Homem, Cultura e Sociedade - FICHAMENTO
Homem, Cultura e Sociedade - FICHAMENTO
Homem, Cultura e Sociedade - FICHAMENTO
Homem, cultura e sociedade / Sonelise Auxiliadora Cizoto, Carla Regina Mota Alonso
Diéguez, Rosângela de Oliveira Pinto. – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2016.
Unidade 1
O capitalismo: o surgimento de um novo mundo
Seção 1
“Clero – os religiosos: exerciam grande poder político sobre uma sociedade bastante
religiosa, onde o conceito de separação entre a religião e a política era desconhecido.”
p.10
“Nobreza – os senhores feudais: eram os donos das terras, cedidas pelo rei. Eles
pagavam pelo uso com parte daquilo que era produzido nas terras. O rei lhes cedia terras
e estes lhe juravam ajuda militar.” p.10
“Uma força muito importante durante a Idade Média foi a Igreja Católica. Fonte de toda a
explicação da sociedade, a Igreja concentrava as explicações sociais, mantendo a
desigualdade como uma escolha divina. Os senhores feudais acreditavam terem sido
escolhidos por Deus, assim como Ele era quem escolhia os servos para pertencerem a
essa condição. O poder absoluto dos reis (chamado de absolutismo) tinha uma
justificativa religiosa, já que os eles acreditavam que tinham o poder divino de governar,
concedido por Deus e ratificado pela Igreja Católica. Nesse sentido, o poder dos membros
da Igreja era ilimitado e cobria todas as áreas da vida feudal.” p.13
“(…) a história sempre foi a história da luta de classes, remontada às lutas entre homens
livres e escravos, na Antiguidade, e abrangente das lutas entre as categorias estamentais
da sociedade feudal (MARX; ENGELS, 2007, p. 27).” p.14
“[...] as ideias dominantes são as ideias dominantes de cada época. […]. As ideias
dominantes parecem ter validade para toda a sociedade, isto é, também para as classes
submetidas e dominadas. Forja-se a ilusão histórica de que cada época da vida social
resulta não de determinados interesses materiais de uma classe, mas de ideias abstratas
como as de honra e lealdade (na sociedade aristocrática) e as de liberdade e igualdade
(na sociedade burguesa). (MARX; ENGELS, 2007, p. 32)” p.14
“Marx e Engels discutem em suas obras alguns conceitos importantes para compreender
a construção da sociedade moderna, dentre os quais vamos falar de três: ‘forças
produtivas’, ‘relações de poder’ e ‘luta de classes’.”p.15
“(…) o início da sociedade moderna, ela foi marcada pelas mudanças nas relações de
produção; as novas formas de organização da vida social; o trabalho assalariado; o
crescimento das cidades de forma desordenada e, portanto, acrescido de vários
problemas sociais e urbanos; a renúncia das explicações sobre o mundo, somente por
fontes sobrenaturais; e a busca por um conhecimento sobre o mundo por meio da razão.”
p.15/16
Seção 2
“Na estrutura do Estado Absolutista havia três diferentes Estados: Primeiro Estado:
representado pelo alto clero (bispos, abades e cônicos) e baixo clero (sacerdotes pobres).
Seus integrantes eram isentos de pagar os impostos. Segundo Estado: representado pela
nobreza ou aristocracia francesa.(…) Seus integrantes também não pagavam impostos e
tinham acesso a cargos públicos. Terceiro Estado: representado pela burguesia, que se
dividia entre membros do baixo clero – comerciantes, banqueiros, empresários, os sans-
culottes (os que não podiam vestir roupas nobres) – e por trabalhadores urbanos e os
camponeses, totalizando a grande maioria da população. Eram obrigados a pagarem
impostos extremamente caros, para sustentar os luxos da nobreza. (…)” p.22
Seção 3
“No final do século XVIII e durante todo o século XIX, aconteceu na Inglaterra a
Revolução Industrial. A primeira Revolução Industrial aconteceu na Grã-Bretanha, que,
apesar de ser um país pequeno, possuía condições estáveis de transporte e uma classe
social que era a nobreza, bem diferente dessa mesma classe na França. O nobre na Grã-
Bretanha se assemelhava ao burguês da França, enquanto perfil, e tinha dinheiro para
investimentos.” p.32
“Com a expansão das indústrias e a redução dos preços dos produtos, esses profissionais
começaram a ficar desempregados e foram obrigados a vender a sua força de trabalho
por um salário que não era o bastante, servindo somente para as necessidades básicas.
