História Da Educação Apostila
História Da Educação Apostila
História Da Educação Apostila
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Coordenação Pedagógica – IBRA
DISCIPLINA
HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................03
1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO...........................................................................05
5. REFERÊNCIAS.............................................................................................30
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INTRODUÇÃO
Prezados alunos,
As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras,
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e
provado pelos pesquisadores.
Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar
Dúvidas e aprofundar os conhecimentos.
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1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Educação na antiguidade
Tomando a herança cultural deixada pela antiguidade como a fonte principal sobre a
qual a civilização ocidental se ergueu, o legado deixado pelas principais cidades estados da
Grécia Antiga, Esparta e Atenas constitui-se como princípio de organização social e
educativa que serviu de modelo para diversas sociedades no decorrer dos séculos.
Reconhecida por seu poder militar e caráter guerreiro, o modelo de educação espartano
baseava-se na disciplina rígida, no autoritarismo, no ensino de artes militares e códigos de
conduta, no estímulo da competitividade entre os alunos e nas exigências extremas de
desempenho. Por outro lado, Atenas tinha no logos (conhecimento) seu ideal educativo mais
importante. O exercício da palavra, assim como a retórica e a polêmica, era valorizado em
função da prática da democracia entre iguais. Como herança da educação ateniense
surgiram os sofistas, considerados mestres da retórica e da oratória, eles ensinavam a arte
das palavras para que seus alunos fossem capazes de construir argumentos vitoriosos na
arena política. Fruto da mesma matriz intelectual, porém em oposição ao pensamento
sofista, o filósofo Sócrates propunha ensinar a pensar – mais do que ensinar a falar - através
de perguntas cujas respostas dependiam de uma análise lógica e não simplesmente da mera
retórica. Apesar de concepções opostas, tanto o pensamento sofista como o pensamento
socrático contribuíram para a educação contemporânea através da valorização da
experiência e do conhecimento prévio do aluno enquanto estratégias que se tornaram muito
relevantes para o sucesso na aprendizagem do aluno na contemporaneidade.
ressaltar que até o século XVII os valores morais e até mesmo os ofícios responsáveis pela
garantia da subsistência eram transmitidos em grande parte dentro dos próprios círculos
familiares, sendo que esses valores e códigos de conduta eram profundamente influenciados
pelo pensamento religioso. Em contrapartida, com as Reformas Religiosas e o
Renascimento inicia-se uma nova era para o Ocidente e é marcada pelo ressurgimento dos
ideais atenienses nos discursos sobre os objetivos da Educação. O conhecimento era tipo
como um corpo sagrado, essa matriz de pensamento permaneceu dominante e foi grande
responsável pela concepção do papel da educação desde o desaparecimento do Antigo
Regime até a constituição dos Estados Nacionais: o conhecimento passa a ser organizado
para ser transmitido pela escola, através da autoridade do professor enquanto sujeito
detentor do saber e mantenedor da ordem e da disciplina.
Educação moderna
métodos e teorias educacionais, pois observamos traços presentes nas práticas educativas
atuais que remetem a herança deixada pelos modelos educativos analisados até aqui. Se,
de um lado, está o valor da disciplina e do conhecimento a ser transmitido pela escola; e, de
outro lado, a ideia de que o conhecimento é construído e consequentemente ninguém ensina
nada a ninguém de forma definitiva; é importante a constatação de que essas correntes de
pensamento não se excluem, uma vez que nos dias atuais é necessário conciliar o valor do
conhecimento ao valor do engajamento dos alunos como estratégia para sanar as exigências
de um mundo em contínuo desenvolvimento e marcado pelo fluxo constante de informação
disponível a uma ampla gama de pessoas situadas em diferentes regiões do mundo.
Como salienta Moacir Gadotti, o conhecimento tem presença garantida em qualquer
projeção que se faça sobre o futuro; contudo, os sistemas educacionais ainda não
conseguiram avaliar de maneira satisfatória o impacto das tecnologias da informação sobre
a Educação. Logo, será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo
do futuro. Fazendo de tudo para superar as condições de atraso e, ao mesmo tempo, criando
condições para aproveitar as novas possibilidades que surgem através desses novos
espaços de conhecimento.
