Objeto e Princípio Da Vinculação Temática
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VINCULAÇÃO TEMÁTICA
RESOLUÇÃO DOS CASOS PRÁTICOS N.OS 1, 2 E 3
¡ Descoberta de facto novo: o arguido arrancou o canhão da fechadura da garagem comum do prédio identificado
na acusação e descarnou os fios da fechadura elétrica;
¡ Facto totalmente independente ou não? O facto não é totalmente independente, uma vez que existe um núcleo
comum mínimo de identidade com o objeto do processo;
¡ Alteração substancial ou não substancial de factos?
¡ Critério 1.º, alínea f) do CPP – o furto simples torna-se furto qualificado, o que leva a um agravamento dos limites máximos das
sanções aplicáveis; dispensa da verificação se estamos perante um crime diverso, uma vez que o critério quantitativo está
cumprido;
¡ Aplicação do regime artigo 359.º do CPP.
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 1
Tribunal Constitucional
Ac. 237/2007 Ac. 226/2008
(proferido na vigência da lei antiga) (proferido na vigência da lei nova)
Não inconstitucionalidade da norma do artigo 359.º do Não inconstitucionalidade da norma do artigo 359.º do
CPP, na redação anterior, quando interpretada no CPP, quando interpretada no sentido de que, perante
sentido de permitir, nas situações em que os factos uma alteração substancial dos factos descritos na
novos são não autonomizáveis em relação ao objeto do acusação ou na pronúncia, resultante de factos novos
processo, a absolvição da instância e a que não sejam autonomizáveis em relação ao objeto do
comunicação ao MP para que este procedesse processo, o tribunal não pode proferir decisão de
pela totalidade dos factos. extinção da instância em curso e comunicar ao MP
para que este proceda pela totalidade dos factos
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 1
¡ Questão 2.1.: Dirigiu a Z palavras ofensivas da honra e consideração, quando este o interpelou, perguntando-lhe
o que fazia dentro da garagem do prédio (cfr. art. 181.º do CP);
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 2.1
¡ Descoberta de facto novo: o arguido dirigiu a Z palavras ofensivas da honra e consideração quando este o
interpelou dentro da garagem;
¡ Facto totalmente independente ou não? O facto não é totalmente independente [cf. supra]. Neste caso, as injúrias
são autónomas do crime de furto perpetrado, porém acontecem no mesmo contexto histórico, pelo que ainda
existe a ligação ao chamado núcleo comum mínimo.
¡ Alteração substancial ou não substancial de factos?
¡ Critério 1.º, alínea f) do CPP – estamos perante um facto novo que é reconduzível a um tipo de crime diverso.
¡ Critério qualitativo: estamos perante crime diverso?
¡ Critérios: tese naturalista (acontecimento histórico diferente); tese normativista; acontecimento histórico diverso corrigido pelo
critérios da estratégia de defesa do arguido; valoração social diversa; juízo de ilicitude diverso combinado com mudança de estratégia de
defesa [...];
¡ Neste caso, estaríamos perante crime diverso, logo estamos perante uma alteração substancial de factos
¡ Atenção: Não basta que mude o tipo de crime para que estejamos diante de um crime diverso, tal como a manutenção do mesmo tipo de crime
não impede que estejamos perante um crime diverso
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 2.1
¡ Se o arguido não desse o seu acordo: início de novo processo depois da comunicação ao MP.
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 2.2
¡ Questão 2.2.: No dia anterior ao do furto do motociclo, A fora surpreendido a tentar abrir o portão da
garagem do prédio vizinho com uma chave falsa (cfr. arts. 204.º, n.º 2, al. e), do CP).
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 2.2
¡ Descoberta de facto novo: o arguido foi apanhado a tentar abrir o portão da garagem do prédio vizinho com uma chave
falsa;
¡ Facto totalmente independente ou não?
¡ Discutível a independência total do facto [cf. supra].
¡ Neste caso, este acontecimento é relativamente autónomo do perpetrado, uma vez que até acontece no dia anterior ao mesmo, não
tomando lugar na mesma ocasião. Parece que, para além da identidade do arguido, não existe mais nenhum ponto de contato com o
objeto pendente
¡ Porém, ainda há ligação ao contexto histórico, pelo que pode ser considerado que ainda existe a ligação ao chamado núcleo comum
mínimo.
¡ Se considerado totalmente independente, haverá organização de novo processo (vale como notícia do crime – 241.º do
CPP); se considerado não totalmente independente:
¡ Alteração substancial ou não substancial de factos (regime do artigo 358.º ou 359.º do CPP)?
