Fichamento Deo Texto Herança e Etiologia Das Neuroses

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FICHAMENTO DO TEXTO: “A HERANÇA E A ETIOLOGIA DAS NEUROSES”

1. Fichamento

No texto Freud dirige suas objeções à teoria etiológica das neuroses


legada por Charcot.

Sigmund relembra o papel da hereditariedade nervosa como a única


causa verdadeira e necessária das afecções nervosas, sendo que quaisquer outras
influências seriam no máximo agents provocateurs. Nesse sentido ele destaca que
sempre teve suas dúvidas sobre o assunto, mas até então não tinha os fatos que
adquiriu com a sua experiência na prática, a partir dessa experiência Freud elabora
então suas objeções fatuais e derivadas de suas especulações.

Iniciando então pelas fatuais e em sequência de maior importância o autor


as destaca: (a) Certas condições dos pacientes mesmo quando o estado clínico é
distante do domínio das neuropatologias são supostas consideradas afecções
nervosas e de tendência neuropática hereditária, no entanto nada têm a ver com o
sistema nervoso e essa crença prejudica o encaminhamento dos doentes para o
tratamento adequado. (b) Qualquer condição nervosa encontrada na família do
paciente, independente de sua frequência, gravidade ou relação com a afecção
daquele passa a ser fundamentação suficiente para atribuir ao mesmo uma condição
nervosa hereditária. Freud questiona então o quanto essa visão implicaria que se
dividissem as famílias em “imunes” a qualquer predisposição nervosa e outra
ilimitadamente pré-dispostas, e se não seria o caso de na verdade as famílias
tivessem diferentes transições e graus de predisposição nervosa. (c) A
hereditariedade nas doenças nervosas deve ser considerada por meio de uma
investigação estatística imparcial, até que esta seja feita acreditar na existência de
distúrbios nervosos adquiridos é tão viável quanto hereditários, entretanto ao se
considerar a possibilidade de houver distúrbios adquiridos sem predisposição não se
pode mais citar as afecções familiares como prova conclusiva da predisposição
hereditária do paciente já que as afecções de seus familiares poderiam ter surgido
desta mesma maneira. (d) A teoria de M. Fournier que se tornava cada vez mais
consistente para a comunidade acadêmica da época é apontado por Freud como um
exemplo da necessidade de se reconhecer a colaboração de diferentes e poderosas
influências etiológicas para a patogênese de doenças e não apenas a
hereditariedade, e no entanto Charcot se manteve contrário à esta teoria. (e) Certas
afecções, como a neurastenia de Beard, se manifestam em pessoas sadias cujas
famílias não possuem quaisquer distúrbios nervosos, se as afecções estivessem
necessariamente restritas às pessoas predispostas nunca teriam atingido uma
extensão e importância significativa. (f) Na hereditariedade dissimular são deixadas
lacunas já que uma família é afetada pelos mais diversos distúrbios nervosos,
funcionais e orgânicos, Freud questiona então como seria possível compreender
porque certos membros da família permanecem saudáveis e o que determina que
uma pessoa adoeça de uma e não de outra afecção nervosa, ele então sugere que é
muito mais lógica a crença de que existam outras influências etiológicas que seriam
então especificas sem as quais a hereditariedade nada poderia causar.

Sigmund disserta então sobre como as pesquisas têm se concentrado na


hereditariedade sobre a qual os esforços médicos nada podem fazer e ignorado
essas etiologias especificas as quais oferecem uma via de acesso aos
empreendimentos terapêuticos. O autor passa então a dissertar acerca dos
resultados de seus estudos na caracterização e etiologia das neuroses maiores.
Freud propõe então uma divisão das influencias etiológicas em três classes: (1)
precondições: indispensáveis para a produção do distúrbio, mas de caráter geral e
que podem ser encontradas na etiologia de outros distúrbios; (2) causas
concorrentes: funcionam na causação do distúrbio em questão e de outros, porém
não é indispensável para a produção daquele; (3) causas específicas:
indispensáveis, porém de natureza limitada e especificas à etiologia do distúrbio em
questão.