O estudo da História da Educação é importante devido o seu potencial formativo, autor
reflexivo e cognitivo. Ou seja, o estudo da história da educação tem a capacidade de fazer
com que os alunos raciocinem de forma a compreender o porquê de se estudar determinada
matérias e temas.
Segundo Libânia Xavier, as principais fontes de estudo da História da Educação são:
documentos oficiais, como séries legislativas, relatórios, pareceres, projetos de Governo,
discursos de autoridades políticas. Há ainda segundo a autora outras fontes como a
fotografia, a iconografia, as plantas arquitetônicas, o material escolar, relatos orais, sermões,
relatos de viajantes e correspondências, os diários íntimos e as autobiografias, e também
outros produtos culturais como a literatura e a imprensa pedagógica.
O pesquisador tem se interessado em compreender as ações de educação contidas
na sociedade imperial com suas diversas formas e esferas de intervenção, identificando a
existência de uma extensa rede de escolas públicas no século XIX, sendo que tais estudos
têm apontado a desimportância da educação escolar para grande parte da população.
Outros estudos vão de encontro com o sentido de captar as especificidades da
formação e do desenvolvimento da instituição escolar observando como este modelo se
articula se ao processo de constituição da esfera pública no Brasil, de se sujeitar as leis
culturais e de progressiva profissionalização no campo pedagógico.
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podia fazer o que o homem definisse ser o certo. O trabalho era símbolo masculino, pois
estava aliado à sua prática social, diante disso a formação profissional não cabia a realidade
feminina, pois a mulher era um símbolo doméstico que não tinha necessidade de estudar. O
contato da mulher com o estudo era bem escasso, uma vez que na educação oitocentista o
ensino básico bastava, onde só alfabetizar era o necessário.
O Livro Vida de menina mostra trechos da história de Helena Morley, uma jovem que
diferente das outras, não via o mundo como a maioria das mulheres do século XIX, a sua
diferença é manifesta através de suas atitudes, pois estas não correspondiam aos padrões
estabelecidos para a mulher da época, por isso, Helena era alvo de muitas repreensões,
como mostra a cena, que a sua tia lhe dá aulas de etiqueta, no intuito de corrigir suas
maneiras de se portar em seu meio social.
Nesta época, a mulher que fugisse do caráter doméstico, era altamente julgada pela
sociedade, até mesmo pela classe feminina, porém neste período nem todas mulheres se
conformavam em viver de acordo com os padrões exigidos, e isto deu vazão para o
surgimento de alguns personagens históricos que contribuíram para que a presença feminina
na educação brasileira fosse aceita, podemos citar a história de Nísia Floresta, uma mulher
que militava pelo direito do acesso feminino à educação. E como pioneira na defesa do direito
a educação da mulher, travou uma luta constante que causou impactando à sociedade. A
fundação do Colégio Augusto surge como ponto de partida para a expansão de suas ideias
feministas pelo Brasil, que obteve êxito, pois Nísia além da educação intelectual valorizava
a educação moral. As meninas então começam a fazer parte do ambiente acadêmico, porém
lecionadas apenas por mulheres. As escolas que antes não concordavam que as
reivindicações de Nísia, passaram a enxergar a importância da educação feminina aderindo
a inovações propostas pela professora. Todo o seu esforço começa a ganhar voz pelo país,
onde os princípios de Nísia vêm sendo validados, aliados a outras vozes que clamaram pelos
direitos políticos, civis e econômicos, em busca de uma nação de direitos iguais para homens
e mulheres.
Mesmo com toda resistência social Nísia não desistiu e seguiu sua carreira
incentivando as mulheres do Brasil a buscar por seus valores, defendendo que a capacidade
da mulher vai além do que ser uma boa dona de casa. Assim, olhos estavam sendo abertos,
e o caminho para a independência feminina também estava sendo traçado, numa luta por
direitos sem revolução ou protestos.
