas a italianos são
que ve com estudos feitos em Paris. Era um excepção das escritas a Lucio
apelido de familia à sua vinda para Portugal, c o m
que Cataldo usa a seu próprio respeito, por exemplo, em uma Marineo, c o m o ele siciliano, que se encontrava e m Espanha, e as
das cartas a seu primo Francisco Parísio, inserta no volume T Francisco e tal
(fol. d iij ve) das Epistolae.
remetidas a o mencionado
já Parisio, seu primo
vez duas ou trés mais. Há ainda duas dúzias de italianos, mas
Também há quem continue a chamar-lhe «Aquila», só ou algumas das cartas têm mais o ar de modelos fictícios, para
associando este sobrenome ao de «Parísio», e arranjando deste
I imitação dos alunos, do que de correspondéncia realmente tro-
modo um imponente conjunto onomástico: «Cataldo cada. Coloco nesta categoria os bilhetes dirigidos a Francisco
Aquila Parí-
sio Siculo». Mas «Áquila» não é nenhum nome de Cataldo, é Filelfo e a João Joviano Pontano. Estes impressionami pela bre-
sim o de um dos seus volumes de versos, como já tive ocasião vidade formular e pelo tom convencional. Já as dus cartas a
de demonstrar no livro atrás referido. Aqui, o engano data do Francisco Parísio pertencem a um género muito próximo da
século XVI e deve ter vindo da edição de António de Castro, reportagem histórica, se me é permitido usar a linguagem jor
que em 1569 publicou os manuscritos de Cataldo na convicção nalistica. Pois que outra coisa são aquelas infornações sobre
de que o humanista não tinha sido impresso antes. A verdade a familia, gostose personalidade de D. Dinis, sobrinho do rei
é que do volume de versos, saído nos começos do século XVI, D. Manuel, ou sobre o Senhor D. Alvaro, irmão do Duque de
há exemplares em algumas grandes bibliotecas do mundo, mas
da edição de António de Castro não escapou um único
Bragança, justiçado por D. João Il12 O pormenor anedótico,a
exemplar. bisbilhotice doméstica de quem era professor de um, D. Dinis,
Se
D.António Caetano_de Sousa a não tivesse reproduzido, e preceptor dos filhos do outro, D. Álvaro, dão um interesse de
embora incompletamente, nas Provas da História Genealágica da crónica mundana a estas
cartas. E Cataldo, quando para ai vol
Casa Real Portuguesa não fariamos dela qualquer ideia. Habent tado, não era dos memorialistas mais discretos.
stua fata libelli! As outras epistolas a italiano[ têm
Não será despropositado, igualmente um interesse
como introdução, referir alguns /
autobiogratico que ja em ocasião anterior pus em relevo, pelo
trabalhos deCatal do. Começarei pelo livro intitulado Epistolae et que me
dispenso de tratar este ponto. Bastar recordat que o
Orationes quaedam Cataldi Siculi, cujo cólofon traz data de núcleo maior dessa
21 de Fevereiro- de 1500. Quarenta e oito anos
a
correspondência com compatriotas se retere
depois, em Coim-
bra, proferia também a 21 de Fevereiro, a oração
à poderosa familia Malvezzi de Bolonha e sobretudo a um dos
inaugural do seus membros mais jovens, Bessårion, até hà
Colégio das Artes o humanista franc s Arnaldo Fabricio. dido com o
pouco
famoso cardeal do mesmo nome. De tudo isto
contun
Mas voltemos a Cataldo, cujo me
primeiro volume de Cartas ocupei nos Estudos sobre a Epoca do Renascimento.
com algumas Orações toi
impresso em Lisboa pelo alem o Valen- A
Lim Fernandes.
