Cap 2 - História Da Psicologia Moderna PDF
Cap 2 - História Da Psicologia Moderna PDF
Cap 2 - História Da Psicologia Moderna PDF
Psicologia Moderna
Tradução da oitava edição norte-americana
Duane P. Schultz
University of South Florida
Tradutora:
Suely Sonoe Murai Cuccio
Revisara técnica:
Roberta Gurgel Azzi
Professora do Departamento de Psicologia
Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp
As Influências
Filosóficas na
Psicologia
o Espírito do Mecanicismo
O Universo Mecânico
Determinismo e
Reducionismo
o Espírito do Mecanicismo
O Robô
As Pessoas como Máquinas Formas extravagantes de entretenimento brotavam entre
A Máquina Calculadora as muitas maravilhas da impressionante era nos jardins
Os Primórdios da Ciência reais da Europa do século XVII. A água que percorria uma
Moderna tubulação subterrânea acionava as figuras mecânicas,
René Descartes (1596-1650)
fazendo-as realizar vários movimentos inusitados, tocar
As Contribuições de
Descartes: o Mecanicismo
instrumentos musicais e imitar os sons da fala. Placas de
e o Problema Mente-Corpo pressão ocultas no chão eram acionadas quando as pes-
A Natureza do Corpo soas pisavam nelas sem querer, fazendo a água correr
A Interação Mente-Corpo pelos canos até o mecanismo que movimentava as está-
A Doutrina das Idéias
tuas. Essas diversões da aristocracia do século XVII refle-
As Bases Filosóficas da Nova
tiam e evidenciavam o fascínio exercido pelas máquinas
Psicologia: Positivismo,
Materialismo e Empirismo
que estavam sendo inventadas e aperfeiçoadas para o uso
Auguste Comte (1798-1857) na ciência, na indústria e no lazer.
John Locke (1632-1704) Em toda a Inglaterra e na Europa ocidental, uma
Texto Original: Trecho sobre
enorme quantidade de máquinas era empregada nas
o Empirismo Extraído
de An Essay Concerning tarefas diárias para complementar a força muscular do
Human Understanding homem. Essas bombas, alavancas, guindastes, rodas e
(1690), de John Locke engrenagens moviam os moinhos de água e de vento
George Berkeley (1685-1753)
David Hume (1711-1776) para moer grãos, serrar toras de madeira, tecer fios e rea-
David Hartley (1705-1757) lizar outros trabalhos braçais. Dessa maneira, a socieda-
James Mil! (1773-1836) de européia libertava-se da dependência da força física
John Stuart Mil! (1806-1873)
humana. As máquinas tornaram-se familiares às pessoas
Contribuições do Empirismo
de todos os níveis sociais, desde o mais humilde até o
à Psicologia
aristocrata, e logo passaram a fazer parte da vida cotidiana. Entretanto, entre todos os
inventos, o relógio mecânico foi o de maior impacto no pensamento científico.
Mas qual a relação existente entre o desenvolvimento maciço da tecnologia e a his-
tória da psicologia moderna? Afinal, referimo-nos a um período 200 anos anterior à fun-
dação formal da psicologia como ciência, bem como à física e à mecânica, disciplinas há
muito excluídas do estudo da natureza humana. No entanto, a relação é inevitável e
direta, já que os princípios incorporados nas movimentadas e ruidosas máquinas, nas
figuras e nos relógios mecânicos do século XVII exerceram grande influência na direção
tomada pela nova psicologia.
O Zeitgeist dos séculos XVII ao XIX consistiu a base que nutriu a nova psicologia. O
espírito do mecanicismo, que enxerga o universo como uma grande máquina, foi o fun-
damento filosófico do século XVII, ou seja, a sua força contextual básica. Essa doutrina
afirmava serem os processos naturais mecânicos e passíveis de explicação por meio das
leis da física e da química.
Mecanicismo: doutrina para a qual os processos naturais são determinados mecanicamente e expli-
cados pelas leis da física e da química.
o Universo Mecânico
o relógio mecânico foi a metáfora perfeita usada pelo espírito do mecanicismo do sécu-
lo XVII. O historiador Daniel Boorstin referia-se ao relógio como a "mãe das máquinas"
(Boorstin, 1983, p. 71). O relógio foi a sensação tecnológica do século XVII, assim como
o computador no século XX. Nenhum dispositivo mecânico provocou tanto impacto no
pensamento humano e em todos os níveis da sociedade. Na Europa, os relógios eram
produzidos em grande quantidade e variedade1. Alguns eram de tamanho suficiente para
ficar sobre a mesa; outros, bem maiores, instalados nas torres das igrejas e nos edifícios
públicos, podiam ser vistos e ouvidos a quilômetros de distância. Enquanto as figuras
mecânicas instaladas nos jardins reais eram a diversão da elite, os relógios eram acessí-
veis a todos, independentemente da classe social ou da situação econômica.
Devido à regularidade, previsibilidade e exatidão dos relógios, os cientistas e filósofos
começaram a enxergá-los como modelos para o universo físico. Talvez o próprio univer-
so fosse um imenso relógio fabricado e colocado em operação pelo Criador. Os cientistas,
como o físico britânico Robert Boyle, o astrônomo alemão ]ohannes Kepler e o filósofo
francês René Descartes, acreditavam nessa idéia e aceitavam a explicação da harmonia e
da ordem do universo baseada na regularidade do relógio, ou seja, o mecanismo é fabri-
cado cuidadosamente pelo relojoeiro, assim como o universo foi arquitetado por Deus
para funcionar com regularidade.
O filósofo alemão Christian von Wolff declarou: "O comportamento do universo
não é diferente do funcionamento do mecanismo do relógio". Seu aluno ]ohann
Cristoph Gottsched ainda acrescentou: "Como o universo é uma máquina, ele é seme-
lhante ao relógio; e, assim, o relógio permite-nos compreender em pequena escala o fun-
cionamento em grande escala do universo" (apud Maurice e Mayr, 1980, p. 290).
1 No século x, os chineses já haviam criado enormes relógios mecânicos. Talvez a notícia da invenção tenha incen-
tivado o desenvolvimento de outros relógios no oeste europeu. Entretanto, o tratamento refinado dado pelos euro·
peus e o seu entusiasmo na elaboração, criando modelos até extravagantes, tornaram esses relógios inigualáveis
(Crosby, 1997).
oferece um recurso chamado "A Walk Through Time: The Evolution of
Time Measurement Through the Ages" (Um passeio pelo tempo: a evolu-
ção da medição do tempo através das épocas).
