Tema 2 - O Deus de Jesus Cristo - ADAPTADO

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Arquidiocese de Belém

Paróquia Imaculada Conceição


Pastoral Catequética

SER
CATEQUISTA
Curso de Formação de Catequistas

TEXTO DO FORMANDO

Belém
Agosto de 2021
Tema 2: O Deus de Jesus Cristo

Introdução

Depois de termos refletido no Tema 1 sobre a identidade do catequista,


estamos com certeza dispostos a uma renovação contínua do nosso sim à
tarefa catequética, que nos é confiada, na Igreja.

Neste Tema 2, iniciamos o encontro com o mistério de Deus, revelado


no seu Filho Jesus Cristo, que somos chamados a aprofundar e a transmitir.
Chamado a dar testemunho da Palavra, o catequista também “deve ser mestre
que ensina a fé”, e assim é-lhe indispensável “um conhecimento orgânico da
mensagem cristã, articulada a partir do mistério central da fé, que é Jesus
Cristo” (DGC 240).

O catequista deverá saber identificar o essencial da fé sem o confundir


com os elementos secundários, pois “todas as verdades reveladas procedem
da mesma fonte divina e são acreditadas com a mesma fé, mas algumas delas
são mais importantes por exprimir mais diretamente o coração do Evangelho.
Neste núcleo fundamental, o que sobressai é a beleza do amor salvífico de
Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado” (EG 36).
2. 1. Jesus revela-nos o Pai
1. EXPERIÊNCIA DE VIDA

1.1 Que imagem tenho de Deus?

- Se tivesse de representar Deus, como o faria? Experimento fazê-lo…

- Eu me Interrogo: como se terá formado em mim esta imagem de Deus?

- Em voz alta, compartilho com os outros como cheguei a esta formulação e o que
ela significa para mim. 3 pessoas

1.3. Deus revelou-se de modo especial a um povo


Deus revelou-se de modo especial a um povo, ao povo hebreu, o povo escolhido
para receber a Palavra de Deus. Ao longo dos séculos este povo foi tomando consciência
de um Deus único, um Deus vivo, Criador e Todo-Poderoso, mas também clemente e
compassivo.
Os textos de Isaías e Oseias propostos como reflexão apontam para uma conceção
de Deus que vai mais longe e nos coloca diante d’Ele numa relação de filiação, com tudo o
que implica realmente ser filho(a), uma relação constitutiva do nosso próprio ser.

- Leio:
Is 49, 15-16a e Os 11,1.3-4

- A partir da minha experiência de ser filho/a, mãe/pai, o que me dizem estes textos?
- O que me dizem estes textos sobre a imagem de Deus no Antigo Testamento?
- A imagem de Deus revelada na Bíblia altera a minha representação de Deus? Em que
medida?

2. ENCONTRO COM A PALAVRA

2.1. O Deus de Jesus Cristo

Os discípulos abandonaram tudo e seguiram Jesus, como vimos no tema anterior,


mas percorreram com Ele um longo caminho durante o qual foram conhecendo cada vez
melhor o Mestre que os cativara e o Deus que Ele manifestava. Nesse caminho de vida
partilhada no dia a dia e de intimidade cada vez maior começaram a entender quem é
realmente Deus e qual a sua profunda relação conosco, com cada um e cada uma de nós.

Leitura solene de Mt 11, 25-30


Leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus:
Naquela ocasião, Jesus tomou a palavra e disse:
“Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios
e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado.
Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém
conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que, Eu hei de aliviar-vos.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração
e encontrareis descanso para o vosso espírito.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”
Palavra de Salvação.
R.: Glória a Vós, Senhor.

Silêncio/Interiorização

2.2. Comentário

Este texto é uma oração de Jesus dirigida a Deus, seu Pai. Deus escolhe os simples,
os pequenos, os pecadores, os marginalizados, porque é um Deus de amor e de
misericórdia. Jesus bendiz o Pai, porque Ele dá a conhecer aos simples estas coisas, isto
é, os mistérios do Reino de Deus, que se centram na Sua própria pessoa, manifestando-o
como o Filho de Deus. Jesus não é apenas um profeta ou um homem justo, mas o Filho,
aquele que conhece intimamente o Pai, o único que nos pode revelar o rosto trinitário de
Deus.
Como é o Deus revelado em Jesus Cristo? Penso numa só palavra que me
pareça responder a esta questão.

Leio o texto de 1 Jo 1, 1-4 e confronto com ele a minha resposta.

2.1. Mistério Pascal e encontro com O ressuscitado

1. EXPERIÊNCIA DE VIDA

1.1. Experiências de fracasso e desilusão

Penso durante os momentos na experiência que tenho destas realidades… Já vivi


situações de fracasso, que me levaram a sentir a tristeza de não conseguir atingir os
objetivos que me propunha? Já me senti incapaz de resolver algo de importante, de
ultrapassar uma dificuldade? Já me deixei abater por uma desilusão?

- Partilho as minhas reflexões com uma das pessoas que está mais próxima de mim.

1.2. A realidade do pecado na nossa vida

- A pior sensação de fracasso é possivelmente a de compreendermos como erramos e


como deixamos facilmente o pecado entrar na nossa vida. S. Paulo descreve-a na sua
Carta aos Romanos:

“Não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico
(…) Que homem miserável sou eu! Quem me há de libertar deste corpo que pertence
à morte?” (Rm 7, 19.24).

- Continuo a partilhar com um ou dois colegas as reflexões suscitadas pelo texto de S.


