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A abordagem do Interacionismo Sociodiscursivo para a análise de textos

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Eliane Gouvêa Lousada


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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

A abordagem do Interacionismo
Sociodiscursivo para a análise de textos
Eliane Gouvêa Lousada1

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar a abordagem do Interacionismo sociodiscursivo para a
análise de textos. Para tanto, exporemos, primeiramente, a definição do que é o interacionismo
sociodiscursivo dentro do quadro mais amplo do interacionismo social, apontando seus eixos de pesquisa.
Em seguida, apresentaremos o modelo de análise textual proposto por Bronckart (1999, 2004, 2006, 2008),
dentro do quadro teórico-metodológico do Interacionismo sociodiscursivo para a análise de textos,
abrangendo desde o contexto de produção textual até a análise de unidades linguísticas, passando pelo
nível organizacional e pelo nível dos mecanismos de textualização e enunciativos. Finalmente, para
exemplificar o modelo apresentado, proporemos a análise de um texto do gênero resenha crítica.

Palavras chave: gênero textual; interacionismo sociodiscursivo; resenha crítica; folhado textual; contexto de
produção.

1. Introdução
Este artigo retoma e amplia nossa apresentação do II EPED (Encontro de Pós-graduandos em Estudos
Discursivos da USP – Abordagens metodológicas em estudos discursivos), que tinha por objetivo apresentar
a teoria do Interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006, 2008), sobretudo no que diz respeito
à análise de textos. Como aponta Bronckart (2006, 2008), o interacionismo sociodiscursivo é uma corrente
do interacionismo social que, por sua vez, não é um movimento formalmente constituído, mas uma
orientação epistemológica geral, ou um posicionamento epistemológico e político, construído
essencialmente a partir das obras de Spinoza, de Marx e de Vygotski (1934/2001). O interacionismo social
também é compartilhado por vários pensadores das ciências humanas/sociais, tais como: Buhler, Dewey,
Mead, Politzer,mas também, parcialmente, por Durkheim, Wallon, entre outros2.
Por sua vez, o interacionismo sociodiscursivo (ISD) pretende realizar apenas uma parte do projeto do
interacionismo social. Ele visa a mostrar o papel fundador da linguagem e sobretudo do funcionamento
discursivo/da atividade discursiva no desenvolvimento humano (BRONCKART, 2006, 2008). Segundo o
autor, o ISD conduz trabalhos teóricos e empíricos que se desenvolvem nos três níveis do programa de
referência do interacionismo social, a saber: os pré-construídos, as mediações formativas, o
desenvolvimento.
Segundo Bronckart (2004, 2008), no nível dos pré-construídos, o primeiro objetivo do ISD foi o de
elaborar um modelo coerente de organização interna dos textos. Para tanto, Bronckart e os pesquisadores
1
Docente do Programa de Pós-Graduação de Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês (FFLCH-USP). E-mail:
[email protected].
2
As referências bibliográficas às obras citadas encontram-se nos livros de Bronckart (2006, 2008). Optamos por não mencionar
neste artigo, pois são apenas referências retomadas do autor.
Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

de Genebra desenvolveram estudos durante 20 anos, a partir dos trabalhos de: Adam (1990), Genette
(1972), Roulet et al. (1985), Weinrinch (1973) etc. e de pesquisas próprias, que deram origem à obra Le
fonctionnement des discours (BRONCKART e al., 1985). Ainda segundo o autor, estes estudos deram origem
ao esquema da arquitetura textual proposto em Atividade de linguagem, textos e discursos (1999). Sendo
assim, no nível dos pré-construídos, o objetivo do ISD é o de analisar as condições de funcionamento
efetivo dos textos, partindo do princípio de que os gêneros textuais são os produtos de uma atividade
linguageira coletiva, organizada pelas formações sociais e visando a adaptar os formatos textuais às
exigências das atividades gerais.
No nível das mediações, o ISD postula que as mediações formativas se realizam em vários locais, com
aprendizes de estatutos diversos (Bronckart, 2008). Dentro desse posicionamento, o ISD interessa-se pelas
mediações nos sistemas educativos, pois estes são um local universal de formação nas sociedades
contemporâneas. Nesse sentido, o ISD desenvolveu trabalhos em didática das línguas, em três eixos:
adaptação e modernização dos programas de ensino das línguas vivas; elaboração de métodos segundo o
programa do ISD: sequências didáticas para domínio de um gênero e baseada no modelo da arquitetura
textual; verificação da medida em que este projeto era colocado em prática, o que deu origem às pesquisas
sobre o trabalho do professor (MACHADO, 2007; MACHADO e LOUSADA, no prelo; LOUSADA, 2006;
BUENO, 2007; ABREU-TARDELLI, 2006), por exemplo.
Finalmente, como coloca Bronckart (2004) no nível do desenvolvimento, o ISD interessa-se, por um
lado, pelas condições de construção das pessoas e, por outro, pelas condições da transformação dos
construídos socio-históricos. Em relação às condições de construção das pessoas, o ISD sustenta a
necessidade de demonstrar a tese vygotskiana do papel da interiorização dos signos na constituição do
pensamento consciente, tendo realizado diversos trabalhos nesse sentido.
Parece-nos, ainda, importante salientar que o ISD é uma teoria em construção, estando
constantemente sujeito a revisões, descobertas, recursos a outros autores etc.
Neste artigo, vamos nos interessar pelo nível dos pré-construídos e, portanto, vamos nos limitar a
apresentar o modelo de organização interna, ou da arquitetura interna dos textos, que pode ser
encontrado na obra Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sociodiscursivo
(BRONCKART, 1999) e que é parcialmente retomado e rediscutido em Atividade de linguagem, discurso e
desenvolvimento humano (BRONCKART, 2006). Após a apresentação do quadro teórico-metodológico do
ISD, apresentaremos a análise de um texto segundo esse modelo, com o intuito de exemplificar os
conceitos abordados.
Sendo assim, após apresentarmos os pressupostos teóricos que constituem o modelo de análise
textual desenvolvido pelo ISD (BRONCKART, 1999, 2004, 2006, 2008) e que faz parte das pesquisas no nível
dos pré-construídos, exemplificaremos esse modelo a partir da análise de um texto pertencente ao gênero
resenha crítica de filme.

