AEE - 3º Encontro de Dirigentes - Pré-Estudo
AEE - 3º Encontro de Dirigentes - Pré-Estudo
AEE - 3º Encontro de Dirigentes - Pré-Estudo
PRÉ-ESTUDO 1
TEMA:
Proposta do Espírito Verdade através de Bezerra de Menezes para o Espiritismo
nos alvores deste novo milênio.
OJETIVO:
Ampliar e alinhar a visão estratégica dos dirigentes e equipes de suporte da EAE
com as diretrizes do Plano Espiritual Superior.
CONTEUDO:
Para iniciarmos o nosso pré-estudo do 3º. Encontro de Dirigentes de EAE, nós
julgamos importante reafirmarmos nossa visão da Escola de Aprendizes olhando-a de fora
e como um todo perante os objetivos da Doutrina dos Espíritos, o seio em que ela nasceu
e se propagou para dar-lhe cumprimento.
Vale lembrar que o conteúdo da mensagem abaixo não nos é de todo desconhecido
posto que nosso companheiro, e fundador da AEE, Valentin Lorenzetti, assim que retornou
a pátria espiritual trouxe-nos orientações alinhadas com esta que Bezerra nos oferta.
Destacamos a mensagem em que ele nos disse que o projeto do Plano Espiritual Superior,
em que as EAE são pedra capital, teve inicio com a fundação desta escola em 1952 e
compreendia a partir daí três períodos de 50 anos de realização tal sejam: 1º. A
preparação, 2º. A implantação e o 3º. A consolidação. Deixamos ao nosso caro leitor a
tarefa de ligar este dado e outros, com os que Bezerra nos oferta abaixo, reafirmando os
objetivos de nossa EAE perante os da nossa inestimável Doutrina Espírita.
ATITUDE DE AMOR
Um Novo Tempo para a Doutrina Espírita
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis?
Não fazem os publicanos também o mesmo?
Na primeira noite após o memorável Congresso Espírita Brasileiro (1), fomos convocados para ouvir a
palavra sóbria e cândida do paladino da unificação, Bezerra de Menezes, em ativo núcleo de nosso plano
destinado aos empreendimentos voltados para o Consolador.
Ainda invadidos pelos sentimentos sublimes despertados pelo inesquecível conclave ora encerrado na
cidade de Goiânia, trazíamos nossa mente imersa em profundas meditações acerca do quanto a ser feito
ante as perspectivas descerradas.
No momento azado, dirigimo-nos para o salão onde se daria o conclave. Chegamos minutos antes no intuito
de rever companheiros queridos que labutavam em plagas distantes e que, a convite de Bezerra,
mantiveram-se ali após o congresso exclusivamente para ouvir-lhe a palestra.
A lotação era para cinco mil participantes e não havia lugares desocupados. Eram os trabalhadores do
evento ora realizado, militantes da Seara em outros continentes, poetas, educadores, seareiros dos primeiros
tempos, personagens da história brasileira, enfim, grupo imenso; todos comprometidos com os destinos do
Espiritismo. Representações de caravaneiros de todos os estados brasileiros e dos países participantes do
magno evento também estavam presentes, além dos servidores anônimos que se prestaram aos mais
variados serviços de amparo e defesa pelo bem da tarefa concluída no plano físico.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Seria impossível relacionar todos, mas com intuitos que atendem a nossas ponderações do momento
destacamos a presença de Robert Owen (o filho), César Lombroso, Humberto Mariotti, Milton O'Relley, Anita
Garibaldi, Helena Antipoff, Edgard Armond, Torteroli, Jean Baptiste Roustaing, Benedita Fernandes,
Deolindo Amorim, Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Freitas Nobre, Toulosse Lautrec, Tarsila do Amaral,
Frederico Fígner, Cassimiro de Abreu, Olavo Bilac, Castro Alves, Antônio Wantuil de Freitas, Alziro Zarur,
Rui Barbosa, Antônio Luiz Sayão, Antônio Olímpio Telles de Menezes, Cairbar Schutel.
Fomos chamados para o instante aguardado. Uma pequena e singela mesa com um belíssimo ornamento de
flores embelezava o palco ao lado de potente aparelho sonoro dirigido ao grande público presente. Tudo
guardando extrema simplicidade. Sem cerimônias e delongas, após oração comovida por parte de nosso
condutor é passada a oportunidade ao imbatível “médico dos pobres”(2):
O cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo, ainda agora enaltecido pela comunidade espírita
mundial, é vitória de incomensurável quilate espiritual para a glória do Espiritismo. Os esforços não foram em
vão.
Passado o conclave nosso olhar se volta, mais que nunca, para o futuro.
Sem demérito de qualquer espécie a corações que têm feito o melhor que podem, os que aqui se encontram
presentes conhecem de perto a extensão das necessidades com as quais estamos lidando.
E ainda agora, enquanto muitos se encontram inebriados com a nobre comemoração face às conquistas
logradas em meio século de serviço austero, atentemos para o quanto nos falta caminhar, a fim de
merecermos com justiça o título de Cristãos da nova era.
Desde as primeiras idéias para a formação das bases organizativas do movimento, são passados quase cem
anos. O progresso é evidente.
Entretanto, não será demais e insano afirmar que, a despeito das conquistas, encontramo-nos na infância de
nosso movimento libertador ante a envergadura da missão a nós confiada na humanidade.
A progressão do ideário espírita está em boas mãos e a Falange Verdade continua o programa com
sucesso, não obstante os empecilhos que são variados.
Inteiremo-nos com acerto sobre o que o momento espera de todos e façamos o que for preciso, a fim de
impedirmos o prolongamento da conveniência prejudicial ao prosseguimento de planos maiores.
Os primeiros setenta anos do Espiritismo constituíram o período da consagração das origens e das bases
em que se assentam a Doutrina, que lhe conferiram legitimidade. Heróis da tenacidade e fibra moral,
dispostos a imolar-se pela causa, venceram o preconceito do tempo e a pressão da inferioridade humana no
resguardo e defesa da empreitada de Allan Kardec. O último lance que delimitou esse período foi o
Congresso Internacional de Espiritismo realizado em Paris (3), onde o arauto do bem, Leon Dénis, suportou
a lâmina sutil da mentira e consolidou o perfil definitivo do Espiritismo como Doutrina dos Espíritos, eximindo-
a de desfigurações que em muito prejudicariam sua feição educativa e conscientizadora.
O segundo período de mais setenta anos, que coincide com o fechamento do século e do milênio, foi o
tempo da proliferação. Uma idéia universal jamais poderia ficar confinada a grupos de estudo ou
experimentos da fenomenologia mediúnica de materialização; fazia-se necessária a intensificação dos
conhecimentos dentro de um crescimento ordenado e defensivo na elaboração de um perfil filosófico. Eis o
mérito das entidades promotoras da unificação e da multiplicação de centros espíritas. Sob o regime de
controle e zelo foram predicados os seus objetivos primaciais. A literatura subsidiária provocou o
questionamento, a discussão, o estudo, e com isso o aprendizado dilatou-se.
A primeira etapa consagrou o Espiritismo como ideário do bem, atraindo a simpatia e superando o
preconceito; a segunda ensejou a difusão. Penetramos agora o terceiro portal de mais setenta anos, etapa
na qual pretende-se a maioridade das idéias espíritas
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
É necessário atestar a vitalidade dos postulados espiritistas como alavanca de transformações sociais e
humanas. Sua influência na cultura, nas artes, na ciência, nas leis, na filosofia e na religião conduzirá as
comunidades, que lhe absorverem os princípios, a novos rumos para o bem do homem através da mudança
do próprio homem.
Esse novo tempo deverá, igualmente, conduzir a efeitos salutares a nossa coletividade espírita, criando entre
nós, seus adeptos, o período da atitude. O velho discurso sem prática deverá ser substituído por efetiva
renovação pela educação moral. É a etapa da fraternidade na qual a ética do amor será eleita como meta
essencial, e a educação como o passo seguro na direção de nossas finalidades.
Jesus definiu seus discípulos por muito se amarem, o Espírito Verdade assinalou o “amai-vos e instrui-vos”
como plataforma do verdadeiro espírita, e esses ensinos deverão constituir a base do programa
transformador para nossas metas ante a era nova.
Assim como nas demais fases foram programadas reencarnações missionárias, a exemplo do que sucedeu
no iniciar dos séculos XIX e XX, igualmente se apronta uma geração nova para os novéis ofícios da causa,
dentre os quais muitos de vós aqui presentes estão esclarecidos sobre seu auspicioso retorno às fileiras do
Consolador em missões de solidariedade e renovação, enquanto os que guardam maiores compromissos na
vida extra-física estão conscientes dos desafios que a todos nos esperam.
Descrevamos algo de essencial acerca dessas batalhas que enfrentaremos, para não localizarmos o “joio”
onde está o “trigo” e definirmos melhor as estratégias de ação.
Afirmamos outrora que o serviço da unificação é urgente, porém, não apressado(4). Verificamos no tempo
que alguns corações sinceros e leais, entretanto, sem larga vivência espiritual, inspirados em nossa fala,
elegeram a lentidão em nome da prudência e a acomodação passou a chamar-se zelo, cadenciando o ritmo
das realizações necessárias ao talante de propósitos personalistas na esfera das responsabilidades
comunitárias. O receio da delegação, a pretexto de ordem e vigilância, escondeu propósitos hegemônicos
em corações desavisados, conquanto amantes do Espiritismo. Em verdade, a tarefa é urgente, não
apressada, mas exige ousadia e dinamismo sacrificial para encetar as mudanças imperiosas no atendimento
dos reclames da hora presente, e o hábito de esperar a hora ideal converteu-se, muita vez, em medida
emperrante.
Ninguém pode vendar os olhos a título de caridade, porque deliberadamente o apego institucional marcou
esse segundo período de nossas lides, em muitas ocasiões, com enfermiças atitudes de desamor como
forte influência atávica de milenares vivências. Isso era previsível e, por fim, repetimos velhos erros
religiosos...
Honrar e respeitar os antepassados e a história não significa aboná-la de todo, embora os nossos
sentimentos devam ser enobrecidos no perdão, no entendimento, na oração e no trabalho. Foi o melhor que
conseguimos em se considerando as imperfeições que nos são peculiares.
Na seara espírita, que declara inspirar sua ação em Jesus, o Mestre operoso, e em Kardec, o infatigável
trabalhador, não deve haver o pacto insensato com os privilégios e a representatividade improdutiva. Se o
Senhor deixou definido que o maior seria quem se fizesse servo de todos (5), de igual forma a função das
entidades doutrinárias, de qualquer âmbito, é servir e servir sempre, mais e mais, no atendimento das
extensas necessidades a vencer nas lavouras doutrinárias, cumprindo o roteiro dos deveres de orientação e
apoio sem jamais avocar para si direitos ilusórios no campo do poder.
Há de se ter em conta que nos referimos ao institucionalismo como grilhão pertinente a todos nós, sem
jamais vinculá-lo a essa ou àquela entidade organizativa em particular, porque semelhante marca de nosso
psiquismo, por muito tempo ainda, criará reflexos indesejáveis na obra do bem.
O institucionalismo é fruto da ação dos homens; ele em si não é o nosso adversário maior e sim os excessos
que o tornam nocivo.
Nosso maior inimigo, de fato, é o orgulho em suas expressões inferiores de arrogância, inflexibilidade,
perfeccionismo, autoritarismo, intolerância, preconceito e vaidade, seus frutos infelizes que, sem dúvida,
insuflam a institucionalização perniciosa e incentivam o dogmatismo e a fé cega, adubando a hierarquização
e o sectarismo.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Seus frutos geram sementes, e precisamos interromper essa semeadura do “joio” que sustenta a ilusão de
trabalhadores desprevenidos e invigilantes.
Quando os homens forem bons farão boas instituições(6), asseverou o insigne apóstolo de Lyon, Allan
Kardec.
Nossa luta deve ser íntima e não exterior, não contra organizações, mas contra nós mesmos quando em
atitudes praticadas sob o manto da mentira que acostumamos a venerar em favor de vantagens pessoais.
Esses desvios perpetrados lembram os primeiros momentos do Evangelho sobre a Terra, quando teve
circunscrito seu raio de ação ao Judaísmo dominante. Tal realidade levou o Mais Alto a chamar o espírito
corajoso e nobre de Paulo de Tarso na ingente missão de servir para além dos muros institucionais da
capital do religiosismo, e tornar universal a mensagem do Sábio Pastor.
Conclamamos novos apóstolos para a “gentilidade” nesse momento delicado de nossa seara, porque o
orgulho humano reeditou, em larga amplitude, os ambientes estéreis à propagação dos ensinos do Senhor.
