Direito Das Obrigações - Resumos 2 Parte Exame
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EXAME 1º SEMESTRE
1. CONTRATO-PROMESSA
1.3.Contrato-promessa e sinal:
Sempre que o promitente lesado não possa ou não queira recorrer à execução bem
como na hipótese ter havido estrita violação do contrato-promessa continuamos
apenas a falar do contrato com efacácia inter partes, o legislador confere-lhe um
direito de indemnização dos danos resultantes do incumprimento imputável. Qual o
conteúdo deste crédito indemnizatório? Na ausência de sinal ou de convenção
expressa sobre o montante da indemnização (1ª parte do art. 442º, nº4 do CC), a parte
fiel que resolva o contrato poderá pedir uma indemnização pelos danos efectivamente
sofridos e a calcular nos termos dos arts. 562º e ss. De acordo com o preceituado no
nº2, do art.442º, a presença ou a constituição de sinal pré-determina o montante
indemnizatório, embora seja duvidoso que a simples mora (sem conversão em
incumprimento definitivo, do art.808º,nº1 CC) possa desencadear a retenção do sinal
ou o dever da sua restituição em dobro (consoante a fonte do incumprimento).
A parte final do art.442º,nº2 confere, no entanto, ao promitente-comprador de
imóveis para habitação, e em alternativa com a execução específica ou o pedido de
devolução do sinal em dobro, o direito de exigir uma indemnização pelo valor que o
imóvel “tiver ao tempo do incumprimento”, desde que tenha havido “tradição da
coisa” (o promitente-comprador habita já o imóvel ou está na pose da respectiva
chave). Esta solução funciona como autêntico incentivo ao cumprimento, parece dever
ser circunscrita aos promitentes de contrato-promessa para aquisição de habitação
própria, não devendo ser aplicada, por ex., nas promessas de compra e venda de
terrenos rústicos, mesmo havendo tradição.
Há que referir ainda, que o nº3, art.442º, reconhece ao promitente-comprador,
tendo havido tradição, o direito de retenção sobre a “coisa objecto do contrato-
promessa” para garantir “o crédito resultante do incumprimento pelo promitente-
vendedor”. Trata-se de uma garantia não subsumível à ratio do art.754º, aos
contratos-promessa de aquisição de habitação própria.
2. PACTO DE PREFERÊNCIA:
2.1. Noção:
3. NEGÓCIOS UNILATERAIS:
Constatada a rejeição da relevância genérica dos negócios unilaterais como fonte das
obrigações, há que indagar o alcançe da restrição legal (art.457º) “(...) só obriga nos
casos previstos na lei.”
Sendo problemática a natureza unilateral de certos negócios jurídicos (por ex.,
acto de instituição de uma fundação) e não assumindo esse carácter a proposta
contratual irrevogável, na medida em que o seu destino está dependente do
comprotamento presumível aceitante (arts. 230º e ss), o testamento, a promessa
pública (incluindo os concursos públicos) e os direitos potestativos integrados em
relações contratuais (por ex., a resolução e a denúncia) são as hipóteses mais
significativas de negócios unilaterais vinculativos. E a promessa de cumprimento ou o
reconhecimento de dívida?
Prima facie, o art.458º, nº1, parece romper com o princípio do contrato, nos
casos em que o devedor declare unilateralmente prometer uma prestação ou receber
uma dívida. Trata-se, no entanto, de meros actos causais e não de negócios abstratos,
como os negócios cambiários, presumindo-se a existência e a validade da causa
debendi (causa de endividamento), ou seja, de uma relação fundamental. Tem-se
entendido que a norma do art.458º goza de um cunho processual evidente, não
constituindo os actos em causa fonte das obrigações, mas sim meros comportamentos
declarativos. Quando A declara dever a B 5€, a título mútuo, a fonte da obrigação (ou
do crédito) radica nesta relação fundamental de empréstimo, não carecendo o credor
de a provar, mas competindo ao devedor demostrar a sua inexistência, invalidade,
extinção ou ineficácia. Esta inversão do ónus probatório ou ilisão da presunção pode
verificar-se igualmente nos casos em que a relação fundamental revista uma natureza
extracontratual (pensemos no caso de A reconhecer que deve certa importância a B
por danos causados por uma construção).
