A Lei de Causa e Efeito É Um Princípio Do Espiritismo-E-book

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A LEI DE CAUSA E EFEITO

é um princípio do Espiritismo?

(Versão 28)

“A lei física de causa e efeito aplica-se no plano


moral como lei de ação e reação, a lei cármica
das religiões indianas.” (HERCULANO PIRES)

“O princípio espírita do encadeamento de todos


os fatos e todas as coisas no sistema universal
nos permite ver, por trás da roupagem moderna
dos conflitos atuais, a continuidade inevitável da
lei de ação e reação.” (HERCULANO PIRES)

Paulo Neto
Copyright 2020 by
Paulo da Silva Neto Sobrinho (Paulo Neto)
Belo Horizonte, MG.

Capa:
Ana Luísa Barroso da Silva Neto

Revisão:
Hugo Alvarenga Novaes

Diagramação:
Paulo Neto
site: www.paulosnetos.net
e-mail: [email protected]

Belo Horizonte, novembro/2020.

2
Índice
Introdução..................................................................4
Obras da Codificação Espírita..................................14
a) O Livro dos Espíritos (1857/1860).........................14
b) Revista Espírita 1858............................................35
c) Revista Espírita 1859.............................................35
d) O Que é o Espiritismo (1859)................................37
e) Revista Espírita 1860.............................................43
f) O Livro dos Médiuns (1861)....................................46
g) Revista Espírita 1861............................................49
h) O Espiritismo na Sua Mais Simples Expressão
(1862)........................................................................53
i) Revista Espírita 1863..............................................55
j) O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864)............60
k) Revista Espírita 1864.............................................75
l) Revista Espírita 1865..............................................85
m) O Céu e o Inferno (1865)......................................89
n) Revista Espírita 1867..........................................113
o) A Gênese (1868)..................................................117
p) Revista Espírita 1868..........................................124
q) Obras Póstumas (1890).......................................132
Fontes após o desencarne do Codificador.............135
Conclusão..............................................................145
Referências bibliográficas......................................152
Dados biográficos do autor....................................155

3
Introdução

“A lei de causas e efeitos é o


princípio fundamental da Doutrina,
a evolução constitui a sua própria
essência.” (HERCULANO PIRES,
Espiritismo Dialético1)

Temos em mãos o livreto O Evangelho


(Como, porque e para que estudá-lo à luz da
Doutrina Espírita), publicado pela UEM – União
Espirita Mineira, instituição federativa do estado de
Minas Gerais, cujo item 3.3 intitula-se “Princípios
Fundamentais da Doutrina Espírita” (2), no qual se lê:

1 – Deus 9 – Pluralidade dos mundos habitados


2 – Jesus 10 – Imortalidade da Alma
3 – Espírito 11 – Vida futura
4 – Perispírito 12 – Plano espiritual
5 – Evolução 13 – Mediunidade
6 – Livre-arbítrio 14 – Influência dos Espíritos na nossa
7 – Causa e efeito vida
8 – Reencarnação 15 – Ação dos Espíritos na natureza.

4
Desde 1987, época que ingressamos nas
fileiras do Espiritismo, nunca tivemos a mínima
dificuldade em aceitar todos os itens dessa lista
como princípios doutrinários, embora não os vimos
como definidos por todas as Federativas.

Em nossa maneira de pensar, pela lei de


causa e efeito todas as nossas ações
inevitavelmente geram as devidas consequências,
que podem ser boas ou más conforme a sua
correspondente origem.

É o que vemos nessa fala de Allan Kardec


(1804-1869), em O Evangelho Segundo o
Espiritismo, na qual disse:

Todavia, em virtude do axioma segundo o qual


todo efeito tem uma causa, tais misérias [do
mundo] são efeitos que devem ter uma causa e,
desde que se admita um Deus justo, essa causa
também há de ser justa. […]. (3) (itálico do original)

Mais recentemente apareceram sérios


questionamentos quanto à lei de causa e efeito,
item 7, quando alguns confrades supõem que, nas

5
obras da codificação espírita, não temos como obter
apoio para este princípio.

Diante disso,
tomamos a iniciativa de
realizar essa pesquisa,
visando clarear a questão,
no sentido de defender a
tese de que, sim, nela
podemos encontrá-lo.
Assim, nossa intenção não
é rebater ou discutir com quem pensa diferente de
nós, nossa meta é apenas o de olhar o aspecto
doutrinário da questão.

Consultando o Dicionário de Filosofia


Espírita, publicado por Lamartine Palhano Jr (1946-
2000), encontramos a seguinte definição:

CAUSA E EFEITO (LEI DE). É a lei segundo a


qual todas as ações humanas provocam um efeito
correlato; se uma ação é boa os resultados serão
favoráveis ao autor; se é má, o autor auferirá
efeitos desfavoráveis e importunos. Essa lei está
diretamente relacionada com a justiça de Deus que
proporciona sempre o que se diz no axioma: a
cada um segundo as suas obras. (4) (itálico do

6
original)

Estamos de pleno acordo com Palhano Jr que


considera a lei de causa e efeito como diretamente
relacionada com a justiça divina.

De Espiritismo: O Consolador Prometido,


autoria do escritor Djalma Argollo, cap. 11 – Lei de
Causa e Efeito, transcrevemos:

Definição
Lei de Causa e Efeito ou Lei do Retorno
Compulsório, é aquela que estabelece que toda
ação gera uma reação automática e de igual
intensidade, a qual reverte sobre o agente,
impreterivelmente. É a equivalente psíquica da lei
física de Ação e Reação. Na Filosofia Hindu
recebe o nome de Carma, palavra sânscrita que
significa ação.
Esta lei cria um vínculo entre o ato e suas
consequências, o qual faz o autor experimentar em
si próprio a intensidade substancial da ação
praticada.
A Lei de Causa e Efeito é uma decorrência
natural do funcionamento do psiquismo humano, e
não de uma interferência externa, de qualquer
natureza. Todas as ações humanas ficam
registradas na psique, e associam-se de diversas

7
formas, produzindo complexos diversos, que atuam
sobre o comportamento, produzindo condições de
êxito ou de autopunição, conforme o caráter ético
vivenciado pelo indivíduo.
A Lei do Retorno Compulsório se aplica a todo e
qualquer ato da vida humana, nas dimensões
espiritual, mental e emocional.
Geralmente se exemplifica esta lei pela citação
das consequências de nossas atitudes negativas,
no relacionamento com o próximo. Naturalmente
que estas são mais facilmente identificáveis,
quando ao fato da colheita dos resultados, mas
este enfoque negativo distorce a compreensão real
da Lei de Ação e Reação Psíquica. Os atos nobres
também produzem resultados que revertem sobre
quem os pratica. Necessitamos entender que esta
lei é a própria Justiça Divina em andamento.
Tudo o que fazemos, pensamos ou sentimos
em todos os instantes da nossa vida está sob o
seu império, pois a Lei da Justa Retribuição, como
também é conhecida, tem aplicação permanente e
cobre, sem deixar a mínima brecha, todo o nosso
ser e sua interação com o meio. (5)

Inicialmente, informamos que todos os grifos


em negrito, no texto normal e nas transcrições, são
nossos; nessas últimas, quando ocorrer de não ser
nós informaremos.

Com essa definição, poderemos nos situar

8
diante da compreensão do que significa a Lei de
causa e efeito.

Não podemos deixar de recorrer ao escritor


Carlos Torres Pastorino (1910-1980), destacado
estudioso bíblico, visando saber se ele menciona
algo na Bíblia a respeito da lei de causa e efeito. De
Sabedoria do Evangelho – Vol. 2, de sua autoria,
transcrevemos:

A Lei de Causa e Efeito (Lei do Carma), “cada


um receberá de acordo com suas obras”, está
repetida à saciedade no Antigo e Novo Testamento,
em pelo menos 30 passos, vejam-se os passos:
Deut. 7:9-10; 24:16; 2.º Reis, 14-6; 2.º Crôn.
25:4; Job, 34:11; Salmo, 28:4; 62:12; Prov. 12:14;
24:12; 24:29; Isaías, 3:11; Jer. 31:29-30; Lament.
3:64, Ezeq. 18:1-32; 35:20; Ecles. 15:15; Mat.
3:10; 7:19; 16:27; 18:8-9; Rom. 2:6; 1 Cor. 3:14; 2
Cor. 5:10; 9:6; 11:15; Gal. 6:4; Ef. 6:8; Col. 3:25; 2
Tim. 4:14; 1 Pe. 1:17; Tiago, 2:24; Apoc. 2:23;
20:12 e 22:12. (grifo do original)
Não é, pois, a Lei do Carma uma “invenção”
moderna, mas uma verdade revelada em todo o
decorrer das Escrituras.
Quanto à convicção de que as enfermidades
de uma existência são o resultado de erros
cometidos na mesma ou em existência anterior,
também as Escrituras nos dão frequentes

9
ensinamentos, bastando citar: “eu era um menino
de boa índole, coube-me em sorte uma alma boa,
ou melhor, sendo bom, entrei num corpo sem
defeitos” (Sab. 15:19-20); e ainda: “pensais que
esses galileus (que foram sacrifica dos por Pilatos)
eram os maiores transgressores da Galileia e por
isso sofreram essas coisas? Eu vos digo: NÃO.
Mas enquanto não vos reformeis, todos sereis
castigados dessa maneira” (Luc. 13:2-3); e mais,
em João 9:2, quando por ocasião do cego de
nascença “foi ele que pecou (e só poderia tê-lo
feito em existência anterior) ou seus pais?”; e outra
vez: “se tua mão ou teu pé… ou teu olho te são
pedra de tropeço, corta-os e lança-os de ti: melhor
te é entrares NA VIDA, manco, aleijado e cego” …
(Mat. 18:8-9); ora, ninguém suporá que na vida
espiritual haverá aleijões: é evidente que se trata
de entrar na VIDA TERRENA aleijado e cego, o
que explica esses defeitos nos recém-nascidos. (6)
(grifo mencionado é do original)

Dessa lista de passagens a mais conhecida


delas é Mateus 16,27:

“Porque o Filho do Homem há de vir na glória


de seu Pai, com os seus anjos, e, então,
retribuirá a cada um conforme as suas
obras.” (7)

10
Por nossa vez, nas páginas da Bíblia,
encontramos mais estas oito passagens que são
favoráveis à tese. Usaremos como fonte a Bíblia
Sagrada – Edição Pastoral, uma publicação da
Paulus Editora:

Jó 4,8: “Pelo que eu sei, os que cultivam


injustiça e semeiam miséria, são esses que as
colhem.”

Jó 5,7: “E o homem gera seu próprio


sofrimento, como as faíscas voam para cima.”

Isaías 26,10: “Se absolvermos o malvado, ele


nunca aprende a justiça; sobre a terra ele
distorce as coisas direitas e não vê a grandeza de
Javé.”

Naum 1,3: “Javé é lento para a ira e muito


poderoso, mas não deixa ninguém sem castigo.
[…].”

Mateus 26,52: “Jesus, porém, lhe disse: 'Guarde a


espada na bainha. Pois todos os que usam a
espada, pela espada morrerão.'”

João 5,14: “Mais tarde Jesus encontrou aquele


homem no Templo e lhe disse: ‘Você ficou curado.
Não peque de novo, para que não lhe
aconteça alguma coisa pior.” (ao doente que se
encontrava deitado numa cama há trinta e oito
anos)

11
João 8,34: “Jesus respondeu: 'Eu garanto a vocês:
quem comete o pecado, é escravo do
pecado.'”

Gálatas 6,7: “Não se iludam, pois com Deus não se


brinca: cada um colherá aquilo que tiver
semeado.”

É oportuno informarmos que Mateus 14,6-12 e


de Marcos 6,21-29 são os trechos do Novo
Testamento que relatam a decapitação de João
Batista, a mando de Herodes.

Sobre esse episódio, em Sabedoria do


Evangelho – Vol. 3, diz-nos Pastorino:

A decapitação de João Batista foi o resultado


cármico de sua ação, quando se manifestava na
personalidade de Elias o Tesbita. Leia-se: “Disse
Elias: agarrai os profetas de Baal: que nenhum
deles escape! Agarraram-nos. Elias fê-los descer à
torrente de Kishon e ali os matou”, 1º Reis, 18:40);
a morte a eles dada foi exatamente a decapitação:
“Referiu Ahab a Jezebel tudo o que Elias havia
feito e como matara todos os profetas à espada”
(1º Reis, 19:1). Portanto, execução rígida da Lei
de Causa e Efeito, confirmando as palavras de
Jesus: “todos os que usam a espada, morrerão
à espada” (Mat. 26:52); não nos esqueçamos de
que essa Lei é afirmada em mais de 30 lugares do

12
Antigo e Novo Testamentos, sobretudo com a
fórmula: “a cada um será dado conforme suas
obras”. (8)

Essas passagens, citadas por Pastorino e as


acrescentadas por nós, fornecem bons exemplos de
que nos textos bíblicos podemos encontrar a lei de
causa e efeito, fato que vem provar que essa ideia
não é propriamente fruto da crença espírita.

13
Obras da Codificação Espírita

Logo de início é preciso informar que por obras


da Codificação Espírita nós entendemos somente
aquelas publicadas pessoalmente por Allan Kardec.

Para as transcrições relativas ao nosso tema,


usaremos a ordem cronológica de publicação.

a) O Livro dos Espíritos (1857/1860)

Ao longo dessa obra, encontramos várias


afirmações dos Espírito, bem como alguns
comentários do Codificador dos quais, facilmente, se
pode depreender a lei de causa e efeito.

Mas antes de listarmos as respostas às


questões propostas pelo Codificador, é importante
definir o que vem a ser expiação, castigo e punição,
termos que várias vezes aparecerão no decorrer das
transcrições.

Expiação Substantivo feminino: 1. Ato ou efeito de


expiar; 2. Cumprimento da pena ou castigo (que se
reputa equivalente à culpa ou delito); 3. Sacrifício

14
expiatório; penitência; 4. [Antigo] Preces para
aplacar a divindade.

Tomando do sentido de “cumprimento da pena


ou castigo” fica bem claro que algo de equivocado se
fez antes, se assim for, e cremos que seja, então
entenderemos como sendo aplicação da lei de causa
e efeito.

Transcrevemos de uma mensagem de Paulo,


apóstolo:

Quem é, de fato, o culpado? É aquele que, por


um desvio, por um falso movimento da alma, se
afasta do objetivo da Criação, que consiste no culto
harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo
arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus
Cristo. Que é o castigo? A consequência natural,
derivada desse falso movimento; uma soma de
dores necessária a desgostá-lo da sua
deformidade, pela experimentação do sofrimento.
O castigo é o aguilhão que excita a alma, pela
amargura, a se dobrar sobre si mesma e a voltar
ao porto de salvação. O objetivo do castigo não é
outro senão a reabilitação, a redenção. Querer
que o castigo seja eterno, por uma falta não eterna,
é negar-lhe toda a razão de ser. - Paulo, apóstolo.
(9)

15
Podemos resumir dizendo que a expiação, o
castigo ou a punição, são termos que dizem respeito
ao bem que a Justiça Divina faz a nosso favor, caso
contrário, não iríamos evoluir para atingir a meta
que Deus traçou para todos nós seres humanos.
Portanto, uma visão que a nega, demonstra falta de
compreensão do amor que Deus tem para cada um
de nós.

Vamos à lista do que encontramos, nessa


primeira obra publicada pelo Codificador:

Introdução, item VI: – os Espíritos não ocupam


perpetuamente a mesma categoria. Todos se
melhoram passando pelos diferentes graus da
hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por
meio da encarnação, que é imposta a uns como
expiação, a outros como missão. A vida material é
uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente,
até que hajam atingido a absoluta perfeição moral;
(10)

113. […] [os Espíritos puros] Comandam a todos


os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos
na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam
as suas missões. Assistir os homens nas suas
aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das
faltas que os conservam distanciados da suprema
felicidade, constitui para eles ocupação gratíssima.

16
São designados às vezes pelos nomes de anjos,
arcanjos ou serafins. Podem os homens pôr-se
em comunicação com eles, mas extremamente
presunçoso seria aquele que pretendesse tê-los
constantemente às suas ordens. (11)

132. Qual o objetivo da encarnação dos


Espíritos?
“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de
fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação;
para outros, missão. Mas, para alcançarem essa
perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da
existência corporal: nisso é que está a expiação.
[…]. (12)

167. Qual a finalidade da reencarnação?


“Expiação, melhoramento progressivo da
humanidade. Sem isso, onde a justiça?” (13)

199. Por que tão frequentemente a vida se


interrompe na infância?
“A duração da vida da criança pode representar,
para o Espírito que nela está encarnado, o
complemento de existência precedente
interrompida antes do término devido, e sua morte,
quase sempre, provação ou expiação para os
pais.” (14) (itálico do original)

224-b. Essa duração está subordinada à


vontade do Espírito, ou lhe pode ser imposta como
expiação?
“É uma consequência do livre-arbítrio. Os

17
Espíritos sabem perfeitamente o que fazem. mas,
para alguns, e também uma punição imposta por
Deus. Outros pedem que ela se prolongue, a fim
de continuarem estudos que só podem ser
efetuados com proveito na condição de Espírito
livre.” (15)

231. Os Espíritos errantes são felizes ou


infelizes?
“Mais ou menos, de acordo com os seus
méritos. Sofrem por efeito das paixões cujo
princípio conservaram, ou são felizes segundo
sejam mais ou menos desmaterializados. No
estado de errante, o Espírito entrevê o que lhe falta
para ser mais feliz e, desde então, procura os
meios de alcançá-lo. Nem sempre lhe é permitido
reencarnar conforme sua vontade, o que
constitui, para ele, uma punição.” (16)

246. Os Espíritos precisam da luz para ver?


“Veem por si mesmos, sem precisarem de luz
exterior. Para eles não há trevas, a não ser aquelas
em que podem achar-se por expiação.” (17)

262-a. Quando o Espírito goza do livre-arbítrio,


a escolha da existência corpórea depende sempre,
exclusivamente, de sua vontade, ou essa
existência lhe pode ser imposta, como
expiação, pela vontade de Deus?
“Deus sabe esperar: não apressa a expiação.
Entretanto, pode impor determinada existência a
um Espírito, quando este, por sua inferioridade ou

18
má vontade, não está apto a compreender o que
lhe seria mais benéfico, e quando vê que tal
existência pode contribuir para a sua purificação e,
ao mesmo tempo, servir-lhe de expiação.” (18)

264. O que guia o Espírito na escolha das


provas que queira sofrer?
“Ele escolhe, de acordo com a natureza de
suas faltas, as provas que o levem a expiá-las e
o façam progredir mais depressa. Uns, portanto,
impõem a si mesmos uma vida de misérias e
privações, a fim de tentarem suportá-las com
coragem; outros preferem experimentar as
tentações da riqueza e do poder, muito mais
perigosas, pelo abuso e mau emprego que deles
se possa fazer, e pelas paixões inferiores que uns
e outros desenvolvem. Outros, finalmente, querem
ser provados nas lutas que terão de sustentar no
contato com o vício.” (19)

273. Um homem que pertence a uma raça


civilizada poderia, por expiação, reencarnar numa
raça de selvagens?
“Sim, mas depende do gênero da expiação.
Um senhor, que tenha sido cruel com os seus
escravos, poderá, por sua vez, tornar-se escravo
e sofrer os maus-tratos que infligiu a outros.
Aquele que exerceu o mando em certa época
pode, em nova existência, obedecer aos que se
curvavam ante a sua vontade. É uma expiação,
que Deus lhe impõe, se abusou do seu poder.
[…].” (20)

19
289. Nossos parentes e amigos vêm, algumas
vezes, encontrar-se conosco quando deixamos a
Terra?
“Sim, os Espíritos vão ao encontro da alma a
quem são afeiçoados. Felicitam-na, como se
regressasse de uma viagem, por haver escapado
aos perigos da estrada, e ajudam-na a desprender-
se dos laços corpóreos. É uma graça concedida
aos Espíritos bons quando os seres que os amam
vêm ao seu encontro, ao passo que aquele que se
acha maculado permanece em isolamento ou
só tem a rodeá-lo os que lhe são semelhantes.
É uma punição.” (21) (itálico do original)

290. Os parentes e amigos sempre se reúnem


depois da morte?
“Depende de sua elevação deles e do caminho
que seguem para progredir. Se um deles está mais
adiantado e caminha mais depressa do que outro,
não podem os dois conservar-se juntos; é possível
que se vejam algumas vezes, mas só estarão
reunidos para sempre quando poderem caminhar
lado a lado, ou quando se houverem igualado na
perfeição. Além disso, a privação de ver os
parentes e amigos é, às vezes, uma punição.”
(22)

337. A união do Espírito a determinado corpo


ser imposta por Deus?
“Pode ser imposta do mesmo modo que as
diferentes provas, sobretudo quando o Espírito
ainda não está apto para escolher com

20
conhecimento de causa. Por expiação, o Espírito
pode ser constrangido a se unir ao corpo de
determinada criança que, pelo seu nascimento e
pela posição que venha a ocupar no mundo,
poderá tornar-se para ele um instrumento de
castigo.” (23)

372. Qual é o objetivo da Providência ao criar


seres infelizes, como os cretinos e os idiotas?
“São Espíritos em punição que habitam
corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem pelo
constrangimento que experimentam e pela
impossibilidade em que estão de se manifestarem
por meio de órgãos não desenvolvidos ou
defeituosos.” (24)

373. Qual o mérito da existência de seres que,


como os cretinos e os idiotas, não podendo fazer
o bem nem o mal, não podem progredir?
“É uma expiação decorrente do abuso que
fizeram de certas faculdades. É uma pausa
temporária.” (25)

393. Como pode o homem ser responsável


por atos e resgatar faltas de que se não
lembra? Como pode aproveitar da experiência de
existências que caíram no esquecimento?
Concebe-se que as tribulações da vida lhe
servissem de lição, se pudesse lembrar-se do que
as originou. Mas, desde que não se recorda disso,
cada existência é, para ele, como se fosse a
primeira, estando, desse modo, sempre a
recomeçar. Como conciliar isto com a Justiça de

21
Deus?
“A cada nova existência, o homem tem mais
inteligência e pode distinguir melhor o bem do mal.
Onde estaria o mérito, se ele se lembrasse de todo
o passado? Quando o Espírito retorna volta à vida
primitiva – a vida espiritual – toda a sua vida
passada se desdobra diante dele. Vê as faltas que
cometeu e que são a causa de seu sofrimento,
bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de
cometê-las. Compreende que a posição em que se
encontra é justa e busca então uma existência
em que possa reparar a que acaba de
transcorrer. Escolhe provas semelhantes àquelas
por que passou ou as lutas que considere
apropriadas ao seu adiantamento e pede a
Espíritos que lhes são superiores que o ajudem na
nova tarefa que porá em execução, porque sabe
que o Espírito que lhe será dado por guia nessa
nova existência procurará levá-lo a reparar suas
faltas dando-lhe uma espécie de intuição das que
ele cometeu. […]. (26) (itálico do original)

399. Sendo as vicissitudes da vida corpórea


expiação das faltas do passado e, ao mesmo
tempo, provas para o futuro, segue-se que da
natureza de tais vicissitudes se possa deduzir o
gênero da existência anterior?
“Muito frequentemente, pois cada um é punido
naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve
tirar daí uma regra absoluta. As tendências
instintivas são um indício mais seguro, pois as
provas por que passa o Espírito tanto se referem
ao futuro quando ao passado.”

22
Os dois últimos parágrafos dos comentários de
Allan Kardec:

As vicissitudes da vida corpórea constituem


expiação das faltas do passado e,
simultaneamente, provas com relação ao futuro.
Depuram-nos e elevam-nos, se as suportamos
resignados e sem murmurar.
A natureza das vicissitudes e das provas que
sofremos também nos pode esclarecer sobre o
que fomos e o que fizemos, do mesmo modo
que neste mundo julgamos os atos de um
culpado pelo castigo que lhe inflige a lei. Assim,
o orgulhoso será castigado no seu orgulho pela
humilhação de uma existência subalterna; o mau
rico e o avarento, pela miséria; o que foi cruel para
os outros, pelas crueldades que sofrerá; o tirano,
pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão de
seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado
etc. (27)

578. O Espírito pode falir em sua missão por


sua própria culpa?
“Sim, se não for um Espírito superior.”

