Apostila Psicologia Da Educacao1597075989

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Psicologia da Educação

Sumário
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................2
CAPÍTULO 1 – ENTENDENDO O TRABALHO DO PSICÓLOGO ...................................3
CAPÍTULO 2 – A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ..............................................................7
CAPÍTULO 3 – DEFININDO O CONCEITO DE APRENDIZAGEM ................................13
CAPÍTULO 4 – AS TEORIAS DE APRENDIZAGEM ........................................................15
CAPÍTULO 5 – A MOTIVAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM ..........................................21
CAPÍTULO 6 – A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO .......................................................25
CAPÍTULO 7 – OS PROCESSOS DE RETENÇÃO E ESQUECIMENTO DA
APRENDIZAGEM ...................................................................................................................29
CAPÍTULO 8 – A APRENDIZAGEM CRIATIVA ................................................................34
CAPÍTULO 9 – FATORES QUE PREJUDICAM A APRENDIZAGEM ...........................38
CAPÍTULO 10 – A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ..................................................42
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................45
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................46
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INTRODUÇÃO

As relações entre aprendizagem e aspecto psicológico são mais significativas do


que muitas pessoas percebem. Os pensamentos e as emoções do ser humano
influenciam no desenvolvimento cognitivo e este é parte importante do processo
de aprendizagem humana. Os nossos estudos se iniciarão pelo profissional que
estuda e trata esse aspecto: o Psicólogo. Conheceremos seu trabalho, sua
formação e sua rotina, para entendermos a importância da Psicologia na nossa
sociedade.
E não somente na sociedade, na educação. A Psicologia da Educação surge
então para unir dois fatores importantes no aprendizado: o psicológico e o
acadêmico. Apresentaremos os principais autores dessa área, definiremos os
objetos de estudos e como a Psicologia ajuda a escola a ensinar de modo mais
amplo, considerando não só o aspecto cognitivo, como as emoções, os
pensamentos e o meio social do aluno.
A Psicologia nos proporcionou estudos significativos sobre a aprendizagem e o
desenvolvimento humano e veremos nessa apostila as principais teorias sobre
esse tema, seus autores e sua aplicação prática na educação. A escola,
amparada por esses estudos, pode desenvolver estratégias de ensino mais
motivadoras para alunos e professores. Assim, não só a relação do aluno com a
escola será melhorada, mas com os professores, os colegas e com o próprio
aprendizado.
Além desses benefícios, a Psicologia irá contribuir para o processo de
aprendizagem propriamente dito, já que suas teorias mostram aos professores
como funciona o aprendizado humano, o que se modifica na mente e no
comportamento com esse aprendizado e quais práticas didáticas irão favorecer
a retenção do conhecimento e prevenir o esquecimento do mesmo.
Na nossa apostila também iremos aprender como promover uma aprendizagem
criativa, que estimulará a curiosidade e o interesse dos alunos. Também
veremos os fatores que prejudicam a aprendizagem e como evitá-los. Por fim,
iremos descrever e discutir qual a melhor forma de avaliar o aluno. Desse modo,
pretendemos que todos que leiam o texto a seguir consigam usar o
conhecimento adquirido sobre essa área para ensinar e aprender melhor.
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CAPÍTULO 1 – ENTENDENDO O TRABALHO DO PSICÓLOGO

A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais


dos indivíduos. Basicamente, os estudos da Psicologia se dividem entre os que
acreditam em fatores genéticos (determinismo) e os ambientais (empiristas),
mas há também os que seguem uma linha interacionista, equilibrando ambas as
correntes teóricas. Psicologia significa estudo da alma, ou seja, é uma ciência
que se origina nas indagações sobre as emoções mais profundas do ser
humano.
Os psicólogos, então, irão estudar aspectos relacionados às percepções, à
cognição, às emoções, à inteligência, investigando o funcionamento cerebral, o
desenvolvimento e o amadurecimento do indivíduo, seu comportamento e suas
relações com o meio e os outros. Neste capítulo, iremos entender a Psicologia
como ciência e em seguida, o trabalho do psicólogo.

• A Psicologia como Ciência


A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais
dos indivíduos. Como ciência, integrante da área de Ciências Humanas, ela
segue o método científico, ou seja, procura um conhecimento objetivo baseado
em fatos empíricos, usando para isso instrumentos e procedimentos
predeterminados por esse método. Entre esses procedimentos está a
observação e análise do comportamento observável (de indivíduo ou grupos de
indivíduos) e dos processos mentais envolvidos nesse comportamento
(FERREIRA, 2020).
O método científico envolve observação, questionamento, hipótese e
experimentação. O psicólogo então vai observar e descrever o comportamento
de seus pacientes, tentando explicar esses comportamentos e deduzir os
processos mentais e emocionais envolvidos. Vai também considerar variáveis
como o ambiente físico, os fatores materiais, climáticos, humanos, culturais, etc.
Esse psicólogo então, irá levantar suas hipóteses diagnósticas e experimentar o
tratamento adequado.
A primeira organização científica e profissional de Psicologia foi fundada em
1982, nos Estados Unidos, a Associação Americana de Psicologia (APA). Após
esse marco, a ciência se expandiu no mundo todo e ainda hoje tem controle
rigoroso de formação de profissionais e exercício da profissão (FERREIRA,
2020).
A ciência Psicologia cresceu muito nas últimas décadas, através de estudos
científicos, autores renomados e diversificação de métodos de pesquisa e
trabalho. Isso fez com que essa ciência se dividisse em alguns segmentos. Sob
uma perspectiva histórica temos: o funcionalismo, o estruturalismo e a Gestalt.
Já nos contextos mais recentes, temos: a psicanálise, o behaviorismo, o
humanismo, a perspectiva histórico-social, a perspectiva cognitiva, o
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evolucionismo, a psicodinâmica e a psicologia médico-biológica. Vejamos cada


um desses segmentos a seguir (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019):

• Estruturalismo: assim que a psicologia nasce como ciência, o fisiologista


alemão Wilhem Wundt constrói um laboratório, que seria o primeiro da
psicologia e se dedica a criar um método específico para essa ciência.
Em seu laboratório, fazia experimentos controlados, analisando
sistematicamente os dados recolhidos e observando principalmente o
comportamento mental e sensorial. Posteriormente, esse método foi
chamado de estruturalismo;

• Funcionalismo: para essa corrente de estudos, o estruturalismo era


muito limitado, fazendo somente descrição de elementos, conteúdos e
estruturas. Para o funcionalismo, a mente humana era muito complexa e
interagia constantemente com o meio ambiente, era funcional. Assim,
essa perspectiva teórica focava mais o comportamento consciente,
estudando a influência das vontades, desejos, dos valores e da
experiência social;

• Gestalt: reagindo ao funcionalismo, a Gestalt vai trabalhar mais o aspecto


sensorial, ou seja, da nossa percepção do mundo e das pessoas. Essa
palavra significa “configuração”, então, seu foco será o funcionamento da
mente como um todo.
Atualmente, as principais perspectivas da Psicologia estão divididas nas
seguintes posições teórico-terapêuticas (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019):

• Psicanálise: desenvolvida a partir dos estudos de Sigmund Freud,


médico austríaco, essa teoria se baseia no estudo do inconsciente.
Relacionado com o inconsciente, estão as pulsões (de vida, eros, e de
morte, thanatos), as repressões à sexualidade e traumas, e os
comportamentos ditados pelo aparelho psíquico (id, ego e superego).
Veremos a teoria mais detalhadamente em capítulo próximo;

• Behaviorismo: a psicologia comportamental vai estudar as reações


biológicas e as ações relacionadas aos estímulos e reforços do meio,
sendo esse processo, o mais básico de nossa aprendizagem. Também
será melhor estudado mais à frente;

• Humanismo: perspectiva teórica que se concentra nos estudos das


realizações e emoções humanas, promovendo bem-estar e equilíbrio
emocional;

• Psicologia médico-biológica: atualmente, a medicina admite a


influência dos processos mentais e emocionais na saúde do ser humano,
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assim, essa área da psicologia vai estudar e tratar as doenças sob essa
perspectiva;

• Psicodinâmica: originada da psicanálise freudiana, essa área se


concentra na observação do comportamento humano ao lidar com as
pulsões de vida e de morte, e também com a tensão entre os impulsos do
Id e as orientações do Superego;

• Perspectiva Analítica: também originada dos estudos de Freud, tem


como principal autor Carl Gustave Jung e como teoria principal da do
Inconsciente Coletivo;

• Perspectiva histórico-social: tem como principal autor o psicólogo russo


Lev Vygotsky e seus colegas, que estudam o desenvolvimento humano
em relação com os processos históricos e a interação social;

• Evolucionismo: abordagem que se apoia tanto nas ciências sociais


como nas ciências naturais, usando a teoria da Seleção Natural de
Charles Darwin para investigar os aspectos psicológicos que são frutos
da evolução;

• Psicologia Cognitiva: estuda os processos e estruturas mentais


envolvidos no comportamento.

Como podemos ver, a Psicologia é uma ciência de credibilidade e com um amplo


leque de abordagens teóricas. Sendo assim, a formação do psicólogo precisa
ser a mais integral possível, já que são muitos campos de atuação e muitas
oportunidades de estudos e pesquisas. Veremos como deve ser essa formação
e como é o trabalho do psicólogo a seguir.

• A Psicologia como Profissão


O psicólogo estuda os fenômenos psíquicos, as emoções, os pensamentos e o
comportamento dos seres humanos. Ele vai avaliar o indivíduo através da
observação e prevenir, diagnosticar e tratar doenças mentais, distúrbios,
transtornos, entre outros problemas. Antes de descrevermos melhor esse
trabalho, iremos entender a formação desse profissional.

 Formação do psicólogo
A graduação em Psicologia pode ser na linha de bacharelado, licenciatura ou
ambos. O bacharel vai atuar na parte clínica, enquanto o licenciado, na carreira
docente. A maioria das faculdades oferece ambas as opções, podendo o aluno
cursar semestres completivos após a formatura para obter uma segunda
habilitação. O curso dura em média cinco anos. É presencial e o estágio é
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obrigatório. As disciplinas mais comuns são: Avaliação Psicológica; Clínica


Psicanalítica; Desenvolvimento Humano e Aprendizagem; Estudos sobre
Deficiência; Gênero, Corpo e Sexualidades; Método Clínico; Neuropsicologia;
Políticas Públicas, Direitos Humanos e Práticas Psicossociais; Processos de
Ensinar e Aprender; Processos Psicológicos na Infância, Adolescência e
Juventude; Psicologia Comportamental; Psicologia de Base Fenomenológica;
Psicologia do Esporte; Psicologia do Trabalho; Psicologia e Atenção à Saúde;
Psicologia e Pessoas com Deficiência; Psicologia Jurídica; Psicopatologia;
Sociedade e Loucura; e Teoria e Técnicas Psicoterápicas (Guia da Carreira:
https://www.guiadacarreira.com.br).

 Áreas de atuação do psicólogo


Assim que graduado, o psicólogo pode atuar não só em clínicas e consultórios,
mas em outros campos, tais como: escolas, hospitais, empresas, asilos, clínicas
de saúde mental, clínicas de reabilitação, área forense. Esse profissional pode
também realizar estudos de campo, sobre comportamento de determinados
grupos em determinados contextos; pode orientar profissionalmente, inclusive
em empresas, em clubes esportivos ou universidades (PSICOLOGIA, 2020).
A profissão de psicólogo está se tornando cada vez mais requisitada e
importante em nossa sociedade. O estilo de vida moderno, que demanda a
otimização do tempo, que produz excessiva exposição nas redes sociais, os
conflitos de opinião na nossa sociedade, o acelerado fluxo de informações e o
ritmo frenético de trabalho faz com os níveis de estresse aumentem, assim como
casos de ansiedade e de depressão. A saúde mental da população em geral tem
se deteriorado muito nas últimas décadas e o tratamento, além de medicação
adequada, deve incluir a psicoterapia.
Além dessas linhas de atuação, tem crescido a procura por especialidades como
a Psicologia Forense, que trabalha na área criminal, e a Neuropsicologia, que
estuda as questões neurológicas. Muitas empresas também procuram
psicólogos para lidar com o material humano, selecionando e treinando
funcionários. Sendo assim, o psicólogo irá ter uma variedade grande de opções
para trabalhar e para estudar.
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CAPÍTULO 2 – A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Um dos segmentos da Psicologia mais procurados atualmente, tanto para


estudos, como para serviços é o da Psicologia da Educação. Essa linha tem
como objeto de estudo o aprendizado e os processos mentais envolvidos no
mesmo. Muitos acreditam que o aprendizado é avaliado por uma mudança
significativa no comportamento, assim, o psicólogo da educação irá estudar esse
comportamento, seja ele visível ou verificável.
Por exemplo, ao aprendermos a digitar, conseguimos demonstrar visivelmente
esse aprendizado, mas se aprendermos uma teoria, como a da Relatividade,
teremos que verbalizar, não é visível, mas é verificável. Pois bem, o psicólogo
educacional irá investigar quais processos biológicos, cognitivos, mentais ou
outros estão envolvidos no aprendizado de um e outro comportamento. Neste
capítulo, iremos estudar as principais teorias da Psicologia que são usadas na
educação escolar.

