Formação Docente: Um Olhar para A Educação Profissional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO


LINHA DE INVESTIGAÇÃO: EDUCAÇÃO E CIÊNCIA

REGINA ROGÉRIO

FORMAÇÃO DOCENTE: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL

FLORIANÓPOLIS- SC
2003
ii

REGINA ROGÉRIO

FORMAÇÃO DOCENTE: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL

Dissertação apresentada à banca examinadora


da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), como requisito parcial para obtenção
do Título de Mestre do Programa de Pós-
Graduação em Educação.

ORIENTADOR: Professor Doutor Walter Antonio Bazzo

Florianópolis, Março de 2003


iii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

“FORMAÇÃO DOCENTE: UM OLHAR PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL”

Dissertação submetida ao Colegiado do


Curso de Mestrado em Educação do Centro
de Ciências da Educação em cumprimento
parcial para a obtenção do título de Mestre
em Educação.

APROVADA PELA COMISSÃO EXAMINADORA em 27/03/2003.

Dr. Walter Antônio Bazzo (CTC/UFSC-Orientador)

Dr. Irlan Von Linsingen (CTC/UFSC-Examinador)

Dr. José André Peres Angotti (CED/UFSC-Examinador)

Dra. Vânia Beatriz Monteiro da Silva (CED/UFSC-suplente)

REGINA ROGÉRIO

FLORIANÓPOLIS/SANTA CATARINA/MARÇO/2003
iv

DEDICATÓRIA

Ao meu orientador, Walter, pela paciência,


incentivo e principalmente pela oportunidade
do aprendizado.

Aos meus pais Bento (in memorian) e Wanda


pelo exemplo de vida.

Aos meus queridos Sergio e Bruno pelo amor,


paciência e por serem motivação desta
caminhada.
v

AGRADECIMENTOS

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação pelos


ensinamentos compartilhados, em especial aos professores Demétrio, José André e
Vânia.

Aos servidores do Programa de Pós-Graduação, Luiz, Maurília e Sônia.

Aos professores, servidores e direção do CEFETSC pelo incentivo e


oportunidade de participar desta formação.

Aos novos e “maravilhosos” amigos conquistados nestes dois anos de


caminhada: Adriana, Argiró, Custório, Elio, Fabiane, Isabel, Januária, Juliana, rejane.

Às também “maravilhosas” amigas da supervisão pedagógica do CEFETSC:


Juçara, Liliane e Seomara, pelo apoio, incentivo e compreensão em todos os momentos.

À Consuleo e Maria Clara, “poderosas” amigas, pelo incentivo e principalmente


pelo exemplo na forma ousada de viver.

À minha amiga Waléria K. Haeming pelo apoio, incentivo e dedicação.

À professora Soni de Carvalho pelo exemplo de fé, dedicação e compreensão da


vida.

À amiga Regina Maria Pereira pelo apoio incansável em todos os momentos.

Aos amigos, Anderson, Alberto, Cida, Conceição, Daniela, Eliete, Gariba,


Lurdete, Marilene. Marcelo W., Marcelo M., Nilva, Rita, Rosangela, Simone, Solange
que sempre deram incentivo nesta jornada.

Aos meus irmãos, cunhadas e sobrinhos, Carlos, Jandira, Eduardo, Daniel,


Isabela, Peta, Guilherme, Ricardo, Rebekka, Suzzana e Renato, pelo amor e incentivo.
vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquema de formação cidadã dentro de um contexto CTS ............... 18

Figura 2: Fazer Pedagógico: Interação de saberes ............................................ 32

Figura 3: Organograma da Unidade de Ensino de Florianópolis ..................... 55

Figura 4: Representação geral da estrutura curricular do curso de formação


de professores para educação profissional....................................... 74

Figura 5: Representação Geral da Estrutura Curricular do Curso de Formação


Inicial de Professores para Educação Profissional............................ 75
vii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Comparação entre estruturas curriculares conforme aspectos legais 25

Quadro 2: Concepções epistemológicas ........................................................... 33

Quadro 3: Paralelo de regulamentação da formação de professores ................ 40

Quadro 4: Cursos em funcionamento na Unidade de Ensino de Florianópolis. 53

Quadro 5: Formação acadêmica dos docentes que atuam nos cursos técnicos
da Unidade de Ensino de Florianópolis ......................................... 56
viii

LISTA DE TABELAS

Tabela1: Faixa etária ......................................................................................... 58

Tabela 2: Tempo docência ................................................................................ 59

Tabela 3: Formação acadêmica ........................................................................ 61


ix

SIGLAS E ABREVIATURAS

CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade


CEFETSC – Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina
ETFSC – Escola Técnica Federal de Santa Catarina
CNE – Conselho Nacional de Educação
DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
CFE – Conselho Federal de Educação
Res. – Resolução
Par. – Parecer
x

RESUMO

Na última década, a educação tem se tornado foco de teóricos em busca de maior


consistência conceitual. Nesse contexto, surge a formação docente tematizando muitos
trabalhos de pesquisa. O que se observa, todavia, é que o foco dessas pesquisas está na
educação básica e pouco se discute sobre a problemática que envolve a formação do
professor para a educação profissional que fica, pois, relegada a um segundo plano.
Partindo disso, o presente estudo propõe-se a contribuir para a formação continuada, na
perspectiva didático pedagógica dos docentes que atuam na educação profissional.
Assim, busca-se fazer um diálogo com autores que se dispuseram a discorrer sobre o
tema “formação docente na Educação Profissional” e com professores que atuam nessa
modalidade de Ensino. Essa discussão está feita em forma de uma revisão bibliográfica
e de entrevista semi-estruturada com professores do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Santa Catarina que atuam na Educação Profissional. A questão central
volta-se para a articulação entre Educação, Ciência e Tecnologia (CTS) com vistas à
necessária formação para a cidadania. Discute-se, ainda, o fazer pedagógico na
perspectiva da interação dos saberes da área específica, da experiência e pedagógico.
Junta-se a isso a discussão sobre a necessidade de uma formação continuada para o
estabelecimento do movimento de construção da ação docente. Ao optar-se pela
concepção de “movimento” procura-se evidenciar a característica processual do mesmo.
Na busca desse movimento, surge, como ponto a ser questionado, a atuação do
professor vindo da engenharia. O professor/engenheiro, por sua formação específica,
deve buscar uma outra concepção epistemológica para a profissão da docência que vai
além dos conhecimentos acadêmicos adquiridos por ele na sua formação.
Finalmente, na procura por alternativas para a formação dos professores da Educação
Profissional, apontam-se os estudos de CTS como eixo integrador dessa formação. Para
isso, as considerações pautam-se em uma visão epistemológica construtiva, buscando
superar “a visão de túnel”, segundo Pacey (1990), no uso e estudo acerca da tecnologia.
Indica-se a necessidade de políticas institucionais voltadas à incorporação do tema à
proposta pedagógica da instituição.

Palavra-chave: CTS, educação profissional, formação docente.


xi
ABSTRACT

In the last decade education has been the focus of theoretical studies on search of more
conceptual consistency. In such a context teacher’s education emerges as theme for
many academic studies. However, the focus of such research seems to be basic
education and, litlle has been discussed about the problems which concern professional
education teaching which as a consequence has been neglected. Having this in mind the
present study aims to contribute for the continued education in the pedagogical didatical
perspective of professional education teachers. Thus, an attempt is made to establish a
dialogue between authors who approached the theme “in Professional Education
teachers’ education” and teachers who work on that modality of education. The
discussion is carried out in the form of a bibliographical review besides semi-structured
interviews with teachers from Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa
Catarina (CEFETSC). The main issue concerns the articulation between Education,
Science and Technology (CTS) considering the need to develop citizenship. Teachers’
pedagogical action in the perspective of the pedagogical, experiencial and specific area
knowledge interaction is also approached. A discussion on the need for continued
education for the establishment of the teachers’ action construction movement is also
available. Aiming at evidencing the processual characteristic of this issue, the concept
“movement” was adopted. In search for such a movement, a point to be questioned
emerged; the action of teachers with engineering education. The engineer/teacher, due
to his/hes specific formation ought to search for another epitemological conception for
the teaching profession which goes beyond his/her academic knowledge. Finally, in
search for alternatives Professional Education teacher education studies on CTS are
pointed out as an integrator axis for that practice. Considering that, a constructivist
epistemological view is used as basis attempting to overcome the “tunnel vision”
(Pacey, 1990) in the use and study of technology. The need for institutional policies
turned to the incorporation of the theme to the institution pedagogical proposal is also
suggested.

Key words: CTS, professional education, teachers education


xii

SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................................... x

ABSTRACT ..................................................................................................... xi

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 01

2 ARTICULAÇÃO ENTRE O MOVIMENTO CTS E A EDUCAÇÃO

TECNOLÓGICA ........................................................................................ 07

2.1 Movimento CTS e a Educação .................................................................... 07

2.2 Situando Educação: Tecnológica e Profissional ......................................... 14

2.3 Educação Profissional nos anos 90: o caminho legal ................................. 18

3 FORMAÇÃO DOCENTE ........................................................................... 27

3.1 Fazer Docente: Composição de saberes ...................................................... 29

3.2 Professor da Educação Profissional ............................................................ 36

4 MOVIMENTO DE CONSTRUÇÃO DA AÇÃO DOCENTE ................ 48

4.1 Caracterização da Pesquisa ........................................................................ 49

4.2 Coleta de Dados ......................................................................................... 50

4.3 O contexto da Amostra ............................................................................... 51

4.4 Análise dos Dados ...................................................................................... 57


xiii

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 70

BIBLIOGRAFIAS .......................................................................................... 78

ANEXOS ......................................................................................................... 85
1 INTRODUÇÃO
______________________________________________________________________

As alterações propostas para a Educação Profissional, através da Lei 9394/96 e


do Decreto Federal no 2208/97, trazem grandes desafios para a formação de professores
nesta modalidade de educação. Este tema sempre foi visto, no entanto, como uma tarefa
complexa, porém negligenciada no interior das instituições. Essa afirmação está
fundamentada na experiência desta pesquisadora como pedagoga do Centro Federal de
Educação Tecnológica de Santa Catarina1 na Unidade de Ensino de Florianópolis, na
qual há quinze anos vivencia a problemática da formação pedagógica para os
profissionais da área tecnológica que atuam como docentes no ensino técnico. Esses
profissionais chegam, na sua grande maioria, à instituição sem fundamentos teóricos e
sem uma experiência concreta na docência. O fazer na sala de aula é efetivado no ensaio
de acertos e erros. Esse é o contexto da grande maioria das instituições que não efetiva
um programa de formação pedagógica sistemática para dar suporte ao desenvolvimento
das atividades de ensino nos cursos técnicos.

Diante dessa realidade e com a expectativa de discutir essa formação do ponto


de vista da relação entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Educação Tecnológica é que
surge o desafio da construção deste trabalho, no intuito de colaborar com o exercício da
atividade docente.

Nesse sentido, um primeiro fato a ser considerado é o movimento no interior das


instituições no tocante à seleção e atuação docente.

Na vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação no 5692/71 e Parecer


45/72 que regulamentou os cursos técnicos até meados da década de 90, o quadro
docente era valorizado e escolhido predominantemente através do conhecimento
científico e técnico e sua atuação em sala de aula era reconhecida apenas como
conseqüência do domínio desses saberes. A pedagogia predominante nesse período, e

1
O qual passaremos a denominar de CEFETSC
2

ainda encontrada no interior das instituições de educação profissional, era a da


memorização, da repetição, da exposição e da transmissão de conteúdos. A formação
docente, quando efetivada, dava-se por meio de cursos de reciclagem, com regras e
receitas de como se comportar frente aos alunos, a utilização de recursos didáticos e, por
incrível que pareça até formas de apagar o quadro, entre outras, deixando de lado a
reflexão acerca do processo ensino-aprendizagem. Também eram oferecidos cursos de
licenciaturas emergenciais desconectados da realidade e das características do ensino
técnico.

Com a reforma da Educação Profissional, indicando a necessidade de aproximar


a oferta dessa modalidade de educação a uma nova ordem produtiva e à perspectiva de
discussão social do uso da tecnologia, observa-se a inserção de um fazer pedagógico
que contempla a inclusão de referenciais das áreas de educação, trabalho, ciência e
tecnologia. Os textos oficiais orientam para a alteração de paradigmas, propondo a
superação do conteúdo como centro do processo ensino-aprendizagem, para uma maior
valorização da aprendizagem e, assim, alterando a prática docente.

Por outro lado, mas não de forma paradoxal, todas essas alterações propostas
para dinamizar e reformar a educação profissional somente serão efetivadas se se
trabalhar concreta e diretamente com o principal mediador da relação ensino
aprendizagem: o professor.

Para KUENZER, (1999, p.171), diante desse cenário o professor deverá ser:

“muito mais que um mero animador (...) ele precisará adquirir a necessária
competência para, com base nas leituras da realidade e no conhecimento dos
saberes tácitos e experiências dos alunos, selecionar conteúdos, organizar
situações de aprendizagem, através das quais os alunos transitem do senso
comum para o conhecimento científico”.

BAZZO (1998, p.28) ao abordar o tema considera ser necessário:

“uma quebra na rigidez excessiva como o professor trabalha o conhecimento no


seu cotidiano. Ele precisa se conscientizar de que um educador deverá ser
______________________________________________________________________
Introdução
3

necessariamente um técnico, um filósofo, um político e um cidadão com


consciência social, ou não será um educador”.

Pode-se constatar, porém, que as instituições que atuam com educação


profissional contam com um quadro docente composto em sua grande maioria por
professores não qualificados para o exercício do magistério. São especialistas na
formação técnica mas, entretanto têm formação frágil para realizar análises críticas, no
que tange à discussão/reflexão sobre aspectos sociais, filosóficos, educacionais e
humanos que envolvem o avanço tecnológico e o contexto educacional. Assim, esse
profissional ingressa no magistério sem a vivência da dinâmica de uma sala de aula,
deixa essas questões na marginalidade e a sua atuação docente passa a ser regida de
forma empírica, pelo senso comum pedagógico, simplesmente reproduzindo, na maioria
das vezes, as suas experiências escolares.

Uma vez no exercício da docência, confrontados pelas questões postas em seus


cotidianos, muitos aspiram a superá-las, ao mesmo tempo que percebem a ausência de
instrumentais que lhes sirvam de referências. As instituições em que atuam, poucas
respostas lhes dão, na medida em que também elas não têm clareza de sua função e de
seu compromisso social/educacional.

Observa-se ao longo da história do ensino profissionalizante no Brasil,


conforme descrito por LOUREIRO (1996), que a preocupação com a formação dos
professores que nele atuam são relegadas a segundo plano. Quando oferecida, a
complementação pedagógica, aqui compreendida como as licenciaturas oferecidas
conforme a resolução 02/97 do Conselho Nacional de Educação, geralmente ocorre
distanciada da prática docente e sem respeitar o espaço, a linguagem, as características e
especificidades que envolvem a Educação Profissional. Por conseqüência, esse trabalho
tem pouco influenciado a prática diária do fazer pedagógico dos professores e evidencia
uma ausência de articulação entre as agências formadoras e as instituições que oferecem
esta modalidade de educação.

Nesse contexto é que surgem os questionamentos: Qual a formação necessária e


como preparar o professor para atuar na educação profissional? Como realizar uma
formação docente que contemple abordagens de educação, trabalho, ciência, tecnologia
e sociedade? Qual o perfil mínimo necessário para o professor do ensino técnico?
______________________________________________________________________
Introdução
4

LOUREIRO (1996, p. 154) ao aprofundar o tema salienta que há necessidade de


que os professores da educação profissional:

“além da dimensão técnica percebam a dimensão política do seu trabalho, vejam


a tecnologia não só aliada aos processos produtivos, e consigam visualizar que
ela internaliza as dimensões social, econômica, política e cultural.”

Nesse entendimento, a formação de professores para a Educação Profissional de


nível técnico não deve pautar-se somente numa sólida base de conhecimentos
científicos e tecnológicos, mas sim, buscar a articulação entre o conhecimento
humanístico e o científico - tecnológico, tendo como suporte as relações existentes entre
ciência, tecnologia e sociedade.

Por conta disso, outras indagações somam-se às já listadas: Como estruturar uma
formação docente respeitando as características e especificidades da Educação
Profissional? Como trabalhar na perspectiva da formação de cidadãos técnicos? Como
transpor o ensino pautado na transmissão de informações para uma aprendizagem
baseada na construção do conhecimento? Como aproximar o perfil profissional
necessário do professor àquele vivenciado no interior das instituições? Quais saberes
configuram a docência da Educação Profissional?

Face a essas preocupações e questionamentos é que se delimita o problema


desta pesquisa:

Como organizar um projeto de formação didático-pedagógica necessário


para o exercício da docência na educação profissional, considerando o contexto da
educação tecnológica e as alterações propostas pelas diretrizes curriculares
nacionais para o nível técnico ?

Pretende-se com este estudo contribuir para a formação continuada, na


perspectiva didático-pedagógica, de docentes que atuam na educação profissional de
nível técnico da Unidade de Ensino de Florianópolis do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Santa Catarina especificamente e, de forma geral, enriquecer as
discussões em todas as instituições que atuam com educação profissional. Isso
representa focar esta pesquisa em quatro objetivos centrais:

______________________________________________________________________
Introdução
5

- Apresentar uma perspectiva de Educação Tecnológica e Profissional, a partir da


interface com o enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade).

- Identificar concepções didático-pedagógicas do professor que atua na educação


profissional de nível técnico na Unidade de Ensino de Florianópolis do CEFETSC
(Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina).

- Analisar documentos oficiais sobre a reforma da educação profissional,


estabelecendo a relação das alterações propostas com a formação docente.

- Contribuir para a organização de um projeto de formação continuada, na perspectiva


didático-pedagógica, para os professores de educação profissional que atuam na
Unidade de Ensino de Florianópolis do CEFETSC, buscando a superação do
distanciamento entre formação técnica e formação pedagógica.