latim inclui
correspondência diplomática que Cataldo verteu para
As cartas de Cataldo, con tidas nes te primeiro volume, são epístolas dirigidas aos papas Inocéncio VIII Ale- e
xandre VI, a Henrique VII de Inglaterra, a Carlos VIII de
dirigidas a
portugueses e a italianos. Incluidas também no livro
encontram-se epistolas diplomáticas, escritas a França, ao imperador Maximiliano e ao
soberanos estran a
duque Filipe, seu tilho,
Fernando, rei de Nápoles, a Ludovico Sforza,
geiros,mas por ordem de
D. João II e D. famoso Ludo-
foi apenas Manuel. Ai, Cataldo vico «il Moro»,
o
infante D. Pedro e m
ternmos, entaticamente: do n s o V. Com
cardeil, nos seguintes lado
favor de s e u irmão Vasco, por
D. A f o
bens, de m e s t r e Rodrigob
seus e m
melhorou a situação
o advento de D. João II,
E que não ignoramos quanto vale a tua autoridade junto de Cataldo, junta-
do deus da terra. » encontrar entre os protectores
que v a m o s c a m a r e i r o - m o r D. João
Sousa e c o m o
mente c o m D. Diogo de
Ihe paguem
Non e2in ignoramus uanton apud terrarun deunn tita fazer que os almoxarites
Manuel, quando s e trata de
valeat auctoritas. (Ep. 1, fol. fvj).
a sua tença.
encontramos o nome de alguns
Através da correspondência,
Sim o Vaz, que pri-
Este deus terrarum» é paganismo renascentista, mas não A mestres de gramática desconhecidos, c o m o
menos desrespeito católico pelo_papa Bórgia... meiro ensinou latim a D. Pedro de Meneses, e Diogo Alvares
as
Todavia, as cartas que mais nos interessam são com certeza
que o Sículo recomenda n u m a carta a Pedro
de Alcaçova para
corte.edos.magnates da nobreza. No livro I, de que nos vimos Universidade, Pedro Rombo, ouviu também aulas suas.
ocupando, eis alguns dos corresponden tes de Cataldo: os reis
D. João II D . Manuel; o principe D. Afonso, filho legítimo, e
Não Ihe falta u m a palavra amável aos cortesaos, as vezes
condimentada de qualquer pitada irónica, como na carta a Garcia
D. Jorge, tilho ilegitimo de D. João II; D.
Dinis, sobrinho do rei Moniz, um dos fun dadores da Misericórdia; ou sem malicia a p a
D. Manuel; D. Fernando de Meneses, conde de Alcoutim
e, depois
de 1-99, marquès de Vila Real; a condessa de Alcoutim e, mais rente, n o que dá a Martim de
elogio franco por Sousa, tazeer
ensinar latim aos jovens que em Africa estão sob o seu comando,
tarde, marquesa de Vila Real, D. Maria Freire; o jovem conde
de ao mesmo tempo que lhe pede informações para a crónica que
Aldoutim, D. Pedro de Meneses
que, com sua irm D. Leonobr
de intentava escrever sobre os feitos dos portugueses em Atrica.
Nolonha, foram os alunos mais brilhantes e
predilectos de Se os problemas políticos e militares Ihe interessam, não
Cataldo o camareiro-mor e colaço do rei, D. João Manuel; )
D. Diogo de Sousa,
bispo do Porto e futuro arcebispo de Braga; está menos atento à religiosa, como na carta que dirigiu
questão
diversos Noronhas da casa de Vila Real, como D. a Próspero, um rabi siciliano em terra portuguesa, para que se
nha, seu irmão D. João de Noronha
Diogo de Noro-
convertesse, aproveitando a boa vontade com que o rei
D. Manuel
que foi prior do Mosteiro
de Santa Cruz de Coimbra procurava integrar. os seus súbditos judaicos na comunidade/x
onde, a propósito,
ainda existente, esta errado, D. Fernando Coutinho, epitáfio
o seu
nacional. A argumentaç ão com Próspero é menos de ordem reli
Lamego, e outros da nobreza, tanto de sangue como bispo de
giosa que pragmática e está cheia de preconceitos, como o de
Entre os intelectuais da corte, há no volume I eclesiástica.