Não era difícil perceber a estrutura e o funcionamento do relógio. Era fácil desmon-
tá-Io e verificar exatamente a operação das engrenagens. Essa idéia levou os cientistas a
popularizarem o conceito de reducionismo. Para compreender o mecanismo operacio-
nal das máquinas como o relógio, bastava reduzi-Ias aos componentes básicos. Do
mesmo modo, para entender o universo físico (que, afinal de contas, nada mais era do
que uma máquina), bastava analisá-Io ou reduzi-Io às partes mais simples, ou seja, às
moléculas e aos átomos. Assim, o reducionismo acabou caracterizando toda a ciência,
inclusive a nova psicologia.
Reducionismo: doutrina que explica os fenômenos em um nível (por exemplo, as idéias complexas)
em termos de fenômenos em outro nível (por exemplo, as idéias simples).
As figuras movidas pela força da água nos jardins já serviam de modelo para os intelec-
tuais e aristocratas do século XVII, assim como os relógios para as pessoas comuns. À
medida que a tecnologia era aprimorada, aparelhagens mais sofisticadas, desenvolvidas
para imitar as atitudes e os movimentos humanos, eram disponibilizadas para o entre-
tenimento da população em geral. Esses aparelhos foram chamados de robôs e eram
dotados de capacidade para realizar movimentos incríveis e inusitados com precisão e
regularidade.
o robô já fora desenvolvido muito antes do século XVII, pois foram encontradas
descrições de figuras mecanizadas nos antigos manuscritos gregos e árabes. Os chineses
também se destacaram na construção dos robôs, já que sua literatura relata a existência
de animais e peixes mecânicos, além de figuras humanas criadas para servir vinho, car-
regar xícaras de chá, cantar, dançar e tocar instrumentos musicais. No século VI, um
enorme relógio foi construído na atual região da Palestina e, de hora em hora, a cada
badalada, um conjunto sofisticado de figuras mecânicas entrava em movimento. Assim,
a arte da criação de robôs espalhou-se por todo o mundo islâmico (Rossum, 1996). No
entanto, mais de mil anos depois, no século XVII, os robôs desenvolvidos pelos cientis-
tas, intelectuais e artesãos do oeste europeu foram considerados novidade. O importan-
te trabalho das antigas civilizações havia-se perdido.
Os dois robôs mais complexos e sofisticados desenvolvidos na Europa foram um
pato e um flautista. O pato apanhava a comida da mão do demonstrador, engolia-a e a
expelia; depois, bebia água mediante o movimento do pescoço flexível. Além disso, imi-
tava o grasnido da própria ave e acomodava-se sobre as patas. "Mais tarde, constatou-se
que em apenas uma das asas havia mais de 400 peças articuladas" (Wood, 2002, p. 27).
O flautista não apenas emitia o som típico dos brinquedos musicais, como efetiva-
mente executava o instrumento. Com mais ou menos 1,67 m em pé, altura média do
homem da época, o robô compreendia uma peça mecanizada que reproduzia cada mús-
culo, cada ligamento ou outra parte do corpo necessária para executar a flauta.
Nove foles bombeavam no peito do robô a quantidade necessária de ar, de acordo
com o tom a ser executado dentre os 12 programados. O ar era empurrado através de um
tubo (correspondente à traquéia humana) e entrava na boca, onde era controlado pela
língua e pelos lábios metálicos antes de chegar à flauta, dando, assim, a impressão de que
o boneco estava realmente respirando. Os dedos abriam-se e fechavam-se sobre os orifí-
cios do instrumento para produzirem os sons exatos. Ambos os robôs "obscureceram a
linha divisória entre o homem e a máquina e entre o ser animado e o inanimado"
(Wood, 2002, p. xvii).
Hoje, os robôs podem ser vistos nos principais parques de várias cidades européias,
nas quais figuras mecânicas dos relógios das torres dos edifícios públicos marcham em
círculo, tocam tambores e batem nos sinos com os martelos a cada quarto de hora. Na
catedral de Estrasburgo, na França, representações de figuras bíblicas reverenciam a
Virgem Maria a cada hora, enquanto um galo abre o bico, põe a língua para fora, bate as
asas e canta. Na catedral de Wells, na Inglaterra, pares de cavaleiros vestidos de armadu-
ras simulam uma batalha. Quando o relógio toca, a cada hora, um cavaleiro derruba o
outro do cavalo. No Museu Nacional Bávaro de Munique, na Alemanha, há um papagaio
de cerca de 40 cm de altura e, quando o relógio toca, de hora em hora, ele assobia, bate
as asas mecânicas, vira os olhos e deixa cair uma bolinha de aço do seu rabo.
A foto a seguir mostra o mecanismo interno da figura de um monge de mais ou
menos 40 cm de altura, que atualmente faz parte da coleção do Museu Nacional de
História Americana, em Washington, De. O monge está programado para se mover
dentro de um espaço de mais ou menos 60 cm. Seus pés parecem movimentar-se sob o
hábito, mas na verdade a estátua se move sobre rodas. E ele ainda bate com um braço
no peito e com o outro acena, mexe a cabeça de um lado a outro, além de abrir e fechar
a boca.
Os filósofos e cientistas da época acreditavam na tecnologia mecânica como uma
forma de realizar o sonho da criação do ser artificial e, nitidamente, muitos dos primei-
ros robôs davam essa impressão. Podemos pensar neles como os bonecos Disney da
época e é fácil entender por que as pessoas chegaram à conclusão de que os seres vivos
eram simplesmente outro tipo de máquina.
Esses dois endereços apresentam fotos e descrições resumidas dos robôs dos
séculos XVIIe XVIII.
http://www.xroads.virginia.edu/ -drbr/b_edinLhtml
http://www.santafe.edu/ -shalizi/LaMettrie/
Essesite oferece uma biografia de Julien de La Mettrie e uma lista com fon-
tes de informação complementares a respeito da sua vida e do seu trabalho,
além de uma tradução para o inglês do seu livro Man a machine.