Assim, em torno desses objetivos, o presente trabalho está estruturado em cinco


capítulos que apresentam, a partir de reflexões teóricas sobre o movimento CTS,
Educação Tecnológica e Formação Docente, as conclusões sobre a ação docente
constatada no CEFETSC, bem como as considerações em torno das necessidades a essa
ação de acordo com a estrutura das novas diretrizes curriculares.

O primeiro capítulo – a Introdução – apresenta a origem, justificativas e


objetivos da pesquisa.

O segundo capítulo traduz-se numa reflexão sobre a Articulação entre o Enfoque


CTS e a Educação Tecnológica, com vistas a revisar a literatura concernente a tal
articulação . A primeira parte apresenta uma introdução aos estudos sobre CTS como
alternativa de superação da falta de reflexão frente aos avanços científicos e
tecnológicos e ainda conceitos que guiam o olhar acerca da Educação Tecnológica e
Profissional. Em seguida, e por fim, uma panorâmica sobre o movimento da legislação
da educação profissional na década de 90,

No terceiro capítulo, o tema central é a Formação Docente como


profissionalização e reflexão do fazer pedagógico, na perspectiva da formação
continuada. Também são apresentadas concepções acerca do processo ensino-
aprendizagem.
______________________________________________________________________
Introdução
6

O quarto capítulo apresenta, do ponto de vista da pesquisa realizada, o


Movimento de Construção da Ação Docente, no fazer cotidiano do professor da
Educação profissional. Contempla a metodologia adotada para desenvolvimento da
parte empírica do trabalho, identificando o contexto no qual a amostra foi selecionada,
qual seja: a Unidade de Ensino de Florianópolis do CEFETSC, a seleção do sujeito,
população e amostra, a coleta dos dados da pesquisa e a análise dos resultados.

A partir dos dados e das conclusões, o quinto capítulo traz considerações e


sugestões para contribuir no caminhar para a identificação de um projeto de formação
continuada para os professores que atuam na educação profissional.

______________________________________________________________________
Introdução
2 A ARTICULAÇÃO ENTRE MOVIMENTO CTS E
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
______________________________________________________________________

“Quando o ser humano pretende imitar a outrem, já não é ele mesmo.


Assim também a imitação servil de outras culturas produz uma sociedade alienada ou sociedade objeto.
Quanto mais alguém quer ser outro, tanto menos ele é ele mesmo. (...)
É preciso partir de nossas possibilidades para sermos nós mesmos.
O erro não está na imitação, mas na passividade com que se recebe a imitação ou na falta de análise e autocrítica.”

Paulo Freire

2.1 Movimento CTS e Educação

As sociedades contemporâneas em sua maioria, trazem a tecnologia imbricada


na vida dos seus cidadãos, de modo que muitas vezes não se consegue fazer a separação
entre o ser e a tecnologia e acaba-se por vincular o desenvolvimento da humanidade as
descobertas tecnológicas. Sua interferência na vida do ser humano, pois, é incontestável.
Faz-se necessário, porém saber utilizá-la, recriá-la, assumir sua produção e a condução
tecnológica de modo a refletir sobre a sua ação no modo de viver contemporâneo.

Há que se considerar também que a reflexão sobre o significado mais amplo das
mudanças provocadas pela tecnologia ainda caracteriza-se como privilégio de poucos
cidadãos. A grande parte da população caminha dormindo vítima do “sonambulismo
tecnológico”, ou seja, não questionando, não refletindo sobre os benefícios e malefícios
que ela provoca.

______________________________________________________________________
A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
8

Este caminhar da sociedade, pautado no desenvolvimento tecnológico não


questionado, em geral desprovido de reflexão, somente acentua a exclusão e aumenta
ainda mais a desigualdade social. Por conta disso, o que se percebe, em todas as épocas
é que na ânsia de alcançar os progressos científicos e tecnológicos deixa-se de
considerar o contextos nos quais ocorrem esse processo, omitem-se as diversas
implicações maléficas e passa-se a enxergar apenas os benefícios que prometem trazer
esses avanços.

Segundo FREIRE (1981, p.24)

“Na medida em que, em grande parte, para solucionar seus problemas, as


sociedades importam técnicas e tecnologias, sem a devida ‘redução sociológica’
destas às suas condições objetivas (não necessariamente idênticas às da
sociedade metropolitanas, onde se desenvolvem estas tecnologias importadas),
não podem proporcionar as condições para o compromisso autêntico”.

Nessa perspectiva, WINNER (1987) propõe que se reflita sobre a possibilidade,


ou não, de a sociedade estabelecer formas e limites para a mudança tecnológica e aponta
para o fortalecimento de uma “Filosofia da Tecnologia”, na qual se discuta e examine
de forma crítica a natureza e o significado das contribuições artificiais para a atividade
humana.

Já SANMARTIN (1990) com esta mesma preocupação de refletir sobre as


implicações sociais dos avanços da tecnologia na vida do ser humano, indica a
importância de se avaliar filosoficamente as inovações tecnológicas. Afirma que tal
atitude permitirá esclarecer a trama de especulações que podem encontrar-se na própria
base de uma intervenção tecnológica, cientificamente recomendada.

Esses pensamentos somente reforçam a necessidade de se parar a fim de refletir


coletivamente sobre que mundo está sendo construído, sobre a “sociedade tecnológica”
estabelecida, avaliando porque a produção tecnológica gera ou mesmo modifica
padrões, identificando as conseqüências das inovações na vida do homem.

______________________________________________________________________
A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
9

Segundo POSTMAN (1994, p. 90)

“Quando o suprimento de informação já não é controlável, ocorre um


colapso geral da tranqüilidade psíquica e do propósito social. Sem defesas o
povo não tem como encontrar sentido em suas experiências, perde sua
capacidade de memória e tem dificuldade para imaginar futuros razoáveis.
(...) É o que ocorre quando uma cultura, dominada pela informação gerada
pela tecnologia, tenta empregar a própria tecnologia como meio para obter
uma direção clara e propósito humano.”

Há que se ressaltar que não se trata de serem descartados os avanços oriundos da


inovação tecnológica, tão importantes para modernizar e auxiliar a sociedade a
sobreviver e melhorar. Busca-se, sim, a partir da análise crítica, minimizar os danos
gerados por eles e incentivar os seus benefícios em prol da humanidade como um todo.
Isso, no entanto, somente ocorrerá quando existir uma população educada, esclarecida,
crítica, apta para avaliar e manifestar os seus desejos.

Para FREIRE (1981, p. 22) assim como não podemos reduzir o homem a um
simples objeto da técnica, não podemos deixar de perceber:

“que humanismo e tecnologia não se excluem. O primeiro implica a segunda e


vice-versa. Se o meu compromisso é realmente com o homem concreto, com a
causa de sua humanização, de sua libertação, não posso por isso mesmo
prescindir da ciência, nem da tecnologia, com as quais me vou instrumentando
para melhor lutar por esta causa.”

Ao abordar o tema, PACEY (1990, p.25) diz que se deve procurar superar a
visão de túnel – uma visão de tecnologia que se inicia e termina na máquina – com foco
somente a seus aspectos técnicos, buscando visualizar e perceber todos os aspectos
sociais, políticos, éticos que permeiam a criação e aplicação da tecnologia. Para tanto,
propõe uma melhor educação sobre ciência e tecnologia, quer para o cidadão em geral,
quer para profissional que atua diretamente com essas inovações.

______________________________________________________________________
A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
10

Segundo BAZZO (1998), isso acontecerá na medida em que se promova uma


mudança cultural, na qual o desenvolvimento científico-tecnológico estará atrelado ao
desenvolvimento de toda a sociedade. Nessa perspectiva, o mesmo autor discute a
reestruturação dos cursos de formação profissional, nos quais os alunos deveriam
receber não só conhecimentos e habilidades para o exercício profissional, mas também
elementos que os levem a pensar nos resultados e conseqüências sociais e ambientais
das inovações tecnológicas. Segundo ele, o ensino de engenharia é marcado por um
pragmatismo reducionista, principalmente no posicionamento adotado pelos professores
que nele atuam. Esse olhar, nesta pesquisa, é estendido para a educação profissional de
nível técnico, em que se percebe essa posição ao se observar o privilégio dado à
memorização, ao individualismo, à repetição, à exposição e transmissão de
conhecimentos.

Uma das alternativas de mudança de atitude frente a dimensão sócio-eco-


sistêmica da tecnologia são os estudos em CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), o
qual constitui um campo de busca da

“compreensão da dimensão social da ciência e da Tecnologia, tanto desde o


ponto de vista dos seus antecedentes sociais como de suas conseqüências sociais
e ambientais, ou seja, tanto no que diz respeito aos fatores de natureza social,
política ou econômica que modulam a mudança científico-tecnológica, como
pelo que concerne às repercussões éticas, ambientais ou culturais dessa
mudança.”(PALACIOS, 2002)

WAKS (1996 apud DIAZ (2001, p.15)), ao explicitar sua concepção sobre CTS,
esclarece também a proposta educativa que se insere neste movimento:

“Numa primeira perspectiva trata de compreender melhor a ciência e a


tecnologia em seu contexto social; aborda, pois, as relações mútuas entre os
desenvolvimentos científicos e tecnológicos e os processos sociais. Como
proposta educativa geral constitui uma nova forma de organização curricular em
todos os níveis de ensino, com a principal finalidade de dar formação em
conhecimentos e especialmente, em valores que favoreçam a participação
cidadã responsável e democrática da evolução e do controle das implicações
sociais da ciência e da tecnologia.

______________________________________________________________________
A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
11

Os estudos CTS, ou estudos sociais da ciência e tecnologia, são originários dos


Estados Unidos e Europa, nos finais dos anos 60 e início dos anos 70. Segundo
PALACIOS (id, p. 25) desde então vêm se desenvolvendo em três grandes direções:

- “No campo da pesquisa, os estudos CTS têm sido colocados como uma
alternativa à reflexão acadêmica tradicional sobre ciência e a tecnologia,
promovendo uma nova visão não essencialista e socialmente contextualizada.

- No campo da política pública, os estudos CTS têm defendido a regulação


social da ciência e da tecnologia, promovendo a criação de diversos
mecanismos democráticos que facilitam a abertura de processos de tomada de
decisão em questões concernentes a políticas científicos-tecnológicas.

- No campo da educação, esta nova imagem da ciência e da tecnologia na


sociedade tem cristalizado a aparição de programas e materiais CTS no
ensino secundário e universitário em numerosos países’.

Será focado aqui a atuação dos estudos CTS no campo educacional, o qual tem
como objetivo a reflexão sobre ciência e tecnologia na perspectiva da formação do
cidadão, para que assim se possam formar elementos que credenciem o professor e o
aluno a analisarem, refletirem, questionarem e tomarem decisões acerca dos avanços
científicos e tecnológicos na sociedade em que vive.

Isso pode ser feito pela introdução nas disciplinas científicas na transversalidade
de temas CTS, pelo ensino puro de CTS, ou então pelo ensino de ciência e tecnologia
através de CTS.

Segundo WAKS (apud PALACIOS, id, p. 45) as virtudes do enfoque de ensinar


ciência e tecnologia através de CTS são as seguintes:

“1)os alunos com problemas nas disciplinas de ciências aprendem conceitos


científicos e tecnológicos úteis a partir desse tipo de curso, 2) a aprendizagem é
mais fácil devido ao fato de que o conteúdo está situado num contexto de
questões familiares e está relacionado com experiências extra-escolares dos
alunos, 3) o trabalho acadêmico está relacionado diretamente com o futuro
papel dos estudantes como cidadãos.”
______________________________________________________________________
A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
12

Nesse contexto é que a educação com o enfoque em CTS assume um papel de


fundamental importância na formação de cidadãos capazes de refletir criticamente e
tomar decisões acerca das produções da ciência e da tecnologia, na perspectiva de
diminuir as conseqüências negativas dos mesmos e intervir concretamente na sua
socialização e democratização. Para tanto, o foco da formação educacional deve
extrapolar os limites de narrativas das façanhas científicas e tecnológicas, no sentido de
levantar também os problemas humanísticos, culturais e sociais ligados à ciência e à
tecnologia.

“Os diversos setores educacionais devem voltar-se para a necessidade de


proporcionar aos estudantes, mais que informações e conhecimentos,
competências para enfrentar a vida. Dentro das mais importantes e gerais se
encontram as relacionadas com o manejo da informação, o trabalho em equipe,
a capacidade comunicativa, a solução de problemas e a tomada de decisão. Para
tanto se espera que a educação forme os estudantes, com uma visão científica e
tecnológica do mundo, que seja relevante e intimamente ligada a sua vida
pessoal. (ACEVEDO,2001,p.10)

Um ensino que articula as discussões entre Ciência, Tecnologia e Sociedade,


segundo DIAZ(2001, pg.15), contribui mais para:

- Facilitar a compreensão dos conhecimentos científicos e tecnológicos assim


como suas relações e diferenças, de forma a atrair mais a atenção do aluno para
as atividades profissionais;

- Destacar os valores próprios da ciência e da tecnologia para melhor entender o


que estas podem contribuir para a sociedade, prestando atenção às questões
éticas;

- Desenvolver capacidades nos estudantes de compreender melhor os impactos


sociais da ciência e da tecnologia permitindo assim uma efetiva participação
enquanto cidadãos na sociedade.

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
13

Assim, o movimento CTS implica dois importantes resultados: desmitificar a


ciência, politizando a tecnologia e, conseqüentemente, promover a participação pública
no desenvolvimento científico e tecnológico.

Percebe-se que o campo imediato de aplicação dessas alterações é a educação,


quando consegue promover a participação crítica e criativa do aluno na organização e
desenvolvimento do processo ensino aprendizagem.

Nesse sentido há que se destacar, segundo DIAZ (2003, p.14), as estratégias de


ensino aprendizagem que são utilizadas nos estudos CTS:

“1.Resolução de problemas abertos incluindo a tomada democrática de


decisões;
2.Elaboração de projetos em pequenos grupos cooperativos;
3.Realização de trabalhos práticos de campo;
4.Jogos de simulação e dramatização;
5.Participação em fóruns e debates;
6.Presença de especialistas em sala de aula que podem estar vinculados à
comunidade escolar ;
7.Visitas a fábricas e empresas, exposições e museus científicos e técnicos,
parques tecnológicas...
8.Breves períodos de formação em empresas e centros de trabalho;
9.Implicação e atuação ativa de toda a comunidade.”

Para o estabelecimento desse paradigma educacional, focado na formação de


cidadãos conscientes frente as produções da ciência e da tecnologia, capazes de
compreender criticamente a ciência, a tecnologia e o mundo que os cerca, a formação
dos professores deve ser tratada como elemento propulsor dessa ação.

Segundo SAMPAIO (1999), existe a necessidade de transformação do papel do


professor e do seu modo de atuar no processo educativo. Cada vez mais professores e
alunos devem trabalhar de forma crítica com a tecnologia presente no nosso dia a dia,
para que assim possam conhecer, interpretar, utilizar, refletir e dominar a tecnologia
para não serem dominados por ela.

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
14

Os estudos CTS, trabalhados enquanto elemento integrador e formação profissional,


podem modificar a prática docente, a partir da incorporação de estratégias de ensino
aprendizagem diferenciadas que quebram a rigidez de uma educação linear,
empirista, vivenciada ao longo dos tempos na educação profissional.

2.2 Situando a Educação: Tecnológica e Profissional

A organização da vida social contemporânea, fruto de uma sociedade cada vez


mais atrelada produções da ciência e da tecnologia, tende a se tornar mais complexa e
requer uma maior participação dos indivíduos que a compõe. Indivíduo aqui entendido
como ser histórico, concreto e real, capaz, segundo FREIRE (1981), de relacionar-se, de
sair de si, de projetar-se nos outros, de transcender, não somente com os outros, mas na
relação no mundo, com o mundo e pelo mundo.

Nesse contexto, o papel da educação é de estabelecer princípios para este


movimento de (re) construção e (re) significação das relações sociais numa formação
para o exercício da cidadania consciente dos indivíduos.

Para tanto deve-se compreendê-la como:

“Atividade intencionalizada, uma prática social cunhada como influência do


meio social sobre o desenvolvimento dos indivíduos na sua relação ativa com o
meio natural e social, tendo em vista, precisamente, potencializar essa atividade
humana para torná-la mais rica, mais produtiva, mais eficaz, diante das tarefas
da praxis social postas num dado sistema de relações sociais”.
(LIBANEO,1999, p.74)

Essa compreensão mais abrangente e dinâmica de educação faz-se necessária


para que se possa construir a compreensão do conceito de Educação Tecnológica.
Segundo BASTOS (1997), educação tecnológica parte da interação entre educação e
tecnologia, ultrapassando as
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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
15

“dimensões do ensino tradicionalmente cognominado de técnico. Por nascer da


educação transcende aos conceitos fragmentários e pontuais do ensino,
aprendizagem e treinamento, pela integração renovada do saber pelo fazer, do
repensar o saber e o fazer, enquanto objetos permanentes da ação e da reflexão
crítica sobre a ação”.(BASTOS,1997, p.23)

Tecnologia, no escopo deste estudo, será tratada, segundo LINSINGEN (2002,


p. 150)

“a tecnologia é vista como uma rede de relações para a qual concorrem os


diferentes aspectos da vida em sociedade. A tecnologia e a mudança
tecnológica – é, desse modo, interpretada em sua dimensão mais ampla,
envolvendo vários campos da atividade humana, incluindo o técnico, o
científico, o econômico, o político, o militar e o organizacional que se
associam em redes para a construção e operação de artefatos tecnológicos.”

Para ACEVEDO (2001) concepções de homem, cultura, saberes, trabalho, bem


como anseios e necessidades do ser humano, encontram-se de alguma maneira presentes
quando se pára para definir tecnologia. Conclui-se, pois, que o artefato é uma invenção
que corresponde tanto a uma atividade individual como social.

