GUSTIN, Miracy DIAS, Maria. Repensando A Pesquisa Juridica

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MIRACY BARBOSA DE SousA GusTIN

Especialista em Metodologia pela Universidade de Michigan -EUA


Pós-Doutora em Metodologia pela Universidade de Barcelona/CAPES
Doutora em Filosofia do Direito e Mestre em Ciência Política pela UFMG
Professora Adjunta de Graduação e Pós-graduação
da Faculdade de Direito da UFMG
MARiA TEREZA FONSECA DIAS
Mestre e doutoranda em Direito Administrativo pela UFMG
Professora dos Cursos de Pós-Graduação lato sensu do CAD/Gama Filho
Fundação João Pinheiro (Escola de Governo Prof. Paulo Neves de Carvalho)
e da Escola de Contas Prof. Pedro Aleixo/PUC Minas
Procuradora Geral Adjunta do Município de Contagem

(RE)PENSANDO A
PESQUISA JURÍDICA:
Teoria e Prática
2ª Edição Revista, Ampliad~ e Atualizada pela
BBR 14.724 e Atualizada pelaABNT 30/12/05

Belo Horizonte - 2006


PREFÁCIO

Os julgamentos dos projetos de pesquisa em Direito no âmbito do CNPq,


dos quais participo como integrante do comitê assessor nessa área, têm
sido monocórdios e recorrentes. Invariavelmente, a cada sessão 90% dos
pedidos são rejeitados logo de início, por falta de um rigor metodológico.
Mal formulados em seus objetivos, inconsistentes em termos analíticos e
pouco convincentes em sua fomentação teórica, esses projetos revelam o
grau de desinformação de seus autores. Além de não saberem claramente
o que é um projeto acadêmico ou uma tese, eles também desconhecem o
Copyright © 2006 by Editora Dei Rey Ltda.
funcionamento das universidades norte-americanas e européias mais im-
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzido, sejam quais forem
portantes, o nome de seus principais professores, as pesquisas de ponta em
os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Editora. andamento e o próprio "estado da arte" de suas respectivas áreas de espe-
Impresso no Brasil Printed in Brozil
1
cialização.
EDITORA DEL REY LTDA. Este problema é de caráter estrutural e está ligado à má qualidade do
www.delreyonline.com. br ensino jurídico, tanto na graduação quanto, em alguns casos, na própria
Editor: Arnoldo Oliveira Conselho Editorial: Antônio Augusto Conçado Trindade pós-graduação. Excessivamente formalista e restrito ao aprendizado de
Tel.: (31) 3284-9770 Antonio Augusto Junho Anaslasia
[email protected] Ariosvoldo de Campos Pires (ln memoriam) códigos ultrapassados, ele não acompanhou as sucessivas transformações
Gerente Editorial: Cristione Unhares Aroldo Plínio Gonçalves sofridas pelas instituições de Direito no âmbito de uma sociedade marcada
[email protected] Carlos Alberto Penna R. de Carvalho
Celso de Magalhães Pinto pela velocidade, intensidade e profundidade de suas mudanças.
Editoro/ BH Edelberto Augusto Gomes Lima
Ruo Aimorés, 612 - Funcionários Edésio Fernandes Acima de tudo, o ensino jurídico se destaca pelo flagrante envelhecimen-
Belo Horizonte - MG - CEP 30140-070 Eugênio Pacelli de Oliveira
Telefox: (31) 3273-1684 Hermes Vilchez Guerrero to de seus esquemas cognitivos e pelo esgotamento de seus paradigmas
[email protected] José Adércio Leite Sampaio teóricos. Por isso, tornou-se incapaz de identificar e compreender a extre-
José Edgard Penna Amorim Pereira
Editoro/SP
Misabel Abreu Machado Derzi ma heterogeneidade dos novos conflitos sociais, a enorme complexidade
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técnica das novas normas, as interdependências cada vez mais presentes
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Rodrigo da Cunha Pereira no funcionamento da economia, os valores, as demandas e as expectativas
Sérgio Lellis Sonliago
Wille Duarte Cosia por ela gerados na sociedade e a emergência de um sem-número de novas
fontes de Direito com a preeminência dos conglomerados transnacionais
Gustin, Mirocy Barbosa de Sousa.
G982 (Re)pensando a pesquiso jurídico: teoria e prático / Mirocy Barbosa como atores internacionais. Embora esse diagnóstico seja conhecido há
de Sousa Gustin e Maria Terezo Fonseca Dias. - 2ª ed. rev., ompL e atual. anos, as poucas soluções adotadas até agora - como a flexibilização
pela BBR 14.724 e atual. pela ABNT 30/12/05- Belo Horizonte: Dei Rey,
2006. curricular e a introdução de maior número de disciplinas teóricas - não
268p deram os resultados esperados.
ISBN 85-7308-812-5 Esta situação, contudo, não é exclusiva da área de Direito. Num belo
1. Projeto de pesquiso - Metodologia. 1. Dias, Maria Tereza texto sobre sua área de atuação, a economia, Robert Heilbroner e William
Fonseca. IL Título

CDD: 001.42
Milberg lembram que a teoria econômica atualmente ensinada na gradua-
CDU: 001.81 ção e na pós-graduação estaria atingindo um grau de isolamento e
--------
Bibliotecária responsável: Maria do Conceição Araújo
distanciamento da realidade comparável apenas ao alcançado pelo pensa-
CRB 6/1236 mento escolástico medieval (The crisis of vision in modem economic

V
thougth. Cambridge: Cambridge University Press, 1966). Essa teoria eco- Se os direitos civis e políticos nasceram contra o Estado, o que
nômica é repleta de abstrações e modelizações matemáticas dos merca- poderá acontecer com eles, agora que o Estado-nação parece
dos, afirmam eles, sem nenhuma relevância - inclusive ética - para o entrar em refluxo com a transnacionalização dos mercados? Nes-
entendimento do mundo real. O hiato entre essa teoria e a realidade é cada se contexto, em outras palavras, não estão esses direitos com sua
vez mais flagrante e perigoso, concluem, levando assim os cursos de eco- continuidade ameaçada?
nomia a terem uma percepção equivocada ou enviesada, quer do próprio Se os direitos econômicos e sociais foram concebidos para serem
objeto do ensino, quer do mercado de trabalho. concretizados basicamente por meio das políticas governamentais
A mesma crítica, creio, também pode ser feita ao ensino jurídico. Ele de qtráter distributivo, como podem ser eficazes no âmbito de
continua preso a uma concepção estrita de sociedade (encarando-a como Estados enfraquecidos perante o poder econômico transnacional?
um sistema dotado de estruturas estabilizadas), a um tipo de Direito (o • Até que ponto tribunais empenhados em assegurar o cumprimen-
editado por um Estado soberano) e ao papel dos tribunais como locus to desses direitos não conem o risco de encarecer os custos das
privilegiado de resolução dos conflitos. Na prática, contudo, a crescente transações econômicas e, por conseqüência, afugentar investimen-
complexidade da sociedade contemporânea vem tomando inviáveis os tos externos geradores de empregos, prejudicando indiretamente
mecanismos jurídicos de controle e direção baseados na rígida dicotomia os supostos beneficiários desses mesmos direitos?
entre o constitucional e o inconstitucional, o legal e o ilegal. Está tornando • Se, com o fenômeno da globalização, a esfera da política vem
impossível o enquadramento jurídico de situações heterogêneas e multifa- sendo progressivamente esvaziada pela esfera da economia, e
cetadas por normas padronizadas com validade universal. E tem minado a como esta vai sendo cada vez menos determinada pelos Estados
efetividade das intervenções diretas por parte do Estado, rompendo com e cada vez mais condicionada pelas empresas transnacionais, sem
a exclusividade de seus direitos e obrigando-o a promover um ambicioso nenhum compromisso social como o ambiente em que atuam, de
quem cobrar responsabilidade? Que tipo de direito pode ser invo-
e problemático processo de deslegalização de suas obrigações e descons-
cado e que tribunal pode ser acionado?
titucionalização de suas responsabilidades. Incapaz de promover uma
• Com a redução do tamanho e do alcance do direito positivo, a
regulação minudente das relações socioeconômicas, ele optou pragmati-
paralela expansão do Direito Internacional, a emergência do Di-
camente por estimular a livre negociação e aceitar como inexoráveis os
reito da integração regional, o ressurgimento da lex niercatoria e
mecanismos de auto-organização social e econômica, limitando sua atua-
a proliferação de normas técnicas produzidas por entidades priva-
ção jurídica à tentativa de coordenar essas diferentes formas emergentes
das, como o Accounting Standards Committee e a International
de legalidade.
Organization for Standardization, a ordem jmidica se estilhaça
Apesar de seu impacto desagregador sobre os paradigmas teóricos vi- em distintos sistemas n01mativos independentes e colidentes en-
gentes no ensino jurídico, essa metamorfose do Direito e de suas institui- tre si? Ou, ao contrário, existe entre eles algum tipo de sincronia e
ções continua sendo por ele ignorada. A maioria dos cursos trata a ordem congruência?
jurídica contemporânea como se ela não tivesse sofrido nenhuma altera- • Por fim, o processo de deslegalização atualmente patrocinado
ção estrutural nos últimos 50 anos, quando o País sofreu sua revolução pelos Estados e o peso crescente da lex mercatoria produzida
industrial. Confunde-se a elaboração de uma dissertação ou tese com a pelos conglomerados transnacionais podem levar ao refluxo do
redação de projetos de lei pretensamente capazes de resolver problemas direito público e ao retorno do direito privado como paradigma da
socioeconômicos cujo alcance e implicações ainda nem sequer são conhe- reflexão jurídica?
cidos. Acima de tudo, são ignoradas algumas questões essenciais para a
revitalização do ensino do Direito e do próprio pensamento jurídico, dentre Evidentemente, há muitas outras questões mais técnicas e interdis-
as quais se destacam: ciplinares. O problema é saber como tratá-las com rigor metodológico. E é
justamente essa a tarefa a que se propõem as professoras Miracy Barbosa
• Como é possível a produção legislativa em contextos marcados pela
de Sousa Gustin e Maria Tereza Fonseca Dias, neste livro. Ou seja, forne-
velocidade e intensidade das transformações econômicas e pela pro-
cer aos estudantes de Direito um roteiro metodológico para a elaboração .\
liferação de situações sociais novas e ainda não estruturadas? I

