Contratos de Software Apontamentos Sobre Suas Espécies
Contratos de Software Apontamentos Sobre Suas Espécies
Contratos de Software Apontamentos Sobre Suas Espécies
Espécies
Tarcisio Teixeira
Doutor e Mestre pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP). Professor
Adjunto de graduação e mestrado da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Autor de
diversos livros jurídicos. [email protected]
Lucas Atihe
Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
[email protected]
1 Introdução
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Destarte, este artigo tem por escopo apontar possíveis soluções contratuais que possam
aumentar a proteção ao criador do programa de computador, e, posteriormente,
estabelecer os limites das disposições dos direitos das partes nesses contratos.
Desta forma, é importante destacar que este tema dá abertura ao estudo de diversas
questões de relevância para o Direito, tais como: direito autoral; propriedade intelectual,
direito civil/contratual; bem como as particularidades do próprio software na prática
jurídica, como sua natureza sui generis, registro diferenciado e tipos específicos de
contrato.
Não existe tradução literal na língua portuguesa para o termo software. Essa
denominação compreende não só o programa de computador, mas também a
metodologia de operação, a documentação auxiliar, o suporte magnético e,
eventualmente, outros elementos relacionados ao programa de computador. Assim, a
importância de delimitar um conceito legal de software está relacionada a estabelecer os
limites e parâmetros de sua proteção; quais elementos que o compõem estão incluídos
em sua proteção jurídica e quais não estão. Os documentos relativos ao software estão
sujeitos à proteção, no que lhes couber, do direito autoral, na condição de obras
literárias, mas não se equiparam ao regime conferido ao programa de computador. O
mesmo ocorre, por exemplo, com as bases de dados, que, apesar de acompanharem o
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programa de computador, são figura digna de proteção autônoma.
2
Já o suporte magnético equipara-se ao hardware, distanciando-se, assim, da noção
estrita de programa de computador, posto que, enquanto o primeiro é considerado bem
material, o segundo é considerado bem imaterial, oriundo da criatividade humana.
c) Material de apoio: É qualquer material, além dos outros dois materiais supra,
preparado para ajudar a compreensão ou a aplicação de um programa de computador,
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como por exemplo, as instruções para usuários.
Contudo, apesar das diferenças supracitadas, a expressão software vem sendo utilizada
tanto pela doutrina como pela jurisprudência, de forma quase unânime, como sinônimo
de programa de computador. Isto posto, é necessário que se conceitue o software ou
programa de computador, para que se tenha uma melhor noção do objeto estudado.
Patrícia Peck Pinheiro, após tecer comentários sobre a natureza incorpórea do software,
traz o seguinte conceito: “programa (computador) é uma sequência lógica de instruções
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Por sua vez, Arnoldo Wald conceitua software como “conjunto de programas e
procedimentos que permitem o processamento de dados do computador e comandam
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para seu funcionamento, segundo os objetivos do usuário”.
Já Marcos Wachowicz define software levando em consideração seu caráter quase que
literário, no sentido de corresponder à linguagem computacional, definindo-o como:
“todo o escrito destinado a processamento de dados, compreendendo todo o conjunto de
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instruções para o citado fim (textos, manuais, codificações)”.
No entanto, para que se entenda de forma completa o conceito de software, tanto legal
como técnico, é necessário entender o contexto em que ele se insere e sua função no
sistema computacional ou sistema informático.
Conforme define Leonardo Macedo Poli: “o sistema informático, também definido como
computador lato sensu, é o conjunto composto por uma parte física e uma parte
intelectual”. A parte física, material, é denominada hardware, e a parte intelectual,
imaterial, é denominada software; juntos, eles formam o sistema informático ou
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computador.
Nessa esteira, Liliana Minardi Paesani aponta sistema informático como o conjunto de
elementos hardware e software composto de (a) uma unidade central de elaboração de
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dados, (b) uma unidade periférica e (c) um software.