Nesse sentido pode-se afirmar que a tecnologia tem como função principal servir
a humanidade. Assim, educação tecnológica pode ser também explicitada segundo
GRISPUN (1999, p. 22):

“formar um indivíduo, na sua qualidade de pessoa humana, mais crítico e


consciente para fazer a história de seu tempo com possibilidade de construir
novas tecnologias, fazer uso da crítica e da reflexão sobre a utilização de forma
mais precisa e humana, e ter as condições de convivendo com o outro,
participando da sociedade em que vive, transformar essa sociedade em termos
mais justos e humanos.”

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
16

O que se percebe, dadas as palavras dessa autora, é que educação tecnológica


situa-se na perspectiva de ultrapassar a dimensão dos conhecimentos das técnicas para
comprometer-se com uma reflexão crítica sobre as produções de ciência e tecnologia e
suas implicações, ou seja, nortear-se por uma formação do indivíduo para viver na Era
Tecnológica na convivência com os diferentes aspectos da atividade científica e
tecnológica, do comportamento sócio técnico ao consumo tecnológico, na resignificação
das relações entre CTS e a natureza. Sendo assim, essa visão de educação pode estar
presente em todos os níveis e modalidades de ensino, respeitadas as características e
espaços curriculares.

Segundo ACEVEDO (Apud LOUREIRO, 1996, p.5) a diferença estará na


abordagem a ser dada para a tecnologia. Afirma o autor que:

“Ensinar para a tecnologia”, visando formar trabalhadores para a indústria, pois


se centra nas questões técnicas e tende a enfatizar uma visão determinista de
desenvolvimento. O ensino ‘sobre tecnologia’ tem como meta ressaltar os
aspectos culturais e organizativos da tecnologia, mas não tem normalmente
preocupações de aquisição de capacidades técnicas e destrezas práticas. Por fim,
a visão de ensinar ‘na tecnologia’ propõe dar a mesma importância a todas as
dimensões da tecnologia, ou seja, técnica, cultural e a organizativa.”

Nesse contexto é que se compreende a Educação Profissional imbricada num


contexto mais amplo de Educação Tecnológica e há que se buscar cada vez mais
desenvolver uma formação técnico-profissional com enfoque do “ensinar na
tecnologia”. Isso significa comprometer-se com a formação de cidadãos – técnicos.
Segundo LOUREIRO

“formar cidadãos-técnicos (...), ou seja, propiciar aos alunos condições de atuar


na área técnica, mas também de refletir e discutir sobre a função da tecnologia
na sociedade e do seu papel enquanto técnicos dentro deste contexto, visando a
uma atuação que aponte para transformações sociais”. (LOUREIRO, 1996,
p.162).

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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Assim a educação profissional não deve restringir-se somente a aprender a fazer,


na prática, deve buscar uma dimensão mais abrangente, pautada na formação de
cidadãos.

Formação de cidadãos pautada numa concepção de cidadania compreendida,


segundo MARTINS (2000, p. 58), como:

“participação dos indivíduos de uma determinada comunidade em busca da


igualdade em todos os campos que compõe a realidade humana, mediante a luta
pela conquista e ampliação dos direitos civis, políticos e sociais, objetivando a
posse dos bens materiais, simbólicos e sociais, contrapondo-se à hegemonia
dominante na sociedade de classes, o que determina novos rumos para a vida da
comunidade e para a própria participação.”

Corrobora com essa visão COELHO quando define Educação Profissional.


Afirma que se devem dotar-lhe de:

“uma abrangência maior, implicando uma formação que prevê o


desenvolvimento integral do trabalhador, de suas amplas habilidade cognitivas –
que incluem, mas ultrapassam a assimilação de informações técnicas,
enfatizando o domínio dos fundamentos científicos subjacentes ao saber fazer –,
de suas habilidades sócio afetivas, de sua ética e de uma reflexão sobre valores
que incluam o estudo crítico do contexto sócio - político econômico em que a
ciência e a tecnologia são produzidas, disseminadas e aplicadas.
(COELHO,1997, p. 52)”.

A figura 1, sintetiza esse pensamento acerca da necessidade cada vez mais


premente de se buscar no campo epistemológico e pedagógico na educação brasileira a
articulação entre CTS e educação escolar.

Um currículo organizado e desenvolvido na perspectiva de uma atuação cidadã


requer que essas questões estejam sempre em movimento, articuladas desde a definição
de conteúdos escolares até a atuação de todos os profissionais envolvidos no processo
ensino-aprendizagem.

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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Contexto CTS

Formação
Educação cidadã Educação
tecnológica profissional

Figura 1: Educação em CTS

A articulação proposta neste capítulo entre o enfoque CTS e a educação


tecnológica se coloca como desafio para a formação profissional pois requer alterar a
cultura epistemológica dos que atuam neste campo do saber. Essa nova cultura do
conhecimento tecnológico e, por conseqüência, da sua aplicação implica uma nova
formação, composição de programas acadêmicos, novas práticas pedagógicas, mas
principalmente e prioritariamente a compreensão de que a relação entre o
desenvolvimento social e o desenvolvimento científico e tecnológico deve estar
contemplada nos currículos de todas as modalidades de educação, em especial e de uma
maneira mais institucionalizada nos cursos de formação profissional.

2.3 Educação Profissional nos anos 90: o caminhar legal

A promulgação da Lei 5692/72 instituiu no sistema educacional brasileiro a


profissionalização compulsória no ensino de médio, com objetivo geral de oferecer
habilitação profissional a todos os alunos.

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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O currículo era composto por disciplinas divididas em formação geral e


formação especial (profissionalizante) sendo esta última superior em termos de carga
horária. Essa compulsoriedade da profissionalização não foi aceita passivamente, as
críticas surgiram de vários segmentos da sociedade: alunos, administradores
educacionais e pais.

Esse quadro de protesto, segundo CUNHA (2000, p, 201), surge principalmente


pela:

“necessidade decorrente da falta de recursos financeiros necessários à


implantação do ensino profissionalizante, da escassez de docentes qualificados,
das dificuldades criadas pela redução da carga horária da parte de educação
geral, das dificuldades de cooperação das empresas, da carência de informações
sobre o mercado de trabalho.”

Todo esse movimento fez surgir, em 1982, a lei 7044 que veio facultar às
escolas a adoção da profissionalização compulsória no então segundo grau. Para tanto,
substituiu no corpo da lei a expressão “qualificação profissional” por “preparação para o
trabalho”.

A nova redação do objetivo do ensino de segundo grau, a qual indicava que


preparação para o trabalho poderia ensejar habilitação profissional a critério de cada
estabelecimento escolar, foi responsável pelo retorno, ao sistema educativo, da
dualidade no ensino: de um lado a formação não direcionada especificamente para o
trabalho e de outro a preparação formal de mão de obra, ou seja, a profissionalização.

Essas alterações curriculares não atingiriam as Escola técnicas Federais pois


como instituições de caráter profissionalizante, reconhecidas ao longo de sua trajetória
histórica, mantiveram a sua organização curricular com base no então Parecer 45/72 e
Resolução do Conselho Federal de Educação 02/72, ou seja, ensino técnico integrado ao
ensino de segundo grau com uma estrutura curricular assim organizada: uma parte de
educação geral denominada de núcleo comum, nacionalmente determinado pelo
Conselho Federal de Educação, Res.06/86, uma parte de profissional específica

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
20

destinada aos conteúdos profissionalizantes com um currículo mínimo também


determinado pelo CFE2 e, por fim, uma parte diversificada para atender às
peculiaridades regionais, sendo esta última a critério de cada estabelecimento de ensino.

Esta estrutura curricular organizada com base no Parecer 45/72 caracterizava-se


como rígida, estruturada através do rol de disciplinas, as quais são apresentadas em
grades curriculares.

Através dessa composição curricular as Escolas Técnicas Federais organizaram


seus cursos técnicos até meados da década de noventa.

No início da década de 90, cresceu a discussão sobre a ineficácia do ensino


técnico integrado ao segundo grau, sob a argumentação, segundo CUNHA (2000,
p.244) de que

“as escolas técnicas, especialmente as da rede federal, operam a custos muito


elevados, injustificados para os efeitos correspondentes; e seus efeitos são muito
mais propedêuticos do que profissionais, o que não se justifica numa situação de
escassez de recursos para a educação, em especial para o ensino médio.”

O autor faz menção ao relatório do Banco Mundial, sobre o ensino de segundo


grau de 1989, o qual aponta que em detrimento do ensino público das redes estaduais,
empregam-se altos gastos com poucos alunos, em geral com boa situação financeira, nas
escolas técnicas da rede federal. O mesmo relatório recomenda a “substituição do
ensino técnico pela educação geral, seguida da educação profissional, nada mais do que
um rápido treinamento”.(CUNHA 2000, p.247).

Ao sintetizar a reflexão de CLÁUDIO DE MOURA CASTRO3 acerca dos


egressos das escolas técnicas, mesmo autor, ainda afirma que:

2
Conselho Federal de Educação, órgão normativo do Ministério da Educação, descrito na Lei
4024/61, substituído pelo Conselho Nacional de Educação, na lei 9.394/96.
3
Assessor do Ministro da Educação Paulo Renato de Souza.
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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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“As escolas técnicas industriais teriam se transformado em ‘caminhos


privilegiados para o vestibular’, desde os anos 60,e nada foi feito para eliminar
esse problema. Problema, porque não faz sentido ministrar um ensino caríssimo
a quem nada mais quer do que passar no vestibular de Direito. Mesmo para os
que vão para a Engenharia, não parece ser um bom uso do dinheiro público que
ocupem uma vaga que poderia ser melhor aproveitada por alguém que vai
diretamente para uma ocupação técnica” (CASTRO apud CUNHA, 200, p.249).

Em meio a toda essa avalanche de críticas e campanhas contrárias ao sistema de


ensino ofertado e a clientela atendida nas instituições federais de educação tecnológica
(escolas técnicas, CEFET’s4 e agrotécnicas) aliadas às demandas econômicas e sociais
da sociedade globalizada, surge com total empenho governamental a reforma da
educação profissional, através da promulgação da nova lei de diretrizes. Mesmo sob
forte oposição da comunidade educacional e da sociedade, principalmente no tocante à
forma autoritária como se deu sua definição e implantação, a reforma está sendo
consolidada.

O Ministério da Educação, com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação


(Lei n 9394/96), regulamentada pelo Decreto no 2208/97, das Diretrizes Curriculares
o

Nacionais através do Parecer 16/99 e resolução 04/99, vem implementando essa


reforma. Afirma o texto legal:

“As diretrizes curriculares Nacionais para a Educação profissional de Nível


técnico, portanto, estão centradas no conceito de competências por área. Do
técnico será exigida tanto uma escolaridade básica sólida, quanto uma educação
profissional mais ampla e polivalente. A revolução tecnológica e o processo de
reorganização do trabalho demandam uma completa revisão dos currículos,
tanto para a educação básica quanto para educação profissional, uma vez que é
exigido dos trabalhadores, em doses crescentes, maior capacidade de raciocínio,
autonomia intelectual, pensamento crítico, iniciativa própria e espírito
empreendedor, bem como a capacidade de visualização e resolução de
problemas.” (Diretrizes Curriculares Nacionais, 1999, p.86)

4
Centros Federais de Educação Tecnológica
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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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A primeira constatação percebida a partir das alterações propostas pela reforma é


a clara separação entre a educação profissional e a educação básica:

“A separação entre educação profissional e ensino médio, bem como a


rearticulação curricular recomendada pela LDB, permitirão resolver as
distorções apontadas. Em primeiro lugar, eliminando uma pseudo-integração
que nem preparava para a continuidade de estudos nem para o mercado de
trabalho. Em segundo lugar, focando na educação profissional a vocação e
missão das escolas técnicas e instituição especializadas, articuladamente com
escolas de nível médio responsáveis por ministrar a formação geral, antes a
cargo da então “dupla” missão de boas escolas técnicas.” (id, ibid, p.87).

As novas recomendações indicavam a Formação Profissional como modalidade


de Educação, conforme Lei no 939496 (LDB), conforme art.39:

“a educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao


trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de
aptidões para a vida produtiva”.

Essa separação pauta-se no texto da LDB No 9394/96, no capítulo que trata


sobre a Educação profissional, art.40,

“A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino


regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições
especializadas ou no ambiente de trabalho.”

Nesse sentido, a educação profissional, segundo a legislação, não substitui a


educação básica, nem concorre com ela, mas sim lhe é complementar, ofertada de forma
concomitante ou seqüencial ao ensino médio.

“A rearticulação curricular entre o ensino médio e a educação profissional de


nível técnico orienta-se por dois eixos complementares: devolver ao ensino
médio a missão e carga horária mínima de educação geral, que inclui a
preparação básica para o trabalho, e direcionar os cursos técnicos para a
formação profissional em uma sociedade em constante mutação.” (DCN,1999,
p.87)

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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A partir da implantação da nova legislação, observa-se que enquanto o ensino


médio busca sua identidade dentro da educação básica, a educação profissional
organiza-se como modalidade capaz de tornar-se presente nos três níveis de educação:
nível básico, técnico e superior. Esses níveis estão organizados com base, segundo o
art.1º do Decreto 2208/97, nos seguintes objetivos:

I – “ promover a transição entre a escola e o mundo do trabalho,


capacitando jovens e adultos com conhecimentos e habilidades gerais e
específicas para o exercício de atividades produtivas;

II - proporcionar a formação de profissionais, aptos a exercerem


atividades específicas no trabalho, com escolaridade correspondente aos níveis
médio, superior e de pós-graduação;

III - especializar, aperfeiçoar a atualizar o trabalhador em seus


conhecimentos tecnológicos;

IV - qualificar, reprofissionalizar e atualizar jovens e adultos


trabalhadores, com qualquer nível de escolaridade, visando a sua inserção e
melhor desempenho no exercício do trabalho “.

Esse mesmo Decreto Federal (2208/97) sistematiza esses níveis de Educação


Profissional, conforme as seguintes orientações:

Básico: cursos de curta e média duração, destinados a qualificar, requalificar e


aperfeiçoar trabalhadores, independente do requisito escolaridade. O currículo desses
cursos deve se adaptar às necessidades e especificidades do mercado de trabalho.

Técnico: destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados


ou egressos do ensino médio, devendo ser realizado de forma concomitante ou
seqüencial a este. A forma concomitante possibilita que o aluno matriculado em um
curso técnico esteja cursando, em turno diferente, o ensino médio na própria instituição
(concomitância interna) ou em outro estabelecimento de ensino (concomitância
externa). Já a forma seqüencial, requer que o aluno já tenha concluído o Ensino Médio.

Tecnológico: corresponde a cursos de nível superior na área tecnológica,


destinados a egressos do ensino médio e técnico.
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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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Feitos esses esclarecimentos e ratificando o escopo da presente pesquisa, qual


seja: a atuação docente nos Cursos Técnicos, far-se-á uma maior explicitação em torno
da organização curricular nesse nível de Educação profissional.

Na atual legislação, está prevista uma organização curricular para a educação


profissional de nível técnico de forma independente e articulada ao ensino médio,
associando a formação técnica a uma sólida educação básica. Esse nível da educação
profissional deverá ser organizado com base nas competências profissionais necessárias
ao desempenho das profissões, ou seja, a constituição articulada de conhecimentos,
habilidades e atitudes necessárias para o desempenho eficiente e eficaz de atividades
requeridas pela natureza do trabalho. Os Referenciais Curriculares estabelecidos para
esse nível de ensino recomendam que o seu desenvolvimento curricular ocorra na forma
modular, por considerarem esta a situação mais adequada para a avaliação e o
desenvolvimento das competências profissionais mencionadas. Esses módulos podem
ensejar ou não terminalidade; quando sim, os mesmos devem estar organizados na
perspectiva de uma ocupação profissional, possibilitando aos alunos a inserção no
mercado de trabalho através dessas qualificações. O somatório dos módulos que
compõem o itinerário de formação estabelecido nos Planos de Curso de cada habilitação
dará direito ao aluno o diploma de técnico.

O quadro a 1 destaca as diferenças entre as duas formas de estruturar os


currículos dos cursos técnicos na última década.

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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Lei 5692/71 - Par.45/72 - Res. 02/72


Lei 9394/96 - Par.16/99 - Res.04/99
Ensino técnico integrado ao segundo Educação Profissional de nível técnico
grau(certificado de técnico junto com ofertada concomitante ou seqüencial ao
segundo grau) ensino médio (certificado de técnico após
conclusão do médio)
Grade curricular por disciplina Matriz curricular por competências
Centrado no ensino Centrado na aprendizagem
Foco nos conteúdos Foco nas competências
Fase / semestre letivo Módulos com ou sem terminalidade
Avaliação numérica (escala de zero a dez) Avaliação conceitual (alcance ou não das
competências)
Repasse de informação/conteúdos Solução de problemas e desenvolvimento
de projetos integradores
Disciplinas estanques e isoladas Bases tecnológicas elencadas em
consonância com o conjunto de
competências a serem trabalhadas
Dias letivos trabalhados Horas trabalhadas
Cursos isolados Cursos organizados em áreas profissionais
Estrutura linear (única entrada-única saída) Estrutura flexível (saídas intermediárias)
Estágio obrigatório Estágio opcional
Duração indicada por setor da economia Duração mínimo estabelecido na res.04/99
(ex. mínimo 2900 horas - setor secundário) conforme a área profissional
(ex.1200 horas para área da indústria)
Certificação quando da conclusão do curso Certificação parcial intermediária nos
após estágio supervisionado módulos e ao final do curso.

Quadro 1 – Comparação entre estruturas curriculares

______________________________________________________________________
A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
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Essas alterações na estrutura e no fazer das Instituições Federais de Educação


Tecnológica assumem hoje um papel central no interior dessas instituições. As atitudes
educador/educando alteram-se substancialmente. O armazenamento de conteúdos
programáticos, as metodologias centradas no ensino transmissivo, explicativo e
ilustrativo são consideradas inadequados à nova proposta educacional. Faz-se necessário
estabelecer um novo paradigma educacional no qual o ensino deve ser desencadeado
por desafios, problemas e projetos, os quais, segundo os Referenciais Curriculares
Nacionais para a Educação Profissional (BRASIL,2000), devem:

“desencadear ações resolutivas, incluídas as de pesquisa e estudo de conteúdos


ou de bases tecnológicas de suporte, podendo estas estar reunidas em
disciplinas, seminários, ciclos de debates temáticos e de atividades
experimentais/ laboratoriais”.

