A Sociedade em Rede
A Sociedade em Rede
A Sociedade em Rede
Manuel Castells.
Uma nova economia surgiu em escala global nos últimos anos do século XX. Segundo
Castells, ela pode ser denominada de informacional, global e em rede para identificar
suas características principais e diferenciadas e enfatizar sua interligação. É
informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades de agentes nessa
economia (sejam empresas, nações ou regiões) dependem basicamente de sua
capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em
conhecimento.
É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim
como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação e
tecnologia e mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante
uma rede de conexões entre agentes econômicos.
É em rede porque, nas novas condições históricas, a produtividade é gerada, e a
concorrência é feita em uma rede global de interação entre redes empresariais.
E essa nova economia surgiu porque a revolução tecnológica da informação forneceu a
base material indispensável para sua criação.
E neste capítulo que Castells tenta precisar os caminhos específicos (a estrutura e a
dinâmica) de um sistema econômico mundial emergente como uma forma transitória
rumo ao modelo informacional de desenvolvimento que provavelmente caracterizará as
futuras décadas.
Castells considera que é a produtividade que impulsiona o progresso econômico. E foi
por meio do aumento da produção por unidade de insumo no tempo que a raça humana
conseguiu dominar as forças da natureza e, no processo, moldou-se como cultura.
Historiadores econômicos demonstraram o papel fundamental desempenhado pela
tecnologia no crescimento da economia, via aumento da produtividade, durante toda a
história e especialmente na era industrial. E que no período de 1960, a economia norte-
americana alcançou seu apogeu, já que o nível de emprego teria alcançado seu ponto
mais alto.
As taxas de crescimento de produtividade mais altas ocorreram durante o período de
1950-1973 quando inovações tecnológicas industriais foram transformadas em um
modelo dinâmico de crescimento econômico. Mas, no início dos anos de 1970, o
potencial de produtividade dessas tecnologias parece estar exaurido e as novas
tecnologias da informação não pareciam reverter a desaceleração da produtividade pelas
duas décadas seguintes.
Segundo Castells, se considerarmos o surgimento do novo paradigma tecnológico em
meados dos anos de 1970 e sua consolidação nos anos de 1990, parece que a sociedade
como um todo não teve tempo para processar as mudanças tecnológicas e decidir a
respeito de suas aplicações. Portanto, o novo sistema econômico e tecnológico não
representaria numa taxa de crescimento da produtividade de toda economia.
A defasagem no tempo entre tecnologia e produtividade só pode ser analisada levando-
se em consideração uma minuciosa evolução dos países e dos principais setores nos
últimos vinte anos.
Em outros termos, a economia da tecnologia seria a estrutura explicativa para a análise
das fontes de crescimento. Entretanto, afirmar que a produtividade gera crescimento
econômico e que ela é uma função da transformação tecnológica equivale a dizer que as
características da sociedade são fatores cruciais subjacentes ao crescimento econômico,
por seu impacto na inovação tecnológica.
Além dessa problematização apresentada por Castells, deve-se também pensar algumas
questões básicas a respeito da estrutura e da dinâmica da economia informacional: o que
é historicamente novo em nossa nova economia? Qual sua especificidade em relação a
outros sistemas econômicos e, em especial, em relação à economia industrial?
Neste sentido, Castells tenta esclarecer que a produtividade baseada em conhecimentos
não é específica da economia informacional, pois se apresentou no período entre o fim
do século XIX e a Segunda Guerra Mundial, uma aceleração do crescimento da
produtividade no período maduro do industrialismo e uma desaceleração das taxas de
crescimento de produtividade no período de 1973-1993, apesar de insumos tecnológicos
e aceleração no ritmo da transformação tecnológica. E também não podemos desprezar
que há uma defasagem de tempo entre inovação tecnológica e a produtividade
econômica.
Conforme Castells, o crescimento vertiginoso de certos setores ligados às tecnologias de
informação na metade dos anos de 1990, não pode ser interpretado que só há um setor
dinâmico na estrutura da economia informacional, mas que deve ser interpretado como
formato do que está por vir, e não como acidente anormal na paisagem plana da rotina
econômica.
Castells considera que em longo prazo a produtividade é a fonte de riqueza das nações.
E a tecnologia, inclusive a organizacional e a de gerenciamento, é o principal fator que
induz à produtividade. Deste modo, Richard Nelson acredita que a nova agenda da
teorização formal sobre o crescimento deveria programar estudos das relações entre
transformação tecnológica, capacidades das empresas e instituições nacionais. Não se
buscam tecnologia pela própria tecnologia ou aumento da produtividade para a melhora
da humanidade. Comportam-se em um determinado contexto histórico, conforme as
regras de um sistema econômico que no final punirá ou premiará sua conduta.
Assim, as empresas estarão motivadas não pela produtividade, e sim pela lucratividade
e pelo aumento do valor de suas ações (CASTELLS, 2005:136).