578-a. Quais são para ele as consequências?


“Terá que retomar a tarefa; essa a sua punição.
Depois sofrerá as consequências do mal que
haja causado.” (28)

639. O mal que cometemos não resulta muitas


vezes da posição em que os outros homens nos

23
colocaram? Quais são, nesse caso, os mais
culpados?
“O mal recai sobre aquele que foi o seu
causador. Assim, o homem que é levado a praticar
o mal pela posição em que seus semelhantes os
colocaram é menos culpado do que aquele que
causaram esse mal, porque cada um será punido
não só pelo mal que haja feito, mas também
pelo mal que tenha provocado.” (29)

642. Para agradar a Deus e assegurar a sua


posição futura, bastará que o homem não pratique
o mal?
“Não; é preciso que faça o bem no limite de
suas forças, pois cada um responderá por todo
mal que haja resultado de não haver praticado
o bem.” (30) (itálico do original)

663. As preces que fizermos por nós mesmos


podem mudar a natureza de nossas provas e
desviar-lhes o curso?
“As vossas provas estão nas mãos de Deus e
existem algumas que devem ser suportadas até o
fim. Deus, porém, sempre leva em conta a
resignação. A prece atrai para vós os Espíritos
bons que, ao vos darem a força de suportá-las com
coragem, faz que elas vos pareçam menos rudes.
Já dissemos que a prece nunca é inútil, quando
benfeita, porque fortalece aquele que ora, o que é
um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o Céu
te ajudará, bem o sabes. Além disso, Deus não
pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de

24
cada um, porque aquilo que é um grande mal, do
vosso ponto de vista mesquinho e do da vossa vida
efêmera, é quase sempre um grande bem na
ordem geral do Universo. Além disso, de quantos
males o homem não é o próprio autor, pela sua
imprevidência ou pelas suas faltas! Ele é punido
naquilo em que pecou. Entretanto, os vossos
pedidos justos são atendidos muito mais vezes do
que supondes. Julgais que Deus não vos ouviu
porque não fez um milagre em vosso favor quando
vos assiste por meios tão naturais que vos
parecem obra do acaso ou da força das
circunstâncias. Muitas vezes também, e é o que
quase sempre acontece, Ele vos sugere a ideia
necessária para vos desembaraçardes por vós
mesmos das dificuldades que enfrentais.” (31)

745. Que se deve pensar daquele que promove


a guerra em benefício próprio?
“Esse é o verdadeiro culpado. Precisará de
muitas existências para expiar todos os
assassínios dos quais foi a causa, pois
responderá por cada homem cuja morte tenha
causado para satisfazer à sua ambição.” (32)

764. Disse Jesus: Quem matou com a espada


morrerá pela espada. Estas palavras não
consagram a pena de talião e, assim, a morte
imposta ao assassino não constitui a aplicação
dessa pena?
“Cuidado! Estais equivocados quanto a estas
palavras, como sobre muitas outras. A pena de
talião é a Justiça de Deus; é Ele quem a aplica.

25
Todos vós sofreis essa pena a cada instante,
pois sois punidos naquilo em que haveis pecado,
nesta vida ou em outra. Aquele que provocou o
sofrimento de seus semelhantes virá a achar-se
numa condição em que sofrerá o que tenha
feito sofrer os outros. É este o sentido das
palavras de Jesus. […].” (33)

807. Que se deve pensar dos que abusam da


superioridade de suas posições sociais para
oprimir os fracos em benefício próprio?
“Merecem anátema! Ai deles! Serão oprimidos
por sua vez e renascerão numa existência em
que sofrerão tudo o que tiverem feito sofrer aos
outros.” (34)

847. A aberração das faculdades tira ao homem


o livre-arbítrio?
“Aquele cuja inteligência é perturbada por uma
causa qualquer não é mais senhor do seu
pensamento e, desde então, já não tem liberdade.
Essa aberração constitui muitas vezes uma
punição para o Espírito que, em outra
existência, tenha sido fútil e orgulhoso, ou
possa ter utilizado mal as suas faculdades.
Esse Espírito poderá renascer no corpo de um
idiota, como o déspota no corpo de um escravo
e o mau rico no de um mendigo. Mas o Espírito
sofre por efeito desse constrangimento, do qual
tem perfeita consciência; é aí que está a ação da
matéria.” (371 e seguintes.) (35)

855. Qual o objetivo da Providência ao nos fazer

26
correr perigos que acabam não tendo nenhuma
consequência?
“O fato de tua vida ser posta em perigo constitui
um aviso que tu mesmo desejaste, a fim de te
desviares do mal e te tornares melhor. Se escapas
desse perigo, refletes mais ou menos seriamente,
ainda sob a influência do risco que correste, em te
melhorares, conforme seja mais ou menos forte
sobre ti a influência dos Espíritos bons. Vindo em
seguida o mau Espírito – digo mau, subentendendo
o mal que ainda existe nele – pensas que
escaparás igualmente de outros perigos e deixas
que tuas paixões se desencadeiem novamente.
Por meio dos perigos que correis, Deus vos lembra
a vossa fraqueza e a fragilidade da vossa
existência. Se examinardes a causa e a natureza
do perigo, vereis que, na maioria das vezes, que
suas consequências teriam sido a punição de
uma falta cometida ou de um dever
negligenciado. Deus, vos adverte dessa forma para
que reflitais e vos corrijais.” (526 a 532) (36)

920. O homem pode gozar de completa


felicidade na Terra?
“Não, porque a vida lhe foi dada como prova ou
expiação. Depende dele, porém, amenizar os seus
males e ser tão feliz quanto possível na Terra.” (37)

939. Uma vez que os Espíritos simpáticos são


levados a unir-se, como é que, entre os
encarnados, muitas vezes a afeição existe apenas
de um dos lados e o amor mais sincero seja
acolhido com indiferença e até com repulsa? Como

27
é, além disso, que a mais viva afeição entre dois
seres pode transformar-se em antipatia e mesmo
em ódio?
“Então não compreendes que se trata de
punição, embora passageira? Depois, quantos
não são os que acreditam amar perdidamente,
porque apenas julgam pelas aparências, mas que,
obrigados a viver com as pessoas, não tardam a
reconhecer que não passava de entusiasmo
material! Não basta uma pessoa estar enamorada
de outra que lhe agrada e em quem supõe belas
qualidades; é vivendo realmente com ela que
poderá apreciá-la. […].” (38)

948. O suicídio que tem por fim escapara à


vergonha de uma ação má é tão reprovável quanto
o que tem por causa o desespero?
“O suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em
vez de uma, haverá duas. Quando se teve a
coragem de praticar o mal, é preciso tê-la também
para lhe sofrer as consequências. Deus é quem
julga e, algumas vezes, conforme a causa, pode
abrandar os rigores de sua justiça.” (39)

957. Comentário de Allan Kardec:


A afinidade que permanece entre o Espírito e o
corpo produz, nalguns suicidas, uma espécie de
repercussão do estado do corpo no Espírito, que,
assim, a seu malgrado, sente os efeitos da
decomposição, donde lhe resulta uma sensação
cheia de angústias e de horror, estado esse que
também pode durar pelo tempo que devia durar a

28
vida que sofreu interrupção. Não é geral este
efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento
das consequências da sua falta de coragem e,
cedo ou tarde, expia, de um modo ou de outro,
a culpa em que incorreu. Assim é que certos
Espíritos, que foram muito desgraçados na Terra,
disseram ter-se suicidado na existência precedente
e submetido voluntariamente a novas provas, para
tentarem suportá-las com mais resignação. […] A
maior parte deles sofre o pesar de haver feito uma
coisa inútil, pois que só decepções encontram. (40)

962. Comentário de Allan Kardec:


A consequência da realidade da vida futura
decorre da responsabilidade dos nossos atos. À
razão e a justiça dizem que, na partilha da
felicidade a que todos aspiram, os bons e os
maus não podem estar confundidos. Não é
possível que Deus queira que uns gozem, sem
trabalho, de bens que outros só alcançam com
esforço e perseverança.
A ideia que Deus nos dá de sua justiça e de
sua bondade, mediante a sabedoria de suas leis,
não nos permite acreditar que o justo e o mau
estejam na mesma categoria a seus olhos, nem
duvidar de que recebam, algum dia, um a
recompensa, o outro o castigo, pelo bem ou pelo
mal que tenham feito. É por isso que o sentimento
inato que temos da justiça nos dá a intuição das
penas e recompensas futuras. (41)

964. Há necessidade de que Deus ocupe de


cada um dos nossos atos, para nos recompensar

29
ou punir? A maioria desses atos não são
insignificantes para Ele?
“Deus tem suas leis a regerem todas as vossas
ações. Se as violais, vossa é a culpa.
Indubitavelmente, quando um homem comete um
excesso qualquer, Deus não profere contra ele um
julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: ‘foste
guloso, vou punir-te.’ Ele traçou um limite; as
enfermidades e muitas vezes a morte são a
consequência dos excessos. Eis aí a punição: é o
resultado da infração da lei. Assim em tudo.”

Comentário de Allan Kardec: Todas as nossas


ações estão submetidas às leis de Deus. Não há
nenhum ato, por mais insignificante que nos
pareça, que não possa ser uma violação
daquelas leis. Se sofremos as consequências
dessa violação, só nos devemos queixar de nós
mesmos, que desse modo nos tornamos os
artífices de nossa felicidade ou da nossa
infelicidade futura. (42) (itálico do original)

973. Quais os maiores sofrimentos que os


Espíritos maus podem suportar?
“Não há descrição possível das torturas
morais que constituem a punição de certos
crimes. Mesmo o que as sofre teria dificuldade em
vos dar delas uma ideia desses suplícios. Mas,
com toda certeza, a mais terrível é o pensamento
de que estão condenados para sempre.”
A ideia que os homens fazem das penas e
gozos de alma após a morte será mais ou menos
elevada, conforme o estado de sua inteligência.

30
[…] Ensinando-nos que a alma é um ser todo
espiritual, a razão, mais esclarecida, nos diz, por
isso mesmo, que ela não pode ser atingida pelas
impressões que apenas sobre a matéria atuam.
Não se segue, porém, daí que esteja isenta de
sofrimentos, nem que não receba o castigo de
suas faltas. (237)
As comunicações espíritas têm como
resultado mostrar-nos o estado futuro da alma,
não mais em teoria, porém na realidade. Põem-
nos diante dos olhos todas as peripécias da vida
de além-túmulo. Ao mesmo tempo, mostram-nos
essas peripécias como consequências
perfeitamente lógicas da vida terrena e, embora
despojadas do aparato fantástico que a imaginação
dos homens, não deixam de ser menos pessoais
para os que fizeram mau uso de suas faculdades.
A diversidade dessas consequências é infinita,
mas, em tese geral, pode-se dizer: cada um é
punido por aquilo em que pecou. Assim é que
uns o são pela incessante visão do mal que
fizeram; outros, pelo pesar, pelo temor, pela
vergonha, pela dúvida, pelo isolamento, pelas
trevas, pela separação dos entes que lhes são
caros etc. (43)

983. O Espírito que expia suas faltas em nova


existência não experimenta sofrimentos materiais?
Será então exato dizer-se que para a alma, depois
da morte, só há sofrimentos morais?
“É bem verdade que, quando a alma está
reencarnada, as tribulações da vida representam
um sofrimento para ela, mas só o corpo sofre

31
materialmente.
Muitas vezes, falando de alguém que morreu,
dizeis que ele deixou de sofrer. Nem sempre isto é
verdade. Como Espírito, não sofre mais dores
físicas, embora esteja sujeito, conforme as
faltas que cometeu, a dores morais mais
agudas; pode mesmo vir a ser ainda mais infeliz
em nova existência. O mau rico pedirá esmola e
estará sujeito a todas as privações da miséria; o
orgulhoso, a todas as humilhações; o que abusa de
sua autoridade e trata com desprezo e crueldade
os seus subordinados se verá forçado a obedecer
a um patrão mais duro do que ele o foi. Todas as
penas e tribulações da vida são expiação das
faltas de outra existência, quando não a
consequência das da vida atual. Logo que
houverdes saído daqui, compreendereis isso. (273,
393 e 399) (44)

984. As vicissitudes da vida são sempre a


punição das faltas atuais?
“Não; como já dissemos, são provas impostas
por Deus ou que vós mesmos escolhestes como
Espírito, antes de encarnardes, para expiação das
faltas cometidas em outra existência, porque
jamais fica impune a infração das Leis de Deus
e, sobretudo, da lei de justiça. Se não for punida
nesta existência, será necessariamente em
outra. Eis por que aquele que vos parece justo,
muitas vezes, sofre. É o passado que o pune.” (45)

998. A expiação se cumpre no estado corpóreo


ou no estado espiritual?

32
“A expiação se cumpre durante a existência
corpórea, por meio de provas a que o Espírito se
acha submetido e, na vida espiritual, pelos
sofrimentos morais inerentes ao estado de
inferioridade do Espírito.” (46)

1006. Da resposta de São Luís: “[…] [Deus]


Jamais o priva do seu livre-arbítrio, se deste faz
mau uso, sofrerá as consequências.” (47)

Conclusão, item V: O Espiritismo é forte porque


se apoia sobre as próprias bases da religião: Deus,
a alma, as penas e as recompensas futuras; é
forte, sobretudo, porque mostra que essas penas
e recompensas como consequências naturais
da vida terrestre e também porque, no quadro que
apresenta do futuro, nada há que a razão mais
exigente possa recusar. […]. (48)

Como se vê são abundantes as provas a favor


da existência do princípio da lei de causa e efeito
que surgem dessa obra. Somente se mantiver os
olhos fechados é que não se consegue vê-las.

Foi necessário separarmos, deixando-a fora da


sequência numérica, esta questão de O Livro dos
Espíritos, inserida no tópico “Escolha das provas”:

258. No estado errante e antes de começar

33
nova existência corpórea, o Espírito tem
consciência e previsão das coisas que lhe vão
acontecer durante a vida?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas que
deseja sofrer e nisso consiste o seu livre-arbítrio.”
258-a. Não é Deus, então, que lhe impõe as
tribulações da vida, como castigo?
“Nada acontece sem a permissão de Deus, pois
foi Ele que estabeleceu todas as leis que regem o
Universo. Perguntai, então, por que fez tal lei, e
não outra? Dando ao Espírito a liberdade de
escolher, Deus lhe deixa toda a responsabilidade
de seus atos e de suas consequências. Nada
entrava o seu futuro; o caminho do bem, como o do
mal, lhe estão abertos. Se vier a sucumbir, resta-
lhe o consolo de que nem tudo se acabou para ele
e que Deus, em sua bondade, deixa-o livre para
recomeçar o que foi mal feito. Além disso, é preciso
distinguir o que é obra da vontade de Deus do que
é obra da vontade do homem. Se um perigo vos
ameaça, não fostes vós quem o criou, e sim Deus;
tivestes, porém, o desejo de vos expordes a ele
porque nele vistes um meio de progredirdes, e
Deus o permitiu.” (49)

O tema aqui tratado é sobre provas, e essas,


de fato, são escolhas do Espírito. As expiações em
casos esporádicos podem ser escolhidas, mas é algo
que o Espírito deverá passar, não tem o livre-arbítrio

34
para se livrar dele.

b) Revista Espírita 1858

Do artigo “Da pluralidade das existências


corpóreas”, publicado no mês de outubro,
destacamos:

[…] O ensino dos Espíritos é eminentemente


cristão; apoia-se sobre a imortalidade da alma, as
penas e as recompensas futuras, o livre arbítrio
do homem, a moral do Cristo; portanto, não é
antirreligiosa. (50)

Ora, não temos como negar que “as penas e as


recompensas futuras” ligam-se, por lógica, à lei de
causa e efeito, ou seja, elas serão o resultado de
ações anteriores dos indivíduos.

c) Revista Espírita 1859

No mês de janeiro, Allan Kardec publica a carta


enviada à sua Alteza o Príncipe G., da qual merece
destaque:

Qual pode ser a utilidade da propagação das

35
ideias espíritas? – O Espiritismo, sendo a prova
palpável, evidente da existência, da individualidade
e da imortalidade da alma, é a destruição do
Materialismo. Essa negação de toda religião, essa
praga de toda sociedade. O número dos
materialistas que foram conduzidos a ideias mais
sadias é considerável e aumenta todos os dias: só
isso seria um benefício social. Ele não prova
somente a existência da alma e sua imortalidade;
mostra o estado feliz ou infeliz delas segundo
os méritos desta vida. As penas e as
recompensas futuras não são mais uma teoria,
são um fato patente que se tem sob os olhos.
Ora, como não há religião possível sem a crença
em Deus, na imortalidade da alma, nas penas e
nas recompensas futuras, se o Espiritismo
conduz a essas crenças aqueles em que estavam
apagadas, disso resulta que é o mais poderoso
auxiliar das ideias religiosas: dá a religião àqueles
que não a têm; fortifica-a naqueles em que ela é
vacilante; […].
Se considerarmos agora a moral ensinada pelos
Espíritos superiores, ela é toda evangélica, é dizer
tudo: prega a caridade cristã em toda a sua
sublimidade; faz mais, mostra a sua necessidade
para a felicidade presente e futura, porque as
consequências do bem e do mal que fazemos
estão ali diante dos nossos olhos. Conduzindo
os homens aos sentimentos de seus deveres
recíprocos, o Espiritismo neutraliza o efeito das
doutrinas que subversivas da ordem social. (51)

36
Se a felicidade ou a infelicidade é de acordo
com os méritos desta vida, então, estamos falando
de lei de causa e efeito, o que também se corrobora
com a ideia de penas e recompensas futuras.

d) O Que é o Espiritismo (1859)

No cap. I, Terceiro Diálogo – O Padre, Allan


Kardec, explica:

A duração do castigo é subordinada ao


melhoramento do Espírito culpado. Nenhuma
condenação por tempo determinado é pronunciada
contra ele. O que Deus exige, para pôr um termo
aos sofrimentos, é o arrependimento, a expiação e
a reparação; em uma palavra, um melhoramento
sério e efetivo, uma volta sincera ao bem. O
Espírito é assim o árbitro de sua própria sorte;
sua pertinácia no mal prolonga-lhe os
sofrimentos; seus esforços para fazer o bem os
minoram ou abreviam. Sendo a duração da pena
subordinada ao arrependimento, o Espírito
culpado, que não se arrependesse e nunca se
melhorasse, sofreria sempre, e para ele então a
pena seria eterna. Essa eternidade de penas deve
ser entendida no sentido relativo, e não no
absoluto. Uma condição inerente à inferioridade do
Espírito é não ver o termo da sua situação e crer
que há de sofrer sempre – o que é para ele um
castigo. Desde que, porém, sua alma se abra ao

37
arrependimento, Deus lhe faz entrever um raio de
esperança. (52)

No cap. II – Noções elementares de Espiritismo,


tópico “Dos Espíritos”, lemos:

17. Os Espíritos possuem todas as percepções


que tinham na Terra, porém em grau mais alto,
porque as suas faculdades não estão amortecidas
pela matéria; eles têm sensações desconhecidas
por nós, veem e ouvem coisas que os nossos
sentidos limitados não nos permitem ver nem ouvir.
Para eles não há obscuridade, excetuando-se
aqueles que, por punição, se acham
temporariamente nas trevas. (53)

Essa região (ou local) de trevas, na qual alguns


Espíritos ficam por punição, não seria o Umbral? Ou,
quem sabe, algo bem semelhante a ele?

Do item 100, do tópico “Consequência do


Espiritismo”, do cap. II – Noções elementares de
Espiritismo, destacamos:

As almas que se manifestam, nos revelam


suas alegrias ou seus sofrimentos, segundo o
modo por que empregaram o tempo de vida

38
terrena; nisto temos a prova das penas e
recompensas futuras.
Descrevendo-nos seu estado e situação, as
almas ou Espíritos retificam as ideias falsas que
faziam da vida futura e, principalmente, acerca da
natureza e duração das penas.
Passando assim a vida futura do estado de
teoria vaga e incerta ao de fato conhecido e
positivo, aparece a necessidade de trabalhar o
mais possível, durante a vida presente, que é
tão curta, em proveito da vida futura, que é
indefinida. (54)

A nossa “sorte” futura tem uma relação direta


com a nossa maneira de agir, pensar e proceder,
bem ao que Jesus disse: “e, então, retribuirá a cada
um conforme as suas obras” (Mateus 16,27) (55)

Ainda nessa obra, cap. III – Solução de alguns


problemas pela Doutrina Espírita, tópico “O homem
durante a vida terrena”, encontramos a seguinte
questão:

123. Por que há maus pais e maus filhos?


São Espíritos que não se ligaram na mesma
família por simpatia, mas com o fim de servirem de
instrumentos de provas uns aos outros e, muitas
vezes, para punição do que foram em

39
existência anterior; a um é dado um mau filho,
porque também ele o foi; a outro, um mau pai, pelo
mesmo motivo, a fim de que sofram a pena de
talião. (Revue Spirite, setembro de 1861, La Pine
du talion.) (56) (itálico do original)

134. Por que nascem alguns na indigência e


outros na opulência? Por que vemos tantas
pessoas nascerem cegas, surdas, mudas ou
afetadas de moléstias incuráveis, quando outras
possuem todas as vantagens físicas? Será um
efeito do acaso, ou um ato da Providência?
Se fosse do acaso, a Providência não existiria.
Admitida, porém, a Providência, perguntamos
como se conciliam esses fatos com a sua bondade
e justiça? É por falta de compreensão da causa
de tais males que muitos se arrojam a acusar
Deus.
Compreende-se que quem se torna miserável
ou enfermo, por suas imprudências ou por
excessos, seja punido por onde pecou: porém, se
a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo,
que fez ela para merecer tais aflições, desde o
seu nascimento, ou para ficar isenta delas?
Se admitimos a Justiça de Deus, não podemos
deixar de admitir que esse efeito tem uma
causa; e se esta causa não se encontra na vida
presente, deve achar-se antes desta, porque em
todas as coisas a causa deve preceder ao
efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter
vivido, para que possa merecer uma expiação.
Os estudos espíritas nos mostram, de fato, que

40
mais de um homem, nascido na miséria, foi rico
e considerado em uma existência anterior, na
qual fez mau uso da fortuna que Deus o
encarregara de gerir; que mais de um, nascido na
abjeção, foi anteriormente orgulhoso e
prepotente, abusou do poder para oprimir os
fracos. Esses estudos no-los fazem ver, muitas
vezes, sujeitos àqueles a quem trataram com
dureza, entregues aos maus-tratos e à humilhação
a que submeteram os outros.
Nem sempre uma vida penosa é expiação;
muitas vezes é prova escolhida pelo Espírito,
que vê um meio de avançar mais rapidamente,
conforme a coragem com que saiba suportá-la.
A riqueza é também uma prova, mas muito mais
perigosa que a miséria, pelas tentações que dá e
pelos abusos que enseja; também o exemplo dos
que viveram, demonstra ser ela uma prova em que
a vitória é mais difícil. A diferença das posições
sociais seria a maior das injustiças – quando não
seja o resultado da conduta atual –, se ela não
tivesse uma compensação. A convicção que dessa
verdade adquirimos, pelo Espiritismo, nos dá força
para suportarmos as vicissitudes da vida e
aceitarmos a nossa sorte, sem invejar a dos outros.