Paulo e pelas nossas experiências pessoais.
2. ENCONTRO COM A PALAVRA

2.1. A vida de Jesus – fracasso ou sucesso?

O anúncio do Reino feito por Jesus conheceu, no início, um sucesso espetacular. As


multidões seguiam-no porque as suas palavras transmitiam esperança e vinham ao
encontro das aspirações das pessoas: através das palavras e dos gestos de Jesus, os
pobres, os pequenos, os marginalizados sentiam que Deus não os excluía nem rejeitava e
que – ao contrário do que diziam os “chefes” do Povo – todos tinham lugar à mesa do
banquete do “Reino”. Além disso, os gestos de perdão e de misericórdia que Jesus fazia, a
sua atenção aos excluídos, a sua afirmação de que a pessoa humana é o valor supremo,
impressionavam toda a gente.
As autoridades começaram a inquietar-se com o entusiasmo criado à volta de Jesus.
Não espanta, portanto, que elas tivessem, desde muito cedo, decidido eliminar o profeta
incómodo. O projeto do “Reino” era um projeto que punha em causa a ordem estabelecida
e que, na perspetiva das autoridades judaicas, tinha de ser travado.
Nós sabemos que essas autoridades concretizaram a sua intenção, desencadeando
a sucessão de acontecimentos que havia de conduzir à prisão, condenação e morte de
Jesus.
Com certeza os discípulos experimentaram, face a esses acontecimentos, além do
desgosto e da dor, a mais terrível sensação de fracasso. Vamos tentar pôr-nos no lugar
deles.

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas:

Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús,
que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que
acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e
pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer.
Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?»
Pararam entristecidos. E um deles, chamado Cléofas, respondeu:
“Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias!”
Perguntou-lhes Ele: “Que foi?” Responderam-lhe: “O que se refere a Jesus de Nazaré,
profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como os sumos
sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado.
Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o
terceiro dia desde que se deram estas coisas.
É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque
foram ao sepulcro de madrugada e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes
apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia.
Então, alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres
tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.” (Lc 24, 13-24)
Pausa/Interiorização

Consegui realmente pôr-me no lugar destes discípulos? O Mestre, em quem confiava


plenamente, era para mim um “profeta poderoso em obras e palavras”. Mas foi preso
condenado, morto com a mais desonrosa das mortes… Ele tinha dito que havia de voltar a
viver, mas este é já o terceiro dia desde a sua morte… O seu corpo não está no sepulcro,
mas o que pode isso significar?

2.2. A vitória definitiva

Continuamos a leitura:
Jesus disse-lhes, então: “Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo
quanto os profetas anunciaram!
Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?”
E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as
Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito.
Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Os outros,
porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica conosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no
ocaso.” Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a
bênção e, depois de o partir, entregou-lhes.
Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua
presença. Disseram, então, um ao outro: “Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava
pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 25-32)

Pausa/Interiorização

À luz da Palavra de Deus as coisas ganham outro sentido, vejo-as de outra maneira…
E é uma Palavra que “faz arder o coração”. Depois descubro a própria Palavra Incarnada,
o Filho de Deus presente no meio de nós e não quero afastar-me nunca da sua presença.

2.3. Conosco para sempre

Continuamos a leitura:

Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze


e os seus companheiros, que lhes disseram: “Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu
a Simão!”
E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a
conhecer, ao partir o pão. Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-
lhes: “A paz esteja convosco!” Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver
um espírito. Disse-lhes, então: “Por que estais perturbados e porque surgem tais dúvidas
nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me
e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.”
Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como, na sua alegria, não queriam acreditar
de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: “Tendes aí alguma coisa que se coma?”
Deram-lhe um bocado de peixe assado; e, tomando-o, comeu diante deles. (Lc 24, 33-42).

Silêncio/Interiorização
O encontro com o Senhor levou os discípulos a esquecer o cansaço de um dia de
caminhada, o abatimento em que se encontravam antes, para correrem a Jerusalém a fim
de partilharem com os outros a alegria imensa desse encontro. O Senhor está vivo! O
Senhor continua com eles!

No fim deste texto, quando Jesus aparece diante dos discípulos reunidos, tem de
insistir, mostrando-lhes as marcas da crucifixão, para ultrapassar as suas dúvidas. Tinham-
no visto morto, sepultado… Como podia agora estar vivo à frente deles?

3. EXPRESSÃO E VIVÊNCIA DA FÉ

Acreditamos em Jesus ressuscitado

A ressurreição de Jesus “não foi um regresso à vida terrena, como no caso das
ressurreições que Ele tinha realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e
Lázaro (…). A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. No seu corpo
ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do
espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa
da vida divina no estado da sua glória” (CCE 646).

Os relatos das aparições de Jesus ressuscitado mostram-nos, ainda, que esses


encontros, experimentados em diversas circunstâncias de tempo e lugar, permitiram aos
discípulos fazer um caminho pessoal e comunitário que os conduziu da dúvida inicial até
ao reconhecimento pleno da presença de Cristo vivo e atuante nas suas vidas.

Também nós, ao experimentar a presença ao nosso lado de Jesus vivo e


ressuscitado, percebemos que faz sentido lutar pela verdade, pela justiça e pela paz, contra
os mecanismos de opressão, de violência e de injustiça que desfeiam o mundo e que
roubam a Vida a tantos homens e mulheres nossos irmãos… Faz sentido assumirmos o
convite de Jesus para nos tornarmos testemunhas e construtores do Reino de Deus.

Neste subtema pretendemos:

• Professar a fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado, fonte da esperança;


• Experimentar a alegria do encontro com o ressuscitado.
2. 3. O Espírito Santo, Senhor que dá a vida

1. EXPERIÊNCIA DE VIDA

1.1. As tentações dos evangelizadores


Leio o texto que me é indicado. Penso nas tentações que também sinto como
evangelizador (a)… Individualmente interrogo-me: Em que medida as tentações de que o
Papa fala, presentes na Igreja de hoje, estão também presentes na minha comunidade, no
meu grupo de catequistas, na minha pastoral? Também afetam a minha vida de catequista?
Como procuramos vencê-las?