A Máquina Calculadora
Charles Babbage (1791-1871) era fascinado por relógios e robôs quando garoto. O
objeto de desejo pelo qual tinha enorme atração era uma bailarina mecânica, que acabou
adquirindo muitos anos depois. Babbage era muito inteligente e tinha talento especial
para matemática, que estudou por conta própria na adolescência. Quando se matriculou
na Cambridge University, ficou decepcionado ao descobrir que sabia mais matemática do
que os próprios professores. Mais tarde tornou-se professor de matemática da Cambridge
e membro da Royal Society, tendo sido um dos intelectuais mais conhecidos da sua época.
O trabalho a que se dedicou a vida inteira foi o desenvolvimento de uma máquina calcu-
ladora capaz de realizar as operações matemáticas mais rapidamente que o homem e que
permitisse imprimir os resultados. Em busca desse objetivo, Babbage acabou formulando
os princípios básicos do computador moderno.
Enquanto os robôs imitavam os atos físicos humanos, a calculadora de Babbage
simulava as ações mentais. Além de tabular os valores das funções matemáticas, a
máquina dispunha de recursos para jogar xadrez, damas e outros jogos. Era até mesmo
dotada de memória para armazenar os resultados parciais usados posteriormente para
completar o cálculo. Babbage batizou a calculadora de máquina da diferença" e refe-
lia
ria-se a si mesmo como "0 programador". A máquina compreendia cerca de 2.000 peças
de aço e de bronze, como hastes, engrenagens e discos, montadas com perfeição e movi-
das ou colocadas em funcionamento por uma manivela manual. A calculadora de
Babbage, que funciona até hoje, marcou o início do desenvolvimento dos modernos e
sofisticados computadores2. Ela representou um grande marco na tentativa de simular
o pensamento humano para fabricar um mecanismo que demonstrasse urna inteligên-
cia "artificial" (veja no Capítulo 15).
Um dos biógrafos mais recentes de Babbage fez a seguinte observação: "A importân-
cia da automatização da máquina não deve ser superdimensionada. No entanto, a utili-
zação da manivela manual, ou seja, a aplicação da força {fsica, permitiu, pela primeira
vez na história, a obtenção de resultados possíveis até então apenas pelo esforço mental,
isto é, pelo pensamento. Foi a primeira tentativa de êxito em exteriorizar a faculdade do
pensamento em urna máquina inanimada" (Swade, 2000, p. 83).
Babbage resolveu promover a nova máquina junto às pessoas mais influentes da
época, a fim de obter apoio para construir um dispositivo ainda mais aperfeiçoado.
Organizou grandes festas na sua residência de Londres, com até 300 convidados perten-
centes à elite social, intelectual e política. Charles Darwin e o escritor Charles Dickens
foram alguns dos convidados. Personalidades importantes faziam questão de serem vis-
tas na casa do brilhante contador de anedotas, inventor e celebridade, e de estarem na
presença de Babbage, ao lado da extraordinária máquina. Entretanto, a máquina comple-
ta era volumosa demais para ser exibida na casa. Assim, Babbage construiu um modelo de
parte dela e colocava-o em funcionamento para entreter os visitantes. Tinha aproxima-
damente 76 cm de altura, 61 cm de largura e 61 cm de profundidade.
Depois de dez anos, Babbage abandonou o trabalho da máquina da diferença e
começou a projetar um aparelho mais sofisticado que chamou de "máquina analítica",
a qual podia ser programada com o uso de cartões perfurados e era dotada de urna
memória separada, além da capacidade de processamento de dados. Também possuía
urna saída para a impressão dos resultados das tabulações. A máquina analítica foi com-
parada ao "computador digital para fins gerais" (Swade, 2000, p. 115). Infelizmente, o
projeto teve de ser abandonado. O governo britânico, que financiava os trabalhos de
Babbage, cancelou a verba devido aos freqüentes estouros no orçamento.
Urna das leais patrocinadoras de Babbage e das raras pessoas a conhecerem a opera-
ção da máquina era a jovem e prodigiosa matemática de 18 anos, Ada, a Condessa de
Lovelace (1815-1852)3. Babbage chamava-a de minha "muito admirada intérprete" (apud
Campbell-Kelly; Aspray, 1996, p. 57). Era muito raro na época urna mulher estudar mate-
mática. As mulheres eram consideradas frágeis demais para lidarem com um objeto de
estudo tão complexo. Ada Lovelace completou os estudos com professores particulares,
já que as mulheres eram proibidas de freqüentar os cursos universitários. Ela publicou
urna clara explicação a respeito do funcionamento da máquina calculadora e também
sobre as possíveis aplicações e implicações filosóficas. Além disso, foi a primeira a reco-
nhecer a principal limitação de urna máquina "pensante": ela não é capaz, por iniciati-
va própria, de criar ou desenvolver nada novo - executa apenas o que está programada
para fazer. 4
3 Ada Lovelace era filha do poeta Lord Byron (George Noel Gordon), cujos memoráveis escritos incluem: "Tis stran-
ge, but true; for truth is a/ways strange, - Stranger than fiction". (Tradução livre: "É estranho, mas verdadeiro, por-
que a verdade é sempre estranha - Mais estranha do que a ficção.")
4 Em 1980, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos batizou de "Ada" a linguagem de programação do siste-
ma de controle do computador do exército.
Babbage perdeu a motivação quando o governo suspendeu o financiamento do seu
trabalho. Além disso, a morte prematura de Ada, com cerca de 37 anos, deixou-o ainda
mais amargurado e ressentido. Acreditava que os esforços para desenvolver a máquina
calculadora haviam sido em vão e que nunca seria reconhecido pela sua contribuição.
Todavia Babbage recebeu amplo reconhecimento pelo seu trabalho. Em 1946, quando o
primeiro computador totalmente automático foi desenvolvido na Harvard University,
um pioneiro do computador referiu-se ao acontecimento como a concretização do
sonho de Babbage. Em 1991, para comemorar o bicentenário de seu nascimento, um
grupo de cientistas britânicos construiu a réplica de uma das máquinas do sonho de
Babbage, com base nos seus desenhos originais. O aparelho consiste de 4.000 peças, pesa
3 toneladas e realiza cálculos com perfeição (Dyson, 1997).