135. Por que há homens idiotas e imbecis?


A posição dos idiotas e dos imbecis seria a
menos conciliável com a Justiça de Deus, na
hipótese da unicidade da existência. Por miserável
que seja a condição em que o homem nasça, ele
poderá sair dela por sua inteligência e trabalho; o

41
idiota e o imbecil, porém, são votados, desde o
nascimento até a morte, ao embrutecimento e ao
desprezo; para eles não há compensação possível.
Por que foi, então, sua alma criada idiota?
Os estudos espíritas, feitos acerca dos
imbecis e idiotas, provam que suas almas são
tão inteligentes como as dos outros homens;
que essa enfermidade é uma expiação infligida
a Espíritos que abusaram da inteligência, e
sofrem cruelmente por se sentirem presos, em
laços que não podem quebrar, e pelo desprezo de
que se veem objeto, quando, talvez, tenham sido
tão considerados em encarnação precedente. (Ver
Revue Spirite, L’Esprit d’un idiot. um idiota; Idem,
1861, Os cretinos.) (57) (itálico do original)

162. Em que consistem os gozos das almas


felizes? Passam elas a eternidade em
contemplação?
A justiça quer que a recompensa seja
proporcional ao mérito, como a punição à
gravidade da falta; há, pois, graus infinitos nos
gozos da alma, desde o instante em que ela entra
no caminho do bem, até aquele em que atinge a
perfeição. […].
O estado de contemplação perpétua seria uma
felicidade estúpida e monótona; seria a ventura do
egoísta, uma existência interminavelmente inútil.
(58)

“Muitas vezes, por punição do que foram em

42
existência anterior”, “essa enfermidade é uma
expiação infligida a Espíritos que abusaram da
inteligência” e “A justiça quer que a recompensa
seja proporcional ao mérito, como a punição à
gravidade da falta” são, entre vários outros,
destaques que sedimentam a concepção da lei de
causa e efeito como princípio doutrinário.

e) Revista Espírita 1860

Em janeiro, Allan Kardec publica o artigo “O


Espiritismo em 1860”, do qual transcrevemos o
seguinte trecho:

[…] Sim, o Espiritismo é forte, mais forte que


vós, porque se apoia sobre as próprias bases da
religião: Deus, a alma, as penas e as
recompensas futuras baseadas no bem e no
mal que se fez, vós vos apoiais sobre a
incredulidade; ele convida os homens à felicidade,
à esperança, à verdadeira fraternidade; vós, vós
lhes ofereceis o NADA por perspectiva e o
EGOÍSMO por consolação; ele explica tudo, vós
não explicais nada; ele prova pelos fatos, e vós
não provais nada; como quereis que se oscile entre
as duas doutrinas? (59)

43
O que seria “as penas e as recompensas
futuras baseadas no bem e no mal que se fez” senão
a inquestionável aplicação da lei de causa e efeito?
Há que se fazer um enorme esforço de inteligência
para fugir dessa realidade.

No mês de junho, foi publicado o artigo “O


Espírito de um idiota”, onde consta o diálogo
estabelecido com Charles de Saint-G…, um jovem
idiota de treze anos, do qual destacamos:

6. Sentis, como Espírito, um sentimento penoso


de vosso estado corpóreo? – R. Sim, uma vez que
é uma punição.
7. Lembrai-vos de vossa existência precedente?
– R. Oh! Sim; foi a causa de meu exílio na
presente.
8. Qual foi essa existência? – R. Um jovem
libertino ao tempo de Henrique III.
9. Dissestes que a vossa condição atual é
uma punição; portanto, não a escolhestes? – R.
Não.
10. Como a vossa existência atual pode servir
ao vosso adiantamento, no estado de nulidade em
que estais? – R. Ela não é nula para mim diante de
Deus que ma impôs. (60)

44
O próprio Espírito manifestante reconhece que
sua idiotia é consequência de mau ato praticado no
passado.

No mês de outubro, há o registro da “Resposta


do Sr. Allan Kardec”, no caso, ao Sr. redator da
Gazette de Lyon, da qual destacamos:

[…] O Espiritismo está inteiramente fundado


sobre o princípio da existência da alma, sua
sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois
da morte, sua imortalidade, as penas e as
recompensas futuras. Ele não sanciona estas
verdades somente pela teoria, sua essência é de
dar-lhes provas patentes; eis porque tantas
pessoas, que não criam em nada, foram
conduzidas para as ideias religiosas. […]. (61)

As penas e as recompensas futuras estão


intimamente ligadas à lei de causa e efeito, disso
não temos dúvida alguma, uma vez que são
consequências de nossas ações.

Do artigo “Relações afetuosas dos Espíritos”,


publicado no mês de novembro, transcrevemos o
seguinte trecho:

45
Se o isolamento fosse uma propriedade inerente
à erraticidade, esse estado seria um verdadeiro
suplício, tanto mais penoso quanto mais possa se
prolongar durante uma longa sequência de
séculos. Nós sabemos, por experiência, que a
privação da visão daqueles que se amou é uma
punição para certos Espíritos; mas sabemos
também que muitos ficam felizes por se
reencontrarem; que, à saída dessa vida, nossos
amigos do mundo espírita vêm nos receber e nos
ajudam a anos desembaraçarmos das faixas
materiais, e que nada é mais penoso do que não
encontrar nenhuma alma benevolente nesse
momento solene. […]. (62)

f) O Livro dos Médiuns (1861)

Da 2ª parte, cap. XIX, destacamos este


comentário de Allan Kardec:

Este é um fato comprovado pela experiência. Já


evocamos inúmeras vezes Espíritos de idiotas
vivos, os quais deram evidentes provas de sua
identidade e responderam com muita sensatez e
mesmo de modo superior às questões que lhes
foram propostas. Esse estado é uma punição
para o Espírito, que sofre com o
constrangimento em que se vê. Um médium
idiota pode, pois, oferecer ao Espírito que queira
manifestar-se mais recursos de que se pensa. […].

46
(63)

Mais à frente temos, 2ª parte, cap. XXIII:

4. Assim, a impossibilidade de comunicar-se


com os Espíritos bons seria uma espécie de
punição?
“Em certos casos, pode ser uma verdadeira
punição, como a possibilidade de comunicar-se
com eles é uma recompensa que deveis vos
esforçar por merecer.” […]. (64)

Avançando, encontramos na 2ª parte, Cap.


XXIV:

9. Compreendemos que seja assim quando se


trate de um ensino sério, mas como os Espíritos
superiores permitem que outros, de baixo escalão,
adotem nomes respeitáveis, para induzirem os
homens ao erro, por meio de máximas não raro
perversas?
“Não é com a permissão dos Espíritos
superiores que os Espíritos de baixo escalão fazem
isso. O mesmo não se dá entre vós? Os que
assim enganam os homens serão punidos, ficai
certos, e a punição deles será proporcional à
gravidade da impostura. Aliás, se não fôsseis
imperfeitos, não teríeis em torno de vós senão

47
Espíritos bons; se sois enganados, só de vós
mesmos vos deveis queixar. […]. (65)

21. Por que Deus permite que os Espíritos


cometam o sacrilégio de usar falsamente nomes
venerados?
“Poderias perguntar também por que Deus
permite que os homens mintam e blasfemem. Os
Espíritos, assim como os homens, têm o seu
livre-arbítrio tanto para o bem, quanto para o
mal; porém, nem uns nem outros escaparão à
Justiça de Deus.” (66)

Encerrando, vejamos estas últimas duas


questões inseridas na 2ª parte, cap. XXV:

3. Quais são as causas que podem impedir que


um Espírito atenda ao nosso chamado?
“Em primeiro lugar, a sua própria vontade;
depois, o seu estado corpóreo, caso se ache
encarnado, as missões de que esteja encarregado
ou, ainda, a permissão para isso, que lhe pode ser
negada. Há Espíritos que nunca podem comunicar-
se: são os que, por sua natureza, ainda pertencem
a mundos inferiores à Terra, bem como os que se
encontram nas esferas de punição, a menos que
lhes seja data especial permissão, com um fim de
utilidade geral. […].”
4. Por que motivo pode ser negada a um
Espírito permissão para se comunicar?

48
“Pode ser uma prova ou uma punição, para ele
ou para aquele que o chama.” (67)

“Nas esferas de punição”, sim, ainda que, no


mundo espiritual, não exista um inferno localizado,
nele pode-se iniciar o processo de expiação das
faltas cometidas pelo Espírito durante a vida
corporal.

g) Revista Espírita 1861

Do tópico “Conversas familiares do além-


túmulo”, do diálogo intitulado “O suicídio de um
ateu”, mês de fevereiro, destacaremos a seguinte
questão:

8. De onde vos vieram as ideias materialistas


que tínheis quando vivo? - R. Numa outra
existência, eu fui mau, e o meu Espírito estava
condenado a sofrer os tormentos da dúvida
durante a minha vida; também me matei.

Nota. Há aqui toda uma ordem de ideias.


Pergunta-se, frequentemente, como pode haver
materialista, uma vez que tendo já passado pelo
mundo espírita dever-se-ia ter dele a intuição; ora,
é precisamente essa intuição que é recusada,
como castigo a certos Espíritos que

49
conservaram o seu orgulho, e não se
arrependeram de suas faltas. A Terra, é preciso
que não se esqueça, é um lugar de expiação; eis
porque ela encerra tantos maus Espíritos
encarnados. (68)

A confissão de que teria sido mau em uma


outra existência e em razão disso foi condenado a
sofrer, é bem a aplicação da lei de causa e efeito.
Observa-se, que na nota Allan Kardec corrobora a
ideia de “castigo” por conta do orgulho e falta de
arrependimento das faltas cometidas.

Em fevereiro, do artigo “O homenzinho ainda


vive; a propósito do artigo do Journal dês Débats,
pelo Sr. Deschanel”, ressaltamos:

Dizer que o Espiritismo está fundado sobre o


materialismo grosseiro, então que o combate a
todo transe, que não seria nada sem a alma, a
sua imortalidade, as penas e as recompensas
futuras, das quais é a demonstração patente, é
o cúmulo da ignorância da coisa que se trata; se
não for ignorância, é má fé e calúnia. […]. (69)

Um pouco mais à frente, da resposta do


Codificador ao Sr. Deschanel, merece ressaltar:

50
[…] Com efeito, o Espiritismo tem por base
essencial, e sem a qual não teria razão de ser, a
existência de Deus, da alma, a sua imortalidade,
as penas e as recompensas futuras; ora, esses
pontos são a negação mais absoluta do
materialismo, que não admite nenhum deles. A
Doutrina Espírita não se limita a afirmá-los, não
os admite a priori, deles é a demonstração
patente; por isso, ela já conduziu um tão grande
número de incrédulos que abjuraram todo
sentimento religioso. (70)

No mês de outubro, encontramos a mensagem


intitulada “Os Cretinos”, assinada por Pierre Jouty, da
qual destacamos o seguinte trecho:

– Os cretinos são seres punidos sobre a


Terra pelo mau uso que fizeram de poderosas
faculdades; sua alma está aprisionada num corpo,
cujos órgãos, impossibilitados, não podem expelir
seus pensamentos; esse mutismo moral e físico é
uma das mais cruéis punições terrestres;
frequentemente, ela é escolhida pelos Espíritos
arrependidos que querem resgatar as suas faltas.
[…].
Quase todas as enfermidades têm, assim,
sua razão de ser; nada se faz sem causa, o que
chamais a injustiça da sorte é a aplicação da mais
alta justiça. A loucura é também uma punição do
abuso de altas faculdades; o louco tem duas

51
personalidades: a que extravasa e a que tem a
consciência de seus atos, sem poder dirigi-los. […].
(71)

Além de explicar que os cretinos são seres


punidos pelo mau uso que fizeram de suas
faculdades, acrescenta que “quase todas as
enfermidades têm, assim, sua razão de ser; nada se
faz sem causa”, portanto, fala-se, objetivamente, da
lei de causa e efeito.

Em novembro, Allan Kardec registra a sua


visita à cidade de Bordeaux, ocorrida em 14 de
outubro de 1861. Nessa ocasião ele profere um
discurso, do qual destacamos:

Aliás, há uma outra resposta igualmente


peremptória: o Espiritismo é estranho a toda
questão dogmática. Aos materialistas prova a
existência da alma; àqueles que não creem senão
no nada, prova a vida eterna; àqueles que creem
que Deus não se ocupa com as ações dos
homens, prova as penas e as recompensas
futuras; destruindo o materialismo, destrói a pior
praga social: eis o seu objetivo; quanto às crenças
especiais, delas não se ocupa, e deixa a cada um
toda a liberdade; o materialista é o maior inimigo
da religião; o Espiritismo, conduzindo-o ao

52
Espiritualismo, lhe faz percorrer três quartas partes
do caminho para entrar na comunhão dos fiéis
católicos; cabe à Igreja fazer o resto; mas se a
comunhão para qual tenderia a se ligar o repele,
seria a temer que não se voltasse para uma outra.
(72)

Novamente, temos “as penas e recompensas


futuras”, que o Codificador vem confirmando por
várias vezes. Entendemos que, implicitamente, nelas
encontramos como base a lei de causa e efeito.

h) O Espiritismo na Sua Mais Simples


Expressão (1862)

Da parte em que Allan Kardec intitulou


“Histórico do Espiritismo”, transcrevemos estes dois
parágrafos:

Os Espíritos geralmente se comunicam com


prazer; é para eles uma satisfação ver que não
foram esquecidos. Descrevem de boa vontade
suas impressões ao deixar a vida terrena, sua nova
situação, a natureza de suas alegrias e sofrimentos
no mundo em que se encontram. Uns sentem-se
muito felizes; outros infelizes. Alguns sofrem
mesmo indizíveis tormentos conforme a vida
que viveram e o emprego bom ou mau, útil ou

53
inútil que dela fizeram. Observando-os em todas
as fases de sua nova existência, de acordo com a
posição que ocuparam na Terra, o gênero de
morte, seus caracteres e hábitos como homens,
chega-se a um conhecimento, senão completo,
pelo menos bastante preciso do mundo invisível,
permitindo-nos fazer uma ideia do que será
nossa vida futura e prever o destino feliz ou
infeliz que lá nos espera. (73)

Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem


por base as verdades fundamentais de todas as
religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e
as recompensas futuras, sendo, porém,
independentes de qualquer culto em particular. Seu
objetivo é provar àqueles que negam, ou que
duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao
corpo e sofre após a morte as consequências
do bem ou do mal que tenha feito durante a
vida corpórea: o objetivo de todas as religiões. (74)
(itálico do original)

Se podemos prever o destino feliz ou infeliz


que teremos em nossa vida após a morte, então não
é impróprio concluir que existe uma lei pela qual nos
baseamos para ter essa ideia. Exatamente a lei de
causa e efeito que nos faz “sofrer após a morte as
consequências do bem ou do mal que tenhamos feito
durante a vida corpórea.”

54
Um pouco mais à frente, Allan Kardec destaca
no tópico “Resumo dos Ensinamentos dos Espíritos”,
vários pontos do conhecimento espírita, dos quais
destacamos o de número 17:

O Espírito culpado é punido por meio de


sofrimentos morais no mundo dos Espíritos e, na
vida corporal, pelos sofrimentos físicos. Suas
aflições são a consequência de suas faltas, isto
é, das suas infrações à lei de Deus, de sorte que
constituem, ao mesmo tempo, uma expiação do
passado e uma prova para o futuro. E assim que
o orgulhoso poderá vir a ter uma existência de
humilhação, o tirano uma de servidão, o mau rico
uma de miséria. (75)

Diante do que foi dito, apenas sintetizaria que


“O Espírito culpado é sempre punido pelas suas
infrações à lei de Deus”, ou seja, exatamente o que
se preconiza na “lei de causa e efeito”.

i) Revista Espírita 1863

Do artigo “Do princípio da não-retrogradação


dos Espíritos”, publicado no mês de junho,
transcrevemos:

55
[…] Deus pode, pois, ao cabo de um certo
tempo de prova, retirar, de um mundo onde não
terão progredido moralmente, aqueles que o terão
desconhecido, que terão sido rebeldes às suas
leis, para enviá-los para expiar seus erros e seu
endurecimento num mundo inferior, entre os seres
ainda menos avançados; lá serão o que eram
antes, moral e intelectualmente, mas numa
condição tornada infinitamente mais penosa, pela
própria natureza do globo, e sobretudo pelo meio
no qual se encontrarão; estarão, em uma palavra,
na posição de um homem civilizado forçado a viver
entre os selvagens, ou de um homem bem
educado condenado à sociedade dos forçados.
Perderam sua posição, suas vantagens, mas não
retrogradaram ao seu estado primitivo; de homens
adultos não se tornaram crianças; eis o que é
preciso entender pela não-retrogradação. Não
tendo aproveitado o tempo, é para eles um
trabalho a recomeçar; Deus, em sua bondade, não
quer deixá-los mais por muito tempo entre os bons,
dos quais perturbariam a paz; por isso envia-os
entre os homens que terão por missão fazer
avançar, comunicando-lhes o que sabem; por esse
trabalho eles mesmos poderão avançar e
resgatar tudo, expiando suas faltas passadas,
como o escravo que amontoa, pouco a pouco, o
que comprar com a sua liberdade; mas, como o
escravo, muitos não amontoam senão o dinheiro
em lugar de amontoar as virtudes, as únicas que
podem pagar seu resgate.
[…].
A encarnação é, pois, uma necessidade para o

56
Espírito que, para cumprir sua missão providencial,
trabalha em seu próprio adiantamento pela
atividade e a inteligência que lhe é preciso
empregar para prover à sua vida e ao seu bem-
estar; mas a encarnação se torna uma punição
quando o Espírito, não tendo feito o que deve, é
constrangido a recomeçar sua tarefa e multiplica
suas existências corpóreas penosas pela sua
própria falta. Um escolar não chega a colar seus
graus senão depois de ter passado pela fieira de
todas as classes; são essas classes uma punição?
Não: são uma necessidade, uma condição
indispensável de seu adiantamento; mas se, por
sua preguiça, é obrigado a repeti-las, aí está a
punição; poder passar algumas delas é um mérito.
Portanto, o que é verdade é que a encarnação
sobre a Terra é uma punição para muitos
daqueles que a habitam, porque teriam podido
evitá-la, ao passo que, talvez, a dobraram,
triplicaram, centuplicaram por sua falta, retardando
assim sua a entrada nos mundos melhores. O que
é falso é admitir em princípio a encarnação como
um castigo. (76)

Quem foi punido, certamente, o foi porque


anteriormente praticou algum ato condenável, logo,
a punição é efeito de uma causa.

No mês de setembro, do tópico “Perguntas e


problemas” destacamos este trecho da resposta de
Allan Kardec ao pedido de explicações sobre a

57
expiação e a prova:

A expiação implica necessariamente a ideia


de um castigo mais ou menos penoso,
resultado de uma falta cometida; a prova implica
sempre a de uma inferioridade real ou presumida,
porque aquele que chegou ao ponto culminante, ao
qual aspira, não tem mais necessidade de provas.
Em certos casos, a prova se confunde com a
expiação, quer dizer que a expiação pode servir de
prova, e reciprocamente. O candidato que se
apresenta para obter um grau, sofre uma prova; se
fracassa, lhe é preciso recomeçar um trabalho
penoso; esse novo trabalho é a punição da
negligência levada no primeiro; a segunda prova
torna-se assim uma expiação. Para o condenado a
quem se faz esperar um abrandamento ou uma
comutação conduzindo-se bem, a pena é, ao
mesmo tempo, uma expiação por sua falta, e
uma prova para a sua sorte futura; se, em sua
saída da prisão, não estiver melhor, a prova é nula,
e um novo castigo trará uma nova prova.
Se consideramos agora o homem sobre a Terra,
vemos que ele aqui sofre males de todas as
espécies e frequentemente cruéis; esses males
têm uma causa; ora, a menos de atribuí-las ao
capricho do Criador, é-se forçado a admitir que
essa causa está em nós mesmos, e que as
misérias que experimentamos não podem ser o
resultado de nossas virtudes; portanto, elas
têm sua fonte em nossas imperfeições. Que um
Espírito se encarne sobre a Terra no seio da

58
fortuna, das honras e de todos os gozos materiais,
poder-se-á dizer que sofre a prova do
arrastamento; para aquele que cai na infelicidade
por sua má conduta ou sua imprevidência, é a
expiação de suas faltas atuais, e pode-se dizer
que é punido por onde pecou. Mas que se dirá
daquele que, desde seu nascimento, luta com as
necessidades e as privações, que arrasta a
existência miserável e sem esperança de melhoria,
que sucumbe sob o peso de enfermidades
congênitas, sem ter ostensivamente nada feito
para merecer uma semelhante sorte? Que isso
seja uma prova ou uma expiação, a sua posição
não é menos penosa, e isso não seria mais
equitativo do ponto de vista de nosso
correspondente, uma vez que se o homem não se
lembra da falta, não se lembra mais de ter
escolhido a prova. É preciso, pois, procurar em
outra parte a solução da questão.
Todo efeito tendo uma causa, as misérias
humanas são efeitos que devem ter uma causa;
se essa causa não está na vida atual, deve estar
na vida anterior. Além disso, admitindo a justiça
de Deus, esses efeitos devem ter uma relação
mais ou menos íntima com os atos precedentes,
dos quais são, ao mesmo tempo, o castigo pelo
passado, e a prova para o futuro. São expiações
nesse sentido de que são a consequência de
uma falta, e provas em relação ao proveito que
dela se retira. A razão nos diz que Deus não pode
ferir um inocente; portanto, se somos feridos, é que
não somos inocentes: o mal que sentimos é o
castigo, a maneira pela qual o suportamos, é a

59
prova.
Mas ocorre, frequentemente, que, a falta não
se achando nesta vida, acusa-se a justiça de
Deus, nega-se sua bondade, duvida-se mesmo de
sua existência; aí, precisamente, está a prova mais
escabrosa: a dúvida sobre a divindade. Quem
admite um Deus soberanamente justo e bom deve-
se dizer que ele não pode agir senão com
sabedoria, mesmo nesse caso que não
compreendemos, e que se sofremos uma pena, é
que a merecemos; portanto, é uma expiação. O
Espiritismo, pela revelação da grande lei da
pluralidade das existências, levanta completamente
o véu sobre o que essa questão deixava de
obscuro; nos ensina que, se a falta não foi
cometida nesta vida, o foi em uma outra, e que
assim a justiça de Deus segue seu curso nos
punindo por onde nós pecamos. (77)

Não é a primeira vez que se afirma “todo efeito


tendo uma causa, as misérias humanas são efeitos
que devem ter uma causa”, o que, a nosso ver,
novamente reforça a lei de causa e efeito, como
ponto doutrinário do Espiritismo.

j) O Evangelho Segundo o Espiritismo


(1864)

No cap. III – Há muitas moradas na casa de

60
meu Pai, lemos:

14. Entretanto, nem todos os Espíritos


encarnados na Terra aqui se acham em
expiação. As raças a que chamais selvagens são
formadas de Espíritos que apenas saíram da
infância e que na Terra se encontram, a bem-dizer,
em curso de educação, para se desenvolverem
pelo contato com Espíritos mais adiantados. Vêm
depois as raças semicivilizadas, formadas por
esses mesmos Espíritos em via de progresso. São
elas, de certo modo, raças indígenas da Terra, que
aí se desenvolveram pouco a pouco em longos
períodos seculares, conseguindo, algumas delas,
atingir o aperfeiçoamento intelectual dos povos
mais esclarecidos.
Os Espíritos em expiação, se nos podemos
exprimir desse modo, são exóticos na Terra; já
viveram em outros mundos, dos quais foram
excluídos em consequência da sua obstinação
no mal e por se constituírem em causa de
perturbação para os bons. Tiveram de ser
degredados, por algum tempo, para o meio de
Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer
que estes últimos avançassem, pois que levam
consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen
dos conhecimentos que adquiriram. É por isso
que os Espíritos em punição se encontram no
seio das raças mais inteligentes. São para estas,
também, que as misérias da vida se revestem de
maior amargura, por haver nelas maior
sensibilidade e por serem mais provadas pelas

61
contrariedades e desgostos do que as raças
primitivas, cujo senso moral se acha mais
embotado.
15. A Terra nos oferece, pois, um dos tipos de
mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas
que têm, como caráter comum, o fato de servirem
de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à Lei
de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao
mesmo tempo, com a perversidade dos homens e
com a inclemência da Natureza, duplo e árduo
trabalho que simultaneamente desenvolve as
qualidades do coração e as da inteligência. É
assim que Deus, em sua bondade, faz que o
próprio castigo reverta em proveito do progresso
do Espírito. – Santo Agostinho. (Paris, 1862.) (78)

No cap. V – Bem-aventurados os aflitos, o


Codificador trata exatamente da questão da lei de
causa e efeito, senão vejamos:

Justiça das aflições


3. As compensações que Jesus promete aos
aflitos da Terra só podem efetivar-se na vida futura.
Sem a certeza do futuro, estas máximas seriam um
contrassenso; mais ainda: seriam um engodo. […]
A fé no futuro pode consolar e infundir paciência,
mas não explica essas anomalias, que parecem
desmentir a Justiça de Deus.
Entretanto, desde que admita Deus, não se

62
pode concebê-lo sem o infinito das perfeições. Ele
deve ser todo poder, todo justiça, todo bondade,
sem o que não seria Deus. Se é soberanamente
bom e justo, não pode agir por capricho nem com
parcialidade. As vicissitudes da vida têm, pois,
um causa e, visto que Deus é justo, essa causa
há de ser justa. Eis o de que cada um deve bem
se compenetrar. Deus encaminhou os homens na
compreensão dessa causa pelos ensinos de Jesus,
e hoje, julgando-os suficientemente maduros para
compreendê-la, revela-a inteiramente pelo
Espiritismo, isto é, pela voz dos Espíritos.