Da Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” – Papa Francisco

“Hoje se nota em muitos agentes pastorais, mesmo pessoas consagradas, uma


preocupação exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia e relaxamento, que leva a
viver os próprios deveres como mero apêndice da vida, como se não fizessem parte da
própria identidade. Ao mesmo tempo, a vida espiritual confunde-se com alguns momentos
religiosos que proporcionam algum alívio, mas não alimentam o encontro com os outros,
o compromisso no mundo, a paixão pela evangelização. Assim, é possível notar em muitos
agentes evangelizadores – não obstante rezem – uma acentuação do individualismo,
uma crise de identidade e um declínio do fervor. São três males que se alimentam entre si.”
(nº 78)
“Nos agentes pastorais, independentemente do estilo espiritual ou da linha de
pensamento que possam ter, desenvolve-se um relativismo ainda mais perigoso que o
doutrinal. Tem a ver com as opções mais profundas e sinceras que determinam uma forma
de vida concreta. Este relativismo prático é agir como se Deus não existisse, decidir como
se os pobres não existissem, sonhar como se os outros não existissem, trabalhar como se
aqueles que não receberam o anúncio não existissem. É impressionante como até aqueles
que aparentemente dispõem de sólidas convicções doutrinais e espirituais acabam, muitas
vezes, por cair num estilo de vida que os leva a agarrarem-se a seguranças econômicas ou
a espaços de poder e de glória humana que se buscam por qualquer meio, em vez de dar
a vida pelos outros na missão. Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário!” (nº 80)
“O problema não está sempre no excesso de atividades, mas sobretudo nas
atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que
impregne a ação e a torne desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é
razoável, e às vezes façam adoecer. Não se trata duma fadiga feliz, mas tensa, gravosa,
desagradável e, em definitivo, não assumida. (…) A ânsia atual de chegar a resultados
imediatos faz com que os agentes pastorais não tolerem facilmente o que signifique
alguma contradição, um aparente fracasso, uma crítica, uma cruz.” (nº 82).

1.2. Como posso vencer estas tentações?


Depois da síntese feita pelo formador, registro as atitudes que, segundo o Papa
Francisco, permitem vencer as tentações.

DIGO SIM ÀS NOVAS RELAÇÕES GERADAS POR JESUS CRISTO!


Dizer sim às novas relações geradas por Cristo, aceitando os outros, é abrir-se à
ação do Espírito que nos faz proclamar a verdade sobre Deus e sobre nós (cf. EG 87-92).

2. ENCONTRO COM A PALAVRA


2.1. Como é que os apóstolos venceram as suas fragilidades?
No tema anterior, refletimos sobre o Mistério Pascal: Morte e Ressurreição de Jesus.
Jesus ressuscitado confiou aos seus discípulos a missão de continuarem a obra que Ele
tinha iniciado… Estarão os discípulos à altura de uma tarefa tão importante e decisiva?
Esses homens cheios de limites, fragilidades e tentações que tantas vezes manifestaram
uma dificuldade extrema em entender Jesus e o seu projeto, serão capazes de acolher e
de levar ao mundo a Boa Nova do Reino? Esses homens sempre prontos a fugir e a
esconder-se quando apareciam as dificuldades e oposições, serão capazes de se
comprometer, sem hesitação, com a construção do Reino?3
Como é que a Palavra de Deus nos responde a estas questões?
Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas. Tendo sido
elevado pelo poder de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou-
o como vedes e ouvis.

Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como
Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado. (At 2, 32-33.36)

Silêncio

Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-
de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. E vós também haveis de
dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio. (Jo 15, 26-27)

Silêncio
Registro as reflexões suscitadas por estes textos:
Quando se aproximou o tempo de concluir a sua missão na terra e de partir para o
Pai, Jesus prometeu aos discípulos que iam receber o Espírito Santo. Em hebraico,
“Espírito” diz-se “Ruah”. A palavra pode traduzir-se como “vento” (essa misteriosa
deslocação do ar que, por vezes, é violenta e derruba os obstáculos à sua passagem, e
outras vezes se insinua como murmúrio suave e acariciante; que por vezes, com o seu
sopro tórrido seca a terra e a esteriliza, e outras vezes derrama sobre a terra a água que
fecunda e faz germinar a vida) ou como “respiração” (o “hálito” da vida, suave, frágil e
vacilante, mas que sinaliza e expressa a vida que anima o homem). Quando se fala no
“ruah Elohim” (o “Espírito de Deus”), fala-se desse “sopro” de Deus, desse “hálito” de Deus,
dessa “força” de Deus que dá vida ao homem (cf. Gn 2,7), que o santifica, que o liberta,
que o transforma e o capacita para a missão e para ser, no mundo, um sinal de Deus.
A palavra grega “paráklêtos”, aqui utilizada por João, pertence ao vocabulário jurídico
e designa aquele que ajuda ou defende o acusado. Pode, portanto, traduzir-se como
“advogado”, “auxiliar”, “defensor”. A partir daqui, pode deduzir-se, também, quer o sentido
de “consolador”, quer o sentido de “intercessor”. Esse “Paráclito” que Jesus vai enviar é o
Espírito Santo, apresentado como o “Espírito da Verdade”.
Enquanto esteve com os discípulos, Jesus ensinou-os, protegeu-os, defendeu-os;
mas, a partir de agora, será o Espírito que ensinará e cuidará da comunidade de Jesus.

2.2. O Espírito Santo, dom do Pai e do Filho

O Espírito que Jesus promete e que se manifesta no dia de Pentecostes é o Espírito


Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, dom do Pai e do Filho, Deus como o Pai e
o Filho e com Eles adorado e glorificado. É o Espírito que vem trazer aos apóstolos e às
primeiras comunidades cristãs a fortaleza necessária para viverem segundo o Evangelho e
darem testemunho da sua fé.