vii
vi
de projetos e execução de pesquisas jurídicas, permitindo-lhes desta manei- NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO
ra ultrapassar o estreito patamar dos textos retóricos e críticos rumo a
trabalhos mais analíticos e corretamente fundamentados, sem os quais o
ensino jurídico continuará desprovido da massa crítica necessária para fo-
mentar e alimentar sua modernização. A segunda edição desta obra segue a mesma estruturação e perfil do
livro em sua primeira edição.
José Eduardo Faria Entretanto, o esgotamento da primeira edição e a utilização deste livro
Professor Titular do Departamento por diversos alunos de graduação e de pós-graduação em Minas Gerais,
bem como em outros estados brasileiros, apontou a necessidade de revisão
de Filosofia e Temia do Direito
de alguns tópicos e de complementações indispensáveis que não puderam
da Universidade de São Paulo (USP). ser feitas na edição anterior. As autoras permanecem gratas à contribuição
que alunos e professores que utilizaram o livro deram ao aperfeiçoamento
desta obra. Novas colaborações continuarão sendo bem vindas nos ende-
reços eletrônicos apresentados a seguir, ou através de outros contatos.
Foi em virtude dessas contribuições que se procedeu a uma reestruturação
da numeração das partes do livro e conseqüentemente do Sumário, de for-
ma a facilitar a localização dos assuntos presentes na obra.
Os exemplos apresentados foram ampliados e aprofundaram-se algu-
mas noções que não tinham sido satisfatoriamente desenvolvidas, tais como,
nas explicações sobre "variáveis e indicadores", "análise de conteúdo" e
"partes pós-textuais do projeto", dentre outras que o leitor encontrará. O
capítulo sobre o relatório final de pesquisa foi integralmente revisto para
orientar melhor os estudantes, professores e profissionais interessados na
realização de seus trabalhos acadêmicos ou científicos. As normas daABNT
utilizadas em projetos e relatórios finais de pesquisa foram bastante altera-
das visando contemplar as últimas mudanças sobre a formatação dos ins-
trumentos de pesquisa: projetos e relatórios finais. Quanto a essas partes
sugerimos ao leitor que, mesmo após as indicações deste livro, consulte as
obras especializadas nessa matéria- alteradas com maior rapidez- e o site
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (www.abnt.org.br).
Espera-se que as mudanças processadas nesta edição possam contri-
buir, ainda mais, para o aperfeiçoamento das pesquisas no âmbito da Ciên-
cia do Direito, uma vez que as autoras continuam defendendo que esta obra
não se constitui como manual definitivo da Pesquisa Jurídica e das Ciências
Sociais Aplicadas. O desejo é que ele esteja sendo sempre atualizado e
revisto.
Belo Horizonte, 3 de fevereiro de 2006.
Miracy Barbosa de Sousa Gustin ([email protected])
Maria Tereza Fonseca Dias ([email protected])
·I
f

viii ix
LISTA DE FIGURAS

FIG. 1 Exemplo de folha de rosto de projeto de pesquisa......... 54


FIG. 2 Exemplo de resumo de projeto de pesquisa................... 55
FIG. 3 Exemplo de sumário de projeto de pesquisa.................. 56
FIG. 4 Exemplo de capa de tese de doutorado......................... 152
FIG. 5 Exemplo de folha de rosto de tese de doutorado........... 153
FIG. 6 Exemplo de folha de rosto de relatório de pesquisa
institucional com equipe de pesquisadores responsáveis.... 154
FIG. 7 Exemplo de ficha catalográfica de dissertação de
mestrado........................................................................ 156
FIG. 8 Exemplo de folha de aprovação de dissertação de
mestrado .. ..... ... .. ... .. ..... ...... ... ......... ............ ......... ..... ...... 157
FIG. 9 Exemplo de resumo em língua vernácula de tese de
doutorado .. ... .. .. .. ...... .. ... ... ... .. ... .... ... .. .. .. .. .. .. .. .. ... .. .... ....... 158
FIG. 10 Exemplo de resumo em língua estrangeira de
dissertação de mestrado................................................. 159
FIG. 11 Exemplo de sumário de tese de doutorado .................... 161
FIG. 12 Exemplo de errata .......................................................... 163
FIG. 13 Exemplo de epígrafe ...................................................... 164
FIG. 14 Esquema contendo o formato geral das regras da
Associação Brasileira de Normas Técnicas.................. 165

xi
SUMÁRIO

Prefácio oooÕ••··············································································· V

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO ...................................................................... 1

CAPÍTULO 2
VISÃO GLOBAL SOBRE A PESQUISA........................... 5
2.1 Conceitos e definições preliminares ........................... 5
2.2 Origem das investigações científicas ........................... 6
2.3 A mudança de rumos na concepção da pesquisa......... 8

CAPÍTULO 3
A CIÊNCIA JURÍDICA E SEU OBJETO
DE INVESTIGAÇÃO ............................................................ 11
3.1 O paradigma da razão comunicacional ......................... 14

CAPÍTULO 4
OPÇÃO METODOLÓGICA............................................... 19
4.1 Grandes vertentes teórico-metodológicas da
pesquisa social aplicada e jurídica ...................................... 20
4.2 Tipos genéricos de investigações das Ciências
Sociais Aplicadas à Ciência Jurídica .................................. 26
4.3 As fontes da produção do conhecimento jurídico ....... 30

CAPÍTULO 5
O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, SEUS
ELEMENTOS E FASES ESSENCIAIS................................ 33
5.1 A definição do marco teórico ......................................... 36
5.2 Desenvolvimento da investigação ............................... 41 .1