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aos interesses da fé, pensando em aprontar a escola para servir exclusivamente aos
interesses do Estado.
Legal seria, se todos fossem vistos da mesma forma, como cidadãos participantes de
uma sociedade igualitária, mas infelizmente não é o que presenciamos. A desigualdade
social é extensa por todo o mundo, devido a vários fatores e um deles é o processo histórico.
A história permite interpretar a razão de a atualidade ser como é. De acordo com o contexto
abordado, aliado ao fórum avaliativo e estudos sobre a História da Educação da População
Negra pode-se observar que existem várias concepções quanto a implantação da política de
cotas para negros no Brasil.
A implantação desta política gera polêmica, pois como apresentado no fórum as
concepções dos integrantes da sociedade são bem diferenciadas. Dentre as ideias
apresentadas no fórum, vale considerar que para muitos esta política traz um ar de equidade
para a sociedade, para outros a igualdade é o último objetivo deste sistema de cotas, há
quem afirme que o governo beneficia ou privilegia a raça negra, como forma de se desculpar
pelo passado histórico, alguns afirmam que este sistema seria desnecessário se a Educação
Básica priorizasse o sentido de igualdade, existem posições que vão contra este sistema por
acreditar que todos têm a capacidade de ingressar em um curso superior da mesma forma.
É notório que uma discussão a este respeito é extensa pois todos pensam de maneira
particular e isto é um direito do cidadão (a liberdade de expressão). Mas antes de se
posicionar a respeito é necessário compreender a razão pela qual o governo vê a
necessidade deste sistema ser implantado. É de extrema importância considerar todo o
contexto histórico envolvido no processo de educação da população negra. Uma vez que
mediante aos estudos, nota-se que após a abolição dos escravos o governo, fechou os olhos
para não dar suporte a educação dos negros libertos.
As ações do governo foram incompletas, onde se deve destacar que as exigências
escolares também não contribuíam para a integração do negro no espaço escolar e que até
o mínimo de educação que lhes era proporcionado os levavam a acreditar que eles, mesmo
estudando não seriam iguais aos brancos. O que fomenta o descaso da antiga sociedade
para com os negros é o fato deles não serem considerados como componentes da cidadania
e trazer um certo custo para seus senhores como no período da implantação da Lei do Ventre
Livre, em que as crianças nasciam libertas, porém, os registros destas crianças eram
responsabilidade dos senhores de seus pais.
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brasileira ainda estava por iniciar-se. Bento de Andrade Filho, em História da Educação, de
1941, chegava a ser mais contundente. A educação no Brasil, ao lado da na América, tomava
o lugar do apêndice em seu manual, ocupando 3 páginas das 272 do volume. Era enfático:
"educacionalmente, o Brasil não tem, de fato, história. É evidente que, com esta expressão,
queremos significar: fatos peculiares a uma história particular”.
Ruy de Ayres Bello publicava em 1945 seu Esboço da história da educação. Nele, em 25
das 250 páginas, sumariava a educação nacional. Após elogiar os jesuítas, definir a
educação pombalina como escuridão, qualificar o ensino mútuo de panaceia e criticar o ato
adicional de 1834, retomando assim enunciados de Afrânio Peixoto, valorizava a reforma
Francisco Campos de 1931 e a liberdade de ensino religioso por ela implantada. Distinguia-
se, aqui, da narrativa de Peixoto, por efetuar um apagamento de referências à escola nova,
reflexo de matizes das lutas entre educadores católicos e liberais no campo educacional. Era
um dos poucos manuais a indicar a bibliografia utilizada. Dentre os autores citados,
destacavam-se Afrânio Peixoto, Bento de Andrade Filho, madres Peeters e Cooman,
Primitivo Moacyr e Rocha Pombo.