3. EXPRESSÃO E VIVÊNCIA DA FÉ
3.1. O Espírito Santo na nossa vida

A nossa fortaleza também vem do Espírito Santo. O Espírito do Pai e do Filho, que
Jesus enviou aos apóstolos, continua a agir no mundo e nos corações daqueles que o
procuram. Somos batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e é a força do
Espírito que nos permite seguir pelos caminhos desta vida na fidelidade à vontade do
Senhor.
Como catequistas, temos consciência de que sozinhos nunca poderíamos estar à
altura da nossa missão.

3.2. O primeiro agente da catequese é o Espírito Santo


Na Exortação “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco fala de Evangelizadores
com Espírito, dizendo: Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que se
abrem sem medo à ação do Espírito Santo. E o Papa explica que, vividas com o Espírito,
as tarefas deixam de ser pesadas, desgastantes, e passam a ser realizadas com alegria,
com coragem, até com ousadia. Em suma, uma evangelização com espírito é uma
evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora (cf. EG
259.261). Portanto, é Ele que nos envia a anunciar o Evangelho, a dar testemunho da nossa
fé.
Invocamos o Espírito Santo, pedindo-lhe a sua força para nós e para aqueles que
nos estão confiados:
Vinde Espírito Santo, “renovai” toda a Igreja. Vinde Espírito Santo, “sacudi a Igreja,
impelindo-a numa saída para fora de si mesma a fim de evangelizar todos os povos”.
Amem. (Cf. EG 261)

Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do
Vosso Amor.

Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.

Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos Vossos fiéis com as luzes do
Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo este mesmo
Espírito e gozemos sempre de Sua consolação.

Por Cristo Nosso Senhor.

Amem.

Neste subtema pretendemos:


• Aprofundar a fé no Espírito Santo;
• Reconhecer que o Pai e o Filho nos dão o Espírito Santo;
• Descobrir que o Espírito Santo nos envia em missão.
2.4. A Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus

1. ENCONTRO COM A PALAVRA


1.1. A primeira comunidade cristã

Leitura dos Atos dos Apóstolos


Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às
orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor
dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum.
Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as
necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o
templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de
coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava,
todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação. (At 2, 42-47)

Silêncio/Interiorização

A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma.


Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande
poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande
graça operava em todos eles. Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que
possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos
pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse.
(At 4, 32-35)

Silêncio/Interiorização

Em dupla, vou refletir sobre um destes textos. Fazemos o elenco das características
indicadas na primeira comunidade cristã e procuramos confrontá-las com as nossas
comunidades paroquiais. Quais são as semelhanças e as diferenças que encontramos?

2.2. Partilha dos Trabalhos de Dupla


Registro os principais aspectos debatidos:

A Igreja “é o Reino de Cristo já presente em mistério” (LG 3 in CCE 763). Como fruto
da ressurreição de Cristo e da ação do Espírito Santo nasce uma nova comunidade,
formada por aqueles que escutaram a proposta de Cristo e lhe responderam positivamente.
A essa comunidade foi dado o nome de “Igreja”. A palavra vem do grego ekklesia, que
designava, no mundo grego profano, a assembleia do povo. Os tradutores da Bíblia em
grego utilizaram a palavra em sentido religioso, para designar uma assembleia reunida com
um objetivo religioso (em Dt 23 a palavra ekklesia é repetidamente usada para designar a
“assembleia do Senhor”; e, no Sl 22,26 designa novamente a assembleia do Povo de Deus
que presta culto ao Senhor.

A comunidade do Povo de Deus do Antigo Testamento “prefigura” a Igreja de Jesus.


A Igreja nasce a partir da ação de Jesus. Jesus veio propor aos homens uma realidade
nova a que Ele chamava “Reino de Deus”. “Convertei-vos; o Reino dos céus está a chegar”
(Mt 4,17) – é assim que começa a pregação de Jesus. Quem aceita a proposta de Jesus,
sabe que tem de mudar o seu coração e a sua vida (“convertei-vos”), e passar a conduzir
a sua existência pelos valores do Reino.

Nós somos hoje a Igreja de Cristo, o Reino proclamado e iniciado pelo Senhor,
assistido pelo Espírito ao longo dos séculos, a comunidade daqueles que acreditam no
Deus de Jesus Cristo, que se sabem filhos do Pai, salvos pela vida, morte e ressurreição
do Filho, iluminados e fortalecidos pelo Espírito.

Viver em Igreja é continuar a missão do Filho na terra, pondo em prática o


mandamento do amor, através de todas as nossas fragilidades, acreditando que podemos
vencê-las com a força do Espírito. Jesus fundou a Igreja para que ela esteja ao serviço do
Reino de Deus. “Do mundo para o mundo, ao serviço do Reino” (E. Alberich).
3. EXPRESSÃO E VIVÊNCIA DA FÉ

A catequese é uma missão da Igreja

Jesus enviou os apóstolos a pregar o Evangelho por todo o mundo. A Igreja do nosso
tempo continua a assegurar essa missão e a catequese é fundamental para a realizar.
Em cada paróquia é a Igreja, concretizada na comunidade paroquial, presidida pelo
seu pároco, que continua este anúncio. Como catequistas, estamos ao serviço da
proclamação do Evangelho na nossa comunidade, com ela e em nome dela.

Celebração: Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja


Formador – Reunidos na presença do Senhor, vamos recordar o caminho que fizemos até
agora.