Essa população precisou migrar para as cidades e viver ao redor das fábricas. Surgiam
cada vez mais proletariados.” p.33
Seção 4
“As ciências sociais possuem suas raízes na Revolução Francesa (França de 1789) e na
Revolução Industrial (Inglaterra de 1800). Nesse período histórico, os europeus passavam
por transformações em sua vida e estrutura social, deixando os costumes e tradições de
uma economia baseada na manufatura (feudalismo) e adequando-se às demandas de
uma economia capitalista. Um período de muita mudança e de insatisfação que,
consequentemente, levou à origem de conflitos e tensões.” p.41-42
“(…) O positivismo proposto por Comte considera a ciência como a única forma de
conhecimento verdadeiro, separando-o de conhecimentos ligados a crenças, superstições
ou outros que não pudessem ser comprovados por meio dos métodos científicos. O
conhecimento científico veio ganhando forças. É importante ressaltar que o positivismo
defendido por Comte procura a estabilização da nova ordem, ou seja, procura, por meio
de um pensamento mais racional, proporcionar aos homens a aceitação da ordem
capitalista existente. Ainda não foi com a sociologia baseada no pensamento positivista
que foram colocados em questão os fundamentos da sociedade capitalista. A sociologia,
muito jovem ainda, aos poucos, se preocupava em repensar e compreender o problema
da ordem social vigente.” p.42
“O caminho percorrido por Marx com relação à sua compreensão sobre a sociedade
capitalista possui dois momentos: o primeiro, em que, por meio da ideia hegeliana – na
versão que lhe davam os jovens hegelianos (oposição) –, inicia estudos sobre a
sociedade e críticas ao modelo do capitalismo vigente; e o segundo momento, mais
amadurecido – em parceria com Engels –, em que compreende a política econômica
como a limitação impiedosa entre os homens, consagrando a alienação das forças sociais
no poder do capital (MARX; ENGELS, 2007). Para Marx e Engels, qualquer fenômeno
social precisa ser investigado a partir da análise da base econômica da sociedade em
vigência.” p.44
“Outro detalhe importante que deve ser considerado na teoria marxista é a importância
que coloca no conhecimento da realidade social para conversão em instrumento político,
o que promove a orientação das classes sociais para a transformação da sociedade e a
emancipação dos indivíduos.” p.44
“No final do século XIX e início do século XX, a sociologia contou com a contribuição do
pensador Max Weber, quem também foi um marco de referência para os estudos dessa
ciência. Weber se dedicou a manter a distinção entre o conhecimento científico e os
julgamentos de valor sobre a sociedade. Weber foi influenciado pelo contexto intelectual
alemão da sua época, por algumas ideias de Kant, como a de que todo indivíduo possui
capacidade e vontade para assumir uma posição consciente diante do mundo. Weber
recebeu também forte influência do pensamento marxista, porém não concordava com o
princípio de que a economia dominava as demais esferas da realidade social e nem
considerava o capitalismo um sistema injusto. Considerava o capitalismo um sistema
preciso e eficiente (MARTINS, 1994).” p.44-45
Unidade 2
Seção 1
“Numa primeira dimensão, o homem está frente ao mundo natural, mundo que não foi
construído por ele, regido por leis próprias, independentes de qualquer desejo ou
intervenção humana. Tentamos incessantemente compreender e atuar no mundo que vai
se humanizando ao longo da História por nossa ação intencional e direta. Essa
intervenção milenar do homem, geração após geração, de forma incessante, produz a
segunda dimensão na qual vivemos: a cultura.” p.60
“Perceba como isso amplia as diferenças entre o ser humano e o animal, diferenças que
não são apenas de grau: enquanto o animal permanece mergulhado na natureza e
determinado exclusivamente por ela, nós somos capazes de transformar a natureza em
cultura. Ao forjar o homem, ao proporcionar sua dimensão humanística, a cultura
enriquece a natureza, acrescentando assim algo à natureza. É através desse ininterrupto
processo que transitamos do estado natural ao estado cultural.” p.61
“Para Costa (2005), foi necessário entender as bases da vida social humana e da
organização da sociedade usando um pensamento que permitisse a observação, o
controle e a formulação de explicações plausíveis. A busca pela cientificidade da
sociologia passa pela credibilidade que suas formas assumem frente a um mundo
marcado pelo racionalismo – pela crença no poder da razão humana em alcançar a
verdade – a fim de que fosse, então, possível prever e controlar os acontecimentos
sociais a partir do uso de eficientes mecanismos de intervenção.” p.62-63
“Um dos mais importantes teóricos da sociologia, o alemão Max Weber (1864-1920),
desenvolveu a base de seu pensamento sociológico observando o indivíduo. Para Weber,
o indivíduo é responsável pela ação social. Mas o que é ação social? É a conduta
humana dotada de sentido: o indivíduo age conduzido por motivos que resultam da
influência da tradição, da emotividade e dos interesses racionais.” p.64
Seção 2
“Segundo Chaui (2014), a variação das condições materiais de uma sociedade constitui a
história dessa sociedade, e Marx as nomeou de modos de produção. A História é a
mudança, a transformação ou a passagem de um modo de produção para outro. Mas
essa mudança não ocorre por simples acaso ou por decisão e vontade livre dos homens,
ela ocorre, na verdade, conforme as condições econômicas, culturais e sociais
previamente estabelecidas. Observe que essas condições podem ser alteradas de uma