Lições de história da educação, de Aquiles Archêro Júnior76, repetia o padrão. Apenas
43 páginas, de um total de 151, abordavam a educação brasileira. Comentários de Afrânio
Peixoto eram reproduzidos como lavra do autor, o que pode ser notado, por exemplo, na
crítica realizada a Pombal: "sofreu o Brasil a primeira e desastrosa, como tantas aliás, de
suas reformas de ensino”. O mesmo entusiasmo com o movimento escolanovista era
revelado, no destaque a educadores, como Lourenço Filho, "incontestavelmente o maior
pedagogo do Brasil", e de atos, como o "célebre" Manifesto Educacional de 1932.
Theobaldo Miranda dos Santos, em seu Noções de história da educação, de 1945,
mantinha o modelo (bem como o título) inaugurado por Afrânio Peixoto. Em 37 páginas,
incluídas como Apêndice ao volume com um total de 512 páginas, discorria sobre a
educação brasileira. Do destaque inicial à obra jesuítica, comentava a reforma pombalina,
que "lavrou a sentença de morte do ensino na Colônia”. Um "balanço da obra educacional
do Império não apresenta resultados animadores. O ensino era deficiente e fragmentário. As
escolas eram escassas, mal organizadas e dirigidas por mestres improvisados". Na
República, " essa situação de marasmo, de rotina e de desequilíbrio devia, entretanto, sofrer
modificações acentuadas"81, devidas ao ambiente revolucionário iniciado com a Guerra de
1914 na Europa, mas estendido até 1930 com a revolução no Brasil. Nesse período
mereciam relevo, para o autor, a criação da Associação Brasileira de Educação, em 1924, o
inquérito sobre instrução pública, realizado para O Estado de S. Paulo, por Fernando de
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décadas de 1920 e 1930 no Brasil, erigia a "memória dos renovadores [...] em conhecimento
histórico".
A escrita de A cultura brasileira recebeu ainda uma outra marca: a experiência jornalística
de Azevedo. Integrante de uma intelectualidade que nos anos 1920 (e até os anos 1960) se
utilizava prioritariamente do jornal para difusão de ideias e propostas — na qual se incluíam
Sérgio Buarque de Holanda, colaborador d'O jornal, no Rio de Janeiro, e Gilberto Freyre, do
Diário de Pernambuco, e muitos outros como Cecília Meirelles, Diário de Notícias, e Sud
Mennucci, O Estado de S. Paulo (e mesmo Afrânio Peixoto que escrevia para diversos
diários cariocas) — Fernando de Azevedo, entre 1917 e 1922, foi jornalista do Correio
Paulistano, e entre 1923 e 1926, atuou como redator d'O Estado de S. Paulo, sendo
responsável pelo inquérito sobre "Instrução Pública", em 1926. Ao longo de todos esses anos
de trabalho constituiu um estilo de escrita cujas estratégias de enunciação (e convencimento)
se organizavam pelas regras da linguagem jornalística. Repetições, polaridades, emissão de
julgamentos e ironias, ainda que veladas, formavam parte dos agenciamentos típicos desse
discurso.
Traduzida em 1950 para o inglês e desde de 1976 desmembrada, ganhando o terceiro
tomo (A transmissão da cultura) estatuto de livro independente, a obra tornou-se referência
necessária no campo educacional e na área da história da educação, conforme destacaram
Zaia Brandão e Marta Carvalho. Contribuíram para esse prestígio acadêmico não apenas a
extensão de suas análises e o volume de informações coligidas (apesar de não frequentar
arquivos, Azevedo levantou um grande conjunto de dados e fotografias, com a colaboração
de amigos), mas também a permanência de Azevedo como professor universitário na FFCL-
USP até sua aposentadoria em 1961, formando novos quadros, influenciando a elaboração
de trabalhos e redigindo outras obras. De acordo com depoimento de Tirsa Peres, até o fim
dos anos 1950, era nos cursos de Sociologia, de Azevedo, que a história da educação
brasileira se explorava, especialmente no que concernia à atuação do próprio Azevedo como
reformador da instrução pública do Distrito Federal e de São Paulo. Sua importância também
se deveu à proeminência do autor no campo político da educação nacional. Nos anos
seguintes à publicação de A cultura brasileira, Fernando de Azevedo assumiu a Secretaria
de Educação de São Paulo, em 1947; dirigiu a Biblioteca Pedagógica Brasileira, da Cia.