De acordo com o que assinala Manoel Joaquim Pereira dos Santos, ao elucidar os
conceitos técnicos de software e hardware, componentes de um sistema: “Do ponto de
vista técnico, o termo hardware compreende os elementos físicos do sistema de
computação, enquanto software, os elementos lógicos, dos quais o programa de
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computador é a parte central”.
Os Estados Unidos foi um dos países que, assim como o Brasil, não se omitiu ao conferir
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um conceito legal. O Computer Software Copyright Act de 1980, que define software
como “um conjunto de declarações ou instruções para ser usado, direta ou
indiretamente, em um computador, em ordem de obter certo resultado”, do qual se
percebe um conceito aberto, de ampla interpretação.
Vale destacar alguns elementos contidos no referido conceito legal. Ao afirmar que o
software é a “expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural
ou codificada”, remete-se à função do software de, pela linguagem binária (0 e 1),
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comandar as funções da máquina, resultando em dados e informações.
Manoel Joaquim Pereira dos Santos ao discorrer sobre os efeitos da referida redação
legal, afirma que o seu principal efeito é “explicitar que a proteção autoral se restringe o
programa de computador enquanto forma de expressão de um conjunto de instruções e
não enquanto a um conjunto de instruções em si mesmas”, sendo assim, aplicável
essencialmente às questões técnicas. A expressão “contida num suporte físico de
qualquer natureza” indica que, independentemente de estar contido em algum
componente físico (hardware), o programa de computador nele incluído não o impede de
continuar sob a proteção do direito de autor, em detrimento da proteção mediante
propriedade industrial. O autor explica que a referida expressão assenta no texto legal
“um princípio geral de direito de autor, segundo o qual a obra intelectual é protegida
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independentemente dos ‘corphus mechanicum’ a que se acha incorporada”. Em outras
palavras, a proteção jurídica do software independe do corpo mecânico em que ele se
encontra, seja em um computador ou mesmo em um suporte magnético.
Liliana Minardi Paesani afirma que o programa de computador pode ser considerado bem
imaterial, posto que preenche os seguintes requisitos: (i) é uma criação intelectual,
derivando do pensamento criativo (podendo ser posteriormente classificado no direito de
autor ou de propriedade intelectual); (ii) existe a possibilidade de reprodução
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(exploração econômica).
Por conseguinte, sendo certo que o software deriva das criações da mente humana – tal
qual invenções, símbolos, trabalhos artísticos e literários –, sua tutela deve ocorrer por
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Ademais, Marcos Wachowicz assevera que, embora o software deva ser categorizado
como uma obra intelectual de expressão linguística, ainda que em linguagem
computacional, distingue-se das demais obras de direito de autor por sua finalidade: “A
obra literária ou artística (livros ou quadros) são obras intelectuais finais. Nesse ponto
difere o programa de computador que é uma obra intelectual para ação, que não visa
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uma obra intelectual final (literária ou artística)”.
Vale notar que, além de conferir a aplicação subsidiária do direito autoral ao software, o
legislador é ainda mais específico ao estabelecer que a ele será aplicado o regime
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relativo às obras literárias, o que faz sentido, já que a função do software é
justamente executar funções e comandos com base na linguagem computacional.
É necessário afirmar que existem alguns requisitos para a proteção do software pelo
direito autoral. Segundo Marcos Wachowicz, os requisitos são os seguintes: (i) a função
utilitária do software; (ii) a originalidade relativa; (iii) a expressão de idealização do
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software; (iv) a fixação do programa para registro no INPI.
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De acordo com Manoel Joaquim Pereira dos Santos informa que muitas informações
importantes, bem como materiais contidos no programa de computador, ficam mantidas
à margem da proteção autoral, tornando mais complexo o resguardo comercial ou
concorrencial do autor do software, podendo ser reguladas por outros institutos
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jurídicos, como o segredo comercial/industrial e a teoria da concorrência desleal.
No referido julgado argumentava-se, por um lado, que o software não se confundia com
o suporte físico que o continha (sendo que este sim seria um produto), constituindo-se
como fruto da produção intelectual do programador, assim mais próximo ao conceito de
serviço.