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

2. O modelo de análise de textos do ISD


Antes de apresentarmos o modelo de análise de textos proposto pelo interacionismo sociodiscursivo,
parece-nos essencial esclarecer as definições adotadas pelo ISD a respeito dos conceitos de texto e de
gênero textual.
Para Bronckart (1999), o agir linguageiro, que designa a realidade linguageira constituída de práticas
de linguagem situadas, realiza-se por meio de textos. O texto corresponderia a uma unidade comunicativa
ou interativa global e poderia ser definido como uma unidade de agir linguageiro que veicula uma
mensagem organizada e que tende a produzir um efeito de coerência sobre o destinatário, em um
determinado espaço e num determinado tempo (BRONCKART, 2006). Dessa forma, como existem
diferentes formas de agir linguageiro, ou de textos, o autor propõe o uso de “gêneros de textos” e não de
gêneros do discurso, considerando que as expressões são equivalentes. Os textos apresentam
especificidades que dependem das características da situação de interação na qual são produzidos, das
características da atividade que está sendo comentada e das condições sócio-históricas de sua produção.
Em outras palavras, segundo Bronckart (2006) todo texto pertence sempre a um gênero, apresentando
propriedades genéricas, resultantes da escolha do gênero textual que parece adaptar-se à situação, mas
tem especificidades sempre únicas, que derivam das escolhas do produtor em função de sua situação de
produção particular.
Ao falarmos em gêneros, parece-nos primordial esclarecer as origens do conceito, assim como as
evoluções e modificações propostas pelos pesquisadores nos quais nos baseamos. O conceito de gênero
discursivo tem sua origem na obra de Mikhail Bakhtin (1953/1997), que define os gêneros do discurso
como sendo “tipos relativamente estáveis de enunciados, presentes em cada esfera da atividade humana e
socio-historicamente construídos”. Os gêneros discursivos têm, segundo Bakhtin (1953/1997), três
características básicas: tema, organização composicional e estilo. Dentro do quadro teórico do ISD,
Bronckart (1999) propõe o termo gênero textual, afirmando que são os textos que se organizam em
gêneros, ficando a terminologia tipos de discurso para uma outra categoria que engloba os diferentes
“mundos discursivos” que o produtor do texto pode criar (BRONCKART, 1999) e que explicaremos mais à
frente.
Para Bronckart (1999), somos confrontados a um universo de textos, organizados em gêneros que se
encontram sempre em processo de modificação. Nosso contato com os gêneros textuais ao longo de nossa
história, faz com que tenhamos construído um conhecimento intuitivo das regras e das propriedades
desses gêneros, mesmo que de forma inconsciente (MACHADO, 2009b). Em outras palavras, o agente
produtor do texto tem um conhecimento pessoal e parcial do arquitexto de sua comunidade verbal,
entendido aqui como o repertório de textos que pode ser encontrado em sua comunidade e que se
organizam em gêneros. O agente produtor tem, assim, acesso a modelos de gêneros disponíveis no