'
X1ll
CAPÍTULO 6 6.4.4.2 Formatos de referências bibliográficas mais utilizados
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA ................. 45 na área jurídica ........................... :............................................. . 126
6.1 Indicações preliminares ................................................ . 46 6.4.5 Glossário, apêndice, anexo e índice ................................ . 132
6.2 Partes pré-textuais ....................................................... . 47
6.2.1 Capa ............................................................................... . 47 CAPÍTULO 7
6.2.2 Folha de rosto ................................................................ . 49 O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA
6.2.3 Resumo ........................................................................... . 50 DE FINAL DE CURSO, A DISSERTAÇÃO DE
6.2.4 Surnário ........................................................................... . 51 MESTRADO E A TESE DE DOUTORADO ..................... 133
6.2.5 Outros elementos pré-textuais opcionais ........................ . 53 7.1 Estruturação dos relatórios de pesquisa ..................... 133
6.3 O corpo ou texto do projeto de pesquisa ................... . 56 7 .1.1 Pré-textos ........................................................................ . 134
6.3.l A escolha do tema e a construção da situação-problema 7.l.2 Introdução teórico-metodológica ................................... . 137
da pesquisa ................................................................................ . 56 7 .1.3 Corpo do relatório: desenvolvimento da argumentação,
6.3.2 Os objetivos da pesquisa ................................................ .. 65 análise e interpretação dos dados ............................................. . 138
6.3.3 A hipótese ........................................................................ . 68 7.1.4 Conclusão ou considerações finais ................................. . 141
6.3.4 Variáveis e indicadores ................................................... . 73 7 .2 Pós-textos ..........................................................•.............. 142
6.3.5 Revisão da literatura sobre o assunto ............................. . 83 7.3 Escrita e redação dos relatórios de pesquisa ............. 143
6.3.6 A metodologia ................................................................ . 83 7.4 Notas sobre o formato do texto e a apresentação dos
6.3.6.l O marco teórico ............................................................ . 84 originais ................................................................................... . 145
6.3.6.2 Setores de conhecimento .............................................. . 88 7 .4.1 Citações .......................................................................... . 148
6.3.6.3 Processos de estudo ..................................................... . 91 7 .4.2 Formato das referências bibliográficas ........................... . 149
6.3.6.4 Natureza dos dados ...................................................... . 92
6.3.6.5 Grau de generalização dos resultados ......................... .. 93 CAPÍTULO 8
6.3.6.6 Técnicas e procedimentos metodológicos mais NOTAS CONCLUSIVAS ...................................................... . 167
adequados às pesquisas aplicadas ............................................ . 100
6.3.6.7 Controle metodológico .................................................. . 111 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................... . 169
6.3.6.8 Fases da pesquisa ......................................................... . 112
6.4 Partes pós-textuais do projeto ....................................... 114
ANEXOS
6.4.l Cronograma físico ........................................................... . 114 ANEXO A - Projeto de pesquisa vertente
6.4.2 Cronograma físico-financeiro, proposta orçamentária e sociológico-jurídica ............................................................... . 177
de desernbolso .......................................................................... . 118
ANEXO B - Projeto de pesquisa vertente
6.4.3 Plano de trabalho e de acompanhamento de bolsistas ... . 121
dogn1ático-jurídica ................................................................. . 191
6.4.4 Bibliografia básica preliminar ......................................... .. 124
ANEXO C - Exemplo de questionário para
6.4.4.1 Formas de entrada das referências bibliográficas ........ . 125
aco1npanl1an1ento de egressos ............................................. . 205 ·i
f

xiv
APÊNDICES
APÊNDICE A - Proposta para fichamento de textos ..... . 223
APÊNDICE B - Exemplo de resumo para participação
CAPÍTULO INTRODUÇÃO
em encontros científicos ....................................................... 227 1
APÊNDICE C - Exemplo de pesquisa diagnóstica e
análise de dados ...................................................................... 231

O texto a seguir tem o propósito de apresentar um conjunto de indicações


básicas e preliminares para o desenvolvimento de pesquisas no campo das
Ciências Sociais Aplicadas, mais especificamente no campo do Direito.
Além do curso promovido pelo Núcleo Interdisciplinar para a Integração
do Ensino, Pesquisa e Extensão - NIEPE, da Faculdade de Direito da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais, este texto é produto de diversos outros
cursos ministrados em graduações e pós-graduações e palestras proferidas
sobre os temas, em vários estados brasileiros, bem como de uma larga ex-
periência em planejamento e pesquisa na Fundação João Pinheiro, por parte
de uma das autoras. 1 Um outro motivo, de igual importância, derivou da inclu-
são nos currículos dos cursos de Direito da disciplina Metodologia da Pesqui-
sa em Direito e da obrigatoriedade da apresentação e defesa de monografias
de final de curso para obtenção do título de Bacharel em Direito. 2 Também
na disciplina de pós-graduação Metodologia da Pesquisa em Direito, urge a
adequação de metodologias genéricas ao campo da produção do conheci-
mento jurídico e das ciências sociais aplicadas.
O motivo maior é, talvez, a exigüidade de textos específicos sobre o as-
sunto, dado o surgimento recente do interesse pela pesquisa científica na
esfera jurídica do conhecimento. Hoje já não se contesta a inserção da
Ciência Jurídica dentre as chamadas Ciências Sociais Aplicadas. É nesse

As autoras puderam aplicar e adequar seus conhecimentos metodológicos ao


campo do Direito, no planejamento, implementação e avaliação da pesquisa-
ação do Programa Pólos Reprodutores de Cidadania, da Faculdade de Direito
da UFMG, sob a chancela do CNPq, e no acompanhamento de orientações e
docência em cursos de Graduação e Programas de Pós-graduação de Direito e
de áreas conexas.
Vide Portaria n. 1886, de 30/12/94, do Ministério da Educação e Cultura. BRASIL,
2000). ·.l
I

XVI
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
INTRODUÇÃO 3
2

campo de conhecimento, justamente, que a produção do conhecimento jurí- plina apresentar os piincipais debates sobre a fundamentação do conheci-
dico vai buscar os fundamentos de sua metodologia científica. mento científico por meio do estudo da metodologia científica das Ciências
Sociais Aplicadas. No que concerne ao aspecto prático da disciplina, essa
Apesar de vivermos um momento de incertezas em relação à funda-
busca descrever os elementos fundamentais para o desenvolvimento do
mentação do conhecimento científico, a ciência, dentre todas as demais
projeto e da própria pesquisa científica, com a finalidade de dar oiientações
formas de conhecer a realidade, parece ser a que ainda pode contribuir
para a composição de relatórios finais que se tra11sformarão em monografias
para a emancipação dos sujeitos e para a alteração do status quo vigente.
de graduação, exigidas até o momento para a obtenção do diploma de ba-
Apesar das mazelas a que se prestou, à ciência resta proporcionar a demo-
charel em Direito, e propor redirecionamentos para as pesquisas que funda-
cratização do conhecimento produzido e a melhoria das condições sociais
mentam as dissertações e teses das pós-graduações em Direito.
da humanidade.
Percebeu-se, no ensino superior, que não basta apenas apropiiar-se do
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB (Lei n. 9.343/
conhecimento produzido e transmiti-lo aos alunos. É necessário fazê-los
96), alicerçada nos fundamentos do ensino universitário, quais sejam, a
sujeitos do processo de aprendizagem, bem como indivíduos críticos em
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, prevê que a educação
relação ao que é ensinado, não só em relação ao conteúdo das disciplinas
superior tem como finalidades"[ ... ] estimular a ciiação cultural e o desen-
como em relação à sua prática profissional cotidiana.
volvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo" e, ainda,"[ ... ]
incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desen- Cabe ao cientista do Direito, um papel de reflexão sobre o objeto de suas
volvimento da ciência" (art. 43, incisos 1 e III) (BRASIL, 1996). investigações, no sentido de transformar e redefinir o papel do Direito na
sociedade.
A referida norma veio disciplinar uma descoberta já antiga das universi-
dades públicas: a de que o ensino superior deve refletir sobre o conheci- A piimeira parte do texto dedica-se a uma visão global sobre a pesquisa
mento que procura transmitir e sobre a formação que deve necessariamen- como função acadêmica de grande relevo para a produção do conhecimen-
te proporcionar aos seus alunos. to científico, dando--se valor ao papel da metodologia e às formas de racio-
cínio e de argumentação na investigação do fenômeno jurídico. Apresenta-
A disciplina Metodologia da Pesquisa Jurídica, introduzida nas grades
se, nessa primeira parte, a disjunção entre uma concepção tradicional de
curriculares dos cursos de Direito, é ainda uma disciplina em construção,
pesquisa e uma nova concepção que se institui por seu conteúdo
apesar dos 1O anos de sua inclusão nos cursos jurídicos. Primeiramente,
problematizador.
porque deveria caber a ela a reflexão sobre o estatuto epistemológico da
Ciência Jmídica, passando antes pela discussão da viabilidade de uma "Ciên- A segunda parte apresenta as grandes vertentes metodológicas da pes-
cia Jurídica". Em segundo lugar, deveria, ainda, não somente criar, como quisa nas Ciências Sociais Aplicadas, dando relevo às condições e possibi-
também aprofundar o debate sobre qual o conteúdo a ser ministrado por lidades de utilização dessas vertentes no campo específico do Direito.
essa recente "cadeira" do curso de Direito. Outra observação que se faz Enfim, a terceira parte discute os elementos essenciais do desenvolvi-
pertinente, é o fato de ainda não possuirmos suficiente material didático mento de pesquisas no campo jmídico, desde a colocação do tema-proble-
sobre a metodologia da pesquisa voltada exclusivamente para a Ciência ma e da fundamentação teórica até às particularidades da montagem de um
Jurídica. E isso não parece ter sido efetivamente constituído em todas as projeto de pesquisa com todos os seus elementos, quer pré-textuais, quer
unidades de ensino desse campo da produção de conhecimento. textuais ou pós-textuais.
As peculiaridades do Direito, como Ciência Social Aplicada, reclamam Deve-se fazer um alerta ao leitor: este livro não tem o propósito de cons-
uma reflexão sobre os aspectos teóricos e metodológicos que lhe dizem tituir-se em um manual completo de metodologia da pesquisa. Constitui-se
respeito, para posteriormente serem aplicados à compreensão e ao ensino em um roteiro geral de reflexões e sugestões, aberto à crítica e às inúmeras
da Ciência Jurídica. adaptações e complementações que se fizerem necessárias. É apenas um
A Metodologia da Pesquisa Jurídica pode desenvolver seu objeto de es- dos textos -- e não o único - para ser utilizado e discutido pelos alunos das
tudos sobre dois aspectos distintos. Do ponto de vista teórico, cabe à disci- Faculdades de Direito e das demais áreas das Ciências Sociais Aplicadas.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