forma também determinada, graças à práxis humana frente às condições dadas.” p.74-75
“Em sua origem, a palavra alienação vem do latim alienus, que significa ‘de fora’,
‘pertencente a outro’. Em razão disso, carrega, em princípio, um conteúdo jurídico que
designa a transferência ou venda de um bem ou direito. Mas, desde Rousseau (1712-
1778) passou a predominar como significado para o termo a ideia de privação, de
exclusão, de falta. Marx absorve o sentido de injustiça, de desumanização e faz desse
conceito peça-chave de sua teoria para compreender a exploração econômica que o
capitalismo exerce sobre o trabalhador. Usa a palavra para descrever a falta de contato e
o estranhamento que o trabalhador tinha com aquilo que produzia.” p.75
“Marx vê a história humana como a história da luta de classes, da constante disputa por
interesses que se opõem, mesmo que tal oposição nem sempre se revele socialmente
sob a forma de guerra declarada. De modo muito interessante, Costa (2005) afirma que
as divergências e antagonismos das classes estão em todas as relações sociais, nos
mais variados níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da
sociedade.” p.78
Seção 3
“É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão
de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria,
independente de suas manifestações individuais. (DURKHEIM, 1999, p. 13)” p.88
“A sociologia é uma ciência recente. No final do século XIX ainda estava se firmando
como ciência e buscava pelo seu objeto de estudo de forma clara e objetiva. É quando
entra em cena Émile Durkheim – sociólogo, psicólogo social e filósofo francês –,
empenhado em criar regras para o método sociológico e atribuir status de saber científico
à sociologia, assim como é comum às demais áreas do conhecimento. Durkheim é
considerado um dos fundadores da sociologia moderna. Com suas contribuições, o
campo sociológico se estabeleceu como uma nova ciência e, juntamente com Karl Marx e
Max Weber, é citado como o principal arquiteto da ciência social moderna. Durkheim é um
dos responsáveis pela sistematização dessa nova área de conhecimento, delimitando o
campo de trabalho e as formas pelas quais a sociologia aborda seus objetos de estudo. É
Durkheim que traz para a sociologia esse objeto. Para ele, caberia à sociologia estudar os
‘fatos sociais’.” p.88
“As formas de sentir, pensar e agir carregam normas, regras, crenças, valores morais. Por
isso, os fatos sociais estão relacionados aos processos culturais, aos costumes e hábitos
coletivos de um grupo de indivíduos ou de uma sociedade. Esses elementos associados
dão uma identidade, conferem uma marca ao grupo, ao que chamamos de ‘consciência
coletiva’, e também atuam como limite às ações individuais. O controle que os fatos
sociais exercem sobre o sujeito tem como principal objetivo manter a harmonia no corpo
social, o equilíbrio na convivência que se dá nas relações sociais. A manifestação dos
fatos sociais é o que interessa à sociologia.” p.88
“(…) A proposta de Durkheim é que os fatos sociais devem ser vistos como se fossem
“coisas”, como objetos passíveis de análise, tratados com a devida neutralidade científica.
Para ele, precisamos investigar os fatos buscando as verdadeiras leis naturais que regem
o funcionamento e a existência destes, pois possuem existência própria e são externos
em relação às consciências individuais.” p.89
“Nem tudo o que uma pessoa faz pode ser considerado um fato social, pois, para ser
identificado como tal, tem que atender a três características: coercitividade, exterioridade
e generalidade. (…) 1. Coercitivo – permite uma coerção social: todo fato social deve
limitar, controlar a ação dos indivíduos no meio social. O fato social condiciona as
pessoas a seguirem as normas, as regras da sociedade independentemente da vontade
ou da escolha individual. (…) 2. Externo – é exterior aos indivíduos: significa que todo
fato social nasce da coletividade: a vontade do grupo prevalece sobre a individual,
independentemente do que um sujeito quer, de forma isolada. (…) 3. Geral – possui uma
generalidade: os fatos sociais possuem uma generalidade, isto é, se expressam de
forma comum ou geral àquela sociedade. A generalidade de um fato social, sua quase
unanimidade, é garantia de normalidade, porque representa o consenso social, a vontade
coletiva, o acordo de um grupo a respeito de uma certa questão.” p.90-91
“Mesmo com essas diferenças, tanto a solidariedade orgânica como a mecânica possuem
em comum a função de proporcionar uma coesão social, uma ligação entre os indivíduos.
Nos dois tipos de solidariedade social existem regras: nas sociedades mais simples de
solidariedade mecânica, prevalecem as regras não escritas, de aceitação geral; nas
sociedades mais complexas de solidariedade orgânica, as leis são escritas, com suportes
jurídicos complexos.” p.92
“Da ótica marxista, as classes constituem um intrincado sistema de relações, cada uma
das quais pressupõe a outra, encontrando na coexistência condição essencial. Mesmo
indicando a permanente oposição entre opressores e oprimidos, Marx não descarta que
há outras classes. Mas, ao fazer a análise da desigualdade social, privilegia as classes
consideradas como fundamentais para determinar os caminhos que a sociedade
capitalista percorreria. Para Marx, as demais classes estavam num segundo plano sob o
ponto de vista político e social ou, ainda, orbitando em torno das classes fundamentais.”
p.94
Seção 4
“Conforme aponta Costa (2005), Weber também não negou que as tradições e os valores
continuam a influenciar as ações do homem moderno, mesmo que em menor proporção.