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

arquitexto de sua comunidade verbal e serve-se deles ao produzir seus textos. É esse conhecimento
intuitivo que nos ajuda a produzir apropriadamente textos pertencentes aos gêneros com os quais tivemos
mais contato durante a vida.
Para analisar textos, pertencentes a diferentes gêneros, Bronckart (1999, 2006, 2008) propõe um
modelo da arquitetura interna dos textos que se concentra na análise do folhado textual, composto: pela
infraestrutura global do texto, dividida, por sua vez, em plano geral/global do texto, tipos de discurso,
sequências; pelos mecanismos de textualização, divididos em conexão, coesão nominal e coesão verbal; e
pelos mecanismos de responsabilização enunciativa, que são constituídos das modalizações e das vozes
presentes no texto. Além disso, antes de qualquer análise textual, Bronckart (1999) postula a necessidade
de compreender o contexto de produção do texto, tanto no nível mais geral do contexto mais amplo,
quanto no nível da ação de linguagem que dá origem ao texto.
Passemos então para o primeiro item, que é a análise do contexto de produção do texto. Nesse nível,
analisamos primeiramente o contexto imediato em que o texto foi produzido, ou seja, a situação de ação
de linguagem que deu origem ao texto (BRONCKART, 1999; 2006, p. 146). Para esta análise, levantamos
hipóteses sobre: quem escreveu o texto, para quem o escreveu, em qual insitutição, com qual objetivo. É
importante estarmos atentos para o contexto físico que deu origem ao texto, mas sobretudo ao contexto
sociossubjetivo, ou seja, tentando compreender o local social de onde fala/escreve o enunciador, para qual
destinatário o texto foi provavelmente produzido, em qual local social ele foi produzido e que efeitos o
enunciador queria produzir no destinatário. Além disso, cabe lembrar que o contexto deve ser analisado
desde o contexto mais amplo, sociohistórico, ao contexto mais imediato, da ação de linguagem.
Para analisar o folhado textual (BRONCKART, 1999), começamos pelo primeiro nível que é o da
infraestrutura geral do texto, composta pelo plano global dos conteúdos temáticos, pelos tipos de discurso
e pelas sequências. O plano global dos conteúdos temáticos corresponde aos conteúdos que aparecem no
texto, como se fosse um resumo do texto. Já os tipos de discurso, correspondem a mundos discursivos
contruídos na produção textual. Os tipos de discurso podem ser entendidos como pertencentes a dois eixos
principais: narrar e expor. O eixo do narrar (disjunção), pode ser implicado ou autônomo, ou seja, pode
apresentar ou não implicação em relação ao ato de produção (através de dêiticos espaciais, temporais e de
pessoa). O eixo do expor (conjunção) pode também ser implicado ou autônomo. Sendo assim, dentro
desses dois eixos, há uma outra divisão que dá origem aos tipos de discurso: narrar – disjunto e autônomo
(tipo de discurso narração); narrar – disjunto e implicado (tipo de discurso relato interativo) e expor –
conjunto e implicado (tipo de discurso interativo) e expor – conjunto e autônomo (tipo de discurso
teórico)3.

3
Para maiores explicações sobre os tipos de discurso, ver Bronckart (2006, 2008).

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

A diferença radical entre gêneros textuais e tipos de discurso consiste em uma das grandes
contribuições do ISD, no nível dos pré-construídos. Bronckart (2006) afirma que, enquanto que os gêneros
textuais são definidos como uma unidade comunicativa, socio-historicamente elaborada com os recursos
de uma dada língua natural e estreitamente dependente das diversas exigências interativas das situações
de atividade geral, os tipos de discurso são unidades linguísticas em número restrito, suscetíveis de entrar
na composição de qualquer gênero; estas unidades mostram o que Genette (1986) qualifica de « atitudes
de locução », com caráter universal, chamadas no ISD de « mundos discursivos ».
Ainda no nível da infra-estrutura textual, BRONCKART (1999) baseia-se em Adam (1990) e propõe
uma outra forma de planificação que são as sequências. Diferentemente dos tipos de discurso, essas
sequências podem ou não estar presentes, aparecem geralmente combinadas (é difícil encontrar em um
texto uma só sequência) e dividem-se em: narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa, injuntiva e
dialogal. Além disso, o autor apresenta o grau zero da sequência narrativa, na qual não há intriga, tensão,
que seria o script e o grau zero das sequências argumentativa e explicativa, a esquematização, mobilizada
quando não há a necessidade de explicar algo de difícil compreensão ou argumentar em favor ou contra
algo que pode ser contestável4.
Ainda no nível dos pré-construídos, mas no segundo nível de análise do folhado textual, temos a
segunda grande contribuição do ISD, que é a identificação e denominação de dois tipos de mecanismos que
contribuem para dar aos textos uma coerência global: os mecanismos de textualização, que exploram os
recursos linguísticos para assegurar a progressão temática e os mecanismos enunciativos: mais ligados à
organização geral do gênero e que tornam explícitos os jogos de vozes e os julgamentos dos quais emana o
conteúdo temático de um texto (Bronckart, 1999).
Para Bronckart (1999), o segundo nível do folhado textual é constituído dos mecanismos de
textualização, caracterizado pela coerência e pela coesão. A primeira diz respeito às relações entre os níveis
de organização de um texto e é explicitada pelos organizadores textuais. Trata-se da conexão entre as
macroideias do texto. A segunda pode ser dividida em coesão nominal (retomadas nominais e pronominais;
anáforas e catáforas) e verbal (tempos e modos verbais).
No terceiro nível do folhado textual, encontramos os mecanismos de responsabilidade enunciativa
que dão a clarificação dialógica do texto (BRONCKART, 2008). Nesse nível, pode-se analisar a questão das
modalizações, responsáveis pelas diversas avaliações do enunciador sobre um ou outro aspecto do
conteúdo temático e que podem ser divididas, segundo Bronckart (1999) em lógicas, deônticas,
pragmáticas e apreciativas5. Estas últimas envolvem as apreciações subjetivas do enunciador, que avaliam o
conteúdo temático do enunciado como sendo negativo, positivo etc. para o enunciador. Já as vozes

4
Para maiores explicações sobre as sequências e suas fases, ver Bronckart (1999).
5
Apresentamos apenas a definição das modalizações apreciativas, pois são estas que utilizaremos neste artigo. Para mais detalhes
sobre as modalizações, ver Bronckart (1999).

