253-Texto Do Artigo-650-1-10-20070523

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Acta Veterinaria Brasílica, v.1, n.1, p.

1-7, 2007

PLANTAS TÓXICAS DE INTERESSE PECUÁRIO: IMPORTÂNCIA E


FORMAS DE ESTUDO

[Poisonous plants to livestock: importance and methods for study]

Raquel Ribeiro Barbosa1, Martin Rodrigues Ribeiro Filho 2, Idalécio Pacífico da Silva1, Benito Soto-
Blanco1,*
1
Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA), Mossoró, RN.
2
Médico Veterinário Autônomo.

RESUMO - Plantas tóxicas são aquelas espécies que causam quadros naturais de intoxicação. O prejuízo na
produção animal acarretado por estas plantas é bastante elevado no Brasil. O presente trabalho descreve as
formas como ocorre este prejuízo e aponta como devem ser realizados os estudos experimentais com estas
plantas.
Palavras-Chave: Plantas tóxicas, fitotoxicose, revisão.

ABSTRACT - Poisonous plants are those species that promote natural cases of poisoning. Economic loss on
animal production promoted by these plants is very high in Brazil. The present work describes the ways that
economic loss occurs and points to how experimental works should be done with these plants.
Keywords: Poisonous plants, fitotoxicosis, review.

INTRODUÇÃO
Mesmo com os grandes avanços na produção de
alimentos, ela ainda não é suficiente para atender às
A alimentação é uma das mais antigas preocupações
necessidades de toda população humana,
da humanidade. As populações primitivas supriam
especialmente nos países em desenvolvimento.
esta necessidade através do extrativismo,
Segundo dados da FAO (2006) referentes ao período
conseguindo seu alimento por meio da coleta de
de 2002 a 2004, a fome afligiu 863,9 milhões de
plantas, da caça e da pesca. Com a evolução de
pessoas nos países em desenvolvimento, sendo 63
nossa civilização, iniciou-se a agricultura e,
milhões apenas na América Latina e Caribe. Além
posteriormente, a domesticação de animais. O
disto, em muitas comunidades as pessoas têm como
crescimento da população tem refletido na
principal fonte de proteínas aquelas provenientes de
necessidade de se aumentar a quantidade de
vegetais, sendo insuficiente a quantidade de
alimento produzido. Assim, novas tecnologias
proteínas de origem animal (Machin, 1992).
sempre foram sendo criadas e adotadas pela
indústria agropecuária. Grandes avanços nas áreas
Assim, torna-se necessário o aumento da produção
de nutrição animal, sanidade e melhoramento
de alimentos de origem animal, especialmente nas
genético vêm ocorrendo e sendo aplicados à
regiões onde esta é deficitária. Uma importante
produção animal nas últimas décadas. Outras
forma de se aumentar esta geração é através da
tecnologias para o incremento desta produção vêm
redução nas perdas que ocorrem no processo
sendo desenvolvidas, tais como o emprego de
produtivo. Na agricultura, a principal causa de
hormônios promotores do crescimento (Soto-Blanco
perdas é promovida pelas pragas que atacam as
& Paulino, 1996; Palermo Neto, 2006) e o cultivo de
lavouras. Já na criação animal, grandes perdas são
plantas geneticamente alteradas (Macilwain, 1998),
devidas a mortes ou a queda no desempenho em
mas estes avanços vêm gerando também muita
conseqüência a doenças infecciosas, tóxicas,
polêmica a respeito de sua utilização.

*
Autor para correspondência. DCAn/UFERSA, BR 110 Km 47, 59625-900, Mossoró, RN, Brasil. E-mail: soto-
[email protected].
genéticas e nutricionais. Na pecuária brasileira, plantas tóxicas. A exposição dos animais de produção
assim como na de muitos outros países, uma a plantas tóxicas se dá principalmente por sua
significativa causa de prejuízos é a ingestão de presença nas pastagens, contaminação acidental do
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alimento e oferecimento como alimento.