Charles Babbage, que personificou no século XIX a noção do funcionamento do
homem como uma máquina, estava evidentemente muito à frente da sua época. Sua cal-
culadora, precursora dos modernos computadores, representou a primeira tentativa de
sucesso na reprodução do processo cognitivo humano e no desenvolvimento de uma
forma de inteligência artificial. Os cientistas e os inventores da sua época previram que
os usos das máquinas seriam ilimitados, assim como as funções humanas que seriam
capazes de executar.
http://www.ex.ac.ukJBABBAGE/
Os dois sites fornecem informações interessantes sobre a vida, o trabalho e
as contribuições de Charles Babbage.
http://awc-hq.org/lovelace/whowas.htm
http://adahome.com/Tutorials/Lovelace/lovelace. html
Os três sites são sobre Ada Lovelace, com links para outros endereços
pertinentes na Internet.
As Contribuições de Descartes:
o Mecanicismo e o Problema Mente-Corpo
O trabalho mais importante de Descartes para o desenvolvimento da psicologia moder-
na foi a tentativa de resolver o problema mente-corpo, uma questão controversa
durante séculos. Ao longo de vários períodos, os intelectuais discutiam como a mente
- ou as qualidades mentais - podia ser diferenciada do corpo e de todas as demais
qualidades físicas. A questão básica, simples, porém enganosa, é esta: a mente e o corpo,
isto é, o universo mental e o mundo material são de naturezas distintas? Por milhares
de anos os intelectuais adotaram posturas dualistas, com o argumento de que a mente
(a alma ou o espírito) e o corpo são de naturezas diferentes. Entretanto, a aceitação da
posição dualista levanta outras questões: se a mente e o corpo são de naturezas diferen-
tes, qual é a relação existente entre eles? Como interagem? São independentes ou in-
fluenciam-se mutuamente?
Teoria do ato de reflexo: a idéia de que um objeto externo (estímulo) pode provocar uma respos-
ta involuntária.
Se tivermos a curiosidade de examinar os órgãos dos coros de igrejas, será possível des-
cobrir como os foles empurram o ar para dentro dos receptáculos denominados (prova-
velmente por essa razão) câmaras de ar. E saberemos como o ar passa das câmaras para
um ou outro tubo, dependendo do movimento dos dedos do organista sobre o teclado.
Podemos comparar o coração e as artérias da nossa máquina, que empurram o espírito
animal para dentro das cavidades do cérebro, com os foles, que empurram o ar para den-
tro das câmaras de ar; e os objetos externos, que estimulam certos nervos e fazem com
que o espírito contido nas cavidades cheguem a determinados poros, com os dedos do
organista, que pressionam determinadas teclas e fazem com que o ar passe das câmaras
de ar para os tubos específicos. (Apud Gaukroger, 1995, p. 279.)
Descartes encontrou na fisiologia contemporânea a confirmação para a sua interpre-
tação mecânica do funcionamento do corpo humano. Em 1628, o médico inglês William
Harvey descobriu os fatores básicos relacionados com a circulação sangüínea no corpo
humano. Outros fisiologistas dedicavam-se ao estudo dos processos digestivos; alguns
cientistas descobriram que os músculos do corpo trabalhavam em pares opostos e que a
sensação e o movimento dependiam, de alguma forma, dos nervos.
Apesar dos grandes avanços dos pesquisadores na descrição das funções e dos pro-
cessos do corpo humano, muitas vezes as descobertas eram imprecisas ou incompletas.
Por exemplo: presumia-se que os nervos consistiam em tubos ocos através dos quais fluía
o espírito animal, assim como o fluxo de água percorria os canos para ativar as figuras
mecânicas. Todavia nossa preocupação nesse caso não recai sobre a precisão ou perfeição
da fisiologia do século XVII, mas no fato de ela servir como base de sustentação para a
interpretação mecânica do corpo.
O dogma religioso estabelecido afirmava que os animais eram desprovidos de alma,
sendo assim comparados aos robôs. Essa teoria preservava a distinção entre os seres huma-
nos e os animais, conceito fundamental para o pensamento cristão. E, se os animais eram
robôs e não tinham alma, também não eram dotados de sentimentos. Desse modo, os
pesquisadores da época de Descartes conduziam pesquisas com animais vivos, mesmo
antes de surgir a anestesia. Um escritor declarou que se entretinha "com os gritos e cho-
ros [dos animais], que nada mais eram do que assobios hidráulicos e vibrações das máqui-
nas" aaynes, 1970, p. 224). Assim, os animais pertenciam totalmente à categoria dos
fenômenos físicos. Eram desprovidos de imortalidade, de processos de pensamento e de
vontade própria, e seu comportamento era explicado totalmente em termos mecânicos.
A /nteração Mente-Corpo
De acordo com a teoria de Descartes, a mente é imaterial, ou seja, não tem substância
física, mas é provida de capacidade de pensamento e de outros processos cognitivos.
Conseqüentemente, proporciona aos seres humanos informações a respeito do mundo
exterior. Em outras palavras, não apresenta nenhuma das propriedades da matéria, no
entanto possui a capacidade do pensamento, característica que a separa do mundo mate-
rial ou físico.
Como a mente possui a capacidade do pensamento, da percepção e da vontade, de
algum modo influencia o corpo e é por ele influenciada. Por exemplo: quando a mente
decide realizar um movimento de um lado para o outro, essa decisão é executada pelos
músculos, tendões e nervos do corpo. Do mesmo modo, quando o corpo recebe um estí-
mulo como a luz ou o calor, a mente reconhece e interpreta esses dados sensoriais e
determina a resposta adequada.
Antes de Descartes completar essa teoria sobre a interação mente-corpo, precisou
localizar o ponto físico exato do corpo em que ele e a mente interagiam mutuamente.
Ele a considerava uma unidade, o que significava que ela deveria interagir com o corpo
em apenas um único ponto. Também acreditava que a interação ocorria em alguma parte
dentro do cérebro, porque a pesquisa lhe havia demonstrado que as sensações viajavam
até ele, onde também se originava o movimento. Estava claro para Descartes que o cére-
bro era o ponto central das funções da mente e a única estrutura cerebral unitária (ou
seja, não dividida nem duplicada em cada hemisfério) seria o corpo pineal ou conarium.
E ele considerou lógico ser esse o centro da interação.