Temos um novo centro de convergência estipulado pela egolatria humana, buscando fixar estacas
demarcatórias injustas e dispensáveis para o futuro glorioso da religião cósmica da verdade e do amor.
Essa velha bagagem da alma tem solução. Melhorando os homens, melhoramos as instituições. Por isso,
nossa meta prioritária jamais foi ou será incentivar dissidências a fim de comprovar a eficácia de alguma
ideologia, porque, em verdade, todas cooperam para um destino comum no futuro.
Apenas não podemos mais adiar medidas, esperando que os homens acordem naturalmente para as
realidades que os cercam, junto às perigosas investidas levadas a efeito pelos inimigos confessos do
Evangelho do Cristo na humanidade, em ambos os planos da vida. A hora é de ação e campanha para
chamar na Estrada de Damasco os que queiram suportar o sacrifício, a renúncia e a obstinação em nome de
uma nobre causa que é libertar a mensagem de Jesus dos círculos impregnados de bazófia e fascinação,
através de exemplos de vida e do serviço construtivo de uma mentalidade em plena identificação com a
mensagem moral do Espiritismo Cristão.
Há um momento em que a atitude de amor pede a verdade a fim de escapar dos pântanos da omissão.
Estamos nesse momento. As diretrizes do Espírito Verdade não pactuam com as conveniências, embora não
incentive o desamor. Esse tempo é daqueles que souberem ser coerentes, sem que a coerência custe o
preço da discórdia tempestuosa. O desagrado existirá, porque a verdade incomoda quem se acostumou aos
caminhos largos. Estamos no tempo dos “caminhos estreitos”, e os que aceitarem perlustrá-lo não terão as
coroas de glórias passageiras e nem a aclamação geral dos distraídos do caminho. Serão taxados de
egoístas simplesmente por decidirem buscar a “contra-mão” das opiniões e a percorrer o caminho inverso
das consagrações humanas. Entretanto, terão um “contrato de assistência” permanente e irrevogável para
angariarem as condições justas ao desiderato. Contudo, justiça aqui não significa facilidades, mas ação
mediadora da Divina Providência para o bom andamento dos labores encetados. Temos grupos dispostos a
comprometer-se com os misteres da hora a custo de sacrifício; eles serão os apóstolos da “gentilidade” dos
tempos modernos.
Carecemos de um movimento espírita forte, marcado por uma cultura de raciocínios lógicos e coerentes, e
por atitudes afinadas com a ética do amor.Temos sim um problema, temos um inimigo. Atitude, eis a
questão. Más atitudes, eis nosso problema. Atitudes de orgulho, nosso maior inimigo.
Para que não nos chafurdemos em análises míopes, torna-se prioritário definir nossa grande meta em auxílio
aos que mourejam na coletividade doutrinária, para maximizarem seus esforços nas direções mais nobres e
úteis aos deveres dessa nova etapa de maioridade espiritual.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
A meta primordial é aprendermos a amarmo-nos uns aos outros, para que tudo o que for criado em
nome da causa espírita reflita a essência do Espiritismo em nossas movimentações.
Meditemos na inolvidável pergunta do Mestre: Que galardão teremos em amar somente os que nos amam?
(7)
A diversidade é uma realidade irremovível da Seara e seria utopia e inexperiência tratá-la como “joio”.
Imprescindível propalar a idéia do ecumenismo afetivo entre os seareiros, para que a cultura da
alteridade seja disseminada e praticada no respeito incondicional a todos os segmentos. A atitude de
alteridade será o termômetro do progresso das idéias espíritas no movimento, será o “trigo” vicejante e
plenificado na ética da fraternidade vivida. As instituições embebidas desse espírito promoverão o diálogo
franco e transparente e construirão através das relações as transformações. O desafio está lançado.
Temos como certo que as barreiras de aproximação estão mais frágeis que se imagina em alguns setores,
embora muitos apostem na impossibilidade de rompê-las. Falta habilidade para conduzir processos que
desafiam a inteligência das direções segmentares, e, não propriamente, o desejo de efetivá-las.
Precisaremos todos de muita humildade para construir um terreno neutro como frisou Kardec (8), e de muito
amor para garantir perpetuidade às novas relações de pluralismo e convivência com as diferenças.
Voltemos a atenção para a influência dos exemplos cristãos que constituem referências decisivas para os
que, legitimamente, anseiam empreender o discipulado com Jesus e Kardec. Apesar das lutas humanas,
necessárias e naturais, não faltaram e não faltam as balizas na Seara para que os espíritas, dispostos ao
desafio de superar a si mesmos, encontrem inspiração para travarem o bom combate em direção ao
crescimento e à libertação. A jornada é árdua e o calvário é doloroso, por isso muitos preferem as poltronas
macias de valores temporais nos regimes institucionais.
No entanto, a despeito da certeza que guardamos sobre a atitude de amor, devemos estar conscientes sobre
as sendas a seguir, a fim de não permitirmos romantismo e ingenuidade num momento de lutas ingentes.
Para isso, divulguemos a diretriz a tomar para que não aprisionemos tal meta nos sonhos fantasistas do
menor esforço e das crenças improdutivas.
A renovação de atitudes na edificação de uma nova mentalidade solicita uma inevitável mudança cultural
em nossos ambientes doutrinários. O repúdio ao debate e a aversão ao confronto de opiniões são
expressões do institucionalismo que ainda estão presentes no psiquismo humano, muita vez realimentado
por organismos e oradores respeitáveis.
Quando Jesus convocou seus discípulos ao serviço do amor “deu-lhes poder”, conforme assevera o texto de
Mateus(9). Reeditar esse fato é fundamental, a fim de alcançarmos melhores condições morais ao
movimento espírita. Conferir poder é propiciar respostas, caminhos, horizontes, alternativas pedagógicas
para instrumentalizar e capacitar alguém para alguma coisa. O Mestre, como educador, após os ingentes
deveres públicos do dia, recolhia-se em colóquios íntimos com os corações dos apóstolos, ampliava-lhes as
perspectivas sobre os ensinos, dimensionava as realizações extra-físicas em torno dos feitos de todo o
grupo, e respondia a questões símplices, porém, de rara profundidade moral. Era ali, naqueles momentos
íntimos, que se efetivava o poder de percepção e o desenvolvimento das condições necessárias ao
apostolado, porque havia debates sinceros e resolução de conflitos em clima pacífico, sob a tutela do
Senhor.
Hoje, mais que nunca, precisamos repetir tal episódio e permitir o “espírito do Senhor” na contenção de
nossos impulsos de desagregação e isolamento. É urgente trabalhar por uma cultura de trocas e
crescimento grupal, habituando-se a ter nossas certezas abaladas pelo conflito e pela permuta, para que
ampliemos a capacidade de enxergar com mais exatidão as questões que supomos terem sido esgotadas.
Essa diretriz conduzirá os homens a uma maior possibilidade de diálogo e intercâmbio, fazendo-os perceber
a inconveniência do isolamento em muros de pseudo-sabedoria ou nas masmorras do autoritarismo
institucional, ditando normas e idéias em nome de uma verdade exclusivista. Daí a importância de
incentivarmos os dirigentes ao contato sadio com a dinâmica operacional dos centros espíritas e dos
diversos segmentos da Seara, estabelecendo contatos, atualizando conceitos, tirando dúvidas, agendando
encontros, criando ensejos ecumênicos para servirem de exemplos aos menos afeiçoados ao hábito da
complacência com a diversidade do entendimento.
A melhor Casa será a que mais implementar o regime de amor em grupo, imprimindo a seus deveres
um caráter educacional.
Os heróis da fibra moral estão despedindo-se da Terra, porque cumpriram seu ministério de amor. Agora é o
tempo dos atos solidários pela união das forças, relembrando o calvário no qual Jesus despediu-se glorioso,
conferindo a continuidade da obra a quantos partilharam Seu percurso Divino.
Carecemos estabelecer programas centrados em valores éticos ao lado das bases fundamentais já
esquadrinhadas pelo estudo. Favorecer os trabalhadores e lideranças com melhores noções sobre “As Leis
Morais”, contidas na terceira parte de “O Livro dos Espíritos”, e aprofundar o entendimento sobre o
inesquecível e universal sermão do monte de Jesus, assim como o fez Allan Kardec em “O Evangelho
Segundo Espiritismo”, construindo um programa eficiente de renovação moral baseado na sábia filosofia
de Jesus.
O conhecimento das verdades espíritas, por si, levará a velhas mazelas do saber se não for acompanhado
pela vivência.
O fascínio resultante dos princípios espíritas não ocorre em função de estar o homem diante de
conhecimentos novos que o surpreendem, mas sim porque está retomando o contato com idéias que já
fizeram parte de seu patrimônio cultural, as quais não teve ele a capacidade de utilizar para a transformação
de si mesmo, submetendo-se às injunções das idéias pagãs e do rompimento com a ética do bem. Destarte,
é preciso hoje conjugar esse conhecimento, que é milenar, com a moralização, pela educação.
O tão decantado processo educacional de si mesmo passa pela melhor compreensão do mundo moral e
suas implicações, que resultarão em melhor auto-conhecimento, pois, o “conhecimento de si mesmo é a
chave do progresso individual”.(10)
Esse investimento no homem é a nossa chance de subtrair a noção inferior, que tenta subjugar o Espiritismo
a mera religião de formalidades atualizadas, e colocá-lo, onde deveria estar, no patamar de roteiro lúcido de
educação integral da humanidade.
A diretriz insuperável de Jesus continua como roteiro de rara oportunidade. Precisamos “conferir poder”.
Como amar o próximo? Como obter abnegação? Como treinar a alteridade? Comprometimento é difícil para
quem? É possível desenvolver a indulgência? Como dialogar em climas adversos? Como dialogar? O que é
solidariedade e parceria? Como conceber a unificação em tempos de pluralismo? Ela é viável? Como
oferecer essas condições de “poder” aos novos servidores da causa cristã? Qual o poder de transformação
estamos viabilizando a homens comuns que encontram esperanças e alento nos celeiros de paz da casa
espírita? Que temos feito para que as direções abram-se ao espírito de simplicidade? Que propostas temos
a apresentar para facilitar um tempo de aproximação pacífica entre as várias tendências da Seara? Por que
é tão importante essa aproximação?
O Espírito Verdade legou-nos o inspirado roteiro no “amai-vos e instruí-vos”. Instrução e amor, conhecimento
e dinamização ética.
Levantemos a bandeira da unificação ética em torno da qual ser-nos-á possível atrair pela ação, mais que
pelo discurso, ensejando a formação de pólos de congraçamento ecumênico entre nós, os espíritas com
diversidade de idéias, mas num único sentimento, o do amor exalando a fraternidade.
Tomemos como lema a tríade inspirada do Codificador “trabalho, solidariedade, tolerância” (11), e
cerremos esforços na campanha para que essa indicativa torne-se o programa da Casa e do movimento
espírita mundial.
O trabalho opera as mudanças pela força das circunstâncias, a tolerância cria o clima indispensável para
torná-las possíveis e a solidariedade é a mola propulsora capaz de fazê-las acreditáveis.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
De que nos valerá conhecer a imortalidade e viver intencionalmente o materialismo? Essa foi uma indagação
levantada pelo Codificador com fito de chamar-nos a atenção para a essência ética do Espiritismo.(12)
Se Kardec assim indaga quanto ao Espiritismo, perguntamo-nos de que nos valerá o Evangelho sem a
vivência? Por que chamar Jesus se não atentamos para Sua presença no desenvolvimento de relações
eticamente ajustadas com Seus ensinos?
Enveredemos pela religião, pela filosofia ou pela ciência, estudemos o Espiritismo ou o Evangelho, adotemos
essa ou aquela prática com a qual melhor nos afeiçoemos, criemos essa ou aquela entidade para servir a
novas experiências, tudo isso pouco importa se não tivermos amor. Recordemos o apóstolo Paulo em sua
belíssima poesia: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria
como o metal que soa ou como o sino que tine”. (13)
Qual a solução?
Mencionamos a meta prioritária, conhecemos a diretriz insuperável, mas todos sentimos um vácuo no
coração quando pensamos nesse ideário maior confrontado com a realidade moral de nosso movimento
bendito. O que fazer já sabemos. A indagação que agora toma-nos a mente é: como fazer?
A melhor campanha para a instauração de um novo tempo na Seara passa pela necessidade de melhoria
das condições do centro espírita, que é a célula operadora do objetivo do Espiritismo. Lá sim se concretizam
não só o conhecimento e o trabalho, mas a absorção das verdades no campo individual consentidas em
colóquios íntimos e permanentes, que reproduzem os momentos de Jesus com seu colégio apostólico.