CONCEITO DE PLANTA TÓXICA

Na natureza, um grande número de espécies vegetais


RELAÇÃO PLANTA-HERBÍVOROS apresenta princípios ativos capazes de promover
distúrbios em animais. No entanto, são classificadas
As plantas e os animais são habitantes de nosso como plantas tóxicas de interesse pecuário as
planeta mutuamente dependentes uns dos outros. A espécies que promovam intoxicação nos animais,
capacidade de realizar fotossíntese permite as mas apenas sob condições naturais. Neste sentido,
plantas utilizar energia solar, dióxido de carbono e nem todas as plantas demonstradas
água para sintetizar compostos orgânicos, liberando experimentalmente como tóxicas devem ser
oxigênio para atmosfera. Os animais utilizam consideradas plantas tóxicas de interesse pecuário
oxigênio e compostos orgânicos, e excretam dióxido por não produzirem quadros clínico-patológicos sob
de carbono que é utilizado pelas plantas. Assim, não condições naturais (Tokarnia et al., 2000).
seria evolutivamente interessante para as plantas que
sofram predação pelos animais até a extinção, nem Os efeitos que as plantas tóxicas causam à pecuária
que elas se tornem completamente resistentes aos são constantemente apontados, não somente em
herbívoros, pois estes entrariam em extinção. De nosso país como no exterior. As razões que levam os
fato, animais e plantas existem em relação de mútuo animais a ingerirem estas plantas nocivas, como a
benefício e também como adversários (Cheeke, falta de pastagens adequadas e a escassez de
1998). alimentos, de modo geral, são os principais fatores
responsáveis pelas intoxicações e morte dos
Como as plantas são incapazes de se locomover para
mesmos. (Andrade & Mattos, 1968).
escapar dos herbívoros, elas tiveram de desenvolver
técnicas para minimizar sua predação. Muitas
As toxinas presentes nas plantas podem influenciar
plantas desenvolveram mecanismos mecânicos e diretamente na produção animal (Cheeke, 1998),
morfológicos de proteção, tais como espinhos,
sendo capazes de promover importantes prejuízos ao
cornos e pêlos, ou o desenvolvimento de agronegócio. Uma interessante forma de classificar
revestimento impenetrável (Cheeke, 1998). Além
estes prejuízos é em perdas diretas (morte, perda de
disto, diversas espécies sintetizam e armazenam, a peso ou redução do crescimento, distúrbios
partir do seu metabolismo secundário, substâncias
reprodutivos) e indiretas (custo médicos, construção
químicas responsáveis por redução na predação por de cercas, alterações no manejo) (James et al.,
insetos e herbívoros. Neste sentido, estes compostos
1992).
podem promover quadros de intoxicação em animais
que ingeriram estas plantas (Cheeke, 1998; Wink, Com relação aos prejuízos diretos, a mortalidade de
2004). animais promovida por plantas tóxicas é, sem
dúvida alguma, o que mais chama a atenção,
Segundo a teoria da defesa vegetal otimizada, as especialmente quando afeta uma grande
plantas têm de distribuir seu metabolismo
porcentagem do rebanho. O número bovinos mortos
bioquímico entre crescimento, reprodução e a defesa por plantas tóxicas no Brasil foi estimado, em 2001,
para otimizar seu desenvolvimento. Deste modo, o
entre 800.000 e
nível ótimo de defesa balanceia os custos 1.120.000 (Riet-Correa & Medeiros, 2001).
metabólicos da produção de defesas químicas com
Entretanto, como este número foi obtido a partir da
benefícios da redução na perda de tecidos pela extrapolação da mortalidade por plantas ocorrida
predação por herbívoros (Mckey, 1974; Rhoades &
nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
Cates, 1976). Além disto, substâncias tóxicas para provavelmente esteja subestimado, uma vez que a
defesa deverão estar concentradas nas partes da
taxa de mortalidade por plantas é maior nas regiões
planta que mais contribuem para o desenvolvimento Centro-Oeste, Nordeste e Norte do que nas regiões
(Mckey, 1974), como folhas novas, ramos de
Sul e Sudeste (Tokarnia et al., 2000). Diversos
florescência e sementes (Ralphs et al., 2000). outros fatores contribuem diretamente para o
prejuízo causado pelas plantas tóxicas, tais como a
redução no ganho de peso ou mesmo a perda de
peso e distúrbios reprodutivos (por exemplo,
abortamentos, malformações e menor taxa de
concepção) (James et al., 1992; Riet-Correa &
Medeiros, 2001). No entanto, é extremamente difícil
fazer este cálculo para pecuária nacional.
Há também prejuízos indiretos, como os gerados no valor de algumas propriedades (especialmente
pela terapêutica dos animais, estabelecimento de quando estas apresentam fama de serem locais onde
medidas profiláticas (capina, aplicação de animais que são introduzidos morrem). Ainda,
herbicidas, construção de cercas etc) e depreciação intoxicações por plantas podem afetar indiretamente
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seres humanos. Dentre estes riscos, o principal está