Mas ressaltou que há uma diferença marcante na sociedade moderna justamente nesse
ponto: a supremacia de uma lógica voltada aos resultados, e não em valores, emoções e
tradições.” p.104
“Veja que interessante o que Costa (2005) destaca: para Weber, a sociedade coloca cada
vez mais foco nas relações racionais, estratégicas, reflexivas. As ações sociais se
estabeleceriam sobre estratégias e cálculos voltados para a ação do outro, o que
podemos traduzir por ‘racional’. Calcular suas ações, planejar, estabelecer metas, buscar
meios eficientes para alcançá-las, são características imprescindíveis para quem deseja
estar em conformidade com o mundo moderno, marcado pela lógica capitalista.” p.104
“Costa (2005) ainda destaca que, para Weber, embora os acontecimentos sociais possam
ser quantificáveis, a análise social envolve qualidade, subjetividade, compreensão e
interpretação. Para compreender como a ética protestante interferia no desenvolvimento
do capitalismo, Weber analisou os livros sagrados e interpretou os dogmas de fé do
protestantismo. Foi a compreensão da relação entre valor e ação que permitiu a Weber
entender a relação entre religião e economia.” p.104
“(…) para Weber, autoridade é o estado que permite o uso de certo poder, mas que está
ligado a uma estrutura social e a um meio administrativo diferente. Ele abstraiu três tipos
puros de dominação que regem a relação entre dominantes e dominados: a legal, a
tradicional e a carismática. Cada tipo se legitima em bases diferentes: 1. Dominação
legal: baseia-se na existência de um estatuto que pode criar e modificar as normas. É
uma relação desprovida de sentimentos, apoia-se unicamente na hierarquia, no
profissionalismo. A base do funcionamento é a disciplina. O dever da obediência se revela
na hierarquia de cargos com subordinação dos inferiores aos superiores. (…) 2.
Dominação tradicional: é aquela que se dá em virtude da crença na ‘santidade’ das
ordenações e dos poderes senhoriais. O tipo mais puro da dominação patriarcal é aquele
segundo o qual o senhor ordena e os súditos obedecem. Seu quadro administrativo é
formado por servidores. Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade, santificada
pela tradição, por fidelidade. (…) 3. Dominação carismática: caracteriza-se pela
submissão de uma comunidade a uma pessoa em razão de seus dotes sobrenaturais. É a
devoção afetiva do grupo à pessoa do senhor graças ao carisma, à vocação pessoal, à
crença no profeta, à qualidade do herói. Quem manda é um líder e quem obedece é o
discípulo. O quadro administrativo é formado segundo o carisma e as vocações pessoais.
(…)” p.107-108
“Assim como Marx, Weber percebia as classes como categorias econômicas (WEBER,
1946 [1922], p. 180-95). (…) A posição de classe, escreveu, é determinada pela ‘situação
de mercado’ da pessoa, o que inclui a posse de bens, o nível de educação e o grau de
habilidade técnica. Nessa perspectiva, Weber definiu quatro classes principais: grandes
proprietários; pequenos proprietários; empregados sem propriedade, mas altamente
educados e bem pagos; e trabalhadores manuais não proprietários. (…)” p.108
“Dias (2014) aponta que Weber, diferentemente de Marx, insistiu que apenas uma
característica da realidade social – como classe social, fundamentada no sistema de
relações de produção – não explicaria totalmente a posição do sujeito inserido no sistema
de estratificação. Usa então três dimensões da sociedade com a finalidade de identificar
as desigualdades: a econômica, a social e a política. Essas três dimensões, para Weber,
estão relacionadas com três componentes analiticamente distintos de estratificação:
classe (riqueza e renda), status (prestígio) e poder. Assim, a posição do indivíduo dentro
do sistema de estratificação se comporia pela combinação de sua classe, seu prestígio e
seu poder. Essas três dimensões também poderiam ocorrer de forma independente,
determinando a posição de uma pessoa no sistema de estratificação.” p.108-109
“Outro importante conceito elaborado por Weber é o de estamento. Para ele, o estamento
é formado por quem compartilha uma situação estamental, um privilégio típico, negativo
ou positivo, apoiado sob três pilares: no modo de vida, no modo formal de educação e no
prestígio obtido de forma hereditária ou profissional.” p.109-110
Unidade 3
Seção 1
“Há alguns fatores que propiciaram o rompimento do homem europeu com o mundo
medieval, lançando-se aos mares: a. O primeiro deles foi que, no século XV, a produção
agrícola não conseguia mais atender à demanda dos centros urbanos. (…) A solução
encontrada era tentar ampliar a Europa por meio da expansão marítima para alcançar
novos comércios através de produtos buscados e de alto valor, as especiarias. (…) b.
