A Plastinação

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A Plastinação é o procedimento técnico e moderno da preservação de matéria

biológica, criado pelo artista e cientista Gunther von Hagens em 1977, e que consiste
extrair os líquidos corporais, tais como como a água e os lípidos, através de métodos
químicos (acetona fria e morna), para o substituir por resinas elásticas de silicone e
rígidas epóxicas.

Esta técnica, tem numerosas vantagens, tanto quanto o conservação dos corpos, como
na textura, coloração e na aproximação à coisa natural, proporciona uma boa
manipulação do corpo, e durável sem necessidade de manutenção.

A plastinação levanta problemas de carácter moral, ético, religioso e legal, pela


manipulação dos corpos doados por vontade da pessoa em vida. Não obstante estas
questões, teve uma aceitação muito boa por parte da comunidade científica, do público e
mesmo de alguns países da Europa, China, Rússia, Japão, Estados Unidos e México
entre outros, onde neste último, foram aplicados pela primeira vez em 1999.

A finalidade da plastinação é a instrução nas ciências naturais, o conhecimento nas áreas


de saúde e a exibição museográfica.

A plastinação pode ser descrita como uma técnica moderna de mumificação. O


procedimento consiste em trocar a água e a gordura dos tecidos por polímeros; o
processo de plastinação priva as bactérias do que elas precisariam para sobreviver.
Contudo, os fluídos corporais não podem ser diretamente trocados por polímeros, por
causa de sua incompatibilidade química. Gunther von Hagens encontrou uma solução
para este problema, com os seguinte procedimento:

Fixação: envolver a parte a ser fixada em uma solução a 10% em formaldeído, o que
estabiliza o tecido e previne a autólise. A parte também pode ser dissecada e injetado
nos vasos sanguíneos um líquido corante para destacar as estruturas desejadas.

Desidratação: sistemas biológicos tem um alto teor de água, que deve ser removida
para a plastinação. Isto é conseguido por um processo chamado de Substituição a Frio
no qual as peças são colocadas em um solvente (normalmente acetona) gelado a -25 oC.
Então, por um período de 4 a 5 semanas a água do tecido é lentamente substituída pela
acetona.

Impregnação forçada: as peças desidratadas são submergidas em um polímero líquido


e colocadas sob vácuo, daí o termo Impregnação forçada. O vácuo draga para fora do
tecido a acetona, deixando o polímero tomar o seu lugar.

Endurecimento: Em seguida, a peça cheia de polímero é colocada em uma câmera


onde entra em contato com um gás de cura. Este gás endurece o polímero fazendo com
que a peça fique seca ao toque, em 48 horas. A cura é completa após vários meses.
aaaA plastinação mediante a utilização de resinas epoxi pode preservar
espécimes submetidos a secções de espessura entre 1 e 10mm.

aaaApós a desidratação, degorduramento e a


impregnação forçada dos cortes, por exemplo,
secções totais do corpo humano, são submetidas
ao     processo de cura do polímero, efetuado com
o   espécime acondicionado em placas de vidro,
denominada câmara plana.

aaaEstes preparados são particularmente úteis


porque   apresentam a vantagem de dispor as
estruturas       anatômicas respeitando-se suas
características       topográficas. Graças ao alto
grau de preservação que   o método confere, é
possível proceder a estudos   posteriores que
envolvam técnicas histológicas de   microscopia
de luz ou eletrônica. Estas características explicam e justificam a
potencialidade da utilização do método de plstinação em atividades de ensino
e pesquisa.

aaaO laboratório foi instalado na Faculdade de Medicina, no primeiro andar,


área física atual da disciplina de Topografia Estrutural Humana em 1991.
Ocupa duas salas adjacentes, uma indicada para elaboração das fases do
preparo do cadáver, para obtenção dos cortes e a seqüência dos processos de
desidratação e degorduramento e outra destinada para a etapa de impregnação
forçada, preparação de câmaras planas, curagem do polímero e polimento das
placas.