determinadas espécies vegetais (Andrade & Mattos,
na contaminação do alimento produzido (carne, leite
1968; Cheeke, 1998).
ou mel) por resíduos de toxinas das plantas. Se os
prejuízos diretos já apresentam dificuldade de
Devido ao grande número de espécies, as plantas
mensuração, se torna quase impossível mensurar os
tóxicas são estudas em grupos, podendo estes ser
prejuízos indiretos (James et al., 1992; Riet-Correa
formados de acordo com a divisão regional, com a
& Medeiros, 2001).
ação patológica, de acordo com as famílias
botânicas e com os princípios tóxicos. Para fins
Muitos conceitos equivocados vêm sendo
práticos em Medicina Veterinária, podemos
disseminados a respeito das plantas tóxicas. Um
classificar as plantas de acordo com sua ação
deles se refere à alegada existência de instinto nos
patológica, em função do quadro clínico-patológico
animais, o que os protegeria da ingestão de plantas
que promovem (Tokarnia et al., 2000).
tóxicas. No entanto, o consumo de plantas pelos
animais é condicionado pela satisfação que o animal
No Quadro 1 estão listadas as plantas tóxicas para
tem ao ingerir o alimento. Também está bastante
animais de interesse zootécnico do Nordeste. Esta
disseminado o conceito de que a toxicidade das
listagem foi feita segundo dados apresentados por
plantas estaria relacionada à presença de
diversos autores (Tokarnia et al., 2000; Riet-Correa
lactescência, o que não é verídico, pois a maioria
et al., 2003, 2006; Ribeiro-Filho, 2004; Andrade,
das plantas tóxicas não apresenta esta característica
2006; Macedo et al., 2006; Soto-Blanco et al.,
e nem toda as plantas lactescentes são tóxicas. Além
2006). Outras espécies consideradas como tóxicas
disto, muitos consideram que algumas plantas sejam
em outras regiões do Brasil, mas sem descrição de
capazes de promover intoxicação com poucas folhas
casos de intoxicação natural em nossa região
e que os efeitos surjam imediatamente. Entretanto,
incluem Euphorbia tirucalli (avelós), Senna
nenhuma das plantas conhecidas é tão tóxica a ponto
occidentalis (mata-pasto, fedegoso), Solanum
da morte ocorrer poucos minutos após a ingestão de
paniculatum e Jatropha spp (pinhão, pinhão-bravo,
poucas folhas (Tokarnia et al., 2000).
pinhãozinho).

CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS TÓXICAS


CONDIÇÕES PARA OCORRÊNCIA DA
As toxinas das plantas são produtos secundários de INTOXICAÇÃO
seu metabolismo, parecendo estar envolvidas como
adjuvantes no mecanismo de sobrevivência da É bastante popular a idéia de que os animais
planta. Muitas toxinas são amargas ou induzem possuam instinto para identificar as plantas tóxicas,
acentuadas alterações fisiológicas. As toxinas mas isto é um equívoco. De modo geral,
presentes nas plantas variam amplamente em inicialmente os animais selecionam as plantas
estrutura e propriedades químicas (Osweiler, 1998). disponíveis pela palatabilidade e pelas sensações
que ocorram após a ingestão. Assim, os animais
As classes químicas mais importantes de compostos podem deixar de preferir ingerir plantas que, apesar
tóxicos existentes nas plantas são: alcalóides, de serem palatáveis, produzam efeitos adversos,
glicosídeos, lecitinas e ácidos orgânicos. Ainda, principalmente náuseas e vômitos (Provenza et al.,
minerais absorvidos do solo e acumulados na planta, 1992). Além disto, foi verificado que princípios
como por exemplo, selênio, bário, nitratos e ativos contidos na dieta dos animais em quantidades
oxalatos, podem ser responsáveis pela toxicidade de não letais podem afetar a seleção de alimentos em
mamíferos segundo seus efeitos sistêmicos gerais
(Foley et al., 1995; Villalba et al., 2002).