Outro fator importante foi a aliança entre os reis e a burguesia: um empreendimento do
vulto das grandes navegações só se concretizaria com um Estado rico que contasse com
o capital da burguesia. c. O terceiro fator foi o avanço técnico e científico que propiciou o
desenvolvimento da astronomia e da cartografia e a construção de equipamentos e
instrumentos, tais como bússola, astrolábio, sextante, caravela, dentre outros.” p.124
“Observe como agora, vencido o embate capitalismo versus comunismo, o regime de livre
mercado passou a ser praticado compondo uma economia ‘livre’. A necessidade de
expandir seus mercados levou os países, pouco a pouco, a se abrirem para produtos de
outras nações, configurando então um novo crescimento da ideologia econômica do
liberalismo, chamado de neoliberalismo.” p.125-126
“A expressão ‘globalização’ tem sido usada mais recentemente para se referir
principalmente a um processo de integração econômica que se caracteriza pelo
predomínio dos interesses financeiros. Esse é um dos principais motivos pelos quais
vários estudiosos a apontam como responsável por ampliar a exclusão social.” p.126
“A ideia de uma sociedade estabelecida sob múltiplas redes que organizam áreas de
ação, trocas, relação, reforça nossa certeza de que vivemos uma forte interdependência
no mundo globalizado. Veja como nos remete à reciprocidade, à relação dialética que se
configura entre nós, os conectados pelas redes.” p.128
Seção 2
“Os termos ‘economia global’ e ‘globalização’ têm sido usados para caracterizar o
processo atual de integração econômica, que agora se faz em escala planetária, com a
consequente perda de importância das economias nacionais. Perceba como uma das
decorrências desse processo é a forte divisão que se estabelece entre as nações que
pensam, idealizam, elaboram novos produtos daquelas que os produzem, que entregam
mão de obra barata na execução e que serão possíveis consumidores. Analise também o
valor decorrente de tais processos: tem muito mais valor quem retém a ideia, o projeto, do
que quem realiza a manufatura.” p.138
“Para Giddens (1991), a vida social sempre se organizou através do tempo e do espaço.
Porém, o que vemos na globalização é um afrouxamento do tempo-espaço como nunca
ocorreu antes. Vivenciamos atualmente relações entre formas sociais e eventos locais e
distantes que se tornam ‘alongadas’. A globalização se refere a esse processo de
alongamento uma vez que as conexões entre diferentes regiões e contextos sociais se
alastraram através da Terra como um todo. Costa (2005) nos alerta para o
desenraizamento que agora se aprofunda e se alarga. Podemos nos sentir distantes de
nossos vizinhos e, muitas vezes, mais próximos e irmanados de pessoas que não
conhecemos, mas com as quais temos relações de dependência e troca.” p.139
Seção 3
Efeitos da globalização
“As culturas estão sempre em transformação, mesmo que não notemos. Quando uma
determinada cultura é exposta à outra, há uma adaptação. Essa adaptação é uma
exigência das necessidades sociais, daquele cenário específico em questão. Essa forma
de adaptação das culturas é particular a cada momento, já que a própria sociedade
também não é sempre a mesma.” p.153
Seção 4
“Note como se estabelece uma relação perversa: há uma certa tendência das indústrias
para se instalarem em países mais desenvolvidos, nos quais as atividades na área de
tecnologia, comunicação, engenharia e comércio são acentuadas e mais promissoras.
Porém, as atividades de produção, as de nível operacional, tendem a concentrar-se em
países menos desenvolvidos. Isso se dá porque o custo de mão de obra e as exigências
de proteção ao meio ambiente são menores nesses países. Nos locais onde as
legislações ambientais são pouco restritivas, é possível produzir sem a preocupação de
poluir.” p.164
“As atividades do modo de produção capitalista, com uma clara política voltada ao
crescimento econômico, têm se revelado prejudiciais dadas as consequências que
imputam, principalmente em duas esferas: ambiental e social. Poluição, problema da
absorção e descarte dos diversos tipos de rejeitos e resíduos, esgotamento das fontes de
energia, desemprego, miséria, fome, problemas de infraestrutura e tantos outros
problemas sociais são alguns exemplos.” p.166-167
“Essas decisões traçam um novo caminho que culmina tanto na análise de uma visão
complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos que a sociedade
globalizada implementa, como também na necessidade inadiável de assumirmos uma
postura ética e responsável. O desenvolvimento sustentável, para Brüseke (1996), é o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem arriscar que futuras
gerações não possam satisfazer as necessidades delas. Esse conceito apresenta um
novo paradigma apoiado no tripé ‘eficiência econômica – prudência ecológica – justiça
social’. (…)” p.168
Unidade 4
Seção 1
“A antropologia é uma ciência social. Ela se divide em diversos ramos, entre os quais a
antropologia biológica e a antropologia cultural. Há indícios de que os trabalhos feitos
pelos viajantes dos séculos XVIII e XIX podem ser considerados estudos antropológicos;
contudo, podemos dizer que, apenas no final do século XIX, a antropologia, como as
demais ciências sociais, entre elas a sociologia, adquire objeto e método. Os estudos
antropológicos são centrados no entendimento do homem enquanto ser completo,
formado pelas dimensões biológica, social e cultural, e do modo como estas se inter-
ligam e influenciam a vida social seja das sociedades ditas primitivas, seja das
sociedades complexas.” p.178
“O conceito de cultura aqui empregado refere-se ao que foi chamado por Santos (2006, p.
24) de ‘existência social de um povo ou nação’, expressa em suas maneiras de ser,
pensar, agir e de construir sua vida material e social. Essa existência social, constituída a
partir das relações dos indivíduos com a natureza e entre si, constrói padrões sociais e
culturais de relacionamento entre os indivíduos. Esses padrões podem também ser
chamados de costumes, tradições ou mesmo normas sociais. Eles são produzidos nas
relações cotidianas entre os homens e, em um primeiro momento, não precisam de leis
que as regrem. A própria sociedade cuida de que essas normas sociais sejam
obedecidas.” p.179
“O costume e a tradição têm origem nas relações sociais estabelecidas pelos indivíduos.