Isso requer, dentre outras coisas, um professor que esteja em constante processo
de formação, bem como resignificar a compreensão e os encaminhamentos das ações de
formação. Nesse sentido, vale ressaltar que alterações curriculares, novas formatações
dos cursos, legislações flexíveis não serão suficientes se não houver um investimento,
um olhar significativo para o fazer e a formação docente, na perspectiva de se alcançar
uma nova visão e atitude no cotidiano do professor que atua na educação profissional e,
por conseqüência, uma educação mais cidadã.

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A Articulação entre Movimento CTS e Educação Tecnológica
3 FORMAÇÃO DOCENTE

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Considerando o panorama apresentado no capítulo anterior, a preocupação com


a formação dos professores é um campo que vem assumindo centralidade nas temáticas
educacionais. Não se pode caracterizar como novidade pois, ao longo de toda a história
da educação, o tema sempre esteve presente, porém assume na última década, devido
principalmente às reformas educacionais, a centralidade que lhe é devida numa
sociedade globalizada e tecnológica.

Na educação profissional, como já citado anteriormente, o tema sempre foi


tratado como secundário. Essa modalidade de ensino sempre primou mais pela
estruturação curricular e o domínio do saber específico do que o fazer pedagógico.

O que se verifica, no entanto, é que a atual legislação centra seu olhar no


professor, colocando-o como condição essencial para que as alterações propostas
aconteçam no interior das instituições de ensino. Somado a isso, esta sociedade da
informação e globalizada aponta uma nova ordem social, requer diferentes habilidades
implicando uma formação de uma outra atitude educacional no fazer cotidiano dos
professores.

Essa nova compreensão da identidade profissional do professor, essa nova


formação docente são requisitos para o fortalecimento de uma educação voltada para o
exercício da cidadania, que pressupõe, o exercício da criticidade que promove
questionamentos necessários aos desafios do entorno social.

Vale ressaltar, é que não cabe somente ao professor o compromisso de promover


essa mudança. Esse processo está além de vontade individual. Está alicerçado em
políticas institucionais de gerenciamento. Aquelas instituições de ensino,
especificamente no escopo deste estudo, responsáveis pelo ensino profissionalizante,
devem incorporar à sua proposta pedagógica metas que contemplem essa outra
dimensão pedagógica calcada nas exigências advindas desse contexto em que se vive.
______________________________________________________________________
Movimento de Construção da Ação Docente
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A questão torna-se ainda mais relevante quando se busca a semântica da


“profissão docente”. Assim, se é verdade que a especificidade dessa profissão encontra-
se no ensinar, é verdade também que ela estabelece-se e solidifica-se durante a vida
profissional do professor, na relação com sua práxis educativa.

Conforme LIBANEO (1994,p.89), o ensino é efetivado pelo professor,


caracterizando-se como “atividade de mediação pela qual são providas as condições e
os meios para os alunos se tornarem sujeitos ativos na assimilação de conhecimentos.”
Há que se ressaltar o pensamento do autor quando completa que o ensino não existe
por si mesmo, mas na relação de reciprocidade que estabelece com a aprendizagem,
constituindo-se duas facetas de um mesmo processo.

Neste contexto o conceito aprendizagem é aqui referenciado, enquanto


organizada, efetivada no âmbito da escola, assim considerada como:

“um processo de assimilação de determinados conhecimentos e modos de ação


física e mental, organizados e orientados no processo de ensino. Os resultados
da aprendizagem se manifestam em modificações na atividade externa e interna
do sujeito, nas suas relações com o ambiente físico e social” (LIBANEO, 1994,
p.83).

O processo de ensino e aprendizagem, segundo o autor, está diretamente ligado à


vida social. Através dele é que se estabelece a mediação entre o indivíduo e a sociedade.

Essa percepção do processo de ensino e aprendizagem remete o trabalho docente


à prática social, ou seja, pauta-se em uma educação voltada à inserção do indivíduo-
cidadão apto a promover transformações sociais. Assim, conseqüentemente, o professor
precisa de instrumentos que lhe permitam sentir, pensar – para agir – sobre todas as
implicações e dimensões de sua ação pedagógica. Ao educador cabe a compreensão de
que seu aluno é sujeito ativo e ser social.

A referida afirmação reforça o pensamento de que o processo de construção do


aprender a “ser professor” é longo e requer uma constante reflexão sobre o agir.
Significa ratificar que na grande maioria das vezes esse aprendizado se estabelece nas

______________________________________________________________________
Formação Docente
29

relações do cotidiano da sala de aula que envolve, necessariamente, a relação do


professor e seu ambiente de trabalho.

A busca da interação entre a formação, seja inicial ou continuada, com os


contextos de trabalho do professor, deveria ser contemplada nos projetos pedagógicos
das instituições de ensino. Estas devem pautar-se na busca de mecanismos para
aprofundar estudos sobre a identidade, formação e constituição de saberes docentes,
concebendo novos desenhos para o desenvolver da ação pedagógica.

3.1 Fazer Pedagógico : Composição de saberes

Ao se conceber o trabalho docente, o ensinar, segundo PIMENTA (2002, p.18)


como “contribuição ao processo de humanização dos alunos, historicamente situados”,
espera-se que o professor mobilize os seus conhecimentos e habilidades a fim de que se
constituam em instrumentos para a construção de um fazer pedagógico capaz de
compreender e dinamizar o ensino na perspectiva de fomentar processos reflexivos
sobre educação e a realidade social onde se encontra inserido.

O fazer pedagógico, objeto da identidade profissional do docente, caracteriza-se


como um conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores
próprios de sua atuação e apresenta-se alicerçado sob a ótica de três dimensões de
saberes; segundo PIMENTA (2002), na tríade dos saberes da experiência, saberes das
áreas específicas e saberes pedagógicos, imbricados, integrantes e integradores desse
fazer.

A ênfase, seja na formação ou na atuação, em somente uma dessas dimensões,


apontadas pela autora, retira o caráter integrador do ato educativo que é caracterizado
por meio da mobilização e articulação dos diferentes saberes. Assim, os esforços no
campo da formação docente devem voltar-se a propiciar que efetivamente ao entrarem
em contato com os diferentes saberes que compõem a sua ação, os professores
estabeleçam uma relação de articulação, integração e mediação entre eles.

______________________________________________________________________
Formação Docente
30

Corrobora com esse pensamento TARDIF (2002, p.103), ao afirmar:

“os saberes que servem de base para o ensino, isto é, os fundamentos do saber-
ensinar, não se reduzem a um sistema cognitivo que, como um computador,
processa as informações a partir de um programa anteriormente definido e
independente tanto do contexto da ação no qual ele se insere quanto da sua
história anterior. Na realidade, os fundamentos do ensino, são, a um só tempo,
existenciais, sociais e pragmáticos.”

Há que se salientar que esses saberes que compõem a docência não são por si só
formadores, eles se estabelecem, são desconstruídos e reconstruídos na medida em que
o professor confere à sua atividade um significado, uma identidade advindos da
reflexão do sentir, pensar e agir profissional.

O presente estudo adotará como referencial na descrição dos saberes necessários


à docência aquele adotado por PIMENTA(2002), qual seja: saberes da experiência,
saberes das áreas específicas-conhecimento e os saberes pedagógicos.

O Saber da Experiência, segundo a autora, pode ser caracterizado como o


conjunto de saberes adquiridos no âmbito da prática educativa. São formados sob dois
olhares, o primeiro na condição de aluno, experiência vivenciada ao longo da sua vida
escolar, onde o professor pode identificar bons e significativos modelos ou mesmo ao
contrário exemplos a não serem seguidos. Um outro olhar volta-se para o cotidiano
docente, a experiência acumulada no exercício da docência, num processo, segundo
PIMENTA (id, ibid) “permanente de reflexão sobre sua prática, mediatizada pela de
outrem seus colegas de trabalho, os textos produzidos por outros educadores.” É um
processo de identificação e construção das suas idéias acerca dos saberes que compõem
a docência e isso envolve teoria (formação) e prática (ação pedagógica)..

Se, portanto, atividade docente não é exercida sobre um objeto, mas sim na
interação com outras pessoas, há a necessidade premente de o professor compreender-
se na experiência que vive. É a partir dela que irá adquirir condições que lhe permitirão
enfrentar situações concretas e variáveis, na sala de aula e na escola que são
características inerentes ao exercício da sua profissão. Por outro lado, há de se
concordar com a autora quando afirma que o

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Formação Docente
31

“processo de passagem dos alunos de se ver como aluno ao seu ver-se como
professor(...). Isto é, de construir a sua identidade de professor, somente os
saberes da experiência não bastam”. (PIMENTA, id ,p.20).

Em outra ponta dessa tríade de saberes que compõem o fazer pedagógico,


apontada pela autora, encontram-se os saberes oriundos das áreas específicas, os quais
significam o

”referencial teórico, científico, técnico, tecnológico e cultural utilizado pelo


professor para garantir que os alunos se apropriem também desse instrumental
no seu desenvolvimento humano”. PIMENTA(id, p.8)

Estando relacionados com diferentes campos do conhecimento a aquisição dos


mesmos, acontecem vinculados à área de formação inicial dos professores, ou seja,
esses saberes especializados que são experenciados no locus da universidade, espaço
privilegiado de sua difusão e construção.

Segundo TARDIFF (2002, p.38) esses saberes, denominados pelo autor de


disciplinares ou curriculares

“situam-se numa posição de exterioridade em relação à prática docente: eles


aparecem como produtos que já se encontram consideravelmente determinados
em sua forma e conteúdo, produtos oriundos da tradição cultural e dos grupos
produtores de saberes sociais e incorporados à docência através das disciplinas,
programas escolares, matérias e conteúdos a serem transmitidos”

Finalmente, a tríade completa-se com os saberes pedagógicos, os quais


mobilizam teorias, concepções, doutrinas pedagógicas que se configuram no campo
teórico da educação. Essa mobilização, a partir da reflexão sobre o que se faz, tendo
como fundamentos esses conhecimentos, faz-se necessária para a constituição dos
saberes pedagógicos; pois, segundo PIMENTA (id,p.26), “os saberes sobre educação e
pedagogia não geram saberes pedagógicos, estes só se constituem a partir da prática,
que os confronta e os reelabora.”

Isso posto, vale ressaltar que dada a natureza do trabalho docente, aqui
compreendida como ação sistematizada e intencional, a formação dos profissionais que

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Formação Docente
32

nela atuam deve ser específica, por meio de estudos teóricos e práticos, englobando a
tríade de saberes descritos anteriormente, que os instrumentalize não só para
compreender mas principalmente para intervir na realidade na qual estão inseridos.

Nesse sentido, espera-se que o professor no decorrer da sua prática mobilize os


seus saberes numa perspectiva de reflexão e investigação da sua ação para, assim,
constituírem e transformarem seus fazeres num processo contínuo de construção de suas
identidades.

A figura 2 ilustra esse pensamento: o fazer pedagógico insere-se à tríade de


saberes que também interrelacionadas compõem a desejável formação docente.

Fazer
Pedagógico
Saber Saber
Conhecimento Experiência

Saber
Pedagógico

Figura 02- Fazer Pedagógico: interação de saberes

Trazendo essas considerações para o foco desta pesquisa, dir-se-ia que a


discussão sobre a formação docente do professor da educação profissional passa
necessariamente pela visão do movimento CTS o que implica dizer uma dialógica entre
formação e ação numa perspectiva de ultrapassar os limiares dos saberes especializados
ou acadêmicos.

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Formação Docente
33

3.1.1 Concepções epistemológicas e o fazer pedagógico

As questões sobre o que fundamenta e como processar a construção do fazer


pedagógico na educação profissional encontram-se intimamente ligadas à relação que
se estabelece com a natureza do conhecimento científico e técnico, sua origem e
desenvolvimento. Isso caracteriza-se como uma opção epistemológica a qual se
estabelece na medida em que há o posicionamento frente à compreensão da relação
entre sujeito e o meio/objeto na origem do conhecimento humano. A identificação dessa
relação implica diretamente a concepção de ensino e as posições pedagógicas a serem
adotadas. Segundo MIZUKAMI(1986, p.03)

“o conhecimento humano, pois, dependendo dos diferentes referenciais, é


explicitado diversamente em sua gênese e desenvolvimento, o que,
consequentemente, condiciona conceitos diversos de homem, mundo, cultura,
sociedade, educação etc. Dentro de um mesmo referencial, é possível haver
abordagens diversas, tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do
objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos.”

São três as concepções epistemológicas apontadas pela autora que abordam


modos de conceber o conhecimento, conforme podemos observar no Quadro 2:

Quadro 02 –Concepções epistemológicas

EMPIRISTA APRIORISTA INTERACIONISTA

O S O S O S

Conhecimento como Conhecimento como Conhecimento como uma


descoberta. herança genética. construção contínua.

Algo pronto definido a Desenvolvido a partir da Estabelece-se na relação


ser transmitido. vontade do indivíduo. entre sujeito e objeto.

Indivíduo “tábula rasa”.

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Formação Docente
34

Essas concepções fazem-se presentes de forma implícita ou explícita como


pressupostos na prática dos professores, mesmo nos casos em que as mesmas estejam
pautadas no senso comum, em modelos e experiências incorporadas na vida escolar.
Delas derivam diferentes formas de orientar/fundamentar o fazer pedagógico.

Para SACRISTÁN, as concepções epistemológicas dos professores


desempenham papel decisivo nos significados atribuídos ao desenvolvimento do
currículo. Afirma que:

“A “epistemologia implícita”, sua idéia do que é conteúdo de aprendizagem e


conhecimento valioso, o levará a selecionar determinados elementos, a dar
mais importância a uns que a outros, a se divertir com atividades diversas, em
uns sim e em outros não, a levar tudo isso em conta na hora de avaliar.”
(SACRISTÁN, 1998, p.181)

Também segundo YOUNG (apud SACRISTÁN, id, ibid),

“existe uma especial conexão entre as crenças epistemológicas dos professores


e os estilos pedagógicos que adotam, especialmente em dois aspectos: nos
processos de avaliação e no papel do professor frente ao controle dos alunos”.

Para BECKER (1994) três são os modelos pedagógicos: pedagogia diretiva,


pedagogia não diretiva e pedagogia relacional que, sustentados pelos modelos
epistemológicos referenciados no quadro 02, constituem-se nas formas de representar a
relação ensino-aprendizagem escolar.

Na pedagogia diretiva, a relação professor aluno efetiva-se de forma linear, em


que o professor fala e o aluno escuta, o professor decide o que fazer e o aluno executa,
enfim o professor ensina e o aluno aprende. O professor apresenta uma grande
habilidade de transmitir conteúdos, o que se torna objetivo máximo da sua atividade. Na
grande maioria das vezes, a ação docente é pautada na imitação de outros professores,
no autoritarismo e na centralidade do processo no ensino. Segundo o autor é um modelo
por excelência do fixismo, da reprodução, da repetição, no qual aprendizagem é baseada
na apropriação e não na construção e apropriação de conhecimentos.

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Formação Docente
35

A epistemologia implícita nesse modelo é o emprisimo, a qual considera,


segundo BECKER (1994), o sujeito como elemento conhecedor e o objeto como o
mundo onde o mesmo encontra-se mergulhado. Nessa direção, o indivíduo ao nascer
nada tem em termos de conhecimento: é uma folha em branco; é uma tábula rasa. Sendo
assim o sujeito é totalmente determinado pelo mundo do objeto ou meio físico e social.

Por outro lado, no modelo da pedagogia não diretiva, o professor figura como
auxiliar do aluno, um facilitador da aprendizagem, interferindo o mínimo possível, já
que o aluno aprende por si só, de forma espontânea. Nessa situação, o professor não
ensina, o aluno é que aprende. A centralidade nesse contexto passa a ser a
aprendizagem, o ensinar prejudica o aluno, a intervenção no processo de aprendizagem
do aluno fica proibida. A epistemologia que sustenta esse modelo é a apriorista, a qual
acredita que o ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança
genética, as ações externas devem ser reduzidas ao mínimo. O conhecimento é apenas
despertado, já existe subjacente ao ser humano.

Já a prática docente alicerçada na pedagogia relacional dá-se na interação entre


os sujeitos. O professor passa a ser responsável em criar ambientes de aprendizagem,
pois figura como o detentor de um saber construído, formalizado, problematizando
situações para que o aluno aja cognitivamente sobre os mesmos e estabeleça a
aprendizagem, através da construção de um novo conhecimento. Nessa perspectiva o
aluno não é considerado uma tábula rasa, mas um sujeito que traz conhecimentos
anteriores que podem servir de patamar para novas construções e reconstruções. A
epistemologia que fundamenta essa concepção do agir docente é o construtivismo, na
qual o conhecimento tem seu início e desenvolvimento na construção a partir das
relações e interações que o sujeito estabelece com o meio físico e social em que vive.

Essas diferentes formas de conceber o conhecimento e sua relação com as


práticas pedagógicas ficam bastante evidenciadas na educação profissional, pois
conforme mostra LOUREIRO (1996), os professores estabelecem sua atuação pautada
nas suas concepções de conhecimento relacionadas diretamente com sua formação
inicial em engenharia, nas suas concepções de ciência e principalmente de tecnologia
(campo direto de atuação dos técnicos), de tal forma que buscar compreender o
cotidiano, o fazer docente desses profissionais pressupõe entender ou aproximar-se das
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Formação Docente
36

concepções que lhes servem de referência. Aí está, pois, a grande questão a ser
considerada na formação do professor da educação profissional. A distinção entre a base
científica de seus conhecimentos é a normatividade de sua aplicação, o que se apresenta
como grande desafio para a passagem da postura do técnico/engenheiro para a de
professor. Trata-se de romper a questão puramente voltada às leis objetivas do discurso
tecnico e voltar seu olhar às questões a serviço do bem estar social, considerando os
impactos dela decorrentes. Essa visão possibilita ao professor assumir sua área do saber
e, acima de tudo, a forma de trabalhá-la com os alunos não de maneira dogmática ou
positiva, mas fazendo de sua aula um espaço de discussão, trocas e construções.