Espera-se, inclusive, que este trabalho possa ser útil, de alguma forma, aos
professores de Metodologia da Pesquisa que se esmeram pela melhoria da
produção do conhecimento científico e por sua adequação à complexidade CAPÍTULO VISÃO GLOBAL SOBRE
da sociedade atual. 2 A PESQUISA
Procurou-se adotar neste livro, as formas de referências bibliográficas,
citações, tabelas, gráficos, notas de rodapé, numeração e paginação da
forma mais aproximada das regras da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), aplicáveis à confecção de monografias, dissertações -
e teses. Mas como a própriaABNT possui regras diversas para a normali-
zação de trabalhos monográficos, relatórios técnico-científicos, publicações
periódicas, livros e relatórios de pesquisa, as autoras sugerem, quando ne-
cessário, uma consulta direta às normas da ABNT, no que diz respeito à 2.1 Conceitos e definições preliminares
adequação formal dos trabalhos acadêmicos.
Ocorre, na atualidade, uma profunda disjunção entre conhecimentos pro-
duzidos de forma compartimentada e estanque em nossas universidades e os
fatos ou problemas multidimensionais, transdisciplinares e transnacionais. Ciên-
cia, consciência de realidade e racionalidade crítica são hoje indispensáveis
para todos aqueles que desejam se dedicar à produção de conhecimento.
Toma-se cada vez mais necessária a consciência da complexidade de nossas- --
relações em relação à facticidade da vida e da cultura. O reconhecimento
dessa complexidade externa deve ser expressa a partir da construção de
novas aptidões para a produção, inovação e organização do conhecimento.
Existe, entretanto, em nossas universidades, especialmente nas áreas onde
a produção de conhecimento é muito incipiente, uma grande simplificação
dos significados atribuídos à pesquisa cientifica. Em sentido corrente, várias
acepções de pesquisa têm sido utilizadas, algumas extraídas de concepções
de senso comum.
Uma delas, e a mais corriqueira, é a que concebe a pesquisa como uma
simples consulta de determinado tema em manuais didáticos, enciclopédias,
jornais, revistas ou outros textos com maior ou menor aprofundamento do
assunto. Essa acepção foi-nos transmitida, supostamente, por professores,
que insistiam em denominar "pesquisa" todo e qualquer aprofundamento de
estudo sobre determinado tema previamente escolhido e indicado aos alu-
nos. Quase sempre o produto desse estudo restringia-se à repetição de
trechos (com uma linguagem bem mais superficial do que no original) de
livros ou de revistas, algumas vezes até mesmo acompanhados de sínteses
e análises bem formuladas e inovadoras. Apesar disso, o produto desse
esforço não passa de um estudo mais ou menos aprofundado sobre deter-
minado tema que não deve ser visto como uma investigação cientí- ,}
f

J
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ,_ _ _ _
VI_SÃO GLOBAL SOBRE A PESQUISA·------====7

fica. Isso não significa que bons estudos sejam desnecessários ou, até mes- sobre determinado tema e não como uma investigação científica, conforme
mo, que não colaborem com o desenvolvimento de pesquisas científicas. O já afirmado.
que se pode afirmar, contudo, é que não devem ser considerados como Não se pretende afirmar, no entanto, que a pesquisa científica é o único
pesquisas científicas, mas tão-somente aprofundamentos de estudos. caminho para a produção de conhecimento ou de verdades. O homem, em
Outra acepção distorcida de pesquisa é aquela que a correlaciona com seu cotidiano, aproxima-se de seu mundo por intem1édio de sua capacidade
simples levantamentos de opiniões sobre determinado tema ou assunto. Esses de conhecê-lo e de transformá-ia. É um erro entender que somente o cien-
"levantamentos" podem até se transformar em estratégias imprescindíveis tista é capaz de produzir conhecimento. A diferença entre a produção de
para o desenvolvimento de uma investigação, mas não são, por si, pesquisas conhecimento do homem em seu cotidiano e a produção de conhecimento
científicas. Pode-se, pois, concluir que uma pesquisa científica, em nosso com objetivos científicos é a forma de observação utilizada. A primeira é, na
caso aplicada ao campo jurídico de conhecimento, tem uma concepção bem maioria das vezes, sensitiva ou vivencial, ou melhor, sem a exigência de
mais complexa do que aquela que se lhe attibui. Isso não significa, contudo, uma conduta voltada para a sistematicidade de procedimentos ou de um
que devemos apresentar, neste livro, a pesquisa científica apenas como a indispensável aprofundamento desse conhecimento, de modo que o indiví-
elaboração de projetos de investigação ou seu desenvolvimento. A duo possa se satisfazer apenas com as aparências dos fatos e dos fenôme-
metodologia científica deve envolver desde as abordagens teóricas que nos. Não se quer afirmar, entretanto, que o conhecimento popular é sempre
vêm sendo utilizadas nos trabalhos científicos - o que exigiria retorno superficial e acrítico. O que se diz é que a observação que cotidianamente
histórico às variadas dimensões epistemológicas sobre a ciência e sua realizamos não tem a necessidade de ser sistemática ou de se fundamentar
relação com o senso comum até as técnicas e procedimentos utilizados numa teoria crítica. 1
na produção do conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas e, dentre Boaventura de Sousa Santos, no livro A crítica da razão indolente.:
elas, a esfera de produção do conhecimento jurídico. Inserem-se aí, inclu- contra o desperdício da experiência (2002b ), entende a teoria crítica
sive, as fom1as de preparação e divulgação da pesquisa, ou seja, o projeto, como aquela que não reduz a "realidade" ao que existe, pois a mesma se
o relatório e a comunicação do conhecimento científico. Optou-se por um constitui de campos de possibilidades que devem ser confinnadas ou supe-
texto de conteúdo mais objetivo: breves reflexões sobre a ciência na atuali- radas (condições positivas ou negativas). As Ciências Sociais Aplicadas
dade e seu estatuto teórico, as formas de elaboração e conteúdos do proje- interessam-se, primordialmente, pela natureza moral de nossa sociedade e
to, as opções discursivas para desenvolvimento do relatório, quer como pela qualidade dessa moralidade. As investigações no campo do Direito
monografia, quer como dissertação ou tese, sem, contudo, deixar de indicar estarão, portanto, sempre voltadas à procura de possibilidades emancipatórias
a complexidade epistemológica em que essas escolhas estão inseridas. dos grupos sociais e dos indivíduos e pelo conteúdo moral dessa emancipa-
ção.Afirma-se, assim, que o Direito e a produção de seu conhecimento não
se restringem à regulação social. Se assim fosse, as investigações seriam
2.2 Origem das investigações científicas desnecessálias, pois o caminho social não seria transformador. A produção"
de um conhecimento emancipador 01igina-se por um problema complexo
A definição mais simples de pesquisa poderia ser formulada como a pro- que é vital e que se configura a partir de um fenômeno jurídico compreendi-
cura de respostas para perguntas ou problemas propostos que não encon- do em sua dimensão cultural e tridimensional: fática, axiológica e nonnativa.
tram soluções imediatas na literatura especializada sobre o assunto. Afir- Logo, a produção do conhecimento é sempre contextualizada. Ela tem
ma-se, pois, que uma pesquisa científica origina-se sempre de uma um tempo e um espaço e se inicia pela crítica não só de seu contexto como
indagação, de uma questão posta pelo pesquisador, sem solução imediata. dos próprios meios e teorias que utiliza para a produção do conhecimento
Se essa resposta é passível de ser encontrada por meio de simples consultas jurídico. Por essa razão, o conhecimento científico origina-se em si mesmo,
a livros, revistas ou jornais, sem a utilização de uma metodologia sistemática
de investigação que possa ser verificável mediante procedimentos racionais
Sobre as diversas formas de conhecer a realidade vide: (DEMO, 1995, 2002),
e críticos, deve ser considerada como simples aprofundamento de estudo (LAKATOS, 2002) e (SANTOS, 2002a, 2000, 2002b).
·l
f
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA VISÃO GLOBAL SOBRE A PESQUISA