Elas são a cristalização de alguns hábitos sociais. Max Weber, sociólogo alemão, mostra
em sua obra Metodologia das ciências sociais que o costume é algo que é realizado com
certa regularidade e que orienta determinadas ações. Assim, as pessoas baseiam-se
nesses costumes para refletir e orientar as ações que realizam cotidianamente. Dada a
proporção que o costume adquire, ou mesmo a necessidade de se tornar algo mais forte
no seio da sociedade, ele torna-se uma convenção e poderá ser incorporado ao corpo de
leis que regem aquela sociedade.” p.179
“Assim, a cultura, que também se erige por questões biológicas e geográficas, é que
regulamenta a vida dos homens em sociedade. Por isso, é preciso observar quais são as
influências que a cultura possui nas relações cotidianas, de que forma ela se expressa e
quando as pessoas procuram construir discursos utilizando a natureza como forma de
justificar desigualdades e produzir hierarquizações, preconceitos e discriminações.” p.180
“No entanto, esse país e esse Estado não funcionam se não houver um povo que se sinta
a ele integrado, que se denomine brasileiro por sentir-se representado em termos
políticos, econômicos, sociais e, além de tudo, culturais. Para que haja essa integração é
necessária a construção da Nação. O conceito de Nação refere-se a um grupo de
indivíduos que ocupam um mesmo território e, em razão disso, possuem vínculos
socioeconômicos e políticos e, principalmente, uma identidade comum.” p.182
“Podemos dizer que a identidade de uma nação pode ser atribuída pela origem comum
existente entre os indivíduos. O fato de partilharem um mesmo território pode levá-los a
construir uma história comum, seja por essa origem, seja pelos fatos históricos que
marcam suas vidas e que os fazem construir um conjunto de sentimentos, ideias e
costumes comuns. É possível então falar que essa identidade comum é a conformação de
uma unidade moral incorporada pelos indivíduos que, mesmo diferentes, possuem
costumes, ideais e hábitos similares, construindo um passado, um presente e um futuro
comuns. A esse sentimento que advém dessa identidade, que faz o indivíduo sentir-se
parte de um grupo e de sua história, podemos chamar de identidade nacional. A
identidade nacional é constituída por um conjunto de símbolos e tradições que ligam os
homens à nação, entendida em relação não só a seus vínculos socioeconômicos e
políticos, mas também, e principalmente, à cultura e à identidade comum daqueles que
dela fazem parte.” p.182
“Esse etnocentrismo não é expresso apenas pela valorização dos padrões culturais e
sociais dos países ocidentais. Ele também é observado na afirmação das diferenças, mas
em caráter negativo. O etnocentrismo refere-se à afirmação da diferença entre raças ou
etnias, no sentido de considerar uma melhor do que a outra, razão pela qual o
comportamento, o hábito e o costume de outras etnias são vistos como inferiores ou
mesmo absurdos.” p.184
Seção 2
“Lemos constantemente nos livros de história que o Brasil foi descoberto. Os livros
relatam que em 22 de abril de 1500 a esquadra de Pedro Álvares Cabral aportou em
terras brasileiras, tornando este local conhecido do mundo. Mas quando os portugueses
aqui chegaram já havia um povo habitando estas terras.(…)” p.191
“Os indígenas ocupavam boa parte do território hoje chamado Brasil. As terras mais
adentro do país já estavam na mira dos portugueses e foram objeto de acordo entre
Portugal e Espanha no Tratado de Tordesilhas no tocante a seu domínio e sua
exploração. No entanto, o povoamento português, em um primeiro momento, ficou restrito
à costa, na qual os colonos portugueses foram se instalando e criando as capitanias
hereditárias.(…)” p.191
“O Tratado de Tordesilhas foi um acordo realizado entre Portugal e Espanha que limitou o
domínio dos dois países nas terras americanas. Ele foi assinado antes mesmo da
descoberta do Brasil, em 1494, a fim de dividir as terras já encontradas e aquelas que
viriam a ser encontradas. O Tratado de Tordesilhas tem origem na Bula Papal de
Alexandre VI, assinada em 1493.” p.192
“”(…) Depois do saqueio do pau-brasil, as terras brasileiras foram tomadas pela cana-de-
açúcar, que, para efetivamente render, deveria ser plantada em larga escala, o que levou
a um questionamento: quem trabalharia nessas terras? O português chegava aqui para
tornar-se explorador e não trabalhador.(…)” p.193
“Um dos grandes objetivos da Companhia de Jesus, missão católica comandada por
jesuítas que ficou conhecida pela atuação de José de Anchieta, foi catequizar os índios,
convertendo-os ao catolicismo e tornando-os partícipes dessa sociedade portuguesa