Por isso, temos que promover as Casas, de posto de socorro e alívio a núcleo de renovação social e
humana, através do incentivo ao desenvolvimento de valores éticos e nobres capazes de gerar a
transformação.
O núcleo espiritista deve sair do patamar de templo de crenças e assumir sua feição de escola
capacitadora de virtudes e formação do homem de bem, independentemente de fazer ou não com que
seus transeuntes se tornem espíritas e assumam designação religiosa formal.
Saber viver e conviver serão as metas primaciais desse programa no desenvolvimento de habilidades e
competências do espírito.
O que faremos para aprender a arte de amar? Como aprender a aprender? Como desenvolver afeto em
grupo? Como “devolver visão a cegos, curar coxos e estropiados, limpar leprosos, expulsar demônios”?
Muitos adeptos conhecem a profundidade dos mecanismos desencarnatórios à luz dos princípios espíritas,
entretanto, temos constatado quantos chegam por aqui em deploráveis condições por não se imunizarem
contra os padrões morais infelizes e degeneradores.
A melhoria das possibilidades do centro espírita indiscutivelmente facilitará novos tempos para o pensamento
espírita, haja vista que estaremos ali preparando o novo contingente de servidores da causa dentro de uma
visão harmonizada com as implicações da hora presente. Dessa forma, estaremos retirando a Casa da
feição de uma “ilha paradisíaca de espiritualidade”, projetando-a ao meio social e adestrando seus partícipes
a superarem sua condição sem estabelecer uma realidade fictícia e onerosa, insufladora de conflitos e de
medidas impositivas, longe das reais possibilidades de transformação que a criatura pode e precisa efetivar
em si mesma.
Interagindo com o meio em permuta incessante de valores e experiências, o centro espírita sai da condição
de um reduto isolado no cumprimento de sua missão, e passa a delinear a formação de uma rede de
intercâmbios, fenômeno esse que vem abarcando a humanidade inteira sob a designação de globalização.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Contudo, a interação da casa doutrinária com o meio deve ser ativa a ponto de transformar-se em pólo
irradiador de benesses a outras co-irmãs e, igualmente, para o agrupamento social no qual encontra-se
inserida.
Por isso, mais uma vez torna-se imprescindível renovar conceitos e reciclar métodos, a fim de atingirmos os
patamares de instituições multiplicadoras da mentalidade imortalista e fraternal.
Esse processo de interação social reclama posturas novas, dentre elas a de abrir canais de permanente
relação inter-institucional, na qual o centro espírita catalise fulcros de cultura e modelos experimentais,
transformando-se em ambiente de diálogo e convivência para dirigentes e trabalhadores de outros grupos
afins, passando suas vivências e aperfeiçoando suas realizações ao tempo em que converte-se em pólo
espontâneo da união entre co-idealistas, no regime do mais livre pluralismo de concepções acerca dos
postulados espíritas.
Mais uma vez a visão futurista do Codificador, prenunciando esse tempo, levou-o a declarar: “esses grupos,
correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da
grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único
sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã”. (14)
A criação desses pólos são medidas salutares contra o isolacionismo e, pela sua característica essencial de
fortalecimento de idéias, ensejam uma relação mais participativa, descentralizadora, operando entre os
grupos a prática da solidariedade.
Incentivaremos não só a renovação cultural nas casas espíritas, mas também a estruturação das
entidades específicas que, pela sua neutralidade institucional, obterão um trânsito mais intenso junto à
seara na dinamização de um arejamento cultural, no atendimento das necessidades humanas que abarrotam
em solicitações e demandas.
Há serviço intenso a realizar, e devemos ver com bons olhos a multiplicidade de funções e a diversificação
de medidas em favor dos clamores da sociedade.
Os dirigentes, ricos de boa-vontade e espírito cooperativo, anseiam por novos horizontes, todavia, tem
faltado quem se disponha a dividir vivências ou a edificar um ambiente que se constitua verdadeira oficina
de idéias e diálogo para a criação de caminhos novos.
Serão esses pólos as cooperativas de afeto cristão que permitirão aos servidores e condutores das
responsabilidades doutrinárias renovarem esperanças, quebrando os circuitos de rotina dentro do labirinto de
obrigações a que se renderam no ramerrão do centro espírita. Serão pólos de arejamento e solidariedade
mútua regidos por intenso e espontâneo desejo de somar que, em última análise, é a unificação no que de
mais sublime exprime o sentido dessa palavra.
Estamos, portanto, meus irmãos e amigos do coração, instaurando o período da unificação ética, da
maioridade das idéias espíritas através do melhor aproveitamento individual dos seareiros dispostos a mais
amplos vôos de renúncia, sacrifício e amor à causa.
Assim, todos nós aqui hoje reunidos estamos convocados a cerrar esforços continuados ao programa
renovador de nosso abençoado movimento espírita, com vistas a ampliar na humanidade a mensagem de
esperança e libertação trazida por Jesus e explicada com lucidez pelo trabalho de Allan Kardec.
Estamos em campanha.
Temos uma solução para a Seara: novas atitudes. Seja essa a nossa campanha no bem pelos tempos novos
a que todos somos chamados.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Todos aqui, mormente os que se acostumaram à docilidade e ternura de meu coração, não se surpreendam
com a franqueza de minhas palavras.
A clareza e a definição de minha fala são em obediência incondicional e servil a ordens maiores que
cumpro em nome do Espírito Verdade.
Sem perder a fraternidade, vós outros que têm o acesso livre pela palavra mediúnica, levai essa mensagem
ao conhecimento de todos. Aqueles que hoje aqui se encontram temerosos ante as novas chances que logo
envergarão na carne, levai convosco a esperança de que em plena infância serão bafejados pelas claridades
desse momento de renovação, dentro e fora das movimentações espirituais a que se matricularão. Aqueles
que servem a outras fileiras de obrigações junto à humanidade, cooperem com nosso ideal incentivando a
superação dos preconceitos e abrindo picadas para a penetração das idéias espíritas frente à sociedade.
Enaltecendo a comemoração, da qual ainda agora quase todos aqui presentes tivemos a benção de
acompanhar junto aos irmãos no Congresso Espírita Brasileiro, peçamos ao Senhor da Vida que fortaleça
sempre os ideais em nosso coração, para que as medidas salvadoras representem mãos estendidas e
guiadas pelo coração sempre pulsante no bem, em favor das lutas e do aprendizado daqueles que
receberam de Deus a gloriosa oportunidade de regressarem à carne no torrão brasileiro, fruindo das
benesses do Consolador Prometido. Amparemos nossa bendita Seara em seus novos dias, relembrando
sempre a nossos tutelados a importância do amor.
Rememoremos como fonte inspiradora de nossa campanha a sublime e inesquecível fala de nosso Mestre:
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (15)
Encontros Inesquecíveis.
Terminada a fala de nosso benfeitor Bezerra, estávamos todos como que hipnotizados pelo afeto e pela
autoridade com que externava seus conceitos.
Dissera ele muito bem acerca da surpresa que, durante muitos trechos de sua alocução, tomou-nos de
assalto graças à franqueza e clareza com que explanava suas idéias.
Ele fora claro e fraterno, sendo que estávamos habituados somente com sua paternal e ilimitada
complacência para com a extensão de nossas necessidades.
Percebia-se durante sua apresentação que irradiações muito intensas vinham de esferas superiores, para
nós ainda desconhecidas, deixando evidenciar que, além de sua grandeza espiritual peculiar, realmente ele
cumpria a determinações excelsas frente aos assuntos dissertados.
Terminada a palestra, tivemos o ensejo de presenciar encontros inesquecíveis que merecem nossos
registros, para que os corações na Terra meditem sobre as realidades impostas pela imortalidade na jornada
dos antigos servidores da coletividade espírita.
Destacamos o abraço fraterno entre Torteroli e Bezerra que se olharam como irmãos queridos de longa
caminhada; em canto discreto do salão, percebíamos um dos mais procurados para o abraço afetivo e a
palavra amiga que era Jean Baptiste Roustaing, cercado por amigos da Itália e da França; em outra cena
presenciamos amigos queridos vinculados às propostas do Pacto Áureo discutindo as graves medidas que
os aguardavam: ali estavam Wantuil de Freitas, Manuel de Quintão, Armando de Oliveira Assis, Osvaldo de
Mello, Djalma Montenegro Farias, Militão Pacheco e outros mais. Era indisfarçável o interesse de todos em
fraternizar com os nomes que fizeram história no país como Rui Barbosa e Olavo Bilac, cercados por Freitas
Nobre, Carlos Imbassahy e outros políticos e religiosos. Observávamos também as caravanas vindas de
vários estados e países reunindo-se a esse ou àquele coração de seu interesse no campo do aprendizado, e
no caso da Caravana Mineira, composta por um grupo valoroso de servidores, estava ao centro das
considerações o nosso estimado Antônio Lima tecendo alvitres quanto ao futuro.
Para nós, porém, entre tantos encontros e reencontros, ficou gravado no coração o instante de abraçarmos o
nosso benfeitor Bezerra.
Acompanhando-nos, discreta como de costume, a nossa Ermance Dufaux, que tem sido o coração de
nossas movimentações espirituais.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Constatei surpreendido que os olhos de Bezerra dilataram-se com o aproximar de Ermance; ele, que sempre
ensaiava um termo ou outro na sua costumeira ternura, emudeceu-se, pegou as mãos delicadas da nossa
amiga, beijou-as e disse:
“Filha, suas mãos representam troféus luminosos da vitória do Espiritismo nascente, quando as cedeste para
a sublime consecução de “O Livro dos Espíritos”, e se anseias por torná-las úteis novamente nos serviços do
bem, providenciaremos rumos a teus inspirados desejos.”
Ermance enrubesceu e lacrimejou, porque o sentimento elevado de Bezerra lhe havia sondado as
profundezas da alma, percebendo-lhe a súplica velada na intensa disposição de contribuir com os destinos
novos da causa.
Ela, num ímpeto generoso, mas guardando a típica fleuma de uma dama francesa, osculou com um fraterno
afago a cabeleira do paladino, e sem dizer uma só palavra abraçou-o incontinente, com efusivo amor.
Terminada a atividade, olhamos para o infinito no firmamento e ficamos a meditar longamente sobre o que
nos aguardava no futuro...
Referências:
(1) Realizado na cidade de Goiânia a 05 de outubro de 1999, em comemoração ao cinqüentenário do acordo de unificação, o Pacto Áureo.
(2) Nota da editora: o texto que segue é a descrição que o autor espiritual fez da palavra de Bezerra de Menezes.
(3) Congresso Internacional de Espiritismo em 1925 coordenado por Leon Dénis.
(4) Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, na Comunhão Espírita Cristã, em 20 de abril de 1963, Uberaba - MG, publicada
na revista Reformador de dezembro de 1975.
(5) Mateus, 20:26 a 27.
(6) Obras Póstumas, segunda parte, Credo Espírita, Preâmbulo.
(7) Mateus, 5:46.
(8) A Gênese, Allan Kardec, capítulo XVII, item 32.
(9) Mateus, 10:1.
(10) O Livro dos Espíritos, questão 919a.
(11) Obras Póstumas, biografia de Allan Kardec.
(12) O Livro dos Médiuns, item 350.
(13) I Coríntios, 13:1.
(14) O Livro dos Médiuns, item 334.
(15) João, 13:35.
Transcrito do livro Seara Bendita, publicado pelo INEDE - Instituto Espírita de Estudo e Divulgação do
Evangelho (site: www.inede.com.br / e-mail: [email protected]) ditado por diversos Espíritos e
psicografado pelos médiuns Maria José C. Soares de Oliveira e Wanderley Soares de Oliveira (MG).
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Filhos da alma:
Que o Senhor nos abençoe!
A criatura terrestre destes dias, guindada pela ciência e pela tecnologia a patamares elevados do
conhecimento, ainda estorcega nas aflições do seu processo evolutivo.
As conquistas relevantes logradas até este momento não conseguiram equacionar o problema da criatura
em si mesma.
Avolumam-se os conflitos entre as nações apesar do esforço de abnegados missionários na área da política
e da diplomacia internacionais. Cresce o conflito entre os grupos sociais, nada obstante o empenho de
dedicados seareiros do Bem, tornando-se pontes para o entendimento entre os grupos litigantes.
A violência urbana, por todos conhecida, atinge níveis quase insuportáveis. E apesar do sacrifício de
legisladores abençoados pelo Mundo Espiritual Superior, cada dia faz-se mais agressiva e hedionda, sem
arrolarmos os prejuízos dos fatores pretéritos que a desencadearam através dos impositivos restritivos à
liberdade individual e das massas.
Não podemos negar que este é o grande momento de transição do Mundo de Provas e de Expiações para o
Mundo de Regeneração.