Dada essa separação o autor então destaca que a hereditariedade


ocuparia o papel das precondições até mesmo indispensável em muitos casos, mas
que não prescinde a colaboração das causas especificas, no entanto sua
importância se mostra que mesmo essas agindo num individuo saudável, sem a
precondição não haveria nenhum efeito patológico, e na presença da precondição
sua ação provoca a emergência da neurose em grau e intensidade de acordo com a
precondição hereditária. Outro fato destacado é que a intensidade de ambas pode
ser intercambiável entre si, no sentido de que uma precondição intensa e uma leve
influencia específica ou uma etiologia específica grave com uma precondição
moderada podem produzir um mesmo efeito patológico, sendo assim pode se gastar
muito tempo em busca de uma influência hereditária grave quando na verdade essa
falta é suprida por uma forte influência específica.

Em sequência Freud destaca que a presença de causas concorrentes


como perturbação emocional, acidentes traumáticos, esgotamento físico entre
outros, são apenas agents provocateurs responsáveis pela manifestação de uma
neurose latente, não sendo portanto integrantes regulares ou necessárias à etiologia
das neuroses, papel que seria da etiologia específica; mas não desconsidera que o
exames destes seja de interesse prático para uma terapia que tenha por objetivo
reprimir a doença a seu estado de latência anterior.

Ainda sobre essas causas concorrentes ditas banais, o autor aponta que
não é possível estabelecer relações entre uma delas e uma neurose específica,
podendo aquelas se apresentarem na etiologia de distintos distúrbios. Outra questão
seria que essas causas banais em alguns casos podem substituir em quantidade as
influências específicas, embora nunca possam tomar seu lugar completamente, mas
em casos nos quais os fatores etiológicos indispensáveis não são suficientes para
desencadear uma neurose por si só a ocorrência de uma causa banal pode
manifestar o distúrbio, embora a natureza da causa seja indiferente, a natureza da
neurose na verdade se relaciona à causa específica prévia.

Freud passa então a discorrer sobre as causas específicas das neuroses


e sua teoria de que na verdade cada causa se relaciona a um dado efeito neurótico
os quais tem origem numa perturbação da economia do sistema nervoso e como
fonte distúrbios da vida sexual: contemporânea ou episódios passados importantes
do sujeito. Ele destaca que essa não é uma proposição nova e que distúrbios
sexuais já têm sido admitidos entre as causas de afecções nervosas, porém eram
subalternos à hereditariedade encarados apenas como agents provocateurs, e o
destaque de sua abordagem veria exatamente nesse ponto: ele dá destaque as
influências sexuais como causas específicas e traça um paralelo entre a natureza da
influência sexual e patologia neurótica correlata.

Em continuidade ao texto Sigmund F. relaciona as etiologias específicas


de origem nas influências sexuais com as neuroses que se propôs à discutir no
texto, evidenciando que em todo caso descobriu ao menos que a função sexual não
se mostrava plenamente desenvolvida nos paciente e que no caso da histeria por
meio da investigação psicanalítica os sintomas histéricos sempre partiram de um
evento da vida sexual do sujeito que produziu uma emoção aflitiva, sendo ponto de
partida do processo patológico em todos os casos e portanto causa específica.

Ainda sobre a histeria Freud discorre sobre sua etiologia específica: uma
experiencia sexual passiva antes da puberdade, e se fundamenta no fato de em
todos os casos completos em que acompanhou esse evento se mostrou presente e
argumenta que a validade desses dados, frente a fraqueza que essas memorias
poderiam ter ou a tendência dos histéricos à mentira, se daria pelo fato de sempre
serem memórias que não são reveladas espontaneamente senão sob intensa
análise técnica e vencendo uma poderosa resistência, além de sempre vir carregada
de enorme afeto que seria difícil fingir.

Esse trauma sexual na infância não surge grande efeito nesse período
devido ao sexo mal diferenciado na primeira infância, mas ao chegar da puberdade
e o desenvolvimento sexual o traço psíquico mantido da lembrança desperta, a
lembrança então se manifesta como um evento atual. Sendo assim os episódios
subsequentes à puberdade são sempre agents provocateurs e a experiencia sexual
precoce, e não a hereditariedade, a causa específica. Aqueles só possuem
influência patológica ao despertarem o traço psíquico inconsciente do evento infantil.