4 Registro
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Carlos Motta esclarece que a difícil tarefa de
patentear um software só logrará êxito quando este for necessário para que um aparelho
ou máquina (hardware) funcione, a exemplo dos sistemas operacionais de aparelhos
celulares (como o sistema Android nos aparelhos celulares da Apple). Assim, se
observada a classificação dos tipos de software, somente os softwares básicos ou
sistemas operacionais são passíveis de registro pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), já que são invenções que acompanham um hardware, este sim, muito
mais fácil de registrar. Nessa perspectiva, Carlos Motta afirma que a proteção do INPI,
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A regulamentação do referido dispositivo legal veio com o Dec. 2.556/1998, que definiu,
no art. 1.º, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como responsável pelo
registro do software no Brasil. O registro deverá ocorrer na forma de patente, sendo
válido por 50 (cinquenta) anos. Ressalta-se que este prazo será contado da data de
publicação do registro, caso o programa de computador seja registrado, e de sua própria
criação, caso não o seja.
No que diz respeito à sua obrigatoriedade, a Lei 9.609/1998, no § 3.º do art. 2.º, exime
o criador do software da necessidade de registro de sua criação por meio de patente,
tratando-se, assim, de ato facultativo. Isso ocorre em razão de sua natureza de direito
autoral, posto que, a partir de sua exteriorização intelectual, nasce o direito do autor
sobre a criação, tornando, assim, seu registro prescindível para que o programa criado
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esteja protegido.
Dessa forma, conclui-se que o registro do software como patente junto ao INPI não é
obrigatório, posto que sua regulação principal ocorre pelo direito de autor, que pode ser
comprovado a qualquer tempo, contudo é recomendável, já que, por meio do registro, a
eficácia probatória da autoria ou titularidade do programa de computador seria muito
maior.
Newton Silveira explica que “o registro, embora facultativo, tem a vantagem de fixar os
dados do programa em determinada data e criar a presunção de sua titularidade. Esse
registro tem caráter sigiloso por determinação legal”. Os incs. I; II; e III do § 1.º do art.
3.º da Lei 9.609/1998 trazem os requisitos básicos que devem estar contidos no pedido
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de registro do programa de computador junto ao INPI.
O que interessa para que o bem seja patenteável é o software, o suporte magnético
usado para que seja possível o registro em forma de patente é mero requisito formal e
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não é objeto de proteção, logo não desnatura a essência do programa de computador
e não precisa ter caráter de inovação.
No registro dos bens patenteáveis, quem registra é que possui o direito de exploração
sobre sua respectiva patente, independentemente de a identidade de quem efetuou o
registro corresponder ou não à do criador, dessa forma, o registro tem caráter
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Significa dizer que, mesmo que o registro seja eventualmente realizado por pessoa
diversa do real criador do programa de computador (por equívoco do INPI, uma vez que
a autoria deve ser provada), o direito de exploração garantido pela patente pode ser
revisto desde que haja prova em contrário de que a autoria é diversa da constante do
registro.
Cumpre salientar, entretanto, que o registro junto ao INPI possui grande força
probatória, pois se trata de um ato administrativo declaratório, emitido por uma
autarquia federal, após a realização de procedimento administrativo previsto em lei,
logo, constitui uma interessante garantia ao criador do software.
Newton De Lucca traz, com base em diversos autores, vários conceitos de código-fonte,
que pode ser definido, em suma, como o “núcleo formal do programa de computador”,
constituindo sua primeira expressão independente que, dessa forma, acaba por
determinar a própria função do programa, tornando possível a modificação, a
multiplicação e a interligação com outros programas, enfim, dispor livremente do
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programa de computador, o que denota sua intrínseca conexão com o direito de autor.
Ricardo Luis Lorenzetti defende que o contrato eletrônico “caracteriza-se pelo meio
empregado para celebrá-lo, cumpri-lo ou executá-lo, seja em uma ou nas três etapas,
de forma total ou parcial”. Dessa forma, desde que o contrato seja celebrado por meio
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digital, pouco importa seu objeto para que seja identificado como contrato eletrônico.