• A Teoria Psicanalítica
A teoria psicanalítica nasceu dos estudos e das observações do médico
neurologista austríaco Sigmund Freud. Atualmente, é usada na psicologia
clínica e em estudos teóricos, analisando o psiquismo e o comportamento
humano, os processos que envolvem o Inconsciente, usando a psicoterapia da
livre associação e formulando tratamentos para problemas psíquicos. A 1ª
Teoria do Aparelho Psíquico, ou Modelo Topológico da Mente, foi formulada
no início dos estudos de Freud (sobre o assunto) para explicar os níveis de
consciência do ser humano ao usar sua energia mental, ele descreveu três
níveis:

 Consciente: o indivíduo está lúcido diante dos pensamentos e interações


com o meio, sua percepção está vigorosa;

 Pré-Consciente: são “arquivos” da mente que não estão no presente da


consciência, mas que podemos acessar voluntariamente e quando
desejamos;

 Inconsciente: são os arquivos da mente aos quais não temos acesso


voluntariamente, eles podem vir à tona, mas não depende de nossa
vontade ou intenção.

Este último, o Inconsciente, tem um papel protagonista na teoria freudiana. Boa


parte de nossos problemas psíquicos tem relação com o inconsciente e seus
“arquivos”. Algumas ações, nossas e de outros, que nos causam traumas, medo,
repulsa ou insatisfação, também os impulsos suprimidos, tudo acaba
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armazenado no inconsciente. Como é muito doloroso “desarquivar” esses


conteúdos, a nossa mente reprime. Mas essa repressão tem um preço. Muitos
desses arquivos acabam lutando para vir para nosso consciente, e isso se dá
através de sonhos, atos falhos, rompantes emotivos, sentimento de culpa,
depressão. Por isso, o psicanalista, ao analisar seu paciente, vai tentar acessar
o inconsciente deste para descobrir o que está causando os problemas psíquicos
e emocionais.
Mais tarde, em seus estudos, Freud desenvolveu a 2ª Teoria do Aparelho
Psíquico, ou Modelo Estrutural da Personalidade. Esse modelo descrevia as
seguintes estruturas:

 Id (em alemão, ele): é a fonte da energia psíquica e da vida (libido). Ele é


formado por pulsões, instintos, impulsos biológicos e desejos
inconscientes. Busca sempre o prazer;

 Ego: ele trabalha através do princípio de realidade, ou seja, analisa se os


impulsos do Id são aplicáveis, viáveis. Após a formação do Superego, o
Ego tentará equilibrar os impulsos do Id e as repressões do Superego;

 Superego: é a razão, a lógica, a reflexão. Ele vai frear os impulsos do Id.


Se forma através das regras e repressões sociais.

Já comentamos que a personalidade humana tem duas pulsões: a de vida, Eros,


e a de morte, Thanatos. Esta última é um impulso autodestrutivo que temos e
que nos coloca em situações de vulnerabilidade. Thanatos, segundo a Mitologia
Grega, era o deus da morte. Já a pulsão de vida é representada pela libido, o
desejo, a busca pelo prazer. Freud a chamou de Eros porque este era o deus do
amor. As pessoas têm essas pulsões atuando conjuntamente em suas ações,
suas decisões, seus pensamentos e sentimentos, e o Ego tentará equilibrar
essas pulsões (SILVA, 2010).
Nossa personalidade vive, portanto, em constante tensão, na qual o Ego tenta
frear os instintos do Id, ao mesmo tempo em que tenta driblar as repressões do
Superego. Quando este trabalha em excesso nós sentimos medo, e para que
isso não cause danos à nossa personalidade, o Ego utiliza os Mecanismos de
Defesa. Com esses mecanismos, o Ego exclui da consciência uma parte da
realidade, a que está causando tensão (SILVA, 2010). Os principais mecanismos
de defesa são:

 Anulação: é o processo pelo qual o Ego afasta da consciência


pensamentos, lembranças e fatos extremamente dolorosos;

 Negação: a pessoa simplesmente nega a existência de algo, de alguma


teoria, situação, pensamento ou sentimento;
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 Formação reativa: o sujeito irá exibir sentimentos opostos aos impulsos


verdadeiros, indesejados;

 Projeção: processo no qual o indivíduo atribui a outras pessoas


comportamentos e ideias que não consegue aceitar como sendo suas;

 Regressão: o indivíduo regride em emoções e comportamentos de uma


idade precoce;

 Fixação: o indivíduo estaciona em uma fase do desenvolvimento;

 Sublimação: é a satisfação de um desejo não aceitável através de ações


aceitáveis;

 Identificação: é o processo pelo qual um indivíduo se identifica com


características da personalidade de outro;

 Recalque: é quando afastamos ideias, pensamentos e sentimentos que


consideramos errados, reprimindo-os e maquiando a realidade;

 Racionalização: é o processo de tentar explicar fatos e ideias absurdas


com a ciência, a razão (SILVA, 2010).

Além dos estudos sobre a mente, a personalidade e o psiquismo humano, Freud


também estudou o desenvolvimento da Sexualidade, classificando-o em fases e
explicando as relações da pulsão de vida com nossos desejos. Veremos esses
estudos a seguir.

• Desenvolvimento da Sexualidade
Para a teoria freudiana a sexualidade se desenvolve desde o nascimento. É
importante não confundir o conceito de sexualidade (orgânica, biológica) com o
de erotização (prática, sexualização, social). A criança tem sexualidade, mas
jamais deve ter qualquer contato com erotismo e práticas sexuais. Criança não
namora, não casa e muito menos pratica sexo.
Essa sexualidade natural, inata e biológica é fruto da nossa pulsão de vida, Eros,
que se manifesta através da busca da satisfação e do prazer. Essa busca
acontece desde que nascemos e se divide em fases:

 Fase Oral: é a fase mais precoce na qual o bebê obtém sua satisfação
ao sugar, morder, mastigar. Adultos que construírem uma relação
conflituosa com o prazer oral podem desenvolver a “fixação oral”, ou seja,
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eles se mantêm nessa fase, tentando obter prazer com a comida, bebida,
cigarro, etc.;

 Fase Anal: a criança vai tentar desenvolver o controle do esfíncter e da


bexiga, e ao aprender a controlar suas necessidades fisiológicas, ela irá
obter satisfação e prazer;

 Fase Fálica: a criança passar a ter curiosidade e interesse no seu órgão


genital e também do sexo oposto. Obtém prazer e satisfação em se
descobrir, em se explorar.
Segundo a teoria psicanalítica, após a fase fálica, por volta dos 5 anos de idade,
a criança entra em um período de latência. Isso se dá porque se inicia a formação
do Ego, e posteriormente do Superego. A criança começa a aprender regras
sociais, a procurar aceitação dos pares e a buscar o amor dos pais. Com isso,
ela vivencia duas experiências que são descritas como Complexo de Édipo e
Complexo de Electra:

 Complexo de Édipo: o menino começa a ter uma certa fixação pela mãe,
quer ter exclusividade sobre ela e seu amor. Se houver uma forte
presença paterna nessa família, o filho irá desenvolver um ciúme do pai,
iniciando uma competição pelo amor da mãe. Mas a criança, que está
desenvolvendo o Superego, se sente culpada por isso;

 Complexo de Electra: seria a versão feminina do complexo de édipo, a


qual Freud chamou de édipo feminino, mas o psicanalista Carl Jung
nomeou de complexo de Electra. A menina teria fixação pelo pai,
competiria com a mãe e se sentiria culpada.

Após essa fase de latência, já adolescente, o indivíduo entra na Fase Genital,


na qual manifesta interesse e desejo pelo corpo do outro. Assim, ele procura a
atividade sexual, ou seja, a prática do sexo. Citamos acima o psiquiatra suíço
Carl Gustav Jung, ele foi um importante estudioso e teórico da psicanálise, tendo
aprofundado conceitos de personalidade, introspecção e formulando a Teoria do
Inconsciente Coletivo. Nessa teoria, Jung analisa o inconsciente coletivo,
presente na parte mais profunda da nossa mente, onde estão localizados
arquétipos (modelos, paradigmas) que herdamos da espécie humana.

• Afetividade e Aprendizado
Além da sexualidade, a psicologia nos apresenta estudos importantes sobre o
desenvolvimento da nossa afetividade e a relação desta com o aprendizado
humano. Na educação, o maior expoente desse assunto é o filósofo, médico e
psicólogo francês Henri Wallon. Seus estudos contribuem muito para a
compreensão sobre a relação da afetividade com o desenvolvimento da criança
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e do ser humano em geral. A teoria de Wallon ressalta que o aprendizado só é


completo se estamos com a parte motora, a cognitiva e a emocional em equilíbrio
(GALVÃO, 1995).
Wallon considera tanto aspectos hereditários como a influência do meio no
processo de aprendizado, desde muito cedo, a criança desenvolve as relações
afetivas ao mesmo tempo em que constrói a estrutura cognitiva. Ele divide o
desenvolvimento humano em 5 etapas (GALVÃO, 1995): impulsiva-emocional
(primeiras relações com o meio, sensoriais), sensória-motora (imitação,
linguagem) e projetiva, personalismo (individualismo), categorial (ampliação
do conhecimento de mundo) e da predominância funcional (adolescência e a
influência hormonal).

• Desenvolvimento Social
Dentro do desenvolvimento social, a teoria psicológica mais utilizada nos
estudos educacionais é a desenvolvida pelos psicólogos russos fundadores da
Psicologia Sócio-Histórica, ou Histórico-Social. Esses psicólogos são: Lev
Semenovich Vygotsky, Alexei Nicolaievich Leontiev e Alexander Romanovich
Luria. O grupo era chamado de “troika” (Wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_cultural-hist%C3%B3rica).
Vygotsky e seus colegas estudavam as funções psicológicas superiores e o
aprendizado humano, unindo a psicologia com análises culturais, históricas e
relacionando com o materialismo dialético, ou seja, fortemente influenciados
pelas teorias de Karl Marx e Friedrich Engels. Vale lembrar aqui do contexto em
que o grupo de psicólogos russos desenvolveu sua teoria: a União Soviética pós-
revolução russa de 1917, dominada pelo pensamento de Trotsky e Lênin, que
buscavam implantar o socialismo-comunismo defendido por Marx e Engels
(SANTA & BARONI, 2014).