por meio de seus procedimentos e de formas sistematizadas e críticas de sa-se para o paradigma da inter e da transcompreensão, período conhecido
raciocínio, mas aspira a um conhecimento final que promova um senso co- como da emergência de um novo paradigma (SANTOS, 2002a, 2000, 2002b ).
mum emancipado em relação a seus sentidos ético, político, estético e do Da antiga razão centrada no sujeito e na metodologia monográfica surge a
próprio saber que produz. razão metodológica comunicacional. Inserem-se, aqui, as "novas" verten-
tes metodológicas da Ciência do Direito e da Sociologia Jurídica. O objeto
2.3 A mudança de rumos na concepção da pesquisa do Direito passa a ser uma variável dependente e a relação jurídica um
fenômeno social.
Até bem pouco tempo, os cursos jurídicos brasileiros faziam tábula rasa
Na concepção tradicional da pesquisa, eram valorizados critérios lógico-
da pesquisa como fonte propulsara de novos conhecimentos ou como ma-
formais. Priorizava-se, extensivamente, as experimentações e todas as in-
nancial de renovação do conhecimento jurídico-científico. Quando existia, a
vestigações que permitissem quantificações e mensurações de todos os ti-
pesquisa quase sempre se restringia a consultas a manuais, a coletâneas de
pos. Os campos de conhecimento eram fragmentados e unidiscip.linar~s. jurisprudência, a recortes de jornais, a anotações de revistas especializadas
Essas características estavam relacionadas e, ao mesmo tempo, se dissocia-
ou a simples levantamentos de opiniões sobre determinado assunto ou tema
vam de suas condições no momento do surgimento das ciências sistemáti-
específico. Em inúmeros casos, mas sempre com honrosas exceções, as
cas do século XVI. Deu-se, nessa fase, a necessidade de emancipação
"pesquisas jurídicas" eram feitas sem qualquer sistematicidade e sem ade-
dessas novas formas de saber em relação ao campo monolítico da Filosofia.
quada fundamentação teórica. A problematização da realidade ou o teste de
Substituiu-se o método dedutivo-demonstrativo pelo método indutivo da ob- hipóteses eram questões tidas como dispensáveis e irrelevantes. Supunha-se,
servação e da experiência. Essa "nova" ciência exigia uma demarcação de
2 tal como na concepção de senso comum, que os dados normati vos "fala-
fronteiras: fazer de cada ciência uma especialização.
vam por si", tomando dispensável qualquer tipo de dúvida ou de incerteza
Até muito recentemente (meados do século XX), predominaram a sobre o fenômeno jurídico real.
unidisciplinaridade e a metodologia monográfica, que não pretendiam uma
Nesse panorama estéril da pesquisa, a "iniciação científica" teve alguma
visão de totalidade. No pós-guerra, ocorre urna mudança de rumos. A rea-
função? Sem dúvida, a inserção dos alunos da graduação nas atividades de
lidade, cada vez mais complexa, é problematizada e experimenta-se a
pesquisa validou o surgimento de uma multiplicidade de enfoques e de tipos
institucionalização da pesquisa. O enfoque metodológico deixa de ser
de investigações jurídicas que conduziram os cursos de Direito a estímulos
monológico e, no primeiro momento, assume uma vertente da multidiscipli-
incessantes e à busca de novos métodos e técnicas que pudessem dar conta
naridade, ou seja, de cooperação teórica entre campos do conhecimento
desses interesses de natureza diversificada. Verifica-se, hoje, em um número
antes distanciados. Passa-se, daí, não mais, somente, para a cooperação,
crescente de cursos, desde investigações histórico-jurídicas até aquelas de
mas para a coordenação de disciplinas conexas ou para a interdis-
conteúdo jurídico-projetivo, jurídico-exploratório ou as pesquisas qualitativas
ciplinaridade. Atualmente, a transdisdpiinaridade ou a produção de uma
de campo. As metodologias também se multiplicaram. Temos, atualmente,
teoria única a partir de campos de conhecimento antes compreendidos como
procedimentos que se utilizam não só das chamadas "fontes de papel" (levan-
autônomos é a tendência metodológica que emerge com maior força. 3 Os
tamentos bibliográficos, documental,jurisprudencial) como das "fontes perso-
dois últimos enfoques exigem uma nova linguagem, dialógica e interativa.
nificadas" (estudos de caso, de opinião, pesquisa·-ação, entre outros).
Do paradigma da consciência, que antecedeu a esses novos enfoques, pas-
O que devemos, pois, esperar dessa inusitada e extraordinária movimen-
tação de alunos à procura de orientadores e de indicações metodológicas
Na ausência de uma nomenclatura adequada para a mudança de paradigma, para a investigação de questões relevantes para a problematização do campo
tem-se adotado diversas terminologias, tais como: "O novo espírito científico" juridico a partir de conhecimento crítico? Dessa efervescência de saberes
(BACHELARD, 1998, p. 9), "Paradigma Emergente" (SANTOS, 2002a, 2002b ), deve-se esperar o máximo. E o que seria esse nível "máximo" ou "ótimo" de
"Ciência Pós-Moderna" (SANTOS, 2000), entre outras concepções.
Uma disciplina possui natureza transdisciplinar quando se institui além das pesquisa? Não seria, por certo, continuar a priorizar a unidisciplinaridade do
tradicionais fronteiras disciplinares (MIAILLE, 1994, p. 61 ). conhecimento, dando relevo somente a critérios lógico-formais e não preten- ·l
f
10 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

dendo uma visão crítica da totalidade. O propósito atual deve se dedicar à


passagem de uma razão centrada no sujeito e no paradigma da consciência
à razão comunicacional e ao paradigma da intercompreensão e da CAPÍTULO A CIÊNCIA JURÍDICA E SEU
transcompreensão. A problematização da realidade jurídica brasileira, por 3 OBJETO DE INVESTIGAÇÃO
nossos pesquisadores, deve representar um movimento objetivo em favor
da coordenação de disciplinas conexas ao campo jurídico na produção de
teorias estruturadas a partir de uma linguagem comum e segundo marcos
teóricos convergentes. Essa movimentação pode conduzir orientadores e
orientandos a serem capazes de, por intem1édio da pesquisa, iniciar um
grande esforço argumentativo que não permaneça fechado na tradiciona-
lidade discursiva unidisciplinar do Direito. Para tanto, tomam-se imprescin-
díveis uma linguagem compreensiva e novos vôos metodológicos e conceituais Na atualidade, a maioria dos teóricos do Direito afama que o saber jurí-
que façam aflorar um aluno-pesquisador mais criativo e mais consciente de dico não se restringe a um saber dogmático. 1 Até meados do século XX,
sua importância no mundo vivo da ciência. Com isso, novas possibilidades afirmava-se que a Ciência do Direito limitava-se a um conjunto de teorias
de conhecimento seriam permitidas e uma noção mais adequada da com- sobre as normas vigentes e suas exigências práticas, dando assim um maior
plexidade jurídica poderia surgir de estudos objetivos, conduzidos segundo realce ao aspecto regulador do Direito. Entendia-se o Direito somente como
parâmetros mais criativos das novas orientações científicas. um elenco de normas, proibições, obrigações e instituições, e a Ciência do
Não é sem razão que Renato Janine Ribeiro afirma não haver "pior inimi- Direito dedicava-se à sistematização e interpretação unidisciplinar desse
go do conhecimento do que a terra finne" e completa: elenco. O saber jurídico, nessa concepção, tinha natureza dogmático-tecno-
lógica, preocupando-se com as noções de vigência e de eficiência proce-
[ ... ] não vejo razão, para alguém fazer uma pesquisa de verdade, que não dimental; por essa razão, priorizava-se a c1iação de condições para a ação
o amor a pensar, a libido de conhecer. E, se é de amor ou desejo que se
trata, deve gerar tudo o que o intenso amor suscita, de tremedeira até
e para o aumento da possibilidade de decisão dos conflitos sociais, sem se
suor nas mãos. O equivalente disso na pesquisa é muito simples: o preocupar com a problematização dos fenômenos sócio-jurídicos e das for-
susto, o pavor diante da novidade. Mas um pavor que desperte a von- mas de atuação e de regulação desses mesmos fenômenos.
tade de inovar, em vez de levar o estudante a procurar terra firme, terre- Novas condições de concepção da Ciência do Direito e das demais Ciên-
4
no conhecido (RIBEIRO, 1999, p. 190). cias Sociais Aplicadas foram constituídas a partir da noção da complexidade
das relações sociais, que não podem ser compreendidas em sua plenitude a
partir do aumento da eficiência dos procedimentos. A Ciência Jurídica con-
temporânea apela à razoabilidade, ao conhecimento crítico e à reconceitua-
ção do ato justo. Suas formas de produção do conhecimento são discursivas e
seu conjunto de complexos argumentativos trabalha com a validade dos argu-
mentos por sua relevância prática e sua capacidade de emancipação dos
grupos sociais e dos indivíduos. Só podem ser considerados emancipados
aqueles grupamentos que, a partir dos conhecimentos científicos, conven-
cem-se da validade dos argumentos e do saber produzido e, por isso, adqui-
rem a capacidade de julgá-los e justificá-los perante si mesmos e os demais
grupos sociais e indivíduos.