4. QUASE CONTRATOS:
No circulo das fontes legais das obrigações goza de certa relevância a gestão de
negócios, concretizado no art. 464º. Sendo evidente que ninguém deve intrevir na
esfera de interesses alheios sem legitimidade conferida por contrato de prestação de
serviços (por ex., um mandato ou empreitada), por uma procuração ou por poderes de
representação legal (situações ou relações em sentido lato), justifica-se e compreende-
se que, em certas ocasiões, a rigidez desse princípio deva ceder por razões de
autêntica solidariedade social. O instituto é portador de uma nítida compensação de
interesses, pois a utilidade e a oportunidade da intervenção do gestor, que a lei deve
incentivar, dialoga com a necessidade de se sanciornarem as intromissões prejudiciais
ao dono do negócio (dominus negotti).
4.1.2. Requisitos:
i) Direcção de negócio alheio: a expressão negócio alheio está aqui desprovida do seu
sentido técnico, significando praticamente assunto, matéria ou interesse alheio, de
natureza não só patrimonial, mas também de índole moral. Constituem, assim, objecto
da gestão, não só negócios jurídicos (o gestor vende a fruta que colheu), ou actos
jurídicos não negociais (o gestor paga uma certa multa ou interpela o devedor do
dominus), mas também actos materiais (o gestor presta auxílio ao vizinho).
iii) Falta de autorização: Para dirigir negócio alheio o gestor não deve estar autorizado
pelo dono do negócio ou obrigado para com ele, não havendo assim gestão de
negócios, sempre que existir um poder legal ou voluntário de representação (poder
paternal, tutela, mandato) ou outra causa impositiva da intervenção, como um dever
oficial (como por ex., os depositários judiciais).
5.2. Requisitos:
5.2.1. Enriquecimento:
Não sendo a única fonte das obrigações, o contrato é a mais importante entre
todas elas. Mas o contrato não se limita a constituir, modificar ou extinguir relações de
obrigação. Dele nascem também relações de família ( artigos 1576º e 1577º CC) e
direitos sucessórios ( artigos 1700º e ss. CC ), e dele podem nascer ainda direitos reais
(contratos reais).
Expõe o artigo 408º CC que “a constituição ou transferência de direitos reais
sobre coisa determinada dá-se por mero efeito do contrato ” (princípio geral da
consensualidade). Isto significa que, apesar do contrato ainda não ter produzido todos
os seus efeitos, a coisa transmite-se mesmo assim.
Assim, se A vender a B certa coisa móvel ou imóvel, o contrato imporá ao
vendedor a obrigação de entregar a coisa ( artigo 879º CC). Mas, ao mesmo tempo,
por força do preceito basilar contido no artigo 408º CC, a celebração do contrato
transfere desde logo, do vendedor para o comprador, o domínio sobre a coisa.
Suponhamos, para realçar o interesse prático da solução, que A vendeu certo
móvel a B no dia 1 de Novembro, devendo a coisa ser paga e entregue no dia 5 desse
mês, porque B só nesse dia a pode receber ( artigo 796º, nº 1 e 2 CC). Se no dia 3 um
terceiro (C) a furtar, danificar ou vender (porque a tinha em seu poder) a D, quem
pode reivindicar o móvel de D ou exigir de C a reparação do dano é B e não A.
Aos contratos com semelhante efeito dá a doutrina o nome de contratos com
eficácia real ou, mais simplesmente, de contratos reais.