A proximidade entre o marxismo e as concepções advindas da


teoria histórico-cultural pode ser comprovada através da
discussão acerca do conceito de trabalho, abordado por Marx e
Engels e que foi retomado por Vigotski a partir da ideia de
mediação. A ação consciente do homem sobre o mundo,
mediada pelo uso de instrumentos, representou o passo decisivo
em direção à gênese do caráter genuinamente humano. Vigotski
estendeu essa concepção de mediação ao uso de signos, que a
exemplo das ferramentas são criados pelas sociedades, agindo
como transformadores da realidade sociocultural. A transmissão
da cultura, tanto no que se refere à esfera das ferramentas
materiais, quanto aos elementos linguísticos e estético-culturais,
representa o fator decisivo no desenvolvimento humano, de
onde pode-se inferir a importância do problema educacional
para a compreensão do pensamento vigotskiano (SANTA &
BARONI, 2014, p. 2).
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A cultura e o contexto histórico são produtos importantes na teoria de


aprendizagem de Vygotsky, produtos estes responsáveis pela aquisição de
conhecimento e reprodução do mesmo. O homem, segundo ele, se torna
humano em contato com a humanidade. Para Vygotsky, a criança vai aprender
todo o conhecimento social e histórico do meio em que vive através da linguagem
e da interação social (VYGOTSKY, 2002).
Vygotsky foi um psicólogo importante para a educação. Sua teoria de
aprendizagem é ainda base para muitos paradigmas educacionais atuais, como
a Nova Base Nacional Comum Curricular, os Parâmetros Curriculares Nacionais
e o Referencial Nacional da Educação Infantil, aspecto que veremos melhor em
capítulo à frente.
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CAPÍTULO 3 – DEFININDO O CONCEITO DE APRENDIZAGEM

Existem diversos conceitos sobre a aprendizagem. Basicamente, aprender é


adquirir conhecimento, habilidades, valores, experiência em algo, mas esse
processo pode ser definido de muitas formas, mesmo dentro da Psicologia. Para
a Psicologia Comportamental, por exemplo, aprendizado é uma mudança
significativa no comportamento do indivíduo. A forma como esse indivíduo
aprende também é descrita sob diversas perspectivas. Dentro da Psicologia
descreveremos quatro concepções de aprendizagem básicas: a Inatista, a
Empirista, a Histórica-Social e a Construtivista.
O Empirismo é uma concepção na qual o indivíduo aprende e se desenvolve de
acordo com o meio em que vive e seus estímulos, ou seja, a aprendizagem se
dá pela experiência. Essa concepção influenciou a Psicologia Comportamental
e seus estudiosos, que acreditam que o aprendizado se dá pelas respostas do
organismo vivo aos estímulos do meio. O conceito de aprendizagem para essa
área da psicologia é, portanto, definido para todos os seres vivos. A educação
empirista se baseia no meio, nos objetos e nas variáveis que esse meio
apresenta. A imitação também é componente importante desse aprendizado, já
que muitas ações são aprendidas assim (NUNES & SILVEIRA, 2015).
A concepção Inatista, ao contrário, considera o fator genético e o hereditário
como fundamentais para a aprendizagem. Isso significa que uma criança já
nasce com um tipo de inteligência, herdada, e que a manterá por toda a vida. O
meio no qual a criança vive, cresce e se desenvolve terá uma participação
secundária em sua aprendizagem (NUNES & SILVEIRA, 2015).
O Construtivismo é uma corrente teórica fundamentada nos estudos do biólogo
suíço Jean Piaget. Essa corrente considera tanto a parte genética, hereditária,
como a influência do meio sobre o aprendizado. Se formos pensar em uma
aprendizagem universal, para todos os seres vivos, veremos que os processos
mais fundamentais da inteligência são de natureza biológica, estão presentes
em qualquer ser vivo. Existe uma relação íntima entre os fundamentos
fisiológicos e anatômicos e a inteligência. Para Piaget, por exemplo, a
inteligência é uma adaptação: herdamos um modo de funcionamento
intelectual, que nos permite uma relação com o meio e gera estruturas
cognitivas, ele é constante por toda a vida (FLAVELL, 1996).
Essas estruturas, chamadas Invariantes Funcionais, são o princípio da
inteligência, e não são engessadas. Elas estão em constante funcionamento e
evolução, através dos processos de Organização e Adaptação. A adaptação é o
intercâmbio entre o meio e o indivíduo que resulta em uma modificação do
organismo e do objeto assimilado. Dentro da adaptação existem dois processos:
a Assimilação e a Acomodação (FLAVELL, 1996).
A assimilação é o processo pelo qual um objeto do meio é modificado pelo
organismo. A acomodação é o processo pelo qual o organismo se adapta ao
objeto. São dois lados de uma mesma moeda, contrários, mas indissolúveis. Por
exemplo: a alimentação, enquanto mastigamos o alimento (assimilação), a
nossa salivação inicia o processo de digestão, que irá absorver os nutrientes
(acomodação), ou seja, não há como mastigar sem digerir, são indissociáveis.
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Além da adaptação existe a Organização, pela qual a estrutura mental ajusta o


novo conhecimento ao já existente. Os processos mentais estão em ação o
tempo todo. Cada informação nova a que temos acesso causa um desequilíbrio
em nossas estruturas mentais e elas desencadeiam os processos de adaptação
e organização para se ajustar ao novo conhecimento.
Por isso, quanto mais estímulos temos no nosso meio, mais as estruturas
funcionam e, portanto, mais aprendemos. Então, percebe-se que segundo o
Construtivismo, o ser humano constrói o conhecimento usando suas
características genéticas universais, biológicas, ao mesmo tempo que interage
com o meio e depende dele para estimular essa parte biológica e gerar uma
adaptação.
A importância do nosso meio ganha maior destaque na Psicologia Histórica-
Social, que já foi explicada aqui. Essa teoria tem como base os estudos do grupo
de psicólogos russos liderados por Lev Vygotsky.

A concepção de conhecimento com base na Psicologia


Histórico-Cultural de Vygotsky enfatiza o papel da cultura na
formação da consciência humana e da atividade do sujeito.
Acredita-se que a criança, em seu percurso de desenvolvimento,
domina gradativamente os conteúdos de sua experiência
cultural, os hábitos, os signos linguísticos e também as formas
de raciocínio utilizadas nas variadas situações. Este processo de
apropriação de conhecimento é construído socialmente, ou seja,
depende das oportunidades que lhe são dadas num dado
contexto cultural e da atividade intencional do aprendiz. Nesta
teoria, temos uma ideia de aluno ativo em seu processo de
aprendizagem (NUNES & SILVEIRA, 2015, p. 13).
A concepção de Vygotsky para o aprendizado escolar será baseada em uma
interação constante e intensa com o meio social e cultural. Todas as concepções
que descrevemos são importantes para a educação. O professor, em seu
trabalho cotidiano, irá usar todas as concepções que forem necessárias e que
servirem a determinados contextos.
Nas aprendizagens mais básicas irá se servir da teoria inatista, ou mesmo a
empirista. Já nas aprendizagens mais complexas, mais teóricas, pode usar o
construtivismo. No aprendizado sobre convivência social, sobre linguagem e
interação, irá buscar a teoria histórico-social. Assim, cada teoria tem algo
importante a oferecer para a educação. No próximo capítulo, iremos descrever
melhor as teorias de aprendizagem e como elas atuam no contexto escolar.
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CAPÍTULO 4 – AS TEORIAS DE APRENDIZAGEM

No capítulo anterior definimos a aprendizagem de acordo com as principais


concepções da Psicologia, descrevendo como as pessoas aprendem e qual a
influência do ambiente nesse aprendizado. Neste capítulo, iremos abordar as
principais Teorias de Aprendizagem da Psicologia que têm sido utilizadas na
área da Educação.

• A Aprendizagem Significativa
Para o psicólogo americano David Ausubel, a aprendizagem deve fazer sentido
para quem aprende. O conteúdo ensinado deve ter alguma relação com a
realidade do aluno e também com o que este já aprendeu. O ensino deve enfocar
a formação de novos conceitos, quando as crianças ainda estão na Educação
Infantil, utilizando organizadores prévios, temas introdutórios para familiarizar a
criança com o novo conceito.
Esses organizadores irão captar o interesse da criança para o assunto que será
abordado pelo professor. A aprendizagem, então, é construída conteúdo após
conteúdo, sempre os relacionando entre si e com o que a criança já conhece,
tudo deve fazer sentido. Para se alcançar esse sentido, o material didático deve
ser significativo para o aluno, e este, deve manter o foco na aprendizagem,
manter o interesse. A avaliação deve ser feita propondo atividades práticas e
resolução de problemas (MOREIRA, 2011).
Assim, a teoria da aprendizagem significativa dá ao aprendizado escolar uma
razão de ser que não tem sido encontrada atualmente. As novas gerações de
educandos obtêm informações que lhes interessam de modo rápido, nos
dispositivos móveis e acabam não tendo motivação para aprender pelo método
tradicional. É uma geração acostumada a conhecer uma grande quantidade de
temas, mas de modo superficial.
Essa teoria é atual e precisa ser adotada nas escolas, já que muitas ainda tentam
promover o aprendizado com métodos ultrapassados, ensinando de uma forma
que não sentido algum para seus alunos. Uma opção seria se utilizar desses
temas que interessam aos alunos e usar o tempo na escola para aprofundá-los,
conectando-os com os saberes acadêmicos, e assim, mantendo a atenção e
interesse dos alunos no aprendizado escolar.
É preciso levar em conta o conhecimento prévio, a cultura, a bagagem cognitiva
que a criança traz para a escola. Ao ressaltar a importância da história do
indivíduo e a do professor como mediador, Ausubel se aproxima da teoria de
Vygotsky; ambos reforçam que o conteúdo ensinado na escola deve ter valor
social e significado para o aluno (MOREIRA, 2011).
16

• Teoria Sócio-Histórica
Em capítulos anteriores abordamos alguns aspectos da teoria Sócio-Histórica de
aprendizagem, baseada nos estudos do psicólogo russo Lev Vygotsky. Segundo
essa teoria, a criança vai aprender todo o conhecimento social e histórico do
meio em que vive através da linguagem e da interação social. A cultura e o
contexto histórico são produtos importantes na teoria de Vygotsky, produtos
estes responsáveis pela aquisição de conhecimento e reprodução do mesmo. O
homem, segundo ele, se torna humano em contato com a humanidade
(VYGOTSKY, 2002).
O aluno é um ser histórico, ele não chega à escola como uma folha de papel em
branco, ao contrário, traz muita bagagem e conteúdo, construídos com sua
família, sua comunidade e com a sociedade em que vive. O professor precisa
analisar esse conteúdo antes de iniciar qualquer processo de ensino. Vygotsky
afirma que o professor precisa considerar três níveis de aprendizado do aluno
(VYGOTSKY, 2002):

 Zona de Desenvolvimento Real: caracterizada pelo conteúdo que o


aluno já aprendeu;

 Zona de Desenvolvimento Potencial: é o conteúdo que o aluno tem


potencial para aprender, conteúdo previsto;

 Zona de Desenvolvimento Proximal: é formada pelos conteúdos


elaborados pelo professor para levar o aluno do que ele já sabe para o
que ele pode aprender.
O conteúdo escolar deve estar sempre relacionado ao contexto da escola e do
aluno, caso contrário, não fará sentido. O contexto também servirá para troca de
experiências, informações e dúvidas, pois para Vygotsky, não há aprendizado
sem interação social. Nessa teoria de aprendizagem, então, a escola deve estar
sempre atenta ao desenvolvimento da linguagem, do diálogo, da comunicação,
para promover a troca de experiências, de vivências, sempre estimulando a
socialização e a integração entre os alunos.

