7 - Noções Básicas de Manutenção

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Motores à Reação

Noções Básicas de Manutenção

Instrutor: Enildo Bernardes - [email protected]


Técnico em Manutenção e Piloto Comercial de Aeronaves
FILOSOFIAS DE MANUTENÇÃO X MOTORES
•Existe em manutenção aeronáutica alguns conceitos especiais que são pré-
requisitos para o entendimento de assuntos mais aprofundados, por exemplo :
PLANO DE MANUTENÇÃO : o plano de manutenção é adotado por uma empresa
aérea ( operadora) . Esse plano é baseado no próprio plano recomendado pelo
fabricante. A idéia do plano de manutenção é apresentar a filosofia de manutenção a
ser empregada para o operador manter a confiabilidade de todos os sistemas da
aeronave em níveis aceitáveis.
•Após os lançamentos de novas aeronaves, o fabricante não tem experiência
suficiente com a aeronave que possibilite um Plano de Manutenção certeiro e rígido
desde o momento do lançamento.
•Com o tempo, as empresas operadoras, com a experiência acumulada nas tarefas e
ocorrências de manutenção, passam ter, junto com o fabricante, condições de
otimizarem os processos de manutenção e por sua vez o Plano de Manutenção.
•Esse processo precisa ser organizado e regido por regras que permitam uma
abordagem sistemática e eficiente.
•Surge o conceito de Filosofias de Manutenção que veremos a seguir.
FILOSOFIAS DE MANUTENÇÃO X MOTORES
• FILOSOFIA DE MANUTENÇÃO ( Processos Primários de Manutenção ) – Conjunto de
normas e técnicas adotadas para gerarem a base do chamado Controle de Manutenção e
o denominado Plano de Manutenção de um modelo de aeronave.
• CONTROLE DE MANUTENÇÃO OU CONTROLE TÉCNICO DE MANUTENÇÃO (CTM) –
Técnica de acompanhamento e registro de informações relativas à operação, falha e
estado dos componentes assim como das inspeções implementadas em uma aeronave,
com fins de cumprir o Plano de Manutenção aprovado para a referida aeronave e manter
na aeronave cada componente no estado aeronavegável.
• O controle de manutenção é implementado em 3 níveis concorrentes :
(i) o controle de Hélices ( se houver ), (ii) o controle de motores e o (iii)Controle de
estrutura e sistemas.
• Ao longo dos anos, 3 filosofias de manutenção básicas foram se sedimentando (e também
uma filosofia mista mais recente surgiu). Essas filosofias também denominadas Processos
Primários de Manutenção são:
(i) Hard Time
(ii) On-Condition
(iii) Condition Monitoring
(iv) Técnicas MSG (Uma mistura das técnicas acima, fundamentada em preceitos
definidos pelo FAA e técnicas de estatísticas e confiabilidade)
FILOSOFIA “ HARD-TIME”
•Nos primeiros dias da aviação, os programas de manutenção foram desenvolvidos
pelos fabricantes com a ajuda de mecânicos experientes. A filosofia básica
empregada era a de revisar tudo em um prazo específico (HARD TIME). Esta
abordagem era decorrente da crença de que as aeronaves se comportavam de
acordo com a “Curva da Banheira” (veremos o que isso significa nas próximas aulas
– vide aula de confiabilidade).
•Assim, esse processo existe desde o início da aviação. Os componentes controlados
por esse processo (filosofia) são retirados da aeronave quando é transcorrido um
intervalo de tempo ou contagem de operação/uso do componente desde a última
troca/revisão.
•Essa troca ou revisão é chamada de “OVERHAUL” e esse tempo ou contagem
transcorrido entre os “overhauls” é dito “Time Between Overhaul” - TBO (Tempo
Entre Revisões) .
•Os componentes controlados por essa filosofia são ditos componentes HT (Hard
Time)
•A idéia é de que a revisão geral recupera o componente colocando-o na condição
“zero-hora”, isto é, o estado do componente passa a ser, praticamente igual a de um
novo.
FILOSOFIA “ HARD-TIME”
•Um exemplo de componente HT pode ser considerado o óleo de seu carro que deve
ser trocado após um “Hard Time” relacionado à Kilometragem rodada.
•Os componentes HT são, desta forma, aqueles que sofrem desgaste com o tempo
de operação e que cuja falha pode a afetar a segurança ou tem conseqüência
econômica imediata na operação da aeronave (AOG – Aircrat On Ground).
•Nesse caso assume-se que não é possível saber se o componente terá sua
confiabilidade (resistência à falha) reduzida a partir de inspeções e testes na
aeronave e/ou em bancadas.
•O controle do tempo de revisão através do TBO.
•Ele pode ser dado em horas, número de pousos, partidas (ciclos), dias calendáricos.
•O processo Primário de Manutenção “Hard-Time” é um tipo de manutenção
preventiva, ou seja, através da revisão geral procura-se prevenir uma falha que
neste caso seria iminente.
FILOSOFIA “ ON CONDITION”