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

explicitam as instâncias que assumem ou se responsabilizam pelo que está sendo dito e também fazem
parte dos mecanismos enunciativos.
Para analisar a questão das vozes encontradas no texto, é importante salientar que o próprio
Bronckart (1999) encoraja o recurso a outras teorias que complementem o que é apresentado em seus
estudos sobre o ISD. Sendo assim, para a análise apresentada neste artigo, servimo-nos de outros autores
que investigam mais a fundo essa questão, tais como Maingueneau (1989, 1991, 2001) e Authier-Revuz
(2001). Maingueneau (2001) sustenta que o processo de inserção de vozes pode acontecer por meio de
vários recursos, tais como: discurso direto, direto livre, indireto, indireto livre, ilhas enunciativas, aspas,
entre outros. Já Authier-Revuz (2001) explora as diferentes formas de modalização autonímica como forma
de inserção de vozes. Dentro de sua classificação, utilizaremos, aqui, a questão da inserção de vozes por
meio de palavras de outra época, registro, discurso teórico, posição política etc. que é uma das várias
formas de identificar a heterogeneidade constitutiva (AUTHIER-REVUZ, 2001, p. 23). Além disso, baseamo-
nos em Brait (2008) no que diz respeito à ironia como fenômeno de inserção de vozes, já que, para a
autora, a ironia acontece por haver conhecimentos partilhados entre locutor e destinatário, no nível dos
valores pessoais, sociais ou constituintes de um imaginário coletivo. É através da ironia que o produtor do
texto procura chamar a atenção do destinatário para o discurso e conseguir sua adesão (BRAIT, 2008, p.
138).
A partir dos procedimentos metodológicos de análise que acabamos de mostrar, realizamos a análise
do texto que apresentamos a seguir.

3. Análise de um texto segundo o modelo do ISD


Nesta seção, propomo-nos a apresentar a análise que realizamos do texto Da Vinci Code6, publicado
na revista francesa l’Express em 2006 e pertencente ao gênero textual resenha crítica de filme7.
Começando a análise pelo contexto de produção do texto, podemos levantar a hipótese de que se
trata de um texto pertencente ao gênero textual crítica de filme, ou resenha crítica de filme8, publicada no
site da revista l’Express, o que se concretiza quando se observa que o texto foi encontrado na seção
“culture” da revista, local esse que abarca outras críticas ou resenhas críticas. Trata-se de uma revista

6
O texto analisado encontra-se nos anexos.
7
Uma análise preliminar do mesmo texto foi inicialmente realizada para uma publicação decorrente de um curso sobre gêneros
textuais que ministrei em Curitiba, junto ao governo do Paraná. O artigo em questão ainda não foi publicado.
8
A discussão sobre a definição de alguns gêneros como resumo, resenha, resenha crítica e crítica está longe de ter sido resolvida.
Alguns autores consideram a resenha como não contendo apreciações e a resenha crítica como contendo apreciações. Para este
artigo, consideramos que o resumo retoma o conteúdo da obra sem tecer avaliações ou comentários sobre ela. A resenha faz o
mesmo, porém apresenta elementos sobre o contexto geral da produção e da divulgação da obra (MACHADO, 2002). Finalmente, a
resenha crítica apresenta todos os elementos anteriores e, ainda, elementos avaliativos, apreciativos sobre a obra. É esse gênero
que é comumente chamado de “crítica”. Consultar também Machado, Abreu-Tardelli & Lousada (2004a, 2004b).