Descartes usou os conceitos do mecanicismo para descrever como ocorre a interação
mente-corpo. Propôs que o movimento do espírito animal nos tubos nervosos provoca
uma impressão no conarium e a partir daí a mente produz a sensação. Em outras pala-
vras, a quantidade de movimentos físicos (o fluxo do espírito animal) produz uma qua-
lidade mental (uma sensação). O contrário também ocorre: a mente cria uma impressão
no conarium (de algum modo, Descartes nunca forneceu uma explicação clara) e, incli-
nando-se para uma direção ou outra, a impressão pode provocar o fluxo do espírito ani-
mal até os músculos, resultando, assim, no movimento corporal ou físico.
Idéias derivadas e inatas: as idéias derivadas são produzidas pela aplicação direta de um estímu-
lo externo; as idéias inatas surgem da mente ou da consciência, independentemente das experiências
sensoriais ou dos estímulos externos.
Mais adiante veremos como o conceito das idéias inatas conduziu à teoria na ti vista
da percepção (a idéia de a capacidade de percepção ser inata e não aprendida) e como
influenciou a escola de psicologia da Gestalt. Além disso, a doutrina das idéias inatas é
importante por ter inspirado o surgimento da oposição entre os primeiros empiristas e
associacionistas, como John Locke, e entre os empiristas posteriores, como Hermann
von Helmholtz e Wilhelm Wundt.
O trabalho de Descartes serviu como catalisador das diversas tendências convergentes
da nova psicologia. Dentre as contribuições sistemáticas mais importantes, destacam-se:
http://serendip.brynmawr.edu/exhibitions/Mind/Descartes. html
Contém a biografia resumida e uma discussão acerca do legado da questão
do dualismo mente-corpo.
http://www.philosophypages.com/ph/desc.htm
Apresenta a vida e os trabalhos de Descartes, uma bibliografia dos trabalhos
impressos referentes a ele e uma lista dos principais sítes on-/íne.
http://www.orst.edu/instruct/phI302/philosophers/descartes.html
Exibe uma relação das biografias on-/íne, a cronologia e a bibliografia das
principais publicações de Descartes.
Positil'Ísmo: doutrina que reconhece somente os fenômenos e fatos naturais observáveis de forma
objetiva.
Muitas vezes [ele) ficava agachado atrás das portas e agia mais como um animal do que
como um homem. (...) Em todo almoço e jantar, declarava-se um soldado do regimento
escocês como um daqueles do romance de Walter Scott, e fincava a faca na mesa, exigia
um pedaço de lombo de porco cheio de molho e recitava versos de Homero. (...) Um dia,
quando sua mãe juntou-se [a Comte e sua esposa] para uma refeição, surgiu uma discus-
são à mesa e Comte pegou a faca e cortou a garganta. As cicatrizes ficaram para o resto
da vida. (Pickering, 1993, p. 392.)
Materialismo: doutrina que explica os fatos do universo em termos físicos pela existência e natu-
reza da matéria.
http://www.multimania.com/cloti Ide/#english
Contém material referente a Comte e sua filosofia do positivismo.
À Texto Original
Trecho sobre o Empirismo Extraído de An Essay Concerning Human
Understanding (1690), de John Locke
Talvez você esteja questionando qual a razão de se ler um texto escrito por Locke há mais
de 300 anos. Afinal, já lemos e discutimos a respeito de Locke nesta seção do livro. Lembre-
se, no entanto, de que os autores do livro e os professores oferecem versões, visões e per-
cepções próprias. Eles podem reduzir, abstrair e resumir informações originais da história
para simplificá-Ias. E, nesse processo, a exclusividade da forma, do estilo e até mesmo do
conteúdo original pode se perder
Para a total compreensão de qualquer sistema de pensamento, o ideal é a leitura dos dados
históricos originais tomados como base para o escritor redigir o livro e para o professor pre~
parar a aula. Na prática, é claro, isso raramente é possível. Foi essa a razão que nos levou a
incluir partes dos dados originais - ou seja, as próprias palavras dos teóricos - de várias
personagens que contribuíram para a evolução do pensamento psicológico. Esses trechos
mostram como os teóricos apresentaram suas idéias e permitem o contato com o estilo de
explicação que se exigia que os alunos das gerações anteriores estudassem.
Suponhamos, então, que a Mente seja, como afirmamos, um Papel em branco, despro-
vido de quaisquer Caracteres, sem qualquer conteúdo de Idéias. Como virá a ser preenchida?
De onde surge esse vasto colorido, que a Fantasia Humana, ativa e ilimitada, nela pintou
com uma multiplicidade quase infinita? Aonde buscará todo o recurso da Razão e do
Conhecimento? Como resposta, basta uma palavra: na Experiência. Nela se fundamenta
todo o nosso Conhecimento e dela basicamente se deriva o próprio conhecimento. O uso
da nossa observação acerca dos Objetos sensoriais externos, ou acerca das Operações inter-
nas da Mente, que percebemos e sobre as quais refletimos, é que nos proporciona a
Compreensão de todo o conteúdo do pensamento. São essas as duas Fontes do
Conhecimento de todas as Idéias que naturalmente possuímos, ou que a partir das quais
possamos vir a adquirir.
Em primeiro lugar, os Nossos Sentidos, possuidores de relações íntimas com determi-
nados Objetos sensoriais, transportam para a Mente diversas percepções distintas dos ele-
mentos, de acordo com as várias maneiras pelas quais são afetados pelos Objetos. E assim
concebemos as idéias de Amarelo, Branco, Quente, Frio, Macio, Duro, Amargo, Doce e de
todas as demais qualidades denominadas sensoriais as quais, ao afirmar serem transporta-
das pelos sentidos para a mente, quero dizer que a partir dos Objetos externos são trans-
feridas para a mente, produzindo as Percepções. Essa imensa Fonte de praticamente todas
as idéias que possuímos, totalmente dependente dos nossos Sentidos, e deles derivada
para o Entendimento, é o que chamo de Sensação.
Em segundo lugar, A outra Fonte a partir da qual a Experiência proporciona Idéias para o
Entendimento é a Percepção das Operações da nossa própria Mente interior, de como ela
emprega as Idéias adquiridas: Operações que, quando passam a ser objeto de reflexão e de
análise da Alma, produzem no Entendimento outro conjunto de Idéias, que não seria possível
conceber a partir dos elementos sem: a Percepção, o Pensamento, a Dúvida, a Crença, a Razão,
o Conhecimento, a Vontade e todas as diferentes ações das nossas Mentes e das quais, se tivés-
semos consciência e as observássemos em nossas almas, obteríamos nossos Entendimentos
como Idéias distintas, assim como agimos com nossos Corpos que afetam nossos Sentidos.