Os anos de 1970 foram, ao mesmo tempo, a época provável do nascimento da revolução
da tecnologia da informação e uma linha divisória na evolução do capitalismo. As
empresas de todos os países reagiam ao declínio real da lucratividade ou o temiam e,
por isso, adotavam novas estratégias. Algumas delas, como a inovação tecnológica e a
descentralização organizacional, embora essenciais em seu impacto potencial, tinham
um horizonte de prazo relativamente longo. E para aumentar os lucros, em determinado
ambiente financeiro e co preços ajustados pelo mercado, há quatro caminhos principais:
reduzir os custos de produção; aumentar a produtividade; ampliar o mercado; e acelerar
o giro de capital. Em todos estes setores, as novas tecnologias de informação foram
instrumentos essenciais.
Mas Castells considera que houve a implantação de estratégia anterior e com resultados
mais imediatos: a ampliação de mercados e a luta por fatias do mercado. Isso porque
aumentar a produtividade sem um respectivo aumento da demanda é um sério risco. E
assim, para abrir novos mercados conectando os segmentos de mercado de cada país a
uma rede global, o capital necessitou de extrema mobilidade, e as empresas precisaram
de uma capacidade de informação extremamente maior.
Os primeiros e mais diretos beneficiários dessa reestruturação foram os próprios atores
da transformação tecnológica: empresas de alta tecnologia e empresas financeiras.
Nas décadas de 1980 e 1990, a evolução do comércio internacional foi marcada pela
tensão entre duas tendências evidentemente contraditórias: de um lado, a liberalização
cada vez maior do comércio; de outro, uma série de projetos governamentais para
criação de blocos de comércio.
Essas tendências, juntamente com o protecionismo persistente no mundo inteiro,
levaram inúmeros observadores a propor a idéia de uma economia global regionalizada.
Isto é, um sistema global de áreas de comércio, com homogeneização cada vez maior
de alfândegas dentro da área, ao mesmo tempo mantendo as barreiras comerciais com
relação ao resto do mundo (CASTELLS, 2005: 152).
Os acordos multilaterais patrocinados pela OMC criaram uma nova estrutura para o
comércio internacional, promovendo a integração global. Assim, os projetos de blocos
comerciais tenham fracassado ou evoluído e se transformando em integração econômica
(União Européia). Portanto, em exame mais minucioso, a configuração da economia
global afasta-se muito da estrutura regionalizada cuja hipótese foi formulada no início
dos anos 1990. A União Européia é uma economia e não uma região.
2.7_A Internacionalização da Produção: Grupos Empresariais Multinacionais e
Redes Internacionais de Produção
2.9_Mão-de-obra Global?
3_O objetivo principal era lidar com a incerteza causada pelo ritmo veloz das mudanças
no ambiente econômico, institucional e tecnológico da empresa, aumentado a
flexibilidade em produção, gerenciamento e marketing.
Às vezes, conforme a família vai aumentando suas posses, o padrão de criação de novas
empresas é intrageracional. Segundo Wong, as empresas chinesas bem-sucedidas
passam por quatro fases em três gerações: emergente, centralizada, segmentada e
desintegrativa, após a qual o ciclo recomeça. Apesar de freqüentes rivalidades dentro da
família, a confiança pessoal continua sendo a base dos negócios, independentemente das
normas legais/contratuais. Assim, as famílias prosperam criando novas empresas em
qualquer setor de atividade considerado rentável. As empresas familiares estão ligadas
por acordos de subcontratação, intercâmbio de investimentos e participação em ações.
Os negócios das empresas são especializados, e os investimentos das famílias são
diversificados. As fontes de financiamento tendem ser informais como: poupanças
familiares, empréstimos de amigos, associações de crédito rotativo e outras formas de
empréstimo informal.
Entretanto, cada uma dessas afirmações deve ser vista com alguma restrição. Além
disso, a conexão histórica entre os três processos ainda tem de ser submetida à
confirmação empírica.
Em relação a primeira afirmação devemos notar que o uso do conhecimento como base
de crescimento da produtividade foi uma característica da economia industrial, a
característica distintiva desses dois tipos de economia não parece ter como base
principal a fonte de crescimento de sua produtividade. A distinção apropriada não é
entre uma economia industrial e uma pós-industrial, mas entre duas formas de
produção industrial, rural e de serviços (CASTELLS, 2005: 268).
Castells tenta mudar a ênfase do pós-industrialismo para o informacionalismo, pois
nesta perspectiva, as sociedades serão informacionais, não porque se encaixem em um
modelo específico de estrutura social, mas porque organizam seu sistema produtivo em
torno de princípios de maximização da produtividade baseada em conhecimento, por
intermédio e difusão de tecnologias da informação e pelo atendimento dos pré-
requisitos para sua utilização.
O segundo critério da teoria pós-industrial para se considerar uma sociedade como pós-
industrial diz respeito à mudança para as atividades de serviços e ao fim da indústria. É
um fato óbvio que a maior parte dos empregos nas economias avançadas localiza-se no
setor de serviços, mas não quer dizer que as indústrias estejam desaparecendo.
Grande parte da confusão provém da separação artificial entre as economias avançadas
e as economias em desenvolvimento, pois mesmo parte dos países tenham apresentado
queda substancial nos índices de empregos industriais nos países em desenvolvimento
houve uma multiplicação de empregos que excederam em muito as perdas no mundo
desenvolvido.