Apesar de algumas plantas tóxicas serem palatáveis


para os animais, muitas plantas que apresentam
princípios ativos tóxicos têm seu sabor afetado.
Assim, a fome é considerada a condição mais
freqüente para ocorrência de intoxicações por

3
Quadro 1 - Plantas tóxicas para animais de interesse zootécnico do Nordeste.

Grupo de plantas Espécies

Plantas que causam “morte súbita” Paulicorea marcgravii (erva de rato)


Paulicorea aeneofusca
Mascagnia rígida (tinguí)
Mascagnia elegans
Plantas que causam distúrbios gastrintestinais Enterolofium contortisiliquum (tambor, tamboril, orelha de negro, orelha de
macaco, timbaúba)
Stryphnodendron coriaceum (barbatimão do Nordeste, barbatimão do
Piauí)
Ricinus communis (mamona,
carrapateira) Plumbago scandens (louco)
Centratherum brachylepis (perpétua)
Plantas hepatotóxicas Crotalaria retusa (guizo de cascavel, feijão de guizo, chocalho de cobra,
maracá de cobra, gergelim bravo)
Tephrosia cinerea (anil, falso anil)
Cestrum laevigatum
Copernicia prunifera (carnaúba)
Planta nefrotóxica Thiloa glaucocarpa (sipaúba, vaqueta)

Plantas que afetam o SNC Ipomea carnea susp fistulosa (algodão bravo, canudo, mata bode)
Ipomea asarifolia (salsa)
Ipomoea riedelii (anicão)
Ipomoea sericophylla (jetirana)
Marsdenia spp (mata calado)
Ricinus communis (mamona, carrapateira)
Prosopis juliflora (algaroba)
Anacardium spp (caju)
Plantas fotossensibilizantes Floehlichia ulbotiana (ervanço)
Lantana spp (chumbinho)
Brachiaria spp (braquiária)
Planta de ação radiomimética Pteridium aquilinum (samambaia do campo)

Plantas que causam anemia hemolítica Brachiaria radicans (tannergrass)


Ditaxis desertorum
Indigofera suffruticosa (anil)
Plantas cianogênicas Manihot esculenta (mandioca, macaxeira)
Manihot spp (maniçobas)
Piptadenia marcrocarpa (angico)
Piptadenia viriflora (angico)
Sorgum vulgare (sorgo)
Plantas que acumulam nitratos e nitritos Echinochloa polystachya (capim mandante)
Pennisetum purpureum (capim elefante)
Plantas que promovem distúrbios
reprodutivos Aspidosperma pyrifolium (pereiro)
Mimosa tenuiflora (jurema preta)

Planta que afeta pele e anexos Leucaena leucocephala (leucena)

Planta pneumotóxica Ipomoea batatas + Fusarium solani (batata doce mofada)

