Freud
Freud
O psicanalista Luiz Tenório Oliveira Lima, principia sua análise sobre Freud refletindo:
o que distingue um recém-nascido humano de outros bebês mamíferos? Nessa idade, a
cultura humana nada significa para o filhote de homem. Ambos precisam ser alimentados
e protegidos pela mãe. Os bebês mamíferos se contentam em satisfazer suas
necessidades biológicas. No entanto, por que a criança humana, mesmo bem alimentada,
é capaz de sugar uma chupeta por horas, mesmo sem sair nenhum leite dela? Porque, além
de suas necessidades biológicas o homem nasce com a capacidade de sentir prazer em
várias partes de seu corpo. Os mecanismos pelos quais o homem experimenta esse prazer
são o ponto de partida da teoria de Freud, que vai além, e mostra que a maneira como
satisfazemos ou reprimimos nosso prazer define quem somos. O prazer, e não a
reprodução, são o sentido de nossa sexualidade.
Freud desenvolveu suas ideias entre o final do
século XIX e grande parte do XX, marcando definitivamente o
pensamento contemporâneo. No século XX, a corrente
artística surrealista buscava, justamente, criar uma arte a
partir do inconsciente, transpondo as barreiras entre sonho e
realidade, eliminando as barreiras da censura. O pensamento
de Freud foi incorporado pelo ocidente: sem nunca lê-lo,
falamos abertamente de traumas, complexos, inconsciente e
desejos reprimidos. Hoje muitas pessoas vulgarizam o
pensamento freudiano, realizando análises simples e
Sigmund Freud, por Max Halberstadt, em equivocadas sobre “traumas de infância”. Seus
1922
pensamentos, discorrendo abertamente sobre a sexualidade
infantil, o complexo de Édipo e a repressão dos desejos sexuais, chocaram profundamente
a sociedade de sua época (e choca até hoje), fazendo com que esse médico de Viena fosse
bastante impopular. A hipocrisia social, negando, por exemplo, que as crianças fossem
capazes de ter prazer sexual, não conseguia encarar de frente as descobertas de Freud.
Freud foi estudante da Faculdade de Medicina de Viena desde 1873. Em sua época,
a medicina via a mentalidade humana como mero reflexo do funcionamento do organismo
Por que o adolescente não deve ser privado de emoções? Por que não
podemos "pular fases?
"Eu digo ao infantil, mas que muitas vezes é sentido pelo sujeito como
infantilóide, criancice, algo narcisicamente humilhante para um ego que se vê
adulto e que se obriga a separar a sensação da emoção, arriscando a deixar de
lado a criança que fomos com todas as necessidades afetivas que são julgadas
perigosas e incômodas, ao invés de integrá-las progressivamente. Se
mantivermos essas necessidades fora do campo da consciência, devemos nos
perguntar se não vamos facilitar o retorno em bumerangue, em um adulto, das
crianças que fomos, em relações passionais que aparecem muito tarde ou em
relações pedofílicas. Tudo isso é uma não integração do infantil ou de perversões,
e não se pode esquecer que a adolescência é o momento em que devemos fazer
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a ligação entre a criança que fomos e o adulto que vamos ser" Jammet, Entrevista,
p. 142.
Finalmente, em O Mal-Estar na Civilização (1930), diante de um mundo abalado pela
1a Guerra Mundial e a ascensão do nazi-fascismo, Freud passa a relacionar sua psicologia
com a cultura e a sociedade da época. Apesar de todas as conquistas (anticoncepcionais,
divórcio, etc.) a sexualidade, longe de proporcionar o bem-estar ou a felicidade, foi
instrumentalizada e pelo mercado. Diante dessa insatisfação, os homens tendem a
transferir todas suas frustrações a outrem, dando margem à intolerância: aí surge a
transferência do ódio coletivo para o negro, o judeu, o homossexual, a mulher e, quem sabe,
o burguês. O indivíduo que não se responsabiliza por si próprio, está sujeito a causar danos.
A saída para esses problemas para o homem desenvolver a própria personalidade, lidando
com suas tensões.