Educação Sexual - Revisão de Literatura

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REVISÃO DA LITERARURA

1.1. Conceitos e definições de sexualidade e educação em sexualidade

Sexualidade é o nome que damos para o aspecto da vida humana que inclui as sensações corpóreas e subjetivas que
envolvem, também, as questões emocionais. Claro que não dá para separar a emoção, a razão, a cognição e as
questões sociais, o que torna a sexualidade um conceito abrangente, que diz respeito a várias manifestações e não
somente a sexo. Quando falamos de sexo, nos referimos às práticas sexuais ou à relação sexual, isto é, um
comportamento que envolve as questões genitais. Também falamos de sexo para categorizar pessoas em machos e
fêmeas, mas isso seria mais um dos componentes da sexualidade.

Figura 1 – Componentes da Sexualidade Humana

Os conceitos de sexo, sexualidade, saúde e direitos sexuais são interpretados de forma diferente em função das
traduções para diferentes línguas e dos diversos contextos culturais.
As definições apresentadas na página da Internet da OMS resultam de uma tentativa feita por esta instituição, em
2002, para estabelecer, no âmbito de uma equipa de especialistas, definições internacionais destes conceitos. Apesar
de não terem sido tornadas oficiais, elas são frequentemente utilizadas como definições de trabalho.
Assim, afirma-se que "a sexualidade é um aspeto central do ser humano ao longo da vida e abrange sexo, género,
identidades e papéis, orientação sexual, erotismo, intimidade, prazer e reprodução. A sexualidade é experimentada e
expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e
relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões, nem todas elas são sempre vivenciadas
ou expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, económicos,
políticos, éticos, legais, fatores históricos, religiosos e espirituais" (WHO, 2006, p. 10).
Da análise desta definição depreende-se que o conceito de sexualidade não se confina à reprodução. Nela se salienta
que a sexualidade é fundamental ao ser humano; não está limitada a determinados grupos etários, está intimamente
relacionada com o género, que inclui várias orientações sexuais. Deixa também claro que a sexualidade engloba mais
do que apenas elementos comportamentais e que pode variar fortemente, dependendo de um conjunto de influências.
Na publicação Standards for Sexuality Education in Europe: a Framework for policy makers, educational and health
authorities” a definição de educação sexual (em sexualidade), doravante também referida como educação sexual (ES),
é orientada por uma abordagem holística e positiva e “significa aprender sobre os aspetos cognitivos, emocionais,
sociais, interativos e fisiológicos da sexualidade” (WHO, 2010, p. 20, t.n.).
A ES tem início na infância e prossegue até à adolescência e idade adulta, capacitando gradualmente as crianças e os
jovens com informação cientificamente correta, competências e valores positivos que lhes permitam compreender e
usufruir da sua sexualidade e ter relações responsáveis que assegurem satisfação, prazer e o seu bem-estar e o dos
outros.
Também a UNESCO na sua definição de ES reconhece a necessidade de conhecimentos e capacidades para a
prevenção de problemas de saúde sexual, definindo-a como “uma abordagem apropriada para a idade e culturalmente
relevante ao ensino sobre o sexo e relacionamentos, fornecendo informações cientificamente corretas, realistas e sem
pré-julgamento. A educação em sexualidade fornece oportunidades para explorar os próprios valores e atitudes e para
desenvolver habilidades de tomada de decisão, comunicação e redução de riscos em relação a muitos aspetos da
sexualidade” (UNESCO, 2009, p. 2, t.n.).
A educação sexual começa cedo, na infância, e progride até à adolescência e à idade adulta. Visa apoiar e proteger o
desenvolvimento sexual de crianças e jovens, preparando-os gradualmente e capacitando-os com informações,
competências e valores positivos para compreenderem a sua sexualidade e dela desfrutarem e para terem relações
seguras e satisfatórias.
Entre os jovens, a educação para a sexualidade não se limita apenas à prevenção de comportamentos de risco, como
a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis. O objetivo fundamental é o desenvolvimento de
competências que lhes possibilitem escolhas informadas nos seus comportamentos na área da sexualidade, permitindo
que se sintam informados e seguros nas suas opções (GTES, 2005, 2007a, 2007b).
Existe uma aprendizagem diária e ao longo da vida por observação e imitação dos modelos (irmãos, pais, amigos,) e
uma aprendizagem mais estruturada, na família, na escola (professores, psicólogos,), na comunidade (agentes de
saúde, instituições).
A informação sobre sexo e sexualidade está acessível aos jovens em diversas fontes: publicidade, meios de
comunicação social, livros, páginas da Internet, conversa com os amigos. Se parte dessa informação é correta, outra
parte não o é, deixando-os vulneráveis a coação, abuso e exploração, gravidez indesejada e infeções ou doenças
sexualmente transmissíveis. Por outro lado, mesmo quando a informação é baseada em conhecimento científico, nem
sempre é acessível à faixa etária ou aos conhecimentos dos jovens.
Para que, desde cedo, as crianças e os jovens comecem a zelar pela sua saúde sexual, há que fornecer a informação
necessária e pertinente para as diferentes faixas etárias, que seja culturalmente relevante e cientificamente correta, de
modo a desenvolver competências que permitam, no presente e no futuro, que os indivíduos se sintam seguros nas
suas decisões. Deste modo pretende-se dotar os mais novos de capacidades de proteção face a abusos e exploração
sexual.
A escola surge como o meio que reúne um conjunto de condições favoráveis à implementação de programas de
educação em sexualidade. Na maioria dos países, é na escola que as crianças entre os cinco e os treze anos passam
um número significativo de horas do seu dia. A escola assegura uma estrutura apropriada, com professores e outros
profissionais capacitados e currículos formais que garantem uma programação a longo prazo. Por outro lado, as
instituições escolares são responsáveis pela segurança e bem-estar das crianças, estabelecendo um elo entre estas,
as suas famílias, os serviços de saúde e a comunidade.
Segundo os especialistas, os programas de ES eficientes são aqueles que, para além da informação, exploram
valores, atitudes e normas sociais, estimulam os alunos a assumir responsabilidade pelo seu comportamento e
promovem competências inerentes à educação global de qualquer cidadão: a capacidade de ouvir, de negociar, de
respeitar o outro, de tomar decisões, de reconhecer pressões ou de destacar a informação pertinente e os locais onde
poderão encontrá-la (Sexuality Information and Education Council of the United States, 2004; UNESCO, 2010, pp. 2-3).
O sucesso desses programas é fundamentado nos seguintes princípios: (i) estão integrados em programas de
educação para a saúde; (ii) são assegurados por professores treinados e privilegiam metodologias de ensino e
aprendizagem diversificadas; (iii) envolvem toda a comunidade educativa (pais, família alargada, professores, líderes
religiosos, serviços de saúde, instituições da comunidade, jovens); (iv) são focados nos jovens (idade, sexo, cultura,
religião, conhecimentos, necessidades).