Causas atuais das aflições


4. As vicissitudes da vida são de duas
espécies, ou se quiserem duas fontes bem
diferentes que importa distinguir. Umas têm sua
causa na vida presente; outras, fora desta vida.
[…].
5. A lei humana atinge certas faltas e as pune. O
condenado pode então dizer que sofre a
consequência do que fez. Mas a lei não alcança,
nem pode alcançar todas as faltas; incide
especialmente sobre as que trazem prejuízo à
sociedade, e não sobre as que só prejudicam os
que as cometem. Deus, porém, quer que todas as
suas criaturas progridam e, portanto, não deixa
impune qualquer desvio do caminho reto. Não
há falta alguma, por mais leve que seja,
nenhuma infração da sua lei, que não acarrete
forçosas e inevitáveis. Daí se segue que, nas
pequenas coisas, como nas grandes, o homem é
sempre punido por aquilo em que pecou. Os

63
sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma
advertência de que procedeu mal. Dão-lhe
experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente
entre o bem e o mal e a necessidade de se
melhorar, a fim de evitar, futuramente, o que
redundou para ele numa fonte de amarguras; se
não fosse assim, não haveria motivo alguma para
que se emendasse. Confiante na impunidade,
retardaria seu adiantamento e, por
consequente, a sua felicidade futura.
[…].

Causas anteriores das aflições


6. Mas se há males nesta vida, de que o homem
é a causa principal, há outros para os quais ele é,
pelo menos na aparência, completamente estranho
e que parecem atingi-lo como que por fatalidade.
Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a
dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os
acidentes que nenhuma previdência poderia
impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas
as precauções aconselhadas pela prudência; os
flagelos naturais, as enfermidades de nascença,
sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios
de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades,
a idiotia, o cretinismo etc.
Os que nascem nessas condições,
certamente nada fizeram na existência atual
para merecer, sem compensação, tão triste
sorte, que não podiam evitar, que são impotentes
para mudar por si mesmos e que os põe à mercê
da comiseração pública. Por que, pois, seres tão
infelizes, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo

64
teto, na mesma família, outros são favorecidos de
todos os sentidos?
[…].
Todavia, em virtude do axioma segundo o
qual todo efeito tem uma causa, tais misérias
são efeitos que devem ter uma causa e, desde
que se admita um Deus justo, essa causa
também há de ser justa. Ora, como a causa
sempre precede o efeito, se a causa não se
encontrar na vida atual, há de ser anterior a
essa vida, isto é, há de estar numa existência
precedente. Por outro lado, não podendo Deus
punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que
não fez, se somos punidos, é que fizemos o
mal; se não fizemos esse mal na presente vida,
é que o fizemos em outra. É uma alternativa a
que ninguém pode fugir e em que a lógica decide
de que lado está a Justiça de Deus.
O homem, pois, nem sempre é punido ou
punido completamente, na sua existência atual;
mas não escapa nunca às consequências de
suas faltas. A prosperidade do mau é apenas
momentânea; se ele não expiar hoje, expiará
amanhã, ao passo que aquele que sofre está
expiando o seu passado. O infortúnio que, à
primeira vista, parece imerecido tem sua razão de
ser, e aquele que sofre pode sempre dizer:
“Perdoai-me, Senhor, porque pequei.”
7. Os sofrimentos devidos a causas
anteriores são sempre, como os decorrentes
das faltas atuais, a consequência dos erros
cometidos, isto é, o homem, pela ação de uma

65
rigorosa justiça distributiva, o homem sofre o que
fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano,
poderá, por sua vez, ser tratado duramente e
com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá
nascer em humilhante condição; se foi avaro,
egoísta ou se empregou mal a sua fortuna,
poderá ver-se privado do necessário; se foi
mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de
seus filhos etc.
[…] Aquele que se elevar, pelo pensamento, de
modo a abranger toda uma série de existências,
verá que cada um recebe a parte que merece,
sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos
Espíritos, e que a Justiça de Deus nunca se
interrompe.
[…].
8. As tribulações podem ser impostas a
Espíritos endurecidos, ou extremamente
ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com
conhecimento de causa; porém, são livremente
escolhidas e aceitas por Espíritos arrependidos,
que querem repara o mal que fizeram e tentar
proceder melhor. Tal ocorre com aquele que,
havendo desempenhado mal a sua tarefa, pede
para recomeçá-la, a fim de não perder o fruto de
seu trabalho. Essas tribulações, portanto, são,
ao mesmo tempo, expiações do passado, que
elas punem, e provas para o futuro, que elas
preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua
bondade, concede ao homem a faculdade da
reparação e não o concede irrevogavelmente por
uma primeira falta.

66
9. Não se deve crer, no entanto, que todo
sofrimento suportado neste mundo seja
necessariamente indício de uma determinada
falta. Muitas vezes são simples provas escolhidas
pelo Espírito para concluir a sua depuração e
acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação
serve sempre de prova, mas nem sempre a
prova é uma expiação. Contudo, provas e
expiações são sempre sinais de relativa
inferioridade, porque o que é perfeito não precisa
ser provado. […].
[…].
10. […] É nas diversas existências corpóreas
que os Espíritos se despojam pouco a pouco de
suas imperfeições. As provações da vida, quando
bem suportadas, os fazem adiantar-se. Como
expiações, elas apagam as faltas e purificam;
são o remédio que limpa as chagas e cura o
doente. […];
[…].

Motivos de resignação
12. Por estas palavras: Bem-aventurados os
aflitos, pois que serão consolados, Jesus indica, ao
mesmo tempo, a compensação que espera os que
sofrem e a resignação que abençoa o sofrimento
como prelúdio da cura.
Essas palavras também podem ser traduzidas
assim: deveis considerar-vos felizes por sofrerdes,
porque as vossas dores deste mundo são o
pagamento da dívida das vossas faltas
passadas, e essas dores, quando suportadas

67
pacientemente na Terra, vos poupam séculos de
sofrimentos na vida futura. […].
[…].
Tal é o sentido destas palavras: “Bem-
aventurados os aflitos, porque serão consolados.”
São felizes porque pagam suas dívidas, e após
o pagamento estarão livres. Mas se, saldando a
dívida de um lado, endivida-se de outro, jamais se
libertarão. Ora, cada nova falta aumenta a dívida,
porque não há uma só delas, qualquer que seja,
que não traga consigo a própria punição,
necessária e inevitável. Se não for hoje, será
amanhã; se não for nesta vida, será em outra. […].
(79) (itálico do original)

Na “Instruções dos Espíritos”, no item 27, lemos:

Já vos temos dito e repetido muitas vezes que


estais nessa Terra de expiação para concluirdes as
vossas provas e que tudo que vos acontece é
consequência das vossas existências
anteriores, são os juros da dívida que tendes de
pagar. […]. (80)

No cap. VI – O Cristo Consolador, no item 4,


lemos o seguinte trecho:

Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos,


porque serão consolados.” Mas como pode a
criatura sentir-se feliz, se não sabe por que sofre?

68
O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos
nas existências anteriores e na destinação da
Terra, em que o homem expia o seu passado.
Mostra o objetivo dos sofrimentos como crises
salutares que levam à cura e como meio de
depuração que garante a felicidade nas
existências futuras. O homem compreende que
mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe
que esse sofrimento lhe auxilia o adiantamento e o
aceita sem murmurar, como o operário aceita o
trabalho que lhe assegurará o salário. […]. (81)

No cap. VIII – Bem-aventurados os que têm


puro o coração, destaca-se:

16. Mas ai daquele por quem venha o


escândalo. Quer dizer que o mal sendo sempre o
mal, aquele que serviu, sem o saber, de
instrumento à Justiça divina, aquele cujos maus
instintos foram utilizados, nem por isso deixou de
praticar o mal e de merecer punição. É assim, por
exemplo, que um filho ingrato é uma punição ou
uma prova para o pai que sofre com isso, porque
esse pai talvez tenha sido também um mau filho
que fez seu pai sofrer. Passa ele pela pena de
talião. Mas mesmo essa circunstância não pode
servir de desculpa ao filho, que, por sua vez, terá
de ser castigado em seus próprios filhos ou de
outra maneira. (82) (itálico do original)

69
Transcreveremos também esta nota de Allan
Kardec inserida nesse capítulo:

21. Nota. Quando uma aflição não é


consequência dos atos da vida presente, deve-
se buscar sua causa numa vida anterior. Tudo
aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte
mais não é do que efeito da Justiça de Deus, que
não inflige punições arbitrárias, pois quer que a
pena esteja sempre em correlação com a falta.
Se, por sua bondade, lançou um véu sobre os
nossos atos passados, por outro lado nos aponta o
caminho, dizendo: “Quem matou à espada, pela
espada perecerá”, palavras que se podem traduzir
assim: “Sempre se é punido por aquilo em que
se pecou.” Portanto, se alguém é atormentado
pela perda da visão, é esta que foi causa de
queda. Talvez tenha sido também causa de que
outro perdesse a vista; de que alguém haja perdido
a vista em consequência do excesso de trabalho
que aquele lhe impôs, ou de maus-tratos, falta de
cuidados etc., passando, então, pela pena de
talião. É possível que ele próprio, ao arrepender-
se, haja escolhido essa expiação, aplicando a si
estas palavras de Jesus: “Se o teu olho for motivo
de escândalo, arranca-o.” (83)

Não há como deixar de desconsiderar, pois


repetidamente, estamos vendo referências à lei de
causa e efeito, portanto, não podemos negá-la como

70
um dos princípios doutrinários.

No cap. XIII – Não saiba a vossa mão esquerda


o que dá a vossa mão direita, na “Instruções dos
Espíritos”, item 19, lemos:

[…] Os benefícios acabam por abrandar os


corações mais endurecidos; podem ser esquecidos
neste mundo, mas quando o Espírito se
desembaraçar do seu envoltório carnal, lembrar-
se-á deles e essa lembrança será o seu castigo.
Lamentará a sua ingratidão; desejará reparar a
falta, pagar a dívida em outra existência, muitas
vezes buscando até mesmo uma vida de
dedicação ao seu benfeitor. […]. (84)

Se há dívida a ser paga é porque a Lei de ação


e reação funciona, quer queiramos ou não. Quanto
mais cedo nos conscientizamos disso, mais
rapidamente iremos “quitar” nossa dívida perante a
justiça divina.

No cap. XXIV – Não ponhais a candeia debaixo


do alqueire, no tópico “Coragem da fé”, item 16,
lemos:

Assim será com os adeptos do Espiritismo. Já

71
que a doutrina que professam não é outra senão o
desenvolvimento e a aplicação da doutrina do
Evangelho, também a eles se dirigem as palavras
do Cristo. Semeiam na Terra o que colherão na
vida espiritual. Lá eles colherão os frutos da sua
coragem ou da sua fraqueza. (85)

Do cap. XXV – Buscai e achareis, item 7,


destacamos o seguinte:

Deus conhece as nossas necessidades e a elas


provê, como for necessário. O homem, porém,
insaciável nos seus desejos, nem sempre sabe
contentar-se com o que tem: o necessário não lhe
basta; reclama o supérfluo. A Providência, então, o
deixa entregue a si mesmo. Frequentemente, ele
se torna infeliz por culpa sua e por haver
desatendido à voz que por intermédio da
consciência o advertia. Nesses casos, Deus fá-lo
sofrer as consequências, a fim de que lhe
sirvam de lição para o futuro. (Cap. V, item 4.)
(86)

Do cap. XXVII – Pedi e obtereis, transcrevemos:

21. “O homem sofre sempre a consequência


de suas faltas; não há uma só infração à Lei de
Deus que não acarrete a sua punição.
A severidade do castigo é proporcional à

72
gravidade da falta.
“A duração do castigo é indeterminada, seja
qual for a fala; está subordinada ao
arrependimento do culpado e ao seu retorno à
senda do bem. A pena dura tanto quanto a
obstinação no mal; seria perpétua, se a
obstinação fosse perpétua; dura pouco, se o
arrependimento é imediato.
Desde que o culpado clame por misericórdia,
Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas não
basta o simples pesar do mal causado; é
necessária a reparação. Por isso, o culpado é
submetido a novas provas, nas quais sempre pode,
por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o
mal que haja feito.
Assim, o homem é constantemente o árbitro da
sua própria sorte; pode abreviar ou prolongar
indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou
a sua desventura dependem da vontade que tenha
de praticar o bem.”
Tal a lei, lei imutável e conforme à bondade e
à Justiça de Deus. (87)

Do cap. XXVIII – Coletânea de preces espíritas,


no início do tópico “Ato de submissão e de
resignação”, lemos:

31. PRECE. Meu Deus, és soberanamente


justo. Todo sofrimento, neste mundo, há, pois, de

73
ter sua causa e sua utilidade. Aceito a aflição que
acabo de experimentar, como expiação de
minhas faltas passadas e como prova para o
futuro. (88)

Mais à frente, do tópico “Prevendo a morte


próxima”, item 41, merece destaque os seguintes
parágrafos:

Deus Onipotente, sinto que se desfazem os


laços que prendem minha alma ao meu corpo e
que logo irei prestar contas do emprego que fiz
da vida que vou deixar.
Vou sofrer as consequências do bem e do
mal que pratiquei. Lá não haverá ilusões nem
subterfúgios possíveis. Todo o meu passado vai
desenrolar-se diante de mim e serei julgado
segundo as minhas obras. (89)

E por fim no tópico “Por uma criança que acaba


de nascer”, temos:

53. PREFÁCIO. Os Espíritos só chegam à


perfeição depois de terem passado pelas provas
da vida corpórea. Os que se encontram na
erraticidade aguardam que Deus lhes permita
retomar uma existência que lhes proporcione
meios de progredir, quer pela expiação de suas

74
faltas passadas, mediante as vicissitudes a que
estão sujeitos, quer desempenhando uma missão
proveitosa à Humanidade. […]. (90)

k) Revista Espírita 1864

De “Instruções dos Espíritos”, mês de julho,


destacamos:

Há provas sem expiação, do mesmo modo


que há expiações sem provas. Os Espíritos,
evidentemente, na erraticidade, estão, do ponto de
vista das existências, inativos e na espera; mas, no
entanto, podem expiar, contanto que seu orgulho,
a tenacidade formidável e teimosa de seus erros
não os retenham, no momento de sua ascensão
progressiva. Disso temos um exemplo terrível
nas últimas comunicações relativamente ao
criminoso que se debate contra a justiça divina
que o constrange junto à dos homens. Então,
nesse caso, a expiação, ou antes o sofrimento fatal
que o oprime, em lugar de aproveitar-lhe e de lhe
fazer sentir a profunda significação de suas penas,
os exalta na revolta, e lhe faz produzir essas
murmurações que as Escrituras, em sua poética
eloquente, chama ranger de dentes; imagem por
excelência! sinal do sofrimento abatido, mas
insubmisso! Perdido na dor, mas da qual a revolta
é ainda muito grande para recusar a reconhecer a
verdade da pena e a verdade da recompensa!

75
[…].
LAMENNAIS.

Nota. - Para compreender o sentido desta frase:


“Há provas sem expiação, e expiações sem prova”,
é preciso entender por expiação o sofrimento
que purifica e lava as manchas do passado;
depois da expiação, o Espírito está reabilitado.
O pensamento de Lamennais é este: Segundo as
vicissitudes da vida sejam ou não acompanhadas
de arrependimento das faltas que as ocasionaram,
do desejo de torná-las aproveitáveis para sua
própria melhoria, há ou não expiação, quer dizer,
reabilitação. Assim, os maiores sofrimentos
podem ser sem proveito para aquele que os
suporta, se não o tornam melhor, se não o
elevam acima da matéria, se ele não vê a mão
de Deus, enfim, se não lhe fazem dar um passo
adiante, porque isso será, para ele, recomeçar
em condições ainda mais penosas. Deste ponto
de vista, ocorre o mesmo com as penas
suportadas depois da morte; o Espírito endurecido
as sofre, sem ser tocado pelo arrependimento; é
porque ele pode prolongá-los indefinidamente por
sua própria vontade; é castigado, mas não repara.
(91)

Já temos elementos suficiente para


compreender que “expiação de erros” tem relação
direta com a Lei de causa e efeito, pela qual a justiça
divina se manifesta.

76
Em agosto, Allan Kardec publicou o artigo
“Oração dominical desenvolvida”, do qual tomamos:

V. PERDOAI AS NOSSAS DÍVIDAS, COMO


NÓS AS PERDOAMOS ÀQUELES QUE NOS
DEVEM. – PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS,
COMO PERDOAMOS ÀQUELES QUE NOS
OFENDERAM.
Cada uma de nossas infrações às vossas leis,
Senhor, é uma ofensa para convosco, e uma
dívida contraída que nos será preciso, cedo ou
tarde, pagar. Solicitamo-lhes a remissão de vossa
infinita misericórdia, sob a promessa de fazer
nossos esforços para não contrair novas dívidas.
[…].
As perseguições que os maus nos fazem
suportar fazem parte de nossas provas
terrestres; devemos aceitá-las sem murmurar,
como todas as outras provas, e não maldizer
aqueles que, por suas maldades, nos abrem o
caminho da felicidade eterna, porque nos
dissestes, pela boca de Jesus: “Bem-aventurados
aqueles que sofrem pela justiça!” Bendigamos,
pois, a mão que nos fere e nos humilha, porque as
contusões do corpo fortalecem a nossa alma, e
seremos elevados de nossa humildade.

Bendito seja o vosso nome, Senhor, por nos


teres ensinado que a nossa sorte não está
irrevogavelmente fixada depois da morte; e que
encontraremos, em outras existências, o meio

77
de resgatar e de reparar nossas faltas
passadas, de cumprir numa nova vida o que não
podemos fazer nesta, pelo nosso adiantamento
Por aí se explicam, enfim, todas as
anomalias aparentes da vida; é a luz lançada
sobre o nosso passado e o nosso futuro, o sinal
manifesto de vossa soberana justiça e de vossa
bondade infinita. (92) (Caixa alta em negrito é do
original)

Se a dívida contraída deve ser paga, então,


estamos falando de consequências dos atos, ou seja,
lei de ação de reação.

Este artigo sobre o Pai-nosso foi publicado em


O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVIII –
Coletânea de preces espíritas.

No mês de setembro, ao comentar o caso de


uma mãe que teve uma criança com todas as
aparências de um macaco, Allan Kardec, a certa
altura, esclarece:

Pois bem! o Espiritismo vem rasgar esse


mistério, dele faz sair a brilhante justiça de Deus;
prova que essas almas deserdadas desde o seu
nascimento neste mundo já viveram, e que expiam,
em seus corpos disformes, faltas passadas; a

78
observação o demonstra e a razão o diz, porque
não se poderia admitir que elas sejam castigadas
ao sair das mãos do Criador antes de nada terem
feito.
Bem, dir-se-á, para o ser que nasce assim; e os
pais? Mas essa mãe que não dá o dia senão aos
seres infelizes; que é privada de ter a alegria de ter
um único filho que lhe faça honra e que ela possa
mostrar com orgulho? A isso o Espiritismo
responde: Justiça de Deus, expiação, prova para a
sua ternura maternal, porque é um bem muito
grande não ver ao seu redor senão os pequenos
monstros em lugar de filhos graciosos. Ele
acrescenta: Não há uma única infração às leis
de Deus que não tenha, cedo ou tarde, suas
consequências funestas, sobre a Terra ou no
mundo dos Espíritos, nesta vida ou numa vida
seguinte. Pela mesma razão: não uma única
vicissitude da vida que não seja a
consequência e a punição de uma falta
passada, e isso será assim para cada um,
enquanto não estiver arrependido, não terá
expiado e reparado o mal que fez; ela retorna à
Terra para expiar e reparar; cabe-lhe se melhorar
bastante neste mundo, para nele não retornar mais
como condenado. […]. (93)

Um Espírito protetor deu uma explicação para


esse fato, da qual destacamos o seguinte trecho que
tem algo sobre o nosso tema:

79
[…] Não creiais que essa mulher, da qual
acabais de falar, seja a vítima do acaso ou de uma
cega fatalidade; não, o que lhe chega tem a sua
razão de ser, estejais disto bem convencidos. Ela é
castigada em seu orgulho; desprezou os fracos e
os enfermos; foi dura para com os seres infelizes
dos quais desviava seu olhar com nojo, em lugar
de cercá-los com um olhar de comiseração; tirou
vaidade da beleza física de seus filhos, às
expensas de mães menos favorecidas; mostrava-
os com orgulho, porque a beleza do corpo, aos
seus olhos, tinha mais valor do que a beleza da
alma; assim desenvolveu neles os vícios que lhes
retardaram o adiantamento, em lugar de
desenvolver as qualidades do coração. Foi porque
Deus permitiu que, em sua existência atual, ela
não tivesse senão filhos disformes, a fim de que a
ternura maternal a ajudasse a vencer a sua
repugnância pelos infelizes. É, pois, para ela uma
punição e um meio de adiantamento; mas,
nessa própria punição, brilham, ao mesmo tempo,
a justiça e a bondade de Deus, que castiga com
uma mão, e com a outra dá sem cessar ao culpado
os meios de se remir.
UM ESPÍRITO PROTETOR. (94)

No mês de outubro, do artigo “Um retorno de


fortuna”, destacamos o comentário de Allan Kardec:

Os exemplos de castigos imediatos são menos


raros do que se crê. Se se remontasse à fonte de

80
todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia aí,
quase sempre, a consequência natural de
alguma falta cometida. O homem recebe, a cada
instante, terríveis lições das quais infelizmente bem
pouco aproveita. Cego pela paixão ele não vê a
mão de Deus que o fere; longe de se acusar de
seus próprios infortúnios, liga-os à fatalidade, à má
chance; se irrita muito mais frequentemente do que
se arrepende, […]. Ora, o que é que Deus pede ao
culpado? O arrependimento e a reparação
voluntária.
Para excitá-lo a isso, multiplica ao seu redor as
advertências sob todas as formas durante a sua
vida: infelicidades, decepções, perigos iminentes,
em uma palavra, tudo que é próprio a fazê-lo
refletir; se, apesar disso, seu orgulho resiste, não é
justo que seja punido mais tarde? É um grave erro
crer que o mal seja, às vezes, completamente
impune na vida atual; se se soubesse tudo o que
chega ao mau, em aparência o mais próspero,
convencer-se-ia dessa verdade de que não há
uma única falta nesta vida, um único mau
pendor, dizemos mais, um único mau
pensamento que não tenha a sua contrapartida;
de onde esta consequência de que, se o homem
aproveitasse as advertências que recebe, se se
arrependesse e reparasse desde esta vida, teria
satisfeito a justiça de Deus, e não teria mais a
expiar, nem a reparar, seja no mundo dos Espíritos,
seja numa nova existência. Se, pois, eles estão
aqui, nesta vida, sofrendo o passado de sua
existência precedente, é que têm a pagar uma
dívida que não quitaram. Se o filho em questão