Trava-se em todos os segmentos da sociedade, nos mais diferenciados níveis do comportamento físico,
mental e emocional, a grande batalha.
O Espiritismo veio para estes momentos, oferecendo os nobres instrumentos do amor, da concórdia, do
perdão, da compaixão.
Iluminou o conhecimento terrestre com as diretrizes próprias para o encaminhamento seguro na direção da
verdade.
Ensejou à filosofia uma visão mais equânime e otimista a respeito da vida na Terra.
Facultou à religião o desalgemar das criaturas humanas, arrebentando os elos rigorosos dos seus dogmas e
da sua intolerância, a fim de que viceje a fraternidade que deve viger entre todas criaturas.
Cabe a todos nós, aos espíritas encarnados e aos Espíritos-espíritas, a tarefa de ampliar as balizas do Reino
de Deus entre as criaturas da Terra.
Divulgar o Espiritismo por todos os meios e modos dignos ao alcance, é tarefa prioritária.
A dor é colossal neste momento no mundo terrestre... E o Consolador distende-lhe as mãos generosas para
enxugar as lágrimas e os suores de todos aqueles que sofrem, mas, sobretudo, para eliminar as causas do
sofrimento, erradicando--as por definitivo... E essa tarefa cabe à educação. Criando nas mentes novas o
pensamento perfeitamente consentâneo com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo, retirando as
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
anfractuosidades teológicas e dogmáticas com que o revestiram, produzindo arestas lamentáveis geradoras
de atritos e de perturbações.
Não é possível mais postergar o momento da iluminação de consciência. E o sofrimento que decorre da
abnegação e do sacrifício que nos deve constituir estímulos são os meios únicos e eficazes para que seja
demonstrada a excelência dos paradigmas e dos postulados da Codificação Espírita.
As criaturas humanas estão decepcionadas com as propostas feitas pelo utopismo que governa algumas
mentes desavisadas. Mulheres e homens honestos encontram-se sem rumo, cansados de palavras ardentes
e de propostas entusiastas, mas vazias de conteúdo e de significação.
O Espiritismo, meus filhos, é a resposta do Céu aos apelos mudos ou não formulados mentalmente sequer,
de todas as criaturas terrestres.
Estais honrados com a bênção do conhecimento libertador. Estais investidos da tarefa de ressuscitar a
palavra da Boa Nova, amortalhada pela indiferença ou sob o utilitarismo apressado dos que exploram as
massas inconscientes, conduzindo-as para o seu sítio de exploração e de ignorância.
Vós recebestes o chamado do Senhor para preparar a terra, a fim de que a ensementação da verdade faça-
se de imediato.
Unidos, amando-vos uns aos outros, mesmo quando discrepando em determinadas colocações de como
fazer ou quando realizar, levai adiante o propósito de servir ao Mestre antes que o interesse de cada qual
servir-se a si mesmo.
Conhecemos as vossas dificuldades pessoais, sabemos das vossas lutas íntimas e identificamos os desafios
que se vos apresentam amiúde, testando-vos as resistências morais.
Não desfaleçais! Os homens e as mulheres, a serviço do bem com Jesus, são as suas cartas vivas à
Humanidade, a fim de que todas as criaturas leiam nas suas condutas o conteúdo restaurado do Evangelho,
as colocações seguras dos Imortais e catalogadas pelo insigne mensageiro Allan Kardec.
Uma nova mentalidade, uma mentalidade nova vem surgindo nos arraiais do Movimento Espírita. Cada
lutador compreende a necessidade de mais integrar-se na atividade doutrinária, a fim de que, com mais
rapidez se processe a Era de Renovação Social e Moral preconizada pelo preclaro mestre de Lyon.
Não vos faltam os instrumentos próprios para o êxito, a fim de que areis as terras do coração humano, para
que desbraveis as províncias das almas terrestres, porfiando nessa ação, sem temerdes, sem deterdes o
passo e sem retrocederdes.
Estais acompanhando Jesus que, à frente, continua dizendo: “Vinde pois a mim, vós todos que estais
cansados e aflitos, conduzindo o vosso fardo e sob as vossas aflições, comigo esse fardo é leve e essas
aflições são consoladas, porque eu vos ofereço a vida plena de paz e de felicidade.”
Corações em festa, embora as lágrimas nos olhos; passo firme, inobstante os joelhos desconjuntados,
Espírito erecto, não obstante o peso das necessidades.
Nunca vos faltarão os recursos próprios, que vindes recebendo e que recebereis até o momento final e
depois da jornada cumprida, para que desempenheis a missão que vos diz respeito hoje e quando a tivestes
em épocas transatas e falhastes...
Já não há tempo para enganos. A decisão tomada precede a ação da vitória, e com o amor no sentimento, o
conhecimento na mente, tereis a sabedoria de permanecer fiéis até o fim.
São os votos dos vossos amigos espirituais que aqui estão convosco e do servidor humílimo e paternal de
sempre,
Bezerra
---<>---
Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, no encerramento da Reunião do
Conselho Federativo Nacional, em 21 de novembro de 2004, na Federação Espírita Brasileira, em Brasília,
DF.
Nota: Texto revisado pelo Autor espiritual.
***
ALIANÇA ESPÍRITA EVANGELICA
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
28 de Outubro 2006–São Paulo
PRÉ-ESTUDO 2
TEMA:
A REFORMA INTIMA DIRECIONADA PARA A FELICIDADE DO SER
OJETIVO:
Trazer aos dirigentes as diretrizes do Plano Espiritual Superior com relação a
postura que devemos adotar, também em relação a renovação intima, frente ao novo
momento que o espiritismo esta sendo conduzido na Terra como fundamento do mundo
regenerado.
CONTEUDO:
Capítulo 1 do Livro Reforma Íntima sem Martírio - Ermance Dufaux.
DORES DO MARTÍRIO
Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirde s os
prazeres que as vossas condições humanas vos permitem.
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco,
para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de
cinzas. Um Espírito Protetor. (Bordéus, 1863.) O Evangelho Segundo o
Espiritismo – Capítulo XVII SEDE PERFEITOS
o que devíamos estar fazendo. Certamente esse caminho gera martírio e ônus para a vida
mental.
Existem muitas dores naturais no crescimento espiritual que es tabelecem um
processo crônico de pressão psicológica, entretanto, diferem muito da auto -flagelação,
porque elas impulsionam e fazem parte da grande batalha pela promoção de todos nós.
Observa-se, inclusive, que alguns corações sinceros, inseridos no esforç o autoeducativo,
experimentam essa "silenciosa expiação", mas, por desconhecerem os percalços do
trabalho renovador, terminam por desistirem de prosseguir e atolam -se no desânimo.
Acreditam-se piores quando constatam semelhantes quadros de dor psicológica e
deduzem que, ao invés de progredirem, estão em plena derrocada. Diga -se de passagem,
não são poucos os quadros com essas características que temos observado no seio do
movimento doutrinário.
Freqüentemente existe um trio de sicários da alma que a chico teiam durante as
etapas do amadurecimento, são eles: baixa auto-estima, culpa e medo de errar. Apesar
de serem sofrimentos psíquicos, funcionam como emuladores do progresso quando nos
habilitamos para gerenciá -Ios. Assim, a culpa transforma -se em auto-aferição da conduta
e freio contra novas quedas, a baixa auto -estima converte-se em capacidade de descobrir
valores e o medo de errar promove -se a valoroso arquivo de experiências e desapego de
padrões.
Face ao exposto, indaguemos sobre quais seriam as medida s que deveriam ser
implementadas nos núcleos educativos do Espiritismo, em favor da mel hor compreensão
dos roteiros de transformação interior. Aprofundemos debates entre dirigentes sobre quais
iniciativas poderiam ser facilitadas aos novéis trabalhadores, em favor de um aprendizado
sem os torturantes conflitos originados da crueldade aplicada a nós mesmos, quando não
somos criativos o bastante para lidar com nossa sombra e tombamos em martírios inúteis.
Reforma íntima deve ser considerada como melhoria de n ós mesmos e não a
anulação de uma parte de nós considerada ruim. Uma proposta de aperfeiçoamento
gradativo cujo objetivo maior é a nossa felicidade .
Quem está na reforma interior tem um referencial fundamental para se auto -
analisar ao longo da caminhada e ducativa, um termômetro das almas que se aprimoram;
inevitavelmente, quem se renova alcança a maior conquista das pessoas livres e felizes: o
prazer de viver.
ALIANÇA ESPÍRITA EVANGELICA
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
28 de Outubro 2006–São Paulo
PRÉ-ESTUDO 3
TEMA:
A PROPOSTA EDUCACIONAL DE JESUS
OJETIVO:
Situar o processo de renovação intima , preconizado pela EAE, dentro do contexto
da proposta de Jesus e da Doutrina dos Espíritos para a redenção do Ser .
CONTEUDO:
Destacamos duas orientaçõe s espirituais. A primeira, atualíssima, é destinada ao
movimento espírita em geral, tem a ver com as diretrizes trazidas do mais alto por Bezerra,
e versa sobre a relevância de primarmos por um “espiritismo por dentro”. A outra
orientação, já bem conhecida de nosso movimento de Aliança, trata de maneira
semelhante da mesma questão: de buscarmos em primeiro lugar a renovação dos
sentimentos.
“Vem um dia em que ao culpado cansado de sofrer , com o orgulho afinal abatido, Deus abre
os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés. As provas rudes , ouvi-me
bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito,
quando aceitas com o pensamento em Deus. É um momento supremo, no qual, sobretudo,
cumpre ao espírito não falir, murmurando, se não quiser perder o fruto d e tais provas e ter de
recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus o ensejo que vos proporciona de
vencerdes, a fim de vos deferir o prêmio da vitória. Então, saindo do turbilhão do mundo
terrestre, quando entrardes no mundo dos Espíritos,.serei s aí aclamados como o soldado que
sai triunfante da refrega.”
Deixaremos a seguir um breve resumo da “aula inaugural” que serviu de fio condutor para os
debates e estudos dos dias subseqüentes, considerando que a abordagem do benfeitor
compromete diretamente a todos os que se encontram envolvidos com as atividades libertadoras
da abençoada Doutrina Espírita, incluindo
“Definitivamente fica claro que ser feliz é uma questão de interiorização, uma
investigação perseverante s obre a bagagem integral do espírito. Essa viagem interior
permitirá resgatar, paulatinamente, o reencontro com a “Centelha Divina”, o Pai que foi
“abandonado” pelo Filho Pródigo, a parcela “imaculada” de Deus no íntimo. Esse passo
será um laborioso trabalh o de “dissolver” os escombros morais sob os quais encontram -se
soterrados, há milênios, os valores espirituais em razão da tragédia da “orfandade
escolhida”, ou seja, a infeliz escolha de abandonar a segurança da plenitude, em
comunhão com as Leis Divinas, pela opção da “liberdade” para construir o caminho da
insatisfação e da insaciedade através do egoísmo.”
“A exemplo do Filho Pródigo do Evangelho, o homem está escravizado pela
insegurança perturbadora causando -lhe dores inconsoláveis e sentimentos de re volta,
desamor e tristeza que nascem do reflexo cruel do personalismo viciado.”
“Nesse trajeto de distanciamento da “luz paternal” nasceu o maior inimigo de todos
nós, o orgulho, como sendo saliente sentimento de superioridade que nos vimos obrigados
a gestar para “encenarmos” a segurança que perdemos por “desligarmos” do Pai.
Sentimento esse que nos transportou a todo tipo de arbitrariedades nos domínios da
ilusão, ampliando mais e mais nossa frustração e desajuste consciencial.”
“A retomada desse proces so exigirá o compromisso de operar incansavelmente nas
faixas da renovação interior em favor de “novos padrões de existir e de ser”, tornando -nos
merecedores dos júbilos da alma perante a vida.”
“Até agora o que compreendemos por felicidade, quase sempre, tem sido o
resultado da Misericórdia Divina, que nunca nos desampara em nome do amor,
oferecendo-nos recursos que “não merecemos”, a fim de que tenhamos as condições
mínimas para palmilhar o caminho das conquistas interiores na busca da felicidade
merecida, que ninguém poderá nos retirar no futuro glorioso que nos espera a todos.”
“A advertência inesquecível de Jesus, Mestre e profundo conhecedor da psicologia
humana, assinalou que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores; e esse
estado íntimo assinalado é o reinado da paz, decorrente das almas felizes que se fizeram
“escolhidas” para serem filhos pródigos de retorno à Casa Paternal.”