que todos os judeus cheiram mal, por mais perfunmados e bem
uma carta a
Vasco Fernandes de Lucena, vestidos que só perdem o mau cheiro, quando se con-
não deve ter tido boas
já velhoe susceptivel, com quem
verteme recebem o
andem,
e
5
tim Fernandes de Morávia. Antes, porém, numa carta-manifesto
ao pai de D. Pedro, a saber, D. Fernando de Meneses, segundo
Porque teria Cataldo recorrido a Salamanca, através seu
Reitor, para obter uma opinião, e eventuais correcões, sobre o
do
marques de Vila Real, Cataldo faz a primeira defesa da cultura
seu manuscrito? Haveria falta de portugueses competentes para
clássica,em Portugal, desta vez contra «quosdam theologiculos», o mesmo efeito? Tenho razões de sobra para acreditar que não
teólogos de meia-tigela, que defendiam o latim escolástico e pro- foi esse o motivo.
curavam dissuadir das graças das Musas e das
elegâncias do Assim vejamos: quem leia assiduamente Cataldo não colhe
latim clássico os filhos da nobreza, sob pretexto de que a cultura
sobre a sua pessoa qualquer impressão de humildade. Pelo con-
paga era inimiga da fé e dos bons costumes. O humanista reba-
trário. O seu orgulho, sobretudo da qualidade de poeta latino,
te-lhes a ignoråncia e a má-fé com a autoridade dos
padres da manites ta-se a cada passo e deve ter-Ihe causado não poucós dis-
Igreja e as decisões dos concilios que recomendavam a leitura
sabores. Portanto, não era para eventuais correcções, mas para
dos bons autores latinos. Cita exemplos de
poetas e prosadores fazer prova do seu talento, em prosa e em verso, que o Siculo
de Roma, em que estes se mostram bons conselheiros, dentro
se dirigia ao Reitor de Salamanca. Aliás, da sua obra não consta
dos ditames da mais
rigorosa moral católicca. que tenha aguardado quaisquer emendas ao texto para o publicar.
De restO, já em tempos me ocupei das relações difíceis do
O segundo volume das Epistolae refere-se quase exclusiva-
humanista com os seus confrades portugueses. Destes só lhe
mente aportugueses so a um ou outro estrangeiro como o
interessavam os que tinham importantes posições na corte ou
Reitor de Salamanca, a quem Cataldo recorda a boa impressao
em
casas nobres, como os
Doutores Diogo Pacheco, Francisco
deixara quando, cerca de très lustros
que a
Universidade lhe
atrás, là havia passado n o regresso de Saragoça, onde acompa Barradase Lopo da Fonseca. A estes ea
outros, de semelhante
situaçao, ha repetidas referencias em prosa e em verso na
nhara D. Manuel, em 1498. A carta sera, portanto, u m pouco
sua obra.
anterior a 1513. Aproveita na ocasião um portador para lhe
cnviar alguns trabalhos seus. Mas será melhor traduzir Cataldo:
A oposição à s u a actividade e pretensões de escalada social
não vinha apenas dos
«theologiculi», de que atrás talámos, o u
Tendo achado finalmente agora maneira de env1a-los, remeto dos membros do clero e m geral,
que não veriam com bons olhoos
vános, a saber, a segunda parte das epistolas e de alguns dis- o educador do filho querido de D. João II, o real bastardo
Cursos, e os cinco ivTOS das VISOes, compostos em ritmo ele- D. Jorge,
giaco, para que os discutais antes de eu Os imprimir. Se vos educador laico e chamado de propósito de além-
-fronteiras.
parecer que ha coisa a acrescentar ou a suprimir, nao poupeis
Havia ainda a camada moderna, Os
a s correoções. E
para o futuro tende-me ao vosso dispor, como humanistas c o m treino
se fora um dos vossos alunos mais 1gual a0 seu. Já mencionei asco
antigos. (Ep. 1I, Ciij v). Fernandes de Lucena, mas esse
era demasiado velho e devia estar desactualizado.