Contratos informáticos, por sua vez, são aqueles que possuem como objeto um bem ou
serviço de caráter informático (materiais ou imateriais) que seja elemento formador do
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Com efeito, apesar de não constituírem uma nova categoria contratual, os contratos
informáticos têm como característica a utilização de linguagem técnica própria, tornando
a parte contratante muitas vezes tecnicamente vulnerável em relação à parte que detém
o controle do programa de computador, o que acaba dificultando o devido exercício da
autonomia da vontade entre as partes.
Destarte, para que o acordo de vontades expresso em forma de contrato entre as partes
ocorra de forma clara, sem vícios, e de fato exprima sua intenção inicial ao contratar, é
de suma importância que as partes saibam o que estão contratando e sob quais
condições.
Patrícia Peck Pinheiro destaca que, é interessante que os contratos digitais, nestes
incluso o de software, sejam acompanhados de um glossário, posto que existe
abundância de termos técnicos na área informática, o que pode dificultar a interpretação
ou gerar má-compreensão dos termos ali dispostos, o que influenciaria de forma direta
na expressão do que de fato havia o interesse de se contratar. A autora destaca
possíveis cláusulas a serem tratadas em contratos digitais de forma geral, que vão desde
proteção aos direitos de autor até disponibilização das informações deles constantes:
Vale, ainda, mencionar que, na contratação do software, é cada vez mais comum o
evento de contratos conexos ou coligados. O referido fenômeno ocorre quando são
firmados vários contratos interligados por uma única operação econômica, como, por
exemplo, quando uma empresa contrata outra para realizar a informatização de algum
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Em que pese o fato de muitos tipos de contratos de software serem tidos como contratos
atípicos no ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que não têm expressa previsão
legal, além da alta velocidade com que ocorrem as mudanças tecnológicas de modo que
também surjam novos tipos de negócios e transações comerciais, nada impede que se
usem e se adaptem velhos mecanismos previstos no direito, em vez de criar novas
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regras a cada mudança.
A Lei 9.609/1998 define como nulas as cláusulas que versarem sobre limitar a produção,
a comercialização ou a distribuição do software, de forma que infrinjam as leis vigentes,
bem como as que eximam os contratantes de responsabilidade por ações de terceiros
decorrentes de violação aos direitos de autor, na forma dos incs. I e II do § 1.º do art.
10.
Dessa forma, não se escusa de que, embora seja considerável a liberdade de contratar
das partes, devem-se seguir as regras e os princípios gerais elencados na legislação,
seja no Código Civil (LGL\2002\400), no Código do Consumidor ou, mesmo, na
legislação esparsa.
São vários os tipos de contratos que possuem seu objeto relacionado ao software,
cabendo o destaque, neste artigo, aos tipos principais. A Lei 9.609/1998 regula os
contratos de licença e uso de programa de computador, todavia, é necessário que se
façam considerações também sobre outras modalidades contratuais, como encomenda,
cessão, depósito fiduciário de código-fonte (escrow) ou nos contratos de adesão de
licença e uso (shrinkwrap licenses e clickwrap licenses).
Licença e uso (ou licença de uso; licença para uso) é uma das formas de contratação
mais importantes, correspondendo à grande parte da comercialização de software na
atualidade, já que por meio desse tipo de contratação, os titulares de direitos sobre o
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software fazem a comercialização com o público em geral. Nas palavras de Newton De
Lucca, “o mais característico dos contratos sobre programa de computador é, sem
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dúvida, o de licença para seu uso”.
Denis Borges Barbosa destaca que o contrato de licença trata, em verdade, de uma
autorização, que possui um aspecto negativo e um, positivo, quais sejam,
respectivamente: (i) a promessa do o titular do software de não usar os seus poderes
legais para proibir a pessoa autorizada a fazer uso do objeto contratual (software) e (ii)
a concessão do titular ao licenciado, do direito de explorar o software, com todas as
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aplicabilidades decorrentes.