Dessa Fonte de Idéias todo homem em si é integralmente dotado: E, embora não possa ser
Sentido, como tendo qualquer relação com os Objetos externos, ainda assim, assemelha-se
muito e pode ser corretamente chamado de Sentido interno. Todavia, como chamei o outro de
Sensação, a esse chamo de Reflexão, sendo as Idéias por ele sustentadas apenas as que a Mente
obtém mediante a reflexão sobre as próprias Operações internas. Então, por Reflexão quero
expressar a observação que a Mente realiza das próprias Operações e do seu modo, a razão
pela qual a observação transforma-se em Idéias no Entendimento dessas Operações. Essesdois
elementos, ou seja, os Externos ou Materiais como os objetos da Sensação e as Operações
internas das nossas Mentes como os Objetos da Reflexão, são, na minha opinião, os únicos ele-
mentos Originais a partir dos quais surgem todas as nossas Idéias.
Idéias simples e idéias complexas. Locke fazia uma distinção entre idéias simples e
idéias complexas. Idéias simples podem surgir tanto da sensação como da reflexão e são
recebidas passivamente pela mente. Elas são elementares, ou seja, não podem ser anali-
sadas nem reduzidas a idéias ainda mais simples. Entretanto, mediante o processo de
reflexão, a mente cria ativamente novas idéias, combinando as idéias simples. Essas
novas idéias derivadas são chamadas por Locke de idéias complexas. São compostas de
idéias simples e podem ser analisadas e estudadas com base nas suas idéias mais simples.
Idéias simples e complexas: idéias simples são aquelas elementares, provoca das pela sensação e
reflexão; idéias complexas são as derivadas, compostas de idéias simples, podendo ser reduzidas em
componentes mais simples, e assim analisadas.
Associação: a noção de que o conhecimento resulta da ligação ou associação de idéias simples para
a formação de idéias complexas.
Uma experiência popular descrita por Locke ilustra bem essas idéias. Prepare três reci-
pientes, sendo um com água fria, outro com morna e o terceiro com água quente.
Mergulhe a mão esquerda na água fria, a direita na quente e, em seguida, as duas na água
morna. Uma das mãos terá a sensação de estar na água quente e a outra na fria. A tempe-
ratura da água para as duas mãos é a mesma, não pode ser quente e fria ao mesmo tempo.
As qualidades secundárias ou as experiências de calor e frio existem na nossa percepção e
não no objeto propriamente dito (nesse caso, na água).
Analisemos outro exemplo: se não mordêssemos uma maçã, seu sabor não existiria.
As qualidades primárias, como o tamanho e a forma da maçã, existem independente-
mente de as percebermos ou não. As qualidades secundárias, como o sabor, existem ape-
nas no nosso ato de percepção.
Locke não foi o primeiro estudioso a fazer distinção entre as qualidades primária e
secundária. Galileu apresentou basicamente a mesma noção:
http://www.orst.edu/instruct/phI302/philosophers/locke.html
http://libraries.psu.edu/iasweb/locke/home.htm
Fontes de informações biográficas de Locke e a respeito de seus escritos.
http://www.rc.umd.edu/cstahmer/cogsci/locke.html
Apresenta uma discussão resumida do livro An essay concerning human
understanding, de Locke, mostrando a influência do trabalho no posterior
desenvolvimento da ciência cognitiva, abordada no Capítulo 15.
Mentalismo: doutrina que considera ser todo o conhecimento uma função de um fenômeno men-
tal e dependente da pessoa que o percebe ou vivencia.
Berkeley afirmava ser a percepção a única realidade da qual se tem certeza. Não se
pode conhecer com precisão a natureza dos objetos físicos no universo experimental -
o universo derivado da própria experiência ou nela baseado. Tudo que sabemos é como
percebemos ou sentimos esses objetos. Então, sendo a percepção interna e subjetiva,
não reflete o mundo exterior. O objeto físico nada mais é do que o acúmulo das sensa-
ções experimentadas simultaneamente, de forma que se associem à mente pelo hábito.
De acordo com Berkeley, portanto, o universo das nossas experiências é o somatório das
sensações.
Não há substância material da qual possamos ter certeza, porque, se excluirmos a
percepção, a qualidade desaparecerá. Desse modo, não existe cor sem a nossa percepção
de cor, a forma ou o movimento sem a percepção da forma ou do movimento.
A afirmação de Berkeley não era de que os objetos reais apenas existem no universo
físico quando são por nós percebidos. Sua teoria considerava que toda nossa experiência
acumulada decorre da nossa percepção e que nunca conhecemos precisamente a nature-
za física do objeto. Contamos apenas com a própria percepção desses objetos.
Ele reconhecia, no entanto, que havia estabilidade e consistência nos objetos do
mundo material e que eles existiam independentemente de serem percebidos e então
tinha de achar alguma forma de comprovar essa teoria. O argumento utilizado foi Deus;
afinal, Berkeley era bispo. Deus funcionava como uma espécie de observador perma-
nente de todos os objetos do universo. Se a árvore caía na floresta (assim como dizia um
antigo enigma), a queda produzia um som, mesmo que não houvesse ninguém para
ouvi-lo, porque Deus estava sempre presente para percebê-lo.
Sentado na minha sala de leitura, ouço uma carruagem se aproximando pela ruai olho
pela [janela] e avisto-ai saio de casa e entro nela. Assim, uma narrativa comum pode con-
duzir qualquer um a pensar que eu ouvi, vi e toquei o mesmo objeto (...) a carruagem.
No entanto, apesar de afirmar serem as idéias [concebidas] por cada sentido amplamen-
te diferentes e distintas umas das outras, quando observadas constantemente juntas, aca-
bam descritas como sendo um único e igual objeto. (Berkeley, 17ü9/1957a.)
A complexa idéia da carruagem pode ser ornamentada com o som do ranger das
rodas nas ruas de paralelepípedos, com a robustez da estrutura, com o frescor do cheiro
do couro dos assentos e com a imagem visual do seu formato quadrado. A mente cons-
trói idéias complexas juntando esses blocos básicos de construção mental - as idéias
simples. A analogia mecânica no uso das palavras "construir" e "blocos de construção"
não é uma coincidência.