Editora Nacional, até 1946; foi diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São
Paulo, de 1956 a 1961; e redator do Manifesto de 1959 (Mais uma vez convocados). A vasta
coleção de cartas depositadas no Arquivo Pessoal Fernando de Azevedo, do Instituto de
Estudos Brasileiros (USP), oferece elementos tanto para a percepção dessa rede efetuada
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para a recolha de fontes à escrita d'A cultura brasileira, quanto das articulações políticas em
torno da educação nacional, nas quais esteve Azevedo envolvido.
No âmbito da Universidade de São Paulo, outros trabalhos voltados especificamente para
a área de história da educação surgiram, inicialmente no Departamento de Pedagogia da
FFCL (1938-1969), e posteriormente no Centro Regional de Pesquisas Educacionais (1956-
1974) e na Faculdade de Educação (1969). Articulavam-se especialmente em torno da
cátedra de História e Filosofia da Educação (FFLC-USP), regida por Laerte Ramos de
Carvalho. Assistente desde 1948, Ramos de Carvalho assumiu-a como titular em 1952,
quando defendeu a tese. As reformas pombalinas da instrução pública, resultado de
pesquisas realizadas em acervos portugueses (transformada em livro apenas em 1978).
A tese centrava-se em um tema de interesse à historiografia portuguesa, mas pouco
explorado pela historiografia educacional brasileira, que reduzira Pombal a signo de
desestruturação da obra educativa jesuítica. Voltava-se para o levantamento de fontes
primárias e procedia a um estudo histórico que buscava compreender a educação no seu
"sentido íntimo, a filosofia". Dessa maneira, Ramos de Carvalho operava distanciamentos
ao propósito de uma interpretação sociológica da cultura brasileira enunciado por Azevedo,
ao mesmo tempo que retomava princípios da vertente associada ao IHGB (40 páginas de
Apêndice reproduziam documentos inéditos localizados em Portugal), ainda que fizesse
críticas ao trabalho de Primitivo Moacyr, considerado como "um repositório de documentos",
e se inseria na linhagem que unia história e filosofia como matrizes do entendimento do
passado educacional, possibilitado pelo conhecimento "dos ideais pedagógicos".
Como assistentes à cátedra, Ramos de Carvalho convidou dois alunos, João Eduardo
Rodrigues Villalobos e Roque Spencer Maciel de Barros, compondo o núcleo inicial de um
grupo de pesquisadores que, nos anos 1960, seria ampliado pelo crescimento dos Institutos
Isolados de Ensino Superior no Estado de São Paulo, aglutinando nomes como Heládio
César Gonçalves Antunha, José Mario Pires Azanha e Maria de Lourdes Mariotto Haidar, da
Pedagogia-USP, Casemiro Reis Filho da FFCL de Rio Preto, Rivadávia Marques Júnior,
Jorge Nagle e Tirsa Regazzini Péres da FFCL de Araraquara e posteriormente Maria
Aparecida Rocha Bauab (Rio Preto), Maria da Glória de Rosa (Marília) e Miriam Xavier
Fragoso (Assis), dentre outros, de acordo com o depoimento de Leonor Tanuri, também
integrante do grupo.
A partir de um plano geral de monografias traçado por Ramos de Carvalho, e com base
em documentação primária, cada pesquisador dedicava-se a investigar um tema ou
personagem do passado educacional brasileiro, objetivando compor um quadro histórico
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compreensivo dos séculos XVIII a XX. Assim, foram elaborados, dentre outros, os trabalhos:
A ilustração brasileira, de Roque Barros (1959), Educação e sociedade no Brasil, de Jorge
Nagle (1966), A reforma de 1920 da instrução pública no Estado de São Paulo, de Antunha
(1967), O ensino secundário no Império, de Mariotto Haidar (1971), e A Escola Normal no
Estado de São Paulo, de Leonor Tanuri (1973). Como resultados da pesquisa de campo
encetada pelo grupo, levantamentos de produção bibliográfica e de documentação de
interesse à educação brasileira em arquivos e bibliotecas passaram a circular, inicialmente
sob forma mimeografada e depois impressa, como o Índice básico da legislação do ensino
paulista (1890-1945), de Casemiro Reis Filho (1963), e o Ensino Normal em São Paulo
(1846-1963): inventário de fontes, de Maria Aparecida dos Santos Rocha (1973), para citar
apenas dois.