Tendo em vista que nesse tipo contratual a maioria das relações ocorre entre fornecedor
e consumidor, é valido destacar que tão importante quanto proteger o criador do
programa de computador, que potencializa o risco de ter seu produto pirateado (por
meio da engenharia reversa, ou qualquer outra forma), é de igual importância que o
destinatário final do software seja protegido, visto que como consumidor, é
presumidamente vulnerável.
Isso tanto é verdade que o legislador tratou de conferir expressamente essa proteção
nos arts. 7.º, 8.º e nos incs. I e II do § 1.º do art. 10 da Lei 9.609/1998, prevendo que
a prestação de serviços técnicos por parte do fornecedor do software, bem como
informações claras e precisas a seu respeito. Tudo isso sem prejuízo da aplicação das
demais garantias elencadas no Código de Defesa do Consumidor.
Esse último tipo de contrato de licença e uso de software – que, por sua versão física (
shrinkwrap license), geralmente realizada nas lojas de informática (cada vez menos
comum), e a versão digital (clickwrap license), realizada por meio eletrônico –
compreende a grande maioria das negociações relacionadas aos programas de
computador, merecendo um estudo um mais pormenorizado.
Shrinkwrap license (também conhecida por Tear-me-open License Agreement; Box Top
License Agreement; ou, ainda, Blister Contract) é uma modalidade contratual que surgiu
nos Estados Unidos para facilitar a comercialização em massa de programas aplicativos,
cujo baixo custo de produção inviabilizava uma contratação mais elaborada, com
intermédio de advogados. Trata-se, na realidade, de um subtipo de contrato de licença e
uso de software composto por cláusulas gerais e padronizadas predispostas por quem
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fez a oferta para a adesão da parte contrária.
Como é típico nos contratos de adesão, a vontade das partes é relativizada, tendo em
vista que resta ao adquirente da licença de uso do software, ou shrinkwrap license,
apenas aceitar as condições estabelecidas pela empresa detentora dos direitos autorais
sobre o software.
Além das características próprias dos contratos de adesão de forma geral, esse tipo de
contrato possui, ainda, algumas particularidades, conforme assinala Emir Iscandor
Amad:
Não são assinadas pelo usuário (os termos contratuais eram considerados aceitos a
partir da abertura da embalagem em que se encontra o software);
Para o autor, no tocante aos direitos e obrigações das partes, o licenciante do produto
confere ao licenciado o direito de uso do programa de computador por tempo
indeterminado. Enquanto o licenciado tem o dever de manter sigilo sobre informações do
produto, como por exemplo, sobre o código-fonte, com objetivo de evitar a pirataria, o
licenciante fica sujeito a todas as obrigações impostas pelo Código do Consumidor, como
garantia de 90 dias sobre o produto ou manutenção em caso de mau funcionamento. A
clickwrap license nada mais é que uma evolução da modalidade de shrinkwrap license
que surgiu com o implemento e a popularização do comércio eletrônico. Trata-se de
contrato de licenciamento cuja adesão do consumidor/licenciado é realizada pela
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Internet, por meio de um clique no ícone “eu aceito”.
Trata-se, nesse caso, de contrato eletrônico e, também, informático, já que tem por
objeto a licença para o uso do software, que é um bem informático por natureza, e é
realizado por meio eletrônico, bastando a aceitação dos termos de uso impostos pelo
contratante, para que se adquira o poder de uso do bem imaterial, utilizando-se, para
isso, de meio eletrônico (trata-se do download do programa de computador, realizado na
maior parte das vezes por meio da Internet).
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Ser o criador de determinado software nem sempre significa ser o titular dos seus
direitos de comercialização; isso ocorre, pois é possível que se realize a cessão dos
direitos patrimoniais a terceiro, que passará a ser seu titular.