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francesa de orientação política centro-direita, vista como um macro-enunciador que “abriga” as críticas de
Carrière. O autor da crítica é Christophe Carrière, jornalista que escreve na revista desde 2002, na seção
“culture”. Lendo seu perfil na própria revista (http://blogs.lexpress.fr/cinema/about.php), podemos ver
que Carrière quer construir uma imagem de si ligada ao humor, tanto quando fala de si, quanto quando fala
de outras coisas, como seu blog, por exemplo. Esta informação é de grande importância para compreender
algumas questões que serão abordadas mais a frente, como, por exemplo, o recurso constante à ironia,
como estratégia do autor.
O leitor potencial deste texto é provavelmente alguém que tem interesse por cinema, ou por este
filme em especial. Trata-se possivelmente de um leitor francófono que tem provavelmente o hábito de ler a
revista l’Express, sobretudo na seção cultura, ou que tem hábito de ler críticas em diversos meios de
comunicação. O texto foi publicado na época do lançamento do filme na França e seus leitores potenciais
podiam lê-lo antes ou depois de terem assistido o filme. Nesse sentido, a resenha crítica difere da sinopse
que, geralmente, é lida antes de se ver o filme, já que contém, inclusive, os horários e salas de cinema em
que o filme é exibido.
Após a reflexão sobre o contexto de produção do texto, passemos para a análise da infraestrutura
geral do texto. O texto analisado tem três parágrafos e começa, no primeiro parágrafo, com uma espécie
de resumo da história do filme. No segundo parágrafo, temos uma parte que contém mais apreciações
sobre o filme, passando do autor do livro ao diretor e roteirista do filme e ao próprio filme. Finalmente, no
último parágrafo, temos um conteúdo bem mais crítico sobre o filme. Cabe, ainda, ressaltar que a resenha
é um gênero textual, como o resumo, caracterizado pelo fato de trazer em si elementos de uma outra obra
cultural, quer apenas resumindo-a (como no caso do resumo), quer resumindo-a e dando uma opinão ou
emitindo uma avaliação/apreciação sobre ela (como no caso da resenha crítica). O fato de ser um gênero
em que se fala de outra obra cultural deixa marcas linguísticas e organizacionais no texto, como veremos a
seguir.
Ainda no nível da infraestrutura geral do texto, percebemos que ele é construído
predominantemente pelo tipo de discurso interativo, ou seja, contendo marcas da situação de enunciação
em que foi produzido. Nesse sentido, esta resenha difere de outras em que o tipo de discurso
predominante é o discurso teórico, como aponta Machado (2002). Para chegar a essa conclusão,
analisamos marcas da situação de enunciação que se revelam no texto, tais como dêiticos de pessoa,
espaciais e temporais. Encontramos apenas dêiticos referentes à segunda pessoa: vous, que aparece duas
vezes e que representa o leitor do texto9. O vous usado pelo autor tem a função de aproximar o leitor do
autor, criando uma relação de proximidade entre ambos, como se fosse uma conversa entre amigos: um
amigo conta ao outro porque deve ou não ver o filme. No último parágrafo, vemos que o autor do texto
9
Há outra referência a “vous”, mas está no interior do diálogo do filme, não representando, portanto, o leitor do texto e a situação
de enunciação em que foi produzido.

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passa de vous para nous – nos héros – o que contribui para aproximar leitor e autor do texto, por meio de
uma estratégia de convencimento que cria uma relação de cumplicidade entre ambos. Sendo assim
podemos atribuir o uso do discurso interativo como uma marca do autor-produtor do texto que constrói
uma imagem de si em que se aproxima do leitor e deixando marcas dessa aproximação em seu texto,
contrariamente ao que ocorre em outras resenhas.
Quanto às sequências textuais encontradas no texto, observamos a presença de uma pequena
sequência narrativa, porém sem as etapas clássicas que levam à tensão, ao conflito que precisa ser
solucionado, justamente porque o conflito é solucionado no filme e o autor do texto não quer desvelar a
solução do conflito aos leitores. Esta sequência serve, no caso deste texto, apenas para contar elementos
da história, no primeiro parágrafo, para que o leitor tenha vontade de verificar o desenrolar da história
quando assistir ao filme. Ela serve também para introduzir a sequência argumentativa que vem a seguir, na
qual o autor menciona vários contra-argumentos (o filme é fielmente adaptado, os atores principais são
eficazes etc) para chegar a seu argumento principal: o problema do filme é que ele se leva muito a sério. A
seguir, vemos exemplos que sustentam esse argumento principal, partindo de diálogos dos personagens
principais.
Passando para o segundo nível de análise do folhado textual, temos os mecanismos de textualização,
compostos pelo sistema de conexão, de coesão verbal e o de coesão nominal. A macroconexão
estabelecida no texto, ou seja, a conexão entre as grandes ideias, os parágrafos, não acontece por meio de
conectivos, mas sim por meio de verbos ou expressões que interpelam o leitor. Por exemplo, no primeiro
parágrafo, temos um verbo no imperativo que interpela diretamente o leitor. No segundo parágrafo, temos
uma exclamação (Oh!) típica de segmentos em que há diálogo entre os participantes da interação. O
terceiro e último parágrafo começa com uma retomada nominal da dupla de personagens, que aparecem
no primeiro parágrafo, para, em seguida, serem comparados ao conteúdo do filme, que é abordado no
segundo parágrafo. Esse terceiro parágrafo acaba funcionando como uma síntese dos dois primeiros, pois o
autor confirma sua opinião sobre o filme, que tinha sido mencionada mais discretamente, por meio da
ironia, nos parágrafos anteriores.
Encontramos também elementos conectivos no interior do parágrafo, como, por exemplo, no
segundo parágrafo em que vemos um conectivo de causa (car) seguido de uma frase com infinitivo que
também cumpre a função de aproximar o leitor (car à moins d’avoir été enfermé – o leitor). No terceiro
parágrafo temos um conectivo que indica oposição (or), servindo para apoiar a argumentação do autor,
sustentando que o filme não deve ser levado a sério. Além desses conectivos, a conexão entre as frases se
dá por meio de elementos coesivos (dans ces conditions, Le tandem etc.) que serão analisados a seguir.
A coesão verbal é dada no texto por meio de uma série de verbos no presente que apresentam as
opiniões do autor sobre o filme e alguns verbos no passado, em tempos compostos como o subjuntivo, o