Pensar tecnologia internalizada pela normatividade social e não apenas de base


científica faz com que seu estudo assuma a dimensão crítica e se constitua em fator de
contribuição para um saber contextualmente situado e, por isso, capaz de impulsionar a
criação da interface entre tecnologia ciência e sociedade.

Frente ao exposto, baseado em FREIRE arremata-se as argumentações


reafirmando que a reflexão de que uma educação comprometida verdadeiramente com
a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres vazios a
quem o mundo irá encher de conteúdos, assim como não pode basear-se numa
consciência especializada, mecanicista compartimentada, mas nos homens como corpos
conscientes, históricos, sujeitos, na sua relação com o mundo. Nesse sentido, ensinar e
aprender não podem ser sinônimos de um simples depósito de conteúdos, ao contrário,
deve ser campo de problematização dos homens em suas relações com o mundo.

3.2 Professor da educação profissional

A atuação docente na EP, dada à composição do quadro de professores que nela


atuam – engenheiros, arquitetos e técnicos – restringe-se, na grande maioria das vezes, à
preocupação com o saber das áreas específicas do conhecimento. Essa constatação é
passível de duas considerações:

- historicamente a Educação Profissional está associada ao desenvolvimento


tecnológico e sua aplicação;
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Formação Docente
37

- normalmente, por isso, o que se constata no momento da seleção dos


professores é a sua atualização com os conhecimentos específicos e sua relação próxima
com o setor produtivo.

Trazendo essas considerações para este estudo, verifica-se que ao professor do


ensino técnico cabe “fazer” uma educação pautada em currículos tecnicistas, voltados
para o saber fazer.

A “formação” desse profissional, assim sendo, muito se distancia do verdadeiro


sentido da profissão da docência que é da competência do professor. Aí reside a questão
central: ser professor. Segundo PETEROSSI (1994, p. 18),

“Professor é aquela pessoa que foi preparada para ter como objeto de sua
atuação educar o aluno de modo a favorecer a sua promoção social e cultural,
preparando-o para utilizar melhor suas capacidades e participar de maneira mais
ativa e responsável da vida social, do desenvolvimento econômico e tecnológico
e da cultura.”

BAZZO(2002, p.16) ao abordar o tema para o ensino da engenharia, considera


também que:

“É estranho constatar as exigências de comprovada competência e titulação para


que um indivíduo possa atuar numa determinada área de pesquisa, mas
praticamente nenhuma prescrição é feita quando o que está em pauta é a
docência. É assim que indivíduos recém-saídos de um curso de engenharia, ou
de uma pós-graduação na mesma área, transformam-se em professores, como
se, por estarem habilitados ao trato da coisa técnica, também estivessem
devidamente habilitados para a docência. O pressuposto que referenda esta
prática é o mesmo que permite imaginar o ensino como um processo de
transmissão de conhecimentos de um mestre para um aprendiz”.

No contexto da educação profissional de nível técnico, verifica-se que, mesmo


sendo determinação legal desde 1942, com a Lei orgânica para o Ensino Industrial, a
oferta de uma formação específica para o para o exercício do magistério na educação
profissional, regulamentada pela portaria 432/71,do antigo Conselho Federal de
Educação, através dos então cursos de formação de professores para disciplinas

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Formação Docente
38

especiais do currículo, os chamados Esquemas I e II, respectivamente para portadores


de diplomas de curso superior e portadores de diplomas de nível médio, a realidade
encontrada compromete a formação do docente.

Segundo LOUREIRO (1996), não atendem aos anseios desse ensino. Os cursos
de complementação pedagógica oferecidos ao longo dos últimos anos com vistas à
formação de professores para esta modalidade, priorizaram as questões de execução do
processo educativo, com fórmulas gerais homogêneas, sem contudo remetê-las às
preocupações peculiares da educação profissional. Esse fato distancia a teoria
trabalhada no decorrer dos encontros com a prática dos professores envolvidos.

Essa orientação legal para o exercício do magistério na educação profissional


perpassa por todas as reformas educacionais ao longo da história desta modalidade de
ensino, estando atualmente fortemente evidenciada nos decretos e pareceres que
regulamentam as alterações advinda da LDB n o 9394/96.

O Decreto 2208/97, que regulamenta o capítulo da educação profissional,


apresenta a preocupação em garantir que os profissionais contratados para ministrar as
disciplinas do currículo recebam preparação pedagógica, conforme redação do artigo 9o:

“As disciplinas do currículo do ensino técnico serão ministradas por


professores, instrutores e monitores selecionados, principalmente, em função de
sua experiência profissional, que deverão ser preparados para o magistério,
previamente ou em serviço, através de cursos regulares de licenciatura ou de
programas especiais de formação pedagógica”

o
O parecer do Conselho Nacional de Educação n 16/99, fixa diretrizes
nacionais para a educação profissional de nível técnico e em seu texto reforça essa
compreensão quando afirma que:

“não se pode falar em desenvolvimento de competências em busca da


polivalência e da identidade profissional se o mediador mais importante desse
processo, o docente, não estiver adequadamente preparado para essa ação
educativa.(...) A formação inicial deve ser seguida por ações continuadas de
desenvolvimento desses profissionais.”

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Formação Docente
39

A organização desses cursos encontra-se contemplada na Resolução do


Conselho Federal de Educação número 02/97, a qual trata dos programas especiais de
formação pedagógica de docentes para as disciplinas do ensino fundamental, do ensino
médio e da educação profissional.

Esses programas destinam-se a portadores de diploma de nível superior, em


cursos relacionados à habilitação pretendida. Estão organizados dentro de uma carga
horária mínima de 540 horas, das quais 300 correspondem a prática de ensino,
distribuídas em três núcleos articuladores:

a) Núcleo Contextual, visando à compreensão do processo ensino


aprendizagem referido à prática da escola, considerando tanto as
relações que se passam no seu interior, com seus participantes, quanto as
suas relações, como instituição, com o contexto imediato e o contexto
geral onde está inserida.

b) Núcleo Estrutural, abordando conteúdos curriculares, sua organização


seqüencial, avaliação e integração com outras disciplinas, os métodos
adequados ao desenvolvimento do conhecimento em pauta, bem como a
sua adequação ao processo ensino aprendizagem.

c) Núcleo Integrador, centrado nos problemas concretos enfrentados pelos


alunos na prática de ensino, com vistas ao planejamento e organização
do trabalho escolar, discutidos a partir de diferentes perspectivas
teóricas, por meio de projetos multidisciplinares, com a participação
articulada dos professores de várias disciplinas.

Situando essa formação especial num contexto mais amplo das legislações de
formação de professores podemos compreender que ela surge para suprir necessidades,
não como uma política de formação de professores para a educação profissional, o que
não estabelece uma identidade com esta modalidade de ensino.

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Formação Docente
40

No quadro 3 apresenta-se um paralelo entre as legislações que regulamentam a


formação de professores.

ASPECTOS/ RESOLUÇÃO 02/97 DEC.3276/99 E LDB


LEGISLAÇÃO DIRETRIZES
(PAREC.09/2001)

TÍTULO programa especial formação de professores/ Prática de ensino


Educação Básica mínimo 300h

TIPO continuada/ inicial/ regular


complementação
Associação teoria e
DURAÇÃO 540h 2800h prática

PRATICA DE 300h/ com participa- 400h


ENSINO ção em todo o
entorno da sala de Aproveitamento de
aula experiências anteriores

ESTRUTURA Núcleos de estudo: Competência / através de


CURRICULAR Estrutural/contextual eixos artIculadores
/ integrador Até o fim da década da
educação ( +/- 2007) só
TITULAÇÃO licenciatura plena licenciatura plena será admitido professor
habilitado
PRÉ- curso superior ensino médio completo
REQUISITO completo

HABILITAÇÃO escolha conforme indicada no projeto do


formação inicial/ curso
observar carga
horária realizada

QUEM PODE Instituições de nível Instituições de nível


OFERECER superior com parce- superior com parcerias
rias para estágio para estágio

ASSOCIAR AÇÃO / REFLEXÃO /


TEORIA/PRÁTICA AÇÃO

Quadro 3: Paralelo da Regulamentação da Formação de professores

Mesmo com toda a indicação legal, o que se observa é que a percepção da


importância da construção de uma identidade do fazer pedagógico para o exercício da
docência na Educação profissional pode ser considerado algo novo. Esse movimento

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Formação Docente
41

está relacionado muito mais com as alterações nos perfis profissionais exigidos pelo
mercado e nas reformas educacionais do que na consciência do professor. Por
conseguinte, nele ainda predomina, a concepção de que existe um conteúdo específico a
ser transmitido aos alunos, numa relação empirista do ato pedagógico.

Sendo o professor o protagonista das necessárias mudanças, conforme já descrito


neste estudo, o desafio a ele colocado é o de buscar o equilíbrio dinâmico dos diferentes
saberes que compõem a ação docente. Assim poderá ultrapassar a simples transmissão
de conteúdos técnicos para voltar-se ao desenvolvimento de uma educação profissional
integral.

Outro aspecto a considerar, também, é que as universidades, responsáveis pela


formação de professores, pouco interesse demonstram em discutir, refletir sobre a
preparação, a formação desses docentes. Essa tarefa fica ao encargo das instituições que
oferecem essa modalidade de ensino, as quais na maioria das vezes não se dão conta da
importância da passagem do engenheiro/engenheiro para o professor/engenheiro, na
formação dos futuros profissionais.

Essa não relevância dada ao tema no interior das instituições formadoras reflete
a não compreensão da relação direta existente entre a organização e o desenvolvimento
do processo educativo, nas palavras de TARDIF (2002, p.9) trata-se de não questionar
“quais são os saberes que servem de base ao ofício do professor.” As universidades,
assim sendo, no campo das engenharias não se compreendem como formadoras de
formadores e conseguem dar cabo apenas “dos conhecimentos científicos, de saberes
eruditos e codificados” (TARDIF, id, ibid).

Essa visão influencia sobremaneira o profissional que sai da universidade


talhado, pois, para o mercado de trabalho e vai desafiar as especificidades da profissão
docente. A conseqüência disso é um fazer pedagógico voltado para o fazer e para o
operar.

No entanto, na visão de PETEROSSI (1994,p.94),

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Formação Docente
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“educação para o fazer ou para o operar não mais se justifica. A busca de novos
conhecimentos, o incentivo à pesquisa, a interdisciplinaridade dando origem a
novos profissionais que venham responder a problemas da sociedade com mais
eficiência, o embasamento metodológico do saber, o aperfeiçoamento de
atividades mentais propícias à criação, a conscientização do papel social do
desenvolvimento científico-tecnológico devem ser as novas premissas e uma
política educacional e formação de professores que respondam ao desafio de
viverem em uma sociedade industrial.”

Dessa forma, é preciso considerar que o profissional para atuar como docente
na educação profissional deve entender-se como educador e técnico. O binômio
pressupõe, conforme essa autora, um fazer pedagógico voltado à prática social e um
comprometimento com uma educação técnica, e não simplesmente como transmissão de
conteúdos visando a uma profissionalização.

Faz-se necessário, segundo a referida autora:

“que o profissional seja preparado para superar a sua formação de técnico


competente, e colocar-se na situação de um cidadão de uma sociedade
capitalista subdesenvolvida, com problemas especiais e, nesse quadro,
reconhecer que tem um amplo conjunto de potencialidades, que só poderão ser
dinamizadas se ele agir politicamente, se conjugar uma prática pedagógica
eficiente à ação política da mesma qualidade.(...) Para transmitir basta saber,
para ensinar exige-se uma nova prática que vá além do posto de trabalho e se
insere na realidade social” (PETEROSSI,1994, p.126)

Isso requer uma nova ordem em um dos pressupostos básicos que orientam a
formação do engenheiro/engenheiro, a de que existe neutralidade por detrás de um
conhecimento científico e tecnológico. A manutenção/perpetuação dessa concepção
epistemológica faz com que o professor/engenheiro identifique-se como mero
transmissor de conteúdos sem compromisso, com um saber desvinculado das questões
econômicas, políticas e sociais.

Romper com esses pressupostos, quebrar a compartimentalização e a


racionalidade técnica do ensino de engenharia, configura-se como um primeiro passo
para a formação de profissionais mais flexíveis, compromissados socialmente. Isso
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Formação Docente
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significa uma releitura da educação profissional. Pressupõe um outro olhar para a ação
docente nessa modalidade de ensino. Um caminho que este estudo aponta é aquele
construído através da inserção dos estudos da interação entre ciência, tecnologia e
sociedade. Segundo BAZZO (2002, p.18):

“a análise crítica das relações existentes entre ciência, tecnologia e sociedade e


a maneira como estudantes e professores dos cursos de engenharia encaram a
relação entre progresso social e desenvolvimento tecnológico poderão auxiliar
na modificação das relações pedagógicas desenvolvidas nas atividades didáticas
em sala de aula e na reformulação dos nossos tão fragmentados currículos
escolares. (...) O domínio desses conhecimentos implicará um novo proceder
didático-pedagógico, mais em sintonia com a desejável formação do
engenheiro-cidadão. Isso trará como pressuposto educacional para consecução
desta meta uma educação escolar que propicie o ato de pensar com mais
relevância do que o ato de reproduzir”.

Essa alteração na formação do engenheiro sob o enfoque CTS, no escopo deste


estudo, viria a facilitar a passagem do engenheiro/engenheiro para o
professor/engenheiro, fato que não se processa de forma automática. Passa
necessariamente pela mobilização e interação entre o saber, o saber fazer e o saber
ensinar na perspectiva de uma educação profissional comprometida socialmente.

Falar do comprometimento social da educação profissional, para longe do senso


comum, significa reforçar o que preceitua a Constituição Federal, no seu artigo 205 ao
determinar que “visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Recortando esse preceito legal para os efeitos desse estudo, acredita-se que é
necessário pensar-se em uma formação docente específica e sistemática, de modo a
permitir a compreensão, ou melhor ainda, a apropriação, por parte do profissional
técnico que atua no magistério, das especificidades que compõem a atividade docente.

Para essa formação específica e sistemática, percebe-se nas instituições que


desenvolvem a Educação Profissional o locus ideal. Essa afirmação encontra respaldo
na prerrogativa de que o professor estará, assim, vivenciando os desafios impostos a sua

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Formação Docente
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atuação. Fundir, dessa forma, o espaço de ação e o espaço de reflexão é a forma de


significar a atividade docente, voltando-a para a visão de totalidade que o ato educativo
traduz.

3.3 Formação Continuada: Construção de Identidade

(...)”na formação docente o momento


fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem
que se pode melhorar a próxima prática”.

Paulo Freire

A busca de uma identidade para a ação docente, através do reconhecimento de


um conjunto específico de comportamentos, conhecimentos, atitudes e valores,
presentes no contexto pedagógico, evidenciados no cotidiano da sala de aula, requer do
professor, segundo LIBÂNEO (1998) uma sólida cultura geral e técnica, capacidade de
aprender a aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades
comunicativas, domínio da linguagem informacional e dos meios de informação,
habilidade de articular as aulas com as mídias e multimídias.

Nesse sentido, percebe-se que não somente uma formação básica inicial, aqui no
sentido do conhecimento de iniciação à profissão, dará conta dessa proposta: ela deve
estar aliada a uma formação continuada, não na perspectiva de programas de
“reciclagem” ou na acumulação de cursos, palestras, seminários; mas, segundo
CANDAU (1996), num programa que abranja contextos mais amplos, articulando as
diferentes dimensões da profissão docente nos aspectos psicopedagógicos, técnicos,
científicos, políticos sociais, ideológicos, éticos e culturais, alicerçado numa reflexão na
e sobre a prática.

Na busca da superação do modelo clássico de formação continuada, CANDAU


(1996) apresenta três eixos que, segundo a autora, estão se tornando consenso entre os
educadores no tocante à estruturação de programas de formação. O primeiro já citado no

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Formação Docente
45

capítulo anterior, é o que considera a escola o espaço, o locus da formação continuada


favorecendo processo de reflexão e intervenção na prática pedagógica concreta; o
segundo diz respeito à valorização do saber docente, ter como referência e reconhecer
os diferentes saberes: disciplinares, curriculares, profissionais e principalmente da
experiência que permeiam a prática profissional do professor em formação; o terceiro
pressupõe o respeito ao ciclo de vida dos professores no sentido de entender que as
buscas dos professores não são as mesmas nos diferentes momentos do seu exercício
profissional, o que permitirá a organização de programas que permitam ao professor
trabalhar os diferentes momentos do seu desenvolvimento profissional de acordo com as
suas necessidades específicas.

Nesse sentido, acredita-se que as chances de insucesso são maiores nas


tentativas, ainda que legais, de formação de professores desvinculada desses eixos. Elas
estarão mais próximas de um ativismo em que recursos essenciais e necessários
continuarão a ser desperdiçados.

Essa tríade compreende e compõe uma outra leitura do real em que os


professores operam, ainda mais: desencadeia pontos de apoio e de referência à
construção do ato pedagógico e permite também que eles sejam interrogados à luz dos
saberes pessoais gerados pela experiência e pela reflexão sobre ela.

Assim, é forçoso notar que a formação continuada de professores da Educação


Profissional assenta-se na comunhão do saberes necessários à docência permeados pela
práxis educativa.

A compreensão dessa perspectiva de formação continuada tendo como ponto de


partida o cotidiano escolar é aqui visualizado como um processo de permanente
desenvolvimento. Há que se destacar, nessa concepção, que isso não significa
permanecer na superficialidade mas sim avançar através das reflexões sobre os saberes
da experiência para uma verdadeira práxis no fazer pedagógico desses professores.