81
morre na impenitência, sofrerá de início, no mundo
dos Espíritos, o castigo do remorso; ele sofrerá
moralmente o que fez suportar materialmente; será
um Espírito infeliz, porque terá violado a lei que lhe
dizia: Honra teu pai e tua mãe. Mas Deus, que é
soberanamente bom, ao mesmo tempo que
soberanamente justo, lhe permitirá reencarnar-se
para reparar; dar-lhe-á, talvez, o mesmo pai, e, em
sua bondade, poupar-lhe-á a humilhante
lembrança do passado; mas o culpado trará com
ele a intuição das resoluções que terá tomado, a
vontade de fazer o bem em lugar de fazer o mal;
será a voz da consciência que lhe ditará a conduta.
Depois, quando ele reentrar no mundo dos
Espíritos, Deus lhe dirá: Vem a mim, meu filho,
tuas faltas estão apagadas. Mas se fracassa nessa
nova prova, isso será para ele a recomeçar, até
que haja se despojado inteiramente do homem
velho.
Cessemos, pois, de ver nas misérias que
suportamos, pelas faltas de uma existência
anterior, um mistério inexplicável, e digamos a
nós mesmos que depende de nós evitá-las,
merecendo nosso perdão desde esta vida; nossas
dívidas quitadas, Deus não nos fará pagar uma
segunda vez; mas se permanecermos surdos
às suas advertências, então exigirá até o último
óbolo, fosse isso depois de vários séculos ou
vários milhares de anos. Para isso, não são vãos
simulacros que ele exige, é a reforma radical do
coração. A morada dos eleitos não está aberta
senão aos Espíritos purificados; toda mancha
interdita-lhe o acesso. Cada um pode pretendê-la:

82
a cada um cabe fazer o que for preciso para isso, e
ali chegar cedo ou tarde segundo seus esforços e
sua vontade; mas Deus não diz a ninguém: Tu não
te purificarás! (95) (itálico do original)

No mês de dezembro, temos publicado o artigo


“Louis-Henri, o trapeiro”. Ao finalizar seu comentário
sobre o caso o Codificador diz:

Qual será a sorte de Louis-Henri numa nova


existência? Como expiou cruelmente suas faltas
em sua última existência; que no estado de espírito
seu arrependimento é sincero e suas boas
resoluções sérias, é provável que será posto de
modo a reparar os seus erros, fazendo o bem;
mas como pagou sua dívida de sofrimentos
corpóreos, não terá mais que passar pelas
mesmas vicissitudes. (96)

Também foi publicada a mensagem “A


propósito de A imitação do Evangelho”, assinada por
Espírito de Verdade, em cujo último parágrafo lemos:

Há várias moradas na casa de meu Pai, eu


lhes disse há dezoito séculos. Estas palavras, o
Espiritismo veio fazer compreendê-las. E vós,
meus bem-amados, trabalhadores que suportais o
ardor do dia, que credes ter a vos lamentar da

83
injustiça da sorte, bendizei vossos sofrimentos;
agradecei a Deus que vos dá os meios de quitar
as dívidas do passado; orai, não dos lábios, mas
do vosso coração melhorado, para vir tomar, na
casa de meu Pai, a melhor morada; porque os
grandes serão rebaixados; mas, vós o sabeis, os
pequenos nos e os humildes serão elevados. (97)

No artigo “Sobre os Espíritos que se creem


ainda vivos”, publicado no mês de novembro, Allan
Kardec registrou uma mensagem de Santo
Agostinho, dada em 21/06/1864, da qual
transcrevemos o penúltimo parágrafo:

[…] Agora vou dizer-vos algumas palavras


daqueles para os quais esse estado é uma prova.
Oh! quanto ela é penosa! eles se creem vivos e
bem vivos, possuindo um corpo capaz de sentir e
de saborear os gozos da Terra, e quando suas
mãos vão tocar, suas mãos se apagam; quando
querem aproximar seus lábios de uma taça ou de
uma fruta, seus lábios se aniquilam; eles veem,
querem tocar, e não podem nem sentir nem tocar.
Quanto o paganismo oferece uma bela imagem
desse suplício, apresentando Tântalo tendo fome e
sede e não podendo jamais tocar os lábios na fonte
d'água que murmura ao seu ouvido, ou o fruto que
parece amadurecer para ele. Há maldições e
anátemas nos gritos desses infelizes! Que fizeram
para suportar esses sofrimentos? Perguntai-o a

84
Deus: é a lei; ela está escrita por ele. Aquele
que fere com espada perecerá pela espada;
aquele que profanou seu próximo será
profanado por sua vez. A grande lei de talião
está inscrita no livro de Moisés, ela o está ainda
no grande livro da expiação. (98)

Santo Agostinho é categórico ao afirmar que a


“lei de talião” será aplicada aos infratores da lei.

l) Revista Espírita 1865

Em janeiro, Allan Kardec narra o caso de uma


jovem obsediada de Marmande, sobre o qual explica:

Se se perguntasse por que Deus permite aos


maus Espíritos saciarem sua raiva sobre os
inocentes, diríamos que não há sofrimento
imerecido e que aquele que é inocente hoje e
que sofre, tem ainda alguma dívida a pagar;
esses maus Espíritos servem, nesse caso, de
instrumentos à expiação. Sua maldade, além disso,
é uma prova para a paciência, para a resignação e
a caridade. (99)

Bem clara é a posição do Codificador em


relação ao sofrimento da jovem ter como causa
“alguma dívida a pagar”; dívida essa, certamente,

85
contraída em uma de suas encarnações precedentes.

No artigo “Evocação de um surdo-mudo


encarnado”, publicado em mês de janeiro, Allan
Kardec narra essa experiência:

O Sr. Rui, membro da Sociedade de Paris, nos


transmite o fato seguinte:
“Conheci, disse ele, em 1862, um jovem surdo-
mudo de doze a treze anos, e, desejoso de fazer
uma observação, pedi aos meus guias protetores
se me seria possível evocá-lo. Tendo a resposta
sido afirmativa, fiz vir essa criança em meu quarto,
e a instalei em uma poltrona, em companhia de um
prato de uva, que se pôs a debulhar com pressa.
Coloquei-me, de minha parte, numa mesa; pedi, e
fiz a evocação, como de hábito, ao cabo de alguns
instantes minha mão tremeu, e escrevi: Eis-me.
“Eu olhei o menino: Ele estava imóvel, os olhos
fechados, calmo, adormecido, o prato sobre os
joelhos, e tinha parado de comer. Dirigi-lhe as
seguintes perguntas:
P. Onde estás neste momento? – R. Em vosso
quarto, em vossa poltrona.
P. Queres me dizer por que és surdo-mudo
de nascença? – R. É uma expiação de meus
crimes passados.
P. Quais crimes, pois, cometeste? - R Fui
parricida.

86
P. Podes me dizer se tua mãe, que amas tão
ternamente, não teria sido, seja como teu pai ou
tua mãe na existência da qual falas, o objeto do
crime que cometeste?
“Em vão esperei a resposta; minha mão ficou
imóvel. Levei de novo os olhos sobre o menino; ele
acabava de despertar, e comia avidamente suas
uvas. Tendo então pedido aos meus guias explicar-
me o que acabara de se passar, me foi respondido:
“Ele te deu as informações que desejavas, e
Deus não permitiu que te desse as outras.” ( 100)
(itálico do original)

O Espírito do jovem surdo-mudo tinha


consciência de que reencarnou com essa limitação
em razão de ter sido parricida, crime praticado em
uma vida anterior. Se isso não é causa e efeito,
então, o que seria?

Do artigo “O que o Espiritismo ensina”,


publicado em agosto, mencionaremos o item 3º:

Retifica todas as ideias falsas que se havia


feito sobre o futuro da alma, sobre o céu, o
inferno, as penas e as recompensas; ele destrói
radicalmente, pela irresistível lógica dos fatos, os
dogmas das penas eternas e dos demônios; em
uma palavra, ele nos descobre a vida futura, e no-

87
la mostra natural e conforme a justiça de Deus. É
ainda uma coisa que tem muito seu valor. (101)

No mês de setembro, do artigo “Um egoísta”, é


oportuno evidenciar o seguinte trecho do diálogo
com o guia:

P. Nosso caro guia gostaria de nos dizer se não


lhe é levado em nenhuma conta os outros defeitos
dos quais se corrigiu em consequência do
Espiritismo e se sua punição com isso não foi
abrandada? – R. Sem nenhuma dúvida, lhe é
levado em conta essa melhoria, porque nada
escapa aos olhares perscrutadores da Divina
Providência. Mas eis de que maneira cada ação,
boa ou má, tem suas consequências naturais,
inevitáveis, segundo esta palavra do Cristo: A
cada um segundo suas obras: aquele que se
corrigiu de alguns defeitos poupa a punição que
teriam arrastado, e recebe ao contrário o prêmio
das qualidades que as substituíram; mas não pode
escapar às consequências dos defeitos que lhe
restam. Ele não é, pois, punido senão na
proporção e segundo a gravidade destes
últimos: menos deles tenha, melhor é sua posição.
Uma qualidade não paga um defeito; ela diminui o
número destes e, consequentemente, a soma das
punições. (102)

Ainda em setembro, em “Notícias

88
Bibliográficas”, Allan Kardec informa sobre nova obra
à venda:

O CÉU E O INFERNO, OU A JUSTIÇA DIVINA


SEGUNDO O ESPIRITISMO, Contendo: o exame
comparado das doutrinas sobre a passagem da
vida corpórea à vida espiritual, as penas e as
recompensas futuras, os anjos e os demônios, as
penas eternas, etc.; seguido de numerosos
exemplos sobre a situação real da alma durante e
após a morte.
Por ALLAN KARDEC. (103)

Então, temos que um dos pontos que a nova


obra abordará será sobre “as penas e as
recompensas futuras”, exatamente, aquilo que dá
base que sustenta a lei de causa e efeito.

m) O Céu e o Inferno (1865)

Do cap. V – O purgatório, item 3, destacamos o


seguinte trecho:

[…] Na maior parte das vezes ele [o homem] é


infeliz por sua própria culpa; porém, se é
imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra,
expiando não somente faltas atuais, mas faltas

89
anteriores não reparadas. Sofre em uma vida de
provações o que fez sofrer a outrem em
anterior existência. As vicissitudes que
experimenta são, ao mesmo tempo, uma correção
temporária e uma advertência quanto às
imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim
de evitar males futuros e progredir para o bem. São
para a alma lições da experiência, rudes às vezes,
mas tanto mais proveitosas para o porvir quanto
profundas as impressões que deixam. Essas
vicissitudes provocam lutas incessantes que
desenvolvem suas forças e suas faculdades
intelectuais e morais.[…]. (104)

E na sequência, no item 4, temos:

É, pois, nas sucessivas encarnações que a


alma se despoja pouco a pouco das suas
imperfeições, que se purga, até que esteja
bastante pura para poder deixar os mundos de
expiação, por mundos mais venturosos e, mais
tarde, para fruir em outros a suprema felicidade.
Assim, o purgatório não constitui uma ideia vaga e
incerta. É uma realidade material que vemos,
tocamos e sofremos; existe nos mundos de
expiação, e a Terra é um desses mundos; nela os
homens expiam o passado e o presente, em
proveito do futuro. Contrariamente, porém, à ideia
que deles se faz, depende de cada um prolongar
ou abreviar a sua permanência, segundo o grau
de adiantamento e pureza atingido pelo próprio

90
esforço sobre si mesmo. Daí só se sai por mérito
próprio, e não por conclusão de tempo ou pelos
méritos alheios, consoante estas palavras do
Cristo: A cada um segundo as suas obras,
palavras que resumem integralmente a Justiça
de Deus. (105) (itálico do original)

Se o homem “sofre o que fez sofrer a outrem”


significa que sua ação correspondeu a uma reação,
portanto, estamos falando exatamente da lei de
causa e efeito, expressa em “a cada um segundo as
suas obras”. Embora possa não compreendê-la ela
age a seu favor, fato que levará muito tempo para
ser percebido.

Na 1ª parte, cap. VI (106) – O purgatório, se lê:

8. O Espiritismo, portanto, não veio negar a


penalidade futura, veio, ao contrário, confirmá-
la. O que ele destrói é o inferno localizado, com
suas fornalhas e suas penas irremissíveis. Ele não
nega o purgatório, porquanto prova que nele nós
estamos; ele o define e o expõe com clareza e
rigor, explicando a causa das misérias terrestres, e
por isso faz que nele acreditem aqueles que o
negam.
[…].
9. Que o castigo, quer se verifique na vida

91
espiritual ou na Terra, e qualquer que seja a sua
duração, sempre tem um fim, próximo ou
distante. Na realidade, portanto, não há para o
espírito mais que duas alternativas: punição
temporária graduada segundo a culpabilidade,
e recompensa graduada segundo o mérito. O
Espiritismo não aceita a terceira alternativa, a da
eterna condenação. O inferno permanece como
figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo
término é desconhecido. O purgatório é a
realidade.
A palavra purgatório traduz a ideia de um lugar
que tem limites determinados; eis por que é
aplicada mais naturalmente à Terra, considerada
como lugar de expiação, do que ao Espaço infinito
onde erram os espíritos sofredores, e além disso a
natureza da expiação terrestre é uma verdadeira
purificação. (107) (itálico do original)

No cap. VII – Doutrina das penas eternas ( 108),


no tópico “Argumento em apoio das penas eternas”
(109), item 12, Allan Kardec discorrendo sobre o
dogma da eternidade das penas, entre várias coisas,
disse:

[…] A punição que ela sofre é uma


advertência do mal que praticou, e que deve ter
como resultado sua recondução ao bom
caminho. Se a pena fosse irremissível, o desejo

92
de proceder melhor seria supérfluo; por
conseguinte, o desígnio providencial da criação
não poderia ser alcançado, porque haveria seres
predestinados à felicidade e outros ao infortúnio.
Se uma alma culpada se arrepende, ela pode
tornar-se boa, e podendo tornar-se boa, ela pode
aspirar à felicidade; Deus seria justo se lhe
recusasse os meios para isso? (110)

O uso do termo punição somente não faz


sentido caso se acredite que haja uma consequência
infeliz proveniente do mal que se praticou, portanto,
estamos falando exatamente da lei de causa e
efeito.

Na 1ª parte, cap. VIII (111) – As penas futuras


segundo o Espiritismo, merece destaque o tópico
“Código penal da vida futura” ( 112), onde são listados
vários itens, dos quais transcrevemos os seguintes:

1º) A alma ou espírito sofre, na vida espiritual,


as consequências de todas as imperfeições das
quais não se libertou durante a vida corporal. Seu
estado, feliz ou infeliz, está intimamente ligado ao
grau de sua depuração ou de suas imperfeições.
2º) Todos os espíritos sendo perfectíveis, em
virtude da lei do progresso, cada um traz em si os
elementos da sua felicidade ou da sua

93
infelicidade futura, e os meios de adquirir uma e
evitar a outra trabalhando para o seu próprio
adiantamento.
3º) A felicidade perfeita está ligada à perfeição,
isto é, à depuração completa do espírito. Toda
imperfeição é ao mesmo tempo uma causa de
sofrimento e de privação de prazer, do mesmo
modo que toda qualidade adquirida é uma causa
de prazer e de atenuação de sofrimentos. Daí
resulta que a soma da felicidade e dos sofrimentos
é proporcional à soma das qualidades boas ou más
que o espírito possui.
4º) A punição sempre é a consequência
natural da falta cometida. O espírito sofre pelo
próprio mal que fez, de maneira que, tendo a sua
atenção incessantemente dirigida para as
consequências desse mal, melhor ele compreende
os seus inconvenientes e é encorajado a corrigir-se
dele.
5º) A punição varia segundo a natureza e a
gravidade da falta; a mesma falta pode assim dar
lugar a expiações diferentes, segundo as
circunstâncias atenuantes ou agravantes nas quais
ela foi cometida.
6º) Não há, com relação à natureza, à
intensidade e à duração do castigo, nenhuma regra
absoluta e uniforme; a única lei geral é que toda
falta recebe sua punição e toda boa ação, sua
recompensa, segundo seu valor.
7º) A justiça de Deus sendo infinita, o bem e o
mal são rigorosamente levados em conta; se
não há uma só ação má, um só mau

94
pensamento que não tenha as suas
consequências fatais, não há uma só boa ação,
um só bom impulso da alma, em uma palavra, o
mais pequeno mérito que seja perdido, mesmo
entre os mais perversos, porque é um início de
progresso.
Toda falta cometida, todo mal realizado, é
uma dívida contraída que deve ser paga; se não
o for em uma existência, o será na seguinte ou nas
seguintes, porque todas as existências são
solidárias umas com as outras. Aquele que paga
uma dívida na existência presente não terá que
pagá-la uma segunda vez.
O espírito sofre a pena das suas
imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no
mundo corporal. Todas as misérias, todas as
vicissitudes que se sofrem na vida corporal são
o resultado das nossas imperfeições,
expiações de faltas cometidas, seja na existência
presente, seja nas precedentes.
Pela natureza dos sofrimentos e das
vicissitudes que se suportam na vida corporal,
pode-se fazer uma ideia da natureza das faltas
cometidas em uma existência precedente, e das
imperfeições que são a sua causa. (113)

12º […].
O arrependimento pode acontecer em qualquer
parte e em qualquer época; se ele for tardio o
culpado sofrerá por muito mais tempo.
A expiação consiste nos sofrimentos físicos
e morais, que são a consequência da falta

95
cometida, seja desde a vida atual, seja após a
morte, na vida espiritual, seja em uma nova
existência corporal, até que os traços da falta
tenham desaparecido.
A reparação consiste em fazer o bem àquele a
quem se fez o mal. Aquele que não repara seus
erros nesta vida, por impossibilidade ou má
vontade, se reencontrará, em uma existência
posterior, em contato com as mesmas pessoas
que tiveram queixas dele, e nas condições
escolhidas por ele mesmo, de forma que possa
provar-lhes a sua dedicação, e fazer-lhes tanto
bem quanto mal lhes tenha feito. (114)

14º) Diante dessa lei, igualmente desaparece a


objeção extraída da presciência divina. Deus,
criando uma alma, sabe, efetivamente, se, em
virtude do seu livre-arbítrio, ela seguirá o bom ou o
mau caminho; sabe que ela será punida se fizer
o mal, mas sabe também que esse castigo
temporário é um meio de fazê-la compreender seu
erro e de fazê-la entrar no bom caminho, onde ela
chegará cedo ou tarde. […].
15º) Cada um é responsável somente por
suas próprias faltas; ninguém sofre a pena das
faltas dos outros, (115) a menos que a elas tenha
dado ensejo, seja provocando-as por seu exemplo,
seja não as impedindo quando tinha condições de
fazê-lo.
Responde-se não somente pelo mal que se fez,
mas também pelo bem que se podia ter feito e não
se fez.

96
É assim, por exemplo, que o suicida sempre é
punido; mas aquele que, por sua crueldade, leve
uma pessoa ao desespero e daí a se destruir, sofre
uma pena ainda maior. (116)

20º) O meio de se evitar ou de atenuar as


consequências, na vida futura, dos erros
cometidos é desfazê-los o mais possível na vida
presente; é reparar o mal, para não se ter de
repará-lo mais tarde de uma forma mais terrível.
Quanto mais se demora em se desfazer dos
defeitos, mais penosas são as consequências e
mais rigorosa a reparação que deve ser feita.
21º) A situação do espírito, desde sua entrada
na vida espiritual, é a que ele preparou para si na
vida corporal. Mais tarde, uma outra encarnação
lhe é dada, e algumas vezes imposta, para a
expiação e a reparação por novas provas; ele,
porém, a aproveita mais ou menos, por causa do
seu livre-arbítrio; se não a aproveita, terá uma
tarefa para recomeçar cada vez em condições
mais penosas; de maneira que se pode dizer que
aquele que sofre muito sobre a Terra tinha
muito a expiar; aqueles que desfrutam de uma
felicidade aparente, apesar dos seus vícios e da
sua inutilidade, tenham certeza de que irão pagá-la
muito caro em uma existência posterior. é nesse
sentido que Jesus disse: “Bem-aventurados os
aflitos, porque serão consolados.” (O Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. V.)
22º) A misericórdia de Deus é infinita, sem
dúvida, porém, não é cega, e ela impõe como
condição: o arrependimento, a expiação e a

97
reparação. O culpado a quem Deus perdoa não
é isento, e enquanto não satisfizer essas
condições, ele sofre as consequências das
suas faltas. Por misericórdia infinita, é preciso
entender que Deus não é implacável, e sempre
deixa aberta uma porta para o retorno ao bem.
23º […] Às penas que o espírito sofre na vida
espiritual vêm se juntar as da vida corporal, que
são a consequência das imperfeições do homem,
de suas paixões, do mau emprego de suas
faculdades, e a expiação de suas faltas presentes
e passadas. É na vida corporal que o espírito
repara o mal de suas existências anteriores,
que põe em prática as resoluções tomadas na vida
espiritual. Assim se explicam essas misérias e
essas vicissitudes que, à primeira vista, parecem
não ter razão de ser, mas são muito justas por
serem a quitação do passado e porque servem
para o nosso adiantamento. (117) (118)

25º […] Apesar da diversidade dos gêneros e


dos graus de sofrimento dos espíritos imperfeitos,
o código penal da vida futura pode se resumir
nestes três princípios:
• O sofrimento está ligado à imperfeição.
• Toda imperfeição, e toda falta que é
procedente dessa imperfeição, traz consigo seu
próprio castigo, por suas consequências
naturais e inevitáveis, como a doença é a
consequência dos excessos, o tédio é a
consequência da ociosidade, sem que haja
necessidade de uma condenação especial para

98
cada falta e cada indivíduo.
• Todo homem, podendo se desfazer das suas
imperfeições por efeito da sua vontade, pode se
poupar dos males que são consequentes dessas
imperfeições, e assegurar sua felicidade futura. (119)
Esta é a lei da justiça divina: a cada um
segundo suas obras, no céu como na Terra. (120)
(itálico do original)

Ao finalizar, referindo-se a esta fala de Jesus “a


cada um segundo as suas obras”, Allan Kardec, a
nosso ver, está justamente colocando todas as
nossas ações debaixo da lei de causa e efeito.

Da 1ª parte, cap. X, transcrevemos:

12. Se admitirmos a falibilidade dos anjos, como


também a dos homens, a punição é uma
consequência natural e justa da falta; porém, se
admitirmos ao mesmo tempo a possibilidade do
resgate, pelo retorno ao bem, a obtenção do
perdão após o arrependimento e a expiação, não
há nada que desminta a bondade de Deus. […].
(121)

No cap. III – Espíritos em condições medianas,


2º parte, da mensagem de Anna Belleville,

99
ressaltamos o seguinte trecho:

Prolonguei por mim mesma esses sofrimentos.


O desejo ardente de viver, por amor aos filhos,
fazia com que me agarrasse de alguma sorte à
matéria e, ao contrário dos outros, eu não queria
abandonar o pobre corpo com o qual era forçoso
romper, se bem que ele fosse para mim o
instrumento de tantas torturas. Eis aí a verdadeira
causa da minha longa agonia. Quanto à moléstia
e aos sofrimentos que padeci, eram expiação
do passado, uma dívida a mais que paguei. (122)

No cap. IV – Espíritos sofredores, 2ª parte,


temos este trecho da explicação de São Luís a
respeito da comunicação de Ferdinand Bertin:

Esta confissão trará grande alívio ao Espírito,


que realmente foi bem culpado! Honrosa, porém,
foi a existência que acaba de deixar; era amado e
estimado de seus chefes. Tudo isso era fruto do
seu arrependimento e das boas resoluções que
tomou antes de voltar à Terra, onde desejara ser
humano, tanto quanto fora cruel no passado. O
devotamento de que deu provas era uma
reparação, sendo-lhe porém preciso resgatar as
faltas passadas por uma expiação final: a da
morte cruel que padeceu. Ele mesmo quis
depurar-se pelo sofrimento das torturas que infligira
a outrem; mas reparai que uma ideia o persegue: o

100
pesar de ser tido como mártir. […]. (123)

Do cap. IV, 2ª parte, trazemos estas


explicações do Codificador:

Estudos sobre as comunicações de Claire.


