Legalidade e Legitimidade Do Poder Político
Legalidade e Legitimidade Do Poder Político
Legalidade e Legitimidade Do Poder Político
1. O princípio da legalidade
A legalidade nos sistemas políticos exprime basicamente a observância das leis, isto é,
o procedimento da autoridade em consonância estrita com o direito estabelecido. Ou
em outras palavras traduz a noção de que todo poder estatal deverá atuar sempre de
conformidade com as regras jurídicas vigentes. Em suma, a acomodação do poder que
se exerce ao direito que o regula.
Cumpre, pois discernir no termo legalidade aquilo que exprime inteira conformidade
com a ordem jurídica vigente.
A legitimidade assim considerada não responde aos fatos, à ordem estabelecida, aos
dados correntes da vida política e social, segundo o mecanismo em que estes se
desenrolam — o que seria já do âmbito da legalidade — mas inquire acerca dos
preceitos fundamentais que justificam ou invalidam a existência do título e do
exercício do poder, da regra moral, mediante a qual se há de mover o poder dos
governantes para receber e merecer o assentimento dos governados.
Quanto ao poder de fato, o poder revolucionário, o poder que emerge das crises ou
rupturas violentas da ordem legal vigente, a doutrina de Hauriou conserva o mesmo
caráter jurídico formal, recusando a esses poderes legitimidade, que só se adquire
eventualmente na medida em que os mesmos, uma vez estabelecidos, façam “a
autoridade e a competência prevalecerem sobre o poder de dominação”. A
observância e adoção da ordem jurídica é a via aberta para a legitimação dos governos
ou poderes de fato.
Via de regra, os governos que nascem das situações revolucionárias, dos golpes de
Estado, das conspirações triunfantes, são governos ilegais, mas eventualmente
legítimos, se abraçados logo pelo sentimento nacional de aprovação ao exercício do
seu poder. Confirmada a viabilidade desses governos, a legitimidade fundará então
com o tempo a nova legalidade. E esta há de perdurar, conciliada no binômio
legalidade-legitimidade, até que ulteriores comoções da consciência nacional tragam
com a intervenção súbita de crises imprevistas e profundas para a conservação do
poder a perda do equilíbrio político dos sistemas legais e sua consequente destruição.
Dos escritos mais antigos ainda conserva algum interesse nos dias presentes o de
autoria de Benjamin Constant sobre o espírito de conquista e usurpação e mais alguns
discursos políticos de Wilson, quando o Presidente dos Estados Unidos sustentou a
doutrina americana da legitimidade democrática.