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Para MIRANDA (2001, p.35) ,

“a proposição de uma abordagem sobre o professor reflexivo, portanto, traduz


não apenas a intenção de distinguir a prática da técnica, mas também a de
reinventar, para a prática, a condição de práxis, isto é, de instância de
articulação entre a ação do professor e os saberes produzidos a partir da reflexão
sobre esta ação”.

Desse modo há que se destacar os Centros Federais de Educação Tecnológica,


como locus da formação docente para a educação profissional, no sentido de
coletivamente através das reflexões sobre sua ação, o professor construir uma
concepção do fazer pedagógico identificado com as características e peculiaridades do
ensino nesta modalidade.

Segundo CANDAU(1996, p.144),

“não se alcança este objetivo de uma maneira espontânea, não é o simples fato
de estar na escola e de desenvolver uma prática escolar concreta que garante a
presença das condições mobilizadoras de um processo formativo. Uma prática
mecânica, repetitiva, não favorece esse processo. Para que ele se dê é
importante que essa prática seja uma prática reflexiva, uma prática capaz de
identificar os problemas, de resolvê-los, e que seja uma prática coletiva, uma
prática construída conjuntamente por grupos de professores ou por todo o corpo
docente de uma determinada instituição escolar.”

Esse entendimento remete à perspectiva de um programa articulado com o


projeto pedagógico da instituição, contribuindo para a melhoria da qualidade do ensino
por ela desenvolvido, deixando de ser uma “complementação da formação inicial,
passando a contribuir para melhorar a escola, reinventando-a, redefinindo, em
simultâneo, os contornos de uma profissionalidade docente” (PORTO, 2000).

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O princípio básico a ser adotado, conforme MONTEIRO (2000),

”é o da indagação, reflexão, (...) através do qual o professor passa a perceber a


si mesmo e o seu modo de relacionar com o conhecimento, com a cultura, com
os alunos, com seus pares e superiores, visando tornar seu ensino cada vez mais
democrático e receptivo a diferenças, cada vez mais coletivo, cada vez mais
autônomo e questionador”.

Aquele em que cada vez mais os docentes devem assumir a responsabilidade do


seu desenvolvimento profissional, na perspectiva do encontro de um professor reflexivo,
orientado, segundo SCHÖN (apud, NÓVOA, 1992, p.91) pela reflexão na e sobre a
prática.

Essa preocupação com uma explicação da compreensão do conceito de formação


continuada é traduzida por PLACCO (2000, p.26) quando afirma que a mesma se
caracteriza

“como um processo complexo e multideterminado, que ganha materialidade em


múltiplos espaços/atividades, não se restringindo a cursos e/ou treinamentos, e
que favorece a apropriação de conhecimentos, estimula a busca de outros
saberes e introduz uma fecunda inquietação contínua como já conhecido,
motivando viver a docência em toda a sua imponderabilidade, surpresa, criação
e dialética com o novo.”

Essa perspectiva de formação para além das dificuldades pontuais, estabelece-se


como um forte envolvimento e comprometimento com o desenvolvimento do processo
educativo em sala de aula e no seu entorno. O que torna o cotidiano do professor rico
em possibilidades individuais e coletivas de reflexão, intervenção, renovação e
sistematização das suas práticas pedagógicas.

Diante dessas reflexões, torna-se imperativo a construção de projetos de


formação docente adequados e coerentes, que partam da premissa de que professor em
exercício é sujeito e agente nesse processo. O que implica buscar no professor e
principalmente com o professor alternativas de renovação do seu fazer pedagógico.

______________________________________________________________________
Formação Docente
4 MOVIMENTO DE CONSTRUÇÃO DA AÇÃO
DOCENTE
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A compreensão do movimento de construção da ação docente, do como o


professor elabora e se relaciona com o cotidiano do fazer pedagógico, torna-se condição
para o estabelecimento de um projeto de formação continuada.

Segundo, CUNHA (1994), não há neutralidade pedagógica no fazer docente


sendo assim o ensino caracteriza-se como um ato socialmente localizado. Afirma que:

“há uma heterogeneidade na vida cotidiana do professor manifesta pelas


incongruências, saberes e práticas contraditórias e ações aparentemente
inconseqüentes. É preciso recuperar esse aspecto heterogêneo ao invés de
eliminá-lo, na tentativa de enquadrá-lo em tipologias previamente definidas. Ao
contrário, a riqueza, muitas vezes, está no heterogêneo e é preciso reconhecê-lo
como produto de uma construção histórica.” (CUNHA, 1994, p. 39)

Ao dialogar com o professor, refletindo sobre a sua trajetória, identificando a


partir das suas narrativas as influências, experiências e concepções que formam e
interferem na sua prática pedagógica, pode efetivamente contribuir com a formação de
educadores, num comprometimento com uma educação cidadã.

As questões da docência, bem como o contexto onde se desenvolve o cotidiano


do professor da educação profissional estão diretamente atreladas à atuação profissional,
como pedagoga, da pesquisadora.

Este olhar quase sempre se pautou num movimento linear de refletir sobre
questões pedagógicas, programar antecipadamente discussões pontuais, orientar leitura
de textos, muitas vezes caracterizado como “pedagogês” pelos professores.

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Movimento de Construção da Ação Docente
49

O que se busca com este trabalho aqui desenvolvido e mais precisamente com as
entrevistas, pode ser caracterizado como um movimento de construção da reflexão
acerca do fazer pedagógico com os professores e assim contribuir para a formação a
partir das suas inquietações do dia-a-dia.

Não há a intenção de encontrar fórmulas universais que orientem os processos


de formação, há sim a possibilidade de, através das falas e análises aqui apresentadas,
encontrar elementos que poderão nortear esse caminhar.

4.1 Caracterização da pesquisa

A metodologia de investigação empírica desse trabalho foi desenvolvido com


base em pesquisa qualitativa, tendo como instrumentos de coleta de dados a pesquisa
documental, bibliográfica e de campo, sendo esta última desenvolvida através das
técnicas de entrevista semi-estruturada.

Por meio da pesquisa bibliográfica, foi realizado o levantamento do que já se


produziu e registrou em dissertações, teses, livros, periódicos, sites sobre formação de
professores, tendo como foco central a educação profissional.

A utilização da pesquisa documental foi pautada no levantamento, da década de


90, de textos legais do Ministério da Educação.

A pesquisa de campo foi desenvolvida por meio da entrevista semi-estruturada,


a qual segundo TRIVIÑOS (1987, p.146)

“parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que


interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante”.

Esse procedimento, pois, vem ao encontro da natureza do presente trabalho, no


qual busca-se identificar concepções pedagógicas que permeiam a atuação do docente
do ensino técnico.
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Movimento de Construção da Ação Docente
50

Compreender o movimento da construção da docência na educação profissional,


entender os significados que se atribuem a este fazer, e assim contribuir para a formação
continuada desses profissionais, foram diretrizes norteadoras ao longo desta pesquisa.
Assim, refletir acerca das falas dos professores pesquisados constitui-se uma
instrumento rico no auxílio à identificação de um outro olhar sobre o perfil profissional
dos mesmos.

As entrevistas foram desenvolvidas com uma amostra aleatória do universo de


155 professores que, com formação tecnológica, atuam nos cursos de nível técnico da
Unidade de Ensino de Florianópolis do CEFETSC.

A composição da amostra ocorreu de forma aleatória, através de sorteio,


perfazendo um total de aproximadamente 10% do número de professores indicados para
sujeitos da pesquisa, ou seja, 15 professores.

4.2 Coleta de Dados

A Coleta de dados foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas,


gravadas em fita de áudio, com quinze dos professores (10% do universo pesquisado).
Foram realizadas individualmente, com duração de 40 a 60 minutos e transcorreram
sem maiores problemas.

Durante as entrevistas, constatou-se que os professores mostraram-se abertos e


desejosos por relatar e refletir sobre as questões do seu fazer docente, permanecendo no
período destinado às questões propostas e indo além no bate-papo e reflexões.

As perguntas que nortearam as entrevistas foram organizadas com intuito de


investigar principalmente os seguintes aspectos:

a) Construção da identidade profissional: esse aspecto buscou verificar quais


caminhos e os motivos que levaram o entrevistado a exercer a docência.
Investigou-se também a formação acadêmica e o sentimento sobre a
necessidade da formação pedagógica;

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Movimento de Construção da Ação Docente
51

b) Concepções referentes à educação e ao processo ensino aprendizagem: a


investigação nesse aspecto disse respeito às percepções acerca da educação
de uma forma ampla e sobre as especificidades da educação tecnológica e
profissional, entendimento do papel do docente e do aluno no processo
educativo e sua visão de como ocorre a aprendizagem; bem como sobre a
organização e desenvolvimento da prática docente.

4.3 O contexto da amostra: CEFETSC - Unidade de Ensino de Florianópolis

O Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina configura-se


como autarquia federal, com 5.005 alunos distribuídos em vinte cursos e um total de
380 professores.

Desenvolve suas atividades na educação básica de nível médio e na educação


profissional nos níveis básico (através de extensão) e técnico, sendo este último com
turmas no sistema integrado (em extinção por estar organizado conforme parecer 45/72)
e seqüencial ao ensino médio/pós-médio (nova modalidade, conforme parecer 16/99). A
transformação da então Escola Técnica Federal em Centro Federal de Educação
Tecnológica, em março de 2002, credencia a instituição para a oferta de cursos de nível
tecnológico, ou seja, cursos superiores de tecnologia.

Ao CEFETSC estão vinculadas as Unidades de Ensino de Florianópolis, São


José e Jaraguá do Sul.

Este trabalho tem como objeto de estudo a Unidade Ensino de Florianópolis, por
ser a pioneira na oferta de cursos técnicos e apresentar um quadro de docentes com
tempos de formação e docência diversificados.

A história da Unidade de Ensino de Florianópolis está diretamente relacionada à


da antiga Escola Técnica Federal de Santa Catarina. Iniciou suas atividades em 1910
através da Escola de Aprendizes Artífices de Santa Catarina. Ao longo do tempo passou
por sucessivas e importantes mudanças, o que lhe rendeu a denominação de Liceu
Industrial de Florianópolis-1937; Escola Industrial de Florianópolis-1942; Escola
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Movimento de Construção da Ação Docente
52

Industrial Federal de Santa Catarina-1962; Escola Técnica Federal de Santa Catarina-


1968.

Com a expansão do ensino técnico no Estado, através da criação das unidades de


ensino descentralizadas e a alteração do regimento interno da instituição, aprovado pela
Portaria 667 de 23 de abril de 1999, surge o Sistema ETFSC, com a finalidade de
“formar e qualificar profissionais nos vários níveis e modalidades de ensino, para os
diversos setores da economia”. Esse sistema, composto pelas três unidades de ensino:
Florianópolis, Jaraguá do Sul e São José, é que passa a denominar-se Centro Federal de
Educação Tecnológica de Santa Catarina, no ano de 2002.

Com a implantação da reforma da educação, a Unidade de Florianópolis passa a


ofertar ensino médio como fase final da educação básica. Na educação profissional,
segundo a proposta pedagógica da instituição, elaborada com base na nova legislação, o
currículo dos cursos passa a ser estruturado de acordo com as áreas profissionais, sendo
desenvolvido por competências.

Nesse sentido, o currículo, tendo como núcleo central o desenvolvimento de


competências, tem sua organização e o desenvolvimento curricular organizado em
módulos, projetos integradores, contextualização, eixos temáticos, certificação de
competência, avaliação por competência, saídas intermediárias, qualificação
profissional nos módulos.

Os dados do relatório de gestão do ano de 2001 apontam que a Unidade de


Florianópolis desenvolve suas atividades na Educação Básica através do ensino médio
com novecentos alunos e, na Educação Profissional de nível técnico, com 2926 alunos,
distribuídos em 12 cursos, nas áreas da Indústria, Construção Civil, Saúde, Turismo e
Hospitalidade, Informática, Geomática e Meio Ambiente.

No tocante ao desenvolvimento curricular, esses cursos estão vinculados a


Gerências Educacionais, as quais segundo o regimento interno da instituição, têm como
incumbência organizar e gerenciar a implantação e implementação dos currículos. Isso
está representado no Quadro 4.

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Movimento de Construção da Ação Docente
53

Quadro 4 - Cursos em funcionamento na Unidade de Florianópolis

GERÊNCIA EDUCACIONAL CURSOS

Metal - Mecânica Técnico em Mecânica


Técnico em Automobilística
Tecnólogo em Desing do Produto
Tecnólogo em Automação Industrial

Eletrônica Técnico em Eletrônica


Técnico em Radiologia Médica
Tecnólogo em Sistemas Digitais

Eletrotécnica Técnico em Eletrotécnica

Construção Civil Técnico em Meio Ambiente


Técnico em Edificações
Técnico em Geomensura
Técnico em Saneamento

Formação Geral e Serviços Técnico em Informática

Técnico em Segurança do Trabalho

Ensino Médio

Técnico em Turismo

Técnico em Hotelaria

Saúde Técnico em Enfermagem

A unidade de Florianópolis, além dos cursos técnicos elencados no quadro 4,


passa a oferecer a partir de 2002 cursos de tecnologia, em nível superior, nas áreas de
Desing, Automação, Informática Eletrônica e Saúde.

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Movimento de Construção da Ação Docente
54

Para efetivar suas ações, a instituição conta com um quadro de 464 servidores,
segundo relatório de gestão 2001, dos quais 280 são docentes e 184 técnico
administrativos, distribuídos em cargos, funções e cursos conforme o organograma a
seguir:

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Movimento de Construção da Ação Docente
55
Registros
Escolares

Supervisão Pedagógica

Núcleo Pedagógico Orientação Educacional

Assistência Educacional

Turismo e Hotelaria

Ensino Médio

Gerência Educacional de Apoio Administrativa


Formação Geral e
Serviços
Informática e Sistemas

Segurança do Trabalho

Educação Física e desporto

Colegiado da
Unidade Coordenadoria Pedagógica

Gerência Educacional de
Coordenadoria Administrativa
Construção Civil
Coordenadoria cursos por
competência

Diretoria da Coordenador Administrativo


Unidade Gerência Educacional
Coordenador Técnico
de Eletrônica
Coordenador Tecnológico

Coordenador Pedagógico
Gerência Educacional de
Eletrotécnica
Coordenador Administrativo

Coordenador Pedagógico
Gerência Educacional de
Metal-Mecânica
Coordenador Administrativo

Coord. Núcleo

Gerência Educacional
Coord. Pedagógica
de Saúde - Joinville
Coord. Técnica

Coord. Apoio ao Ensino

Gerência de Coord. Serviços Auxiliares


Administração e
Manutenção Coord. Material e Patrimônio

Coord. Manutenção

Figura 3: Organograma da Unidade de Ensino de Florianópolis

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Movimento de Construção da Ação Docente
56

Do total geral, 155 docentes atuam prioritariamente nos cursos técnicos na


Unidade e possuem formação inicial na área técnica. O quadro 5 apresenta a situação
atual de qualificação destes profissionais.

Quadro 5 – Formação Acadêmica dos docentes que atuam nos cursos técnicos da
Unidade de Ensino de Florianópolis.

GERÊNCIA EDUCACIONAL NO LICENCIATURA ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO


PROFESSORES

Metal-Mecânica 33 08 06 10 03

Eletrônica 24 08 03 13 02

Eletrotécnica 48 17 20 10 01

Formação Geral e Serviços 21 02 10 08 01

Construção Civil 50 37 29 17 02

Total 155 72 68 58 09

Atualmente, a Unidade de Ensino de Florianópolis, assim como todo o


CEFETSC, vive um momento de transição para adequar-se à nova legislação
educacional. Além de toda a alteração proposta no que já se desenvolvia, como
separação do ensino médio e profissional, a transformação em CEFET amplia o seu
papel na sociedade catarinense com a oferta dos cursos de nível superior.

Neste contexto de transição, renovação, tomada de decisão, bem como de


interrogação, dúvida e incerteza é que esta pesquisa foi desenvolvida.

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Movimento de Construção da Ação Docente
57

4.4 Análise dos Dados: Entrevistas

A partir da análise comparativa das entrevistas pôde-se delinear características


do fazer pedagógico do grupo de professores que compõem esta amostra e compreender
as suas trajetórias e os seus olhares frente ao exercício da docência.

4.4.1 Construção do perfil profissional

O primeiro aspecto a considerar na composição do perfil profissional é a


predominância do sexo masculino. Conforme os dados institucionais (Relatório de
Gestão 2001) dos 280 professores de toda a Unidade de Florianópolis, apenas 71 são
mulheres, o que representa 25% na população alvo desta amostra do total de 155
professores 10 são mulheres.

Esse desequilíbrio pode estar ligado à formação inicial dos professores que vêm
de Engenharia ou de áreas exatas em que há o predomínio do sexo masculino.

Ao investigar sobre o tema WHYTE (in DIAZ, 2001, p. 4) destaca na sua


opinião as principais causas para o menor interesse das mulheres no estudo da
tecnologia:

“ - as expectativas acadêmicas e profissionais das alunas para o futuro,


- o clima dos laboratórios e oficinas, onde os alunos monopolizam os recursos
enquanto as alunas organizam e limpam.
- certos traços do currículo oculto, como as crenças e expectativas dos
professores sobre as características escolares de alunos e alunas;
- ignorar a presença de mulheres na história da ciência e tecnologia;
- visão masculina da tecnologia e em seu currículo.
- ausência de implicações sociais e humanas nos temas que envolvem ciência e
tecnologia;
- modelos familiares e sociais percebidos desde a infância.”

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Movimento de Construção da Ação Docente
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Segundo o autor, pode-se agrupar o rol de causas em duas vertentes: a que se


relaciona com atitudes, normas e comportamentos sociais, e a que tem a ver com a
maneira de desenvolver o currículo, de enfocar o conteúdo.