• Teoria Comportamental
O Behaviorismo, ou Psicologia Comportamental, é uma área que estuda o
comportamento humano observável. Para o behaviorismo, o aprendizado é
medido pelas mudanças comportamentais verificáveis e não está restrito à
espécie humana. Descreveremos a seguir dois autores importantes para
entendermos como essa área da Psicologia explica o aprendizado: Ivan Pavlov,
que desenvolveu a Teoria do Condicionamento Respondente, e B.F. Skinner,
que desenvolveu a Teoria do Condicionamento Operante, ambas teorias
importantes para a Educação (MOREIRA, 2011). Antes de conhecermos os
autores, porém, convém entender dois conceitos importantes:
17

 Comportamentos Reflexos ou Respondentes: são comportamentos


inatos, ou seja, nascemos sabendo como fazer, por exemplo: piscar,
salivar, deglutir, chorar, sorrir. Esses comportamentos são involuntários
(a gente não controla), são comuns a todos na espécie e não variam de
pessoa para pessoa (todos piscamos da mesma forma, por exemplo);

 Comportamentos Operantes ou Aprendidos: são os comportamentos


que precisamos aprender, por exemplo: andar, falar, dançar, digitar. Eles
são controláveis (decidimos quando começam e terminam), variam de
pessoa para pessoa e nem todos aprendem.
Na década de 1920, o fisiologista russo Ivan Pavlov estudava processos de
digestão e utilizava cães em suas pesquisas. Seu estudo estava focado na
quantidade de salivação dos cães para cada alimento. Biologicamente, a
salivação (respondente) ocorre com estímulos ligados à alimentação e à
digestão, como a mastigação e a deglutição. Porém, os cães de Pavlov,
começaram a produzir saliva quando ouviam os passos dos alimentadores, ou
quando viam a tigela com alimentos. Pavlov achou isso interessante e começou
a apresentar estímulos sonoros (som) conjuntamente com a tigela de comida.
Estava nascendo a teoria do Condicionamento Respondente (MOREIRA,
2011).
O condicionamento fez com que um comportamento reflexo (salivar), geralmente
desencadeado por um estímulo natural (alimento) fosse produzido, através da
associação, por um estímulo condicionado, artificial (som). Assim, toda vez que
o cão ouvia o som, salivava.
Um exemplo que pode ser aplicado ao ambiente escolar é a música. Ela é um
estímulo neutro, sem relação com sentimentos, mas se associarmos a ela uma
situação triste ou alegre, sempre que a ouvirmos, ela nos trará essas emoções.
Por exemplo, a fome (respondente) tem como estímulo natural o estômago vazio,
mas se associarmos a fome que a criança sente antes do recreio a uma canção
(estímulo artificial), sempre que cantarmos essa canção, a mesma irá despertar
o apetite, a criança fará uma associação e estará condicionada.
Foi o que Pavlov fez. Ele trocou o estímulo natural para a salivação, por um
artificial, para isso, ele associou diversas vezes o estímulo natural (comida) ao
estímulo artificial (som, campainha). Após algumas sessões, o cão passou a
salivar somente com o estímulo artificial. Quando Pavlov percebeu que essa
associação originava um novo comportamento, o comportamento condicionado,
desenvolveu a teoria do condicionamento dos reflexos, ou condicionamento
respondente.
Além dos comportamentos inatos, o ser humano também aprende certas ações,
como cantar, falar, dançar, digitar, entre outros. Esses comportamentos são
chamados de Operantes. O psicólogo americano B.F. Skinner desenvolveu uma
18

pesquisa na qual comportamentos aprendidos, operantes, são reforçados


negativamente ou positivamente (MOREIRA, 2011).
No reforço positivo (positivo no sentido de aumentar a chance de ocorrer o
operante), o comportamento tende a aumentar ou se intensificar com o estímulo
apresentado. Por exemplo, quando elogiamos alguém que está dançando, essa
pessoa tende a se motivar e continuar a dançar.
No reforço negativo, por outro lado, o estímulo tende a diminuir ou extinguir o
comportamento. Por exemplo, se uma criança, ao perguntar para o professor
alguma questão é respondida com aspereza ou é ridicularizada, a tendência é
essa criança não repetir ou diminuir suas perguntas. É o Condicionamento
Operante, no qual reforçamos ou extinguimos comportamentos através de
estímulos (MOREIRA, 2011).

• Teoria Construtivista

O biólogo suíço Jean Piaget é um dos autores mais importantes nas pesquisas
e práticas educacionais. Sua teoria de desenvolvimento cognitivo é a base da
Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental. Também se dedicou
ao desenvolvimento moral e social das crianças. Para Piaget, como já
explicamos anteriormente, a inteligência é uma adaptação. O ser humano nasce
com estruturas mentais próprias da espécie, que em contato com o meio e seus
objetos de aprendizagem desencadeiam os processos mentais de adaptação e
organização (PIAGET, 1964).
A primeira parte da pesquisa de Piaget é sobre o desenvolvimento humano.
Como biólogo, ele se interessou pelos processos mentais e como estes se
multiplicavam ao longo da infância. Chegou a observar e estudar os próprios
filhos, que são citados em diversos textos dele. Esses estudos originaram a sua
teoria do desenvolvimento, a Epistemologia Genética, na qual afirma que o
conhecimento é adquirido através de uma interação do indivíduo com o meio.
Também descreveu a teoria do desenvolvimento cognitivo da criança. Essa
teoria classifica o desenvolvimento infantil em quatro estágios (PIAGET, 1964):

 Período Sensório-Motor (0-2 anos): fase de imitação, de exercício dos


reflexos, a criança desenvolve a linguagem, é egocêntrica;

 Período Pré-Operacional (2-6 anos): a criança inicia o processo de


socialização e exercita o jogo simbólico, o faz-de-conta;

 Período Operacional Concreto (7-12 anos): período das operações


mentais concretas, aprende a lógica, conceitos de número, de tempo, de
reversibilidade. Existe um material de apoio ao professor, chamado “Caixa
19

de Piaget”, na qual encontramos provas operatórias desenvolvidas por ele


para analisar em qual período a criança se encontra;

 Período Operacional Formal (a partir dos 12 anos): início do


pensamento lógico-dedutivo, a criança começa a entender e criar
pensamentos formais, abstratos, teorias mais complexas.

Além da aprendizagem cognitiva, Piaget passou a se interessar pela interação


social entre as crianças e como essas aprendem as regras para conviver com
os outros. Inicialmente, observou os jogos infantis, como o de bolinhas de gude.
Ele observou que as mais novas jogavam de acordo com as próprias regras e
estavam mais preocupadas em apalpar os objetos, conforme crescem começam
a entender as regras e a respeitar. Ele formulou estágios para o desenvolvimento
moral (PIAGET, 1994):

 Anomia: a criança não entende o conceito de regras, geralmente até dois


anos;

 Heteronomia: a criança obedece a regra por medo do castigo e/ou


autoridade;

 Autonomia: quando crescemos, com a maturação cognitiva, passamos a


compreender o sentido das regras e a obedecê-las por consciência.
Assim, Piaget e suas teorias, moral e cognitiva, são bases importantes para a
atuação de professores em salas de aula. Essas teorias influenciaram nossa
base curricular, nossa legislação educacional e estão presentes nos cursos de
formação de professores, fundamentando suas práticas pedagógicas.

• As Inteligências Múltiplas
O psicólogo americano Howard Gardner desenvolveu uma teoria que está sendo
bastante utilizada nos processos de ensino-aprendizagem das escolas atuais: a
teoria das inteligências múltiplas. Durante muito tempo a escola não levava em
conta as diferentes habilidades e competências de seus alunos. Não entendia
ou não justificava o fato de muitos estudantes serem habilidosos em
determinadas áreas e terem dificuldades de aprendizagem em outras.
Com conhecimento em neurologia e psicologia, Gardner observou que a
necessidade de resolver problemas influencia o desenvolvimento da inteligência
e que o meio que produz essa necessidade estimula ou não determinadas áreas
do conhecimento. Para Gardner, a princípio, existem 7 tipos de inteligência
(ANTUNES, 1998):
20

 Lógico-Matemática: habilidade para operações matemáticas e lógicas;

 Linguística: habilidade com linguagens;

 Espacial: noções completas de espaço;

 Físico-Cinestésica: habilidade para resolver problemas concretos e


produzir objetos;

 Interpessoal: habilidades em relações sociais;

 Intrapessoal: conhecimento pleno de si mesmo;

 Musical: habilidade com a música e instrumentos.


Gardner considerou posteriormente a inteligência natural, habilidade de se
relacionar com a natureza, e existencial, de cunho filosófico. Assim, a escola
pode entender porque alunos com certas habilidades em determinadas áreas
não conseguem atuar eficientemente em outras.
21

CAPÍTULO 5 – A MOTIVAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

Após estudarmos as definições e as teorias sobre aprendizagem, iremos


entender como motivar os alunos a estudarem e se dedicarem à escola. A
geração atual é diferente de tudo com o que lidamos nas últimas décadas. São
crianças e adolescentes nascidos na era da informação, com acesso desde cedo
aos dispositivos digitais e suas tecnologias. Esses alunos estão acostumados a
buscar conhecimento de forma rápida, mas sem se aprofundar muito em suas
pesquisas. Também podemos notar que muitos têm dificuldade de se concentrar
em tarefas longas e complexas.

• A Geração Z
Se observarmos comportamentos de pessoas com muita diferença de idade,
iremos notar que pensam e agem de modos diversos, se aproximando mais dos
pares que dos mais jovens ou mais velhos. Essa diferença entre gerações levou
cientistas a estudarem e classificarem grupos de pessoas com contextos
culturais semelhantes, mas idades diferentes. De acordo com Somera (2013, p.
6), “estudos globais demonstram que as gerações apresentam um conjunto de
atitudes e crenças que as caracterizam”. Essas gerações podem ser
classificadas em (SOMERA, 2013, p. 6):

 Veteranos: nascidos antes de 1943;

 Baby Boomers: nascidos entre 1943 e 1960;

 Geração X: nascidos entre 1960 e 1980;

 Geração Y: nascidos entre 1980 e 2000;

 Geração Z: nascidos entre 2000 e 2010;

 Geração Alpha: nascidos a partir de 2010 (em estudos).

Como podemos observar pelos dados acima, os nossos alunos da Educação


Básica pertencem à Geração Z e à Geração Alpha. Ambas as gerações são
nativas digitais e têm formas de agir e de pensar semelhantes. Como a geração
alpha ainda está em estudos, nos concentraremos na geração Z.
Segundo Somera (2013), a geração Z herdou algumas características de sua
antecessora, a geração Y, tais como: o uso das redes sociais para lazer e
interação; a necessidade de atenção; o imediatismo; falta de apego às raízes e
tradições; uma rede ampla e diversificada de amizades, a maioria virtual; bem
informados. Além desses comportamentos, também são características da
geração Z (SOMERA, 2013, p.8):
22

 Formada por crianças que estão constantemente “conectadas” por meio


de dispositivos portáteis;
 Tem mania de zapear tendo várias opções, entre canais de televisão,
internet, vídeo game, telefone e MP3 players;
 Conhecidas por serem “nativas digitais”, estando muito familiarizadas com
as novas tecnologias, não apenas acessando a internet de suas casas, e
sim pelo celular. O mundo para eles é tecnológico e virtual;
 É uma geração preocupada com o meio ambiente.

Como uma geração intensamente ligada às tecnologias, ela precisa que a escola
lhe ofereça essas ferramentas para se motivar a aprender, a estudar e a se
concentrar nos conteúdos acadêmicos. As profissões tradicionais e a formação
universitária nem sempre interessam aos dessa geração. Eles procuram
empregos menos formais, de formação mais rápida e específica e não constroem
laços muito duradouros com as empresas, pois se perdem a motivação,
abandonam seus projetos.

Emocionalmente, os alunos da geração Z precisam de atenção, precisam de


cuidados constantes e costumam ser mais instáveis que os da geração anterior.
São crianças protegidas e que cresceram cercadas de cuidados, por vezes
exagerados, não estão acostumadas às frustrações, ao “Não”. Assim, quando se
confrontam com realidades mais duras como a da sociedade ou o mercado de
trabalho, podem se deprimir ou se desmotivar, sentindo-se fracassados.

A ansiedade também tem se tornado característica das novas gerações. O


imediatismo, a falta de interesse e de motivação tem feito com que a saúde
mental dos jovens se prejudique e demande atenção dos adultos. Muitos
adolescentes são vulneráveis emocionalmente e não sabem lidar com a pressão
das redes sociais, da escola, dos pais, podendo tomar atitudes extremas como
a automutilação e até o suicídio. Então, como a escola irá lidar com esses
alunos? Veremos a seguir.