“Essa ensancha de optar e renovar os caminhos nessa direção está entregue a cada
um de nós, recordando que o simples fato de renascer no corpo físico é indício certo de
que Deus abriu “Seus braços” para nós, os filhos infiéis, e nos disse: “Porque este meu
filho estava morto, e reviveu, tinha -se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar -
se."<4>
“Nossa tarefa será levar aos irmãos iluminados pela Doutrina da imortalidade que é
preciso vencer as aparências e exterioridades, vigiar as decisões para não permitir o
equívoco de procurar a felicidade nas questões efêmeras, repetindo velhas atitudes de
religiosidade estéril em comportamentos moralistas e autoritários com os quais acredita -se
possuir o reino dos céus.”
“Confirmemos, em nome da caridade que pede a sinceridade, que o joio da atitude
pernóstica e arrogante tem rondado a sementeira do Cristo com ares de t rigo vicejante...”
“Os túmulos caiados, da passagem do Evangelho, estão ressurgindo em nossa obra
de amor... Ressurgem nas fileiras da caridade espírita na condição daqueles que
acreditam estar com suas questões espirituais resolvidas tão somente em razão da
refazente sensação de paz nos movimentos abençoados das doações, que, no entanto, se
fortalecem a alma, não são suficientes para resolver seus problemas de consciência –
única salvaguarda para a “morte feliz”.
“Além de caridade e estudo, na forma como nossos companheiros terrenos têm
compreendido, precisamos ensinar -lhes a cultivar ideais, a desenvolverem projetos de
vida, a terem metas existenciais afinadas com a Proposta Educacional de Jesus e a
entenderem com mais acerto o que é a humildade, para nã o cederem às injunções
dolorosas da depressão e da desistência, tão comuns mesmo sob a tutela das tarefas
doutrinárias. Conduzamo-los o quanto antes ao contato com as Verdades Evangélicas,
estudadas com sensatez e fé racional, para sedimentarem uma esteira nova de
motivações em todos os campos de sua vida.”
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
começarmos pela renovação dos sentimentos para que possamos, nas obras que construirmos,
dignificá-las com um atendimento verdadeiramente cristão.
E QUAL A FINALIDADE DA ALIANÇA?
Em nossas preocupações, fomos conversar com o n osso Comandante Armond que, após o relato
inicial, respondeu:
- Mas essa tendência era de se esperar, levando -se em conta que todos nós emergimos há pouco do
primitivismo e hoje nos empenhamos no sentido de nos vencermos a nós mesmos para alcançarmos
a perfeição. Respondendo á sua pergunta, prosseguiu o Cmte., pondere o seguinte: qual a finalidade
da Aliança? Não é a evangelização? E a base desta não é o "amai -vos uns aos outros"? Isto não
é, porventura, aprimoramento de sentimentos?
Realmente, amigo leitor, a Aliança Espírita Evangélica tem por objetivo precípuo uma verdadeira
aliança, um movimento de confraternização de grande amplitude com efeitos extraordinários, pois,
amando-nos como irmãos, de forma incondicional e irrestrita, estaremos aptos a amar os nossos
semelhantes. Por outro lado, não nos esqueçamos, seremos beneficiados por essa grande fraternidade
no que se refere á nossa sustentação espiritual.
META PARA O FUTURO
Estamos prestes a um grande passo que nos permitirá o ingresso na vivência frater nal.
CONFRATERNIZAR PARA MELHOR SERVIR será o nosso lema e, atentos que estamos,
ouvimos a sinfonia sideral de Jésus Gonçalves entoando seus hinos de imortalidade e o coro em
ritmo triunfal cantando: FRATERNIDADE, IRMÃOS, FRATERNIDADE!
Jacques Conchon
Diretor Geral da Aliança
P.Avelino
ALIANÇA ESPÍRITA EVANGELICA
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
28 de Outubro 2006–São Paulo
PRÉ-ESTUDO 4
TEMA:
AUTOCONHECIMENTO
OJETIVO:
Ampliar nosso entendimento a respeito do autoconhecimento, facilitando e
ampliando nossas abordagens ao tema Reforma Intima e Caderneta Pessoal .
CONTEUDO:
Destacamos algumas orientações espirituais o espírito HAMMED enfeixadas no
livro Os prazeres da alma, e um texto de Irmão José do Livro Se teus olhos forem bons.
Afetividade
Tudo o que existe tem sua origem no amor - essência fundamental de todas
as coisas que vivem sobre a Terra. A busca do amor é o principal anseio de
todo ser humano.
A história da vida de cada criatura é um relato sobre seus antecedentes vivenciais; o conjunto de suas
experiências pretéritas somadas às de sua existência atual. Quando um indivíduo conta sua história pessoal
e única, estamos apenas ouvindo sua própria interpretação, filtrada por suas crenças, valores, argumentos,
pressuposições, cultura, elementos de que ele se utiliza para nos apre sentar seu modo de pensar e de ver o
mundo.
Podemos contar muitos fatos e ocorrência s sobre nós, dando maior importância a alguns aspectos e
ignorando outros, ou mes mo selecionando diferentes atos e comportamentos que tivemos nas mais diversas
ocasiões. Somos seletivos por natureza, e tudo o que falamos, pensamos ou fazemos tem certa rel atividade
quando comparado com outros momentos, situações ou fases evolutivas.
Cada um de nós possui uma individualidade original e exclusi va. Utilizando-nos de uma singela
metáfora, podemos dizer: "Toda vez que Deus cria um Espírito, Ele quebra o molde" .
A alma passa por um grande número de encarnações no curso dos séculos, sendo diversificadas suas
experiências na área da afetividade. Como resultado disso, o Espírito adquire, nesse pro cesso, um conjunto
peculiar de conhecimentos, ou seja, vive inú meras situações e ocorrências na noite dos tempos.
Não somos o que pensamos, somos o que sentimos. A busca do amor é o principal anseio de todo ser
humano. Ele é legítimo e saudável, e nos incentiva ao despertar da inteligência e dos talentos inatos, a fim
de criarmos, renovarmos e crescermos, quer no cam po da religião, da filosofia, quer no campo da ciência,
da arte e em outros tantos setores do desenvolvimento humano.
Tudo o que existe tem sua origem no amor - essência fundamental de todas as coisas que vivem sobre
a Terra.
O ponto de partida de todas as ações humanas é a alma nosso mais profundo centro amoroso -, que
transmite energeticamente a afetuosidade para nossos sentidos físicos periféricos, isto é, para o nível físico -
sensitivo.
A aspiração do amor causa em inúmeros indivíduos uma sen sação de inadequação ou medo; por esse
motivo, eles a reprimem, de modo inconsciente ou voluntário. No entanto, apesar de tenta rem recalcar ou
"apagar" a emoção, eles nunca conseguirão silen ciar por muito tempo o sentimento amoroso que flui da
intimidade da própria alma.
Nosso grande equívoco é acreditar que o desejo de amar é motivo de fraqueza, vergonha, submissão
ou domínio. Esse anseio, quando reprimido, acarreta conseqüências angustiantes e desas trosas, tanto na
área física como na psicológica.
Os Espíritos não têm sexos "( ... ) como o entendeis, pois, os sexos dependem do organismo. Entre
eles há amor e simpatia baseados na identidade de sentimentos" 1.
A soma de todos os atos de nossa história de vida poderia ser resumida unicamente no fato de que não
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
somos nem santos nem vilões, apenas criaturas em busca do amor. Por certo, poderíamos dizer que,
apesar dos mais diversificados "pontos de vista" e "mode los de mundo" que possuímos, o desejo de amar
ou a "identidade de sentimentos", é o mais sublime propósito da existência de todo ser humano.
Usamos mecanismos de evasão, por exemplo, a robotização - serviços automáticos sem prazer ou
criatividade -, para compensar nossa insatisfação no amor, trabalhando incessante e exaustivamente. Em
outras ocasiões, aspiramos à completa aprovação alheia de tudo que fazemos ou acreditamos para
preencher a sensação de falta e incompletude que toma conta de nosso universo afetivo.
Queremos ser compreendidos a qualquer preço, parecer perfeitos, importantes, impressionar as
pessoas. A máscara é a vontade de ser aceito plenamente por todos; em última análise, querer forçar as
pessoas a nos aceitar, custe o que custar. A atitude de compreen der e de amar só é satisfatória quando
sincera e espontânea.
A concepção junguiana de sombra - modelo ou representação de tudo aquilo que não admitimos ser e
que nos esforçamos por ocultar e/ou valores inconscientes e qualidades em potencial esquecidas nas
profundezas de nossa intimida de que precisamos despertar dentro de nós.
Nesse sentido, disse Lucas: "Pois nada há de oculto que não se tome manifesto, e nada em segredo
que não seja conhecido e venha à luz do dia" 2.
Quando um indivíduo vai gradativamente tomando contato com os aspe ctos de sua sombra, ele se toma
cada vez mais consciente de seus impulsos, emoções, sentimentos e atributos que igno rava ou negava em
si mesmo. A partir daí, consegue perceber claramente nos outros os mesmos conteúdos inconscientes que
não via ou não admitia em si mesmo. Afinal, pensa consigo mesmo:
"Não me importo, todos somos iguais. Possuímos a mesma estru tura humana, só precisamos aprender a
achar o equilíbrio, pois a virtude está no caminho do meio".
No amor ou afetividade está incluída a habilida de de ver e reconhecer a relatividade da vida, em toda a
sua validade e seu perfeito equilíbrio. "Entre eles (os Espíritos) há amor e simpatia baseados na identidade
de sentimentos".
A dignidade da pessoa humana não está fundamentada em "parecer amar", e sim em "amar
verdadeiramente". O verniz enco bre o mal, mas não o suprime; um sepulcro pintado de branco parecerá
menos lúgubre, todavia continuará sendo um sepulcro.
O hipócrita dissimula ser o que não é, buscando no fingimento uma cobertura para continu ar sendo
aquilo que de fato quer parecer aos olhos do mundo.
No lugar em que o amor reina, não há imposição e repressão; onde a imposição e a repressão
prevalecem, o amor está ausente. A autêntica afetividade está associada a uma ampliação de consci ência e
a um amadurecimento espiritual. Quem a possui aprende a ser caridoso, generoso, benevolente, deixando
os outros livres não apenas para errar, para aprender, para discordar, mas também para amar,
reconhecendo que as fragilidades que muitas vezes recrimi namos nos outros podem ser as nossas amanhã.
Autoconhecimento I
O autoconhecimento é a capacidade inata que nos permite perceber; de forma
gradativa, tudo que necessitamos transformar. Ao mesmo tempo, amplia a
consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a
ser aquilo que somos em essência.
O autoconhecimento nos dá a habilidade de saber como e onde agem nossos pontos frágeis e até a
quem atribuímos nossas emoções e sentimentos, facilitando -nos compreender melhor os que nos rodeiam.
Caminhar no processo do autoconhecimento significa desenvolver gradativamente o respeito aos nossos
semelhantes, impedindo que façamos projeções triviais e levianas de nossas deficiências nos outros.
Apenas quando tivermos um considerável conhecimento de nós mesmos é que po deremos ajudar
efetivamente alguém. Se desconhecemos nosso mundo interior, como poderemos transmitir segurança e
determinação ou dar força aos outros? O autoconhecimento requer constante auto -reflexão.
Muitos relacionamentos não dão certo porque as pessoa s não olham para dentro de si mesmas, não
percebendo, assim, seus pontos vulneráveis e suas limitações. Quando atenuamos ou amenizamos as
críticas a nosso respeito e a respeito dos outros, estamos assimilando de forma verdadeira as lições que o
autoconhecimento nos proporciona.
Não são os grandes conflitos que tomam nossas relações (de negócios, de amizade, de farm1ia,
conjugais) malsucedidas, e sim um conjunto de "insignificantes diferenças", reunidas através de longo
período de tempo. Cobranças, indelica dezas, petulância, insensibilidade, autoritatismo, desinteresse,
impaciência, desrespeito - essas pequenas faltas no dia -a-dia podem destruir até mesmo as mais antigas e
afetuosas convivências.
Embora não possamos perceber de forma clara e direta, lançamo s na vida interpessoal
pensamentos e emoções inaceitáveis. Eles formam nosso lado escuro - aquela área do inconsciente que
governa e, ao mesmo tempo, dita as normas tanto nos confrontos desagradáveis como nos ímpetos de
deboches e gracejos em nossos inúmer os relacionamentos.
Descobrimos o quanto nosso "eu oculto" está em plena atividade quando rimos exageradamente de
uma pessoa que escorrega na rua, ou que se equivoca diante de uma palavra, ou mesmo quando ela sofre
algum tipo de comparação sarcástica com ponto "censurado" do seu corpo.
Nossa "área sombria" é uma região inexplorada e indomada que atua de forma imperceptível em
nossas ações e atitudes. Geralmente, é essa "área" que participa de nossas "supostas brincadeiras" e
influencia com precisão o tipo de palavras engraçadas e picantes que deveremos usar nas piadas chulas,
nas expressões maliciosas e zombeteiras.