Além disso, o conceito de serviços muitas vezes é considerado ambíguo. Em estatística
de emprego, esse conceito tem sido usado como conceito residual que abarca tudo o que
não é agricultura, mineração construção, empresa de serviço público ou indústria.
Assim, a categoria de serviços inclui atividades de todas as espécies, historicamente
originárias de várias estruturas sociais e sistemas produtivos. A única característica
comum dessas atividades do setor de serviços é o que elas não são.
O terceiro prognóstico importante da teoria original do pós-industrialismo refere-se a
expansão das profissões ricas em informação, com cargos de administradores,
profissionais especializados e técnicos, representando o cerne da nova estrutura
ocupacional. Esse prognóstico requer alguma ressalva. Diversas análises afirmam que
essa tendência não é a única característica da nova estrutura ocupacional. Simultâneo a
essa tendência também há o crescimento das profissões em serviços mais simples e não-
qualificados. As sociedades informacionais também podem ser caracterizadas por uma
estrutura social cada vez mais polarizada em que os dois extremos aumentam sua
participação em detrimento da camada intermediária. Além disso, há na literatura uma
resistência generalizada ao conceito de que conhecimentos, ciência e especialização são
os componentes cruciais na maior parte das profissões administrativas/especializadas.
No entanto, o argumento mais importante contra uma versão simplista do pós-
industrialismo é a crítica à suposição de que as três características examinadas se unem
na evolução histórica e que essa evolução leva a um modelo único da sociedade
informacional.
Havendo uma economia global, também deve existir um mercado de trabalho e uma
força de trabalho global. Entretanto, como acontece com muitas declarações óbvias,
essa é empiricamente incorreta e analiticamente enganosa. Embora o capital flua com
liberdade nos circuitos eletrônicos das redes financeiras globais, o trabalho é ainda
muito delimitado por instituições, culturas, fronteiras, polícia e xenofobia.
Contudo, há uma tendência histórica para a crescente interdependência da força de
trabalho em escala global por intermédio de três mecanismos: emprego global nas
empresas multinacionais e suas redes internacionais coligadas; impactos do comércio
internacional sobre o emprego e as condições de trabalho tanto no Norte como no Sul.
Desse modo, abre-se uma grande oportunidade para as empresas dos países capitalistas
avançados em relação a estratégias para a mão-de-obra qualificada e também para a
não-qualificada. Elas podem optar entre:
1_O valor agregado é gerado principalmente pela inovação, tanto de processo como de
produto.
2_A inovação em si depende de duas condições: potencial de pesquisa e capacidade de
especificação. Ou seja, os novos conhecimentos precisam ser descobertos, depois
aplicados em objetivos específicos em um determinado contexto institucional.
3_A execução de tarefas é mais eficiente quando é capaz de adaptar instruções de níveis
mais altos a sua aplicação específica e quando pode gerar efeitos de feedback no
sistema.
4_A maior parte das atividades ocorre nas organizações. Uma vez que as duas
características principais da forma organizacional predominante são adaptabilidade
interna e flexibilidade externa, as características mais importantes do processo serão:
capacidade de gerar tomada de decisão estratégica flexível e capacidade de conseguir
integração em todos os elementos do processo produtivo.
-os que dão a última palavra, que tomam a decisão em última instância;
-os participantes, que estão envolvidos no processo decisório;
-os executores, que apenas implantam as decisões;
1_Jornada de trabalho: trabalho flexível significa trabalho que não está restrito ao
modelo tradicional de 35-40 horas por semana em expediente integral.
Tanto o tempo como o espaço estão sendo transformados sob o efeito combinado do
paradigma informacional. A economia informacional é organizada em torno de centros
de controle e comando capazes de coordenar, inovar e gerenciar as atividades
interligadas das redes de empresas. Serviços avançados, P&D e inovação cientifica
estão no cerne de todos os processos econômicos. Todos podem ser reduzidos à geração
de conhecimento e a fluxos de informação.
À medida que a economia global se expande e incorpora novos mercados, também
organiza a produção dos serviços avançados necessários para o gerenciamento das
novas unidades que aderem ao sistema e das condições de suas conexões em continua
mudança. Em cada país a arquitetura de redes reproduz-se em centros locais e regionais,
de forma que o sistema todo fique interconectado em âmbito global.
Assim, as regiões, sob o impulso dos governos e das elites empresariais, estruturam-se
para competir na economia global e estabelecem redes de cooperação entre instituições
regionais e empresas localizadas na área. Dessa forma, as regiões e as localidades não
desaparecem, mas ficam integradas nas redes que ligam seus setores mais dinâmicos.
De fato, a hierarquia na rede não é de forma alguma garantida ou estável: está sujeita à
concorrência acirrada entre as cidades, bem como à aventura de investimentos de alto
risco em finanças e bens imobiliários.
Entretanto mantém-se um questionamento sobre a permanência de sistemas de serviços
avançados em aglomerados em alguns grandes nós ou centro metropolitanos. E deste
modo, Sassen entende que