Voz 1 – “Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai,
como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
(Mt 11, 27)
Voz 2 – Jesus não é apenas um profeta ou um homem justo, mas o Filho, aquele que
conhece intimamente o Pai, o único que nos pode revelar o rosto trinitário de Deus.
Voz 3 – Através do Filho que connosco vive e caminha, tomamos consciência de que o
Deus que se revela em Jesus Cristo está muito próximo de nós, de que só podemos
encontrar a verdadeira alegria unidos plenamente ao Pai, como irmãos em Jesus, seu Filho.
Voz 4 – Jesus disse-lhes, então: “Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para
crer em tudo E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-
lhes, em todas as Escrituras, tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o
Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?” (Lc 24, 25-26).
Voz 5 – No seu corpo ressuscitado, Jesus passa do estado de morte a uma outra vida, para
além do tempo e do espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito
Santo; participa da vida divina no estado da sua glória”.
Voz 6 – Também nós, ao experimentar a presença ao nosso lado de Jesus vivo e
ressuscitado, compreendemos todo o sentido que faz assumirmos o seu convite para nos
tornarmos testemunhas e construtores do Reino de Deus.
Voz 7 – O Espírito que Jesus promete e que se manifesta no dia de Pentecostes é o Espírito
Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, dom do Pai e do Filho, Deus como o Pai e
o Filho e com Eles adorado e glorificado.
Voz 8 – É o Espírito que vem trazer aos apóstolos e às primeiras comunidades cristãs a
fortaleza necessária para viverem segundo o Evangelho e darem testemunho da sua fé.

Formador – Uma evangelização com espírito é uma evangelização com o Espírito Santo,
já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora (cf. EG 261).
Voz 9 – Portanto, é Ele que nos envia a anunciar o Evangelho, a dar testemunho da nossa
fé.
Todos – Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o
fogo do Vosso Amor. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis
a face da terra.
Voz 10 – Nós somos hoje a Igreja de Cristo. Viver em Igreja é continuar a missão do Filho
na terra, pondo em prática o mandamento do amor, através de todas as nossas fragilidades,
acreditando que podemos vencê-las com a força do Espírito.

Formador – Recordando esta nossa caminhada, cada uma e cada um de nós vai levar
consigo um símbolo que lhe recorde que todos somos pedras desta construção, da Igreja
fundada por Jesus Cristo.

Creio em Deus-Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra e em Jesus Cristo seu único
filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem
Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão
dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai
todo poderoso de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na
Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, Na remissão dos pecados, na ressurreição
da carne, na vida eterna. Ámen.

Neste subtema pretendemos:


• Aprofundar os traços essenciais da vida em Igreja;
• Comprometer-se, como catequista, na vida da comunidade cristã;

• Valorizar a dimensão eclesial do ministério de catequista.

O que descobrimos neste Tema encontra-se sintetizado nesta celebração.

Para aprofundar:
- Leio com atenção os textos que me são propostos em anexo e procuro sintetizar o que
descobri sobre o mistério da Santíssima Trindade.
- Leio e medito Jo 14, 25-26 e Jo 17, 20-24 e aprofundo a grandeza do mistério que Jesus
nos quis revelar, dando graças por poder entrar assim na intimidade de um Deus Uno e
Trino.
1. DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

CREIO EM UM SÓ DEUS
200. É com estas palavras que começa o Símbolo Niceno-Constantinopolitano. A confissão
da unicidade de Deus, que radica na Revelação divina da Antiga Aliança, é inseparável da
confissão da existência de Deus e tão fundamental como ela. Deus é único; não há senão
um só Deus: “A fé cristã crê e professa que há um só Deus, por natureza, por substância e
por essência”.
201. A Israel, seu povo eleito, Deus revelou-Se como sendo único: “Escuta, Israel! O
Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu
coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5). Por meio dos profetas,
Deus faz apelo a Israel e a todas as nações para que se voltem para Ele, o Único: «Voltai-
vos para Mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque Eu sou Deus e não há
outro [...] Diante de Mim se hão de dobrar todos os joelhos, em Meu nome hão de jurar
todas as línguas. E dirão: "Só no Senhor existem a justiça e o poder"» (Is 45, 22-24).
203. Deus revelou-Se ao seu povo Israel, dando-lhe a conhecer o seu nome. O nome
exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Deus tem um nome.
Não é uma força anónima. Dizer o seu nome é dar-Se a conhecer aos outros; é, de certo
modo, entregar-Se a Si próprio, tornando-Se acessível, capaz de ser conhecido mais
intimamente e de ser invocado pessoalmente.
204. Deus revelou-Se progressivamente e sob diversos nomes ao seu povo; mas foi a
revelação do nome divino feita a Moisés na teofania da sarça ardente, no limiar do êxodo e
da Aliança do Sinai, que se impôs como sendo a revelação fundamental, tanto para a Antiga
como para a Nova Aliança.

O DEUS VIVO
205. Do meio duma sarça que arde sem se consumir, Deus chama por Moisés. E diz-lhe:
“Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob” (Ex 3,
6). Deus é o Deus dos antepassados, Aquele que tinha chamado e guiado os patriarcas
nas suas peregrinações. É o Deus fiel e compassivo, que se lembra deles e das promessas
que lhes fez. Ele vem para libertar da escravidão os seus descendentes. É o Deus que,
para além do espaço e do tempo, pode e quer fazê-lo, e empenhará a Sua omnipotência
na concretização deste desígnio.

“EU SOU AQUELE QUE SOU”


Moisés disse a Deus: «Vou então procurar os filhos de Israel e dizer-lhes: “O Deus de
vossos pais enviou-me a vós". Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei de
responder-lhes? Deus disse a Moisés: “Eu sou Aquele que sou”. E prosseguiu: “Assim
falarás aos filhos de Israel: Aquele que tem por nome "Eu sou" é que me enviou a vós
[...]...Será este o meu nome para sempre, nome que ficará de memória para todas as
gerações» (Ex 3, 13-15).
207. Ao revelar o seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a sua fidelidade, que é de
sempre e para sempre, válida tanto para o passado (“Eu sou o Deus de teu pai” – Ex 3, 6),
como para o futuro (“Eu estarei contigo” – Ex 3, 12). Deus, que revela o seu nome como
sendo “Eu sou”, revela-Se como o Deus que está sempre presente junto do seu povo para
o salvar.