¡ Critério 1.º, alínea f) do CPP – estamos perante um facto novo que é reconduzível a um tipo de crime diverso.
¡ Critério qualitativo: estamos perante crime diverso?
¡ Critérios: [cf. supra]
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 2.2
¡ A alteração de factos é substancial logo, será um facto autonomizável ou não autonomizável (artigo
359.º n.º 1 ou 2 do CPP)?
¡ Várias teses:
¡ [cf. supra]
CASO PRÁTICO N.º 1 – QUESTÃO 2.2
¡ Comunicação ao MP e início de novo processo nos termos do artigo 359.º, n.º 2, do CPP.
¡ B foi acusado da prática de um crime de furto (p. e p. no
art. 203.º do CP) de um livro de C.
¡ No final da instrução, o JI considera que:
¡ i) Está indiciada a ilegítima intenção de apropriação da coisa
CASO móvel alheia nos termos acusados. Contudo;
PRÁTICO N.º 2 ¡ ii) Julga não estar indiciada a subtracção; e
¡ iii) Acresce que considera indiciada a prévia entrega da coisa
e a inversão do título da posse por parte do Arguido.
CASO PRÁTICO N.º 2 – QUESTÃO 1
¡ Questão 1: Como deverá o JI proceder no final da instrução? Será legalmente admissível (cfr. arts. 4.º do CPP,
278.º e 279.º do CPC), ou ao menos aconselhável de lege ferenda, a absolvição do arguido da instância e a
abertura de um novo inquérito com todos os factos, aproveitando-se as provas obtidas no primeiro processo?
¡ Descoberta de facto novo: houve entrega prévia da coisa e inversão do título da posse; deu-se como não
provada a subtração;
¡ Facto totalmente independente ou não? O facto não é totalmente independente [cf. supra]
¡ Alteração substancial ou não substancial de factos?
¡ Critério 1.º, alínea f) do CPP – já não temos em causa um crime de furto simples, mas sim de abuso de confiança. Os limites
máximos das sanções aplicáveis são os mesmos, pelo que o critério quantitativo da do artigo 1.º, alínea f) do CPP não se
verifica.
¡ Critério qualitativo: estamos perante crime diverso?
¡ Critérios: [cf. supra]
¡ Neste caso, estaríamos perante crime diverso, logo estamos perante uma alteração substancial de factos
¡ Atenção: Não basta que mude o tipo de crime para que estejamos diante de um crime diverso, tal como a manutenção do mesmo tipo de crime
não impede que estejamos perante um crime diverso
CASO PRÁTICO N.º 2 – QUESTÃO 1
¡ Questão 2: O Arguido poderá impugnar um eventual despacho de pronúncia que o pronuncie pela prática de um
crime de abuso de confiança (p. e p. no art. 205.º do CP)?
¡ Logo, o arguido pode suscitar a nulidade do despacho, nos termos do artigo 309.º, n.º 1, do CPP;
¡ Terá 8 dias para o fazer, sob pena de sanação (artigo 309.º, n.º 2, do CPP).
¡ O despacho que indeferir a arguição de nulidade é ainda recorrível, nos termos do artigo 310.º, n.º 3,
do CPP.
¡ Nota: mesmo no domínio do novo código, há doutrina [José Souto de Moura] que entende que a lei consagrou uma vinculação
excessiva do juiz aos factos da acusação e que a pronúncia por factos que representem uma alteração substancial não afetaria o
princípio do acusatório.
CASO PRÁTICO N.º 2 – QUESTÃO 3
¡ Questão 3: Admita agora que a instrução foi requerida pelo Assistente (C), pretendendo que A fosse
pronunciado pela prática do crime de abuso de confiança (p. e p. no art. 205.º do CP) dado que, ao invés do
descrito na acusação, o livro tinha sido entregue pelo Assistente ao Arguido e este invertera o título da posse. O
Arguido poderá impugnar um despacho de pronúncia que o tenha pronunciado pela prática de um crime de
abuso de confiança (p. e p. no art. 205.º do CP)?
Acusação do MP
Poderes de
cognição do JI
estão
Acusação do Assistente
delimitados por
Requerimento para abertura da instrução
CASO PRÁTICO N.º 2 – QUESTÃO 3
¡ O juiz não está a violar o artigo 303.º do CPP uma vez que pronuncia o arguido por factos constantes do
requerimento de abertura de instrução, sendo que os seus poderes de cognição ainda estão por ele delimitados.
¡ Assim, o despacho não padece de qualquer nulidade.