O anatomista alemão Gunther von Hagens inaugurou nesta quinta-feira (16/11), em


Guben, um centro de preparo de cadáveres humanos e de animais. No Plastinarium
instalado numa antiga fábrica de lã de 2500 metros quadrados, haverá uma área de
exposição e vendas dos cadáveres preparados. Von Hagens, que investirá ao todo 3,5
milhões de euros, pretende criar 200 postos de trabalho nos próximos cinco anos.
 
O projeto gerou polêmica na cidade situada no Estado de Brandemburgo, na fronteira
com a Polônia. Enquanto houve protestos das Igrejas, o prefeito local saudou a
iniciativa, que em sua opinião dará novos impulsos à região, que tem problemas de
infra-estrutura econômica.
 
Von Hagens é tido como inventor do método de plastinação e se tornou mundialmente
conhecido com sua exposição Mundos dos corpos.

“Plastinação”, uma nova técnica para a conservação de cadáveres


desenvolvida há algumas décadas pelo anatomista alemão Gunther
von Hagens, no Instituto de Anatomia de Heidelberg, na Alemanha.
Através desse método, von Hagens substitui substâncias orgânicas
de corpos mortos por materiais plásticos (silicone, resina de epóxi e
poliéster), o que permite que os materiais molhados do corpo
adquiram plasticidade, ou seja, permaneçam maleáveis, inodoros e
secos.

Sem sombra de dúvida, Von Hagens teve uma grande idéia: o


desenvolvimento de uma técnica de conservação que permite o
estudo macrocósmico de cadáveres sem os incômodos odores ou as
mudanças de tonalidade dos tecidos, normalmente produzidas pelas
químicas de conservação tradicionais. Os estudos anátomo-
científicos do corpo humano puderam ser, então, mais didáticos e
esclarecedores.
Uma outra inovação, apontada naquele artigo, foi a introdução do
público leigo nesse circuito científico, pois von Hagens decidiu
transformar tal material de estudo em peças de exposições,
organizadas sob o título de “Mundos do corpo”.

A primeira exposição, em 1995, aconteceu no Japão, atraindo


milhares de visitantes. Na Europa, a inauguração de “Mundos do
corpo” deu-se em 1997, em Mannheim, também superando a
previsão de sucesso em número de visitantes. Desde essa época, as
exposições já computaram o recorde de mais de 13 milhões de
visitantes, a maioria atraída pelo fascínio que a visão do cadáver
provoca e pela curiosidade de conhecer-se para além da superfície
da pele.

Para o visitante leigo, o efeito é assustador. Rostos curiosos,


impressionados, passeiam pelo grande salão onde estão expostas
mais de 200 peças, entre elas corpos fatiados nas suas extensões
horizontal e vertical e órgãos sadios e doentes, que são mostrados
em detalhes, com suas transparências, aberturas e plasticidades”.
Ao que parece, Von Hagens havia descoberto não só uma nova
técnica de sucesso no embalsamento de cadáveres, mas também
uma mina de ouro, já que, além do valor do ingresso das exposições
de corpos, o anatomista recebe por um corpo embalsamado por
plastinação 75.000 euros, ou seja, aproximadamente R$ 280 mil.

E, assim como choveram euros, começaram a chover também as


críticas e as discussões sobre os cadáveres e as exposições, a
começar pelas éticas e religiosas.
Uma outra leitura do trabalho do anatomista é a de que ele se
transformou em um caso de polícia. Trata-se de uma denúncia feita
pela revista alemã “Der Spiegel”, em 19 de janeiro de 2004, na
forma de um artigo de 12 páginas com o seguinte título: “Dr. Morte.
Os negócios macabros do expositor de cadáveres Gunther von
Hagens”. O artigo acusava o anatomista de não deixar claras as
regras desse trabalho, ou seja, a proveniência do material que usa e
como constrói/esculpe os corpos. A matéria de capa de “Der
Spiegel” denunciava o contrabando, o uso indevido e a
comercialização inescrupulosa de corpos humanos feitas pelo
médico alemão em nome de suas exposições artísticas de
cadáveres, atualmente em dupla exibição, em Frankfurt e
Cingapura.
Apresentando fotos que mostram empregados manipulando
cadáveres em Dalian, na China, segundo a revista, “uma de suas
três fábricas de cadáveres” (as outras duas são em Heidelberg, na
Alemanha, e em Bischkek, também na China), citando documentos
que foram levantados ao longo de uma pesquisa feita pela revista,
bem como documentando através de extratos bancários e de
declarações do anatomista e de seus empregados, a matéria
acusava Von Hagens de construir um “autêntico mercado de
cadáveres humanos, que funciona sob as mais simples regras do
capitalismo: a compra de matéria-prima barata, seu
manufaturamento a custos favoráveis e sua lucrativa
comercialização”.