SÓ DEUS É
212. No decorrer dos séculos, a fé de Israel pôde desenvolver e aprofundar as riquezas
contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora d'Ele não há deuses. Ele
transcende o mundo e a história. Foi Ele que fez o céu e a terra; “eles hão de passar, mas
Vós permaneceis; tal como um vestido, eles se vão gastando [...] Vós, porém, sois sempre
o mesmo e os vossos anos não têm fim” (Sl 102, 27-28). N'Ele “não há variação nem sombra
de mudança” (Tg 1, 17). Ele é “Aquele que é”, desde sempre e para sempre; e assim,
permanece sempre fiel a Si mesmo e às suas promessas.
218. No decorrer da sua história, Israel pôde descobrir que Deus só tinha uma razão para
Se lhe ter revelado e o ter escolhido, de entre todos os povos, para ser o seu povo: o seu
amor gratuito. E Israel compreendeu, graças aos seus profetas, que foi também por amor
que Deus não deixou de o salvar e de lhe perdoar a sua infidelidade e os seus pecados.
219. O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor dum pai para com o seu filho.
Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus filhos. Deus ama o seu povo,
mais que um esposo a sua bem-amada; este amor vencerá mesmo as piores infidelidades;
e chegará ao mais precioso de todos os dons: “Deus amou de tal maneira o mundo, que
lhe entregou o seu Filho Único” (Jo 3, 16).

O PAI REVELADO PELO FILHO


238. A invocação de Deus como «Pai» é conhecida em muitas religiões. A divindade é
muitas vezes considerada como «pai dos deuses e dos homens». Em Israel, Deus é
chamado Pai enquanto criador do mundo. Mais ainda, Deus é Pai em razão da Aliança e
do dom da Lei a Israel, seu “filho primogénito” (Ex 4, 22). Também é chamado Pai do rei de
Israel. E é muito especialmente «o Pai dos pobres», do órfão e da viúva, entregues à sua
proteção amorosa.
239. Ao designar Deus com o nome de «Pai», a linguagem da fé indica principalmente dois
aspetos: que Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade transcendente, e, ao mesmo
tempo, que é bondade e solicitude amorosa para com todos os seus filhos. Esta ternura
paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade, que indica
melhor a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura A linguagem da fé
vai, assim, alimentar-se na experiência humana dos progenitores, que são, de certo modo,
os primeiros representantes de Deus para o homem. Mas esta experiência diz também que
os progenitores humanos são falíveis e podem desfigurar a face da paternidade e da
maternidade. Convém, então, lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos.
Não é homem nem mulher: é Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade
humanas, sem deixar de ser de ambas a origem e a medida: ninguém é pai como Deus.
240. Jesus revelou que Deus é “Pai” num sentido inédito: não o é somente enquanto
Criador: é Pai eternamente em relação ao seu Filho único, o qual, eternamente, só é Filho
em relação ao Pai: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai
senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27).
O PAI E O FILHO REVELADOS PELO ESPÍRITO
243. Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um “outro Paráclito” (Defensor), o
Espírito Santo. Agindo desde a criação e tendo outrora “falado pelos profetas”, o Espírito
Santo estará agora junto dos discípulos, e neles, para os ensinar e os guiar “para a verdade
total” (Jo 16, 13). E, assim, o Espírito Santo é revelado como uma outra pessoa divina, em
relação a Jesus e ao Pai.
244. A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão temporal. O Espírito Santo é
enviado aos Apóstolos e à Igreja, tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pessoalmente
pelo Filho, depois do seu regresso ao Pai. O envio da pessoa do Espírito, após a glorificação
de Jesus revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade.
245. A fé apostólica relativamente ao Espírito foi confessada pelo segundo concilio
ecuménico, reunido em Constantinopla em 381: “Nós acreditamos no Espírito Santo,
Senhor que dá a vida, e procede do Pai”. A Igreja reconhece assim o Pai como “a fonte e a
origem de toda a Divindade”. Mas a origem eterna do Espírito Santo não está desligada da
do Filho: “O Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai
e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza... Contudo, não dizemos
que Ele é somente o Espírito do Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do Pai e do Filho”.
O Credo do Concílio de Constantinopla da Igreja confessa que Ele, “com o Pai e o Filho, é
adorado e glorificado”.

O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA


737. A missão de Cristo e do Espírito Santo completa-se na Igreja, corpo de Cristo e templo
do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa, doravante, os fiéis de Cristo à sua
comunhão com o Pai no Espírito Santo: o Espírito prepara os homens e adianta-se-lhes
com a sua graça para os atrair a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes
a sua Palavra e abre-lhes o espírito à inteligência da sua morte e da sua ressurreição.
Torna-lhes presente o mistério de Cristo, principalmente na Eucaristia, com o fim de os
reconciliar, de os pôr em comunhão com Deus, para os fazer dar “muito fruto”.

