PDF Politicas Publicas Da Educação
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PÚBLICAS E
EDUCAÇÃO
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar alguns aspectos do campo das políticas
públicas (do Brasil e de outras partes do mundo). Também vai conhecer
conceitos importantes relacionados às políticas públicas na educação. A
ideia é que você entenda os papéis que o Estado brasileiro deve assumir
no planejamento, na implementação e na avaliação das políticas públicas
que afetam a vida de alunos e professores em todo o País. Além disso,
você vai conhecer dados significativos de 470 anos de políticas públicas
educacionais brasileiras, desde a chegada dos portugueses.
Como você vai ver, os desafios desse setor são muitos. Os conheci-
mentos que você vai adquirir neste capítulo o ajudarão na sua formação
e na de futuros educadores, gestores e demais profissionais do campo
da educação.
2 Introdução ao estudo das políticas públicas em educação
ao tipo de relação que têm com as demais políticas públicas. Esse tipo de
política está condicionado
Saviani (2008) sinaliza que a política educacional trata das decisões que o
poder público, o Estado brasileiro, costuma tomar em relação à educação. Ela
diz respeito às perspectivas e aos limites da política educacional brasileira. O
autor assegura o seguinte:
Os benefícios de ter cidadãos com um bom nível educativo, além dos efeitos
positivos para cada pessoa considerada individualmente, geram vantagens para
toda a coletividade; benefícios sociais como uma melhor integração social,
comportamentos cívicos mais responsáveis e solidários, um clima social de
maior satisfação e bem-estar, um ambiente social e cultural muito mais atrativo
e estimulante, etc. (GIMENO, 2005). Além disso, bons cidadãos também pro-
movem o progresso científico e social de toda a comunidade, dado que todos
os campos do conhecimento se beneficiarão com cidadãos cultos que se sentem
capacitados e estimulados para desfrutar de novos saberes e especializações,
bem como se aprofundar neles; promove-se uma abertura mental que incita
cada pessoa a seguir aprendendo ao longo de toda sua vida. Obviamente, isto
Introdução ao estudo das políticas públicas em educação 7
Para aprender mais sobre a relação entre o Estado e as políticas públicas, leia o artigo
disponível no link a seguir.
https://goo.gl/Qy1Mhx
[...] enviava verbas para a manutenção e a vestimenta dos jesuítas; não para
construções. Então, como relata o padre Manuel da Nóbrega em carta de
agosto de 1552, eles aplicavam os recursos no colégio da Bahia “e nós no
vestido remediamo-nos com o que ainda do reino trouxemos, porque a mim
ainda me serve a roupa com que embarquei... e no comer vivemos por esmolas.
Saviani (2008) também afirma que a história registra que, mal chegaram
os portugueses, os recursos já eram escassos. Diz-se que os religiosos não
engordavam fácil no Brasil. Em 1564, o rei de Portugal adotou um plano
chamado de “redízima” e determinou que os impostos arrecadados da colônia
brasileira fossem destinados à manutenção dos colégios jesuíticos. “A partir
daí, iniciou-se uma fase de relativa prosperidade, dadas as condições materiais
que se tornaram bem mais favoráveis [...]” (SAVIANI, 2008, p. 2).
Eram os primórdios das políticas públicas educacionais brasileiras? É bem
verdade que a educação era financiada com os recursos públicos nessa espécie
de escola pública religiosa. Saviani (2008, p. 3) reflete que, se
[...] o ensino então ministrado pelos jesuítas podia ser considerado como
público por ser mantido com recursos públicos e pelo seu caráter de ensino
coletivo, ele não preenchia os demais critérios, já que as condições tanto ma-
teriais como pedagógicas, isto é, os prédios assim como sua infraestrutura, os
agentes, as diretrizes pedagógicas, os componentes curriculares, as normas
disciplinares e os mecanismos de avaliação, encontravam-se sob controle
da ordem dos jesuítas, portanto sob domínio privado. O resultado foi que,
quando se deu a expulsão dos jesuítas em 1759, a soma dos alunos de todas
as instituições jesuíticas não atingia 0,1% da população brasileira, pois delas
estavam excluídas as mulheres (50% da população), os escravos (40%), os
negros livres, os pardos, filhos ilegítimos e crianças abandonadas.