transplantada, de forma torta, para o Brasil. Contudo, a participação dos índios restringia-
se à sua atuação na plantação e nada mais. Acostumados à vida livre, ao ordenamento
social regido pela tribo, os índios não se adaptaram à ideia do trabalho na lavoura, que
vinha acompanhado de uma rígida disciplina capitalista e do trabalho constante sem
trocas econômicas, em regime de escravidão. Dizimados em um primeiro momento pelas
inúmeras doenças trazidas pelos portugueses após meses no mar, eles foram
paulatinamente sendo mortos por sua resistência à escravidão.” p.193
“Nesse sentido, era preciso pensar em como explorar efetivamente essa terra fértil,
tirando dela aquilo que ela tinha de melhor, até esgotá-la. A escravidão negra entra então
para suprir a ‘falta’ de mão de obra nas lavouras brasileiras. Estimulados pelo tráfico
negreiro ativo desde antes do descobrimento do Brasil, os portugueses introduziram um
novo povo nessa terra, contribuindo para a formação do povo brasileiro. ‘Surgimos da
confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas
e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.’ (RIBEIRO,
1995, p. 19)” p.193
“A cultura indígena também deixou a sua marca em nossa língua. Apesar de o português
ter se tornado a língua dominante, doravante por sua imposição por meio da catequese e
do extermínio indígena, temos em nosso vocabulário diversas palavras dos troncos
linguísticos indígenas.” p.194
“Os negros vieram para estas terras efetivamente para trabalhar. Nela aportaram na
condição de mão de obra escrava – modelo que durou mais de 300 anos. Trouxeram
consigo a sua religião, à qual se agarravam em momentos de sofrimento e dor, quando
perdiam seus filhos pela fome ou um ente querido pelo trabalho extenuado na lavoura.”
p.195
“O objetivo então era explorar e saquear. Dessa forma, aqueles que aqui chegavam
vinham não para colonizar efetivamente e criar um lugar para viver, mas para retirar o
máximo que pudessem destas terras e deixá-las ao léu. Isso mudou com a necessidade
de a Coroa Portuguesa ter uma nova sede diante das invasões napoleônicas. Foi só a
partir de 1808, com a chegada da família real ao Brasil, que se desenvolveram
efetivamente uma economia brasileira e um conjunto de instituições, como bancos,
hospitais e escolas, até então quase inexistentes. Os portugueses assim também nos
legaram a nossa formação administrativa, que já vinha com os vícios da coroa, aqui
perpetuados.” p.195
“Inúmeros estudos realizados por sociólogos brasileiros e estrangeiros (…) ressaltam que
no Brasil não existe discriminação racial, vivendo brancos e negros ‘harmoniosamente’. O
preconceito aqui seria de classe, legando aos mais pobres a razão dos problemas
brasileiros. Contudo, estudos posteriores, em especial aqueles financiados pela Unesco
(Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura) na década de
1950, desconstruíram o mito da democracia racial. Mostraram os traços das culturas
africana, indígena e portuguesa na cultura brasileira, mas evidenciaram que há entre os
brasileiros um desprezo àquilo que vem dos negros, em especial em razão de sua cor.
Contudo, ainda continuamos negando que sejamos preconceituosos e discriminadores.
Continuamos proclamando que somos um único povo, sem diferenças, unidos sob o signo
da unidade nacional!” p.197
“(…) há parte do povo brasileiro que acredita não haver preconceito de nenhuma ordem
no Brasil. Não há preconceito de cor e muito menos de classe. Para essas pessoas todos
são livres e têm as mesmas oportunidades de construir a sua vida, basta querer. Para
essa parte da população, se você estudar e trabalhar bastante, você conseguirá atingir os
lugares ocupados pelos ricos, pela elite econômica e pela elite intelectual. A meritocracia
é a base desse pensamento.” p.198
Seção 3
“Preconceito refere-se a uma atitude dos indivíduos. Ele não expressa efetivamente uma
ação, mas um pensamento, uma valoração sobre algo. Émile Durkheim, sociólogo
francês, dizia que os pré-conceitos são as valorações que os sujeitos constroem sobre a
sociedade a partir de sua relação com ela. Um exemplo são os estereótipos. Eles são
construções sociais que nos permitem reduzir o esforço de reconhecimento dos papéis
sociais. Contudo, a constituição dos estereótipos é feita a partir dos valores que
imputamos a um papel social. Os estereótipos tornam-se assim valorações e julgamentos
dos diversos tipos sociais.(…)” p.205
“(…) a mulher sofre preconceito em relação ao papel social construído para ela, que a
coloca em condição de submissão em relação ao homem, à família e à própria sociedade.