Essas comunicações são principalmente
instrutivas quando nos mostram um dos aspectos
mais comuns da vida: o do egoísmo. Nele não se
encontram esses grandes crimes que espantam
até os homens perversos, mas a condição de uma
multidão de pessoas que vivem no mundo,
honradas e procuradas, porque têm um certo
conhecimento superficial, e porque não caem sob a
punição das leis sociais. Essas pessoas não têm,
no mundo dos espíritos, castigos excepcionais cuja
descrição faça estremecer, mas uma situação
simples, natural, resultante da sua maneira de viver
e do estado da sua alma. O isolamento, o
desprezo, o abandono, eis a punição daquele
que viveu apenas para si. Clara, como se viu, era
um espírito muito inteligente, mas um coração
insensível; […].
Na sequência se estabelece um diálogo com S.
Luís:
O espírito de Claire fala das trevas em que se
encontra o espírito de seu marido. Muitos espíritos
já falaram dessas trevas que cercam certas almas
sofredoras. Seriam essas as trevas das quais
espíritos sofredores tão frequentemente se fala nas

101
Escrituras, quando é dito: “Os maus serão
lançados nas trevas, no negro abismo”? (124)
Como são produzidas essas trevas, já que no
mundo dos espíritos, não existem as mesmas
causas de alternativa de luz e de claridade que
existem na Terra?
Esse castigo é destinado a certas faltas mais
especialmente que a outras, e quais são essas
faltas?
R. “As trevas a que se referem, na realidade,
são aquelas designadas por Jesus e pelos
profetas, falando do castigo dos maus. Mas isso
ainda é apenas uma figura destinada a
impressionar vivamente os sentidos materiais dos
seus contemporâneos que não teriam podido
compreender a punição de uma forma espiritual.
Certos espíritos são lançados nas trevas, mas é
preciso compreender essas palavras como uma
verdadeira noite da alma, comparável à
obscuridade que atinge a inteligência do idiota. (125)
Não é uma loucura da alma, mas uma
inconsciência de si mesma e do que a cerca que
se produz tanto diante como na ausência da luz
material. é principalmente a punição daqueles que
duvidaram do destino do seu ser; acreditaram no
nada, e a aparência desse nada faz o seu suplício,
até que essa alma, fazendo um retorno sobre si
mesma, possa romper com energia a rede de
abatimento moral que a prendeu, da mesma forma
que um homem, oprimido por um sonho penoso,
luta em um certo momento, com toda a força de
suas faculdades, contra os terrores pelos quais

102
inicialmente se deixou dominar. Essa momentânea
redução da alma a um nada fictício, com a
consciência da sua existência, é um sofrimento
mais cruel do que se poderia imaginar, em razão
dessa aparência de repouso pela qual é atingida; é
esse repouso forçado, essa nulidade do seu ser e
essa incerteza que são o seu suplício. O tédio, de
que está sobrecarregada, é o castigo mais terrível,
porque Claire não percebe nada em torno de si,
nem coisas nem seres, e isso, para ela, são
verdadeiras trevas.
São Luís (126) (itálico do original)

No cap. V, Allan Kardec, comentando sobre o


suicídio, conclui dizendo:

[…] No exemplo acima, ela é um verdadeiro


suplício pela sensação dos vermes roendo o corpo,
e pela sua duração que deve ser aquela que
teria tido a vida desse homem se ele não a
tivesse abreviado. Esse estado é frequente entre
os suicidas, mas ele não se apresenta sempre em
condições idênticas; ele varia, principalmente em
duração e em intensidade, segundo as
circunstâncias agravantes ou atenuantes da falta. a
sensação dos vermes e da decomposição do corpo
não acontece apenas aos suicidas; ela é comum
entre aqueles que viveram mais da vida material
que da espiritual. Em princípio, não existe erro
que não seja punido; mas não há uma regra
uniforme e absoluta nos meios de punição. (127)

103
E sobre o caso “O Pai e o conscrito”, lemos:

10. Pergunta ao Espírito São Luís: Poderíeis


nos dar vossa apreciação pessoal sobre o ato
praticado pelo espírito que acabamos de evocar?
R. Esse espírito sofre justamente, porque lhe
faltou confiança em Deus, o que é uma falta
sempre punível; a punição seria terrível e muito
longa se ele não tivesse um motivo louvável, que
era o de impedir que seu filho fosse ao encontro da
morte; Deus, que vê o fundo dos corações, e que é
justo, o pune apenas por suas obras. (128) (itálico
do original)

E dos comentários do caso “Antoine Bell”,


ressaltamos:

[…] Antoine Bell nos mostrou, além disso, o fato


não menos instrutivo de um homem perseguido
pela lembrança de um crime cometido em uma
existência anterior, como um remorso e uma
advertência. Vemos por aí que todas as
existências são solidárias umas às outras; a
justiça e a bondade de Deus sobressaem na
faculdade que ele deixa ao homem de se melhorar
gradualmente, sem jamais lhe fechar a porta para o
resgate de suas faltas; o culpado é punido por
sua própria falta, e a punição, em vez de ser
uma vingança de Deus, é o meio empregado
para fazê-lo progredir. (129)

104
Cap. VIII – Expiações terrestres, 2ª parte, caso
Szymel Slizgol, do qual é informado que passou 30
anos mendigando. Vejamos um trecho de sua
explicação:

Há muitos séculos, eu vivia com o título de


rei, ou, pelo menos, de príncipe soberano.
Dentro do círculo do meu poder, relativamente
estreito comparado aos vossos países atuais, eu
era o senhor absoluto do destino dos meus
súditos: agia como tirano, ou melhor, como
carrasco.
Com um caráter arrogante, violento, avaro e
sensual, podeis imaginar qual deveria ser a sorte
dos pobres seres que viviam sob as minhas leis.
Eu abusava do meu poder para oprimir o fraco,
para obrigar toda espécie de profissões, de
trabalhos, de paixões e de dores, a contribuírem,
de qualquer maneira, para o serviço das minhas
próprias paixões. Assim, eu atingia com um
tributo o produto da mendicância; ninguém
podia mendigar sem que, antecipadamente, eu
tomasse a minha grande parte do que a piedade
humana deixava cair na escarcela (130) da miséria.
Mais que isso, a fim de não diminuir o número
de mendigos entre meus súditos, proibi que os
infelizes dessem aos seus amigos, aos seus
parentes, aos seus próximos necessitados, a
escassa parte que restava para esses pobres
seres. Em uma palavra, fiz tudo o que existe de
mais impiedoso em relação ao sofrimento e à

105
miséria.
[…] Permaneci durante três séculos e meio no
estado de espírito errante, e quando, ao final desse
espaço de tempo, compreendi que o objetivo da
encarnação era completamente diferente daquele
que meus grosseiros e obtusos sentidos me
haviam feito perseguir, obtive, a poder de preces,
de resignação e de lamentos, permissão para
receber a tarefa material de passar pelos
mesmos sofrimentos, e ainda mais, que eu
fizera outros suportarem. Obtida essa permissão,
Deus concedeu-me o direito de aumentar, por meu
livre-arbítrio, meus sofrimentos morais e físicos.
[…]. (131)

Cap. VIII – Expiações terrestres, 2ª parte, caso


Julienne-Marie, a mendiga, que manifestando,
explica:

“Obrigada por terdes a bondade de admitir-me


em vosso meio, caro presidente; pudestes
perceber que minhas existências anteriores foram
mais elevadas em posição social; se voltei à Terra
para sofrer a prova da pobreza, foi para me punir
de um orgulho fútil que me fizera repelir quem era
pobre e miserável. Então, passei pela justa lei de
talião, (132) que me tornou a mais horrível mendiga
desta região; e, como para me provar a bondade
de Deus, eu não era repelida por todos: esse era
todo o meu receio; assim, suportei minha prova

106
sem me queixar, pressentindo uma vida melhor da
qual não devia mais retornar a esta Terra de exílio
e de desgraça. (133)

Cap. VIII – Expiações terrestres, 2ª parte, caso


Antonio B… (Enterrado vivo – A pena de talião),
vejamos a narrativa:

O senhor Antonio B., escritor de mérito estimado


por seus concidadãos, tendo exercido com
distinção e integridade funções públicas na
Lombardia, por volta de 1850, após um ataque de
apoplexia, caiu em um estado de morte
aparente que, infelizmente, foi considerada, como
acontece muitas vezes, como morte verdadeira. O
equívoco foi mais fácil ainda porque se acreditou
perceber no corpo sinais de decomposição.
Quinze dias após o enterro, uma circunstância
imprevista determinou que a família pedisse a
exumação; tratava-se de um medalhão esquecido
por descuido dentro do caixão; mas o assombro
dos assistentes foi grande quando, na abertura,
verificou-se que o corpo havia mudado de
posição, que estava revirado, e, coisa horrível,
que uma das mãos fora em parte comida pelo
defunto. Tornou-se evidente que o infeliz havia sido
enterrado vivo; ele devia ter sucumbido sob os
tormentos do desespero e da fome. (134)

Do seu diálogo, destacamos a seguinte

107
resposta a uma pergunta que lhe foi dirigida:

8. Dissestes: cruel punição de uma feroz


existência, mas a vossa reputação, até hoje
intacta, não faria supor nada parecido. Podeis nos
explicar isso?
R. O que é a duração de uma existência na
eternidade! Por certo, procurei agir direito na minha
última encarnação; mas este final eu o aceitara
antes de retornar à humanidade. Ah! por que me
interrogar sobre esse passado doloroso que só eu
conhecia, bem como os espíritos, ministros do
Todo-poderoso? Sabei pois, já que preciso vos
contar, que em uma existência anterior, eu havia
emparedado uma mulher, a minha, e viva, em
uma pequena adega! Foi a pena de talião que eu
devia aplicar em mim. Dente por dente, olho por
olho. (135)

O próprio Espírito reconhece que lhe foi


aplicada a pena de talião, ou seja, a lei de causa e
efeito, que lhe exige passar pela mesma situação
que fizera à sua esposa em vida passada.

Vejamos também a mensagem “Reflexões de


Erasto” onde ele explica:

O que deveis tirar deste ensinamento é que

108
todas as vossas existências se ligam, e que
nenhuma é independente das outras; os
cuidados, os aborrecimentos, como as grandes
dores que magoam os homens, são sempre as
consequências de uma vida anterior criminosa
ou mal empregada. No entanto, devo dizê-lo, os
fins semelhantes ao de Antônio B... são raros, e se
esse homem, cuja última existência foi isenta de
censura, acabou desse modo, foi porque ele
mesmo solicitou uma morte semelhante, a fim
de abreviar o tempo de sua erraticidade e
alcançar mais rapidamente as esferas elevadas.
Com efeito, depois de um período de perturbação,
para expiar ainda seu crime espantoso, ele será
perdoado e se elevará para um mundo melhor,
onde encontrará a sua vítima que o espera e que já
há muito tempo o perdoou. Sabei, pois, tirar o
vosso proveito desse exemplo cruel, para suportar
com paciência, ó meus caros Espíritas, os
sofrimentos corporais, os sofrimentos morais,
e todas as pequenas misérias da vida.
P. Que proveito a humanidade pode tirar de
semelhantes punições?
R. Os castigos não são aplicados para o
desenvolvimento da humanidade, mas para
castigar o indivíduo culpado. Realmente, a
humanidade não tem nenhum interesse em ver
sofrer um dos seus. Neste caso a punição foi
apropriada à falta cometida. Por que existem
loucos? Cretinos? Pessoas paralíticas? Por que
existem aqueles que morrem no fogo? E aqueles
que vivem anos nas torturas de uma longa agonia,
não podendo viver nem morrer? ah! acreditai no

109
que digo, respeitai a soberana vontade e não
procureis investigar a razão das decisões da
Providência; aprendei isto: Deus é justo e faz bem
o que faz. (136)

O interessante é que, muitas vezes, somos nós


mesmos quem pedimos determinação situação
aproveitando-a para “apressar” nossa evolução
moral.

Segue o comentário de Allan Kardec do qual


destacamos o seguinte trecho:

Não existe neste fato um grande e terrível


ensinamento? A justiça de Deus atinge sempre o
culpado, e por ser algumas vezes tardia, ela não
deixa de seguir o seu curso. Não é elevadamente
moral saber que se grandes culpados acabam sua
existência tranquilamente, e muitas vezes na
abundância dos bens terrestres, a hora da
expiação cedo ou tarde chegará? Compreendem-
se penas dessa natureza não só porque estão de
alguma forma sob os nossos olhos, mas porque
são lógicas; nelas se acredita porque a razão as
admite.
Uma existência honrada, portanto, não exclui as
provas da vida, porque as escolhemos ou
aceitamos como complemento de expiação; é o
saldo de uma dívida que se paga antes de

110
receber o preço do progresso realizado. (137)

Cap. VIII – Expiações terrestres, 2ª parte, caso


Senhor Letil, no início do relato, lemos:

O senhor Letil, dono de uma fábrica nos


arredores de Paris, morreu, em abril de 1864, de
uma forma horrível. Uma caldeira de verniz que
estava fervendo pegou fogo e tombou sobre
ele; num relance, o senhor Letil foi coberto por uma
matéria incendiada e compreendeu imediatamente
que estava perdido. [..]. (138)

Manifestando-se, explica o motivo de ter


morrido daquela forma:

Há dois séculos, mandei colocar sobre uma


fogueira uma jovem inocente, como se é
inocente na sua idade, tinha de 12 a 14 anos
aproximadamente. De que a acusavam? Ai de
mim! De haver sido cúmplice de uma intriga contra
a política sacerdotal. Eu era italiano, e juiz
inquisidor; os carrascos não ousavam tocar o
corpo da criança, eu mesmo fui o juiz e o carrasco.
Ó justiça, justiça de Deus, tu és grande! a ti me
submeti; havia prometido tanto não vacilar no dia
do combate que tive a força de manter a palavra;
não me queixei, e vós me perdoastes, ó meu Deus.
[…]. (139)

111
Bem disse Jesus: Mateus 26,52: “todos os que
usam a espada, pela espada morrerão.”

Cap. VIII – Expiações terrestres, 2ª parte, caso


Um cientista ambicioso, que, no início de sua
mensagem, faz esta interessante colocação:

“Na existência humana, tudo tem a sua razão


de ser; não há um só sofrimento dos que
causastes que não encontre uma repercussão
nos sofrimentos por que passais; nenhum dos
vossos excessos que não encontre contrapartida
em uma de vossas privações; uma lágrima que
caía dos vossos olhos sem ser para lavar uma
falta, algumas vezes um crime. Sofrei, portanto,
com paciência e resignação vossas dores físicas e
morais, por mais cruéis que elas vos pareçam, e
pensai no lavrador, cujos membros são
alquebrados pela fadiga, mas continua sua obra
sem se deter porque tem diante dele as espigas
douradas que serão o fruto da sua perseverança.
[…]. (140)

Resignação diante da dor e do sofrimento,


porquanto Deus é justo e jamais nos aplicaria uma
“pena” caso não a merecêssemos.

112
n) Revista Espírita 1867

No mês de maio foi publicado o artigo “Uma


expiação terrestre” que conta o caso de um jovem
de doze anos, cuja vida, durante nove anos, não
havia sido senão um sofrimento contínuo. Atingido
de paralisia e de hidropsia, seu corpo estava coberto
de feridas invadidas pela gangrena e suas carnes
caiam em pedaços. Quando tinha três anos, sua mãe
concebeu uma menina, pela qual ele tinha uma
repulsa tal que não podia suportar a sua presença.
Manifestou-se várias vezes após sua morte,
demonstrando compreender a razão de todo o seu
sofrimento quando vivo. Eis em resumo o caso, a
partir daqui passamos a transcrever:

Pergunta (ao guia do médium). Por que a


expiação e o arrependimento na vida espiritual não
bastam para a reabilitação, sem que sejam
necessários a eles acrescentar os sofrimentos
corporais?
Resposta. Sofrer num mundo ou num outro, é
sempre sofrer, e sofre-se tão longo tempo quanto a
reabilitação não seja completa. Esta criança sofreu
muito sobre a Terra; pois bem! isso não foi nada
em comparação com o que ela sofreu no mundo
dos Espíritos. Aqui tinha, em compensação, os

113
cuidados e a afeição dos quais estava cercado. Há
ainda esta diferença entre o sofrimento
corporal e o sofrimento espiritual, que o
primeiro é quase sempre voluntariamente
aceito como complemento de expiação, ou
como prova para avançar mais rapidamente, ao
passo que o outro é imposto.
Mas há outros motivos para o sofrimento
corporal: primeiro, é para que a reparação tenha
lugar nas mesmas condições em que o mal foi
feito; depois, para servir de exemplo aos
encarnados. Vendo seus semelhantes sofrerem e
disto sabendo a razão, são bem de outro modo
impressionados do que saber que são infelizes
como Espíritos; podem explicar melhor a causa de
seus próprios sofrimentos; a justiça divina se
mostra, de alguma sorte, palpável aos seus olhos.
Enfim, o sofrimento corporal é uma ocasião, para
os encarnados, de exercerem, entre eles, a
caridade, uma prova para seus sentimentos de
comiseração, e, frequentemente, um meio de
reparar os erros anteriores; porque, crede-o bem,
quando um infortunado se encontra sobre vosso
caminho, não é o efeito do acaso. Para os pais do
jovem François era uma grande prova ter um
filho nessa triste posição; pois bem! eles
cumpriram dignamente seu mandato, e disso serão
tanto mais recompensados quanto agiram
espontaneamente, pelo próprio impulso de seu
coração. Se os Espíritos não sofressem na
encarnação, é que não haveria senão Espíritos
perfeitos sobre a Terra. (141)

114
Do artigo “Epidemia da Ilha Maurice”, sobre a
terrível epidemia que devastava a população, que
gerou uma mensagem, cuja autoria não foi
identificada, publicado em julho, transcrevemos o
seguinte parágrafo:

“Eu, neste momento personalidade espiritual,


frequentemente acusado pelas personalidades
terrestres, de brutalidade, de dureza, de
insensibilidade!… É verdade, contemplo com
calma todos esses flageles destruidores, todos
esses terríveis sofrimentos físicos; sim, eu
atravesso sem me emocionar todas essas
planícies devastadas, juncadas de restos
humanos! Mas se pude fazê-lo, foi porque a minha
visão espiritual se leva além desses sofrimentos; é
que, antecipando sobre o futuro, ele se apoia sobre
o bem-estar geral que será a consequência desses
males passageiros para a geração futura, para vós
mesmos que fareis parte dessa geração, e que
recolhereis então os frutos que tiverdes
semeado.” (142)

Em setembro, foi publicado o artigo


“Caracteres da Revelação Espírita” (143) (144), do qual
destacamos os três seguintes itens:

115
31. - Pelas relações que o homem pode agora
estabelecer com aqueles que deixaram a Terra, há
não só a prova material da existência e da
individualidade da alma, mas compreende a
solidariedade que religa os seres e os mortos deste
mundo, e aqueles deste mundo com aqueles dos
outros mundos. Ele conhece sua situação no
mundo dos Espíritos; segue-os em suas
migrações; é testemunha de suas alegrias e de
suas dificuldades; sabe porque são felizes ou
infelizes, e a sorte que espera ele mesmo
segundo o bem ou o mal que fez. […].
32. - Pelo estudo da situação dos Espíritos, o
homem sabe que a felicidade e a infelicidade na
vida espiritual são inerentes ao grau de perfeição e
de imperfeição; cada um sofre as consequências
diretas e naturais de suas faltas, de outro modo
dito, ele é punido por onde pecou; que essas
consequências duram tão longo tempo quanto a
causa que as produziu; que, assim, o culpado
sofreria eternamente, se persistisse eternamente
no mal, mas que o sofrimento cessa com o
arrependimento e a reparação; ora, como depende
de cada um se melhorar, cada um pode, em
virtude de seu livre arbítrio, prolongar ou
abreviar seus sofrimentos, como o doente sofre
de seus excessos por tão longo tempo que não lhe
ponha um fim. (145)

42. – Se se considera, além disso, o poder


moralizador do Espiritismo pelo objetivo que ele
assinala para todas as ações da vida, pelas
consequências do bem e do mal que ele faz

116
tocar com o dedo; a força moral, a coragem, as
consolações que dá nas aflições por uma
inalterável confiança no futuro, […]. (146)

o) A Gênese (1868)

Do cap. I – Natureza da Revelação Espírita,


transcrevemos:

Pelo estudo da situação dos espíritos, o homem


sabe que a felicidade e a desventura, na vida
espiritual, são inerentes ao grau de perfeição e de
imperfeição; que cada um sofre as
consequências diretas e naturais de suas
faltas, quer dizer, que ele é punido por onde
pecou; que essas consequências duram tanto
tempo quanto a causa que as originou […] mas
que o sofrimento cessa com o arrependimento e a
reparação. Ora, como depende de cada um o seu
aperfeiçoamento, cada um pode, em virtude do
livre-arbítrio, prolongar ou abreviar seus
sofrimentos, como o doente que sofre pelos seus
excessos enquanto para de praticá-los. (147)

Se o homem é punido onde pecou, não tem


como tergiversar isso é puramente a lei de causa e
efeito.

117
Do cap. III – O bem e o mal, item 6,
ressaltamos:

Deus estabeleceu leis plenas de sabedoria, que


só têm por único objetivo o bem. O homem
encontra em si mesmo tudo o que é preciso para
segui-las; a rota é traçada por sua consciência; a
lei divina está gravada no seu coração; […] Se o
homem se adaptasse rigorosamente às leis
divinas, não há dúvida de que evitaria os males
mais agudos e de que viveria feliz na Terra. Se não
procede assim, é em razão do seu livre-arbítrio
e sofre as consequências disso. (148) (itálico do
original)

O fato do homem sofrer as consequências pelo


uso do livre-arbítrio, significa que não há como fugir
da lei de causa e efeito. Simples assim!

Do tópico “Doutrina dos anjos decaídos”, do


cap. XI – Gênese Espiritual, destacamos o item 44:

Então, logo que um mundo atinge um dos seus


períodos de transformação, que deve fazê-lo subir
na hierarquia, ocorrem mudanças na sua
população encarnada e desencarnada; é quando
acontecem as grandes emigrações e
imigrações. Aqueles que, apesar da sua
inteligência e do seu saber, perseveram no mal, na

118
sua revolta contra Deus e suas leis, seriam dali por
diante um obstáculo ao progresso moral posterior,
uma causa permanente de perturbação para a
tranquilidade e felicidade dos bons, razão por que
eles são excluídos e enviados para mundos
menos adiantados. Nestes mundos eles
aplicarão sua inteligência e a intuição dos
conhecimentos que adquiriram para o progresso
daqueles entre os quais foram chamados a viver,
ao mesmo tempo em que expiarão, em uma
série de existências penosas e por meio de um
árduo trabalho, as suas faltas passadas e o seu
endurecimento voluntário. (149) (itálico do original)

Os Espíritos persistentes no erro ao serem


enviados a uma nova reencarnação em mundo
inferior, além de ali expiarem as faltas do passado,
terão a missão de ajudar a seus habitantes a
evoluírem, levando-lhes seus conhecimentos.