A mensagem subliminar desse nosso "mundo oculto" aparece quando nos horrorizamos com o
comportamento sexual das pessoas, recriminando e discr iminando cruelmente raças, credos e grupos de
"minoria".
Os demônios, na Idade Média, e igualmente as bruxas e hereges simbolizaram brutais projeções de
nosso desconhecido "lado escuro". Suplícios e fogueiras, guilhotina e ferro em brasa são marcas que
assinalaram a história da humanidade com os ferretes da nossa crueldade inconsciente. É surpreendente
como nossas tendências desconhecidas sempre arrumam uma forma de se "dourarem" de princípios
filosóficos, redentores ou salvacionistas.
O desconhecimento de nossa vida interior profunda nos conduz ao vale da incompreensão de
nossos sentimentos para com nós mesmos e para com os outros. "( ... ) os Espíritosforam criados simples e
ignorantes (. .. ) Se não houvesse montanhas, o homem não poderia compreender qu e se pode subir e
descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito
adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal ( ... )" 1.
Projetamos nossa sombra quando "pegamos alguém para Judas" 2; quando denegrimos e julgamos a
sexualidade alheia sem nos dar conta dos próprios conflitos sexuais. Ela não somente se manifesta em um
indivíduo, mas pode exprimir -se em um corpo social inteiro: nas perseguições raciais (nazismo, apartheid, Ku
Klux Klan e outros tantas) e nas chamadas "guerras santas" ou "religiosas". Em outras circunstâncias, na
repugnância e no ódio visivelmente explícitos e sem controle revelados por meio de palavras e gestos
violentos; na aversão ou irritabilidade diante de certas reportagens publicadas pelos veículos de divulgação;
nas atitudes de cinismo e nas mais corriqueiras situações e acontecimentos da vida social; e também nas
projeções satíricas ou maliciosas em presença de pessoas consideradas "diferentes". Já é tempo de não
mais apontarmos o "cisco" no olho alheio.
Lembremo-nos de Jesus Cristo, o Notável Terapeuta de nossas almas, ao analisar os conflitos que
atormentavam os seres humanos por não admitirem os diversos aspectos da própria sombra: "Assume logo
uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que
o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão" 3.
Nossos piores inimigos ou adversários estão dentro de nós, não fora. É imprescindível nos
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
reconciliarmos com os opositores íntimos, ou seja, enxergar com bastante nitidez nosso "lado escuro", para
atingir paz e tranqüilidade de espírito.
Não somos necessariamente aquilo que parecemos ser. O autoconhecimen to é a capacidade inata
que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Ao mesmo tempo, amplia
a consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que somos em
essência.
HAMMED – Os prazeres da alma – pág. 61
1 Questão 634
Por que o mal está na natureza das coisas. Eu falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em
melhores condições?
"Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa ao homem a escolha do caminho;
tanto pior para ele, se toma o mau: sua peregrinação será mais longa. Se não houvesse montanhas, o homem não
poderia compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos
duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal. Por isso, há a
união do Espírito e do corpo (119)."
2 Nota da Editora
Expressão alusiva ao apóstolo Judas lscariotes, aquele que traiu Jesus e que caiu na antipat ia do povo. Até hoje,
infelizmente, esse episódio é lembrado e o boneco que o representa é malhado e queimado no Sábado de Aleluia, em
praça publica.
Autoconhecimento II
Só tememos o que desconhecemos. O autoconhecimento requer um
constante exercício, no reino do pensamento reflexivo, sobre as sensações
externas e internas. Viver uma vida sem reflexão é como escutar uma música
sem melodia.
Aqueles que não conhecem a si mesmos dificilmente terão um bom relacionamento com os outros. O
ser humano deve afastar de sua vida hábitos e crenças que o tomam inconsciente da própria vida íntima. Só
tememos o que desconhecemos. O autoconheci mento requer um constante exercício, no reino do
pensamento reflexivo, sobre as sensações externas e internas. Viver uma vida s em reflexão é como escutar
uma música sem melodia.
Examinando o Novo Testamento com os olhos da psicologia, chegamos à conclusão de que Jesus
Cristo foi uma criatura extra ordinária e fascinante, um psicoterapeuta por excelência, além de
significativamente moderno. As palavras, os atos e a vida do Mes tre possuem, sob muitos aspectos, um
significado oculto que é des vendado por todos aqueles que possuem "olhos de ver e ouvidos de ouvir".
Narra-nos o apóstolo Mateus: "(...) ele dirigiu -se a eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, porém,
vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: É um fantasma! E gritaram de medo.
Mas Jesus lhes disse logo: Tende confiança, sou eu, não tenhais medo. Pedro, interpelando -o, disse:
Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas. E Jesus res pondeu: Vem" 1.
A água é a imagem da dinâmica da vida, -das energias e dos conteúdos desconhecidos da alma, das
motivações secretas e igno radas. Ela é o simbolismo da "sombra"2, da vida inconscien te, ou "além-mar" de
nossa existência de espíritos imortais. A água re presenta tudo aquilo que está contido imperceptivelmente
na alma, e que o homem se esforça para trazer à superfície porque pressen te que poderá alimentá-lo e
sustentá-lo seguramente.
O Mestre pairava sobre as águas, ou seja, dominava o lado escuro da natureza humana. Ele entendia o
medo e a insegurança em que viviam os homens - efeitos da sombra pessoal e coletiva e os motivos da
desunião ou segregação da maioria das pessoas e dos grup os sociais.
Renegamos ou não percebemos de forma lúcida essa área ocul ta e profundamente influente que existe
em nossa intimidade. Por essa razão, projetamos nossa sombra "lá fora", nas qualidades ou nas atitudes
desagradáveis dos outros. Quando sentimos grande admiração por uma criatura, ou quando reagimos
intensamente contra alguém, essa reação talvez seja a manifestação de nossa sombra.
A negação da sombra faz com que abominemos as deficiên cias alheias, evitando vê-Ias em nós.
Também atribuímos aos o utros nossos potenciais não desenvolvidos, fazendo deles heróis ou gurus -
nutrimos enigmáticas alianças ou paixões desmedidas.
A sombra surge sempre em nosso cotidiano; por exemplo, quando lançamos nossas emoções ocultas,
nossa fragilidade, nossa insegurança e nossos medos em algo ou alguém.
"Diabo" - do grego diábolos e do latim diabolus - significa literalmente "o que separa", "o que desune". A
"separação" é que nos impede de ver a unidade que há em nós e a unidade de todos nós, porquanto
dificulta a percepção dos diferentes aspectos evolutivos em nossa intimidade. Ao aceitarmos nossos
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
2 Nota da Editora
Ver a definição de sombra no capítulo "Afetividade" ( acima).
3 Questão 131
Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra?
"Se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus, e Deus seria justo e bom se houvesse criado seres devotados
eternamente ao mal e infelizes? Se há demônios, eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São
esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deu.f mau e vingativo, e crêem lhe serem agradáveis pelas
abominações que cometem em seu nome. "
Nota - A palavra demônio não implica a idéia de Espírito mau senão na sua significação moderna, porque a palavra
grega daimôn, da qual se origina, signi fica gênio, inteligência, se emprega para designar os seres incorpóreos, bons
ou maus, sem distinção. ( ... )
Respeito
Somente optando pelo auto -respeito é que conseguiremos o
respeito alheio. Encontraremos nos outros a mesma dignidade que
damos a nós mesmos.
De que maneira as pessoas nos tr atam? Sentimo-nos constantemente usados ou desrespeitados? Às
vezes, permitimos que os ou tros nos tracem metas ou objetivos sem antes nos consultar? Sabemos
distinguir quando estamos doando realmente ou quando estamos sendo explorados? Respeitamos nossos
valores e direitos inatos? Costumamos representar papéis de vítimas ou de perfeitos?
A pior situação que podemos viver é passar toda uma exis tência sem nos dar o devido amor e respeito,
fazendo coisas completamente diferentes do que sentimos.
Nossos sentimentos são parte importante de nossa vida. Se permitirmos que eles fluam em nós, então
saberemos o que fazer e como nos conduzir diante das mais variadas situações do cotidiano.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Em virtude disso, não devemos nos esquecer de que, quando nos respeitamos plenamente, mostramos
aos outros como eles de vem nos tratar.
Se nós não nos aceitamos, quem nos aceitará? Se nós não nos amamos, quem nos amará?
Marcos relata em seu Evangelho a seguinte orientação: "Pois ao que tem será dado, e ao que não tem,
mesmo o que tem lhe será tirado" 1.
Realmente, "será dado" (respeito) ao que se respeita e não "ao que não tem ou pensa ter". Assim
funciona tudo em nossa vida íntima - "temos o que damos". Devemos esperar dos outros a mesma dignidade
que damos a nós mesmos.
Examinemos nossos sentimentos e atitudes e nos pergunte mos: Por que permito que me tratem com
desconsideração? O que estimula os outros a se comportarem com desprezo em rela ção à minha pessoa?
Se nós não nos auto-responsabilizamos pela forma como so mos tratados, continuaremos impotentes
para mudar o contexto penoso em que estamos vivendo. É muito cômodo culpar os ou tros por qualquer
desilusão ou sofrimento que estejamos passan do. Não é fácil aceitar a responsabilidade pelas nossas
próprias ilusões e desenganos.
Quando renunciamos ao controle de nós mesmos, com toda certeza outros indivíduos tomarão as
rédeas de nossa vida.
Somos iguais perante os olhos da Divindade. "(...) todos tendem ao mesmo fim e Deus fez suas leis
para todos. Dizeis freqüentement e: o sol brilha para todos. Com isso dizeis uma verdade maior e mais geral
do que pensais" 2.
Realmente "o sol brilha para todos", pois "(...) Deus não deu, a nenhum homem, superioridade natural,
nem pelo nascimento, nem pela morte (...)".
Não somos nem melhores nem piores que ninguém. Ao recu sarmos o respeito a nós mesmos, estamos
abdicando do direito de exigi-Io. Sem senso de valor individual, nos sentiremos diminuídos diante do mundo
e destituídos da habilidade de dar e de receber amor.
O mais valioso tesouro que possuímos é a dignidade pessoal. Não é lícito sacrificá -la por nada ou por
ninguém. Quando autorizamos os outros a determinar o quanto valemos, uma sensação de vazio nos toma
conta da alma.
O autodesrespeito é um grande desserviço a nós me smos.Quando ele se instala em nossa casa mental,
passamos a não mais prestar atenção aos avisos e intuições que brotam espontaneamente do reino interior.
As vozes de inspiração divina são sempre idéias claras, providas de síntese e simplicidade, que a Vida
Providencial murmura no imo de nossa alma.
Quando nos respeitamos, somos livres para sentir, agir, ir, di zer, pensar e saber o que
autodeterminamos, confiantes de que, se estivermos prontos, no tempo exato o Poder Superior do Univer so
nos dará todo o suprimento, todo o apoio e toda a orientação para cumprirmos o sublime plano que Ele nos
reservou.
Somente optando pelo auto -respeito é que conseguiremos o respeito alheio. Encontraremos nos outros
a mesma dignidade que damos a nós mesmos.
HAMMED – Os prazeres da alma – pág. 69
1 Marcos, 4:25.
2 Questão 803
Todos os homens são iguais diante de Deus?
"Sim, todos tendem ao mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis freqüentemente: O sol brilha para todos. Com isso
dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais."
Nota - Todos os homens serão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem com a mesma fraqueza, estão sujeitos
às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não deu, a nenhum homem, superio ridade
natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Autoconhecimento III
Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e
resistir ao arrastamento do mal?
- Um sábio da antiguidade vos disse:
"Conhece-te a ti mesmo",
PRÉ-ESTUDO 5
TEMA:
PERCEBENDO E COMUNICANDO SENTIMENTOS
OJETIVO:
Desde as orientações espirituais e constatações vivencias que culminaram na
adoção dos Exercícios de Vida Plena em nosso programa de escola, no inicio da última
década, temos carecido de mais amplas bases para a orientação dos alunos quanto ao
tema sentimentos e seu valor dentro do processo de auto-conhecimento e auto-renovação.
O objetivo deste pré-estudo é complementar os anteriores com uma visão bem
focada ao sentimento como plataform a do trabalho de renovação intima, e chave
facilitadora para o bom uso da caderneta pessoal.
CONTEUDO:
Em seu ultimo livro, “Escutando Sentimentos”, lançado dia 16 de setembro ultimo, o
espírito Ermance Dufaux nos brinda com uma série de ensinamentos relat ivos ao assunto.
Destacamos alguns capítulos que nos pareceram mais propícios a dar bases novas
para as várias discussões , a que seremos chamados e m nosso encontro.