Introdução ao estudo das políticas públicas em educação 9
É interessante notar que nas classes de latim de tais aulas régias, respon-
sáveis pela oferta de ensino secundário, cabia ao Estado realizar o pagamento
do salário do professor. O Estado também era responsável por estabelecer as
diretrizes curriculares da matéria a ser ensinada. O professor, por sua vez,
provia o local de ensino, geralmente sua própria casa, e a infraestrutura ne-
cessária. Ele também se encarregava dos materiais pedagógicos. Essa situação
era agravada pela insuficiência de recursos. Afinal, a Colônia não possuía uma
estrutura arrecadadora suficiente para obter “subsídio literário” necessário
para o financiamento das aulas régias (SAVIANI, 2008).
Após a independência do Brasil e a instalação do Primeiro Império,
governado por D. Pedro I, surgiu em 1827 a lei das escolas de primeiras
letras. Então, difundiu-se a promessa de que nas cidades e vilas mais popu-
losas haveria escolas de primeiras letras. Não aconteceu. Foi uma daquelas
leis brasileiras que não surtiram efeito. O que se seguiu foi a promulgação,
em 1884, de um ato adicional à Constituição do Império que determinou
que o ensino primário fosse destinado à jurisdição das províncias. Assim,
lamentavelmente, o Estado ficou livre de obrigações com esse nível de
ensino. Levando-se em conta “[...] que as províncias não estavam equipadas
nem financeira e nem tecnicamente para promover a difusão do ensino, o
resultado foi que atravessamos o século XIX sem que a educação pública
fosse incrementada [...]” (SAVIANI, 2008, p. 3).
Fica sempre uma sensação, vasculhando a história, de que os direitos
foram negligenciados. Até hoje, basta visitar escolas pelos bairros afastados
das grandes cidades ou pequenas cidades no interior do País para perceber que
ainda impera alguma negligência. Saviani (2008) comenta que foram 49 anos,
de 1840 a 1888, com gastos com a educação beirando 1,80% do orçamento
do governo imperial, destinando-se, para a instrução primária e secundária,
a média de 0,47%. “O ano de menor investimento foi o de 1844, com 1,23%
10 Introdução ao estudo das políticas públicas em educação
Para aprender mais sobre a política educacional brasileira, leia o artigo “Política Edu-
cacional Brasileira: limites e perspectivas”, disponível no link a seguir.
https://goo.gl/YsU3mL
O período de vigência do PPE, final do século XX, foi marcado por transfor-
mações intensas que decorreram da resposta do capitalismo mundial às crises
de rentabilidade e de valorização que se tornaram mais evidentes a partir da
década de 1970. A superação da crise mundial ocorreu com uma nova configu-
ração e uma nova dinâmica da produção e da acumulação do capital. Houve um
processo de reorganização do capital e do correspondente sistema ideológico
e político de dominação cujos contornos mais evidentes foram o advento do
neoliberalismo e de suas políticas econômicas e sociais (NOMA, 2011, p. 109).
Como você pôde notar, a história das políticas públicas educacionais brasileiras é repleta
de vácuos, mas no período pós-redemocratização, movimentado pela Constituição
Cidadã de 1988, houve avanços em muitos pontos. Trinta anos depois dos resultados
da mobilização nacional por uma constituição com direitos sólidos, como você sabe,
ainda há muito caminho a ser percorrido.
Leituras recomendadas
GADOTTI, M. Projeto político pedagógico da escola cidadã. In: BRASIL. Ministério da
Educação e da Cultura. Secretaria de Educação a Distância. Salto para o futuro: cons-
truindo a escola cidadã, projeto político-pedagógico. Brasília: MEC, 1998.
HÖFLING, E. M. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos CEDES, Campinas, v. 21,
n. 55, p. 30-41, nov. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0101-
-32622001000300003&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 09 nov. 2018.
MENEZES, R. M. Processo de gasto e descentralização na política educacional brasileira.
Em Aberto, Brasília, v. 18, n. 74, p. 58-71, 2001. Disponível em: <http://emaberto.inep.gov.
br/index.php/emaberto/article/view/2153>. Acesso em: 09 nov. 2018.
OLIVEIRA, D. A. Educação básica: gestão do trabalho e da pobreza. In: SIMPÓSIO DE
ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO – Políticas de Formação e
formação de políticas: Reconfiguração de temos e espaços, 20., 2011, Goiânia. Anais...
Goiânia: [s.n.], 2011.
PACHECO, J. A. Políticas curriculares descentralizadas: autonomia ou recentralização?
Educação & Sociedade, Campinas, v. 1, n. 73, p. 139-161, dez. 2000. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302000000400010&lng=p
t&tlng=pt>. Acesso em: 09 nov. 2018.
PEREIRA, S. M. Políticas educacionais no contexto do estado neoliberal: a descen-
tralização e poder em questão. Políticas Educativas, Campinas, v. 1, n. 1, p. 16-28,
out. 2007.
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