2. A TRINDADE
Enquanto gozar do sopro de vida que me concedeste, Pai santo, Deus todo-poderoso,
proclamar-Te-ei Deus eterno e Pai eterno. Nunca eu me farei juiz do teu poder supremo e
dos teus mistérios; nunca porei o meu limitado conhecimento à frente da noção verdadeira
do teu infinito; nunca afirmarei que exististe jamais sem a tua sabedoria, o teu poder ou o
teu Verbo, que é Deus, o Unigénito, o meu Senhor Jesus Cristo. É que, mesmo sendo a
linguagem humana fraca e imperfeita, ao falar de Ti não limitará o meu espírito a ponto de
reduzir a minha fé ao silêncio, por falta de palavras capazes de exprimir o mistério do teu
ser. [...]
Nas realidades da natureza, também há muitas coisas cuja causa não conhecemos, sem
contudo lhes ignorarmos os efeitos. E quando, devido à nossa incapacidade, não sabemos
que dizer dessas coisas, a nossa fé enche-se de adoração. Quando contemplo o
movimento das estrelas [...], o fluxo e refluxo do mar [...], o poder oculto na mais pequena
semente [...], a minha ignorância ajuda-me a contemplar-Te, pois, se não compreendo essa
natureza que está ao meu serviço, distingo nela a tua bondade, pelo simples facto de existir
para me servir. Apercebo-me mesmo de que nem a mim próprio me conheço, mas admiro-
Te tanto mais por isso [...]. Deste-me a razão, a vida e os meus sentidos de homem, que
me causam tantas alegrias, mas não consigo compreender qual foi o meu começo como
homem.
É, pois, não conhecendo aquilo que me cerca que capto aquilo que és; e, percebendo aquilo
que és, adoro-Te. Por isso, não compreender os teus mistérios não diminui a minha fé no
teu poder supremo. [...] A geração de teu eterno Filho ultrapassa a própria noção de
eternidade, é anterior aos tempos eternos. Nunca exististe sem Ele [...], és o Pai eterno do
teu Unigénito desde antes dos tempos eternos.
— Santo Hilário (c. 315-367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja, A Trindade, 12,52-53.

3. ORAR AO PAI
“Pai”: sem proferir, sem ouvir, sem sentir esta palavra não se pode rezar.
A quem rezo? Ao Deus Omnipotente? Demasiado longínquo, não consigo senti-lo próximo:
nem mesmo Jesus o sentia. A quem rezo? Ao Deus cósmico? Está na moda, nos dias de
hoje, rezar ao Deus cósmico: trata-se da modalidade politeísta típica de uma cultura light…
Deves rezar ao Pai! É uma palavra forte, “Pai. Deves rezar àquele que te gerou, que te deu
a vida. Deu-a a todos, é certo; mas “todos” é um conceito demasiado anónimo. Deu-a a ti,
deu-a a mim. E é também aquele que te acompanha no teu caminho; conhece toda a tua
vida, aquilo que é bom e o que não é assim tão bom. Se não começarmos a oração com
esta palavra, proferida não pelos lábios, mas sim pelo coração, não poderemos rezar como
cristãos.
Temos um Pai. Pertíssimo, que nos abraça. Todas as angústias, todas as preocupações
que possamos ter, deixamo-las ao Pai: Ele sabe de que coisas precisamos. Mas “Pai” em
que sentido? Pai meu? Não: Pai nosso! Porque eu não sou filho único, nenhum de nós o é
e, se não posso ser irmão, dificilmente poderei tornar-me filho deste Pai, porque se trata de
um pai de todos. Meu com certeza, mas também dos outros, dos meus irmãos. E se eu não
estiver em paz com os meus irmãos, não posso chamar-lhe “Pai” a Ele.
Não se pode rezar com inimigos no coração, com irmãos e inimigos no coração. Não é fácil,
bem sei. «Eu não posso dizer “Pai”, “Pai” não me sai». É verdade, entendo-o. «Não posso
dizer “nosso”, porque o meu irmão, o meu inimigo fez-me isto, aquilo e… Devem ir para o
inferno, não são dos meus, não me pertencem!» É verdade, não é fácil. Contudo, Jesus
prometeu-nos o Espírito Santo: é Ele que nos ensina, a partir de dentro, do coração, como
dizer “Pai” e como dizer “nosso”, fazendo as pazes com todos os nossos inimigos.
(…) Jesus mostra-nos o que significa sermos amados pelo Pai e revela-nos que é desejo
do Pai derramar sobre nós o mesmo amor que da eternidade reservou para o seu Filho.
Espero que cada um de nós, agora, enquanto pronuncia o Pai- Nosso, se descubra cada
vez mais amado, perdoado, banhado pelo orvalho do Espírito Santo e seja deste modo
capaz de amar e de perdoar à sua volta todos os outros irmãos, todas as outras irmãs.
Teremos assim uma ideia de como será o paraíso.
— Papa Francisco, Pai Nosso – Entrevista concedida em Santa Marta a Marco Pozza, a 4
de agosto de 2018, Ed. Planeta, jan. 2018, pp. 11-14.

4. O ESPÍRITO SANTO
Na sua vida íntima Deus «é Amor» (Cf. 1Jo 4, 8. 16), amor essencial, comum às três
Pessoas divinas: amor pessoal é o Espírito Santo, como Espírito do Pai e do Filho. Por isso
ele «perscruta as profundezas de Deus» (1Cor 2, 10), como Amor- Dom incriado. Pode
dizer-se que, no Espírito Santo, a vida íntima de Deus uno e trino se torna totalmente dom,
permuta de amor recíproco entre as Pessoas divinas; e ainda, que no Espírito Santo Deus
«existe» à maneira de Dom. O Espírito Santo é a expressão pessoal desse doar-se, desse
ser-amor (cf. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theol. Ia, qq. 37-38). É Pessoa- Amor. É
Pessoa-Dom. Temos aqui uma riqueza insondável da realidade e um aprofundamento
inefável do conceito de pessoa em Deus, que só a Revelação divina nos dá a conhecer.
Ao mesmo tempo, o Espírito Santo, enquanto consubstancial ao Pai e ao Filho na
divindade, é Amor e Dom (incriado) do qual deriva como de uma fonte (fons vivus) toda a
dádiva em relação às criaturas (dom criado): a doação da existência a todas as coisas,
mediante a criação; e a doação da graça aos homens, mediante toda a economia da
salvação. Como escreve o Apóstolo São Paulo: «O amor de Deus foi derramado nos nossos
corações por meio do Espírito Santo, que nos foi dado» (Rom 5, 5).
– S. João Paulo II – Encíclica Dominum et vivificantem, n.º 10