A processo (filosofia) de manutenção “On Condition” começou a ser discutido após a


2ª Guerra Mundial. Este processo consiste em inspeções e testes periódicos
verificados a partir de padrões para determinar a condição do componente e dessa
forma garantir que este possa operar até a próxima inspeção. Caso seja
determinado que o componente não possa operar até a próxima inspeção, a revisão
geral será executada.
•Neste processo, procura-se detectar a redução da resistência à falha e deste modo
identificar uma falha potencial através de inspeções e testes periódicos na própria
aeronave ou em bancadas. Quando se identificar a falha potencial, a revisão geral
é executada.
•Como o processo HT, o processo OC é um tipo de manutenção preventiva. Através
de inspeções e testes procuramos antecipar-nos as falhas e assim, prevení-las.
•Um exemplo de componente OC são as velas de seu carro.
• Um componente OC não é controlado por seu tempo de operação mas sim por sua
condição.
FILOSOFIA “CONDITION MONITORING”
Esse processo (filosofia) de manutenção foi definido no final da década de
60, com o lançamento do B747. Notou-se através de programas de
confiabilidade que muitos componentes não tinham um tempo de operação ou
condição ideal para se realizar uma revisão geral (OVERHAUL). Desse modo,
surgiu a idéia de definir um processo de manutenção que permitisse aos
componenetes operarem até a falha, então, a coleta de dados determinariam a
necessidade da ação corretiva.
Uma vez que os componentes são operados até a falha, eles devem,
obrigatoriamente, satisfazer as seguintes condições :
(i) Suas falhas não terem efeitos adversos direto sobre a segurança da
operação.
(ii) Não possuam função oculta (a falha funcional deve ser detectada pelos
procedimentos de cheque de tripulação, ou seja, não pode haver
possibilidade de falha oculta do componente).
(iii) Esse componetes devem ser incluidos num programa de confiabilidade.
OBS.: o componente terá função oculta ( Hidden Function) quando a falha não
puder ser detectada pela tripulação através do: (i) cheque pré-vôo , (ii)
instrumentos de cabine, (iii) evidência de falha a partir das sensações do piloto.
FILOSOFIA “CONDITION MONITORING”

Os componentes mais comuns no campo desse processo são os eletrônicos


complexos, pois suas falhas têm características aleatórias, isto é não existe
um envelhecimento dos componentes que faça reduzir a confiabilidade.
• No processo de Condition Monitoring não há qualquer tipo de controle de
tempo, ciclo, etc de operação para o acionamento de uma Revisão Geral e a
manutenção é corretiva e não preventiva como no HT e no OC. Assim a
remoção será “não programada”.

CM
MANUTENÇÃO DE MOTORES
•A manutenção de motores cobre dois tipos básicos de manutenção :
• On Wing: Quando a manutenção do motor e de seus sistemas correlatos e
feita ainda instalado na aeronave de tal maneira a manter o sistema
aeronavegável.
• Off Wing: É a manutenção que somente pode se executada com o motor
numa bancada ou numa Oficina (Shop).
•A manutenção ON-WING pode ser classificada como:
 Manutenção Periódica Prevista (Scheduled Maintenance) - engloba os
cheques periódicos previstos na documentação emitida pelo fabricante. Esses
cheques vão desde um simples cheque de trânsito até cheques mais elaborados
nos quais as portas ( janelas) de inspeção do motor são abertas para a
execução mais elaborada das ações da manutenção. Esse tipo de manutenção
é basicamente preventiva e baseada na filosofia Hard Time ou na filosofia on-
condition. A manutenção periódica Prevista tem evoluído sempre que os
sistemas permitem para a filosofia ‘On-Condition” e até mesmo para a filosofia
‘Condition Monitoring”
 Manutenção Não Prevista (Unscheduled Manitenace) – engloba as
manutenções que são provocadas por incidentes e reportes da tripulação: como
ingestão de pássaros, superaquecimento, excesso de vibração.
MOTORES – ASPECTOS DE MANUTENÇÃO
•Exemplo de manutenção ON-WING...
=> Manutenção Periódica Prevista (Scheduled Maintenance)

ITEM Período Limite TAREFA


Tanque de Final da Operação Checar nível de óleo. Completar ao
óleo de vôo necessário. Registrar quantidade
completada. (ETOPS)
Admissão do Trânsito Cheque de limpeza e observância de peças
motor soltas ou objetos estranhos.
Turbina e Trânsito Cheque visual se está livre de impurezas ou
coletor de se apresenta sem danos ou depósito de
exaustão lascas de metal.
Filtro de óleo 125 horas Drenagem e checagem para possível
contaminação com água.
MOTORES – ASPECTOS DE MANUTENÇÃO
•A manutenção de bancada - geralmente está associada à filosofia
Hard Time ou quando a filosofia On-condition denuncia alguma falha mais
grave ou ainda quando a filosofia Condition Monitoring está em vigor e se
constata uma falha grave que não pode ser resolvida “On-wing”.
•Como vimos a filosofia “On Condition Monitoring” deve-se basear na
coleta do status do sistema avaliado e na comparação com um padrão
para aceitação ou não do componente. No caso de um motor de aeronave,
os parâmetros de avaliação podem ser coletados, por sistemas eletrônicos
(CMC – Central Maintenance Computer), pela Tripulação durante os
cheques operacionais de cabine ou quando se suspeite de algo mais grave
e em seguida se providencia um END (Ensaio Não Destrutivo) nas partes
do motor, incluindo-se aí uma inspeção visual ou Videoscópica
(Boroscópica), etc.
•A filosofia Condition Monitoring tem um aspecto diferente : os
parâmetros de componentes são monitorados e os dados detectados de
forma precisa e ‘up-to-date” e geralmente são componentes redundantes e
que ao falharem não levem a operação a um risco de segurança.
EVOLUÇÃO DAS FILOSOFIAS DE MANUTENÇÃO