Convém salientar que, em um passado recente, essa disparidade era maior e a


tendência é a diminuição gradativa, pois a Engenharia já tem um grande universo
feminino. Isso certamente influenciará na composição do quadro de professores das
instituições que oferecem Educação Profissional.

Sendo que na amostra dessa pesquisa a totalidade dos entrevistados pertencem


ao sexo masculino. Os quais encontram-se na faixa etária dos 31 a 40 anos (60%), na
seqüência como mostra a tabela 1, há um percentual também significativo de
professores entre 41 a 50 anos (40%), as demais faixas não pontuaram.

IDADE QUANTIDADE PORCENTAGEM (%)

ATÉ 25 00 00%

26 A 30 00 00%
31 A 40 09 60%
41 A 50 06 40%
51 A 60 00 00%

TOTAL 15 100%

Tabela 1. Faixa etária

No tocante ao tempo de docência, conforme tabela 02, percebe-se que são


recentes as suas experiências, dos docentes entrevistados apenas dois professores já
haviam atuado no magistério antes de ingressar na instituição, donde se conclui que a
maioria iniciou sua docência diretamente na educação profissional, no próprio
CEFETSC .

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Tempo de Docência Número de Professores Percentual

00 a 05 anos 00 00%

06 a 10 anos 08 53%

11 a 15 anos 05 33%

16 a 20 anos 00 00%

Acima de 20 anos 02 13%

Total 15 100%

Tabela 2: Tempo de docência

Esse aspecto pode ser responsável pela disposição deste grupo, percebida ao
longo das entrevistas, por refletir, dialogar sobre as questões didático pedagógicas.
Sendo “jovens” no exercício do magistério, reconheceram-se em processo de formação
para a atuação docente e, como tal, atestaram a necessidade da troca de experiências e
estudo entre seus pares, vendo isso como principal instrumento de preparação para o
bom desempenho em sala de aula.

O exercício da docência carateriza-se para a maioria dos entrevistados, 93%,


como atividade profissional principal e única, apenas 01 não possui dedicação exclusiva
à instituição. Quando questionados sobre o porquê da escolha pelo magistério as
respostas e reflexões em grande parte denotam justificar-se por uma “identificação
maior com área acadêmica” em relação à produtiva (denominação utilizada pelos
entrevistados para caracterizar o trabalho na empresa); outras justificativas passam por
seguir a “carreira da família”, “admirar a atividade docente”, “gostar do contato com os
alunos vivenciado na monitoria”, “identificar-se com os professores do curso técnico” ,
“coincidência dos acontecimentos”. Vale destacar que em grande parte as repostas

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Movimento de Construção da Ação Docente
60

foram completadas com a “oportunidade da estabilidade no emprego através de


concurso” e o “não afastamento da sua área específica de formação”.

Essas narrativas reforçam a percepção de que, principalmente por estarem


diretamente ligados a sua área de formação, “engenharia”, os professores entrevistados
consideram-se satisfeitos por estarem atuando em uma instituição de educação
profissional e manifestam-se interessados em continuar e aprofundar estudos
relacionados à área educacional. É o que se percebe em alguns relatos:

“Reproduzi aquilo que eu havia aprendido na minha escola, na forma como eu


aprendi, busquei referência nos meus professores(... )Ser docente é um processo
que tem um tempo de maturação grande, poderia ser menor se houvesse uma
preparação pedagógica.”

“(...)Atuo como professor criando uma forma de trabalho na prática, mas


reconheço que falta muita coisa”

(...) iniciei o caminho que me levaria à docência através da monitoria durante o


curso de engenharia”

“(...) no início eu tinha formação específica, dominava o conteúdo, mas eu não


conseguia repassar este conhecimento... hoje eu já tenho uma maior maturação
adquirida na prática (...) tento ser educador, paro a minha aula para conversar
sobre postura, comportamento dos alunos(...) mas reconheço a carência que nós
profissionais da engenharia temos em relação às questões didático
pedagógicas.”

No tocante à formação acadêmica, verifica-se que por se tratar de um grupo de


jovens professores, o mesmo concentra o seu grau máximo de escolaridade no nível de
mestrado, 60% como mostra Tabela 03. Essa afirmação é feita pautada no fato de que a
busca por continuidade de estudos acentuou-se na década de 90, devido à crise do
emprego, para o qual a elevação do nível de escolaridade passa a ser ventilada como
condição para a “empregabilidade” e para o acompanhamento do avanço tecnológico.

A relação da docência com o grau de formação faz refletir sobre a correlação


entre grau de titulação e exercício do magistério. Não há como afirmar que quanto
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maior o grau de formação na área específica, maior segurança e desenvoltura o


profissional terá em sala de aula. Durante as narrativas, pôde-se perceber que
relacionado aos saberes pedagógicos(ação pedagógica), os professores manifestam-se
de forma cuidadosa e, em algumas vezes, queixosa quanto à qualidade e à quantidade de
oportunidade de aperfeiçoamento promovidos pela instituição. Chamou a atenção o fato
de que diferentemente da área específica a qual o próprio docente se preocupa em
buscar, a parte pedagógica, “necessária”, “essencial”, como afirmam os entrevistados, é
delegada como responsabilidade da instituição.

GRAU MÁXIMO DE NÚMERO DE PERCENTUAL


FORMAÇÃO PROFESSORES

Doutorado 01 07%

Mestrado 09 60%

Especialização 04 26%

Graduação 01 07%

Curso técnico 00 00%

Total 15 100%

Tabela 3 - Formação Acadêmica

A trajetória de formação inicial está vinculada diretamente à área técnica. Nove


(09) professores, ou seja, 60%, passaram por um curso técnico de nível médio antes de
ingressar na engenharia. Esse dado torna-se mais interessante quando foi questionado
em qual instituição. A resposta obtida: 8 de 9 professores cursaram a ETFSC – hoje
CEFETSC. Torna-se interessante para as conclusões deste estudo, pois denota que, para
além do centro de referência que é o CEFETSC, há nos profissionais que nele atuam
uma certa cumplicidade transformada em compromisso profissional, pautado pelo elo
entre a sua formação e sua atuação profissional. Nenhum deles passou por um curso
formal de preparação para o exercício da docência anteriormente ao ingresso. Dos

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Movimento de Construção da Ação Docente
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entrevistados, apenas 33% possuem licenciatura, adquirida já em atuação, através dos


cursos de Esquema I e Esquema II5.

Os professores que vivenciaram a experiência da licenciatura consideram que


discutindo, perceberam que existem formas diferentes de trabalhar, novas metodologias,
socializando experiências enriqueceram a suas práticas. Atestam que:

“após a licenciatura houve um amadurecimento muito grande principalmente


pela troca de experiências, a grande questão foi a pedagógica, pois até em tão
sozinho nós somos o universo do eu, será que eu estou certo?, seguíamos
modelo do professor que estava dando certo... após o curso desmistificou o
exercício da docência”.

Nesse sentido alguns relatos no tocante à preparação para o exercício da


docência remontam a algumas oportunidades oferecidas pela instituição. “Palestras”,
“mesas redondas”, “participações na elaboração do Projeto Pedagógico”, “seminários”
foram citados como espaços de formação e representam segundo eles, uma ampliação
do olhar sobre a docência, não relegando-a apenas ao saber específico. Essas atividades
desenvolvidas no interior da instituição foram apontadas pelos professores como
oportunidade de rever questões do cotidiano e propícias ao desenvolvimento de um
maior comprometimento /envolvimento com o projeto pedagógico institucional.

As falas também apontam, porém, para uma reclamação, a de que nas atividades
da docência não possuem um acompanhamento sistemático necessário, para aprimorar o
processo. Segundo os entrevistados:

“não temos acompanhamento para o exercício da docência, isso nos leva a crer
que cada professor deve elaborar as suas concepções e práticas de forma
individual.”

“(...) quando eu entrei, numa das primeiras reuniões, nos foi dito que nós
teríamos acompanhamento, isto não aconteceu de forma sistemática.”

5
Licenciatura emergencial oferecida conforme portaria 339/70 do CFE.
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Movimento de Construção da Ação Docente
63

Isso somente reforça aspectos já relacionados em capítulos anteriores no tocante


à necessária relação entre ação e reflexão, na busca de uma práxis educacional, e a
importância das instituições como espaço de formação continuada, favorecendo a troca
entre os pares.

Observa-se, então, que o movimento de construção da identidade e a


aprendizagem, dos professores da educação profissional ultrapassa os espaços da
formação específica. Dá-se no dia a dia do professor, em seu fazer docente, nas relações
que estabelece com seu pares.

Assim, compreender este movimento de construção da ação docente, num olhar


sobre o cotidiano do professor, de como se estabelece a sua relação com a docência , são
elementos importantes, dentre outros, na compreensão das dinâmicas envolvidas no
processo de formação permanente dos professores com formação na área tecnológica:
cursos técnicos, engenharia e arquitetura.

4.4.2 Concepções referentes à educação e ao processo educativo.

A concepção de educação que perpassa as falas dos entrevistados é a de uma


formação integral do aluno, na qual sejam contempladas as dimensões “científica e
sócio-cultural”, na perspectiva de “formar o cidadão pleno para viver em harmonia com
o seu meio”. Nesse mesmo sentido a compreensão de educação profissional apresentada
pelos professores é que a mesma deva conciliar o “conhecimento técnico, humano e o
respeito à natureza”.

Há que se destacar que mesmo com uma formação linear, diretiva, os


entrevistados apontam e apostam, em suas falas, numa quebra de paradigmas na
formação profissional, segundo os mesmos, ainda em transição e construção mas
abrindo caminhos para uma formação mais ampla, consciente e cidadã na educação
profissional.

Quando questionados sobre como se processa o aprendizado do aluno, o


sentimento expressado é de que o mesmo pressupõe interesse por parte do aluno e a
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Movimento de Construção da Ação Docente
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mobilização de atividades manuais e intelectuais. As falas ainda revelam uma


preocupação em que para alcançar esse aprendizado os “conteúdos a serem trabalhados
devem estar contextualizados de forma a envolver e despertar o interesse dos alunos”,
segundo parte dos entrevistados isso é realizado em sala de aula de forma intuitiva sem
um agir consciente da parte do professor. Argumentam que acontece:

(...)”principalmente através da aplicação prática da teoria trabalhada.

(...) “usando conhecimentos, teorias científicas, buscando soluções


práticas, integrando tudo isso ao meio que o aluno vive. Os alunos trazem
as questões de casa”

(...)”buscando compreender a forma cognitiva e ao mesmo tempo


colocando a mão na massa.

Na resposta à indagação sobre o papel do professor, as narrativas apontam para


um olhar o professor como um "facilitador" do conhecimento, um “estimulador do
interesse do aluno”. Há um forte destaque, na totalidade dos entrevistados, para a
importância da interação entre professor e aluno.

Por outro lado, destaca-se na fala de parte do grupo que por se tratar de
“conhecimento técnico, os professores devem organizar e repassar as informações” no
intuito de controlar a quantidade de informações que o técnico necessita para o
exercício profissional. Isso reflete o fato de que dentro de uma mesma instituição,
vivenciam-se tempos diferenciados de compreensão do processo ensino aprendizagem.
Nesse sentido, observa-se que a preocupação e compreensão da aprendizagem do aluno,
torna-se elemento diferenciador para o entendimento do fazer pedagógico desses
docentes.

O tema avaliação da aprendizagem apresentou-se como uma preocupação central


dos entrevistados. As falas vêm associadas à “percepção de verificar se as informações
foram assimiladas”, num forte reconhecimento de que a linearidade no processo
educacional pode estar abandonada em alguns discursos conceituais mas retorna com
força neste tema. No entanto, encontram-se nas narrativas demonstrações de que os

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Movimento de Construção da Ação Docente
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professores estão vivenciando um forte momento de transição entre uma avaliação


essencialmente numérica somativa e quantitativa para uma avaliação conceitual e
qualitativa, formativa. Mais por imposição institucional do que compreensão teórica,
segundo grande parte dos entrevistados. Isso reflete a visão fragmentada de sua
formação inicial em que priorizam-se conceitos e técnicas em detrimento de uma visão
social e integradora da tecnologia.

A totalidade os professores entrevistados dizem organizar suas aulas. Afirmam


que no início realizavam planejamentos diários de “maneira mais sistemática, metódica”
mas que com o passar do tempo realizam mais seleção de materiais. Reconhecem,
porém, a necessidade e importância do planejar as aulas, no intuito de não ocorrer a
improvisação, não recomendada. Os trechos abaixo atestam esses depoimentos:

“(...) professor que trabalha fora de sala de aula, trabalha menos dentro
de sala, e vice-versa, o professor que não prepara aula tem que ter jogo de
cintura para manter a aula”.

“(...) você tem que organizar uma seqüência lógica para a sua aula,
preparar um material escrito, a ser trabalhado em sala, buscar exemplos e
exercícios voltados ao assunto ,para que o aluno consiga assimilar o
conhecimento. ”

“(...)considero muito difícil o professor ir para a sala de aula sem se


organizar, o que modifica com o tempo é a sistemática e metodicidade do
planejamento”

“(...)no início eu pré determinava um roteiro e esquecia de interagir com


o aluno, pois o roteiro tinha que ser cumprido.”

O que se verifica por esses depoimentos é que o ato de planejar pode se


caracterizar na maioria dos casos como um ato individual dadas as expressões: “quando
eu preparo”, “antes da minha aula”. Já os professores que estão vivenciando o trabalho
com projetos integradores6 (objetos e/ou ações que integram as disciplinas e conteúdos a
serem trabalhados em um determinado espaço de tempo), destacam o trabalho coletivo

6
Metodologia implantada na Unidade de Florianópolis com a reforma da educação.
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Movimento de Construção da Ação Docente
66

ao planejar e cujo planejamento dá-se a partir de encontros periódicos com o grupo na


perspectiva de uma ação compartilhada.

Faz-se necessário ressaltar, e esta questão foi identificada nas entrevistas, que
um fazer pedagógico comprometido não se baseia na improvisação; em vez disso
envolve intencionalidade, propósitos claros, tomadas de decisões, portanto ações
planejadas.

Durante as narrativas dos professores, a defesa do ato de planejar vem carregada


de um fazer pedagógico pautado em uma visão tradicional de ensino, atribuindo ao
mesmo um simples ordenamento ao longo do tempo e espaço dos conteúdos a serem
“repassados” para uma “melhor assimilação por parte do aluno”, na “ordenação lógica
do mais simples ao mais complexo”. Observa-se, no entanto, narrativas quanto à
preocupação em “inovar”, “organizar o desenvolvimento dos trabalhos junto com os
alunos”, encontrando espaços e tempos diferenciados para a aprendizagem, num
reconhecer diferentes processos de construção do conhecimento por parte dos alunos.

Ao abordarem como organizam as suas aulas, alegando as especificidades dos


conhecimentos, os professores na grande maioria dizem estruturá-las através de aulas
expositivas, com exercícios e atividade prática nos laboratórios. O processo educativo
organizado predominantemente através de aulas expositivas, exercícios de fixação e
atividades práticas em laboratório, vem caracterizando ao longo do tempo a educação
profissional, convivendo com pressupostos como: a neutralidade da ciência e da
tecnologia; o conhecimento cumulativo. Nesse contexto o ensino pode ser entendido
como sinônimo de informação a ser repassada ao aluno. Isso pode ser constatado pela
seguinte afirmação de um entrevistado:

“(...) busco organizar uma seqüência lógica para o aluno conseguir seguir. O
quadro deve estar organizado com uma caligrafia visível. Esta organização
começa com a preparação de um texto/material escrito a ser trabalhado em sala,
com recomendação de leitura prévia, para otimizar o tempo. Preparo também
um grande número de exemplos e experiências”.

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Movimento de Construção da Ação Docente
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Mesmo que aparentemente esta seqüência esteja ligada a uma pedagogia


diretiva/tradicional, percebe-se na complementação das narrativas que há um
movimento nos grupos de trabalho em desenvolver “projetos integradores de trabalho”,
“considerar o aluno como centro da aprendizagem”, tendo como preocupação central a
compreensão por parte dos alunos ao conhecimento a ser “repassado”.

Mesmo nesses casos, percebe-se que o movimento ainda caracteriza-se em ser


fator para despertar o interesse do aluno, e não fruto de uma concepção epistemológica
que se sustenta na contextualização e construção do conhecimento pelos alunos.

As narrativas que apontam para o delinear dessa outra postura educacional,


revelando uma certa inconformidade com os pressupostos de uma prática pedagógica
diretiva e um forte sentimento de querer mudar, mas esbarram segundo eles na “falta de
formação pedagógica”, “falta de leitura”, enfim, ausência da instrumentalização
necessária para o enfrentamento do modelo de ensino perpetuado nas escolas de
engenharia e, por conseqüência, no fazer docente da educação profissional. Essa
superação exige por parte do professor um agir e refletir sobre a sua prática subsidiado
por um campo teórico que o auxilie na compreensão do processo ensino
aprendizagem fora do simples repasse de informação para uma processo de produção e
construção de conhecimentos.