¡ Contudo, é possível recorrer do mesmo nos termos gerais do artigo 399.º do CPP;
¡ Nota: não se verifica a previsão do 310.º, n.º 1, do CPP, uma vez que a pronúncia é por factos que constam apenas do
requerimento para abertura da instrução apresentado pelo assistente, e que não constam da acusação deduzida pelo MP.
¡ D foi acusado da prática de um crime de homicídio
negligente (p. e p. no art. 137.º, n.º 1 do CP).
¡ Questão 1: Poderá o Tribunal condenar D pela prática de um crime de homicídio simples (p. e p. no art. 131.º do
CP)?
Artigo358.º
• 1 - Se no decurso da audiência se verificar uma alteração não substancial dos
factos descritos na acusação ou na pronúncia, se a houver, com relevo para a
decisão da causa, o presidente, oficiosamente ou a requerimento, comunica a
alteração ao arguido e concede-lhe, se ele o requerer, o tempo estritamente
necessário para a preparação da defesa.
2 - Ressalva-se do disposto no número anterior o caso de a alteração ter derivado
de factos alegados pela defesa.
3 - O disposto no n.º 1 é correspondentemente aplicável quando o tribunal alterar
a qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou na pronúncia.
CASO PRÁTICO N.º 3 – QUESTÃO 1
¡ A solução vertida na lei é a da livre qualificação jurídica dos factos pelo tribunal de julgamento, com reserva da
obrigatoriedade prévia de comunicação ao arguido da alteração da qualificação jurídica e da concessão, a
requerimento daquele, do prazo necessário à preparação da defesa, ressalvando os casos em que a alegação derive de
alegação pela defesa.
¡ Conhecimento dos factos e da qualificação jurídica por parte do arguido (Ac. STJ n.º 7/2008):
¡ Instituto da alteração dos factos na acusação e na pronúncia vêm assegurar as garantias de defesa do arguido, evitando que aquele
venha a ser julgado por factos diferentes daqueles pelos quais foi acusado ou pronunciado;
¡ O alargamento do âmbito de aplicação do referido instituto à alteração qualificação jurídica visou garantir que sejam asseguradas
todas as garantias de defesa do arguido, sendo necessário que, para isso, o arguido tenha conhecimento das disposições legais com
base nas quais será julgado;
¡ Só nos casos em que as garantias de defesa do arguido o exijam é que está o tribunal obrigado a comunicar ao arguido a
alteração da qualificação jurídica e a conceder-lhe prazo para a sua defesa. Por isso, poderá não ser comunicada se estiver em causa
um crime menos grave.
¡ Nota: cf. Ac. do TEDH Saddak e Outros v. Turquia, de 17.07.2001, refere-se que a comunicação deverá ser feita mesmo que se trate de uma
alteração da qualificação para incriminação menos grave.
¡ O que a lei pretende é que o arguido tenha conhecimento exato do conteúdo jurídico-criminal da acusação, uma vez que o arguido não
tem de se defender apenas dos factos que lhe são imputados, mas também da vertente jurídica que, em processo penal é, em muitos
casos, mais importante.
CASO PRÁTICO N.º 3 – QUESTÃO 1
¡ No caso, havia um agravamento da responsabilidade do arguido, uma vez que, com os mesmos factos, era
entendido que aquele não teria agido com negligência, mas sim com dolo eventual.
¡ Com efeito, esta alteração tinha de ser dada a conhecer ao arguido, “sob pena de se trair o favor defensionis” [Ac.
STJ n.º 7/2008].
CASO PRÁTICO N.º 3 – QUESTÃO 1
¡ Questão 1.1.: Sendo a resposta afirmativa, como poderia o Tribunal Singular condenar o Arguido por um crime
da competência do Tribunal Coletivo?
¡ Questão 2: A sua resposta seria a mesma no caso inverso? Ou seja: se tivesse havido acusação pela prática de um
crime de homicídio simples (p. e p. no art. 131.º do CP), no julgamento, poderia o Tribunal com base nos mesmos
factos condenar o Arguido pela prática de um crime de homicídio negligente (p. e p. no art. 137.º, n.º 1 do CP)?
¡ Problema da competência do Tribunal - ainda se coloca quando o Tribunal Coletivo confere maiores garantias ao
arguido do que o Tribunal Singular?
¡ Necessidade de comunicação?
CASO PRÁTICO N.º 3 – QUESTÃO 3
¡ Questão 3: Poderá o juiz, logo no início da audiência de julgamento, proceder à alteração da qualificação jurídica
dos factos constantes da acusação ou da pronúncia?
¡ Questão 4: Quais as consequências da não comunicação ao arguido da alteração da qualificação jurídica na fase
do julgamento? E na fase da instrução?