• Como motivar os alunos da geração Z


É um desafio para pais e professores educarem as crianças da Geração Z.
Enquanto apresentam um comportamento altamente eficaz para lidar com as
tecnologias e a informação, apresentam um aspecto psicológico e emocional
extremamente frágil, altos níveis de ansiedade e muitas dificuldades em manter
o foco e a atenção nas atividades. Assim, a escola, que ainda utiliza métodos
tradicionais e ultrapassados de ensino, não consegue captar ou manter o
interesse dessa geração.
A primeira atitude da escola, portanto, é se adequar a métodos de ensino mais
atuais, utilizando estratégias didáticas mais efetivas e adotando pedagogias
mais ativas. As teorias de aprendizagem que estudamos no capítulo anterior
devem servir de apoio para a construção do currículo e do material didático,
23

assim como para os planos de aula e as práticas do cotidiano escolar. O aluno


precisa se identificar com a escola, com seus professores e com os conteúdos
ensinados, esse é o primeiro passo para motivá-los.
Outra mudança necessária é a que se refere aos recursos didáticos e
tecnológicos. O investimento precisa ser intenso em tecnologia e materiais
interativos. O professor precisa aprender a lidar com essa tecnologia ainda nos
cursos de formação e precisa se manter atualizado quanto a elas. De nada
adianta a escola oferecer recursos tecnológicos se o professor não sabe
aproveitá-los.
O celular não deve ser encarado como inimigo, mas sim um aliado, uma
ferramenta importante para motivar os alunos a participarem das aulas. É preciso
que se coloque algumas regras e alguns limites, mas sem tirar a autonomia dos
alunos. A própria internet se torna ferramenta didática útil ao professor, pois ele
pode acessar rapidamente conteúdos, jogos, exercícios, dados estatísticos,
dinamizando a aula e otimizando o tempo.
Algumas características das novas gerações que precisam ser entendidas pelos
professores e essas características devem ser levadas em consideração no
momento do aprendizado, vejamos:

 Cérebro Ágil: as novas gerações possuem uma agilidade mental maior


que a das gerações anteriores, por isso, a aula deve ser dinâmica. Essa
agilidade deve ser aproveitada, o professor pode trazer uma grande
variedade de informações e deixar os alunos trabalharem com elas;

 Entendimento Global: são alunos que têm uma visão mais ampla do
mundo, pois são bem informados. Então, devemos aproveitar esse
conhecimento para trabalhar os conteúdos escolares;

 Necessidade de Reforço Positivo: como é uma geração mais carente


de elogios, os professores podem motivar os alunos com os mesmos,
sempre verbalizando o sucesso deles nas tarefas. Por outro lado, o
fracasso deve ser encarado com seriedade e responsabilidade, para
acostumar essa geração às frustrações. O professor deve explicar o erro
e mostrar o caminho para o acerto, sem adular, mas também sem
traumas;

 Imediatismo: os alunos atuais são muito ansiosos, imediatistas, querem


tudo rápido e não tem paciência, nem concentração para atividades
longas e complexas. Por isso, o professor precisa trazer temas que
interessem e que desafiem a mente desses alunos. Isso não significa
passar superficialmente pelos temas, mas fazer um recorte que interesse
ao aluno;
24

 Multitarefas: essa é uma qualidade com a qual a geração ainda não sabe
lidar, acabam ansiosos e desmotivados. O professor deve buscar
dinâmicas de grupo que treine essa habilidade dos seus alunos;

 Trabalho em equipe: é uma geração que sabe cooperar e dialogar, mas


ainda tem dificuldades em aceitar outras opiniões, por isso, o professor
deve trabalhar essa qualidade ao mesmo tempo que orienta sobre saber
ouvir, saber ceder e saber se expressar de forma adequada.

Não podemos esquecer que parte da motivação do aluno vem do professor,


portanto, este deve manter uma postura de seriedade em relação ao trabalho,
mas isso não significa estar desmotivado. Ele deve ensinar com firmeza, mas de
forma tranquila e verbalizar elogios para cada avanço do seu grupo. Vejamos
algumas estratégias que o professor deve adotar:

 Manter o entusiasmo todos os dias, para ser modelo aos alunos;


 Explicar a aplicabilidade do conteúdo, contextualizando-o;
 Adaptar sua matéria à realidade escolar e à atualidade;
 Criar métodos de reforço positivo e reforço negativo para controlar a
disciplina na sala;
 Promover a participação dos alunos nas teorias e práticas;
 Ser democrático nas decisões;
 Valorizar a diversidade;
 Ser claro, objetivo e adaptar a linguagem ao seu público, para se fazer
compreendido;
 Passar tranquilidade e confiança nos momentos de avaliação;
 Valorizar o esforço dos alunos;
 Apontar e corrigir o erro, mas sem alarde e explicando como fazer de
forma correta.
Com essas ações, o professor se tornará um parceiro dos alunos no processo
de ensino-aprendizagem, ganhando a confiança dos mesmos nessa trajetória. O
professor que não ouve seus alunos, que não conhece suas vivências e suas
experiências pessoais, não consegue formar um vínculo efetivo. Isso significa
que este professor irá dar aula para si mesmo, pois não alcançará seus alunos
e estes, ficarão desmotivados.
25

CAPÍTULO 6 – A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Durante muitos séculos a relação do professor com seus alunos era restrita à
sala de aula e a interação era mínima. O método tradicional de ensino não
permitia que professores abrissem mão de uma posição ativa e autoritária em
relação aos seus alunos, e estes não se aproximavam mais que o necessário
para umas poucas perguntas.
Atualmente, não se admite mais esse afastamento do professor, principalmente
nas séries iniciais. A escola vem pouco a pouco compreendendo que ensinar vai
muito além de transportar os conteúdos de uma pessoa para outra. Tanto, que
a Psicologia tem sido cada vez mais solicitada no cotidiano escolar para melhorar
a relação entre os alunos, entre alunos e professores, e entre a escola e seus
agentes.
Por isso, é importante conhecermos como a Psicologia pode tornar o
aprendizado e o ensino mais efetivos, através da edificação na qualidade da
relação professor-aluno. Neste capítulo, iremos descrever como é a relação ideal
entre professor e aluno, como esta relação interfere no processo de ensino-
aprendizagem e quais estratégias a Psicologia fornece aos educadores para
tornarem essa relação a mais saudável e produtiva possível.

• Como deve ser a relação professor-aluno


Como já comentamos, a relação do professor com seus alunos se tornou
diferente do que foi durante muitos séculos. Antigamente, o professor não
precisava manter uma relação minimamente afetiva com os alunos, nem era
qualificado para isso. Podemos dizer que era uma relação mais fria e distante.
Com o surgimento das novas teorias de aprendizagem, principalmente o
Construtivismo, a Psicologia Histórico-Social e a teoria da Afetividade de Wallon,
a formação de professores e as novas didáticas passaram a considerar
importante uma qualificação do professor para se postar e ensinar de modo mais
interacionista e humanizado.
As teorias educacionais mais atuais, focadas em métodos ativos de
aprendizagem, orientam que o professor precisa considerar o seu aluno, com
sua bagagem cognitiva e cultural, antes de iniciar o planejamento de suas aulas.
A aprendizagem, segundo Vygotsky (2002) se dá no contato humano, através
da linguagem e da interação social. É no contato com seus pares e seus
professores, na escola, que o aluno vai trocar vivências, experiências e
conhecimentos necessários para sua formação.
Não há um aprendizado efetivo se o aluno não conseguir obter significado em
suas aulas, como pudemos ver na teoria da aprendizagem significativa de David
Ausubel. Segundo este psicólogo, o professor, ao interagir com o aluno, conhece
suas necessidades e suas experiências, usando-as para preparar aulas que este
aluno entenda, absorva e que sejam úteis para sua formação integral.
26

Mesmo Piaget, que considera a importância de todos os elementos do meio para


o aprendizado e não somente as relações sociais, elaborou uma teoria de
desenvolvimento social (já estudada aqui no capítulo 4, p. 19) para
complementar sua teoria psicogenética. Piaget afirma que não existe
desenvolvimento completo sem a interação social, pois não há adaptação
completa se não equilibrarmos o desenvolvimento moral e o cognitivo. E o aluno
precisa da participação mediadora do professor em sua interação com o meio e
na busca do conhecimento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (RCNEI), Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre outras referências são
claros ao afirmar a importância de uma pedagogia mais ativa, com a participação
do aluno, com um professor humanizado e versátil, currículo flexível e que não
contemple somente o aprendizado formal, mas o social e o emocional. Para que
isso se torne realidade, precisamos que o professor seja acolhedor e saiba
promover e usar integração social em suas aulas.

• A Psicologia e a relação professor-aluno


Se a relação professor-aluno atualmente se constrói mediante a interação social
dos mesmos no cotidiano escolar e essa interação favorece o ensino e o
aprendizado, então existem muitos fatores envolvidos nessa relação. Esses
fatores podem ser considerados variáveis no processo de ensino e se não forem
observados e cuidados, podem interferir negativamente nesse processo.
Vejamos quais esses fatores:

 Intelectuais: o fator intelectual envolve o pensamento e a atividade


mental. A teoria de Piaget irá ajudar o professor a analisar esse fator ao
se relacionar com seus alunos. Por exemplo, nossa postura, linguagem e
afeto são diferentes ao ensinarmos crianças de 2 anos ou de 10 anos, ou
adolescentes. A mentalidade do aluno vai guiar as atitudes do professor;

 Acadêmicos: o professor pode ser mais ou menos flexível e amigável de


acordo com a disciplina ou conteúdo que está ensinando. A Psicologia
tem muitas correntes teóricas que podem ajudar o professor a
desenvolver estratégias didáticas para ensinar cada tema, conteúdo e
disciplina de modo a captar a atenção do aluno e favorecer a
aprendizagem;

 Emocionais: o professor precisa ficar atento ao estado emocional dos


alunos ao entrar em sala de aula. Ninguém consegue aprender com
qualidade se está triste, aborrecido, traumatizado, com medo ou com
raiva;
27

 Sociais: os fatores sociais irão englobar os aspectos familiares,


socioeconômicos, culturais, as relações de grupo dentro da escola, tudo
isso deve ser estudado antes de se desenvolver um planejamento
educacional em qualquer nível;

 Psicológicos: a personalidade do aluno precisa ser conhecida, aos


poucos, pelo professor, para que este consiga estabelecer estratégias
para disciplinar e educar.

Ao descrevermos esses fatores podemos entender como o processo de ensinar


envolve mais do que simplesmente lousa e giz, exposição de saberes e cópias
de matérias. Aprender precisa envolver atenção, concentração e dedicação por
parte do aluno, enquanto ensinar precisa de compreensão, discernimento,
entendimento e estratégias psicológicas efetivas por parte do professor.
Veremos quais são essas estratégias a seguir.

• Estratégias da Psicologia para melhorar a relação professor-aluno


Dentro dos fatores que citamos acima, podemos descrever algumas estratégias
que a Psicologia vai ajudar a construir para melhorar o relacionamento dos
alunos com o professor e assim melhorar também o processo de ensino-
aprendizagem. Vejamos essas estratégias:

 Estágios de desenvolvimento: a teoria dos estágios de


desenvolvimento de Jean Piaget servirá de base para a produção de
conteúdos significativos para cada idade. Por exemplo, sabemos que no
estágio pré-operacional a criança precisa que se trabalhe o lúdico e o jogo
simbólico, portanto, as atividades intelectuais focarão esses aspectos;

 Aprendizagem Significativa: como Ausubel nos mostrou, o conteúdo


acadêmico precisa fazer sentido para o aluno. Sendo assim, o professor
deve, na primeira semana de aula, focar em conhecer a realidade em que
vivem seus alunos. Podem ser feitas rodas de conversa, dinâmicas de
grupo, redações, narrativas, enfim, qualquer formar de comunicação e
troca de informações que irão embasar o trabalho do professor;

 Motivação e Empatia: muitas vezes planejamos uma aula e ao chegar


na escola percebemos que o estado emocional da sala não irá permitir
que essa aula se aplique. Os alunos podem estar cansados,
desmotivados, tristes ou estressados, por motivos que independem do
professor. Sendo assim, o professor sabe que se insistir o aprendizado
não será completo. Prevendo essas ocasiões, o professor deve ter
sempre um plano B ao preparar seus conteúdos. Dentro de sua área e
sua disciplina é preciso ter sempre atividades divertidas, motivadoras e
28

humanizadas. Por exemplo, o professor de Língua Portuguesa pode


sempre inserir uma história e com ela motivar os alunos a estudarem a
gramática, a literatura, etc. Por outro lado, o professor de Matemática
pode ter sempre jogos didáticos à mão para usar nesses momentos.
Assim, cada um, conhecendo sua sala, seus alunos, sua matéria, irá
selecionar essas atividades mais dinâmicas e lúdicas;

 Interação Social e Aprendizagem: para Vygotsky é importante a troca


de experiências e vivências para a formação integral do ser humano, tanto
que a nossa legislação e referencial curricular salienta que a socialização
é um dos principais objetivos da escola. Então o professor precisa
considerar esse aspecto em suas aulas, inserindo atividades práticas e
interativas para que seus alunos aprendam juntos, cooperando e trocando
ideias. As atividades práticas em grupo são uma forma eficaz de promover
esse aprendizado;

 Conhecer seu aluno: elaborar uma aula sem considerar a personalidade


e nível de desenvolvimento de seus alunos é atirar às cegas. O professor
deve aproveitar as oportunidades de conhecer os gostos pessoais, a
cultura, as preferências, as referências e o nível de aprendizado de cada
aluno. Com isso, irá sempre usar essas informações para elaborar suas
práticas, suas atividades e suas estratégias didáticas.