VOCABULÁRIO DO CATEQUISTA
DEUS – Do grego Theos e do latim Deus. O conceito de Deus como um Ser supremo está
na base de todas as religiões. Para as religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo,
islamismo) é entendido como o Espírito infinito e eterno, criador e preservador de tudo
quanto existe, omnipotente e omnisciente. Para o cristianismo, o verdadeiro rosto de Deus
é revelado plenamente por Jesus Cristo, Deus feito Homem.
DOUTRINA (do latim docere – ensinar) – Conjunto de verdades que constituem o ensino
cristão, tanto da Bíblia (doutrina bíblica) como da Igreja (doutrina do Magistério).
A catequese deve transmitir a vida e a doutrina de Jesus. A mensagem de Jesus não é um
conjunto de verdades abstratas. Na verdade, Jesus ensinou também com a sua vida e os
seus gestos (cf. CT 6, 7, 8, e 9).
Por outro lado, a catequese deve transmitir também a doutrina da Igreja, ou doutrina do
Magistério, constituída pelas verdades com que a Igreja, ao longo da história concretizou,
explicitou e atualizou a mensagem original da Bíblia.
Mas a catequese, para proporcionar uma iniciação cristã integral, não pode iniciar só na
doutrina, mas também na vida e no culto da Igreja. Ou seja, a catequese deve apresentar-
se na “tripla dimensão da palavra, memória e testemunho – de doutrina, de celebração de
compromisso de vida” (CT 47). “A catequese não consiste unicamente em ensinar a
doutrina, mas também em iniciar a toda a vida cristã” (CT 33).
ESPÍRITO SANTO – “Espírito Santo”, tal á o nome próprio d'Aquele que adoramos e
glorificamos com o Pai e o Filho. A Igreja recebeu este nome do Senhor e professa-o no
Batismo dos seus novos filhos. O termo “Espírito” traduz o termo hebraico “Ruah” que, na
sua primeira aceção, significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza precisamente a imagem
sensível do vento para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente d'Aquele que é
pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito divino. Por outro lado, Espírito e Santo são
atributos divinos comuns às três Pessoas divinas. Mas, juntando os dois termos, a Escritura,
a Liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem
equívoco possível com os outros empregos dos termos «espírito» e «santo» (CCE 691).
IGREJA – A palavra vem do grego “ekklesia”, que designava a assembleia do povo.
Corresponde ao hebraico “qahal”, palavra usada para designar a assembleia do Povo de
Deus. A comunidade do Povo de Deus do AT prefigura a Igreja de Jesus Cristo que nasce
a partir da ação de Jesus. Jesus veio propor aos homens uma realidade nova a que Ele
chamava “Reino de Deus”. Este Reino não é uma realidade política ou nacional, mas sim
uma realidade religiosa e espiritual. É pela infusão do Espírito que os discípulos se tornam
testemunhas de Jesus e anúncio vivo da salvação de Deus aos homens.
MISTÉRIO – Verdade de fé que não pode ser explicada através do raciocínio. No entanto,
o conhecimento das verdades fundamentais da nossa fé, reveladas essencialmente por
Jesus Cristo, permite-nos penetrar mais intimamente na vida íntima de Deus e no seu
desígnio de amor a nosso respeito. “A fé é garantia das coisas que se esperam e certeza
daquelas que não se veem (…) Pela fé, Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu…sem
saber para onde ia. (…) Pela fé, Moisés deixou o Egipto…mantendo-se firme, como se
contemplasse o Invisível” (cf. Hb 11, 1. 8. 27).
RESSURREIÇÃO – A ressurreição de Jesus “não foi um regresso à vida terrena, como no
caso das ressurreições que Ele tinha realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem
de Naim e Lázaro (…). A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. No seu corpo
ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do
espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa
da vida divina no estado da sua glória” (CCE 646). A isso corresponde o modo, igualmente
sobrenatural, como Cristo se manifesta: o seu “corpo autêntico e real possui, ao mesmo
tempo, as propriedades de um corpo glorioso: não está situado no espaço e no tempo, mas
pode, livremente, tornar-se presente onde e quando quer, porque a sua humanidade já não
pode ser retida sobre a terra e já pertence ao domínio exclusivo do Pai (cf. Jo 20, 17) ”
(Ibidem 643).
SANTÍSSIMA TRINDADE – A Trindade é una. Nós não confessamos três deuses, mas um
só Deus em três pessoas: «a Trindade consubstancial». As pessoas divinas não dividem
entre Si a divindade única: cada uma delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo mesmo que
o Filho, o Filho aquilo mesmo que o Pai, o Pai e o Filho aquilo mesmo que o Espírito Santo,
ou seja, um único Deus por natureza” (cf. DV 10). “Cada uma das três pessoas é esta
realidade, quer dizer, a substância, a essência ou a natureza divina” (DV 8 in CCE 253).
SÍMBOLO DA FÉ – O conteúdo da fé cristã torna-se bastante extenso: é constituído pela
Bíblia e pela doutrina da Igreja. Esta extensão exigiu, desde o início, a elaboração de uma
forma breve e concentrada, que pudesse ser aprendida de memória e recitada em comum.
Assim nasceram os resumos da fé que encontramos no Novo Testamento (por ex. Fil 2,6-
11; 1ª Cor 15,3- 5). Nos primeiros séculos, surgiram ainda os símbolos da fé; resumos da
fé cristã para os que se preparavam para o batismo. Utilizamos atualmente dois: o Credo
que se reza habitualmente nas Missas dominicais, também chamado de Niceia-
Constantinopla, por ter tido origem nestes dois concílios, e o Credo que recitamos no
Batismo, chamado “Símbolo dos Apóstolos”, por resumir a fé dos Apóstolos. Dá-se-- lhes o
nome de “símbolo da fé”, por exprimirem a união de todos os crentes na mesma fé. O termo
Credo refere-se à primeira palavra destes símbolos, que é a forma latina de “creio”.

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