O intérprete não deve entregar-se a nenhuma delas para não correr o risco de
cair em puro conceitualismo lógico-formal, que leva à inversão da ordem real dos
valores servidos pelo direito.
O primeiro passo a dar, na resolução de qualquer problema de regime
suscitado por um contrato misto, consiste em saber se na lei há alguma disposição que
especialmente se lhe refira. Pode suceder que, além da disciplina completa de cada um
dos contratos típicos, a lei fixe ainda critérios para a regulamentação dos contratos
que reúnam em si elementos pertencentes a dois ou mais desses negócios típicos.
É o que se verifica para a locação com vários fins, estabelecendo o artigo 1028º
CC algumas regras que, embora partam da ideia básica da combinação, não deixam de
introduzir-lhe limitações fundadas na vontade real ou presumível dos contraentes ou
na finalidade global do contrato. Assim, prevendo a hipótese, relativamente vulgar, de
uma ou mais coisas serem locadas para fins diferentes, manda o nº1 aplicar, em
princípio, a cada um dos fins (habitação, exercício de certo ramo de comércio, etc.) o
regime legal que lhe compete. É a consagração, na área da locação com pluralidade de
fins, da teoria da combinação como regime regra.
Consequentemente, a nulidade, a anulabilidade e a própria resolução do
contrato relativa a um dos fins, não afeta a parte restante da locação, salvo se não for
possível fazer sem arbítrio a discriminação das coisas ou das partes da coisa
correspondentes às várias finalidade ou se estas finalidades forem solidárias entre si.
Acrescenta o nº3 que, se um dos fins for principal e os outros subordinados,
prevalecerá o regime correspondente ao fim principal; os outros regimes só são
aplicáveis na medida em que não contrariem o primeiro e a aplicação deles se não
mostre incompatível com o fim principal. Aqui se consagra - SÓ para os casos
excecionais dos arrendamentos mistos em que haja a notória subordinação de um dos
fins a outro da locação - a teoria da absorção.
O contrato misto distingue-se, pela sua natureza, quer da simples junção, quer
da união ou coligação de contratos.
Na junção de contratos o vínculo que prende os contratos é puramente exterior
ou acidental, provindo do simples facto de terem sido celebrados ao mesmo tempo e
entre as mesmas pessoas ou de constarem do mesmo título. Por exemplo: A manda
consertar um relógio e, ao mesmo tempo, compra outro relógio no mesmo relojoeiro.
Já na união ou coligação de contratos sucede que os contratos, mantendo
embora a sua individualidade, estão ligados entre si segundo a intenção dos
contraentes por um nexo funcional que influi na respetiva disciplina. Já não se trata de
nexo exterior ou acidental, mas de um vínculo substancial que pode alterar o regime
normal de um dos contratos ou de ambos eles, por virtude da relação de
interdependência que eventualmente se crie entre eles
A relação de dependência (que pode ser bilateral ou unilateral) assim criada
entre os dois ou mais contratos pode revestir as mais variadas formas:
Pode um dos contratos funcionar como condição ou motivo do outro - por
exemplo: A encomenda refeições no restaurante de B, mas só as quer se B lhe
puder reservar aposentos num hotel próximo.
Pode a opção por um ou outro estar dependente da verificação ou não
verificação da mesma condição - por exemplo: C convenciona com D comprar-lhe
ou arrendar certo prédio, optando pela primeira ou pela segunda alternativa
consoante venha a ser colocado na respetiva localidade a título efetivo ou em
regime de simples interinidade.
Pode constituir um deles a base negocial do outro - por exemplo: E, beneficiado
na partilha que efetuou com F, arrendou a este um dos prédios integrados na massa
comum de bens, por uma renda excecionalmente baixa.
No contrato misto, pelo contrário, há a fusão num só negócio de elementos
contratuais distintos que, além de perderem a sua autonomia no esquema negocial
unitário, fazem simultaneamente parte do conteúdo deste.
8. CONTRATO E TERCEIROS