plantas. Muitas plantas que são pouco palatáveis


faltar o alimento comestível, como ocorre nos
devido a alguns compostos que acumulam passam a
períodos de estiagem (Cheeke, 1998; Tokarnia et al.,
ser consumidas pelos animais quando começa a
2000).
Há plantas tóxicas que, mesmo sendo pouco palatibilidade; no entanto, esta condição é rara. Além
palatáveis, os animais não podem evitar ingerir, por disto, as plantas tóxicas podem contaminar feno ou
crescerem em estreita associação com plantas de boa silagem preparada com forrageiras que se
desenvolveram em estreita associação a plantas
diferenças significantes na sensibilidade à ação
tóxicas. Ainda, alguns herbicidas são reconhecidos
tóxica de muitas plantas. As características
por alterar a palatabilidade de plantas, e a introdução
morfológicas podem contribuir para as diferenças
de animais em locais tratados recentemente pode
das espécies frente à toxicidade. De fato, os
levar a ocorrência de toxicose por plantas (Cheeke,
ruminantes armazenam grandes volumes de
1998; Tokarnia et al., 2000).
alimentos ingeridos, potencialmente prolongando a
absorção de substâncias tóxicas. Além disto, a ação
O transporte é outro importante fator que pode levar
microbiana do rúmen pode reduzir a toxicidade pela
à ocorrência de intoxicações. Neste caso, os animais
biotransformação do agente tóxico, bem como pode
podem chegar da viagem com fome, e acabariam
aumentar a toxicidade pela ativação da substância
ingerindo plantas que normalmente não comeriam
(Osweiler, 1998; Flório & Sousa, 2006). Assim,
ou o fariam em baixa quantidade. Além disto, a sede
conhecimentos da farmacocinética dos princípios
também pode contribuir para a ingestão de plantas
tóxicos devem ser considerados para diagnóstico e
tóxicas, pois é capaz de afetar a sensação de paladar
tratamento das intoxicações, em particular os
dos animais (Cheeke, 1998; Tokarnia et al., 2000).
processos de absorção, de distribuição,
biotransformação e de excreção. Também tem sido
apontada a possível ocorrência de variação
FATORES QUE INFLUENCIAM A TOXIDEZ individual, na qual alguns animais apresentariam
DAS PLANTAS TÓXICAS susceptibilidade à intoxicação muito maior do que
os demais da mesma espécie; no entanto, este
A toxidez das plantas não é constante e uniforme,
fenômeno ainda carece de confirmação científica.
sendo afetada por diversos fatores (Cheeke, 1998;
Tokarnia et al., 2000). Algumas plantas apresentam Para as plantas responsáveis por fotossensibilização,
toxidez apenas em certas condições de animais que possuem pele despigmentada
administração ou em certas épocas do ano. Há apresentam maior sensibilidade à intoxicação, pois
outras cuja ação tóxica é de efeito cumulativo; neste há facilitação na penetração da radiação solar no
caso a ingestão de uma certa quantidade pode não tecido cutâneo, levando a maior ativação dos
causar danos, fazendo com que o leigo julgue-a agentes fotodinâmicos. Nas intoxicações por plantas
inofensiva, até que um dia apareça um animal morto cujo princípio tóxico interfere com a respiração
por tê-la comido em doses maiores (Pupo, 1984; celular, como por exemplo o monofluoracetato e o
Cheeke, 1998; Tokarnia et al., 2000). cianeto, a realização de exercício físico pode agravar
o quadro de intoxicação em decorrência do aumento
Há uma grande variação no conteúdo do principio
da demanda de energia pelo organismo (Tokarnia et
tóxico nas diferentes partes da planta, geralmente
al., 2000).
sendo a concentração maior nas sementes. No
entanto, a grande maioria das intoxicações ocorre
por meio da ingestão das folhas. Muitas vezes, a
RECONHECIMENTO E DIAGNÓSTICO DE
planta na fase de brotação e rápido crescimento
INTOXICAÇÕES POR PLANTAS TÓXICAS
apresenta concentração de princípios tóxicos muito
maior do quando madura, coincidindo também com Para que se possam adotar medidas profiláticas
o período de maior palatabilidade e, adequadas, é necessário que se estabeleçam
conseqüentemente, maior sensibilidade à predação. diagnósticos corretos e específicos de intoxicação
A secagem da planta pode fazer com que esta tenha por plantas. O diagnóstico vago de intoxicação por
sua toxicidade reduzida, enquanto outras plantas não planta ou fitotoxicose não é suficiente, pois não
a tem afetada. Desta forma, o processo de ajuda a resolver o problema. Assim, o diagnóstico
armazenamento da planta, como por exemplo a de intoxicação por planta tóxica só pode ser feito
secagem, pode tornar uma planta atóxica (Pupo, pelo médico veterinário se ele conhecer as plantas
1984; Cheeke, 1998; Tokarnia et al., 2000). tóxicas de sua região e os quadros clínico-
patológicos que elas causam (Tokarnia et al., 2000).
Diferentes espécies animais podem apresentar
Para um reconhecimento preciso dos problemas com
plantas tóxicas deve-se ter familiaridade com as
plantas da região, incluindo as de jardins e
ornamentais presentes no interior das residências, e
do conhecimento das variações sazonais na
concentração de substâncias tóxicas (Osweiler,
1998).
Outro fato importante para o reconhecimento e produzem quadro clínico-patológico mais ou menos