"O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último , tendes, no fundo do coração, a centelha
desse fogo sagrado. " - Fénelon. (Bordéus, 1861)
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo Xl - item 9
O mais genuíno ato de amor a si consiste na laboriosa tarefa de fazer bri lhar a luz que há em
nós. Permitir o fulgor da criatura cósmica que se encontra nos bastidores das máscaras e ilusões.
Somente assim, escutando a voz de nosso guia interior, nos 'esquivaremos das falácias do ego que
nos inclina para as atitudes insanas da arrogância.
Quando não nos amamos, queremos agradar mais aos outros que a nós, mendigamos o amor
alheio, já que nos julgamos insuficientes ou incapazes de nos querer bem.
Neste momento de perspectivas alvissareiras com a chegada do século XXI, a esperança
acena com horizontes iluminados para a caminhada de ascensão espiritual da humanidade.
O resgate de si mesmo há de se tornar meta prioritária das sociedades sintonizadas com o
progresso. O bem-estar do homem, no seu mais amplo sentido, se tornará o centro das cogitações da
ciência, da religião e de todas as organizações humanas.
Perante esse desafio social, sejamos honestos acerca do quanto ainda temos por laborar para
erguer a comunidade espírita ao patamar de "escola capacitadora de virtudes" em favor das
conquistas interiores.
Quantos se encontrem investidos da responsabilidade de dirigir e cooperar com os
grupamentos do Espiritismo, priorizem como compromisso essencial de suas vinhas o ato corajoso
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
(1) Romanos, 7: 19
(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XI - item 8
Identidade Cósmica
"E aqui está o segundo que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. "
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Por longo tempo ainda exerci taremos esse amor a nós mesmos, alfabetizando nossas
habilidades emocionais para um relacionamento intrapessoal fraterno, equilibrado. A primeira
condição para nos engajarmos na Lei do Amor é essa caridade conosco, o encontro do self
divino, sem o qual ficaremos desnorteados no labirinto das experiências diárias, à mercê de
pessoas e fatos, adiando o Instante Celeste de sintonizar nossos passos com a paz interior
que todos, afanosamente, estamos perseguindo.
Carta de Misericórdia
"Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, q uando não vedes uma trave no vosso olho? -
Ou, como é que dizeis ao vosso irmão:
Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? - Hipócritas, tirai primeiro a trave
ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (S. Mateus, cap. VII,
vv. 3 a 5.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo X-item 14
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
colheita infeliz dos reflexos de prepotência e competição, que assinalam nossos impulsos
uns perante os outros.
É um processo natural da evolução. Nada há de errado em sentir o que sentimos. O
problema surge quando rebelamos em aceitar e investigar a existência de semelhantes
atitudes de cada hora.
Não agimos assim por mal. Deliberamente. São as compulsões morais que
geramos nas experiências sucessivas da ambição e da loucura nas vitórias perecíveis.
Perdoar e nos perdoar semp re será a solução. Olhemos para nós com lealdade,
mas, igualmente, com carinho e misericórdia. Somos almas recém egressas das fileiras do
mal. Estamos, a exemplo do Filho Pródigo da passagem evangélica, retomando nossos
caminhos após as atitudes enfermiças de esbanjamento psicológico e emocional, que nos
aprisionaram nas refregas do vazio existencial.
mórbida.
No Hospital Esperança, Dona Modesta desenvolve u ma atividade de fidelidade aos
sentimentos. Chama-se Tribuna da Humildade. É um recurso terapêutico aplicado em
pacientes depois de certo tempo de tratamento emocional. Depoimentos, cartas, pedidos
de perdão, histórias de vida, fracassos e vi tórias são apre sentados como forma de cuidar
dos sentimentos secretos, não admitidos durante a vida física.
Gostaríamos de passar aos amigos de ideal na carne a síntese de uma carta que
foi lida por destacado líder espírita ao ocupar, oportunamente, a Tribuna. Não importa o
que se passou ou o que virá, nosso intuito é pensarmos, a todo instante, que a aplicação
da misericórdia é a virtude que abranda nossos corações e o testemunho da leveza em
nossas almas.
Vir aqui falar de meus sentimentos é uma honra. Só lamento que tenha descoberto tão tarde o
bem que me faz falar do que s into.
A vida física brindou-me com a benção de ser espírita. Três décadas e meia em ininterrupta e
afanosa atividade doutrinária.
Sou uma vítima de mim mesmo. É incrível como ouvi tantas e tantos vezes, assim como
acredito que tenha ocorrido igualmente com muitos aqui presentes, sobre a importância de perdoar e,
no entanto, tal esclarecimento ficou apenas no cérebro. Impermeável ao coração.
Tenho aprendido sob custódia de Dona Modesta que, quando a lembrança de alguém '{)em
em nossa mente e desperta maus sentimentos, estamos magoados. Segundo ela, a mágoa que
permanece por mais de uma hora e m nossa cabeça, desce para o coração. E só Deus sabe q uando
sairá daí...
É o meu caso! Deixei a mágoa por mais de uma hora na cabeça!
Talvez alguém possa perguntar: por que apenas sessenta minutos de magoa na
cabeça?
Segundo Dona Modesta, os sessenta minutos são suficientes para perguntar a nós mesmos
por que nos magoamos, e descobrir em nós próprios os remédios para curar -nos. Livrar-nos das
algemas da ofensa.
A princípio, pode parecer uma ati tude ingênua e desproposital, mas somente quem já sofreu
o bastante com as mágoas sabe da importância de exonerá -las o quanto antes da intimidade. Ao
adquirir consciência dos males que ela nos traz, temos mais moti vos ainda para extirpá-las.
Eu trouxe durante décadas a lembrança desagradá vel de pessoas e situações que permiti
morarem em meu pensamento por mais de uma hora na condição de opositores.
Olhei demais para fora e a doença desceu da cabeça para o coração.
Pois bem! Isso me custou um câncer, o desencarne prematuro, perdas afeti vas muito caras,
lágrimas sem conta, angústia intermináv el e isolamento.
Aqui estou eu diante de mim mesmo. E os meus supostos inimigos, aqueles que me feriram,
onde e como estão.
Certamente seguem seus caminhos e não lev am más lembranças, especialmente de minha
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
pessoa.
Meus amigos, o drama é um só! Tivesse lucidez suficiente e basta riam sessenta minutos
para descobri-lo!
Faltou-me honestidade emocional para admitir que fosse invejoso, ciumento, competitivo,
avesso a críticas e melindroso. Meu orgulho impediu -me de admitir que outras pessoas fossem tão
boas quanto eu naquilo que eu f azia. Fracassei em um dos testes mais difíceis da jornada hum ana:
exaltar a importância do outro com legítima alegria no coração e "diminuir para que o Cristo
crescesse". (3)
Em meu favor; apenas tenho as minhas intenções. Em nenhum momento, conscientemen te,
calculei conflitos ou interesses pessoais. Sou v ítima de mim mesmo, do meu passado de
semeadura na arrogância.
Tudo passou no tempo, mas ainda trago a mente presa ao passado. Isso é a mágoa no
coração.
Permiti-me adoecer. Magoar é admitir ser ferido, machucado.
A cicatrização pode demorar. A minha está se processando somente depois da morte.
Como? Como cicatrizar essas ulcerações que eu mesmo provoquei? Como esquecer ?
Foram as perguntas que fiz desesperadamente ao tomar maior consci ência do quanto me faziam
sofrer.
Dona Modesta, aqui presente, é testemunha da minha dor.
Como religiosos, raramente escapamos de uma v elha armadilha: a presunção. Eu não
escapei.
Por presunção tornei-me um exímio juiz dos atos alheios, recheado de certezas sobre a
conduta dos outros, um psicólogo implacável do comportamento do próximo. Tinha nos lábios as
explicações perfeitas para a atitude de todos que me ofendera m. Quanto a mim, sempre me
desculpava.
Como pude ser tão descuidado!
Olhei demais para o argueiro do próx imo e não vi minha própria trave.
É preciso muita coragem para nos confrontar! Admitir a presença da invej a. Reconhecer
que todos os nossos dissabores c omeçam em nós mesmos. Conscienti zar que somos os únicos
responsáveis pelo que sentimos. Que podemos a q ualquer momento retornar nossa alegria,
nossas metas, nosso processo de crescim ento, conforme a orientação ev angélica que já
possuímos.
Foi então que surgiu uma palav ra fundamental na minha recuperação. Misericórdia.
Compaixão.
Permitam-me a leitura de um parágrafo que se tornou a fonte de inspiração para minha
recuperação:
"Espíritas, jamais vos esqueçais de que, tanto por palav ras, como por atos, o perdão das
injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos
hajam feito e não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. Aquele que env eredou por
esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por pensamento, uma vez que sois
responsáveis pelos vossos pensamentos, os qu ais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os
expungir de todo sentimento de rancor.
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que
pode todas as noites adormecer dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. Simeão. (Bordéus,
1862.)" (4)
Misericórdia! Ao invés de estudar as razões das ofensas, passei a pensar e aplicar a atitude
de misericórdia. Mentalizei meus supostos adv ersários que me traziam más recordações e os
envolvia em luzes de cores calmantes. Orei com sinceridade pedindo a Deus por eles.
Lamentavelmente não pude fazer o que faria hoje se estiv esse no corpo: os procuraria para
um abraço sincero.
Misericórdia, inclusive para mim, foi o que pratiquei, pois perdi, além de tudo, a minha paz.
Autoperdão, admitir a minha participaçã o em tudo aquilo que tinha motivo para queixar. Como é
doloroso tomar contato com as nossas ilusões.
lncrível! Hoje tenho conhecido dramas terrí veis de pessoas que foram efeti vamente feridas e
dilaceradas na vida física, e que se encontram aqui nessa casa d e amor em estados melhores que o
meu.
Como nós espíritas nos ferimos sem moti vos reais para tanto!
Somente quando conseguirmos rir das atitudes que nos feriram, estaremos nos curando.
Quanta arrogância totalmente desnecessária em uma obra que nem nos pe rtence!
Que vergonha a minha! Como eu gostaria que tudo ti vesse sido diferente! Sem dissensões,
inimizades, perdas.
Só tenho uma virtude em toda a minha história. Não desisti de refazer meus caminhos.
Talvez por isso sofra tanto. Por isso estou aplicando a misericórdia comigo também.
Não existe para mim conceito mais claro de misericórdia que acolher com afeto e carinho,
estímulo e alegria o valor alheio, ceder da minha importância pessoal em função da motivação de
outrem para sua caminhada.
Hoje, creio sinceramente que se concedermos apenas uma hora para analisarmos as
imperfeições e usarmos o restante do tempo para nos amar, a vida nos presenteará com mais
motivos para ser feliz.
Penso muito em Jesus. Sabendo de todas as nossas mazelas, mesmo hoje com o espíritas,
continua contando conosco.
Essa tem sido a minha força.
Saber que o Mestre ainda conta comigo tem sido meu descanso, minha moti vação.
Obrigado a todos por me o uvirem.
Xavier.
Sombra Amigável
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
"Pois nado há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e
de aparecer publicamente. (S. LUGAS, cap. VI If, vv. 16 e 17.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XXIV - item 2
A sombra designa "o outro lado" do ser humano, aquele em que vige a escuridão .
. Comumente destacamos a sombra negativa nos ambientes educativos da doutrina.
Convém, porém, uma m enção à sombra positiva, que são nossos potenciais e talentos ainda
não expressados ou descobertos. Em meio a essa escuridão da vida incon sciente existe muita
sabedoria e riqueza ainda não exploradas.
Escutando nossos sentimentos e o que eles têm a nos ensinar sobre nós mesmos,
estaremos entrando em contato com esse "material" reprimido no inconsciente, com todas as
habilidades instintivas que nos asseguram a herança inalienável de Filhos do Altíssimo em
Sua Obra magnânima.
Escutar sentimentos é aceitá -los. Aceitação quer dizer pensar sobre eles.
Habitualmente exaramos a colocação: "não quero nem pensar nisso!", referindo-nos a
questões desagradáveis do mundo íntimo. Os sentimentos são os principais canais de
conexão emitindo constantes mensagens do inconsciente.
Quando usamos a expressão sentimentos mal resolvidos, estamos tratando de
sentimentos não aceitos ou negados pela consciência e reprimidos para o inconsciente
por alguma razão particular. A sombra originou-se basicamente em função dessa relação
insatisfatória com nosso poder de sentir e os arquivou em forma de culpas, desejos
estagnados, bloqueios, traumas, medos, criando todo um complexo psíquico que, em
muitos lances, são fatores geradores das psicopatologias, desde as mais toleráveis até às
mais severas.