O portador deve ser o
nobre (ge1erosus) Manuel Teles a u m a das s u a s
Entretanto,
quem, numa epistola logo a seguir, remete Outro poema seu, o Ocupaçoes, que nunca preencheu devidamente, e r a
a de historiador oficial. Ora
De perfecto homine, que dedicara ao rei D. João Cataldo, que cantou o s feitos doDs
11, duas décadas portugueses em versO, e m poemas como a Arcit 1nge, sobre a con-
atrás. Pede a Manuel Teles que não deixe de escrever-l he de
quista de Arzila e de Tänger, e o luto nacional
Salamanca. Todavia, es te Manuel Teles não figura entre o s estu- pela morte do
dantes portugueses da escola salmantina, no livro que sobre eles
principe D. Afonso, nos quatro cantos do seu De obitu
Alfonsi, Cataldo que proclammou repetidas vezes a Principis
publicou o Professor Verissimo Serrão necessidade
urgen te de um Homero ou de um
Virgilio que interpretasse
numa epopeia o momento glorioso que o s
Joaquim Verissimo Serräo, «Lusitani» viviam
Partugues es no Estudo de Salamanca Cataldo sempre desejou ser o
historiador latino, oficial,
(1250-1550), em Revista da
Faculdade de Letras, 111 Série, ne 5, Lisboa,
1961 cional da gesta portuguesa. internd-
Decerto, inspirado por ele, o Conde
Teixeiras não há qualquer referência e m Cataldo. Ligado a eles
de Alcoutinm proclamava na oração latina que pronunciou em
por mútuos serviços
de intelectual e de compa
por amizade
e
18 de Outubro de 1504, na abertura solene das aulas na Uni- e n c o n t r a - s e Henrique Caiado que
s e refere
versidade de Lisboa: triota n o estrangeiro,
Teixeira poemas, saídos em Bolonha,
a o s filhos de João
n o s s e u s
havis de ser o seu mestre Cataldo. Todavia, Ao grupo de portugueses então em Itália pertence também
por mais estorços
que o humanista fizesse para obter elementos, nunca (ao que
o
Martinho de Figueiredo, que Caiado não esqueceu,
jurista
parece os obteve, nem mesmo quando, como ocasionalmente ainda que para se rir dele num epigrama, acusando-o de falta
Sucede, comunica aos seus de sinceridade, por n u n c a dizer mal de ninguéme passar o tempo
correspondenteso desejo de se ocupar
da Historia de Portugal ou quando solicita ao próprio rei que a louvar toda a gente sem distinção. Também sobre Figueiredo
lhe faculze informações, como neste final duma carta a D. Manuel: nem uma palavra nas cartas e nas muitas eentenas de versos
que Cataldo escreveu.
H a uma só coisa que te
suplico, e é que mandes
sobre os assuntos da Asia e da Africa um memorialentregar-nme número dos que sabiam latim pertenciam naturalmente
Ao
ou comen-
tario, sem o s quais, vagueio nas trevas Rui de Pina. o «Rodericus Pinarius", a quem Caiado escreve de
um cego que
daqui para ali, como
perdeu o bordão.= (Ep. 11, fol. Itália e dedica uma écloga, e
B v). Lourenço de Cáceres que toi mestre
do Infante D. Luis, nascido em 1504. Recordo estes
dois, porque
Neste procedimento foram conformes D. João II
Aqucle, não obstante os oferecimen tos de Cataldo, estava na dis-
e D. Manuel. a
eles, em seguida a Vasco Fernandes Lucena, foi cometida
de
pelos reis D. João II e D. Manuel a composição de obras
posição de confiar a Angelo
Policiano a missão de escrever a ricas
histo-
que, aliás,o último, Lourenço de Cáceres, nunca chegou a
sua cronica oficial em
latim, para divulgação na Europa. O publicar. Dele, O encargo passou a seu sobrinho João de Barros.
assunto e por demais conhecido Não tenho qualquer dúvida de
para que eu me detenha a con- que a preferência por Cáceres
siderá-lo aqui. Como também é sabido, o
a efeito. porque Angelo Policiano morreu
projecto não foi levado deve ter contribuído para a rivalidade entre
este e Cataldo. A
em 1494 e, um ano verdade é que o livro II das Epistolas
de Siculo, cuja publica-
mais
tarde, falecia o próprio D. João 11,
apenas com quarenta ção pouco depois de 1513 me tem proporcionado estes comen-
anos de idade.
tários, foi seguido de muito perto, se é que os dois livros n o são
Sabe-se quem sugeriuo nome de Policiano e serviu de
mediário entre o humanista florentino e o inter contemporâneos, pelo Epigrammmaton Libellus de Lourenço de
rei de Portugal Caceres. Ai se celebram a
tomada de AzamoF e a chegada a Lis-
Foram os filhos do chanceler João
de Policiano.