1.2 INDICAR OS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA

A Educação Sexual é um tema de relevada importância para a formação do indivíduo, deve ser inserida nas práticas
pedagógicas nas escolas. Por isso neste capítulo pretendemos indicar os fatores que contribuem para o surgimento da
educação sexual na escola

A escola é vista como espaço apropriado para a abordagem desta temática, por ter presente em seus espaços, um dos
grupos que, certamente, mais necessita dessas informações – os adolescentes e jovens, foi a instituição mais indicada
para disseminar essas informações, recebendo destaque como principal responsável pela Educação Sexual. Assim, a
escola passou a ser invitada a interferir em palcos antes limitados à ação da família e da Igreja.
Os altos índices de crescimento da AIDS e da gravidez indesejada na adolescência, interferências dos pais que ainda
encontram-se envolvidos em tabus e preconceitos entre vários outros problemas contemporâneos e preocupantes,
chamaram a atenção dos governantes que, ao tratar do tema Educação Sexual, considerando a sexualidade como algo
inerente à vida e à saúde, que se expressa desde cedo no ser humano, introduziram o referido tema nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, para que seja incluído na transversalidade dos currículos escolares.
Caberia é escola então, o desenvolvimento de ações críticas e reflexivas para desenvolver essa Educação Sexual, que
deve ser tratada no coletivo, informando e discutindo os tabus, preconceitos, crenças e atitudes presentes na
sociedade, abordando também o papel social do homem e da mulher, o respeito por si e pelo outro, as discriminações
e os estereótipos atribuídos e vivenciados em seus relacionamentos.
A crença de que a escola se responsabilize pela implementação da Educação Sexual em suas aulas, corrobora a ideia
de que as funções dos sistemas educacionais da sociedade contemporânea ampliaram-se. Desse modo, a escola
passa a ser um importante vetor de mudanças culturais imprescindíveis para o desenvolvimento das novas gerações,
sendo designada, aos professores, a legitimidade necessária para conduzir as questões referentes à Educação Sexual.
Contudo, dentro do campo educacional ainda não existe clareza sobre como ensinar acerca desta temática.
1.3 Relação entre a educação sexual e a gravidez na adolescência
A Adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta, onde ocorrem diversas transformações
corporais, hormonais e comportamentais, cuja maior característica consiste na aquisição da capacidade reprodutiva. A
gravidez na adolescência se configura hoje como um problema de Saúde Pública. No fim dos anos 70 a gravidez
durante a adolescência recebeu da sociedade considerável atenção. A taxa de nascimento aumentou no grupo etário
abaixo dos 16 anos, enquanto diminuiu nos demais grupos. Vários são os fatores que podem levar a uma gestação
precoce: desconhecimento e/ou dificuldade de acesso aos métodos contracetivos, busca de reconhecimento e
concretização de um projeto de vida viável, desestrutura e falta de diálogo na família, dentre outros. A gravidez na
adolescência, desejada ou não, provoca um conjunto de impasses no âmbito social, familiar e pessoal.
Independentemente, da situação socioeconômica e cultural dessas adolescentes a gravidez na adolescência traz
sérios problemas para projetos educacionais, para a vida familiar, e para o desenvolvimento pessoal, social e
profissional da jovem gestante. Além de alto risco tanto para as mães quanto para os filhos como: baixo peso ao
nascer, prematuridade, toxemia gravídica, rutura do colo do útero, infeções urogenitais, anemia e ainda retardo do
desenvolvimento uterino.
Educação sexual é fundamental para evitar gravidez na adolescência. As ações voltadas à educação sexual são
importantes medidas para combater a gravidez na adolescência.

