A Nova Gramatica Do Portugues Contemporaneo Tradic
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Marli Leite
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RESUMO: A partir da premissa de que a gramática tradicional é, sob o ponto de vista cultural e
histórico, um Instrumento lingüístico (Auroux, 1998) importante à sociedade, tratamos de anali-
sar A nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra (1985).
Nosso objetivo é mostrar que a gramática tradicional é, também, um lugar em que ficam
registrados aspectos da história da língua, aí incluídos dados da realidade lingüística (hiperlín-
gua). O trabalho inscreve-se no quadro da historiografia lingüística e tem a finalidade de exami-
nar um conteúdo, que, nesse caso, é o registro de aspectos da variedade brasileira do português
no seio de um instrumento lingüístico.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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Universidade de São Paulo.
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Cf. também Auroux, 1994.
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6 – Verbo
Considerações gerais – entende-se por verbo a unidade de significado
categorial que se caracteriza por ser um molde pelo qual organiza no falar
seu significado lexical.
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andar fazendo
prosseguir fazendo
Ação
A C B
Explicitando esta visão angular
Pelo esquema, vê-se a ação entre dois pontos (A,B); ambos podem coincidir em um
(C), isto é, podem ser pontos de começo e término de ação, o que não se expressa na forma
do verbo e deve ser dito complementariamente: estive lendo o dia todo. Explicita-se em
português com estar + gerúndio (estou fazendo) ou estar a + infinito (estou a fazer).
Visão comitativa – Trata-se do acompanhamento da ação verbal em diversos momentos
de seu curso entre A e B, e se expressa em português por andar + gerúndio (ando fazendo)
ou andar a + infinito (ando a fazer).
A expressão pode ser ainda assinalada com o auxílio do adjetivo e particípio, como
em andar enfermo, andar desesperado.
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Para outras informações sobre a Moderna gramática portuguesa, cf. Leite (2000).
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Segundo Auroux (1994; 1998), a hiperlíngua é a língua produzida em um espaço-
tempo, por indivíduos dotados de ‘gramáticas’ não necessariamente idênticas, auxilia-
dos por artefatos técnicos, instrumentos lingüísticos, dentre os quais a gramática e o
dicionário.
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Isso se tomarmos como ponto de partida da formação do pensamento crítico sobre o
português do Brasil o ano de 1825-26, quando o Visconde de Pedra Branca publicou o
verbete Brasileirismos no Atlas ethnographique du globe, de Adrien Balbi.
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A defesa da “língua brasileira” tem representações históricas diferentes. Desde o
século XIX, 1865, José de Alencar e Macedo Soares, por exemplo, seguidos de muitos
outros, falam disso por razões diversas. Como esse não é assunto que interessa no
momento, deixaremos a questão à margem.
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Cintra, Luís Filipe Lindley. Sobre as formas de “tratamento” na língua portuguesa. Lis-
boa: Horizonte, 1972; Camara, J. Mattoso. Ele como acusativo no português do Brasil.
In: Dispersos. Rio de Janeiro: FGV, 1972; Dias, Epifânio. Syntaxe historica portuguesa. 2.
ed. Lisboa: Clássica, 1933; Huber, Joseph. Altportugiesisches elementarburch. Heidelberg,
Carl Winter, 1933; Silveira, Sousa. Trechos seletos. 4. ed. São Paulo: Nacional, 1938;
Barreto, Mário. Novíssimos estudos da língua portuguesa. 2. ed. rev. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1924; Aguiar, Martinz. Notas de português de Filinto a Odorico. Rio de
Janeiro: Simões, 1955; Oliveira, Maria Manuela Moreno de. Processos de intensificação
no português contemporâneo. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos, 1962; Lopes Neto,
Simões. Contos gauchescos. Edição de Aurélio Buarque de Holanda. 5. ed. Porto Ale-
gre, Globo, 1957.
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40 BR
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20 AF
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Escritores
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Nesse capítulo há uma referência a essa variedade, como veremos mais adiante.
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Esse tratamento do assunto já constava da Gramática do português contemporâneo, de
1972.
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Subcapítulo existente na Gramática contemporânea (1971).
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No colóquio normal emprega-se a gente por nós, e, também, por eu: (p. 288)
– Você não calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens. Todos me
olham como se quisessem devorar-me. (C. dos Anjos, DR, 41)
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Esse mesmo texto encontra-se na Gramática portuguesa (1971), o autor trocou as
expressões “na língua coloquial” de edição anterior por “no colóquio normal” dessa
que examinamos. Os exemplos são outros.
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Observe-se que os gramáticos citaram dois autores portugueses e um brasileiro.
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Observação:12
Do cruzamento das duas construções perfeitamente corretas:
Isto não é trabalho para eu fazer
Isto não é trabalho para mim,
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Nesse caso, o texto da Gramática portuguesa (1971) foi completamente alterado. O que
mostra a mudança de atitude do autor (Celso Cunha e com a concordância de Lindley
Cintra). No texto de 1971, o autor dizia: “Compre evitar-se uma incorreção muito
generalizada, que consiste em dar forma oblíqua ao sujeito do verbo infinitivo.”
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Será que o pai não ia se dar ao respeito? (Autran Dourado, SA, 68)
– Não, não sabes e não posso te dizer mais, já que não me ouves. (Luandino
Vieira, NM, 46)
Outro teria se metido no meio do povo, teria terminado com aquela miséria,
sem sangue. (J. Lins do Rego, U, 222)
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A citação em questão é a que encerra o item “c) próclise ao verbo principal nas locuções
adverbiais”, acima reproduzido na íntegra.
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COMENTÁRIOS FINAIS
BIBLIOGRAFIA
AUROUX, Sylvain (1992). A revolução tecnológica da gramática. Trad. Eni Orlandi. Campinas:
Ed. Unicamp.
____. (1994). A hiperlíngua e a externalidade da referência. Gestos de leitura. Campinas: Ed.
Unicamp.
____. (1998). La raison, le langage et les normes. Paris: PUF.
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FONTES
ABSTRACT: In this paper we analyze the ‘Nova gramática do Português Contemporâneo’ (New
Grammar of Contemporary Portuguese), written by Celso Cunha and Lindley Cintra (1985). We
start from the presupposition that traditional grammar is, from the cultural and historical point
of view, an important linguistic tool (Auroux, 1998) for society. Our goal is to show that traditional
grammar also displays the historical aspects of the language, including data of the linguistic
reality (hyperlanguage). This is a paper in linguistic historiography and intends to examine a
content that, in this case, is the register of aspects of the brazilian variety of portuguese as a
linguistic tool.
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