Freud relaciona ainda a neurose obsessiva à histeria por meio da


diferença da primeira para com a segunda se dar apenas pelo caráter prazeroso da
experiência sexual, à qual é suposta derivar de uma sedução prévia o que corrobora
com essa suspeita é o fato de em muitos casos de obsessão haver complicações do
quadro clínico por certo número de sintomas histéricos.
Por fim Freud assume não compreender ainda completamente a
influência etiológica da hereditariedade, crê que sua presença em muito influencie os
casos graves, mas que seja dispensável para os leves, mas que por si só é incapaz
de produzir as psiconeuroses sem a presença de sua etiologia específica: a
excitação sexual precoce.

O texto em questão se relaciona com diversos outros escritos de Freud


que tivemos contatos na disciplina, “Sobre o Mecanismo Psíquico dos fenômenos
histéricos” (Freud e Breuer, 1893) o autor disserta sobre o desequilíbrio do sistema
psíquico da histeria, a repressão e ab-reação do trauma do passado como
desencadeadora da neurose, entretanto na época desses escritos ainda usava o
método da hipnose e não havia chegado no fator sexual na origem e etiologia das
neuroses.

Na “A Psicoterapia da Histeria” (Freud, S.) o psicanalista agora já


destacava o papel da investigação psicanalítica na terapia das histerias e sua
suposta etiologia em causas sexuais, descobertas que muito motivou o mesmo a
repensar o papel da hereditariedade como principal etiologia das neuroses. Outro
ponto foi a questão foi a separação da neurastenia e neurose de angústia da histeria
e da neurose obsessiva, no sentido de que as primeiras são muitas vezes
encontradas puras, enquanto as segundas raramente, Freud aborda essa temática
nos dois texto por meio da etiologia sexual dessas afecções, as primeiras são
devidas a distúrbios contemporâneos da vida do sujeito, enquanto as ultimas de um
episodio passado e precoce, mas que na atualidade ainda vai causar distúrbios na
vida sexual dos pacientes, causando assim além da histeria/neurose obsessiva ou
neurastenia/neurose de angústia.

Por fim quanto ao papel da sexualidade na etiologia da histeria, o texto de


mesmo nome de Freud (Freud, S. 1898) e os ensaios sobre a sexualidade (1905)
são ponto chave no estudo da etiologia das neuroses pelo psicanalista, dados seus
estudos e contato com a terapia a sexualidade se mostrou fator de destaque na
etiologia das neuroses e cada vez uma hipótese mais estruturada nos resultados
que encontrou, por exemplo os distúrbios e perversões sexuais na infância que
foram muito trabalhados nos ensaios ou então a questão da sedução que foi
também usada em diversos textos.

De forma geral os estudos de Freud sobre a histeria, as neuroses e seu


contato e resultados com os casos que analisou deram parâmetro para o
desenvolvimento do método psicanalítico, pelo qual a investigação revelou a
presença de distúrbios na vida sexual do sujeito que em muito foram destaques para
o escrito desse texto revendo o papel da hereditariedade e percebendo o efeito
específico da ordem sexual na etiologia das neuroses.

REFERÊNCIAS

FREUD, S. A hereditariedade e a etiologia das neuroses, 1896. In: Obras


psicanalíticas completas de Sigmund Freud: Primeiras publicações psicanalíticas,
volume 3. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. A psicoterapia da histeria. In: Obras psicanalíticas completas de


Sigmund Freud: Estudos sobre a histeria, volume 2. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. A sexualidade na etiologia da histeria, 1898. In: Obras psicanalíticas


completas de Sigmund Freud: Primeiras publicações psicanalíticas, volume 3. Rio
de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. Três ensaios sobre a sexualidade. 1905 In: Obras psicanalíticas
completas de Sigmund Freud: Um caso de histeria, três ensaios sobre a
sexualidade e outros trabalhos, volume 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S.; BREUER, J. Sobre o mecanismo psíquico da histeria, 1893. In: Obras
psicanalíticas completas de Sigmund Freud: Estudos sobre a histeria, volume 2.
Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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