Indicamos a leitura de todo o artigo, em: Tempo Social: Revista Social. USP,
São Paulo, n. 1, v. 2, p. 189-195, maio 1999. Essa discussão é aprofundada em Ferraz Júnior (1980, 2001).
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA A CIÊNCIA JURÍDICA E SEU OBJETO DE INVESTIGAÇÃO

Alguns modelos teóricos têm sido atribuídos à produção do saber juridico: decadência. Esse processo pode culminar na eliminação da dicotomia fun-
o analítico, o hermenêutico, o empírico e o argumentativo. O modelo damental: regulação-emancipação.
analítico foi sempre apresentado como sendo de caráter formalista e que se Para o mesmo autor, em obra anterior (SANTOS, 2002a), o conceito de
dedicava à sistematização de regras e de normas. O interesse restringia-se ciência requer, na atualidade, ser formulado e justificado a partir de um
às questões voltadas ao ordenamento jurídico e às suas relações internas. conjunto de quatro teses que se inter-relacionam e se complementam. A
Logo, a produção do conhecimento da Ciência do Direito tinha como ele- primeira tese afirma que todo conhecimento científico-natural é cientí-
mento primordial a norma e, como paradigma, o Direito como campo autô- fico-social. Enquanto na ciência dos tempos modernos havia uma nítida
nomo em relação à sociedade. O modelo he1menêutico, ou a teoria da inter- separação entre Ciências Naturais e Ciências Sociais, no paradigma emer-
pretação tradicionalmente assim concebido-, constrói-se como sistema gente, fenômenos naturais também são explicados a partir de conceitos
jurídico aplicado e compreensivo das condutas humanas por meio da ativi- originários das Ciências Sociais. Ao mesmo tempo, teorias físico-naturais
dade discursiva-interpretativa. O modelo empírico, razoavelmente trabalha- são aplicadas ao domínio social. A pessoa surge como autor e sujeito do
do por Viehweg ( 1979) e, entre nós, por Tércio Sampaio Ferraz Júnior (2001 ),
mundo e este, por supor constantes situações comunicativas, não mais per-
constitui-se como teoria da decisão jurídica no sentido de investigar normas
mite campos de conhecimento unidisciplinares e fragmentados. A segunda
de convivência, no interior ou no exterior do ordenamento jurídico, para
tese refere-se ao conhecimento como local e total. O conhecimento
facilitar os procedimentos decisórios formais e não formalizados. O modelo
total é aquele que tem como horizonte uma globalidade universal e indivisa.
da teoria da argumentação jurídica é aquele que sustenta a necessidade de
Ele é também local, no entanto, pois é formado por temas que, em momen-
convencimento, por meio da atribuição de validade aos argumentos utili-
tos determinados, são assumidos por grupos sociais concretos, com projetos
zados e de legitimidade dos procedimentos decisórios e dos próprios argu-
locais de vida. Essa ciência pode ser vista como uma ciência tradutora, pois
mentos. Este modelo inve1te o procedimento da subsunção silogística: a
tendência contemporânea é de construção da premissa maior a partir do estimula os conceitos e teorias desenvolvidas localmente a tomarem-se
esclarecimento do caso. O fundamento dessa inversão deriva do entendi- universais. A terceira tese afirma que todo conhecimento é autoconhe-
mento de que as premissas maiores, por si, já não dão conta da complexi- cimento. Não mais existe a distinção dicotômica entre sujeito do conheci-
dade do "real" como dado antecedente ou construído. mento e objeto: um conhecimento compreensivo e íntimo, que nos relaciona
ao que estudamos, toma o objeto uma continuação do sujeito. O ato criativo
Nessa análise dos modelos mais correntes, é necessário entender que há
uma interação entre esses modelos que não se constitui, porém, como uma da produção científica deve conhecer-se intimamente antes de conhecer
unidade sistemática (forma tradicionalmente utilizada). A interação entre aquilo que cria ou compreende.
esses modelos dá-se por meio de um processo dialético de inclusão/ A última tese culmina com a postulação de que todo conhecimento
complementação/distinção. Ou seja, cada um deles deve ser entendido den- científico visa constituir-se em senso comum. Sendo assim, nenhuma
tro de suas particularidades e, na aplicação, esses modelos podem ser com- forma de conhecimento é, em si mesma, racional; necessita-se dialogar
plementares e inclusivos, apesar de se distinguirem em seus fundamentos. com outras formas de conhecimento que se interpenetram e se completam.
Essa complementaridade, entretanto, dá-se a partir de permanentes confli- Apesar de o conhecimento científico originar-se de regras metodológicas
tos e de contraditoriedade, por ser um processo dialético de realização. própiias, porém inter ou transdisciplinares, ele só se realiza quando se trans-
Para Boaventura de Sousa Santos (2002b ), urge uma nova síntese jmidi- forma em senso comum, só assim se constituindo como ciência clara e
co-cultural, um "des-pensar" o Direito fundado em tradicionais dicotomias: transparente. Esse é o objetivo primordial das ciências.
Estado Nacional x Sistema Mundializado; Sociedade Civil x Sociedade Políti- O conhecimento científico, a partir dessas teses, visa construir um
ca; Direito Público x Direito Piivado; Utopia Jurídica x Pragmatismo Jurídico. paradigma em que a ciência, por ser social, é concebida como um conheci-
Somente o "des--pensamento" dessas dicotomias pode revelar dissimulações mento prudente para a constituição de uma vida humana decente e o desen-
tradicionais que ocultavam o fato de que o Direito, assim pensado, pode volvimento tecnológico deve traduzir-se em sabed01ia de vida (SANTOS,
"regular" tanto o progresso ou o desenvolvimento quanto a estagnação ou a
2002a).
14 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA A CIÊNCIA JURÍDICA E SEU OBJETO DE INVESTIGAÇÃO 15