A análise das narrativas dos professores entrevistados permite levantar alguns


pontos para a reflexão:

a) os professores da educação profissional iniciam sua docência sem vivência


neste campo profissional e trazem no bojo da sua formação um
distanciamento entre a sua formação técnica/acadêmica e para o exercício do
magistério, dificultando muitas vezes ao professor ousar na busca de
alternativas para melhorar a sua prática pedagógica.

b) essa falta de uma formação pedagógica favorece a prática de um fazer


intuitivo e o desenvolvimento de uma pedagogia diretiva no interior das
instituições que desenvolvem educação profissional. Esse hiato na formação
dificulta, atrasa o processo de compreensão e a passagem do engenheiro/
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Movimento de Construção da Ação Docente
68

engenheiro para o professor/engenheiro, ou seja, um fazer consciente e


transformador do ato pedagógico;

c) na busca de superar essa lacuna, os professores se espelham em modelos de


professores que encontram ao longo de sua vida acadêmica e também no
método de tentativa e erro para assim estabelecerem um amparo para a sua
atuação pedagógica;

d) os professores reconhecem a necessidade de uma teoria pedagógica, ou


elementos de uma, que supere esta dicotomia entre o saber específico e o
saber pedagógico na educação profissional. Sentem, também, necessidade de
um acompanhamento sistemático e reflexivo sobre suas atividades;

e) a superação das dificuldades encontradas ao longo do exercício da docência


efetiva-se mais na troca de experiências e angústias com seus pares do que
programas pontuais e estanques de cunho pedagógico. Esse movimento de
superação ocorre de forma mais lenta ou acelerada dependendo da tomada de
consciência do professor quanto a sua limitação;

f) a aprendizagem do aluno efetiva-se na busca do desenvolvimento cognitivo e


de habilidades (teoria/prática). Nesse sentido, o papel do professor encontra-
se identificado como fundamental na perspectiva de facilitador do
conhecimento;

g) a educação apresenta-se no sentido mais amplo, tendo como função a


formação científica e sócio cultural do cidadão. Nesse contexto, a educação
profissional não se limita apenas à preparação para o exercício de uma
profissão, mas abrange a formação integral, conciliando técnica e
humanismo com o respeito à natureza;

h) a relação professor aluno estabelece-se como essencial no processo


educativo, sendo apontada como condição para o aprendizado. Deve
acontecer num contexto de amizade e respeito mútuo;

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Movimento de Construção da Ação Docente
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i) a reforma da educação profissional desestabilizou o fazer institucional,


desnorteando o caminhar sedimentado ao longo da história, porém
aproximou ou mesmo despertou o interesse dos professores pelas questões
do ensino;

j) o processo de avaliação da aprendizagem aparece como um elemento


problemático, as falas convergem para um período de transição;

k) o planejamento das atividades de ensino de forma sistematizada acontece no


início do exercício da docência, não negando a importância, os docentes
deixam essa tarefa relegada a segundo plano;

l) há um prazer em exercer a docência entre os professores pesquisados, porém


reconhecem necessitarem completar os saberes requeridos para tal atividade.

Observa-se no contexto pesquisado que os docentes identificam e reconhecem


suas dificuldades, bem como as limitações impostas pela sua formação acadêmica, e
buscam superá-las na prática, na grande maioria das vezes através do senso comum
pedagógico estabelecido no interior das instituições. Em conseqüência, isso acaba se
estabelecendo como um obstáculo a ser superado na formação continuada sistemática
desses docentes. Essa superação, do ponto de vista dessa pesquisa, passa
necessariamente por uma revisão epistemológica da formação e da prática pedagógica
do professor/engenheiro, para além dos cursos de atualização metodológicas.

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Movimento de Construção da Ação Docente
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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As conclusões desta pesquisa são apresentadas considerando os questionamentos


iniciais formulados na introdução deste trabalho. Neles, a preocupação central era a de
encontrar alternativas de formação de professores que contemplasse a docência na
educação profissional com uma formação com o enfoque CTS. O desenvolvimento da
pesquisa demonstrou que para compreender a dimensão e mesmo a prática estabelecida
no interior das instituições de educação profissional, faz-se necessário ouvir e entender
como os professores são formados na academia.

Esse estudo fez perceber que existe em cada professor características e


especificidades de formação acadêmica, de experiência de vida, as quais necessitam
serem levadas em consideração no momento da elaboração de um projeto de formação.

Nesse sentido, os espaços destinados à formação devem constituir-se como


privilegiados de interação, nos quais as diferenças e aproximações sejam encaradas
como propulsoras da reflexão necessária ao desenvolvimento desses profissionais.

A pesquisa demonstrou que quando não ocorre essa oportunidade de reflexão, os


professores buscam organizar e fundamentar sua prática em modelos de professores que
tiveram ao longo da sua vida acadêmica o que pode explicar a forma tradicional,
empirista perpetuada nas escolas de ensino técnico.

Na educação profissional, a formação pedagógica apresenta-se como preceito


legal, ou seja, para o exercício do magistério faz-se necessário a complementação
pedagógica através de cursos de licenciatura, desenvolvidos na grande maioria das
vezes em serviço. Nesses programas denominados de especiais ou emergenciais, as
críticas mais contundentes fazem referência ao distanciamento entre o proposto por
quem organizou e a realidade dos docentes e dos cursos de educação profissional. O que
reforça a necessidade de se estabelecer um projeto de formação pautado no diálogo com
______________________________________________________________________
Considerações Finais
71

os professores no intuito de superar um simples apresentar receitas e soluções pontuais


para encontros de formação pautados na construção de saberes.

A percepção de que não mais somente o saber específico do seu campo de


conhecimento deva ser encarado como única condição para o exercício da docência na
educação profissional e que saber pedagógico não deve estar associado a uma simples
complementação, remete ao estabelecimento de uma nova cultura não só de ações
pontuais de formação, mas numa proposta de um projeto global, institucional de
formação com a identidade dos envolvidos no processo e não algo pensado de fora para
dentro. Nesse sentido deve-se levar em consideração os contextos em que ocorre a ação
do professor e antes de tudo a pessoa do professor.

Grande parte dos professores não atua com base em fundamentos teóricos que
possam facilitar e servir de referência na sua atuação docente bem como na
identificação das suas limitações. Esse aspecto ficou evidente na análise das narrativas
nas quais se observou a predisposição e a indicação dos docentes em identificar como
necessidade o estabelecimento de um espaço de construção/reflexão das
questões/saberes que permeiam o fazer pedagógico.

Nesse sentido, a pesquisa apontou que o estabelecimento desta cultura


pedagógica, ou buscando a fala dos professores, de uma teoria pedagógica para
fundamentar a sua ação, passa necessariamente pelo confronto com as situações que se
manifestam no decorrer do processo educativo, nas relações com os alunos, com outros
professores e profissionais, com a instituição, na articulação dos saberes, enfim na
reflexão na e sobre a ação desenvolvida.

Considera-se essa a principal contribuição desta pesquisa. Possibilitar um olhar


para a formação dos professores da educação profissional para além de episódios
pontuais desconexos do contexto do professor, buscando uma aproximação com o
pensamento e a ação do docente e da instituição na qual ele está inserido, através da
inter-relação entre os saberes necessários ao exercício da docência. Isso traduz a
compreensão da importância das instituições como locus para o desenvolvimento e
reflexões e troca entre os professores, consolidando-se assim um projeto de formação
identificado com a sua proposta pedagógica.

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Considerações Finais
72

Nesse sentido a adoção do enfoque CTS como elemento articulador e


diferenciador na formação do engenheiro e como contexto para o desenvolvimento da
educação de forma geral, como abordado no primeiro capítulo deste trabalho, e a sua
visualização como um dos eixos na formação do professor da educação profissional,
pode ser um fio condutor, para a concretização deste novo olhar para o preparo do
professor/engenheiro e no caminhar ao encontro de uma formação de cidadãos técnicos,
comprometidos com as questões sociais que envolvem o desenvolvimento científico e
tecnológico na sociedade contemporânea.

Esta pesquisa esteve sempre pautada na necessidade de apontar uma alternativa


de formação que correspondesse às reais necessidades dos docentes, na perspectiva de
subsidiar ações específicas do cotidiano, mas principalmente no intuito de desenvolver a
consciência, no âmbito das instituições da necessidade de incorporar nas suas políticas
educacionais a formação de professores, para assim estabelecer uma ruptura da cultura
tecnicista, linear, arraigada no ideário social de uma educação profissional.

Ao se referenciar a necessidade do estabelecimento de uma cultura pedagógica


no interior das instituições de educação profissional pautada num projeto de formação
institucional, corrobora-se com PETEROSSI (1994,p.173) quando afirma que:

“na atividade educacional não se improvisa e muito menos se improvisam seus


docentes sob pena de verem comprometidos de maneira irreversível os
resultados esperados a médio e a longo prazo sem que se possam corrigir os
descaminhos, uma vez que a ação educacional não comporta retornos”.

É adotando o sentido de projeto e não apenas programa de formação que se


pretende dar a este um caráter processual, no qual são consideradas as especificidades
da ação docente nas instituições que desenvolvem educação profissional.

Para tanto, elencam-se alguns aspectos apontados no decorrer deste trabalho e


que se caracterizam como ponto de partida para o estabelecimento desse projeto
institucional:

a) contemplar a reflexão e construção dos diferentes saberes necessários ao


exercício da docência;

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Considerações Finais
73

b) ocorrer de forma contínua e sistemática com diretrizes institucionais;

c) propiciar espaço de compartilhamento, interação e crescimento mútuo,


pautado no diálogo entre os professores;

d) refletir sobre e na prática, pautando-se numa base teórica, buscando mais


significativa a aprendizagem e assim contribuindo para a superação
mecanicista do ensinar;

e) considerar os professores como sujeitos históricos, que se constróem a partir


das relações que estabelecem com o meio em que vivem;

f) considerar a trajetória de vida dos professores;

Considerando o exposto, ousa-se encaminhar a contribuição à definição deste


projeto de formação, a qual não pretende limitar ou mesmo caracterizar-se como a
solução das questões levantadas ao longo desta pesquisa. Quer, acima de tudo,
vislumbrar um caminho possível de ser seguido, o qual a partir da interação e diálogo
entre os envolvidos pode vir a se estabelecer como ponto de partida para o
estabelecimento de um campo teórico na pedagogia para a educação profissional.

A consciência de que o momento vivenciado no interior das instituições de


ensino que trabalham com educação profissional é o de crise, de transição, conforme
abordado nos capítulos 1 e 3, fortalece o entendimento de que se faz necessário partir
das mesmas a busca, através da reflexão do seu fazer diário, de um caminhar
pedagógico coerente e condutor das ações docentes.

Nesse sentido, voltam-se os olhares para a composição de ações que acontecem


no decorrer da trajetória profissional do docente no interior da instituição e que, a partir
da interação e intencionalidade das mesmas, constituirão espaços de resignificação e
reorientação da ação docente. Em outras palavras, isso se constitui em “momento
confirmado”, caracterizando o formato processual e ininterrupto da formação aqui
delineada.

No que diz respeito a problemática identificada nas entrevistas: o professor


iniciante, há que se estabelecer “um primeiro momento”, ou “momentos de estudo”,
______________________________________________________________________
Considerações Finais
74

para uma iniciação ao tema docência. Assim, nesse movimento pode ser estabelecida a
construção da identidade do professor.

Esse momento inicial pode ser caracterizado, como a licenciatura prescrita no


parecer 02/97, porém avançando ou mesmo ultrapassando a visão de que quem passou
pela licenciatura já adquiriu os conhecimentos para ser professor, conforme ilustra,
erroneamente, a figura 4.

Engenheiro Licenciatura Professor

Figura 4: Visão linear distorcida da formação do professor da EP.

Esse movimento não deve e não se configura, conforme observou-se ao longo


desta pesquisa, de forma linear. O que se propõe é um movimento de reflexão sobre o
fazer pedagógico desses professores, inclusive porém não exclusivamente nas
licenciaturas.

Neste sentido, MONTEIRO (2000, p.135) afirma que:

“trata-se de um novo conceito de profissionalidade e de formação docente,


calcado em conceitos como cooperação, partilha entre pares, autonomia
profissional, reflexão do professor sobre sua própria experiência(...) Essa forma
de conduzir o processo de formação continuada procura superar a tradicional
dicotomia teorio-prática, articulando, sistematicamente, fundamentos e
atividades do cotidiano dos professores. Nessa articulação, são consideradas e
afirmadas as vozes, experiências e histórias pelas quais os professores atribuem
sentido às diferenças e ao diálogo com a experiência do outro e com a teoria”.

Esse momento de formação, o qual se passa a denominar de inicial para a


docência, tem como objetivo a interação e inter-relação entre os saberes que compõem o
fazer pedagógico. No sentido de desencadear o processo de formação, o diferencial está
na proposta da inclusão dos estudos acerca da relação entre Ciência, Tecnologia e
Sociedade como elemento articulador, o que aproxima mais o engenheiro de uma
reflexão sobre o seu campo de atuação e a docência a ser desenvolvida.

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Considerações Finais
75

Essa alternativa de formação pretende despertar um interesse do


professor/engenheiro para as questões da ciência e da tecnologia na perspectiva de uma
nova atitude frente aos seus avanços na sociedade e por conseqüência desencadear
diferentes práticas pedagógicas pautadas em uma epistemologia construtivista tão
necessária para uma formação mais integral dos nossos técnicos.

O eixo central, CTS, marca a concepção epistemológica do curso. As demais


caracterizam-se por eixos temáticos os quais definem a composição curricular a ser
adotada.

A figura 5 sintetiza este pensamento quando apresenta uma representação da


estrutura curricular dessa formação inicial.

Ges

CTS

Hist
ória Co

Figura 5: Representação Geral da Estrutura Curricular de Proposta de Formação Inicial


de Professores para Educação Profissional.

Com a adoção dos estudos CTS, como eixo articulador na formação do docente
para a educação profissional busca-se:

a) Discutir visões de ciência e tecnologia dentro de um contexto social;

b) Reorientar , redefinir a base epistemológica atualmente adotada na educação


profissional;

c) Desenvolver um processo de ensino e aprendizagem de ciência e tecnologia


de forma socialmente contextualizada e interdisciplinar vinculando ao
mesmo a história e práticas da sociedade brasileira;

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Considerações Finais
76

d) Estabelecer uma comunicação em sala de aula, pautada na cooperação,


respeito mútuo, solução de problemas, projetos de trabalho, propiciando a
participação ativa do aluno como sujeito do seu processo de aprendizagem;

e) Desencadear estudos sobre estratégias metodológicas que auxiliem o fazer


docente na educação profissional, buscando assim a identificação de um
campo teórico pedagógico, uma didática para a tecnologia, pautada na práxis
do professor que atua na área;

f) Despertar no professor/engenheiro o compromisso com a organização e


desenvolvimento das suas aulas, tanto no sentido metodológico quanto no
sentido afetivo, com objetivo de promover uma maior participação e uma
melhor aprendizagem por parte dos alunos;

g) Contribuir para a formação de cidadãos técnicos conscientes, responsáveis


individual e coletivamente, capazes de compreender e participar
criticamente nas decisões quanto ao uso da ciência e da tecnologia na
sociedade em que vivem;

h) Promover a necessária articulação entre os saberes necessários ao exercício


da docência: específico, experiência e pedagógico.

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho constatou-se que somente uma


formação inicial não é suficiente para o estabelecimento de um fazer pedagógico
consciente e comprometido. Torna-se imprescindível uma perspectiva continuada desta
formação, pois, como abordado no capítulo 3, a grande maioria das questões
relacionadas ao ensino adquirem forma e sentido para o professor quando confrontadas
na sua prática.

Nesse sentido e com base nas narrativas dos professores, percebe-se a


necessidade do estabelecimento de outros espaços formativos, além da formação inicial,
através de encontros sistemáticos que retroalimentem o cotidiano docente. Esses
momentos, nessa proposta caracterizam-se por encontros entre professores de uma
mesma área, ou mesmo áreas afins, organizados sob a forma de oficinas temáticas, com
intuito de discutir, estudar e aplicar conceitos didático pedagógicos. Esses espaços
______________________________________________________________________
Considerações Finais
77

possibilitam a reflexão sobre a ação pedagógica através da troca entre os pares. Os


temas devem ser resgatados na formação inicial para a docência e no ouvir o cotidiano
do professor.

Aliado a esses momentos, propõe-se a criação de um ambiente de aprendizagem


pedagógica, na qual o professor poderá contar com bibliografia e recursos da tecnologia
da comunicação, para aprofundar, praticar, desenvolver alternativas de ação para o
melhor desempenho no processo educativo.

Essa alternativa de sistematização de uma estruturação para a formação dos


docentes para a educação profissional não coloca um ponto final na questão. Pelo
contrário, o desafio permanece principalmente no sentido de enriquecer do ponto de
vista metodológico esses momentos. Acredita-se que seria o ponto de partida para a
continuidade deste estudo buscar metodologias que contemplassem a formação docente
aqui apresentada.

Percebe-se evidenciado o caráter de “projeto” dessa proposta de formação


docente, a partir do momento em que ela – a formação inserida no contexto CTS, – faz
brotar três necessárias ações: momento inicial – licenciatura - ; momento continuado –
oficinas temáticas – e ambiente de aprendizagem pedagógica. Ao se organizar assim a
formação docente na Educação profissional, acredita-se que uma outra concepção da
ação docente pode brotar, propiciando dessa forma a busca de novos processos de
ensino na educação profissional, favorecendo assim a formação de cidadão-técnicos, e
por conseqüência, uma sociedade com melhores condições para enfrentar e participar
das práticas científicas e tecnológicas e preparada para enfrentar o mundo global que
vivemos.

______________________________________________________________________
Considerações Finais
78

6 BIBLIOGRAFIA
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______________________________________________________________________
Bibliografia
85

ANEXO
______________________________________________________________________

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1 Formação Profissional

Idade:

Formação acadêmica: Nível/ título/ licenciatura

Experiência profissional: área técnica / Magistério

Atuação no CEFETSC: tempo/ área

Para você o que é ser professor? (profissão/ complementação/ alternativa de vínculo)

Por que você escolheu atuar como professor?

Como você se prepara/ atualiza para exercer a docência? Ou não vê essa preparação
como necessária? Somente uma boa formação técnica é suficiente?

2 Concepções sobre educação?

O que você entende sobre educação?

Conceito de educação profissional.

Como se processa o aprendizado do aluno?

Para você, qual é o papel do professor e do aluno no processo educativo?

Qual a função da escola na sociedade atual?

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Bibliografia
Anexo
86

3 Prática Escolar

Como você organiza/ planeja suas aulas?

Quais estratégias você utiliza para garantir o aprendizado do aluno?

Qual a importância do uso das TIC’S no desenvolvimento do processo ensino


aprendizagem? Você as utiliza?

Qual seu grau de envolvimento em questões que extrapolam o fazer da sala de aula?

Como você vê este envolvimento?

Para você é importante a interação professor/aluno no processo educativo? E como deve

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Bibliografia
Anexo

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