Scheduled Overhaul
Task-Oriented – MSG
Process-Oriented
• Lubrication
• Hard Time • Services
• On Condition • Visual Inspection
• Condition Monitoring • Operational Test
• Functional Test
• Restoration
• Discard
• Reliability Control
Program
SIGLAS E NOMENCLATURA DO CTM

TSO – tempo acumulado desde a última revisão geral (“Time Since Overhaul”).
TSN – tempo desde que o componente entrou em operação (“Time Since New”).
TBO – tempo máximo que o componente pode operar entre revisões gerais (“Time Between
Overhauls”).

TSO
RG F RG F Linha
do
tempo.
TSN TSO
Entrada em OBS.:
operação TBO RG- Revisão Geral.
F- Falha.
FILOSOFIAS DE MANUTENÇÃO
Pode haver remoções :
Remoção programada – remoção do componente por ele ter atingido o TBO.
Remoção por conveniência – toda remoção de componente executada por
motivos que não sejam operacionais (remoção não programada) ou por
tempo limite de operação (remoção programada). Ex. Devolução de aeronave
(Leasing)
Remoção não-programada – toda remoção executada prematuramente (o
componente não atingiu o tempo limite de operação) em consequência de um
mau funcionamento e ou pane.
Remoção não programada confirmada – toda remoção onde a falha ou o
defeito é aquele pelo qual o componente foi movido da aeronave.
Remoção não programada justificada – toda remoção de um defeito ou
falha é encontrada, no entanto, esse defeito ou falha pode ser ou não o
motivo da remoção do componente.
FILOSOFIAS DE MANUTENÇÃO

E as falhas podem se classificar em diversas taxonomias a depender de qual aspecto


se quer focar :
FALHA – a impossibilidade de um componente ter desempenho compatível com os
limites previamente especificados.
FALHA POTENCIAL – situação em que a falha funcional é iminente.
FALHA FUNCIONAL – situação em que o componente não executa mais suas funções
normais.
FALHA RELEVANTE – aquela falha que deve ser utilizada na rotina de otimização do
processo “ HARD-TIME”. É uma falha intríseca do componente.

O componente sem falha cumpre uma função....


FUNÇÃO – as ações características normais de um componente.
FUNÇÃO OCULTA – caso de componente que tem uma função normalmente ativa mas
a sua interrupção não é evidente para a tripulação, durante o desempenho de suas
funções normais. Também é o caso de componentes que normalmente são inativos e
não existe indicação de que o componente funcionará quando solicitado.
FILOSOFIAS DE MANUTENÇÃO

No caso de Condition Monitoring e On-Condition uma ferramenta muito usada para se


prospectar a raiz das falhas é o chamado Trouble-Shooting : essa ferramenta é muito
utilizada em aviação como um fluxograma de perguntas e respostas que vão guiando o inspetor ao
longo de possíveis situações de falhas previamente prevista para um determinado conjunto de
componentes. Tal fluxograma apresenta uma sequência de perguntas que à medida que são
respondidas fornecem dicas da localização da origem da falha à equipe de manutenção.

Outro aspecto das filosofias acima é que a manutenção pode providenciar uma série
de testes operacionais dos motores de tal forma a simular a operação dos mesmo
voando. Um teste muito conhecido é denominado de TESTE DE RU-UP :
Neste teste a aeronave é deslocada para um área na qual a retaguarda dos motores fique livres de
edificações ou pessoas e os motores são postos a plena potencia enquanto a aeronave é freada
com segurança para que não se desloque por ação dos motores. Enquanto isso são coletados
dados para análise principalmente para avaliação de componentes on-condition ou para confirmação
de bom funcionamento de componentes recém instalados.

Por vezes os testes geram a o que chamamos de ajustes que são implementados nos
componentes controlados que estão sendo monitorados. Os ajustes visam
aproximar os parâmetros dos componentes dos parâmetros de projeto e aumentar a
confiabilidade dos componentes envolvidos no teste.

Por fim é importante dizer que o repertório de teste de motores constam no manual de
manutenção da Aeronave ou Motor ou da CIA em questão aprovado pela ANAC
BOA SORTE A TODOS.

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