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infinitivo passado e outros, que se referem a tudo que precede o filme10. Assim, o uso do presente marca o
tempo da crítica ao filme, enquanto que o
Quanto à coesão nominal, encontramos várias séries coesivas que se destinam a assegurar a não
repetição dos personagens e do filme, mas que também contribuem, por meio da escolha dos termos que
substituem os referentes, a transmitir a opinião do autor do texto sobre esses elementos. As séries coesivas
são construídas a partir dos elementos mais importantes do filme: os personagens e o próprio filme. Sendo
assim, temos as seguintes séries coesivas11:
• Robert Langdom: herói – especialista do estudo do signo – ele – X-man do anagrama
• Sophie Neveu: heroína – criptógrafa - neta do conservador do Louvre – ela
• Robert Langdom e Sophie Neveu: os heróis – a dupla (le tandem) - eles
• O filme: informação exclusiva (scoop) – o filme de suspense (thriller) – ele – mistura infame e
ecumêmica (gloubiboulga12 oecuménique) – série B qualquer
Em relação às séries coesivas, é interessante observar que as escolhas lexicais feitas pelo autor do
texto para substituir o referente também denotam sua posição enunciativa em relação a ele. Sendo assim,
parece-nos importante ressaltar que o uso de “X-man do anagrama”, de “gloubiboulga écuménique” e de
“’serie B qualquer” já revelam a crítica de Carrière ao filme. Por esta razão, embora a coesão nominal seja
vista, dentro do modelo bronckartiano, como fazendo parte dos mecanismos de textualização, poderíamos
dizer que a análise das escolhas lexicais usadas para realizar as retomadas catafóricas e anafóricas (ou seja,
a coesão nominal) poderiam permitir uma análise destes termos dentro do nível dos mecanismos
enunciativos, que denotam os traços da posição enunciativa do produtor do texto em relação ao conteúdo
da proposição13.
Quanto aos mecanismos enunciativos tais como eles são descritos no modelo bronckartiano, muitos
aspectos podem ser observados em relação às modalizações, mas também em relação às vozes presentes
no texto. No que diz respeito às modalizações, encontramos, sobretudo, modalizações apreciativas
realizadas por meio de advérbios que contribuem para dar a apreciação do autor do texto sobre o filme. É o
caso dos advérbios cuidadosamente (soigneusement) e fielmente (fidèlement). Ambos são usados para
dizer que o filme foi cuidadosamente escondido e fielmente adaptado, mostrando que Carrière opõe o
cuidado em relação ao filme, como se se tratasse de um excelente filme, na opinião de outros, à sua

10
Não analisaremos detalhadamente os mecanismos de coesão verbal, pois eles nos parecem menos significativos para a
compreensão desse texto.
11
Há outras séries coesivas que não analisamos por serem menos interessantes para a compreensão dos mecanismos de
textualização utilizados no texto.
12
A palavra gloubi-boulga vem de um desenho animado francês dos anos 70, em que um monstro se alimentava de uma mistura de
comida pouco apetitosa. A palavra passou a designar uma mistura pouco interessante, infame.
13
Nesse sentido, podemos dizer que contribuímos de alguma forma, neste artigo, para a complementação do modelo de análise do
ISD.

13
Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

própria opinião, mais negativa, como veremos a seguir. Além disso, algumas escolhas lexicais feitas pelo
autor, tais como gloubiboulga écuménique, abérrations, lieux communs (lugares comuns), saintes vérités
(verdades santas) contribuem para fazer com que o leitor construa uma imagem sobre o filme a partir de
palavras que carregam um sentido negativo. Assim, Carrière constrói pouco a pouco sua argumentação,
levando o leitor a construir uma imagem negativa sobre o filme.
Nestes exemplos, é de se notar a escolha lexical para retomar o herói principal (X-man do anagrama)
e do filme (série B qualquer), no primeiro caso denotando ironia, como veremos a seguir, e no segundo
caso mostrando desprezo em relação ao filme que não seria digno de uma grande produção
cinematográfica, como se mostra, mas de um filme pertencente a uma série B qualquer.
Ainda no que diz respeito aos mecanismos enunciativos, passamos, agora, para a análise das vozes
que atravessam o texto de Carrière. Para esta análise, procuramos identificar elementos linguísticos que
mostram a presença de vozes, como:
a) Discurso direto ou indireto: através desses procedimentos, temos a inserção das vozes dos
personagens, como por exemplo:
• Discurso direto: "Elle est juste là!" révèle-t-elle à Langdon ; "On est ce pour quoi on se bat",
"Seul compte ce en quoi vous croyez"
• Discurso indireto: il possède, dit-il, une mémoire eidétique, qui lui permet de jongler comme
personne avec les lettres d’une phrase codée
b) O emprego de aspas, que neste texto também contribui para introduzir a voz de personagens do
filme. Assim, quando lemos o seguinte trecho entre aspas "endroit discret pour réfléchir",
compreendemos que Carrière atribui essa fala aos personagens, pois associa-a aos heróis do
filme. No entanto, sem rever o filme, não podemos ao certo saber se são realmente palavras dos
personagens, reproduzidas fielmente, ou interpretações do autor da crítica visando a criar
efeitos de sentido, neste caso de autenticidade, utilizando-se de um procedimento descrito por
Maingueneau (2001) e chamado pelo autor de “ilhas enunciativas”.
c) Palavras de outro tempo, jargão, etc: por meio desse procedimento, vemos a inserção de
palavras que pertencem ao jargão religioso: Amen ? Vade retro, ou espiritual: la quête du Graal.
Não se trata, aqui, de palavras pronunciadas por personagens do filme, mas de palavras
escolhidas por Carrière para compor um sentido colado à imagem que o filme tenta construir de
si (espiritual, esotérico) e contra a qual o autor se opõe, ridicularizando-a.
Parece importante salientar que, ao lado das vozes dos personagens do filme, trazidas para a crítica,
parece surgir um outro mecanismo de inserção de vozes que pertence, desta vez, a uma instância mais
profunda, a de um discurso espiritual/religioso que perpassa tanto o filme, quanto a crítica de Carrière.
Assim, podemos inferir a intertextualidade pois ela é marcada por uma série de indícios que evocam o
caráter religioso/espiritual deste filme (e de outros filmes hollywoodianos também), como a busca do Graal