Traduzindo em cadáveres, segundo “Der Spiegel”, em documento


levantado em novembro de 2003, “são 647 corpos completos”.

Além disso, o documento “afirma que foram enumeradas 3909


partes de corpos, como pernas, mãos ou pênis, e que foram
catalogados 182 fetos, embriões e recém-nascidos, com números de
série, tamanho, altura e sexo”.
À pergunta de onde vêm os cadáveres ou suas partes?, a revista
respondia: “Gunther von Hagens não trabalha só com as doações de
corpos, ele toma os corpos que consegue”. A matéria prosseguia,
acusando esse “especulador de mortos” de comercializar, a baixos
custos, além dos corpos doados, cadáveres de prisioneiros chineses
executados em um campo militar perto de sua fábrica em Dalian. O
artigo ainda acusava von Hagens de enganar os visitantes de suas
exposições que acreditavam estar observando um verdadeiro e
completo cadáver e assim estar sendo esclarecidos sobre seu
próprio corpo. Segundo “Der Spiegel”, nada mais falso!

A revista descrevia que esse Dr. Frankenstein moderno, como em


uma linha de montagem, vai tirando das prateleiras de suas fábricas
pernas, braços e outras partes e órgãos mais perfeitos ou
adequados para substituir aqueles defeituosos, pequenos ou pouco
musculosos do cadáver que está montando.
Mostrando como funciona a cozinha de von Hagens, “Der Spiegel”
escreveu que “até a ‘qualidade’ do cadáver é minuciosamente
registrada. Cadáver nº 03MI0077 serve, por exemplo, somente
como matéria bruta; para esse ‘corpo masculino inteiro’, com altura
de 1,66 metro, foi verificado: ‘falta do olho esquerdo, pés e mãos
danificados’. Por outro lado, foi registrado como material de
primeira qualidade o cadáver 03FI093: feminino, altura de 1,67
metro, bons músculos, origem européia. Adequado para exposição”.

O artigo terminava com a profética visão von-hageniana de que o


mundo só reconhecerá a grandiosidade de seu trabalho após sua
morte e sua própria plastinação.

De vida e de morte

Aquilo que o anatomista Gunther von Hagens faz, “a plastinação de


corpos humanos mortos”, pode ser observado sob um duplo ponto
de vista.

Por um lado, tal procedimento revela-nos um pouco da problemática


relação do homem com a vida, com seus mecanismos e com sua
história. Por trás dessa nova tecnologia está um poder biológico, um
domínio da vida, do corpo e de seu conhecimento que aparece no
mundo ocidental já no século XVIII. Segundo Michel Foucault
(“Direito de morte e poder sobre a vida”, em “História da
Sexualidade”, 1988, Ed. Graal), esse foi um movimento de
transformação ligado ao desenvolvimento do capitalismo. Trata-se
do desenvolvimento de um poder-saber científico que transforma a
vida e a perspectiva por onde se olha a vida e, conseqüentemente, a
morte.

Através dos efeitos operados por esse conhecimento, entre eles


uma reclassificação da vida e do corpo, ou um poder-saber sobre o
corpo e a vida, observa-se como a ciência se apropria dos direitos
sobre o corpo e a vida, subvertendo os antigos e tradicionais
sistemas que a controlavam, como, por exemplo, aquele poder
exercido, no passado, pelas áreas jurídica, religiosa, ou estadual,
entre outras.

