A Teoria Da Imputação Objetiva Segundo Claus Roxin
A Teoria Da Imputação Objetiva Segundo Claus Roxin
A Teoria Da Imputação Objetiva Segundo Claus Roxin
Roxin não foi o percursor, mas é notável o grande avanço a partir Consideremos, agora, que A deseje provocar a morte de B! A o aconselha a fazer uma viagem à Flórida, pois leu que lá,
dos seus estudos que iniciaram em 1970 ultimamente, vários turistas têm sido assassinados; A planeja que também B tenha esse destino. B, que nada ouviu dos casos de
assassinato na Flórida, faz a viagem de férias, e de fato é vítima de um delito de homicídio. Deve A ser punido por homicídio
doloso? Se reduzirmos o tipo objetivo ao nexo de causalidade, esta seria a conclusão. Afinal, A causou, através de seu conselho, a
Ela busca corrigir as deficiências das demais teorias e estabelecer morte de B, e almejava esse resultado. Ou pensemos no homem de aparência suspeita que vai comprar um punhal afiado em uma
loja! O vendedor (V) pensa consigo: “Talvez ele queira matar alguém com o punhal. Mas isto deve ser-me indiferente.” Tem V de
um método para definição do nexo causal entre a conduta do ser punido por homicídio praticado com dolo eventual, na hipótese de o comprador, realmente, apunhalar alguém? Objetivamente,
agente e o resultado típico. V constituiu uma causa para a morte da vítima, e subjetivamente assumiu o risco de que tal resultado ocorresse.
O autor descreve três exemplos que seguirão como “lanternas” Problemas similares ocorrem nas hipóteses de grande relevância prática que são as de desvios na causalidade. Limito-me ao
conhecido exemplo escolar, em que A atira em B com intenção de matá-lo, mas somente o fere. O ferido é levado por uma
para iluminar os entendimentos quanto à doutrina proposta: ambulância a uma clínica; mas ocorre um acidente de trânsito, vindo B a falecer. Cometeu A um delito consumado de homicídio?
Ele certamente causou a morte de B, no sentido da teoria da equivalência, e também a almejou. Se ainda assim não deve haver um
delito consumado de homicídio, isto é difícil de fundamentar do ponto de vista de uma compreensão causal do tipo objetivo.
Fica nítido a falha em atribuir o crime a alguém apenas pelo nexo causal (relação entre a
causa e o efeito). Por essa relação é possível imputar a culpa a alguém que não mereça Como exemplo do terceiro grupo de casos quero lembrar a hipótese extraordinariamente comum da entrega de tóxicos.
receber por direito. É através da teoria da imputação objetiva que é possível analisar se há um Imaginemos que A venda heroína a B! Os dois sabem que a injeção de certa quantidade de tóxico gera perigo de vida, mas
crime ou não. assumem o risco de que a morte ocorra; A o faz, porque o que lhe interessa é principalmente o dinheiro, e B, por considerar a sua
vida já estragada e só suportável sob estado de entorpecimento. Deve A ser punido por homicídio cometido com dolo eventual, na
Não é sempre que, havendo um nexo de causalidade, poder-se-á imputar um delito a alguém. hipótese de B realmente injetar em si o tóxico e, em decorrência disso, morrer? A causalidade de A para a morte de B, bem como
seu dolo eventual, encontram-se fora de dúvida. Se considerarmos a causalidade suficiente para a realização do tipo objetivo,
teremos que concluir pela punição.
“para Roxin el criterio general para
determinar la imputación objetiva es el Mas, além disso, é necessário que o risco não permitido desta ação seja concretamente realizado, ou seja, deve haver uma
aumento del riesgo (Para Roxin, o critério exteriorização do agir no plano físico e que essa exteriorização esteja abrangida pelo tipo penal, e seu bem jurídico, protegido.
geral para determinar a imputação objetiva é
o risco aumentado)”
A ideia central da imputação objetiva é considerar causa de um resultado Para a imputação objetiva de Roxin, não há imputação do resultado ao
típico o comportamento do agente que demonstre um risco proibido ao bem agente se ele diminui o risco ao bem jurídico tutelado pela norma.
jurídico tutelado, além de trazer um conteúdo jurídico para a imputação do Ex: Se um homem vai ser atingido por uma locomotiva e o agente o puxa com violência e o lança
resultado ao autor. às pedras, as lesões provocadas não lhe serão imputáveis. O agente evitou a morte do homem com
a sua conduta, o que representou uma diminuição do risco.
Roxin defende que a função das normas penais é a proteção dos bens jurídicos Também não se imputa um resultado à conduta do agente que, ainda que seja
mais relevantes para a sociedade, centrando-se nessa ideia para a intencional, não represente um risco juridicamente relevante.
interpretação de todo o Direito Penal, inclusive para a pena, que só deve ser Ex: Cansada do seu marido, uma moça lhe incentiva e pular de bungee jump, desejando fortemente
aplicada na medida em que necessária para o fim preventivo sua morte, inclusive fazendo meditação para que isso ocorresse. Ainda que ele venha a morrer, não
se pode imputar a ela tal morte, considerando que não criou, com sua conduta, um risco
juridicamente relevante ao bem jurídico. O risco inerente aos esportes radicais é permitido em
nossa sociedade, desde que o agente voluntariamente se submeta a eles.
imaginemos um empresário que recebe uma remessa de produtos de um país com uma alarmante disseminação de Covid-19.
EX 3: Mesmo havendo regras sanitárias para desinfecção, ele não o faz. Entretanto, prova-se, na investigação, que a matéria-prima
nacional (alimento in natura não passível de desinfecção), manuseada pelos mesmos funcionários, também estaria
contaminada – pela eliminação hipotética, a exposição dos funcionários teria ocorrido mesmo sem a conduta do empresário
de infração da norma sanitária.
Em tal caso, seria possível a imputação do resultado ao agente, já que a conduta do empresário aumentou o risco
permitido. Ainda que o risco de exposição fosse permitido, considerando a situação de pandemia e a triste constatação de
risco aos trabalhadores das atividades essenciais, o incremento do risco torna possível a imputação do resultado a ele.
EX 4: Durante a noite, dois ciclistas pedalam, um atrás do outro, sem nenhum farol de iluminação, apesar da obrigatoriedade[5].
Um terceiro ciclista passa e se choca com o primeiro deles, ferindo-se gravemente. Caso o segundo ciclista, não envolvido no
acidente, possuísse farolete, o acidente não teria ocorrido, já que ele iluminaria o ciclista que ia à frente.
Entretanto, o segundo ciclista, que vinha atrás, não poderia ser responsabilizado. Isto porque não se pode considerar que sua
conduta representou um risco proibido ao bem jurídico, considerando o âmbito de proteção da norma.
Isto é, o dever legal imposto ao ciclista tem o escopo de evitar acidentes com o tráfego do próprio ciclista, ou seja, aqueles
que envolvam sua própria bicicleta. A imposição de tal obrigação não busca a evitar acidentes entre terceiros, não é um dever
de iluminar a via para garantir o tráfego seguro para que outras pessoas pedalem sem iluminação alguma. Por estar fora
do âmbito de proteção da norma, a finalidade do dever imposto ao ciclista que não se envolveu no acidente não permite que
se lhe impute o resultado decorrente do choque entre outros dois ciclistas, ainda que o equipamento de iluminação de sua
bicicleta – acaso existente – teria evitado o acidente.
De acordo com a teoria da imputação objetiva, o comportamento e o resultado
normativo só podem ser atribuídos ao sujeito quando: