2020 13.04 Percepção e Gestalt

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FACULDADE DE FILOSOFIA PAULO VI

PSICOLOGIA GERAL PERCEPÇÃO E GESTALT 13.04.2020

Há um grande questionamento sobre a percepção que temos do mundo: O mundo existe


por que percebemos ou percebemos o mundo que existe? Os neurocientistas acreditam que
percebemos apenas uma parte do mundo ao nosso redor e que seria impossível captarmos
todos os eventos existentes e que acontecem ao mesmo tempo.
Cada pessoa percebe o mundo ao seu redor de maneira diferente. Isso se dá porque além
dos neurônios serem ligeiramente diferentes, nosso genoma é distinto e nós somos
submetidos a diferentes experiências. A experiência prévia é importante para a acuidade de
nossos sentidos.
A mesma pessoa pode ter diferentes percepções de uma mesma coisa, dependendo de
seu estado fisiológico (pessoas que fazem uso de álcool ou drogas) e psicológico (pessoas que
estão em estado depressivo, maníaco, psicose entre outros).
Precisamos fazer um diferencial entre percepção e sensação. A sensação é a capacidade
de codificar certos aspectos da energia física e química que nos circunda, representando-os
como impulsos nervosos capazes de serem compreendidos pelos neurônios, ou seja, é a
recepção de estímulos do meio externo captado por algum dos nossos cinco sentidos: visual,
auditiva, tátil, olfativa e gustativa. A sensação permite a existência desses sentidos.
Já a percepção é a capacidade de interpretar essa sensação, associando informações
sensoriais a nossa memória e cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre
nós mesmos e orientar nosso comportamento. Por exemplo, um som é captado pela nossa
sensação auditiva, mas identificar se esse som é uma voz humana, uma buzina ou um barulho
de algo quebrando, fica a cargo da nossa percepção auditiva. Da mesma forma, quando eu
vejo um objeto captado pela minha sensação visual, a percepção visual vai interpretar e
associar aquela imagem a um conceito, onde eu posso estar vendo um sofá, um rádio ou
mesmo um animal de estimação.
Então, a percepção é diferente da sensação. A percepção possui ainda uma característica
chamada constância perceptual. Para os nossos sentidos, cada posição do objeto (perto,
longe, claro, escuro) produz uma imagem visual diferente, mas para a percepção trata-se do
mesmo objeto. A percepção é apenas uma consequência da nossa sensação e nem sempre
está inteiramente disponível a nossa consciência, pois é filtrada pelo mecanismo da atenção,
sono e emoção.
A percepção está ligada aos nossos cinco sentidos e ainda temos a percepção temporal,
espacial e propriocepção.

Percepção visual: Uma das percepções mais desenvolvidas nos seres humanos e é
caracterizada pela recepção de raios luminosos pelo sistema visual. O princípio do fechamento
(Gestalt) é melhor compreendido em relação a imagens do que a outras formas de percepção.
A percepção visual compreende a percepção de formas, relações espaciais (profundidade),
cores, movimentos, intensidade luminosa.

Percepção auditiva: também considerada uma das percepções mais desenvolvida nos
seres humanos. É a percepção de sons pelos ouvidos e uma aplicação particularmente
importante da percepção auditiva é a música. A percepção auditiva compreende: percepção
de timbres, alturas ou frequências, intensidade sonora ou volume, ritmo e localização auditiva,
sendo um aspecto associado a percepção espacial que permite distinguir o local de origem do
som.
Percepção gustativa: importante para nossa sobrevivência, evitando que ingerimos
alimentos estragados. O paladar é o sentido dos sabores pela língua, sendo o principal fator
dessa modalidade de percepção a discriminação dos sabores doce, amargo, azedo e salgado.

Percepção olfativa: importante na afetividade (memória olfativa) e também na nossa


alimentação. O olfato é a percepção de odores pelo nosso nariz. A percepção olfativa engloba
a discriminação de odores, o que diferencia um odor do outros e o efeito de sua combinação.
O alcance olfativo nos seres humanos é limitado.
Percepção tátil: também importante na afetividade e é sentido pela pele do corpo todo,
embora sua distribuição não seja uniforme. Os dedos da mão possuem uma discriminação
muito maior do que as demais partes, assim como algumas áreas são mais sensíveis ao calor
que outras. A percepção tátil permite reconhecer a presença, a forma e o tamanho dos
objetos em contato com o corpo, bem como sua temperatura. Importante também na
percepção da dor.