Do cap. XV – Os milagres do Evangelho,


citaremos o caso dos dois paralíticos:

1º caso: O paralítico

14. Tendo entrado numa barca, Jesus


atravessou o lago e veio à sua cidade
(Cafarnaum). Como lhe apresentassem um
paralítico deitado em um leito, Jesus, vendo a sua

119
fé, disse ao paralítico: “Meu filho, tem confiança; os
teus pecados te são perdoados”.
Logo, alguns dos escribas disseram entre si:
“Este homem blasfema.” Mas Jesus, sabendo o
que eles pensavam, perguntou-lhes: “Por que
alimentais maus pensamentos em vossos
corações? Pois, o que é mais fácil, dizer: Teus
pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te e
anda? Ora, para que saibais que o Filho do
Homem tem na Terra o pode de perdoar os
pecados Levanta-te, disse então ao paralítico,
toma o teu leito e vai para a tua casa”.
15. O que podiam significar estas palavras:
“Teus pecados te são perdoados” e em que elas
podiam servir para a cura? O Espiritismo apresenta
a explicação dessas, assim como de uma
infinidade de outras palavras, até hoje
incompreendidas. Ele nos ensina, pela lei da
pluralidade das existências, que os males e as
aflições da vida são muitas vezes expiações do
passado, e que nós sofremos na vida presente
as consequências das faltas que cometemos
em uma existência anterior, sendo as diferentes
existências solidárias umas com as outras até que
se tenha pago a dívida dessas imperfeições.
Se, portanto, a enfermidade daquele homem
era uma punição pelo mal que ele havia
cometido, a afirmação de Jesus: “Teus pecados te
são perdoados” equivalia a dizer-lhe: “Pagaste a
tua dívida; a causa da tua enfermidade
desapareceu por causa da tua fé e assim sendo
mereces ficar livre dela.” É por isso que Jesus

120
disse aos escribas: “É tão fácil dizer: teus pecados
te são perdoados, como dizer: levanta-te e anda.”
Cessada a causa, o efeito tem que cessar. É
exatamente o caso do preso a quem se diz: “O teu
crime está expiado e perdoado,” o que equivaleria
a dizer: “Podes sair da prisão.” (150) (itálico do
original)

2º caso: O paralítico da piscina

21. Depois disso, tendo chegado a festa dos


judeus, Jesus foi a Jerusalém. Ora, havia em
Jerusalém a piscina das ovelhas – que em hebreu
se chama Betsaida – que tinha cinco galerias, onde
se achavam deitados um grande número de
doentes, de cegos, de coxos, e os que tinham os
membros ressecados, todos à espera de que as
águas fossem agitadas. Porque o anjo do Senhor,
em um certo momento, descia àquela piscina e
movimentava a sua água; aquele que fosse o
primeiro a entrar nela, depois da água ter sido
movimentada, ficava curado de qualquer doença
que tivesse.
Ora, lá estava um homem que se encontrava
doente há trinta e oito anos. Jesus, tendo-o visto
deitado, e sabendo-o doente desde longo tempo,
perguntou-lhe: “Queres ficar curado?” O doente
respondeu: “Senhor, não tenho ninguém para me
jogar na piscina depois que a água for
movimentada; e, durante o tempo que levo para
chegar lá, um outro desce antes de mim.” Disse-lhe

121
Jesus: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.” No
mesmo instante o homem foi curado e, pegando o
seu leito, pôs-se a andar. Ora, aquele dia era um
sábado.
Os judeus então disseram àquele que fora
curado: “Hoje é sábado, não é permitido que leves
o teu leito.” O homem respondeu: “Aquele que me
curou disse: toma o teu leito e anda.” Eles
perguntaram-lhe então: “Quem foi que te disse:
toma o teu leito e anda?” Mas, aquele que fora
curado não sabia quem ele era, porquanto Jesus
se retirara do meio da multidão que estava lá.
Depois, Jesus encontrou aquele homem no
Templo, e lhe disse: “Vês que foste curado; não
peques mais no futuro, para que não te aconteça
coisa pior.”
O homem foi ao encontro dos judeus e lhes
disse que fora Jesus quem o curara. Era por isso
que os judeus perseguiam Jesus, porque ele fazia
essas coisas no sábado. Então, Jesus lhes disse:
“Meu Pai não cessa de agir até o presente e eu
também ajo incessantemente.” (João, V: 1 a 17.)
Os judeus disseram, pois, àquele que tinha sido
curado: É hoje é sábado; não vos é permitido
transportar vosso leito. Ele lhes respondeu: Aquele
que me curou disse-me: Conduzi vosso leito e
caminhai. Eles lhe contestaram: Quem, pois, é
esse homem que vos disse conduzi vosso leito e
caminhai? Mas aquele que tinha curado não sabia
onde ele estava, já que Jesus havia se retirado da
multidão de pessoas que estava lá.
Depois, Jesus encontrou esse homem no

122
templo e lhe disse: Vede que estais curados, não
pequeis mais no futuro, de modo que não vos
aconteça coisa pior.
Esse homem se foi encontrar os judeus e lhes
disse que fora Jesus que o curara. E é por esta
razão que os judeus perseguiram Jesus, porque
fazia essas coisas no dia de sábado. Então, Jesus
lhes disse: Meu pai não cessa nunca de atuar
agora e eu atuo também incessantemente. (São
João, cap. V, v.1 a 17)
22. Os romanos chamavam de piscina (do latim
piscis, peixe) os reservatórios ou viveiros onde se
criavam peixes. Mais tarde, a acepção do termo se
estendeu aos tanques destinados ao banho em
comum.
[…].
Depois de haver curado aquele homem, Jesus
lhe disse: “Não peques mais no futuro, para que
não te aconteça coisa pior.” Por essas palavras, ele
o fez entender que a sua doença era uma
punição, e que, se ele não se melhorasse,
poderia ser punido de novo e ainda com mais
rigor. Essa doutrina está inteiramente de acordo
com a que ensina o Espiritismo. (151)

Em ambos os casos fica evidente que a


doença desses dois homens tinha como causa
alguma equivocada ação anterior.

123
p) Revista Espírita 1868

No mês de janeiro temos a mensagem


intitulada “Instruções sobre o fato precedente”, sem
identificação do Espírito que a ditou, temos suas
explicações sobre um estranho caso de violação de
sepultura, das quais destacamos o seguinte trecho:

[…] e, e, como o ensina O Livro dos Espíritos,


como ensinam todas as comunicações: o que não
está na vida presente, está no passado, onde
lhe é preciso procurar a causa. Não estamos
neste mundo senão para cumprir uma missão
ou pagar uma dívida; no primeiro caso realiza-se
uma tarefa voluntária; no segundo, fazei a
contrapartida dos sofrimentos que sentis e tereis a
causa desses sofrimentos. (152)

Se estamos diante de um efeito e temos que


procurar a causa no presente ou no passado, então
sem nenhuma dúvida, fala-se da lei de causa e
efeito.

Em março, registramos o artigo


“Correspondência inédita de Lavater (Com a
imperatriz da Rússia”. Escritas em 1798, em número
de seis, as cartas de Jean-Gaspar Lavater (1741-

124
1801) à Imperatriz Maria Feodorowna, esposa do
Imperador Paulo I da Rússia, “desenvolvem e
esclarecem, de maneira tão engenhosa quanto
espirituosa, as ideias fundamentais do Espiritismo.”
(153)

Da primeira carta, datada de 1ª de agosto de


1798, cujo tema é “Sobre o estado da alma depois
da morte”, destacamos:

Tudo o que se pode, e tudo o que não podemos


ainda dizer sobre o estado da alma depois da
morte, se baseará sempre sobre este único axioma
permanente e geral: O homem colhe aquilo que
semeou.

É difícil encontrar um princípio mais simples,


mais claro, mais abundante e mais próprio para ser
aplicado a todos os casos possíveis.
Existe uma lei geral da Natureza,
estreitamente ligada, mesmo idêntica, ao
princípio acima mencionado, concernente ao
estado da alma depois da morte, uma lei
equivalente em todos os mundos, em todos os
estados possíveis, no mundo material e no mundo
espiritual, visível e invisível, a saber:
“O que se assemelha tende a se reunir, tudo o
que é idêntico se atrai reciprocamente, se não
existirem obstáculos que se oponham à sua união.”

125
Toda a doutrina sobre o estado da alma depois
da morte está baseada sobre este simples
princípio; tudo o que chamamos comumente:
julgamento preliminar, compensação, felicidade
suprema, condenação, pode ser explicado desta
maneira: “Segundo semeaste o bem em ti mesmo,
em outros e fora de ti, pertencerás à sociedade
daqueles que, como tu, semearam o bem em si
mesmos e fora deles; gozarás da amizade
daqueles aos quais te assemelhaste em sua
maneira de semear o bem.” (154) (itálico do original)

Mais claro é impossível: “O homem colhe


aquilo que semeou”.

Um pouco mais à frente, temos o artigo


“Ensaio teórico das curas instantâneas”, no qual, a
certa altura, o Codificador diz:

A essa causa toda física de não cura, é preciso


acrescentar-lhe uma toda moral que o Espiritismo
nos faz conhecer; é que a maioria das doenças,
como todas as misérias humanas, são
expiações do presente o do passado, ou provas
para o futuro; são dívidas contraídas das quais
se devem suportar as consequências até que
se as tenha quitado. Aquele, pois, não pode ser
curado porque deve suportar sua prova até o fim.
Este princípio é um motivo de resignação para o
doente, mas não deve ser uma desculpa para o

126
médico que procuraria, na necessidade da prova,
um meio cômodo de abrigar sua ignorância.

No mês de maio, Allan Kardec publica o artigo


“Impressões de um médico materialista no mundo
dos Espíritos”, no qual temos o diálogo entre dois
Espíritos, através da tiptologia. Destacamos o
seguinte trecho da fala do que assinou como Sainte
Victoire:

É preciso esperar na misericórdia de Deus, que


é infinita; é preciso perdoar àqueles que nos
ofenderam; é preciso amar seu próximo como a si
mesmo; é preciso amar a Deus, a fim de que Deus
vos ame e vos perdoe; é preciso rogar-lhe e dar-
lhe graças por todas as suas bondades, por todas
as vossas misérias, porque miséria e felicidade
tudo nos vem dele, quer dizer, que tudo nos vem
dele segundo o que merecemos.
Aquele que expiou, mais tarde terá a sua
recompensa; cada coisa tem a sua razão de ser,
e Deus, que é soberanamente bom e justo, dá, a
cada um, segundo as suas obras. Amar e rogar,
eis toda a vida, toda a eternidade. (155)

A frase “a cada um, segundo as suas obras”,


como todos sabemos, foi, originalmente, dita por

127
Jesus, que de maneira incontestável reflete a lei de
causa e efeito. Julgamos que somente agindo à
maneira de um cego não se ver isso.

Ainda em maio, temos o artigo “A fome na


Argélia”, do qual merece destaque o seu último
parágrafo:

O fato é que, até hoje, nenhuma filosofia,


nenhuma doutrina religiosa tinha resolvido, no
entanto, essa grave questão, de um tão poderoso
interesse para a Humanidade. Só o Espiritismo lhe
dá uma solução racional pela reencarnação, essa
chave de tantos problemas que se acreditavam
insolúveis. Pelo fato da pluralidade das existências,
as gerações que se sucedem são compostas pelos
mesmos individuais espirituais que renascem em
diferentes épocas, e aproveitam das melhorias que
eles mesmos prepararam, da experiência que
adquiriram no passado. Não são novos homens
que nascem; são os mesmos homens que
renasceram mais avançados. Cada geração,
trabalhando para o futuro, trabalha em realidade
para a sua própria conta. A idade Média,
seguramente, foi uma época bem calamitosa; os
homens daquele tempo, revivendo hoje, se
beneficiam do progresso realizado. e são mais
felizes, porque têm melhores instituições; mas,
quem fez essas instituições melhores? Eles
mesmos que as tinham más outrora, aqueles de
hoje, devendo viver mais tarde, num meio ainda

128
mais depurado, colherão o que tiverem
semeado; serão mais esclarecidos, e, nem os
seus sofrimentos, nem os seus trabalhos anteriores
terão sido pura perda. Que coragem, que
resignação essa ideia, inculcada no espírito dos
homens não lhes daria! (Ver A Gênese, cap. XVIII,
nºs 34 e 35.) (156) (itálico do original)

O entendimento do “colherão o que tiverem


semeado” não é outro senão da aplicação da lei de
causa e efeito.

Em junho, temos em “Nota bibliográfica”


referência à obra A Religião e a Política na Sociedade
Moderna, de Frédérich Herrenschneider, sobre a qual
Allan Kardec disse “Antes de entrar no exame de sua
teoria, algumas considerações preliminares nos
parecem essenciais.” Delas, destacamos o seguinte
trecho:

Eles [os espíritas] rejeitam o dogma das penas


eternas, irremissíveis, como inconciliável com a
Justiça de Deus; mas admitem que a alma,
depois da morte, sofre e suporta as
consequências de todo o mal que ela fez
durante a vida, de todo bem que teria podido
fazer e não o fez, Seus sofrimentos são a
consequência natural de seus atos; eles duram

129
tanto quanto a perversidade ou a inferioridade
moral do Espírito; diminuem à medida que se
melhora, e cessam pela reparação do mal; esta
reparação tem lugar nas existências corpóreas
sucessivas. O Espírito, tendo sempre a sua
liberdade de ação, é assim o próprio artífice de
sua felicidade e de sua infelicidade neste
mundo e no outro. O homem não é levado fatal
mente nem ao bem, nem ao mal; ele realiza um ou
o outro por sua vontade, e se aperfeiçoa pela
experiência. […]. (157)

Ora, se a alma “sofre e suporta as


consequências de todo o mal que ela fez” e se ela “é
assim o próprio artífice de sua felicidade e de sua
infelicidade”, então, estamos a nosso ver diante da
lei de causa e efeito, uma vez que é por ela que se
manifesta a Justiça de Deus.

Em mês de outubro, Allan Kardec publicou o


artigo “Efeito moralizador da reencarnação”, do qual
transcrevemos:

O Figaro, de 5 de abril de 1868, o mesmo jornal


que, dois dias antes, publicava esta definição da
imortalidade: “Conto de enfermeiros, para
tranquilizar seus clientes”, e a carta reportada no
artigo precedente, continha o seguinte artigo:

130
“O compositor E… crê firmemente na migração
das almas. Ele conta de boa vontade que foi, nos
séculos anteriores, escravo grego, depois palhaço
e compositor italiano célebre, mas ciumento e
impedindo seus confrades de produzirem…
“– Disso sou muito punido hoje, acrescenta com
filosofia, cabe a meu turno ser sacrificado aos
outros e de me ver barrar os caminhos!
“Esta maneira de se consolar vale bem uma
outra.”
Esta ideia é do puro Espiritismo, porque, não só
é o princípio da pluralidade das existências, mas o
da expiação do passado, pela pena de talião,
nas existências sucessivas, segundo a máxima: “É-
se punido por onde se pecou.” Esse compositor
se explica, assim, as suas tribulações; delas se
consola pelo pensamento que não tem senão o
que merece; a consequência deste pensamento é
que, para não merecê-lo de novo, é de seu próprio
interesse procurar se melhorar; isto não vale mais
do que estourar os miolos com um tiro, ao que o
conduziria logicamente o pensamento do nada?
Esta crença é, pois, uma causa poderosa e
muito natural de moralização; ela é surpreendente
para a atualidade e o fato material das misérias
que se suporta, e que, por falta de se poder
explicá-las são colocadas à conta da fatalidade
ou da injustiça de Deus; ela é compreensível
para todo o mundo, para a criança e para o homem
mais iletrado, porque não é nem abstrata nem
metafísica; não há ninguém que não compreenda
que se pode já ter vivido e que se já se viveu,

131
pode-se reviver ainda. Uma vez que não é o corpo
que pode reviver, é a sanção mais patente da
existência da alma, de sua individualidade e de sua
imortalidade. (158)

A “pena de talião” é a justiça de Deus agindo a


a nosso favor, pois ao sermos “penalizados” pelo mal
que fizemos ao próximo, vamos nos esforçando para
nos tornamos pessoas melhores.

q) Obras Póstumas (1890)

Embora esse livro não tenha sido publicado


por Allan Kardec, achamos por bem citá-lo.
Entretanto, deixaremos a você, caro leitor, a decisão
de considerar ou não os seguintes trechos que dele
transcrevemos:

1º) Da resposta relativa à questão das


expiações coletivas, assinada pelo Espírito Clélia
Dupantier, a quem o Codificador fez referência
positiva, lemos:

Graças ao Espiritismo, compreendeis agora


a justiça das provações que não decorrem dos
atos da vida presente, porque reconheceis que

132
elas são o resgate das dívidas do passado. Por
que não haveria de ser assim com relação às
provas coletivas? Dizeis que os infortúnios de
ordem geral alcançam assim o inocente, como o
culpado; mas, não sabeis que o inocente de hoje
pode ser o culpado de ontem? Quer ele seja
atingido individualmente, quer coletivamente, é que
o mereceu. Depois, como já o dissemos, há as
faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação
de umas não isenta da expiação das outras,
pois que toda dívida tem que ser paga até à
última moeda. As virtudes da vida privada diferem
das da vida pública. Um, que é excelente cidadão,
pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom
pai de família, probo e honesto em seus negócios,
pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da
discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em
crimes de lesa-sociedade. Essas faltas coletivas
é que são expiadas coletivamente pelos
indivíduos que para elas concorreram, os quais
se encontram de novo reunidos, para sofrerem
juntos a pena de talião, ou para terem ensejo de
reparar o mal que praticaram, demonstrando
devotamento à causa pública, socorrendo e
assistindo aqueles a quem outrora maltrataram.
Assim, o que é incompreensível, inconciliável com
a justiça de Deus, se torna claro e lógico mediante
o conhecimento dessa lei. (159) (itálico do original)

2º) Do capítulo Credo Espírita:

133
Ministrando a prova material da existência e da
imortalidade da alma, iniciando-nos em os
mistérios do nascimento, da morte, da vida futura,
da vida universal, tornando-nos palpáveis as
inevitáveis consequências do bem e do mal, a
Doutrina Espírita, melhor do que qualquer outra,
põe em relevo a necessidade da melhoria
individual. Por meio dela, sabe o homem donde
vem, para onde vai, por que está na Terra; o bem
tem um objetivo, uma utilidade prática. […]. (160)

“Inevitáveis consequência do bem e do mal”,


em outras palavras: lei de causa e efeito.

Ao que nos parece isso é da lavra de P. G.


Leymarie, mas mesmo não sendo de autoria de Allan
Kardec, a nosso ver, bem reflete o seu pensamento.

134
Fontes após o desencarne do
Codificador

Levando-se em conta tudo que acabamos de


apresentar, este capítulo, na verdade, nem seria
preciso escrevê-lo. Mas, como é provável o
surgimento de críticas em contrário, julgamos
importante demonstrar que nosso pensamento não é
isolado. Em razão disso, apresentaremos algumas
poucas fontes que corroboram aquilo que concluímos
de tudo que encontramos nas publicações de Allan
Kardec.

Inicialmente, traremos duas obras de Léon


Denis (1846-1927), continuador do Mestre de Lyon e
um dos principais autores espíritas clássicos:

1ª) Cristianismo e Espiritismo, cap. X – A


nova revelação. A doutrina dos Espíritos:

A lei do destino – as precedentes considerações


no-la fazem compreender – consiste no
desenvolvimento progressivo da alma, que edifica
a sua personalidade moral e prepara, ela própria, o
seu futuro; é a evolução racional de todos os seres

135
partidos do mesmo ponto para atingirem as
mesmas eminências, as mesmas perfeições. Essa
evolução se efetua, alternadamente, no espaço e
na superfície dos mundos, através de inúmeras
etapas, ligadas entre si pela lei de causa e
efeito. A vida presente é, para cada qual, a
herança do passado e a gestação do futuro. É uma
escola e um campo de trabalho; a vida do espaço,
que lhe sucede, é a sua resultante. O Espírito aí
colhe, na luz, o que semeou na sombra e, muitas
vezes, na dor. (161)

2ª) O Problema do Ser, do Destino e da


Dor, XVIII – Justiça e responsabilidade – O problema
do mal:

Insistamos na noção de justiça, que é essencial;


porque há precisão, necessidade imperiosa, para
todos, de saber que a justiça não é uma palavra
vã, que há uma sanção para todos os deveres e
compensações para todas as dores. Nenhum
sistema pode satisfazer nossa razão, nossa
consciência, se não realizar a noção de justiça em
toda a sua plenitude. Essa noção está gravada em
nós, é a lei da alma e do universo. Por tê-la
desconhecido é que tantas doutrinas se
enfraquecem e se extinguem na presente hora, em
redor de nós. Ora, a doutrina das vidas sucessivas
é um resplendor da ideia de justiça; dá-lhe realce e
brilho incomparáveis. Todas as nossas vidas são
solidárias umas com as outras e se encadeiam

136
rigorosamente. As consequências dos nossos
atos constituem uma sucessão de elementos
que se ligam uns aos outros pela estreita
relação de causa e efeito; constantemente, em
nós mesmos, em nosso ser interior, como nas
condições exteriores de nossa vida, sofremos-lhes
os resultados inevitáveis. Nossa vontade ativa é
uma causa geradora de efeitos mais ou menos
longínquos, bons ou maus, que recaem sobre nós
e formam a trama de nossos destinos. (162)

Julgamos clara a posição de Léon Denis,


quanto a existência da lei de causa e efeito, isso é
importante por ter ele vivido na época de Allan
Kardec e ser um dos mais destacados continuadores.

Entre os que conheceram mais de perto o


Codificador, podemos citar Gabriel Delanne (1857-
1926), que de sua obra Reencarnação,
transcrevemos os seguintes trechos:

1º) Cap. VII – As Experiências de renovação da


memória, tópico “Uma renovação do passado”:

O Príncipe Galitzin, o Marquês de B…, o Conde


de R…, estavam reunidos no verão de 1862, nas
águas de Hamburgo.
Uma noite, depois de haverem jantado muito

137
tarde, passeavam eles no parque do Cassino,
quando perceberam uma pobre deitada num
banco. Depois de se lhe aproximarem e
interrogarem, convidaram-na a vir cear no hotel.
Ela comeu com grande apetite, e, pouco depois,
Galitzin, que era magnetizador, adormeceu-a.
Qual não foi, porém, o espanto das pessoas
presentes, quando, profundamente adormecida,
aquela que, na véspera, só se exprimia em mau
dialeto alemão, pôs-se a falar muito corretamente
em francês, contando que, por punição, se havia
encarnado pobremente, em vista de haver
cometido um crime em sua vida precedente, no
XVIII século. Habitava, então, um castelo na
Bretanha, à borda do mar. Tivera um amante, e,
querendo desembaraçar-se do marido, lançou-o
ao mar, do alto de um rochedo. Com grande
precisão, designou o lugar do crime. (163)

A pobre mulher adormecida por um


magnetizador teve recordação de seu passado,
explicando que sua situação atual provém de um
crime em uma vida precedente, quando mata um
amante.

2ª) Cap. XIV – Conclusão:

Se as almas devem passar por todas as


situações sociais e por todas as condições físicas
para desenvolver-se moral e intelectualmente, as

138
desigualdades de toda a natureza, que se verificam
entre os seres, compensam-se na série das vidas
sucessivas. Cada qual, há seu tempo, ocupará
todos os degraus da escala social, o que cria uma
perfeita igualdade nas condições do
desenvolvimento dos seres; em virtude da lei de
justiça, todos se encontram na condição social
que melhor convém ao seu progresso
individual, porque todo renascimento é
condicionado pelas consequências das vidas
anteriores.
Toda falta acarreta efeitos inelutáveis; já
mostrei como se opera, de alguma sorte
automaticamente, essa justiça distributiva, que é
infalível. (164)

O destaque “todo renascimento é condicionado


pelas consequências das vidas anteriores. Toda falta
acarreta efeitos inelutáveis” é, sem dúvida alguma, a
consagração da lei de causa e efeito, pela qual se
manifesta a justiça divina.

3ª) Cap. XIV – Conclusão, tópico “O


esquecimento do passado”:

O olvido dos incidentes de nossas vidas


anteriores é necessário para que possamos
abandonar mais facilmente os erros e preconceitos
adquiridos. A justiça, entretanto, exige que

139
resgatemos nossas faltas, quando as
houvermos cometido conscientemente. Eis por
que diz o Dr. Geley:
“Cada um de nossos atos, de nossos trabalhos,
de nossos esforços, de nossas penas, de nossas
alegrias, de nossos erros, de nossas faltas, tem
uma repercussão fatal, reações mentais em
uma ou outra de nossas existências.” (165)

Delanne nesse trecho apresenta o Dr. Geley,


que corrobora a lei de ação e reação.

4ª) Cap. XIV – Conclusão, tópico “O progresso”:

Daí resulta que somos criadores de um


determinismo ulterior, que será a consequência
de nossas ações passadas; possuímos a
possibilidade de modificar nossas existências
futuras, no mais favorável sentido, conforme o grau
de liberdade moral e intelectual, em relação com o
ponto de evolução a que tenhamos chegado. (166)

Observa-se, claramente, que Delanne é


defensor da lei de ação e reação, como vimos nas
transcrições desse seu livro.

Na obra Minutos de Sabedoria, publicada no


ano de 1966, Carlos Torres Pastorino, ex-padre,

140
radialista e escritor brasileiro, embora sem qualificar
uma das reflexões como Lei de Causa e Efeito, é dela
que, sem dúvida alguma, ele fala:

Lembre-se de que colheremos,


infalivelmente, aquilo que houvermos semeado.
Se estamos sofrendo, é porque estamos
colhendo os frutos amargos das sementeiras
errôneas do passado.
Fique alerta quanto ao momento presente!
Plante apenas sementes de otimismo e de
Amor, para colher amanhã os frutos doces da
alegria e da felicidade.
Cada um colhe, exatamente, aquilo que
plantou. (167)

Pastorino foi um dedicado estudioso da


Doutrina Espírita, os oito volumes de Sabedoria do
Evangelho bem como o livro Técnica da Mediunidade
são de sua autoria.