Teixeira, que eram
discípulos boa do rinoceronte (aquele
que Dürer desenhou sem o ver), acon-
tecimentos do ano de 1513.
Pois aos
Teixeiras, nem mesmo a Luís Teixeira, cuja pre- Dir-me-ão que este último livro foi publicado talvez
sença em Itáliae prestigio como
jurista não devia
em
ignorar, aos Salamanca, como pensa Eugenio Asensio, e o de Cataldo em
Lis-
boa. E verdade, mas as
personagens da corte a quem Cataldo
envia cartas e Lourenço dedica figuras mais gradas da nobreza, incluindo algumas senhoras.
versos säo em
entretanto os dois autores não se parte comuns. E Excepto em poucos casos, como pode veriticar-se pela sua cor-
mencionam sequer.
Para já, notemos uma espondência, Cataldo foi chamado sobretudo para alunos adian
LibelluS de Cáceres: particularidade do EpigrammatOn tados, com o encargo de aperteiçoar os conhecimentos dos dis-
figuram nele composições de outros poetas, cipulos. Em regra não é cortês com os seus predecessores e des-
quase em proporção idêntica às do autor do
livro. Adiante, pre- faz sem escrúpulos no que eles fizeram.
cisarei de recordar este facto a
Em qualquer caso, o Siculo
propósito de Cataldo. Através da correspondência, temos um quadro dos
não é mencionado pelo s e u nome autores
n o Livro de
Epigramas de Cáceres, mas quanto mais leio Càceres, latinos então em
mais do
voga e que não é muito diferente, embora muito
mais me
convenço de que ele pode ser o alvo de
alguma daquelas amplo, elenco de autores preferidos hoje. Aqui,
sur
breves composições
epigramáticas de destinatário anónimo, sar- preendemos Cataldo explicar Cicero
a aos seus/alunos, ali reclama
cásticas e azedas, que
por lá se encontram. Entre o s poetas
que
um
mente
Lucrécio
o
que tarda ser-lhe restituido, além
pai de determinado escolar de
a avisa mansa-
dirigem versos ao cantor do duque D. Jaime dele recebem este parece traduzir
que
vores, encontra-se Aires e lou- sobretudo Ovídio. O escolar e r a D. Jorge e o pai D. João II. Tam-
Barbosa, introdutor do Grego e m Espa não
nha, que ent o ensinava em
bosa estä ausente das
Salamanca. Pois também Aires Bar- bem aprova que um filho de António
Carneiro leia os Amores
ovidianos. Os meninos estudam Virgilio e u m almoxarife
epistolas e dos poemas de Cataldo. Como que Ihe
acabanmos de ver, não taltavam não pagava, ainda por cima, ouvia dele o s
portugueses cultos que pudeS Tris
sobretudo Plauto. Algures menciona o s comentários
tia de Ovidio, mas
sem opinar a
respeito dos seus trabalhos. que compòs
Antes de voltar à corte e à a Horácio. Infelizmente não chegaram até nós, mas deviam s e r
fidalguia ilustrada, com que n o género do Commentum in Plinii
tanto se
comprazia Sicul0, dems uma volta
o Naturalis Historiac Prologtn
dade de mestre de Gramatica pela sua activi1 que Martinho de Figueiredo publicou e m Lisboa, e m
e
por alguns oticiais do mesmo 1529,
oficio, destes anos à roda de 1513. embora talvez com menos de dispêndio erudição em segunda
Ele nao mão. Este livro é entre nós muito
gostava de ser gramático. Dava-lhe mais lustre admirado, principalmen te
ser
poeta, historiador o u orador: «orator» e m por alguns estudiosos que ainda o não leram,
latim. A comp tive Oca-
signiticar «diploma ta», se o «orator» e r a mandado aopalavra podia sião de ver, há
tempOS, em uma das nossas páginas literárias.