A partir dos 1960 a história da educação brasileira passou a ser incluída de forma mais
significativa no programa geral da cátedra, talvez como fruto dos estudos do grupo. Talvez
em razão do estímulo dado pelo parecer do Conselho Federal de Educação (CFE 251/62),
que especificava que o currículo mínimo dos Cursos de Pedagogia deveria contar com a
disciplina história da educação, "entendida como uma apreciação coerente dos fundamentos
históricos que explicam a educação moderna, e, dentro desta orientação, conterá uma
divisão especial dedicada à História da Educação Brasileira". Talvez ainda, em virtude da
aposentadoria de Azevedo, em 1961.
A produção desse grupo esboçou, segundo Mirian Warde, "um projeto de construção de
uma história da educação brasileira autônoma, apoiada em levantamentos documentais
originais, capaz de recobrir o processo de desenvolvimento do sistema público de ensino".
E se desenrolou, de acordo com Monarcha, dentro dos cânones do realismo histórico,
configurando o que denominou de "atos inaugurais" da história da educação brasileira em
São Paulo, por propiciar a formação de uma mentalidade histórica em educação através de
"sedimentação e divulgação de uma metodologia privilegiada; profissionalização de um tipo
de autor: o professor universitário; delimitação de um objeto de estudo e conhecimento e
constituição de um público leitor específico".
No bojo desse processo, Ramos de Carvalho divulgou, em 1971, o artigo "A educação
brasileira e sua periodização", no volume mimeografado resultante do I Seminário de
Estudos Brasileiros — Encontro Internacional de Estudos Brasileiros, realizado no IEB-USP,
em que criticava o uso da história política e administrativa brasileira como marco para a
história educacional. Afirmava: "À medida que nos aprofundamos na análise de nosso
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Falar em educação é sempre falar numa pluralidade de significados, pois abrange fatos
sociais diversos, atos de educar variados de acordo com um contexto social e com as
pessoas mediadoras desta ação.
A passagem das ações pedagógicas tradicionais para práticas educacionais renovadas,
propõem à educação processos de esclarecimento em torno de fins e meios da mesma, para
assim desenvolver e guiar seus saberes. Estas são as principais finalidades em comum entre
as diversas "escolas novas", recriadas a partir do século XX, e que possuem em seu
propósito inovar a educação, dar novos rumos à mesma, nutrindo-se de uma ideologia
democrática e progressista, fazendo com que o ensino-aprendizagem seja muito além de
moderno, seja de qualidade proporcionando a formação não apenas de alunos, mas de
cidadãos preparados para a vida e que se utilizem de seus conhecimentos para melhorar a
realidade.
Para Cambi (1999), as escolas novas no século XX, juntamente com suas propostas
radicais de transformação, rompiam com aquele antigo ideal de educação formal, disciplinar,
do tipo positivista. Chamou-se este novo ato de educar de pedagogia ativista, que detinha
este propósito liberal. As novas práticas educativas diante da dialética do mundo, se renova
projetando processos de socialização, a partir de interações comunicativas, pontos de apoio,
para integrar o indivíduo ao meio social, ajudando-o a crescer e se desenvolver na
capacidade física, intelectual e/ou moral.