Berkeley usava a associação para explicar a percepção de 'profundidade visual. Ele estu-
dava como o ser humano percebe a terceira dimensão da profundidade, já que a retina
humana possui apenas duas dimensões. Sua resposta foi que a percepção de profundidade
é resultado da nossa experiência. Associamos as impressões visuais com as sensações de
ajuste dos olhos para enxergarmos os objetos de distâncias diferentes e com movimentos
de aproximação ou afastamento dos objetos visualizados. Em outras palavras, as contínuas
experiências sensoriais de caminhar em direção aos objetos ou de alcançá-los, aliadas às
sensações dos músculos oculares, unem-se para produzir a percepção da profundidade.
Quando aproximamos o objeto dos olhos, as pupilas se convergem e, quando o afastamos,
a convergência diminui. Desse modo, a percepção de profundidade não é uma simples
experiência sensorial, mas uma associação de idéias a ser aprendida.
Berkeley prosseguiu na crescente teoria da associação dentro da filosofia empirista,
tentando explicar o processo puramente psicológico ou cognitivo com base na associa-
ção das sensações. Sua explicação antecipou com precisão a visão moderna da percepção
de profundidade no que tange à consideração das diretrizes psicológicas da acomodação
e da convergência.
http://www.georgeberkeley.org.ukl
O site da International Berkeley Society (Sociedade Internacional de Berkeley)
oferece material referente a Berkeley e seus trabalhos, além de referências de
publicações sobre Berkeley e informações acerca de conferências. Também
permite a participação constante de discussões sobre Berkeley no quadro de
avisos do site e a localização de links de sites relacionados.
http://www.utm.edu/research/iep/b/berkeley.htm
Oferece informações complementares a respeito da vida e do trabalho de
Berkeley.
http://www.rc.umd.edu/cstahmer/cogsci/berkeley.html
Apresenta uma discussão sobre a relação entre o trabalho de Berkeley e os
desenvolvimentos mais recentes da ciência cognitiva.
As impressões e as idéias. Hume traçava uma diferenciação entre dois tipos de con-
teúdo mental: impressões e idéias. Impressões são os elementos básicos da vida mental;
na terminologia atual, equivalem às sensações e percepções. Idéias são experiências men-
tais que vivenciamos na ausência de qualquer objeto de estímulo, o equivalente ao que
hoje é considerado "imagem" pela psicologia.
Hume não definia impressões e idéias em termos psicológicos ou referindo-se a estí-
mulos externos. Ele mantinha o cuidado de não atribuir qualquer causa definitiva às
impressões. A diferença entre impressões e idéias não estava na origem, mas na sua
força relativa. Impressões são fortes e vívidas, enquanto idéias são cópias fracas das
impressões.
Esses dois conteúdos mentais podem ser simples ou complexos. A idéia simples é
semelhante à sua impressão simples. As idéias complexas não são necessariamente simi-
lares às idéias simples porque são uma combinação sua que evolui e forma novos
padrões, compostos a partir das idéias simples mediante o processo da associação.
Hume descreveu duas leis de associação: a lei da semelhança ou similaridade e a lei
da contigüidade no tempo ou no espaço. Quanto maior a semelhança e a contigüidade
entre duas idéias (quanto mais próximas no tempo estiverem as experiências), mais rapi-
damente elas se associam.
Semelhança: a noção de que quanto mais semelhantes forem duas idéias, mais rápida será a sua
associação.
Contigüidade: a noção de que quanto mais próxima a ligação entre duas idéias, no tempo ou no
espaço, mais rápida será a sua associação.
http://www.humesociety.org
Boa fonte de informação referente a Hume e sobre os encontros da Hume
Society (Sociedade Hume).
http://www.comp.uark.edu/-rlee/semiau98/humelink.html
Apresenta referências aos trabalhos a respeito de Hume e links para outros
sites.
http://cepa.newschool.edu/het/profiles/hume. htm
Oferece acesso às principais publicações de Hume e a outros trabalhos
sobre ele.
Repetição: a noção de que quanto mais freqüente for a ocorrência de duas idéias simultâneas, mais
rápida será a sua associação.
Hartley concordava com Locke em que todas as idéias e o conhecimento são resultan-
tes das experiências que recebemos por meio dos sentidos e que não existem associações
inatas nem conhecimento ao nascermos. À medida que a criança cresce e acumula uma
variedade de experiências sensoriais, são estabelecidas as conexões mentais de crescente
complexidade. Dessa forma, ao chegarmos à vida adulta, os sistemas mais elevados de pen-
samentos já estão desenvolvidos. Essa vida mental de nível mais elevado, como o pensa-
mento, o julgamento e o raciocínio, pode ser analisada ou reduzida aos elementos mentais
ou às sensações simples que lhe deram origem. Hartley foi o primeiro a aplicar a teoria da
associação para explicar todos os tipos de atividades mentais.
]ames Mill concordava com a visão de Locke a respeito da mente humana como uma
folha em branco para o registro das experiências. Quando nasceu seu filho, ]ohn, Mill
prometeu estabelecer quais experiências preencheriam a mente do garoto e empreendeu
um rigoroso programa de aulas particulares. Todos os dias, durante um período de até
cinco horas, ensinava grego, latim, álgebra, geometria, lógica, história e política econô-
mica ao menino, formulando perguntas até receber a resposta correta.
Aos 3 anos, ]ohn Stuart Milllia Platão no original em grego. Aos lI, escreveu o pri-
meiro trabalho acadêmico e aos 12 dominava com perfeição o currículo universitário
padrão. Com 18 anos, descreveu a si mesmo como uma "máquina lógica" e, aos 21,
sofreu uma depressão profunda. Sobre seu distúrbio mental, disse: "Meus nervos fica-
ram em estado de entorpecimento (...) toda a base sobre a qual a minha vida fora cons-
truída havia ruído. (...) Não havia sobrado nada por que valesse a pena continuar a
viver" (Mill, 1873/1961, p. 83). Ele levou muitos anos para recuperar a auto-estima.