diagnóstico de intoxicação por planta tóxicas é que característico. Para este fim, o diagnóstico deve ser
elas não representam um grupo uniforme. Cada baseado no maior número possível de dados,
planta, assim como as outras causas de doenças, sobretudo nos obtidos pelo histórico nos exames
clínicos e na necropsia (Tokarnia et al., 2000).
histológicas mais ou menos características, e os
achados podem comprovar a etiologia e auxiliar no
Pode parecer difícil o conhecimento das plantas
diagnóstico diferencial. Os exames microbiológicos
tóxicas, pois em todo o Brasil já foram identificadas
e/ou sorológicos também podem ser muito úteis
cerca de uma centena de plantas tóxicas, como toda
(Tokarnia et al., 2000).
a flora, têm uma distribuição regional, com apenas
algumas exceções. Cada uma das 5 grandes regiões
Os exames químicos da planta, do conteúdo ruminal
do Brasil (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-
ou de outras amostras, de maneira geral, somente
Oeste) tem cerca de 20 plantas tóxicas. Dentro de
são aplicáveis em relação às plantas de alguns
cada região, este número ainda se divide, de maneira
grupos, sobretudo as que contêm glicosídeos
que o veterinário de campo só precisaria conhecer as
cianogênicos e as ricas em nitratos e nitritos ou
poucas plantas tóxicas que ocorrem em sua área de
oxalatos. Por outro lado, um recurso eficiente e
atuação, bem como os respectivos quadros clínico-
rápido para o diagnóstico é a administração
patológicos e os principais dados concernentes a
experimental em animais da mesma espécie
toxidez dessas plantas (condições que ocorrem a
envolvida, preferencialmente animais jovens
ingestão de planta, habitat, fatores envolvidos e o
(Tokarnia et al., 2000).
grau de toxidez). De posse desses dados e das
informações obtidas no campo, o veterinário poderá
chegar a um diagnóstico seguro (Tokarnia et al.,
INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL
2000).
Para que uma planta apontada como responsável por
Para se chegar a um diagnóstico seguro,
intoxicações acidentais venha a ser classificada
inicialmente dados importantes são obtidos em um
como espécie tóxica de interesse zootécnico sua
bom histórico. Deve ser considerado o período de
toxicidade deve ser comprovada experimentalmente.
início da doença, tipo de alimentação e outros dados
Esta reprodução experimental tem de ser realizada
do manejo, espécies criadas, faixa etária dos
na mesma espécie animal naturalmente afetada, uma
animais, vacinação e controle parasitário dos
vez que há muitas diferenças na susceptibilidade aos
animais. De forma complementar, deve-se realizar
efeitos das plantas tóxicas entre as espécies (Cheeke,
uma criteriosa vistoria nas pastagens, para se
1998; Tokarnia et al., 2000).
verificar quais as espécies de plantas presentes e a
quantidade em que estão disponíveis. Quando não
A via de administração da planta deverá ser efetuada
for possível a identificação da planta se faz
por via oral, pois está bem estabelecido que a ação
necessário auxílio de pessoal capacitado, como
das substâncias tóxicas pode variar de acordo com a
agrônomos e botânicos (Tokarnia et al., 2000). A
via de introdução no organismo. Inicialmente, os
identificação de plantas tóxicas é mais fácil se uma
experimentos devem ser feitos com a planta fresca
amostra da planta inteira for disponível incluindo a
recém colhida, pois muitas plantas perdem a
inflorescência. O histórico adequado do local de
toxicidade quando dessecadas. Nos animais
coleta é essencial. Plantas verdes podem ser
experimentalmente intoxicados pela planta suspeita,
conservadas por muitos dias se forem armazenadas
manifestações clínicas e achados patológicos devem
em sacos plásticos sob refrigeração. Se as plantas
ser compatíveis com os observados nos animais
precisam ser secas antes que a identificação seja
naturalmente afetados para que esta planta possa ser
possível, elas devem ser mantidas sob pressão entre
considerada responsável (Cheeke, 1998; Tokarnia et
duas superfícies lisas e varias folhas de papel
al., 2000).
absorvente. A pressão deve ser realizada em local
aquecido e seco por 1-3 dias para promover a
secagem (Osweiler, 1998).
IDENTIFICAÇÃO DO PRINCÍPIO ATIVO
Além do exame clínico completo, é importante a
A identificação do princípio ativo de uma planta
realização da necropsia e do exame histológico.
tóxica é muito importante, pois propicia o
Muitas intoxicações por plantas causam lesões
desenvolvimento adequado de procedimentos
terapêuticos, bem como auxilia no desenvolvimento
de técnicas profiláticas. Por exemplo, o
conhecimento da concentração do princípio ativo na
planta permite prever se esta apresenta potencial de
intoxicar diferentes espécies animais (Cheeke,
1998). Por outro lado, o isolamento de algum
composto tóxico em uma planta não é per si capaz
de embasar que uma planta seja considerada como Apesar da grande importância, não se conhece o
tóxica (Tokarnia et al., 2000). princípio tóxico da maioria das plantas tóxicas
brasileiras, pois há poucos grupos de pesquisa
envolvidos com este tipo de pesquisa. Assim, esta é Macilwain C. 1998. Lawsuit demands labels for modified foods.
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