Percepção temporal: Não existem órgãos específicos para a percepção de tempo e


esbarra no próprio conceito da natureza do tempo. Essa percepção é desenvolvida com as
próprias experiências e é adquirida com o passar das idades. Por este motivo, crianças
pequenas não dominam esta percepção e por vezes, ficam confusas com questões do tempo
(ontem, amanhã, daqui a dois dias, no próximo final de semana). Isso explica o porquê das
crianças terem a sensação de que o tempo demora muito a passar.

Percepção espacial: Também não possuímos órgãos específicos para esta percepção.
Envolve a percepção de distância e do tamanho relativo dos objetos. Utiliza-se de outras
percepções como a auditiva, a visual e a temporal. Esta percepção nos permite distinguir se
um som procede especificamente de um objeto visto e se esse objeto (ou som) está se
aproximando ou se afastando. Por exemplo, sabemos exatamente se um carro de som está
passando pela nossa casa e seguindo a rua, ou se está subindo a rua e ainda passará pela
nossa casa.

Percepção Propriocepção: Esta é uma percepção específica dos seres humanos, onde
nos permite reconhecer a localização espacial do nosso corpo, sua posição e a orientação,
sem utilizar a visão. Está ligada ao sistema vestibular do nosso ouvido interno, permitindo a
manutenção do equilíbrio e a realização de diversas atividades práticas. Podemos correr e nos
desviar de objetos pelo caminho sem perder o equilíbrio. Podemos saber se uma roupa vai
nos vestir, só em olhar suas medidas. Sabemos que podemos passar por um lugar apertado
ou baixo sem ao menos estarmos perto, isso nos permite desviar, abaixar ou procurar outro
caminho.

As Desordens Da Percepção

As desordens da percepção são chamadas agnosias, termo derivado do grego gnosis, que


significa conhecimento. Este termo foi cunhado pela Psicanálise por Sigmund Freud. As
agnosias, geralmente, são causadas por lesões no córtex cerebral e dependem da região
lesionada. São exemplos de Agnosias:

1. Prosopagnosia – agnosia visual, incapacidade de reconhecer faces.


2. Amusia – agnosia auditiva, incapacidade de reconhecer sons musicais.
3. Afasia receptiva – ou agnosia verbal, cujo portador deixa de compreender a fala
emitida por seus interlocutores.
4. Assomatognosia ou Síndrome da indiferença – agnosia somestésica,
incapacidade de reconhecer partes do seu corpo ou mesmo regiões inteiras do espaço
extracorporal.
5. Acinetópsia – perda da percepção de movimento. O movimento das coisas e pessoas
parece fragmentado, como num filme com defeito.
6. Acromatópsia – incapacidade de perceber cores.
7. Anosmia – incapacidade de sentir cheiro.

GESTALT
A Gestalt, que tem seu berço na Europa, surge como uma negação da fragmentação das
ações e processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia científica do século 19,
postulando a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade. A Gestalt é a
tendência teórica mais ligada à Filosofia.

A PSICOLOGIA DA GESTALT OU A PSICOLOGIA DA FORMA


É uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus
articuladores preocuparam-se em construir não só uma teoria consistente, mas também uma
base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica.
Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria
forma ou configuração, que não é utilizado, por não corresponder exatamente ao seu real
significado em Psicologia.
Como já vimos, no final do século passado muitos estudiosos procuravam compreender o
fenômeno psicológico em seus aspectos naturais (principalmente no sentido da
mensurabilidade). A Psicofísica estava em voga.
Ernst Mach (1838-1916), físico, e Christian von Ehrenfels (1859- 1932), filósofo e
psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico)
de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais
diretos antecessores da Psicologia da Gestalt.
Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941),
baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram a
base de uma teoria eminentemente psicológica.
Eles iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Os gestaltistas
estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão
de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que
ele tem na realidade.
É o caso do cinema. Quem já viu uma fita cinematográfica sabe que ela é composta de
fotogramas estáticos. O movimento que vemos na tela é uma ilusão de ótica causada pela
pós-imagem retiniana (a imagem demora um pouco para se “apagar” em nossa retina). Como
as imagens vão-se sobrepondo em nossa retina, temos a sensação de movimento. Mas o que
de fato está na tela é uma fotografia estática.