A gravidez na adolescência tem repercussões sociais, econômicas e psicológicas para o desenvolvimento, tanto da
mãe como para o bebê. Afinal, a vivência de uma gravidez não planejada na adolescência é cercada de fortes
sentimentos, em um contexto de transformações para a gestante e seu ambiente familiar.

Uma das principais iniciativas implementadas no País é a distribuição de Caderno Atenção Integral à Saúde da Mulher
(CISM), disponibilizado pelo Ministério da Saúde- Serviços de Saúde Reprodutivas para acompanhar a gravidez
recebendo dicas e orientações sobre variados temas ligados à gravidez e gestação.
Assuntos relacionados à sexualidade também devem fazem parte do programa Saúde na Escola, conjunto de ações
voltadas à promoção, à prevenção e à atenção à saúde dos estudantes. A iniciativa tem como objetivo reduzir as
vulnerabilidades que prejudicam o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino, entre elas, a
gravidez precoce.

Inicia-se a adolescência com mudanças corporais da puberdade e tem seu término quando o indivíduo consolida seu
crescimento e sua personalidade, com obtenção gradativa da sua independência econômica e sua integração em
grupos sociais. Dentre as mudanças físicas que ocorrem na adolescência, o amadurecimento do sistema reprodutivo
que permite a reprodução da espécie. Contudo não se trata de um fenômeno recente. Nesse contexto a gravidez traz
consigo dificuldades e consequências para a vida da adolescente, podendo ser ou não reflexo da própria família, já que
a gravidez durante o período da adolescência, não é uma novidade. Ao contrário , antigamente a mulher se casava
mais cedo, portanto começava a ser mãe muito cedo.
Segundo Barroso (1986) a introdução da educação sexual na escola é considerada por muitos como mecanismos de
prevenção da gravidez na adolescência e de outras possíveis decorrências da prática da sexualidade, como a
proliferação de doenças. Embora se acredite que a educação sexual deva ter finalidade mais ampla, com espaços para
discussão de valores e atitudes e para questionamento dos papeis sexuais em nossa sociedade, ela ainda é tabu na
sociedade brasileira. Com orientação correta dentro e fora da escola, os(as) adolescentes poderiam ter vida sexual
saudável.
Todas as escolas praticamente trabalham o aparelho reprodutivo, porem se fala brevemente sobre a reprodução
humana com informações relativas à anatomia e fisiologia do corpo humano. Esses estudos abrangem apenas o corpo
biológico, não incluindo a dimensão da sexualidade e nem o interesse e curiosidade das crianças e dos adolescentes.
(BRASIL, 2018)

A Orientação Sexual na escola é um dos fatores que contribui para o conhecimento e


valorização dos direitos sexuais e reprodutivos. Estes dizem respeito à possibilidade de que
homens e mulheres tomem decisões sobre sua fertilidade, saúde reprodutiva e criação de
filhos, tendo acesso às informações e aos recursos necessários para implementar suas
decisões. Esse exercício depende da vigência de políticas públicas que atendam a estes
direitos. (BRASIL, 2018)

No mundo, anualmente, ficam grávidas aproximadamente 16 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos; e 2 milhões


de adolescentes menores de 15 anos. A gravidez na adolescência continua registrando alta em seus índices, as
populações que vivem em vulnerabilidade social e demonstram as desigualdades existentes nos países são
principalmente as mais afetadas. E os riscos à saúde da adolescente ficam evidentes quando associados a deficiência
na saúde pública e um maior risco de morte materna. (ONUBR, 2017)

A desigualdade econômica reforça e é reforçada por outras desigualdades. Por exemplo, a


desigualdade enfrentada pelas mulheres mais pobres no acesso a serviços de saúde, onde apenas
algumas privilegiadas conseguem planejar sua vida reprodutiva, reflete-se na incapacidade de
desenvolver habilidades para integrar a força de trabalho remunerado e alcançar poder econômico.
(ONUBR, 2017).

Referencias Bibliográficas.
BARROSO, Carmem. Gravidez na Adolescência. IPLAN/IPEIA, UNICEF, Fundação Carlos Chagas. Brasília: 1986.

MORAIS, Ângela de Fátima Assis . Abordagem sobre gravidez na adolescência e os impactos na vida das
adolescentes e suas famílias. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Núcleo de
Educação em Saúde Coletiva . Governador Valadares, 2014.

CARDOSO, A. M. S. C.; BRITO, M. M. F. L. A Educação afetivo-sexual na infância e na adolescência:


um diálogo entre educadores. Belo Horizonte: Lê, 2012.

MAIA, A. C. B.; MAIA, A. F. (Orgs). Sexualidade e Infância. Cadernos Cecemca. Bauru, Unesp;
Brasília: MEC, 2005.

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