Superávit Primário (Fórum Brasil Orçamento - 2004)
Superávit Primário (Fórum Brasil Orçamento - 2004)
Superávit Primário (Fórum Brasil Orçamento - 2004)
SUPERÁVIT
PRIMÁRIO
Aqui, serão discutidas a origem desta política, seu contexto histórico e motivações,
pois assim torna-se mais fácil compreender questões como: para onde está indo o dinheiro
dos nossos impostos? Como o governo gasta o que arrecada? Por que faltam recursos
para projetos em áreas sociais que possam reduzir desigualdades? O FBO quer contribuir
para ampliar esta discussão, divulgando informações, aumentando e qualificando a parti-
cipação popular na definição e no acompanhamento da política econômica do país.
Para o ano de 2004, a previsão é que cerca de R$ 70 bilhões sejam repassados, pela
União, Estados e Municípios, para o pagamento da dívida pública brasileira. No entanto, os
juros decorrentes desse endividamento serão muito maiores que R$ 70 bilhões, obrigando
o governo a tomar novos empréstimos. Enquanto isso, a dívida social só aumenta, juntamente
com a recessão, o desemprego e a má qualidade dos serviços públicos essenciais. E forma-
se o círculo vicioso que sustenta a desigualdade: o país que mantém o superávit na esperança
de atrair capitais e crescer, como ensina a teoria neoliberal, fica impossibilitado de investir
em áreas essenciais para que haja crescimento econômico, com tão grande ajuste fiscal.
Menos crescimento, mais dependência, mais endividamento e com este, mais
recomendações neoliberais de ajuste fiscal. E assim segue.
Para o FBO o Orçamento da União é importante não apenas como peça técnica
necessária para o controle social dos gastos públicos, mas principalmente como um
instrumento de devolução para a sociedade de parte da riqueza produzida pelo trabalho
na forma de financiamento às políticas promotoras da justiça social.
Mas, Afinal, que Dívida é essa que nos Leva a Gerar Contínuos Superávits Primários? .. 14
Porém, como o Superávit Primário não inclui as despesas com a dívida, que são
muito maiores que esse superávit, esses números não refletem a real situação das
contas públicas .
O Superávit Primário inicialmente foi usado para diferenciar o que era gasto “de
verdade” (que resulta em benefícios para a população e crescimento para o país) do que
era mero pagamento de dívida anterior. Posteriormente é que se adotou (a partir da
orientação do FMI) a meta de Superávit Primário – governo passa a ter como objetivo
arrecadar mais do que gasta, não considerando o pagamento de juros da dívida. Isso
transforma o Superávit Primário de mera ferramenta contábil em ponto essencial de
política econômica. Esta passa a visar fundamentalmente o pagamento da dívida.
TRIBUTOS DE PATRIMÔNIO
A população de baixa renda, por gastar todo o seu salário em consumo, paga,
proporcionalmente, mais tributos do que os ricos, que podem poupar parte de sua
renda, escapando, assim, da tributação.
Superávit Primário
Saúde e Saneamento
Educação e Cultura
Trabalho
Em 2004, estão previstos para todas as áreas sociais listadas na tabela a seguir,
gastos de R$ 68,53 bilhões. O Superávit Primário previsto no PPA 2004/2007 é de R$ 70
bilhões. Assim, pretende o governo fazer um superávit maior do que todos os seus
gastos nestas áreas sociais:
É5($662&,$,6 *$6725ELOK}HV
6HJXUDQoD3~EOLFD
$VVLVWrQFLD6RFLDO
6D~GH
(GXFDomR
&XOWXUD
8UEDQLVPR
+DELWDomR
6DQHDPHQWR
*HVWmR$PELHQWDO
2UJDQL]DomR$JUiULD
727$/'26*$672662&,$,6 5ELOK}HV
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, em junho de 2004.
- Gerar 3,5 milhões de empregos na agricultura (cujo custo médio por empre-
go gerado é de R$ 20 mil);
Por outro lado, a falta de gastos públicos inibe a atividade econômica. Ou seja:
se não são realizadas obras públicas altamente empregadoras, tais como escolas,
hospitais, projetos de saneamento básico ou de habitação popular, não são gerados
postos de trabalho, e a economia não cresce.
Fonte: IBGE
TAXA DE DESEMPREGO
5HJLmR0HWURSROLWDQD
Fonte: DIEESE
Nos anos 90, o país foi submetido a mais um ciclo de endividamento externo e
interno, para financiar a enxurrada de importações do Plano Real. As altas taxas de
juros internas, estabelecidas para atrair o capital externo determinaram também o
aumento da dívida interna.
DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO (% DO PIB)
Governo
Lula
Governo
FHC
Acordo com
o FMI
Dívida (% do PIB)
1991 2003
JAN 1995 1999 JAN
JAN JAN
Fonte: Banco Central
Hoje, sabe-se que o valor que está sendo “economizado” pelo Superávit Primá-
rio a cada ano não é nem suficiente para pagar o total dos juros da dívida. Em 2003, por
exemplo, o Governo Federal tinha de pagar R$ 103 bilhões em juros da dívida (segundo
o Banco Central). Como o superávit primário federal foi de R$ 48,3 bilhões, o esforço
fiscal só permitiu pagar 47% do custo da dívida pública.
Os outros 53% tiveram que ser “rolados”, ou seja, o governo teve de tomar
novos empréstimos conseguir pagar estes juros.
A dívida brasileira não pára de crescer porque uma parte dela depende do tama-
nho dos juros. Como os juros são altos, a dívida aumenta automaticamente. Além
disso, a dívida (mesmo a interna) depende hoje também do preço do dólar. Se há
uma crise, por menor que seja, o dólar aumenta, subindo o valor da dívida. Isso
porque uma parte da dívida, mesmo sendo contratada dentro do Brasil, foi
indexada ao dólar. Assim, o superávit – e todo o sacrifício do povo - não é sufici-
ente nem para pagar os juros da dívida. É por isso que muitos economistas falam
do círculo vicioso em que o País se meteu: não se desenvolve porque não pode
gastar; não gasta porque não se desenvolve.
ESTES PAÍSES NOS RECEITAM, ATRAVÉS DO FMI, UM REMÉDIO QUE JAMAIS TOMARIAM!
3. EMPODERAMENTO SOCIAL
O item anterior sugere que o princípio fundante da Lei de Responsabilidade
Social é o empoderamento social. Adota-se, neste caso, a referência política
emancipatória das políticas sociais, assim como a promoção social, em detrimento do
caráter assistencial, clientelista e meramente protetivas que caracterizam os contornos
das políticas adotadas no país. O empoderamento social assenta-se, por sua vez, na
construção de um Sistema de Governança Social, onde as populações beneficiadas
participam de cada etapa de implementação e execução da Lei de Responsabilidade
Social: definição dos mínimos sociais do seu território, elaboração de metas anuais e
plurianuais, definição de indicadores de avaliação de resultados e participação ativa no
sistema de monitoramento da execução da lei.
www.forumfbo.org.br