A PERCEPÇÃO

A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. Os


experimentos com a percepção levaram os teóricos da Gestalt ao questionamento de um
princípio implícito na teoria behaviorista — que há relação de causa e efeito entre o estímulo e
a resposta — porque, para os gestaltistas, entre o estímulo que o meio fornece e a resposta
do indivíduo, encontra-se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e como
percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano.
O confronto Gestalt/Behaviorismo pode ser resumido na posição que cada uma das
teorias assume diante do objeto da Psicologia — o comportamento, pois tanto a Gestalt
quanto o Behaviorismo definem a Psicologia como a ciência que estuda o comportamento.

O Behaviorismo, dentro de sua preocupação com a objetividade, estuda o comportamento


através da relação estímulo-resposta, procurando isolar o estímulo que corresponderia à
resposta esperada e desprezando os conteúdos de “consciência”, pela impossibilidade de
controlar cientificamente essas variáveis.
A Gestalt irá criticar essa abordagem, por considerar que o comportamento, quando
estudado de maneira isolada de um contexto mais amplo, pode perder seu significado (o seu
entendimento) para o psicólogo.
Na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus
aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a
percepção do estímulo.
Esse fenômeno da percepção é norteado pela busca de fechamento, simetria e
regularidade dos pontos que compõem uma figura (objeto).
Rudolf Arnheim dá um bom exemplo da tendência à restauração do equilíbrio na relação
parte-todo: “De que modo o sentido da visão se apodera da forma? Nenhuma pessoa dotada
de um sistema nervoso perfeito apreende a forma alinhavando os retalhos da cópia de suas
partes (...) o sentido normal da visão (...) apreende um padrão global”.

A BOA-FORMA

A Gestalt encontra nesses fenômenos da percepção as condições para a compreensão do


comportamento humano. A maneira como percebemos um determinado estímulo irá
desencadear nosso comportamento.
Muitas vezes, os nossos comportamentos guardam relação estreita com os estímulos
físicos, e outras, eles são completamente diferentes do esperado porque “entendemos” o
ambiente de uma maneira diferente da sua realidade. Quantas vezes já nos aconteceu de
cumprimentarmos à distância uma pessoa conhecida e, ao chegarmos mais perto, depararmos
com um atônito desconhecido. Um “erro” de percepção nos levou ao comportamento de
cumprimentar o desconhecido. Ora, ocorre que, no momento em que confundimos a pessoa,
estávamos “de fato” cumprimentando nosso amigo. Esta pequena confusão demonstra que a
nossa percepção do estímulo (a pessoa desconhecida) naquelas condições ambientais dadas é
mediatizada pela forma como interpretamos o conteúdo percebido.
Se nos elementos percebidos não há equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade, não
alcançaremos a boa-forma.
O elemento que objetivamos compreender deve ser apresentado em aspectos básicos,
que permitam a sua decodificação, ou seja, a percepção da boa-forma.

O exemplo da figura acima ilustra a noção de boa-forma. Geralmente percebemos o


segmento de reta a maior que o segmento de reta b, mas, na realidade, isso é uma ilusão de
ótica, já que ambos são idênticos.
A maneira como se distribuem os elementos que compõem as duas figuras não apresenta
equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade suficientes para garantir a boa-forma, isto é,
para superar a ilusão de ótica.

A tendência da nossa percepção em buscar a boa forma permitirá a relação figurafundo.


Quanto mais clara estiver a forma (boa-forma), mais clara será a separação entre
a figura e o fundo.Quando isso não ocorre, torna-se difícil distinguir o que é figura
e o que é fundo, como é o caso da figura acima. Nessa figura ambígua, fundo e
figura substituem-se, dependendo da percepção de quem os olha. Faça o teste: é
possível ver a taça e os perfis ao mesmo tempo?