Em O Curso Dinâmico de Espiritismo; o


Grande Desconhecido (1979), o jornalista José
Herculano Pires (1914-1979), o cap. XV – A trama de
ações e reações na vida humana, inicia com o
seguinte parágrafo:

141
Problema intrigante para muita gente é das
ações e reações de indivíduos e de grupos
humanos em face da teoria do livre-arbítrio. Há
quem não consegue entender essa duplicidade
contraditória, perguntando como podemos ser
responsáveis por atos que já estavam
determinados em nosso destino. Fala-se no
Karma, palavra indiana de origem sânscrita,
como de um fatalismo absoluto a que ninguém
escapa. A palavra Karma não pertence à
terminologia espírita, mas infiltrou-se no meio
espírita, através das correntes espiritualistas de
origem indiana por dois motivos: o seu aspecto
misterioso e a vantagem de reduzir ao mínimo a
expressão lei de ação e reação. Não há nada de
prejudicial nessa adaptação prática de uma
palavra estranha, cujo conceito se adapta
perfeitamente à expressão espírita. O prejuízo
aparece quando certas pessoas pretendem que a
palavra mantenha entre nós o seu significado
conceitual de origem, modificando o sentido do
conceito doutrinário. Segundo o Espiritismo,
ação e reação dependem da consciência. A
responsabilidade humana decorre das exigências
conscienciais e está sempre na razão direta do
grau de desenvolvimento consciencial das
criaturas. Por outro lado, esse desenvolvimento
depende das condições de liberdade e do grau de
opção de que as criaturas dispõem. Justamente
por isso o problema, que parece simples à primeira
vista, torna-se bastante complexo quando o
examinamos. (168) (itálico do original)

142
Herculano Pires tinha a opinião de que “Nada
acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e
efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução”
(169), para o Espiritismo, existe o princípio da lei de
causa e efeito. Quanto à palavra karma, não deveria
ser aplicada por nós, caso a utilizarmos no conceito
sânscrito, mas, segundo esse nobre escritor, “Não há
nada de prejudicial nessa adaptação prática de uma
palavra estranha, cujo conceito se adapta
perfeitamente à expressão espírita.”

E para citar pelo menos uma fonte espiritual,


trazemos o livro Entender Conversando, no qual
Emmanuel, através do médium Chico Xavier (1910-
2002), responde a várias questões. A que nos
interessa, é somente esta:

P – Os espíritas raramente dizem a palavra


pecado. Este não existe para a doutrina? […].
R – Quanto ao pecado, nós temos na Doutrina
Espírita a lei de causa e efeito, que é lei, como
dizem os hindus, a lei do carma. Lei essa pela
qual as nossas faltas serão reparadas por nós
mesmos. Nós criamos os nossos próprios
impedimentos. Por exemplo, se eu pratico o
suicídio nesta vida, naturalmente que na próxima

143
eu devo ressurgir num corpo com as
características de sofrimento que eu próprio terei
criado para mim. De modo que nós não vamos
dizer que não existe o conceito de pecado na
Doutrina Espírita, mas os espíritas habitualmente
não abusam desta palavra porque nós não
podemos desconhecer a misericórdia de Deus em
sua própria justiça. Se estamos ainda em uma fase
de desenvolvimento e de evolução ainda
razoavelmente imperfeita, por que é que a
perfeição divina haveria de nos punir com castigos
eternos, quando um pai humano promove sempre
meios para que o seu filho doente ou faltoso seja
amparado com o remédio ou com o socorro
psicológico?
De modo que nós não consideramos o pecado
como sendo uma afronta à bondade de Deus mas,
sim, a falta que cometermos, uma afronta feita a
nós mesmos, pois cada um de nós carrega em si a
presença Divina. (170) (itálico do original)

Sim, é notório que a palavra “carma” vem


sendo utilizada no meio espírita, o que para nós não
faz a menor diferença desde que a entendamos não
com o sentido dos hindus, mas como a aplicação da
lei de causa e efeito.

144
Conclusão

Com um trabalho minucioso de organização e


pesquisa a respeito dos comunicantes e fatos
relatados, Hércio Marcos Cintra Arantes (1937-2016),
agrupa em Retornaram Contando várias
mensagens psicografadas por Chico Xavier de
Espíritos a seus familiares. Um deles nos chamou a
atenção, porquanto, vem justamente corroborar a
existência da lei de causa e efeito.

Trata-se do caso inserido no cap. I – Três irmãos


no caminho da redenção, cujos detalhes são:

Há 23 anos, o casal Alberto e Angélica


Fortunato, atualmente residente em Ibitinga, SP,
passou por uma provação das mais difíceis: num
instante, perderam três filhos menores afogados
numa piscina.
Na época, residiam em São Paulo e foram
convidados para passarem o fim de semana na
fazenda Bela Vista, que o amigo José, japonês,
arrendava em Mogi das Cruzes.
Quando se deu o acidente, naquela fazenda, no
dia 4 de dezembro de 1961, não havia nenhum
adulto próximo da piscina; lá estavam somente três

145
filhos do casal Fortunato: Jair, com 13 anos de
idade, Osmar, com 15, José, com 16, e um
menininho, filho do anfitrião. Sabe-se que Jair,
aniversariante do dia, foi o primeiro a entrar na
piscina. Logo se afogou, e os seus dois irmãos
mergulharam para salvá-lo; debateram-se e
morreram juntos, apesar da tentativa de
salvamento do japonesinho, com uma vara de
bambu.
O choque emocional para as duas famílias foi
muito grande, pois um fim de semana feliz e festivo
transformou-se em poucos minutos, numa dolorosa
tragédia. (171)

Em 19 de fevereiro de 1982, o casal Fortunato


compareceu à reunião pública no Grupo Espírita da
Prece, em Uberaba, ocasião em que Chico Xavier
psicografa uma mensagem de José Fortunato, um
dos filhos do casal, que transcrevemos:

Querida Mãezinha Angélica e querido Papai


Alberto, peço-lhes nos abençoem.
Sou eu quem toma o lápis para as notícias.
Creio que as nossas lágrimas recíprocas já
lavaram a nossa dor; entretanto, comovo-me ao
recordar a despedida tríplice. Quando caímos nas
águas da grande piscina, o Osmar, o Jair e eu
estávamos sendo conduzidos pelos Desígnios
do Senhor a resgatar o passado que nos

146
incomodava.
[…].
Estávamos os três alarmados e infelizes no
hospital a que fomos transportados, quando duas
senhoras se destacaram dos serviços de
enfermagem para nos endereçarem a palavra…
[…].
Aquele instituto devia ser uma casa de pronto
socorro como tantas…
Entretanto, as duas senhoras se declararam
nossas avós Maria Justina e Angélica, e nos
informaram, com naturalidade e sem qualquer
inflexão de voz agressiva, que havíamos voltado
ao Lar, ao Grande Lar de nossa família na Vida
Espiritual. Os irmãos e eu choramos, como não
podia deixar de acontecer…
[…].
Dois anos passados, fomos visitados por um
amigo de nossa família que se deu a conhecer por
Miguel Pereira Landim, respeitado e admirado por
nossos familiares da Espiritualidade. Nossa avó
Maria Justina nos permitiu endereçar-lhe
perguntas e todos os três indagamos dele a
causa do sucedido em nossa ida a Mogi. Ele
sorriu e marcou o dia em que nos facultaria o
conhecimento do acontecido em suas causas
primordiais.
Voltando a nós, na ocasião prevista, conduziu-
nos os três à Matriz do Senhor Bom Jesus, em
Ibitinga. Entramos curiosos e inquietos. A igreja

147
estava repleta de militares desencarnados. Muitos
traziam as medalhas conquistadas, outros
ostentavam bandeiras. Em meu coração passou
a surgir a recordação que eu não estava
conseguindo esconder. De repente, vi-me na
farda de que não me lembrava, junto dos
irmãos igualmente transformados em homens
de guerra e o nosso olhar se voltou
inexplicavelmente para as cenas que se nos
desenrolavam diante dos olhos.
Envergonho-me de confessar, mas a
consciência não me permite recuos. Vi-me com os
dois irmãos numa batalha naval, que peço
permissão para não mencionar pelo nome, quando
nós, na condição de brasileiros, lutávamos com
os irmãos de república vizinha…
Afundávamos criaturas sem nenhuma
ligação com as ordens belicistas nas águas do
grande rio, criaturas que, em vão, nos pediam
misericórdia e vida… Replicávamos que em guerra
tudo resulta em guerra…
Foi então que o chefe Landim apontou para uma
antiga imagem de Jesus, do Senhor Bom Jesus, e
falou em voz alta que aquela figura do Cristo viera
do forte Itapura com destino à nossa cidade e que,
perante Jesus, havíamos os três resgatado uma
dívida que nos atormentava, desde muito
tempo.
Aqueles companheiros presentes passaram a
nos felicitar, explicando-nos que se haviam
transformado em servidores das legiões de Jesus
Cristo. O que choramos, num misto de alegria e

148
sofrimento, não sabemos contar.
Fique, porém, esta informação para os
queridos pais e para os irmãos queridos, a fim
de que todos saibamos que a injustiça não é de
Deus e que os nossos sofrimentos e provas se
efetuam a pedido de nós mesmos, para que a
nossa vida espiritual, a única verdadeira, se
torne mais aceitável e mais ajustada às Leis
Divinas que a todos nos regem.
Queridos pais, aqui estamos com a nossa avó
Maria Justina, que nos abençoa, e, agradecendo-
lhes por todas as consolações com que nos
fortalecem até hoje, com o carinho dos meus
irmãos presentes, rogo-lhes receber a vida e o
amor, as saudades e as melhores esperanças, do
filho que lhes pertencerá sempre diante de Deus,
José Fortunato (172)

Como nos dois casos citados, quando


transcrevemos os trechos das obras da Codificação,
tivemos a oportunidade de ver que são os próprios
Espíritos, com seus depoimentos e experiências, que
vêm corroborar a existência da lei de causa e efeito.

Esta mensagem de José Fortunato é importante


pois os elementos contidos nela provam a sua
autenticidade. Julgamos que não faz sentido algum
aceitá-la como verdadeira apenas nessa parte que

149
fala de justiça divina. Aliás, se for realizada uma
pesquisa bem ampliada se comprovará ser algo
comum em muitas mensagens de desencarnados,
que, em todas as localidades mundo afora, se
manifestam a seus parentes e amigos.

Agora, depois dessa nossa pesquisa, mais do


que nunca, temos plena certeza de que a lei de
causa e efeito é sim, um dos princípios da Doutrina
Espírita. Junto com a lei do progresso e a lei da
reencarnação forma um conjunto no qual a justiça
divina se manifesta.

Bem disse o profeta Isaías, conforme registra


este texto bíblico: “Se absolvermos o malvado, ele
nunca aprende a justiça; sobre a terra ele distorce as
coisas direitas e não vê a grandeza de Javé.” (Isaías
26,10) (173)

Caso as nossas ações não tivessem nenhuma


consequência, certamente, não iríamos evoluir. Só o
conseguimos porque passamos a compreender que
todas as nossas dores e sofrimentos são frutos de
nossos próprios atos. Daí tomamos a resolução de
não mais os cometer.

150
Encontramos esta imagem divulgada na
internet (174), que, num poema, trata exatamente da
lei de causa e efeito. Infelizmente, não há
informação sobre sua autoria:

151
Referências bibliográficas

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral. 43ª impressão. São


Paulo: Paulus, 2001.
Bíblia Shedd. 2ª edição. São Paulo: Vida Nova e Barueri
(SP): SBB, 2005.
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152
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PALHANO JR, L. Dicionário de Filosofia Espírita. Rio de
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PASTORINO, C. T. Sabedoria do Evangelho – Vol. 2. Rio
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PASTORINO, C. T. Sabedoria do Evangelho – Vol. 3. Rio
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153
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Desconhecido. Juiz de Fora (MG): Comunidade
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XAVIER, F. C. e PIRES, J. H. Na Era do Espírito. São
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XAVIER, F. C. Entender Conversando. Araras (SP): IDE,
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Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2020,
https://dicionario.priberam.org/expia
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Centro Espírita Ubiratan, O Espiritismo vem esclarecer a
todos sobre a lei de ação e reação, disponível em:
https://i.pinimg.com/originals/b5/3a/8f/b53a8f85f6e13f
3719bfd93f17843d7e.jpg. Acesso em: 25 abr. 2021.
Imagem “Causa e efeito”: www.luzdoespiritismo.com.
Acesso em: 25 abr. 2021.

154
Dados biográficos do autor

Paulo da Silva Neto Sobrinho é


natural de Guanhães, MG. Formado em
Ciências Contábeis e Administração de
Empresas pela Universidade Católica
(PUC-MG). Aposentou-se como Fiscal
de Tributos pela Secretaria de Estado
da Fazenda de Minas Gerais. Ingressou
no movimento Espírita em Julho/87.
Participa do GAE – Grupo de Apologética Espírita
(https://apologiaespirita.com.br/), desde o ano de 2004,
quando de sua fundação.
Escreveu vários artigos que foram publicados em seu
site Paulo Neto (www.paulosnetos.net) e alguns outros
sites Espíritas na Web.
Livros publicados por Editoras:
a) impressos: 1) A Bíblia à Moda da Casa; 2) Alma
dos Animais: Estágio Anterior da Alma Humana?; 3)
Espiritismo, Princípios, Práticas e Provas; 4) Os Espíritos
Comunicam-se na Igreja Católica; 5) As Colônias
Espirituais e a Codificação; 6) Kardec & Chico: 2
Missionários. Vol. I; 7) Espiritismo e Aborto; e 8) Chico
Xavier: uma alma feminina.
b) digitais: 1) Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. II,
2) Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. III; 3) Racismo em
Kardec?; 4) Espírito de Verdade, Quem Seria Ele?; 5) A
Reencarnação Tá na Bíblia; 6) Manifestações de Espírito

155
de Pessoa Viva (Em Que Condições Elas Acontecem); 7)
Homossexualidade, Kardec Já Falava Sobre Isso; 8) Os
Nomes dos Títulos dos Evangelhos Designam os Seus
Autores?; 9) Apocalipse: Autoria, Advento e a
Identificação da Besta; 10) Chico Xavier e Francisco de
Assis Seriam o Mesmo Espírito?; 11) A Mulher na Bíblia;
12) Todos Nós Somos Médiuns?; 13) Os Seres do Invisível
e as Provas Ainda Recusadas Pelos Cientistas; 14) O
Perispírito e as Polêmicas a Seu Respeito; 15) O Fim dos
Tempos Está Próximo?; 16) Obsessão, Processo de Cura
de Casos Graves; 17) Umbral, Há Base Doutrinária Para
Sustentá-lo?; 18) A Aura e os Chakras no Espiritismo; 19)
Os Quatro Evangelhos, Obra Publicada por Roustaing,
Seria a Revelação da Revelação?; 20) Espiritismo:
Religião Sem Dúvida; 21) Allan Kardec e Suas
Reencarnações; 22) Médiuns São Somente os Que
Sentem a Influência dos Espíritos?; 23) EQM: Prova da
Sobrevivência da Alma; 24) A Perturbação Durante a Vida
Intrauterina; 25) Os Animais: Percepções, Manifestações e
Evolução; 26) Reencarnação e as Pesquisas Científicas;
27) Reuniões de Desobsessão (Momento de Acolher
Espíritos em Desarmonia); 28) Haveria Fetos Sem
Espírito?; 29) Trindade: O Mistério Imposto Por Um Leigo e
Anuído Pelos Teólogos; e 30) Herculano Pires diante da
Revista Espírita.

Belo Horizonte, MG.


e-mail: [email protected]

156
1 Espiritismo Dialético: é o “Prefácio da obra Dialética
e Metapsíquica, do filósofo portenho Humberto Mariotti,
originalmente publicada pela Édipo – Edições Populares
Ltda. em fevereiro de 1951. Republicado em livro por A
Fagulha, de Campinas-SP, editora do Movimento
Universitário Espírita (MUE), em 1971.”
2 UEM – O Evangelho, p. 08.
3 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 77.
4 PALHANO JR, Dicionário de Filosofia Espírita, p. 59.
5 ARGOLLO, Espiritismo: O Consolador Prometido, p. 84.
6 PASTORINO, Sabedoria do Evangelho, vol. 2, p. 60-61.
7 Bíblia Shedd, p. 1357.
8 PASTORINO, Sabedoria do Evangelho, vol. 3, p. 84.
9 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 438.
10 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 24.
11 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 96.
12 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 103.
13 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 119-120.
14 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 130.
15 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 150.
16 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 131.
17 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 156.
18 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 166.
19 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 166.
20 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 171.
21 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 174.
22 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 175.
23 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 186-187.
24 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 195.

157
25 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 196.
26 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 202.
27 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 205-206.
28 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 266.
29 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 290.
30 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 290.
31 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 297.
32 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 326.
33 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 331.
34 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 351.
35 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 362.
36 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 364-365.
37 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 399.
38 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 407-408.
39 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 411.
40 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 415.
41 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p.419.
42 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 419-420.
43 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 423.
44 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 428.
45 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 428.
46 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 432.
47 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 435.
48 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 452.
49 KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 164.
50 KARDEC, Revista Espírita 1858, p. 301.
51 KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 5.
52 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 135.

158
53 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 155.
54 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 186.
55 Bíblia Shedd, p. 1357.
56 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 199.
57 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 202-204.
58 KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 216-217.
59 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 5.
60 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 174.
61 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 293.
62 KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 342.
63 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 230.
64 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 272-273.
65 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 288-289.
66 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 291.
67 KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 304.
68 KARDEC, Revista Espírita 1861, p. 53-54.
69 KARDEC, Revista Espírita 1861, p.67.
70 KARDEC, Revista Espírita 1861, p. 75.
71 KARDEC, Revista Espírita 1861, p. 312.
72 KARDEC, Revista Espírita 1861, p. 343.
73 KARDEC, Iniciação Espírita: Livros de Introdução à
Teoria e Prática da Doutrina, p. 24.
74 KARDEC, Iniciação Espírita: Livros de Introdução à
Teoria e Prática da Doutrina, p. 27.
75 KARDEC, Iniciação Espírita: Livros de Introdução à
Teoria e Prática da Doutrina, p. 31.
76 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 167.
77 KARDEC, Revista Espírita 1863, p. 271-273.
78 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 57.

159
79 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 74-81.
80 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 94.
81 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 100.
82 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 123-
124.
83 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 127.
84 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 188.
85 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 298.
86 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 304.
87 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 322.
88 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 347.
89 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 350.
90 KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 356.
91 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 219-220.
92 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 239-240.
93 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 284-285.
94 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 286.
95 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 315-316.
96 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 388.
97 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 399.
98 KARDEC, Revista Espírita 1864, p. 347
99 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 14.
100 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 20-21.
101 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 228.
102 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 283-284.
103 KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 285.
104 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 64.
105 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 64-65.

160
106 Nota da transcrição (N.T.): Na 4ª edição, aqui se inicia o
capítulo V. (N.T.) (= nota do tradutor)
107 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 93.
108 N.T.: Na 4ª edição, este capítulo é o no VI; na 1ª edição
é o no VII, possuindo apenas o título “Doutrina das
Penas Eternas” e, abaixo dele, o no I. Os subtítulos,
portanto, são da 4ª edição. (N.T.)
109 N.T.: A 1ª edição não traz este subtítulo, apresenta
somente o no II. (N.T.)
110 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 105.
111 N.T.: Este capítulo, “As Penas Futuras Segundo o
Espiritismo”, que é o VIII da 1ª edição, corresponde ao
VII na 4ª edição na qual aparece com os subtítulos aqui
colocados. (N.T.)
112 N.T.: Este título pertence à 4ª edição. (N.T.)
113 N.T.: Estes três parágrafos em Tahoma pertencem à 4ª
edição. (N.T.).
114 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 124.
115 N.T.: A alma que peca é a que morre; o filho não
carregará a iniquidade do pai, e o pai não carregará a
iniquidade do filho; a justiça do justo estará sobre ele e
a impiedade do ímpio estará sobre ele. (Ezequiel, XVIII:
20.) (N.A.)
116 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 126.
117 Ver no cap. VI, “O Purgatório”, o item 3 e os seguintes;
e na 2a parte, o cap. VIII, “Exemplos de expiações
terrestres.” Ver também em O Evangelho Segundo o
Espiritismo, o cap. V, “Bem-aventurados os aflitos.”
(N.A.) • Este parágrafo e a nota de rodapé pertencem à
4a edição. (N.T.)
118 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 128-129.
119 N.T.: Este trecho em Tahoma pertence à 4a edição.
(N.T.)
120 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 129-130.

161
121 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 115.
122 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 230.
123 KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 251.
124 N.T.: Mateus, VIII: 12. (N.T.)
125 N.T.: Idiota: aquele que sofre de idiotia, atraso
intelectual profundo, caracterizado por ausência de
linguagem e nível mental inferior ao da idade normal
de três anos e muitas vezes acompanhado de
malformações físicas. (N.T. segundo o Novo Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa.)
126 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 323-325.
127 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 332.
128 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 334.
129 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 362.
130 N.T.: escarcela: grande saco ou bolsa de couro que se
usava, outrora, presa à cintura. (N.T.)
131 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 420-421.
132 N.T.: Lei de talião: remonta à legislação mosaica,
trata-se de uma pena pela qual a punição do delito era
fazer o delinquente passar pelo mesmo mal que havia
praticado. (N.T.)
133 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 427.
134 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 435.
135 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 436-437.
136 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 437-438.
137 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 438.
138 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 439.
139 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 440.
140 KARDEC, O Céu e o Inferno (PDF), p. 442.
141 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 144.
142 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 211.

162
143 N.T.: Este artigo é extraído de uma obra nova que
colocamos neste momento no prelo e que aparecerá
antes do fim deste ano. Uma razão de oportunidade
nos levou a publicar por antecipação este extrato na
Revista; apesar de sua extensão, acreditamos dever
inseri-lo em uma só vez para não interromper o
encadeamento das ideias. A obra inteira será do
formato e do volume de O Céu e o Inferno. (KARDEC,
Revista Espírita 1867, p. 257)
144 Na verdade, esse artigo passou a ser o Cap. I – Caráter
da Revelação Espírita de A Gênese. (KARDEC, Revista
Espírita 1867, p. 257)
145 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 268.
146 KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 271.
147 KARDEC, A Gênese, p. 40-41.
148 KARDEC, A Gênese, p. 84.
149 KARDEC, A Gênese, p. 253.
150 KARDEC, A Gênese, p. 339-340.
151 KARDEC, A Gênese, p. 343-344.
152 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 30.
153 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 73.
154 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 75-76.
155 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 144.
156 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 158.
157 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 184.
158 KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 307-308.
159 KARDEC, Obras Póstumas, p. 240-241.
160 KARDEC, Obras Póstumas, p. 427.
161 DENIS, Cristianismo e Espiritismo, p. 220.
162 DENIS, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, p. 294.
163 DELANNE, Reencarnação, p. 169.

163
164 DELANNE, Reencarnação, p. 305.
165 DELANNE, Reencarnação, p. 306.
166 DELANNE, Reencarnação, p. 309.
167 PASTORINO, Minutos de Sabedoria, p. 4.
168 PIRES, Curso Dinâmico do Espiritismo: o Grande
Desconhecido, p. 107.
169 XAVIER e PIRES, Na Era do Espírito, p. 31.
170 XAVIER, Entender Conversando, p. 26-27.
171 ARANTES, Retornaram Contando, p. 4.
172 ARANTES, Retornaram Contando, p. 5-8.
173 Bíblia Sagrada – Pastoral, p. 970.
174 Centro Espírita Ubiratan, O Espiritismo vem esclarecer
a todos sobre a lei de ação e reação, disponível em:
https://i.pinimg.com/originals/b5/3a/8f/b53a8f85f6e13f
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