7.3 Encomenda
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Dessa forma, conforme explica Newton de Lucca, “o objeto de tal contratação é o estudo
e o desenvolvimento de um programa especialmente destinado a satisfazer uma
exigência específica do solicitante”. Com efeito, o desenvolvedor do software deve ser
alguém tecnicamente qualificado, a ponto de criar um programa sob medida (
tailor-made), assumindo, assim, uma contratação com características próprias de uma
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obrigação de resultado.
contratos relativos a software feito sob medida, nos quais uma das partes se
compromete à criar, a partir do nada, um produto adaptado às necessidades da outra,
seja para uso, comercialização com terceiros (consumidores em geral), ou qualquer
outro fim;
contratos relativos a software produto, nos quais as partes podem prever serviços
acessórios de manutenção, ou assistência técnica quanto às suas aplicações;
Segundo Amanda Goda Gimenes, o termo escrow pode ser definido, em lato senso,
como o “depósito com função de garantia”. Já em sentido estrito, indica bem ou
documento que, relegado a terceiro na forma de garantia, prova a existência de uma
obrigação entre duas ou mais partes, sendo que este terceiro se compromete a
“restituí-lo ao depositante ou entregá-lo ao beneficiário, em função da verificação ou não
de uma condição pré-determinada”. Esta espécie contratual exprime “a fidúcia que as
partes assentam a terceiro, a quem o bem será confiado, cuja função consiste na
garantia de cumprimento de obrigação, assegurando-se ao beneficiário do depósito
realizar seu crédito”.
principal, posto que o bem ou documento depositado tenha por finalidade garantir o
cumprimento de uma obrigação principal. Dessa forma, as três partes participantes do
escrow (as duas partes que firmaram o negócio jurídico principal e o ente fiduciário)
assistem ao resultado da obrigação principal, anteriormente pactuada, e, dependendo do
andamento dessa liberação ou não e do depósito para uma das partes. Ainda sobre a
aplicação da modalidade contratual de escrow – consoante denominado em sua origem
no direito anglo saxônico – ou contrato de depósito fiduciário, aos programas de
63
computador.
Esta modalidade contratual é contrária à ideia de software livre, que visa acesso sem
restrições ao código-fonte para que se possam realizar alterações ou aperfeiçoamentos
em um programa de computador de forma independente, fomentando a evolução
tecnológica. Visa-se, justamente, evitar que se possa ter acesso a essa ferramenta
informática (código-fonte) como garantia do comprimento de uma obrigação firmada.
Assim, o contrato de escrow de código-fonte tem o condão de servir como garantia para
a empresa que adquire o software. Por exemplo, caso a empresa A adquira um software
da empresa B, mas eventualmente a segunda venha a encerrar suas atividades, um
terceiro terá o código-fonte do programa de computador, possibilitando manutenção e
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atualização pela empresa A, que poderá continuar a utilizá-lo.
8 Considerações finais
Assim, o instrumento contratual, que dá liberdade às partes para dispor de acordo com
seus interesses, observados os limites impostos pelos princípios contratuais e pela lei,
possibilita a atenuação das imperfeições legais do regime jurídico aplicado ao software.
Destarte, depreende-se do estudo realizado que, por vezes, velhos institutos e normas
principiológicas abertas podem ser aplicados, desde que devidamente adaptados e
compreendidos, a situações inéditas no direito.
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9 Bibliografia
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4 PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 167.
7 POLI, Leonardo Macedo. Direitos de Autor e Software. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
p. 8.
11 MOSSOF, Adam. A brief history of software patents (and why ther’s valid). Center For
The Protection Of Intellectual Property. 2013. Disponível em:
[http://cpip.gmu.edu/tag/computer-software-copyright-act-of-1980/]. Acesso em: 20
jul. 2016.
14 POLI, 2003; BARBOSA, Denis Borges. A Proteção do Software. 2001. Disponível em:
[http://www.denisbarbosa.addr.com/paginas/200/propriedade.html#software]. Acesso
em: 20 jul. 2016.
16 Ibidem, p. 41-42.
17 WALD, 1985.
25 WACHOWICZ, 2002b.
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44 WALD, 1985.
55 BARBOSA, 1993.
59 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2008. p. 617-619.
62 BARBOSA, 1993.
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