MEIO GEOGRÁFICO E MEIO COMPORTAMENTAL

O comportamento é determinado pela percepção do estímulo e, portanto, estará


submetido à lei da boa-forma. O conjunto de estímulos determinantes do
comportamento (lembre-se da visão global dos gestaltistas) é denominado meio ou meio
ambiental São conhecidos dois tipos de meio: o geográfico e o comportamental.
O meio geográfico é o meio enquanto tal, o meio físico em termos objetivos.
O meio comportamental é o meio resultante da interação do indivíduo com o meio
físico e implica a interpretação desse meio através das forças que regem a percepção
(equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade).
No exemplo, a pessoa que cumprimentamos era um desconhecido — esse deveria ser o
dado percebido, se só tivéssemos acesso ao meio geográfico. Ocorre que, no momento em
que vimos a pessoa, a situação (encontro casual no trânsito em movimento, por exemplo)
levou-nos a uma interpretação diferente da realidade, e acabamos por confundi-la com uma
pessoa conhecida. Esta particular interpretação o meio, onde o que percebemos
agora é uma “realidade” subjetiva, particular, criada pela nossa mente, é o meio
comportamental.
Naturalmente, o comportamento é desencadeado pela percepção do meio
comportamental.
Certamente, a semelhança entre as duas pessoas do exemplo (a que vimos e a que
conhecemos) foi a causa do engano. Nesse caso, houve uma tendência a estabelecer a
unidade das semelhanças entre as duas pessoas, mais que as suas diferenças. Essa
tendência a “juntar” os elementos é o que a Gestalt denomina de força do campo
psicológico

CAMPO PSICOLÓGICO

O campo psicológico é entendido como um campo de força que nos leva a procurar a
boa-forma. Funciona figurativamente como um campo eletromagnético criado por um ímã (a
força de atração e repulsão). Esse campo de força psicológico tem uma tendência que garante
a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas.

Esse processo ocorre de acordo com os seguintes princípios:

1. Proximidade — os elementos mais próximos tendem a ser agrupados:


Vemos três colunas e não três linhas na figura.

2. Semelhança — os elementos semelhantes são agrupados:

Vemos três linhas e não quatro colunas.

3. Fechamento — ocorre uma tendência de completar os elementos faltantes da figura


para garantir sua compreensão: da figura para garantir sua compreensão:

INSIGHT

A Psicologia da Gestalt, diferentemente do associacionismo, vê a aprendizagem como a


relação entre o todo e a parte, onde o todo tem papel fundamental na compreensão do objeto
percebido, enquanto as teorias de S-R (Associacionismo, Behaviorismo) acreditam que
aprendemos estabelecendo relações — dos objetos mais simples para os mais complexos.

Exemplificando, é possível a uma criança de 3 anos, que não sabe ler, distinguir a
logomarca de um refrigerante e nomeá-lo corretamente. Ela separou a palavra na sua
totalidade, distinguindo a figura (palavra) e o fundo (figura 7). No caso, a criança não
aprendeu a ler a palavra juntando as letras, como nos ensinaram, mas dando significação ao
todo.
Nem sempre as situações vividas por nós apresentam-se de forma tão clara que permita
sua percepção imediata. Essas situações dificultam o processo de aprendizagem, porque não
permitem uma clara definição da figura-fundo, impedindo a relação parte/todo.

Acontece, às vezes, de estarmos olhando para uma figura que não tem sentido para nós
e, de repente, sem que tenhamos feito nenhum esforço especial para isso, a relação figura-
fundo elucida-se. A esse fenômeno a Gestalt dá o nome de insight. O termo designa uma
compreensão imediata, enquanto uma espécie de “entendimento interno”.
Responda às questões: (Podem entregar no final de abril)

1. Qual o ponto de partida da teoria da Gestalt?


2. Qual a crítica que a Gestalt faz ao Behaviorismo?
3. Qual a importância da percepção do estímulo para a compreensão do comportamento
humano, na teoria da Gestalt?
4. Cite um exemplo que mostre uma percepção do ambiente diferente de sua realidade física.
5. O que é necessário para alcançarmos a boa-forma?
6. Qual a importância da relação figura-fundo na percepção?
7. Como é denominado o conjunto de estímulos determinantes do comportamento?
8. Explique, através de um exemplo, o meio geográfico e o meio comportamental.
9. O que é campo psicológico?
10. Quais princípios regem o campo psicológico na busca da boa-forma?
11. O que é insight? Dê um exemplo.

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