Durante séculos a mulher não pôde participar de inúmeras atividades da sociedade,
incluindo a vida política. (…) A rua, espaço público, destinado ao trabalho e às discussões
políticas, era o universo masculino, habitado por homens, do qual apenas estes poderiam
fazer parte. A casa, espaço privado, era o lugar do cuidado, da família e, por isso, o lugar
das mulheres que as chefiavam e cuidavam da família, do marido e do trabalho
doméstico. Essa divisão social colocou os homens em posição de destaque e relegou as
mulheres a posições secundárias na sociedade.” p.206-207
Seção 4
“(…) Somos diferentes em termos sexuais, ou seja, existem homens e mulheres; somos
diferentes em nossos corpos, com os diferentes tipos de cabelos, de olhos, de pele; às
vezes carregamos em nossos corpos algum tipo de deficiência, uma perna mais curta do
que a outra ou uma dificuldade na visão. Também somos diferentes socialmente, com
ocupações, qualificações e rendas distintas. A diferença faz parte de nossas vidas! Toda
essa diferença mostra o quanto o ser humano é diverso. No entanto, toda essa
diversidade, infelizmente, não se traduz em algo positivo. A diversidade, na maioria das
sociedades, resulta em situações de discriminação e segregação. Isso acontece porque,
(…) cria-se, a partir de fatores culturais, um padrão de ‘normalidade’ nas sociedades. As
pessoas, em boa parte aquelas consideradas autoridades em determinados assuntos,
junto com os próprios membros de uma dada sociedade, constituem o que é ser normal
nessa sociedade, ou seja, aquilo que está dentro da norma socialmente aceita.” p.218
“(…) Nos Estados Unidos, durante décadas, os negros não puderam frequentar os
mesmos lugares que os brancos, havendo, inclusive, banheiros separados para negros e
brancos. Apesar de o negro fazer parte da sociedade de classes, a todo tempo lhe era
lembrada a sua posição nessa sociedade. As políticas de ações afirmativas mudaram
esse quadro, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Essas políticas surgiram da luta
de movimentos engajados na garantia dos direitos aos públicos excluídos, como o
movimento negro. Eles lutam e requerem, junto às instituições cabíveis, a mudança de
leis e a criação de políticas que permitam a essas parcelas discriminadas da população
terem acesso igual a direitos como educação, saúde, emprego, entre outros.” p.219
“Há quem diga que esse tipo de política gera discriminação. E, como observado
anteriormente, gera mesmo, uma vez que ela é destinada apenas a uma parcela da
sociedade. No entanto, essa discriminação é considerada positiva e necessária para
permitir que essa parcela da sociedade, privada de tantos outros direitos, consiga ter o
mesmo acesso que a outra parcela, para quem direitos básicos, como o acesso à
educação de qualidade e ao emprego, não foram negados.” p.219-220
“Como vimos nas seções anteriores, no caso das questões raciais, os negros foram
privados de acesso aos estratos mais altos da estrutura social em decorrência da posição
que ocuparam no Brasil colonial. O fato de os negros terem trabalhado como mão de obra
escrava e de a abolição da escravidão, em 1888, não ter estabelecido políticas que os
incluíssem na sociedade que se constituía legou-lhes posições subalternas nessa
sociedade, em decorrência da ausência de renda, de qualificação profissional, de
escolaridade, fatores que não os permitiam competir em igualdade com o restante da
população.” p.220
“O movimento feminista, em suas diversas vertentes, luta para modificar essas relações.
Entre suas variadas pautas, aliada aos movimentos de trabalhadores estava a
regulamentação do trabalho doméstico no Brasil, cuja mão de obra é predominantemente
feminina. A regulamentação foi aprovada pela Emenda Constitucional 72, que estendeu
direitos como férias, 13º salário e Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) a
essa categoria de trabalhadores.” p.221
“As questões de gênero e raça também devem ser pensadas em suas intersecções com a
classe. Classe é um fator de discriminação importante no Brasil. Como vimos nas seções
anteriores, o mito da democracia racial ratificou a permanência de um imaginário no qual
o preconceito de classe era predominante no Brasil. Sua presença se faz bastante forte,
no entanto vem acompanhada dos preconceitos de raça e gênero.” p.222
“O conceito de classe possui inúmeras definições dentro da sociologia. Karl Marx e Max
Weber, por exemplo, definem-no pelo critério econômico. Para o primeiro, a classe é
definida pela posição do indivíduo nas relações de produção e, para o segundo, pela sua
posição positiva ou negativamente privilegiada no mercado. Autores contemporâneos,
como Pierre Bourdieu, acrescentam outros elementos à definição de classe. Para
Bourdieu, os indivíduos são dotados de capitais impessoais e pessoais, sendo os
primeiros, o capital econômico e o capital cultural, importantes definidores da posição de
classe dos indivíduos (BOURDIEU, 2007).” p.222-223
“Podemos dizer que, no Brasil, a noção de capitais de Pierre Bourdieu, no qual renda,
ocupação e prestígio social são fatores de diferenciação e indicam a posição ocupada
pelo indivíduo na estrutura social, tornou-se predominante. No Brasil, ainda guardamos os
resquícios da cultura bacharelesca com a denominação de todos os que ocupam
posições de destaque, como diretores de empresas e políticos, além dos tradicionais
médicos e advogados, como doutores, ainda que estes não tenham tal título. Tais
denominações são parte do prestígio social que essas ocupações possuem, atribuído
pela sociedade.” p.223
“(…) é possível ver que as políticas de ações afirmativas, como as cotas, são resultados
da luta de movimentos sociais engajados na busca e na garantia dos direitos de parcelas
da população em condição de vulnera- bilidade social. Elas também são importantes
instrumentos na garantia dos direitos básicos a esses grupos e na promoção de uma
sociedade mais justa e igualitária, fundamento de uma sociedade que se pretende ser
democrática.” p.224