Tal domínio possibilita que o corpo possa ser hoje conhecido tal
como é ou como se quer que ele seja. Isso significa que atualmente
exerce-se uma soberania sobre o que é ou pode ser o corpo e a vida,
que pode ser espelhada nas novas biotecnologias desenvolvidas
para a conservação e o cuidado do corpo, da vida, da morte, bem
como para a criação ou a transformação da vida.

Assim, o processo de plastinação de cadáveres de Gunther von


Hagens também traduz esse atual momento de domínio que o
homem faz de seu e de outros corpos, da vida e da morte. As novas
possibilidades de leitura e manipulação do corpo (do vivo e do
morto) parece ser um fenômeno global, que todos nós, em
diferentes contextos, fazemos, procuramos conhecer e consumimos.

Tecnologias de transformação do corpo, como as desenvolvidas pela


cirurgia plástica, de substituição de órgãos ou partes do corpo,
como as empreendidas nos transplantes, nas inserções protéticas,
ou o conhecimento biogenético e farmacológico que permite o
controle e a criação artificial de vida ou seu prolongamento são
outros exemplos do momento histórico que construímos e que
vivemos.

Esse mesmo processo de manipulação do corpo e da vida, que está


na ciência e na tecnologia por ela criada, promove, por outro lado, a
transformação desse corpo em um objeto, em uma coisa ou
mercadoria, na medida em que o corpo se transforma em matéria
que consome a si mesma e que é consumida: os cadáveres
“plastinados” pelo dr. von Hagens, por exemplo, expostos em
museus, foram concebidos para, além de possibilitarem um estudo
macrocósmico do corpo humano, serem consumidos enquanto
imagem e vendidos como mercadoria. Afinal, o grande número de
visitantes das exposições de cadáveres aponta que estamos lotando
os museus, que queremos nos ver do avesso, ou que temos algum
fascínio pelo mórbido ou pelo grotesco.

Dito de outra maneira, aquilo que, segundo Foucault, era objeto de


saber para a análise clínica de muitas doenças, ou seja, o cadáver,
transformou-se, nas exposições “Mundos do corpo”, em um show,
ou em um caro e bizarro objeto de consumo.

Mas, “Mundos do corpo”, segundo a revista alemã, aponta para uma


outra constatação: a de que esses cadáveres foram secretamente
montados. Significa que o que Von Hagens apresenta como uma
“democratização da anatomia”, ou seja, como um estudo científico e
anatômico do corpo humano, é uma montagem, pois se trata de um
objeto feito da soma de partes de corpos humanos, unilateralmente
definidas por ele para agradar ao público. Essa manipulação do
corpo humano levanta uma questão ética, a dos riscos do uso
indevido desse corpo, e uma questão legal, que é a sua
comercialização -problemas que a matéria publicada em “Der
Spiegel” denuncia e recrimina.

Apontada a falsificação, o jornal “Frankfurter Allgemeine” publicou,


em 28 de janeiro último, um esclarecimento dos professores do
Instituto de Anatomia da Universidade de Heidelberg, que se
manifestaram estarem distanciados do projeto de exposição de
cadáveres, alegando que o que Von Hagens apresenta está longe de
ser uma didática e aceitável informação. Segundo a matéria,
“aquelas pessoas que procuram a exposição por terem de fato
interesse na anatomia humana, pagam para serem enganadas”.

Uma vez que os valores éticos de uma civilização são construções


determinadas pelo tempo, pela cultura, por hábitos e crenças, está
claro que um redimensionamento das idéias de corpo, de vida e de
morte vem acontecendo, juntamente, com o dos valores éticos e
morais que os acompanham.

Assim, apesar da oportuna inovação tecnológica e da arrojada


ampliação que faz do conhecimento anatômico do corpo humano,
expandindo seus domínios para a arte e para o público leigo, parece
que o maior problema de Von Hagens tem sido não revelar o
histórico do restauro dos cadáveres, não ter deixado claras as
regras de procedência e construção dos corpos, fazendo com que a
idéia da exposição de cadáveres restrinja-se à idéia do espetáculo e
à concepção de um grande negócio, dada nossa fascinação por nós
mesmos.

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