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

(la quête du Graal) que lembra os filmes sobre a Távola redonda. Além desta intertextualidade marcada,
podemos entrever o espaço da interdiscursividade criada entre a compreensão do destinatário e os efeitos
de sentido buscados pelo enunciador. Assim, ao lado da ligação com outros textos, encontramos um tom
irônico, depreendido do confronto entre a espiritualidade pretendida pelo filme e o tom jocoso de Carrière
sobre a religião.
Na verdade, segundo Brait (2008), podemos considerar a ironia como um mecanismo de inserção de
vozes. Segundo a autora (BRAIT, 2008, p. 138), o produtor da ironia procura chamar a atenção do
destinatário para o discurso e, assim, contar com sua adesão. Pressupõe-se que haja conhecimentos
partilhados entre locutor e destinatário, no nível dos valores pessoais, sociais ou constituintes de um
imaginário coletivo. Brait (2008: 140) salienta também que o jogo estabelecido entre o texto e as presenças
constitutivas em seu interior produz efeitos irônicos, já que propõe uma nova encenação, uma nova
“enunciação” do já-dito. É o que percebemos quando Carrière coloca o seguinte trecho: “le fruit de
galipettes entre Jésus et Marie-Madeleine”.
Ao colocar em cena a palavra “galipettes14” ao lado de dois personagens bíblicos, Jesus e Maria-
Madalena, certamente compartilhados pelos leitores, o crítico instaura um espaço de interdiscursividade
que provoca efeito irônico no destinatário por unir coisas não muito sérias, como galipettes a dois ícones
da religião católica, fazendo insinuações entre eles. Embora sendo sugerida pelo livro e pelo filme, a
possível relação entre ambos adquire, assim, novos contornos no texto de Carrière pela maneira como é
posta em cena, propondo a junção de um discurso supostamente sério, o da bíblia, e um discurso jocoso,
que se delineia a partir do emprego da palavra galipette.
O mesmo acontece com a expressão o “X-man do anagrama”, já que Carrière apela para o
conhecimento do leitor do que diz respeito aos diferentes super-heróis, para fazê-lo compreender sua
brincadeira ao chamar o herói do filme de super herói dos anagramas. Concluímos, então, que é no espaço
interdiscursivo que se forma entre autor e leitor que podemos interpretar o tom jocoso de Carrière: o
religioso pretensamente sério do filme contrasta com as brincadeiras de Carrière em relação à religião e em
relação ao mundo do cinema. É nesse espaço que se insere a ironia que faz rir o leitor e que podemos
compreender como intenção do autor, ao ler o site de Carrière.

4. Considerações finais
A análise que apresentamos aqui teve por objetivo ilustrar os procedimentos teórico-metodológicos
do ISD que podem ser usados para a análise de textos. É preciso salientar que esta análise, ilustrativa
desses procedimentos, pode ter várias funções no quadro do ISD. Primeiramente, podemos dizer que, ao

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Palavra pertencente a um nível de língua mais informal, que quer dizer cambalhotas, mas que também poder ser associado a
relações sexuais, como é o caso deste texto.

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

ilustrar a abordagem da análise dos discursos proposta pelo ISD (BRONCKART, 2006, 2008), ela pode ser
usada para análise de textos em geral com objetivos diversos, tendo um fim em si (como foi o caso neste
artigo), ou servindo de suporte para um quadro de pesquisa maior, como é o caso dos pesquisadores que
usam esses procedimentos teórico-metodológicos para analisar o trabalho e o trabalho educacional, por
exemplo Machado (2007, 2009a); Lousada (2006); Bueno (2007); Barricelli (2007); Abreu-Tardelli (2006);
Machado e Lousada (no prelo) entre outros. Nesse último caso, pode-se dizer que estas pesquisas
contribuem para um outro nível de estudos propostos pelo ISD a partir do interacionismo social, que é o
das mediações formativas, como já mencionamos.
Porém, é necessário mencionar também que todas as análises de textos feitas dentro do quadro do
ISD podem contribuir também para ampliar o conhecimento teórico e científico sobre os gêneros textuais
que circulam em nossa sociedade. Nesse sentido, a análise aqui apresentada teve por objetivo mostrar
como analisar textos segundo o quadro teórico do ISD para que se possa elaborar um modelo didático do
gênero em questão. O modelo didático tem o objetivo de guiar as práticas de ensino do gênero, sendo uma
das etapas da transposição didática que leva à construção da sequência didática (SCHNEUWLY & DOLZ,
2004). Nesse sentido, é preciso salientar que o modelo didático não precisa ser teoricamente puro, como
apontam os autores, já que tem a função maior de apontar as dimensões ensináveis desse gênero e não de
esgotar suas análises possíveis. É importante lembrar, ainda, que para a realização do modelo didático de
um gênero, é necessário analisar vários textos do mesmo gênero, antes de poder considerar que as
características presentes em um texto são as características predomindantes de um determinado gênero.
Sendo assim, é importante que o modelo didático procure representar as características comuns à maioria
dos textos pertencentes àquele gênero. Nessa perspectiva, nossa análise pode contribuir para a realização
de outros trabalhos sobre o gênero resenha crítica e/ou crítica de filme.

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

Anexos

Anexo I: texto analisado

TOUS LES JOURS, TOUTE L’INFO

Da Vinci Code

par Christophe Carrière, publié le 18/05/2006 - mis à jour le 17/05/2006


© Columbia Pictures Industries INC

Mettons que vous n’ayez pas lu le livre. Le héros, c’est le professeur Robert Langdon, un spécialiste dans l’étude
du symbole, car il sait distinguer le trident de Poséidon de la fourche du Diable. Mieux: il possède, dit-il, une
mémoire eidétique, qui lui permet de jongler comme personne avec les lettres d’une phrase codée. Le X-Men de
l’anagramme ! L’héroïne, c’est la cryptographe Sophie Neveu, petite-fille du conservateur du Louvre, lequel est
retrouvé assassiné et nu, dans la position de L’Homme de Vitruve, dessin de Léonard de Vinci repris par une
célèbre agence d’intérim. Sophie est bien utile pour mener l’enquête, car elle sait où se trouve la Mona Lisa du
même de Vinci. "Elle est juste là!" révèle-t-elle à Langdon, tandis qu’ils cherchent des indices dans le fameux
musée parisien. Dans ces conditions, ils avancent évidemment à grands pas, dans un jeu de piste qui s’avère
carrément la quête du Graal, lequel n’est pas une coupe, mais le fruit de galipettes entre Jésus et Marie-
Madeleine.

Oh! Ce n’est pas un scoop. Car à moins d’avoir été enfermé dans une cave ces derniers mois, vous êtes forcément
au courant de quoi il retourne. Pour un film soigneusement caché à la presse jusqu’à sa présentation en ouverture
cannoise, Da Vinci Code est le scénario le plus éventé qu’on ait jamais connu, grâce à 40 millions de lecteurs du
livre de Dan Brown, fidèlement adapté par la scénariste Akiva Goldsman, oscarisée pour Un homme d’exception.
Celui-ci était d’ailleurs réalisé par Ron Howard, metteur en scène de Da Vinci Code.

Le tandem n’a rien perdu de son efficacité. Le matériau de base, si. L’erreur fondamentale de ce gloubiboulga
oecuménique est de se prendre très au sérieux. Or, comment ne pas rire quand, en quête d’un "endroit discret
pour réfléchir", nos héros se rendent, la nuit, au bois de Boulogne, où les prostituées et toxicomanes ont donc
autre chose à faire que les espionner? Le thriller, qui pourrait se voir comme une série B quelconque, est truffé de
ce genre d’aberrations, et ponctué de lieux communs assénés comme de saintes vérités: "On est ce pour quoi on
se bat", "Seul compte ce en quoi vous croyez", etc. Amen ? Vade retro, plutôt.

http://www.lexpress.fr/culture/cinema/film-en-salle/da-vinci-code_500516.html

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Abordagens metodológicas em estudos discursivos. São Paulo: Paulistana, 2010.

Dados para indexação em língua estrangeira

Abstract: This paper aims at presenting the Sociodiscursive interactionism approach to the analysis of texts.
In order to do that, we will present at first the definition of sociodiscursive interactionism within the main
framework of social interactionism, discussing its kinds of research. After that, we will present the model of
analysis suggested by Bronckart (1999, 2004, 2006, 2008), within the theoretical framework of
sociodiscursive interactionism to the analysis of texts, from the context of production of the text until the
analysis of linguistic unities. We will also present the organizational level, as well as the text and
enunciation mechanisms. Finally, in order to give an example of the model, we will show the analysis of a
text that belongs to the genre movie review.

Key words: textual gerne; sociodiscursive interactionism; movie review; context of production; textual
organization

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