Ainda na visão de Cambi (1999), a difusão destas escolas se deu de forma predominante
na Europa ocidental e nos Estados Unidos, que se basearam, a priori, na criança para
reformar os métodos e técnicas utilizados pelos professores nas escolas, além disso, o
estabelecimento de ideais, com os quais as crianças são instruídas muito além da instituição
e do ambiente familiar. Colocando assim, mudanças no aprendizado que deve ter contato
com o meio social, práticas intelectuais (conhecimento/teorias/fundamento), fazendo disso
uma simbiose para o melhor sistema de aprendizado. Está questão é discutida inicialmente
na Inglaterra, segue para a França, Alemanha, Itália, Áustria, Espanha, entre outros. Nas
pesquisas de Cambi (1999), as escolas novas e as novas ideologias de educação se
repercutiram de canto a canto no mundo, percorrendo longos caminhos e não passando
desapercebida por uma variedade de autores, assim, ganharam grandes proporções até os
dias atuais. Consequentemente, constatamos que este vasto percurso da educação
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relevância salientar que as novas instituições inovem também neste sentido, de elaboração
de atividades grupais, realização de práticas e teorias no ensino, mas sempre incentivando
o trabalho coletivo.
O idealismo complementa com suas novas teorias pedagógicas, "capazes de repensar de
modo novo e radical a identidade e o papel cultural e político da pedagogia" (CAMBI, 1999,
p.534). Foi assim, proposto com este idealismo na Europa, modelos de pedagogia como
saber histórico, crítico, dialético, científico e político. Modelos de educação que abrangessem
a forma igualitária, libertária, baseada no trabalho, enfim, uma escola renovada por fins e
estruturas. A pedagogia, então, no século XX é reestruturada e renovada principalmente em
seu plano teórico, fazendo surgir um novo modelo pedagógico onde a filosofia e a ciência,
principalmente como pesquisa experimental ganham espaço. Portanto, educação nova
consiste em uma "corrente que trata de mudar o rumo da educação tradicional, intelectualista
e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo". (LUZURIAGA, 1987, p.227). John Dewey se
tornou um grande nome devido suas propostas a cerca de uma teoria empírica, e sua
pedagogia caracterizada por um pragmatismo associado entre as teorias e as práticas.
John Dewey, foi o maior pedagogo do século XX, o seu pensamento pedagógico foi o
mais amplo possível, trabalhou a educação nova de forma crítica, delineando suas
deficiências, e complexa por isso. (CAMBI, 1999, p.546)
Segundo Larroyo (1989), em suas referências também constatamos a educação nova, a
partir da criação das escolas novas que superaram as escolas memoristas livrescas com
seu conceito intelectualista da educação. As escolas novas se manifestaram promovendo
importantes transformações sociais, mediante trabalhos manuais e técnicos, assim, elas
tornaram-se órgão de coordenação de toda obra educativa, favoreceram a pedagogia
experimental, os estudos da criança e a comprovação objetiva do trabalho escolar, entre
outros.
Larroyo (1989), bem lembra que mesmo com o surgimento das escolas novas do século
XIX / XX, não foram as primeiras instituições docentes criadas com este propósito de renovar
a educação. Ele cita diversas escolas em sua pesquisa que haviam se manifestado para
este fim, porém, se preocupou em estudar as instituições mais atuais sobre este assunto.
As escolas novas que obtiveram êxito em seus ensaios para tais modificações
educacionais tinham objetivos em comum, propunham além das transformações radicais e
progressistas da educação, o princípio de liberdade da criança e do adolescente, em contato
com a vida, com o meio social fora mesmo do ambiente familiar.
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REFERÊNCIAS
Aries, p. História social da criança e da família. Tradução de Dora Flaksman. 2. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2006.
Berger, p. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. 10. ed. Petrópolis: Vozes,
1986.
Bujes, m. i. e. Que infância é esta? In: 23ª Reunião Anual da anped, 2000, Caxambu. Anais
da 23ª Reunião Anual da ANPEd. Caxambu, 2000. Disponível em:
<http://23reuniao.anped.org.br/textos/0712t.PDF>. Acesso em: 20 dez. 2016.
Cambi, f. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: feu, 1999.
Corazza, s. m. História da infância sem fim. 2. ed. Ijuí: unijuí, 2004. (Coleção Fronteiras da
Educação)