Ao longo dos últimos milênios (aproximadamente quarenta mil anos, dependendo
da história individual), o que mais fizemos foi negar e temer nossos sentimentos -um fato
natural na trajetória evolutiva da animalidade para a hominilidade. O medo de sentir e do
que sentimos acompanha-nos desde o momento em que começamos a tomar consciênc ia
desse mecanismo bio-psíquico-emocional-espiritual. Ainda hoje, esconder o que se sente,
é uma conduta social comum e até necessária para a maioria das pessoas.
O mundo, no entanto, prepara -se para o século do amor vivido e sentido. A
pergunta mais formulada em to das as latitudes neste momento é: como está você? E o
interesse por uma resposta que fale de sentimentos é eminente; tend e a tornar-se um
hábito. Estamos com enorme necessidade de falar do que sentimos e saber com mais
clareza sobre o mundo das emoções, em bora ainda temerosos de suas conseqüências.
Quando digo ''sou minha sombra" não significa que tenh o que viver conforme sua
orientação. Apenas admiti -la, entender suas mensagens.
A sombra só é ameaça quando não é reconhecida. Só pode ser prejudicial qu ando
negligenciamos identificá-la com atenção, respeito e afabilidade.
"É importante para a meta da indiv iduação, isto é, da realização do si-mesmo, que o
individuo aprenda a distinguir entre o que parece ser para si mesmo e o que é para os outros. É
igualmente necessário que conscientize seu invisível sistema de relações com o inconsciente, ou
seja, com anima, a fim de poder diferenciar -se dela. No entanto, é impossível que alguém se
diferencie de algo que não conheça.” (1)
Essa colocação do Doutor Jung é c lara. Escutar sentimentos é a primeira lição na
3º. ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EAE
nossa educação espiritual para o auto -amor. Amaremos a nós mesmos somente quando
deixarmos de culpar os outros pelas nossas dores e desacertos e tivermos a coragem de
perscrutar o íntimo, interrompendo o flux o das projeções e fugas ainda ignoradas nas
nossas atitudes.
Recebemos contínuos "chamados" do inconsciente através do que sentimos. Uma
análise atenta de nossos impulsos emotivos e da nossa "reação afetiva" a tudo que nos
cerca levar-nos-á a entender com exatidão as "reclamações" do psiquismo profundo.
Nessa investigação da alma encontraremos indicativas seguras no entendimento das mais
ocultas raízes de nossos conflitos. Percorreremos caminhos mentais até então
incognoscíveis. Igualmente, descobriremos v alores adormecidos que solicitam nossa
criatividade para desenvolvê -los a contento.
Entretanto, somente daremos importância às mensagens da sombra quando nos
relacionarmos amigavelmen te com ela. O processo de ouvir a voz do inconsciente através
dos sentimentos passa por algumas etapas na alfabetização do sentir:
• Imprescindível o auto -respeito. O que sentimos é indiscutível, individual, é a nossa
forma de viver a vida. Com isso não devemos admitir que os apelos do coração
devam ser seguidos como brotam. Muito menos supô-los a expressão da Verdade.
Apenas tenhamos respeito por nós sem reprimendas e condenações, procurando
compreender os recados do coração .
• Havendo respeito, instaura -se o clima da serenidade, da ausência de conf litos e
batalhas interiores. Somente serenos vamos conseguir uma comunicação sem
interferências. É o silencio interior. O fio que nos leva ao intercâmbio produtivo.
• Aprender a linguagem dos sentimen tos exige meditação, atenção. Separar a
"imagem programada" pela educação social da "imagem idealizada" é um trabalho
lento. Diferenciar o que pensam que sou daquilo que penso que sou é o caminho
para se chegar ao que sou verdadeiramente.
• Utilizar indagações. A sombra adora dar respostas. Nossa tarefa será discernir no
tempo a natureza dessas respostas. No início elas serão confusas, enganosas,
talvez decepcionantes.
Na medida que se dilata esse exercício, a intuição vai aclarando a capacidade de
perceber e sentir o que nos convém. Teremos a sensação do melhor caminho, das
melhores escolhas, do que queremos. É o início da identificação com o projeto singular do
Criador a nosso respeito.
O Doutor Jung estipulou: 'As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o
lado sombrio de sua própria natureza, aprendem ao mesmo tempo a c ompreender e amar seus
semelhantes. " (2)
Ao conquistarmos a sombra de maneira amigável, criaremos uma relação de paz
com a vida íntima e, nesse ponto, as projeções não serão mecanismos defensivos contra
nossas imperfeições, mas reflexos da bondade e harm onia que habitarão a vida mental.
Nessa postura mental amaremos a vida com mais ardor. Será muito mais interessante
olhar o nosso próximo, sentí -lo e perceber a grandeza da vida que nos cerca.
A Lei Divina contida na fala de Jesus é determinan te: Pois nada há secreto que não
haja de ser descoberto.
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(2) The Collected Works of CG Jung (CW) - 16 Vol VII par 310
"Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de cura!: Os fracos, os
sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos." O Espirito de Verdade. (Bordéus, 1861.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capitulo VI- item 7
Afastemos um pouco das reflexões mais densas e façamos uma pausa para
meditação.
Dilata tua sensibilidade e lê com o sentimento as anotações a seguir. Depois escuta
os recados do teu coração.
***
A Doutrina Espírita é a medicação recuperativa das nossas vidas. Sua "substância
ativa" é o Evangelho. Sua "bula" é estritamente individual. Para cada um haverá uma
dosagem e forma de aplicação.
O movimento espírita é a nossa enfermaria abençoada onde encontramo -nos
internados na busca de nossa alta médica.
Tarefa e estudo, provas e oportunidades são terapêuticas necessárias na solução
de nossas enfermidades.
Perante esse quadro de experiências da nossa trajetória de aprendizado, listemos
algumas prescrições indispensáveis para a cura:
• Onde se reúnem doentes, torna -se dispensável realçar imperfeições e deslizes.
Todos sabemos de nossa condição. Falemos de saúde e apr oveitamento.
• Esqueçamos as vivências dolorosas e examinemos as conquistas. Indaguemos:
em que melhorei? O que aprendi?
• Somos doentes graves, mas temos o melhor médico, Jesus.
• Perdoemos incondicionalmente o companheiro de enfermaria. Ele também é
alguém em busca de si mesmo.
• Trazemos na intimidade todos os antídotos para nossas imperfeições. Resta -nos
descobrí-Ios.
• De fato, alguns doentes esquecem suas necessidades. O melhor a fazer para
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auxiliá-Ios é a oração.
• Alguns enfermos carecem de tr atamentos específicos. Por não entendermos tais
medidas, evitemos julgá-Ios.
• Uma única certeza: todos nós teremos alta médica e alcançaremos a saúde.
• As raras criaturas sadias foram chamadas a Postos Maiores. Cuidam de nós.
• Uma pergunta diária: que farei pela minha recuperação?
• Uma atitude diária: doses elevadas de prece e trabalho.
• O caminho seguro para fortalecimento e alegria: a amizade sincera, leal e fraterna.
• O que nunca devemos esquecer: antes repudiávamos a idéia da internação. Hoje
desejamos tratar.
• Esqueçamos a noção de tempo e sejamos gratos pela oportunidade de uma vaga
nessa benfazeja enfermaria.
• Nos momentos de crise, evitemos projetar decepções e revolta nos outros ou
reclamar do ambiente que nos acolheu para refazimento e orientação. Crises são
indícios oportunos para exames e diagnósticos mais apurados sobre nossas dores.
• Saber que estamos enfermos não basta. É preciso sentir. Nossa cura virá do
coração.
Recordemos a frase confortadora do Espírito Verdade: Os fracos, os sofredores e os
enfermos são os meus filhos prediletos.
Agora vá e escuta os recados do teu coração e Deus te abençoe com paz íntima.
Sentimento e Obsessão
"Quem quer que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que
lhe fora semeado no coração." (S. MATE US, capo XII I. vv. J 8 a 23.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XVII - item 5
"Quando saiam de Betânia, ele teve fome; e, vendo ao longe ume. figueira, para ela encaminhou-se, a ver
se acharia alguma coisa; tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos. "
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XIX - item cS
Os sentimentos que mais necessi tamos compreender para nossa harmonia são
aqueles que dizem respeito a nós próprios.
Que sentimos sobre nós? Qual a relação afetiva que temos conosco? Como temos
tratado a nós mesmos? A partir de uma viagem nesse desconhecido mundo íntimo,
faremos descobertas fascinantes e primordiais para uma integração harmoniosa com a Lei
Divina e o próximo. A partir da harmonia que podemos criar com nossa "vida profunda",
essa busca de si mesmo terá como prêmio o encontro com o "eu verdadeiro", aquilo que
realmente somos - a singularidade.
Como começar essa viagem de auto -encontro em favor da consolidação de uma
relação pacífica e amorosa conosco? Como trabalhar a aplicação do auto -amor?
Façamos, inicialmente, algumas indagações.
Que fatores íntimos deter minam a nossa dependência de situações e pessoas?
Que causas emocionais ou psicológicas podem afastar -nos do desejo de sermos criativos
e espontâneos? O que nos impede de avançar em direção aos nossos sonhos íntimos de
realização e felicidade? Por que ainda não temos consegu ido progresso na construção de
valores pessoais em sintonia com os propósitos iluminados da Doutrina Espírita? O que
realmente queremos da vida?
O primeiro ato educativo na construção do valor pessoal é diluir a ilusão da
inferioridade. Buscar as raízes d o desamor que usamos conosco. O Criador nos ama
como estamos. Temos um nobre significado par a Deus. Somente nós, por enquan to,
ainda não descobrimos o valor que possuímos. Inegavelmente, poucos de nós
apresentamos bom aproveitamen to nas oportunidades corpo rais pretéritas, no entanto, o
destaque acentuado aos deslizes e quedas nas vidas sucessivas somente agrava o
estado íntimo de amargura da alma. Renascemos com novo corpo para esquecer e olhar
para frente. As indagações que devemos assinalar nesta etapa sã o: Por que não me sinto
digno? Quais são minhas reais intenções? Que lições tenho a aprender quando me sinto
inferior? Por que determinada atitude ou acontecimento me faz sentir inferior?
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Outro aspecto na valorização pessoal a considerar são os julgamento s que aplicam a nós.
O que importa é o que faremos diante deles. Como reagiremos? Podemos nos culpar ou
adotar o cuidado de refletir sobre o valor que tenham para nós. Quando não cultuamos o
auto-amor, os julgamentos alheios constituem espessas algemas das mais nobres
aspirações. Em quaisquer situações o amor é nossa couraça pessoal. Quem se ama sabe
se defender sem fugas e ter respostas emocionais inteligentes e serenas aos estímulos do
meio. Não crescemos sem conviver; isso não significa que devamos permitir a ou trem
ultrapassar os limites em relação à nossa intimidade. Somente nós próprios podemos
penetrar com sabedoria e naturalidade a subjetividade de nosso ser.
Portanto, temos um processo interior - o sentimento de inferioridade - e uma força
externa - os julgamentos, a aprovação social. Ambos consorciam -se, frequentemente,
contra nossos anseios de crescimento. Somente com a aquisição da autonomia
saberemos lidar com tais fatores educativos.
Não fomos educados para devolver o outro a si mesmo na busc a de seus
caminhos. Fomos educados para manter o outro pensando como nós, escolhendo por
nossas escolhas, opinando conforme os padrões de pensamento que adotamos e agindo
de conformidade com nossa avaliação de certo e errado. É o regime de possessividade e
submissão nas relações. É mais confortável ser orientado, ter respostas prontas para
nossas dúvidas e angústias ou pedir a alguém que nos indique a escolha mais acertada.
Em inúmeras ocasiões é mais cômodo se ajustar a muitos julgamentos que acreditar nos
ideais pessoais e nos nossos sentimen tos. Consideremos, dessa forma, quanto
necessitamos investir na erradicação da acomodação em busca da solidificação da
autonomia psicológica em favor da liberdade que ansiamos.
Um impedimento freqüente na construção da autonomia é o medo de rejeição - uma
das mais graves conseqüências da baixa auto -estima. Como seremos interpretados? Qual
será o conceito que farão de nós a partir do instante em que decidirmos por um caminho
afinado com o que sentimos e pensamos?
A necessidade da aprovação alheia é extremamente enraizada na vida emocional.
Todas as pessoas e suas respectivas idéias a nosso respeito merecem carinho e
consideração, respeito e fraternidade. Porém, conceder a outrem o direito de aprovar ou
reprovar ...
A palavra aprovação, entre outros sinônimos, quer dizer: ter a nossa atitude
reconhecida como moralmente boa. Analisando com cuidado, a aprovação se torna um
julgamento, uma forma de interpretar e definir o que deve ou não ser feito e da forma como
deve ser feito.