Como vemos, ensinar é algo complexo demais para resumirmos em poucas


páginas. Esse processo irá envolver uma série de fatores que irão atuar como
variáveis no aprendizado dos alunos. Conhecer essas variáveis é um dos
objetivos da Psicologia da Educação, que nos fornece várias teorias
educacionais e estratégias didáticas úteis na tarefa de ensinar.
29

CAPÍTULO 7 – OS PROCESSOS DE RETENÇÃO E ESQUECIMENTO DA


APRENDIZAGEM

Durante muitos anos a ciência vem estudando a memória humana, sua formação
e os processos de retenção de informações. Nas últimas décadas os estudos
têm avançado bastante, esclarecendo muitas questões relacionadas à parte
cerebral relacionada ao funcionamento da memória. Neste capítulo, iremos
estudar a estrutura da memória e o processamento de informação, levando à
retenção ou esquecimento do conhecimento.
Para os autores Squire e Kandel (2003, apud NUNES & SILVEIRA, 2015), a
memória é definida com algo que é aprendido e permanece por um longo tempo.
Para Coon (1999, apud NUNES & SILVEIRA, 2015), a memória seria “como um
sistema ativo que recebe, armazena, organiza, modifica e recupera a
informação. ”
Assim, percebemos o quanto o aprendizado está relacionado com a memória,
por isso, a Psicologia da Educação está comprometida com o seu estudo e suas
definições. A memória retém conhecimento e passa esse conhecimento adiante,
perpetuando os saberes da humanidade, a cultura e a linguagem. Nossa história,
nossa personalidade, nossos pensamentos e emoções são construídos através
da memória e ela direciona nossa interação social e nosso lugar no mundo.
O comprometimento da memória nos leva a problemas de aprendizagem, de
relacionamento e de cunho psicológico, ela interfere em toda nossa rotina,
nossos afazeres e nossos planos. Mas como é a estrutura da memória? Segundo
a classificação de Coll, Palácios, Marchesi (2004, apud NUNES & SILVEIRA,
2015) e Pozo (2002, apud NUNES & SILVEIRA, 2015), existem três grandes
sistemas de processamento da memória: memória sensorial, de curto prazo e de
longo prazo, que estudaremos a seguir.

• Memória Sensorial
A memória sensorial está relacionada aos sentidos: olfato, paladar, tato, audição
e visão. Ela armazena informações captadas por estes. Não precisa ser
consciente, ou seja, nem sempre percebemos que estamos captando
informações e armazenando-as. Assim, muitas vezes sentimos um cheiro, ou
ouvimos um som que nos parece conhecido, mas não conseguimos associar a
nenhum fato especificamente.

• Memória de Curto Prazo


É a memória recente, de fatos e informações que vivenciamos nos últimos dias
e horas. Ela seria um depósito temporário de informações, que nem sempre são
armazenadas definitivamente. É altamente funcional, também chamada de
30

“memória de trabalho”, pois recorremos a ela mais frequentemente para nossas


tarefas e atitudes (NUNES & SILVEIRA, 2015).
As informações que não são consideradas úteis, são descartadas, enquanto as
que são necessárias, são enviadas à memória de longo prazo. Isso evita
sobrecarregar nossa mente com excesso de informação fútil. Ela não tem uma
capacidade de armazenamento muito grande, por isso, só lembramos
informações realmente necessárias. Mesmo assim, muitas informações das
quais precisamos, acabam descartadas, como um número de telefone, da placa
de um carro, uma receita completa, etc. A memória de curto prazo possui dois
tipos de retenção (NUNES & SILVEIRA, 2015):

 Manutenção: conseguida através da repetição da informação;

 Elaborativo: fazendo alguma associação ou dando significação à


informação.
A retenção elaborativa tem mais chances de enviar a informação para a memória
de longo prazo, portanto, na escola, ficar repetindo conteúdos ao invés de
contextualizá-los e significá-los irá diminuir as chances de um aprendizado real.

• Memória de Longo Prazo


A memória de longo prazo armazena uma grande quantidade informações que
podem ficar ali por toda a vida. Essas informações, geralmente, ficam
organizadas e disponíveis para que possamos acessá-las quando necessário.
Porém, como nossa capacidade não é infinita, conforme absorvemos mais
conteúdos, as memórias antigas podem ser atualizadas, revisadas ou
descartadas, isso se chama processamento construtivo (NUNES & SILVEIRA,
2015).
Na memória de longo prazo as informações são organizadas por associações e
categorias. Para acessar as memórias o indivíduo pode usar de estratégias
chamadas de memória de reconstrução, de reintegração ou criativa. Apesar
disso, a memória pode distorcer, simplificar, aumentar ou diminuir fatos,
situações e impressões armazenadas. Segundo Squire e Kandal (2003, apud
NUNES & SILVEIRA, 2015), a memória de longo prazo se divide em:

I. Procedimental: é resultado de uma experiência que gera uma mudança


comportamental, aprender operantes, por exemplo: dançar, cantar uma
música, digitar;

II. Declarativa: é a memória dos fatos, pensamentos, sensações e


conhecimentos. A capacidade de retenção é influenciada pelo interesse
31

do indivíduo, seu estado de atenção e pela saúde física e mental. Essa


memória é dividida também em dois tipos:

a) Semântica: o indivíduo não precisa lembrar fatos ou situações,


somente objetos, odores, cores ou outro fator sensorial lhe
desperta a memória;

b) Episódica: constituída pelos elementos da vida particular da


pessoa, memórias que lhe são caras.
Como podemos notar, nosso cérebro tem uma grande capacidade de absorver,
selecionar, filtrar, armazenar e organizar as informações e o conhecimento,
porém, como ele não é infinito, ele acaba descartando o que considera
desnecessário.

• O Esquecimento
Acumular todas as informações que recebemos todos os dias, desde o
nascimento (ainda mais atualmente, que somos bombardeados com estímulos),
faria com que a mente entrasse em colapso. Por isso, a memória irá usar o
processo de selecionar e reter somente o que considera útil e necessário. O que
acontece, porém, quando esquecemos as informações de que precisamos?
Alguns fatores estão envolvidos nesse esquecimento (NUNES & SILVEIRA,
2015):

 Falhas na Codificação: ocorre uma inexatidão nas informações que


perturba o armazenamento. Por exemplo, a pessoa começa a viajar nos
pensamentos enquanto a professora explica algo;

 Falhas no Armazenamento: desintegração da lembrança ao longo do


tempo;

 Falhas na Recuperação: alguns fatores (neurológicos, lesões, doenças,


etc.) interferem no acesso às memórias.
Outros fatores também podem influenciar o esquecimento: a falta de interesse
da pessoa pelo assunto; a situação em que ocorre o fato, que pode ser
incômoda, dolorosa ou traumática; o organismo cansado, sonolento ou
estressado; um ambiente insalubre, entre outros. Na escola, é comum
encontrarmos esses fatores, será que isso prejudica a aprendizagem? Vejamos
a seguir.

• A Escola e a Retenção do Conhecimento


32

Como pudemos observar nesses estudos sobre a memória, o interesse, o


ambiente e os estado físico do indivíduo interferem na retenção de informações
a longo prazo, mas isso significa que interfere no aprendizado? Sim, pois,
aprender também significa armazenar conhecimento. Então, a escola precisa
proporcionar ao aluno um ambiente que lhe deixe mais apto a aprender.
Segundo Somera (2012), uma pessoa aprende mais quando:

Tem boa saúde;


Tem boa autoestima;
Deseja aprender;
Não tem ansiedade e estresse freqüente;
Com experiências (“aprende fazendo”);
É valorizado e seus progressos são destacados (SOMERA, 2012, p.14).

Como podemos ver, a pessoa irá ter mais chances de reter informações se
estiver bem, se tiver interesse e se o ambiente lhe proporcionar estímulos e
práticas para seu aprendizado. Em seus estudos, o Dr. Edgar Dale desenvolveu
as Pirâmides de Aprendizagem, que são uma representação esquematizada dos
dados acima, entre outros colhidos por ele em suas pesquisas. Essas pirâmides
explicam como o cérebro humano retém o conteúdo apresentado a ele.

As pesquisas de Dale mostram que dependendo do método de ensino, o


conhecimento não é retido por mais que algumas horas. Em seu livro “Como e
Quanto Aprendemos”, do Dr. Edgar Dale, temos as seguintes porcentagens de
retenção de conhecimento junto aos métodos de ensino:

Métodos de ensino e Retenção do Conhecimento: Somente Oral


– 70% dos dados retidos após 3 horas e 10% dos dados retidos
após 3 dias; Somente Visual – 72% dos dados retidos após 3
horas e 20% dos dados retidos após 3 dias; Simultaneamente
Oral e Visual – 85% dos dados retidos após 3 horas e 65% dos
dados retidos após 3 dias (DALE, apud SOMERA, 2012, p.14).

A seguir, temos a classificação funcional dos Meios de Ensino para a


Aprendizagem segundo o Dr. Edgard Dale (Cone da Aprendizagem de Dale):
33

Símbolos verbais (audição) Recepção


Meios mais abstratos
Símbolos Visuais (leitura) Auditiva e

Rádios, Gravações, Fotografias Visual

Cinematografia, Televisão
Participação

PASSIVA Exposições
Excursões

Grupos de Debates Participação

Demonstrações ATIVA
Experiências simuladas
Meios mais
Experiências dramatizadas
Experiências diretas, reais, com propósito definido Concretos

Cone de Edgard Dale: Bullaude, J. Enseñanza Audiovisual y Comunicación) – Adaptado.

Com esses dados, podemos entender que quanto mais o aluno participar do
processo de ensino-aprendizagem, mais significado encontrar nesse processo e
em seus conteúdos, e quanto mais dinâmico for o ensino, maiores as chances
de o aluno reter o aprendizado por um longo prazo e até por toda a vida. Assim,
a sala de aula precisa ser um espaço de integração entre os alunos e
professores, e entre estes e o conhecimento teórico-prático.
Para que isso aconteça, podemos citar algumas ações:

 O ambiente: preparar a sala de aula com estímulos adequados, criar um


ambiente acolhedor, confortável e que permita atividades práticas;

 O professor: estimular perguntas, interações, participação nas


atividades. Trazer sua matéria de forma interessante, atual e
diversificada. Utilizar todos os recursos disponíveis.
Assim, a escola irá fazer sua parte no que concerne à retenção do aprendizado
pelo aluno, e o professor também irá contribuir para isso.
34

CAPÍTULO 8 – A APRENDIZAGEM CRIATIVA

Criativo vem de criação, portanto, quando falamos em uma aprendizagem


criativa estamos relacionando o ato de aprender aos atos de criar, construir,
inovar. Pensando nisso, a aprendizagem criativa está diretamente relacionada
às pedagogias ativas, que já mencionamos aqui, como as que se baseiam em
Vygotsky, Ausubel ou Piaget. O próprio Vygotsky afirmou que a criatividade é
uma das funções psicológicas superiores, tão estudadas por ele. Neste capítulo,
iremos descrever como funciona a aprendizagem criativa e a sua importância
para o contexto educacional atual.
O homem, desde os primórdios da humanidade, usa sua engenhosidade para
solucionar problemas, construir ferramentas, mudar seus hábitos e se adaptar
ao ambiente em que vive. Sem a criatividade não haveria evolução, nem
progresso. Sendo assim, a criatividade está relacionada com a aprendizagem, já
que ambas estão ligadas à adaptação.
Atualmente, a criatividade tem ganhado espaço no mercado de trabalho, já que
muitas empresas dependem de profissionais criativos para conseguirem ser
competitivas e se manterem assim. O contexto social atual nos mostra que ser
criativo não depende de superdotação, mas de habilidades especiais que podem
ser despertadas e desenvolvidas ainda na escola, tornando-se ferramentas
importantes para o indivíduo se destacar na sociedade. Mas quais seriam as
habilidades que tornam uma pessoa criativa?
A criatividade se expressa através de certas ações e competências que levam a
pessoa a uma realização inovadora. Sempre que pensamos em pessoas
criativas tendemos a fazer somente um recorte do que é realmente a criatividade,
relacionando-a ao mundo artístico ou da ciência. Na verdade, a criatividade se
aplica a todas as áreas e está presente em todas as pessoas. Em cada aspecto
da vida, as pessoas manifestam meios criativos de interagir, trabalhar, aprender,
enfim, se adaptar. O diferencial está em ser criativo em um aspecto pouco
explorado. Por exemplo, criar um aplicativo que todos precisam e que nunca foi
criado, é um diferencial.