Deixam-se de lado, pois, todas as concepções anteriores de um conheci- normas estabelecidas em determinado espaço e tempo." (RODRIGUEZ
mento absoluto ou de verdades absolutas. A produção do saber está sempre MOLINERO, 1991, p. 153).
condicionada por um sistema de referências do sujeito de conhecimento Esse objeto estrutura-se a partir de um paradigma que denominamos "da ,
que se insere em um patrimônio cultural comum a determinados grupos razão comunicacional" (DEMO, 2002); (GUSTIN, 1999, 1999a); (HA-
sociais ou sociedades mais abrangentes e a determinados tempos. A ciên- BERMAS, 1994, 1997); (SANTOS, 2002b); (DIAS, 2003). Para explicação
eia, como um conjunto de constatações, deverá ser sempre passível deve- dessa nova racionalidade, há que se compreender que os seres humanos con-
rificação por ser um saber coerente, metodicamente fundado, demonstrado vivem com uma tensão permanente em razão de sua dupla natureza, ao mes-
e sistematizado. A atividade científica ordenada, segundo piincípios própiios mo tempo individual e social. Há que se entender, igualmente, que esses
e regras peculiares, possibilita fundamentar a relativa ce1teza do saber pro- seres, na atualidade, inserem-se em uma ordem social imersa em uma con-
duzido e de sua validade para o ser humano e a sustentação de seu bem- tradição fundamental. Enquanto o ser humano estrutura sua individualidade
estar e de sua dignidade. moral a partir de relações de fidelidade com as esferas locais e com os
Não sem razão, Ilya Prigogine - prêmio Nobel de Química- assevera grnpos menores e mais próximos (familiares, profissionais, de amigos, entre
em seu livro O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza, que: outros), as fronteiras nacionais se expandem e os seres e as entidades cole-
tivas (sociedades nacionais, empresas de grande pmte, grnpos associativos
A ciência clássica privilegiava a ordem, a estabilidade, ao passo que em
todos os níveis de observação reconhecemos agora o papel primordial
e representação profissional, etc.) passam a conviver em um ambiente cos-
das flutuações e da instabilidade[ ... ]. A democracia e as ciências moder- mopolita, de expansão não só de fronteiras geográficas, mas, inclusive,
nas são ambas as herdeiras da mesma história, mas essa história levaria dos limites morais, políticos e jmídicos, riuma expansão também pennanen-
a uma contradição se as ciências fizessem triunfar uma concepção te de suas necessidades. A individualidade toma-se, portanto, ao mesmo
determinista da natureza, ao passo que a democracia encarna o ideal de tempo, local e global, dependendo de sua inserção nas estruturas da socie-
uma sociedade livre. [... ] Pensamos situar-nos hoje num ponto crucial
dessa aventura, no ponto de partida de uma nova racionalidade que não
dade. E isso afeta, sobremaneira, as formas tradicionais pelas quais ela tem
mais identifica ciência e certeza[ ... ] (PRIGOGINE, 1996, p. 12-14). sido concebida, tendo em vista a perspectiva de um desabrochar dessa indi-
vidualidade por meio da superação de suas necessidades, visando a um ser
Por tudo que se afirmou até aqui, percebe-se que a emergência de um capaz de recriar sua própria autonomia.
novo paradigma das ciências finaliza com a noção anterior de que as inves- Considerando essas argumentações, toma-se possível afinnar que:
tigações científicas deveiiam se estrnturar sobre o fundamento da neutrali-
dade e da teoria da causalidade, segundo o qual tudo estaria previsto e os a) Deve-se garantir aos indivíduos e aos grnpos, ou coletividades, opor-
achados das pesquisas sedam imutáveis e absolutos. tunidades que lhes permitam adquirir capacidades efetivas de
minimização de danos, privações ou sofrimentos graves e, assim,
ampliar essa potencialidade de atividade criativa e interativa, cuja
3.1 O paradigma da razão comunicadonal
pré-condição é a autonomia.
b) Sendo assim, a realização ou não-realização das necessidades afeta-
Assumimos neste trabalho a posição teórico-metodológica que entende
rá positiva ou negativamente a plenitude das pessoas ou das coletivi-
ser objeto do Direito o fenômeno jurídico historicamente realizado. Um
dades em sua busca permanente de um ser humano emancipado e
fenômeno que se positiva no espaço e no tempo e que se realiza como
auto-realizado. Essa realização parece estar limitada tão-somente pela
experiência efetiva, passada ou atual. Entende-se, portanto, que não há
escassez de tempo da vida humana. Mesmo assim, não se pode afir-
Ciência Jurídica sem referência a um campo de experiência social, daí
mar que essa auto-realização esteja limitada pelo tempo biológico de
sua inclusão entre as Ciências Sociais Aplicadas. Uma forma de conheci-
forma inexorável. Sabe-se que o ser recebe capacidades e potencia-
mento que se torna objetiva no decurso do processo histórico e cuja prin-
lidades que são anteiiores ao seu limite biológico, tais como influên-
cipal função, segundo Rodriguez Molinem, é"[ ... ] atribuir valor e subme-
cias familiares e comunitárias, entre outras. E, afinal, a morte não é
ter a juízo crítico o conteúdo regulador do direito, expresso através de
(RE)PENSANDO A PESQUISA._JU_R_I_'D_IC_A
_ _ _ _ _ _ _ __
A CIÊNCIA JURÍDICA E SEU OBJETO DE INVESTIGAÇÃO 17
16

seu limite, pois lega à sua posteridade não só descendentes, como Todas essas iniciativas deverão ter como meta o desenvolvimento da
ações relevantes e os mais variados tipos de heranças e sucessões. potencialidade criativa, interativa e dialógica da pessoa humana em níveis
cada vez mais altos, no sentido de ampliar sua capacidade de inserção autô-
c) As necessidades, por todas essas razões, concedem aos indivíduos
noma em seu contexto e, assim, contribuir para uma efetiva minimização de
argumentos sobre ajustiça e a justeza dos fatos e das rel~ções; por- danos, privações e sofrimentos graves para si mesmo e para sua coletivi-
tanto sobre os fundamentos de sua legitimidade. Sendo assun, a cons-
dade comunicativa.
tituiç,ão dessa legitimidade deverá ter, igualmente, conteúdo social e
Para que essas inspirações tornem-se realidade é indispensável um pro-
cultural, obtido a partir do consenso discursivo e do exercício de uma
cesso de reanimação e de re-conjugação de esforços dos sistemas políti-
democracia na qual a participação se estmture de forma solidária e
co e jurídico de cada sociedade, com o objetivo de estabelecer uma nova
emancipada. capacidade de debate nacional sobre as escolhas fundamentais que de-
d) A autonomia, aqui reafirmada como necessidade primordial do ho- vem ser feitas e os procedimentos a serem utilizados. Cada participante
mem ocidental contemporâneo, deve ser considerada num sentido desse debate deverá estar consciente do valor de sua própria competên-
interativo e dialógico, por isso, também de natureza social e trans- cia comunicativa para o desenvolvimento de uma dialogicidade e de uma
cultural, que supera a concepção restrita e individualizante da doutri- discursividade democrática que possam dar legitimidade política e nomiativa
na liberal do mundo moderno e que rompe com a visão tradicional da a esse processo. Na atualidade, uma sociedade justa deve supor a exis_- _
tensão irremediável da disjunção entre as esferas pública e privada. tência de políticas e de critérios normativos, discursivamente estabeleci-
A autonomia reconceituada nesse sentido é obtida mediante formas dos por indivíduos com autonomia, que regulem uma distribuição eqüitati-
discursivas e auto-reflexivas passa a vislumbrar um privado que se va do produto social e que permitam a obtenção de novos patamares de
realiza no público, este último construído a partir de uma concepção emancipação social. Tudo isso permitiria a realização da autonomia p1iva-_
de cidadania ativa e de sociedade civil que se expande além das da por meio da consolidação do debate na esfera pública e do efetivo desen-
fronteiras locais ou nacionais. volvimento da capacidade de convencimento como expediente de consenso
e) A potencialidade de aprendizagem, de criatividade e de inovação do e de legitimação das estruturas e dos canais normativos democraticamente
ser humano tem permitido que ele, por meio da condição de uma obtidos.
crescente autonomia, seja capaz de transcender uma visão e um dis- A tarefa metodológica da Ciência do Direito não pode desconhecer esse
curso comunitário tópicos e os limites de uma linguagem nom1ativa novo homem que se constrói numa malha complexa de relações que combi-
pai1icular, possibilitando um processo ~e emancipação do homem ~o na as pretensões de institucionalização das relações sociais com o valor
qual não se pode atribuir um termo. E um processo de construçao inescusável da autodeterminação da pessoa. Isso supõe a dialogicidade como
nomiativa que, por intermédio da expansão das relações democráti- método e a autonomia interativa e discursiva como fundamento dessa rela-
cas, realiza-se no constante desvendamento de novas alienações e ção metódica.
das variadas fo1mas de exclusão do mundo contemporâneo. A razão comunicativa ou comunicacional (GUSTIN, 1999a, p. 209) é
É certo que a sociedade contemporânea terá de proporcionar aos cida- aquela que promove a inclusão de um sujeito emancipado que se insere
dãos mecanismos efetivos de satisfação das necessidades que agora se socialmente por meio de múltiplas formas de participação nas esferas públi-
expandem de forma incomensurável a pai1ir da expansão dos mercados e cas e privadas de tomada de decisão. Ele é um sujeito complexo e múltiplo:
das formas de comunicação. É necessário que se submeta a economia a De um lado, ele é a soma de interesses e de papéis diversificados, muitas
fins últimos, tais c9mo o acesso a igual poder e a ~gual participação, oportu- vezes dicotômicos: pai/filho, trabalhador/patrão, professor/aluno, cidadão,
nidades justas de desenvolvimento das competências comunicativas e a entre outros que se diversificam em termos de habilidades, qualificações,
efetivação igual e para todos dos direitos fundamentais e humanos, confe- capacidades e responsabilidades. São múltiplas suas relações discursivas:
rindo a esses temas sentido político e direções normativas cada vez mais grupos diferentes de pessoas interagem com sua identidade heterogênea.
precisas e mais adequadas às condições que estruturam a nova ordem social. Finalmente, esse ser complexo comunica-se por meio de mais de uma lin- ·I
I
18 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
..... ~-----·---· ..-----

guagem moral, ou seja, ele estrutura sua indivi~ualidade por intermé~io de


valores e princípios diversificados. Uma das lmgu~gen~, por c:_erto, e a do
Direito, da Ciência do Direito e da justiça, que penmte a mclusao ~esse ser
CAPÍTULO OPÇÃO METODOLÓGICA
em seu meio social a partir de nova compreensão do mundo e de s1 mesmo 4
pelos novos patamares científicos obtidos pelo homem.