Mill trabalhou na Companhia das Índias Orientais, lidando com a correspondência
rotineira referente à atuação do governo inglês na Índia. Aos 25 anos, apaixonou-se por
Harriet Taylor, uma mulher linda e inteligente, porém casada, que veio a exercer grande
influência no trabalho de Mill. Cerca de 20 anos depois, quando seu marido faleceu,
Harriet Taylor se casou com ]ohn Stuart Mill. Ele se referia a ela como a "dádiva-mor da
minha existência" (Mill, 1873/1961, p. 111) e ficou inconsolável quando ela morreu,
sete anos depois. Ele mandou construir um chalé de onde pudesse ver o túmulo da sua
esposa. Mais tarde, Mill publicou um ensaio intitulado The Subjection of Women, escrito
por sugestão da sua filha e inspirado nas experiências matrimoniais de Harriet com seu
primeiro marido.
Mill ficou horrorizado com o fato de as mulheres serem privadas dos direitos finan-
ceiros ou das propriedades e comparou a saga feminina à de outros grupos de desprovi-
dos. Condenava a idéia da submissão sexual da esposa ao desejo do marido, contra a
própria vontade, e a proibição do divórcio com base na incompatibilidade de gênios. Sua
concepção de casamento era baseada na parceria entre pessoas com os mesmos direitos,
e não na relação mestre-escravo (Rose, 1983).
Mais tarde, Sigmund Freud traduziu para o alemão o ensaio de Mill sobre a mulher
e, em uma carta para sua noiva, zombou do conceito de Mill a respeito da igualdade dos
sexos. Freud escreveu: "A posição da mulher não pode ser outra se não esta: ser uma
namorada adorada na juventude e uma esposa querida na maturidade" (Freud, 1883/
1964, p. 76).
A química mental. Devido aos seus trabalhos abordando diversos tópicos, ]ohn
Stuart Mill tornou-se contribuinte influente no que logo se transformou formalmente na
nova ciência da psicologia. Ele combatia a posição mecanicista de seu pai, ]ames Mill, ou
seja, a visão da mente passiva que reage mediante o estímulo externo. Para ]ohn Stuart
Mill, a mente exercia um papel ativo na associação de idéias.
Em sua proposta, afirma que idéias complexas não são apenas o somatório de idéias
simples por meio do processo de associação. Idéias complexas são mais que a simples
soma das partes individuais (as idéias simples). Por quê? Porque acabam adquirindo
novas qualidades antes não encontradas nos elementos simples. Por exemplo: a mistura
de azul, vermelho e verde nas proporções corretas resulta na cor branca, uma quaÍidade
completamente nova. De acordo com essa perspectiva, conhecida como a síntese cria-
tiva, a combinação correta de elementos mentais sempre produz alguma qualidade dis-
tinta que não estava presente nos próprios elementos.
Síntese criativa: a noção de que idéias complexas formadas a partir de idéias simples adquirem
novas qualidades e a combinação dos elementos mentais cria um elemento maior ou diferente da
soma dos elementos originais.
Desse modo, o pensamento de ]ohn Stuart Mill foi influenciado pelas pesquisas em
andamento na química, que lhe proporcionaram modelos diferentes das suas idéias da
física e da mecânica, que formavam o contexto de idéias do seu pai e dos precursores
empiristas e associacionistas. Os químicos demonstravam o conceito da síntese, que
busca componentes químicos para mostrar atributos e qualidades não presentes nas par-
tes ou nos elementos que os compõem. Por exemplo: a mistura correta dos elementos do
hidrogênio e do oxigênio produz a água, a qual possui propriedades não encontradas em
nenhum desses componentes. Do mesmo modo, as idéias complexas formadas a partir
da combinação de idéias simples adquirem características inexistentes em seus elemen-
tos. Mill chamou a essa teoria da associação de idéias de "química mental".
]ohn Stuart Mill também contribuiu significativamente para a psicologia, alegando
ser possível a realização de um estudo científico da mente. Fez essa afirmação quando
outros filósofos, principalmente Auguste Comte, negavam a possibilidade de examiná-Ia
por meio de métodos científicos. Além disso, Mill recomendou um novo campo de estu-
dos que chamou de "etologia", dedicado aos fatores que influenciam o desenvolvimen-
to da personalidade humana.
http://www.spartacus.schoolnet.co.uklPRmill.htm
Apresenta uma visão geral da vida e do trabalho de John Stuart Mill, incluin-
do informações de Harriet Taylor e o papel da mulher na vida social e políti-
ca da época.
Sugestões de Leitura
Babbage, C. On the principIes and develapment af the calculatar, and ather seminal writings.
(P. Morrison; E. Morrison, Eds.). Nova York: Dover Publications, 1961. Seleção den-
tre vários trabalhos de Babbage referentes a computadores e outros dispositivos
mecânicos. Contém uma biografia resumida.
Gaukroger, S. Descartes: an intellectual biagraphy. Oxford, Inglaterra: Clarendon Press,
1995. Um relato detalhado da vida e do trabalho de Descartes.
Landes, D. S. Revalutian in time: Clacks and the making af the madern warld. Cambridge,
MA: Belknap Press of Harvard University Press, 1983. Relatos minuciosos sobre a
invenção do relógio mecânico e o aperfeiçoamento da precisão dos dispositivos de
medição do tempo. Apresenta uma avaliação do seu impacto no desenvolvimento
da ciência e da sociedade.
Lowry, R. The evalutian af psychalagical theary: A critical histary af concepts and presuppasi-
tians (2. ed.), Hawthorne, NY: Aldine, 1982. Análise das principais propostas e pers-
pectivas que serviram de base para o desenvolvimento da psicologia, começando
com o mecanicismo do século XVII.
Reston ]r.,]. Galilea: A life. Nova York: HarperCollins, 1994. Uma biografia sensível e de
fácil leitura de uma grande figura da história da ciência.
Teresi, D. Lost discoveries: The ancíent roots of modem scíence-from the Babylonians to the
Maya. Nova York: Simon & Schuster, 2002. Um trabalho que mostra como as gran-
des conquistas humanas da ciência ocidental (matemática, astronomia, física, quí-
mica, geologia e tecnologia) foram previstas décadas e até séculos antes, por meio da
análise das contribuições dos índios, chineses, árabes, polinésios, maias, astecas e
outros povos.
Wood, G. Edison's Eve: A magical history ofthe quest for mechanicallife. Nova York: Knopf,
2002. Uma descrição sobre o desenvolvimento do robô, incluindo os brinquedos
mecânicos e os mecanismos de entretenimento da Europa, além da boneca "que
fala" inventada por Thomas Edison.