• Definição de Criatividade
Explicar a criatividade é complexo, pois assim como a inteligência, a criatividade
envolve fatores diversos, tais como: contexto, interação, reflexão, atitudes,
impacto social, entre outros. Avaliar essa criatividade também não é fácil, pois
irá depender da situação. De acordo com o livro Psicologia da Aprendizagem, de
Nunes & Silveira (2015, p.80), podemos descrever algumas definições de
criatividade baseadas em estudos específicos (na íntegra):

 “Criatividade é a decisão de fazer algo pessoal e valioso para satisfação


própria e benefício dos demais. (...) saber utilizar a informação disponível,
35

tomar decisões, ir além do aprendido, mas, sobretudo, saber aproveitar


qualquer estímulo do meio para solucionar problemas e buscar qualidade
de vida” (LA TORRE, 2003).

 Criar é basicamente formar. É poder dar forma a algo novo (...) o ato
criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua
vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar” (OSTROWER, 1996).

 A criatividade, como define Webster, é basicamente o processo de fazer,


de dar a vida (MAY, 1982).

 Capacidade distinta de solução de problema que permite as pessoas


ideias, produtos originais que são adaptáveis (que servem a uma função
útil) e plenamente desenvolvidos (DAVIDOFF, 1983).
Podemos notar que existem perspectivas diferentes sobre a definição de
criatividade, mas o ponto em comum é a inovação. Ser criativo, além de outras
coisas, é ser inovador, portanto, a ação criativa trará algo de novo ou atual sobre
alguma coisa. As pesquisas de La Torre (2003, apud NUNES & SILVEIRA, 2015)
revelaram que as pessoas apontadas como criativas não apresentam
peculiaridades em relação às outras, ou seja, são pessoas normais.
Segundo as mesmas pesquisas, criatividade não é um dom, não é um privilégio
de alguns poucos, porém, alguns traços pessoais podem acentuar a criatividade
da pessoa. Esses traços estariam ligados à intuição, à sensibilidade, à
persistência, à autonomia, ao empreendedorismo, à flexibilidade cultural, à
curiosidade, ao idealismo, entre outros que se apresentam como diferenciais em
uma situação que exija criatividade.

• A Escola e o Processo Criativo


Mas, e a escola? Qual seu papel? A escola tem valorizado a criatividade só
recentemente. Já comentamos aqui que a escola se apegou (algumas ainda se
apegam) aos métodos tradicionais durante muitos séculos. Pois em uma aula
expositiva, com aluno passivo, existe pouco espaço para criatividade do
professor e do aluno. As metodologias ativas, por outro lado, exigem o contrário.
Tanto o professor precisa usar toda sua inventividade para planejar e ministrar
aulas, como o aluno precisa se aplicar e ser criativo em suas tarefas.
As pedagogias ativas estão muito presentes na Educação Infantil, onde o
processo de ensino é mais prático, mais lúdico e recheado de variedades
didáticas. A escola, porém, perde isso ao entrarmos no Ensino Fundamental. As
aulas se tornam expositivas, tradicionais, ou seja, cansativas e entediantes. Se
para um adulto comum é difícil ficar sentado por cinco ou seis horas escutando
uma pessoa falar e copiando matérias automaticamente, imagine para uma
criança de 7 anos. Não à toa, os problemas escolares começam justamente
nessa fase.
36

A escola precisa criar oportunidades para o exercício da criação, precisa dar


flexibilidade ao professor para ensinar de modo engenhoso e precisa construir
um currículo criativo. Toda vez que se tenta padronizar o currículo e seus
conteúdos, e engessar as práticas da sala de aula, se perde no processo de
ensino-aprendizagem. Isso não significa falta de método e disciplina, mas sim
exercer o controle sem atrofiar as ações criativas (Não podemos esquecer que
criatividade envolve trabalho e persistência).

É importante permitir que o aluno discuta, avalie, reflita sobre


conceitos, atividades, expressando suas opiniões sobre a
realidade na qual está inserido (HAETINGER, 1998). É preciso
oferecer condições para que o aluno se relacione, crie, invente
e sinta prazer em aprender. Afinal, como vimos nas definições
anteriores, criar é um ato intencional, voluntário e carregado de
desejo, mas, para ser mobilizado, demanda oportunidades e
incentivos (NUNES & SILVEIRA, 2015, p.83).

Então, se a escola quiser que os alunos se tornem pessoas criativas e


inovadoras, ela deve proporcionar aos mesmos um ambiente que estimule a
interação, a troca de ideias, de experiências, a discussão e a expressão. Isso
começa no currículo, que deve conter recortes em que o professor possa atuar
de modo criativo e incentivar os alunos.

• Propostas Educativas Criativas


A teoria do pedagogo alemão Friedrich Froebel, nos dá um direcionamento sobre
como construir um aprendizado criativo em nossas escolas. Essa teoria se
baseia na liberdade do educando de se relacionar com os objetos de
aprendizagem e no dever da escola de usar atividades práticas e lúdicas no
processo de ensino.
Inspirado em Froebel, o Mitchel Resnick, professor do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), nos Estados Unidos, nos fala que a aprendizagem precisa ser
interativa. Para ele, no que tange à criatividade, temos que considerar os quatro
pês (4Ps): projeto, paixão, pares e pensar brincando. Explicando melhor, a
escola precisaria estimular os alunos a trabalharem em projetos baseados em
suas paixões, cooperando e recebendo auxílio de seus pares, e se divertir ao
refletir e criar (RESNICK, 2020).
Uma forma de ensinar que se relaciona com o que Resnick orienta é através da
Pedagogia de Projetos. Ela consiste em uma escola que usa metodologias ativas
de ensino. Não há seriação, mas ciclos, nem salas de aulas, mas salas de
aprendizado. O aluno precisa fazer projetos que envolvam todas as disciplinas
para entregar ao corpo docente. A avaliação é formativa.
O professor orienta, estimula, sugere, corrige, mas é o aluno que é protagonista
do aprendizado. Assim, além de aprender, o aluno aprende a aprender, a estudar
37

e a buscar o conhecimento. O projeto também exercita a criatividade, a


liberdade, a autonomia e a curiosidade investigativa.
Como pudemos aprender neste capítulo, a aprendizagem criativa depende mais
de oportunidades, incentivo e contexto do que de dons naturais. Essas
oportunidades devem ser oferecidas pela escola, através de um modelo
educacional mais atual, mais focado nas atividades práticas e que permita ao
professor direcionar o aprendizado de seus alunos.
O contexto criativo depende das oportunidades que o meio oferece, assim como
das atitudes de seus agentes. Mas isso não significa sermos educadores
relapsos, ao contrário, exige um cuidadoso planejamento, e monitoramento
constante das práticas, para verificar se estão sendo atingidos os objetivos
educacionais. Um modelo de ensino criativo está sempre se atualizando, se
repensando e se analisando, identificando e assumindo as falhas, e
aproveitando essas falhas para mais aprendizado.
38

CAPÍTULO 9 – FATORES QUE PREJUDICAM A APRENDIZAGEM

Desde que nasceu, a escola e seus educadores se questionam o que diferencia


um aluno que progride de um aluno que “fracassa”. Atualmente, não usamos
mais essa palavra (fracasso), pois entendemos que todo aluno, mesmo não
alcançando níveis acadêmicos excelentes, progride. A escola atual, portanto, irá
focar no desafio de identificar os fatores que prejudicam o aprendizado de seus
alunos e, identificando esses fatores, trabalhar para que todos obtenham
realizações significativas em sua vida escolar, e consequentemente social e
profissional.
Mas quais seriam esses fatores que interferem no aprendizado? Como a escola
pode ajudar o aluno a superar as dificuldades e progredir, se tornando preparado
para seguir nos estudos e/ou ir para o mercado de trabalho? É o que iremos
descrever e discutir neste capítulo, identificaremos esses fatores e junto a eles
as principais causas do fracasso escolar na atualidade.

• Fatores Sociais
Os fatores sociais influenciam bastante o desenvolvimento e a formação do
indivíduo. Já estudamos as teorias de aprendizagem que acreditam que a
interação do homem com o ambiente é tão ou mais importante que a influência
genética. Mas como o meio social pode interferir no aprendizado do indivíduo?
Em primeiro lugar, retomemos a teoria de Jean Piaget: a inteligência, segundo
ele, é uma adaptação ao meio e para que as estruturas mentais se desenvolvam
e promovam a absorção do conhecimento, é preciso estímulos do meio. Sendo
assim, o indivíduo que não recebe estímulos suficientes não se desenvolve
integralmente.
Esses estímulos vêm da família, que deve apoiar os estudos, valorizá-los e
estabelecer uma rotina para estes. Os estímulos também são dados pela
sociedade, que deve valorizar a escola, o professor e os estudos acadêmicos.
Nossa sociedade atual não tem cumprido seu papel, ela priva muitos alunos de
camadas sociais mais pobres do acesso às mesmas oportunidades que as que
os alunos mais abastados têm. É uma sociedade desigual não só do ponto de
vista socioeconômico, mas cultural e ideológico.

Weiss9 afirma que se priva o aprendente do desenvolvimento da


linguagem, priva-o ao mesmo tempo do acesso ao
desenvolvimento da leitura e da escrita, e que as condições
socioeconômicas e culturais influenciarão nos aspectos físicos
de alunos pobres, pois eles estarão expostos a vários tipos de
doenças que poderão deixá-los com deficiência na
aprendizagem (FERREIRA, 2008, p.142)
39

Dentro da escola, o aluno deve receber dos professores os reforços necessários


para sua educação, assim como material adequado e um ambiente acolhedor,
integrador e que promova o aprendizado das disciplinas. O professor estressado,
cansado e desmotivado não irá ensinar tudo que pode. A escassez de recursos
também prejudica os alunos que dependem destes para aprender, como os
alunos de inclusão, ou seja, a falta de investimento na escola e nos professores
também afeta diretamente o processo de aprendizagem.
A escola deve ter métodos didáticos que estimulem o aluno a aprender, que os
tornem ativos e participantes das aulas. Muitos alunos não gostam de ir à escola
porque a consideram entediante. Essas escolas, que ainda usam métodos
tradicionais, mantêm o aluno passivo, desmotivado e não despertam seu
interesse. É uma geração acostumada a receber grandes quantidades de
estímulos visuais e sonoros, além de uma variedade de informações, e não irá
conseguir aprender em um ambiente desprovido desses elementos.
Com isso, os alunos ficam inquietos, ansiosos e muitos acabam perturbando o
trabalho do professor. Este, não consegue dar uma aula tradicional sem ter que
parar a todo momento para disciplinar os alunos. Isso atrapalha quem está
tentando prestar atenção, irrita e frustra alunos e professores. Assim, a própria
escola se torna responsável pelo seu insucesso.
O aluno que não tem apoio do meio em que cresce acaba por não à rotina da
escola. Muitos se desmotivam por não acompanhar o ritmo dos colegas, do
professor e o andamento das atividades, então, enquanto alguns manifestam
indisciplina, outros se retraem e desistem de aprender.

• Fatores Genéticos e Hereditários


Algumas dificuldades dos alunos na escola não são originadas no meio em que
vivem ou se desenvolveram. Existem muitos alunos em nossas escolas que têm
comprometimentos dos mais variados, que prejudicam seu desempenho escolar,
e que são de origem genética (causados por um dano no material genético da
pessoa) ou hereditária (algo herdado dos pais). Os problemas escolares de
ordem genética ou hereditária são inúmeros, o que torna impossível a explicação
de todos aqui, então, abaixo relacionaremos as mais comuns na escola:

 Síndromes: para a Medicina, a síndrome é definida por um “conjunto de


sinais e sintomas observáveis em vários processos patológicos diferentes
e sem causa específica”. No caso das síndromes genéticas, ocorre uma
mutação no DNA. As mais comuns na escola atualmente são: síndrome
de Down, síndrome de Rett, síndrome de Arperger (incluída no espectro
autista), síndrome de Turner, síndrome de Duschene, síndrome de Patau,
síndrome de Williams e síndrome de Usher;
40

 Doenças: as doenças hereditárias que mais comuns no Brasil e que


interferem no aprendizado de um aluno são: hemofilia, diabetes,
hipertensão, cardiopatias, fibrose cística e daltonismo. Existem outras
condições, mas são mais raras;

 Transtorno do Espectro Autista (TEA): esse transtorno global de


desenvolvimento ainda não tem uma origem totalmente identificada,
porém, sabemos que existe algum componente genético e talvez
hereditário;

 Deficiências: algumas deficiências são adquiridas, mas outras são


herdadas ou fruto de uma desordem genética, por exemplo, o
acondroplasia (nanismo) e alguns tipos de deficiência intelectual.