ferir uma oração de obediencia, em nome do papa a pro-
mente em seu nome, rei, o u se, igual Mas voltemos
discursava em solenidade no a Cataldo e aos
gramáticos portuueses à roda
Pais o u no
estrangeiro, ou em missão de carácter dos primeiros anos da segunda década do século
Cataldo gostava de ser, e e s s e
é o título
diplomático. « Orator» exactamente entre o a n o
XVI, mais
que Ihe dá o Dr. Münzer que nos tem ocupado, o de 1513, e
gue, em mau latim (o de Cataldo O de 1516
_em que vem a lume a Ars
era melhor),
visita à corte de D. João
II, n o Jtinerarium. O
escreveu sobre a
Cavaleiro. O prólogO desta obra, saida Grammatica deEstévão
t radutor portu- dos prelos no mesmo
guès, Basilio de Vasconcelos, não ano do
por «pregadorn, Grande
entendeu e traduziu «Orator» Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, e um documento
desgosto teria Cataldo, se pudesse ante da mais alta importância História para a do Humanismo
Cipar a descortesia! emn
Portugal.
Mas vamos a
Cataldo, mestre de latim, Mas é preciso confessar que muitas das suas
proticientemente a trés lingua que ensinou seriam alusões não
principes, como diz com
orgulho, e às
inteligíveis sem a
revelação feita enm 1955 pelo erudito
Rocha Madahil', da existência na Biblioteca
Basilio de Vasconcelos, Pública de Braga
tos) Itimerário do Dr. Jerónimo
Coimbra, Imprensa da Miinzer (Excer-
Universidade, 1932, P. 14. Novos Testemunhos da Actividade
culo XV (Trés Tipográfica
Incundbulos Portugueses Desconhecidos). Lisboa no de Sé.
10 Lisboa, 1955.
11
CRTCAP e K
Toe
O outro, João Vaz, é autor de
trei há pouco, saida em 1501, como
uma
gramática que encon-
deduzo do modelo de u m a ataldd) era, portanto, ainda vivo, em 1516. E não se encon-
carta latina, impressa n a
de Janeiro de 1501. Acho gramática
e datada de Lisboa, a 28 trava sOzinho no seu esforço
renovador, como já vi escrito. Nio
provável que tosse o a n o da preciso de lembrar também que Estéväo Cavaleiro foi mestre
são. Em qualquer caso, o livro de impres-
João Vaz é anterior ao de de André de Resende.
Estêvão Cavaleiro. João Vaz,
que é bom latinista,
moderada, a o exprimir modestamente a adopta
ai u m a
posição
que seu livro
o esperança de
possa ser mais útil do que o s preceitos de Antó Mas deixemos o s latinistas
nio Martins. Todavia, João Vaz não profissionais e procuremos agora
exclui Pastrana da s u a Os seus
correspondentes entre as grandes famílias da nobreza
grafia de obras utilizadas para a parte gramatical. Na biblio e da
administração pública o u entre os homens cultos, m a s nao
consultou, segundo intorma, o s trabalhos dos estilística,
«imitadores de professores de Gramática e de Retórica, aristocratas com
Cicero, principe da eloquééncia, a saber, Lourenço Valla, Cataldo gostava de dar-se. As cartas quem
tinho Dati, Eneias Silvio e Fernando Agos- mostram que o humanista
se nao limitava a
isso,
Mançanares». enviar
correspondència latina, m a s que tam-
Por sem perda do valor como documento do movi- bém a recebia. Gostava mesmo de
estimular o convivio episto-
mento humanistico, h£ que dar ao lar, c o m cumprimentos e reterências
leiro o desconto de o considerarmos «Prologus»
de Estêvão Cava- elogiosas ou humoristicas
a
uma sátira de Pedro Rombo amigos comuns. Uma carta de Fernando de
a quem s e refere numa série de alusões maliciosas de Alcaçova, por
que me exemplo, é lida a D. Fernando de
Meneses, marqués de Vila
OCupei, há meses, em sessão da Associação Real e ao conde de
Alcoutim, D. Pedro, s e u filho (Ep. II, A ij).
dos Clássicos. A animosidade contra Rombo é Portuguesa de Estu-
No segundo livro,
tanto maior figuram entre outros
lhe atribui, a ele e aos quanto
seus sequazes, a perda do lugar n a Univer- rei D. Manuel e seu correspondentes, o
19
pai da aluna e
dirigiu-se
a
Joana Vaz que lIhe
encontro
do
com Sá de
Meneses. E assim a sombra proporcionou
do
o