• Fatores Neurológicos
Fatores neurológicos podem estar relacionados com componentes genéticos e
hereditários, porém, decidimos separá-los aqui pois alguns ainda não têm
comprovação quanto a isso. Abaixo, temos os distúrbios mais comuns nas
escolas brasileiras. Distúrbios de aprendizagem são problemas na organização
das informações que o organismo recebe do meio, eles podem prejudicar a
alfabetização, o letramento e outras ações escolares. Vejamos os mais comuns:

 Dislexia: problema na leitura, troca nas letras, dificuldade de escrever, de


organizar frases e orações;

 Disgrafia: problema no desenho e grafia das letras que pode ter origem
psicomotora, dificuldade de formar frases e textos;

 Dislalia: problemas de pronúncia, geralmente em relação a algumas


letras, como L e N;

 Discalculia: problema no aprendizado do conceito de número e tudo que


envolve operações lógicas e matemáticas;

 TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade): esse


transtorno pode ter origem genética ou ser desenvolvido após algumas
situações de ansiedade e estresse. Consiste em dificuldades de
concentração, inquietação, ansiedade e agressividade.

• Fatores Emocionais e Psicológicos


Alguns problemas no comportamento de estudantes podem estar relacionados
a aspectos emocionais e psicológicos. Quando não estamos nos sentindo bem
41

emocionalmente, ou quando sofremos de algum problema psicológico que ainda


não diagnosticamos, podemos apresentar comportamentos fora do padrão e que
nos afastam dos estudos. Vejamos os mais comuns:

 Depressão: a depressão está aparecendo cada vez mais cedo entre


nossos jovens. A causa dela pode ser genética ou desencadeada por
traumas, violência, abusos ou bullying. Os sintomas mais comuns são:
apatia, desinteresse por tudo, distúrbios no sono e no apetite, tristeza,
pessimismo, entre outros;

 Ansiedade: a ansiedade pode aparecer desde muito cedo na escola,


ainda na educação infantil. Ela pode ser causada por pressão da família,
da escola, dificuldades de aprender algo, baixa autoestima, entre outros
fatores;

 Traumas emocionais: o aluno que passa por traumas precisa ter


acompanhamento psicológico, caso contrário pode desenvolver
transtornos e ter sua rotina escolar e aprendizado prejudicados.
Os alunos que passam por problemas em sua família, que foram vítimas de
violência doméstica, sexual ou até mesmo na escola, podem apresentar também
comportamentos agressivos, autodestrutivos e até suicidas. É preciso que a
escola e os pais fiquem atentos a qualquer mudança brusca de comportamento
na criança ou no adolescente e procurem profissionais de saúde mental para
auxiliá-los.

• Problemas na Fala e na Comunicação


Alguns problemas de linguagem que as crianças com deficiência física, como a
Paralisia Cerebral, podem apresentar são:

 Atraso na fala: isso pode ocorrer por problemas físicos (no aparelho
fonológico), neurais ou sociais, como a falta de estímulo;

 Disartria: falta de articulação nas sílabas e na pronúncia das letras,


demora para concluir uma palavra ou frase;

 Anartria: a criança não consegue organizar seu aparelho fonológico para


elaborar a palavra ou frase;

 Gagueira: a criança trava na pronúncia das sílabas e palavras, por


questões psicológicas ou físicas (MIRANDA & GOMES, 2004).
42

CAPÍTULO 10 – A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Medir a aprendizagem de um aluno é algo bastante complexo. As pessoas


aprendem em ritmos diferentes, de formas diferentes e em momentos diferentes.
Isso significa que para se avaliar o desenvolvimento acadêmico de um aluno é
preciso um acompanhamento constante, ou seja, a avaliação deve ser feita de
forma contínua. Neste capítulo, iremos descrever a avaliação na escola
atualmente, em seguida analisar as funções que uma avaliação adequada deve
ter e finalmente, as orientações curriculares para o professor elaborar sua
avaliação.

• Avaliação na escola atual


A avaliação na escola depende do contexto educacional na qual ela se insere.
Atualmente, a escola se preocupa com o desempenho do aluno, seu
aproveitamento escolar do mesmo e com o alcance de notas. Muitos
instrumentos avaliativos tradicionais estão sendo utilizados para medir esse
desempenho e esse aproveitamento, como a prova escrita, por exemplo. Mas
qual o papel da avaliação? Como medir o aprendizado? (MELO & BASTOS,
2012).
Muitos professores se perguntam isso e se esforçam para elaborar instrumentos
avaliativos que realmente identifiquem o avanço do aluno em suas aulas, porém,
a maioria acaba frustrada com o processo. Primeiro, porque a escola geralmente
impõe aspectos avaliativos padronizados e regras gerais que impedem o
professor de explorar oportunidades eficientes. Segundo, porque o sistema de
seriação, progressão e notas numéricas, torna o processo avaliativo algo
quantitativo e não qualitativo, como deveria ser.
O professor também é avaliado ao avaliar. Se uma turma não atinge as metas e
objetivos propostos pelo planejamento escolar, quem acaba cobrado e
consequentemente culpado é o professor. O rendimento escolar do aluno está
diretamente relacionado à eficácia do ensino, porém, embora o ensino envolva
múltiplos fatores, somente o professor acaba exposto nesse processo (MELO &
BASTOS, 2012).
A prova escrita tem sido o instrumento avaliativo mais usado no país. Essa prova
tem seus méritos, porém, existem fatores envolvidos em sua aplicação que
podem prejudicar a avaliação do rendimento do aluno, tais como o fator
emocional, o ambiental, o físico, entre outros. Além disso, a prova escrita de
múltipla escolha, por exemplo, avalia conhecimentos prontos, memorizados,
pouco explorando aspectos reflexivos. Mesmo as provas discursivas não levam
em consideração dificuldades de leitura e escrita que os alunos possam ter.
Acabar com a prova escrita, porém, não é a solução, mas sim ressignificá-la e
contextualizá-la. É preciso que essa prova não seja imposta, não seja
engessada, nem seja a mesma para todos os alunos. A escola precisa levar
43

consideração a heterogeneidade de aprendizados na hora de compor suas


avaliações.

• Funções da avaliação
Ao refletir sobre os processos avaliativos, a escola tem buscado novas
orientações para preparar seus instrumentos. A prova escrita ainda é o
instrumento mais usado e na maioria das vezes o que tem maior valor, porém,
outras formas de medir desempenho, rendimento e progresso escolar têm sido
tentadas pela escola para transformar a avaliação da aprendizagem em algo
mais justo para alunos e professores.
Destas formas, podemos citar a Avaliação Formativa como a que tem sido mais
indicada para os professores. Esse tipo de avaliação se caracteriza por um
trabalho contínuo de observação da evolução do aluno. A partir de uma avaliação
Diagnóstica inicial (instrumento usado para analisar o que o aluno já sabe) o
professor estabelece objetivos e vai avaliando se estes objetivos têm sido
alcançados pelos seus alunos ao longo dos bimestres (ou outra medida de
tempo).
A avaliação formativa não só considera as individualidades dos alunos, como
ajuda o professor a avaliar seu próprio trabalho e, caso necessário, redirecionar
suas metas e objetivos. Fazem parte desse tipo de avaliação: olhar os cadernos;
observar a participação e a dedicação do aluno; analisar atividades e exercícios;
propor trabalhos, etc. (MELO & BASTOS, 2012).
Além da avaliação formativa, o professor pode aplicar também a Avaliação
Cumulativa: ela consiste em avaliar a produção e o aproveitamento do aluno ao
final de determinado período (mês, bimestre, semestre, ano letivo). A
Autoavaliação também pode ser inserida no processo avaliativo, é um modo de
dar autonomia ao aluno e levá-lo a refletir sobre si mesmo como estudante
(MELO & BASTOS, 2012).

• PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN) e o processo


avaliativo
De acordo com o PCN (1997) a avaliação precisa ser um processo que auxilie a
pedagogia e não um julgamento sobre sucesso e fracasso. Para isso, o PCN
propõe uma avaliação que acontece “contínua e sistematicamente através da
interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno” (PCN, p.59).
Assim, a avaliação deve mostrar ao professor o que está dando certo em suas
práticas pedagógicas e o que não está, servir orientando-o a planejar suas
intervenções quando forem necessárias.
As orientações do PCN é que desde o início do ano letivo o professor deve
avaliar. Retomando aqui a teoria de Lev Vygotsky, o professor deve fazer uma
avaliação diagnóstica para medir a Zona de Desenvolvimento Real do aluno, ou
44

seja, o que este aluno já sabe, já aprendeu (VYGOTSKY, 2002). Baseado


nessas informações, o professor irá planejar seu método e os conteúdos,
estabelecendo metas e avaliando continuamente se essas metas têm sido
alcançadas. Como orientação para essa avaliação os parâmetros curriculares
nacionais afirmam o seguinte (PCN, 1997, p. 60):

É fundamental a utilização de diferentes códigos como o verbal,


o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico, de forma a se
considerar as diferentes aptidões dos alunos.

 Observação sistemática
 Análise das produções dos alunos
 Atividades específicas para a avaliação: nestas, os
alunos devem ter objetividade ao expor sobre um tema,
ao responder um questionário.

Estabelecer critérios de avaliação concretos e realistas e planejar o que fazer


com os resultados obtidos nas avaliações também são fundamentais para o
processo avaliativo e para direcionar as ações do professor.

Os critérios não expressam todos os conteúdos que foram


trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são fundamentais
para que se possa considerar que um aluno adquiriu as
capacidades previstas de modo a poder continuar aprendendo
no ciclo seguinte, sem que seu aproveitamento seja
comprometido (PCN, 1997, p.61)

Concluindo, a avaliação deve ser um processo contínuo e que aborde todos os


aspectos do aprendizado. Essa avaliação deve servir de base para o trabalho da
escola e do professor, direcionando as ações pedagógicas futuras e embasando
a reflexão sobre o ensino.
45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos nossos estudos pudemos aprender sobre as funções e a formação do


Psicólogo na atualidade. No contexto atual, esse trabalho tem sido cada vez mais
solicitado e valorizado, pois as pessoas precisam cada vez mais aprender a
manter a mente equilibrada. Caso isso não aconteça, podemos perceber
sintomas físicos e psicológicos, aparecendo cada vez mais cedo, entre crianças
e adolescentes.
Para que a escola possa considerar o contexto e esses aspectos atuais, ela
recorre à Psicologia da Educação. Esta, irá descrever os processos envolvidos
na aprendizagem, através de teorias como a de Freud e Vygotsky, que
consideram a interação com o meio e as pessoas como importante para o
desenvolvimento e manutenção do aspecto psíquico. Na mente, iremos
encontrar a resposta e a causa para muitos problemas do cotidiano escolar.
O conceito de aprendizagem também foi estudado, assim como as principais
teorias sobre esse tema. Vimos que Jean Piaget apresenta uma teoria
importante sobre o desenvolvimento cognitivo, assim como David Ausubel, que
valoriza a aplicabilidade e a contextualização do saber. Dar significação ao ato
de aprender, aliás, é um dos principais motivadores desse ato.
Pudemos entender como funciona a memória humana e conhecemos os fatores
envolvidos na retenção e no esquecimento das informações. Aprendemos sobre
a criatividade e sua importância no processo educativo, assim como os fatores
que prejudicam esse aspecto. Por fim, analisamos a avaliação da aprendizagem,
que pode ser feita de um modo mais justo na escola, contemplando todos os
aspectos envolvidos no desenvolvimento e considerando as individualidades.
46

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