Toda opção metodológica supõe uma concepção provisória da realidade


a ser conhecida. Três elementos de grande importância condicionam, em
nossos dias, a escolha dos procedimentos científicos para a pesquisa a ser
desenvolvida. O primeiro elemento é a idéia de que a realidade jurídica está
condi~i~~~da p~a !rama das relações de natureza econômica, política, ética
e ideológica. Esse elemento aponta para o fato de que o Direito, como
fenômeno jurídico, é também social e cul~ur~l. Q~~gundo elemento consti- ,
tui-se_J]~_ru~~essidade de questionar os institutos já positivados no ordenamento
jurídico nacional que, em boa parte, reproduzem o status quo e, por conse-
gulnte~pratTcamente desconhecem as demandas de transformação da rea-
lidade mais abrangente. O terceiro elemento refere-se ao fato de que a
escoll~~ da metodologia signi:fica ã-aêioÇão de uma postura político-:id~ológi­
ca perante a realidade. Essa adoção deve ser entendida como a procura,_
nàs-rervindicações e demandas sociais, de uma racionalidade que sedes-
prende da racionalidade fmmalista e que supõe a produção de um conheci-
mento jurídico que não se isola do ambiente científico mais abrangente e se
realiza por meio de reflexões discursivas inter ou transdisciplinares.
Apesar das reações em contrário, o pireito hoje se instala na sociedade
como um dos elementos de transfonnação modemizadora das sociedades tra- :
dicionais, especialmente aquelas que são referidas como de Terceiro Mundo ou 1
de desenvolvimento precário. Após a década de 60, surgem novas condições
teóricas e sociais aplicadas. Dentre elas, destacamos a análise das organiza-
ções como novo procedimento metodológico e o interesse pelas novas fo1mas
de análise das instâncias de decisão e de poder político surgem como fonnas
metodológicas de grande imp01tância, que pennitem a conexão entre a Ciência
do Direito e da Política, da Administração, da Econorrua, entre outras. 1

Acerca da Teoria das Organizações, que oferece importantes elementos ao


estudo das instituições jurídicas, consulte March & Olsen ( 1989).

.l
20 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA OPÇÃO METODOLÓGICA
====------··--·-----..-------------·-·----·--------------

As condições sociais do pós-guerra e a insuficiência da ação pública, em e se estrutura a partir das teorias que fundam o pragmatismo
relação às várias crises que se colocam, fazem surgir novos formatos esta- metodológico;
tais, os quais não são capazes de debelar a explosão de litigiosidade que se • ia linha metodológica de sentido jurisprudendal configura-se a partir
faz acompanhar de novos atores coletivos sociais (as organizações não- de um novo modo de assumir metodicaménte a dialética entre siste-
governamentais e os novos movimentos sociais). Esse contexto social de
resistência é uma das razões para o surgimento da crise de administração ! ma e problema, enquanto coordenadas complementares e irredutíveis
L do juízo jurídico;
da justiça ao lado da crise de identidade e de referências políticas.
• !a linha crítico-metodológica, supõe uma teoria crítica da realidade
Não apenas o Estado, mas a própria sociedade e as teorias que a inter- e sustenta duas teses de grande valor para o repensar da Ciência do
pretam, também apresentam novas condições e versões. Bauman (2001) é Direito e de seus fundamentos e objeto: a primeira defende que o
bastante esclarecedor sobre essa questão. Para ele, ocorre na atualidade 11 pensamento jurídico é tópico e não dedutivo, é problemático e não
uma desintegração das redes sociais, uma derrocada das organizações de L_sistemático. Essa tese trabalha com a noção de razão prática e de
ação coletiva, instalando-se uma sociedade dos indivíduos e não dos cida- r razão prudencial para o favorecimento da decisão jurídica. A segun-
dãos. Essa desintegração social de uma sociedade escorregadia e fluida é \ da tese insere-se na versão postulada pela teoria do discurso e
compreendida pelo autor não tanto como uma condição, mas como resulta- 1 pela teoria argumentativa. Essa linha compreende o Direito como
do de novas técnicas de poder, que não mais se interessam pela concretude l_uma rede complexa de linguagens e de significados.
das normas jurídicas e da ética ou pela densidade das redes de laços sociais.
Os novos poderes globais e, inclusive, nacionais operam no sentido de uma Dessas linhas surgem grandes vertentes teórico-metodológicas diferen-
sociedade civil frágil e desenraizada. ciadas. São exemplos dessas vertentes aquelas propostas por Herrera ( 1998)
A noção dessa complexidade social, desses novos poderes e fragilidades, e por Witker (1985). Essas vertentes, nem sempre, podem ser aceitas ple-
vem valorizar a necessidade de investigações que se pautem por novas namente ou de forma isolada.
metodologias, novos temas como foco de estudo e a delimitação de objetos Pode-se pensá-las, de um modo genérico, a partir de três grandes veios
de pesquisa que exigem problematizações e teorias explicativas de conteú- teórico-metodológicos: jurídico-dogmático, jurídico-sociológico e jurídico-
dos cada vez mais complexos. teórico.
A primeira vertente, jurídico-dogmática, segundo Witker ( 1985), consi-
4.1 Grandes vertentes teórico-metodológicas da pesquisa. . dera o Direito com auto-suficiência metodológica e trabalha com os ele-
(_mentos internos ao ordenamento jurídico. Desenvolve investigações com
social aplicada. e jurídica
vistas à compreensão das relações nomiativas nos vários campos do Direito
e com a avaliação das estruturas interiores ao ordenamento jurídico. Acen-
A complexidade contextual conduziu à superação de metodologias de tua a noção de eficiência das relações entre e nos institutos jurídicos,
cortes puramente positivistas ou formalistas. Dessa reação ao tradicionalismo restringindo a análise do discurso normativo aos limites do ordenamento.
jurídico formalista surgiram três grandes linhas metodológicas, originaria- Entende-se aqui, contudo, que a vertente jurídico-dogmática não necessa-
mente sem qualquer complexidade conceitua!, que, aos poucos, foram se riamente deve ser considerada metodologicamente auto-suficiente. Sem dú-
definindo como grandes vertentes teórico-metodológicas, agora já com maior vida, trabalha com relações normativas, e não poderia ser de outra forma.
elaboração de conceitos e diretrizes. Isso não significa, entretanto que deve estar voltado apenas para o interior
As três grandes linhas metodológicas que se destacaram foram: do ordenamento ou ali enclausurado. As relações nonnativas devem, tam-
• a linha da tecnologia social científica, que converte o pensamento bém, ser pensadas de forma externa, vital, no mundo dos valores e relações
jurídico e sua produção em uma tecnologia voltada para as questões da vida. Logo, não interessará apenas a eficiência das relações normativa
sociais, mas que substitui drasticamente os valores pelos fins e os mas, inclusive, sua eficácia. E isso não transformará a vertente dogmática
fundamentos pelos efeitos. Essa grande linha ganhou força nos EUA em um tipo sociológico puro.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA OPÇÃO METODOLÓGICA

A segunda vertente, jurídico-sociológica, propõe-se a compreender o ralização dos achados nas duas primeiras fases. Nas Ciências Sociais Apli-
fenômeno jmídico no ambiente social mais amplo. Analisa o Direito como cadas, a crítica que se pode fazer ao uso da indução, é que as pesquisas
variável dependente da sociedade e trabalha com as noções de eficiência, dessa área não pennitem generalizações completas por se restringirem a
eficácia e de efetividade das relações Direito/sociedade. Preocupa-se com a campos sociais específicos, sendo difíceis as universalizações dos conheci-
facticidade do Direito e com as relações contraditórias que estabelece com o mentos obtidos.
próprio Direito e com os demais campos: sociocultural, político e antropológi- O raciocínio dedutivo é o processo que faz referência aos dados de
co. Enquanto a vertente anterior preocupa-se prioritariamente, mas não ape- nossa experiência ou às normas e regras em relação a leis e princípios
nas, com a noção de eficiência, esta segunda, a partir do sentido de eficácia, Lgerais e ao maior n_úmero de casos que a eles possam ser referidos. Esse
estuda a realização concreta de objetivos propostos pela lei, por regulamentos raciocínio trabalha com a suposição de subordinação, ou seja, uma espe-
de todas as ordens e de políticas públicas ou sociais. A análise de efetividade cificidade subordina-se a uma regularidade geral. Comparando esses dois
que essa segunda também faz, cumpre o mesmo papel da eficácia, comple- primeiros raciocínios, o segundo tem como objetivo explicitar o conteúdo
mentando-o com a análise de demandas e de necessidades sociais e de sua das premissas e o indutivo tenta ampliar o alcance dos conhecimentos.
adequação aos institutos jurídicos, sociais e políticos. Salomon (2001, p. 156-157) apresenta a distinção entre esses dois raciocí-
A vertente jurídico-teórica, conforme Witker ( 1985), acentua os aspec- nios a paitir de duas características fundamentais:
tos conceituais, ideológicos e dout.Iinários de determinado campo que se de-
seja investigar. Essa vertente relaciona-se, mais diretamente, com a esfera da
Filosofia do Direito e com as áreas teórico-gerais dos demais campos jmídi- DEDUÇÃO INDUÇÃO
cos. E deverá seguir os mesmos passos das demais, à exceção dos procedi- a) Se todas as premissas são verdadeiras, a) Se todas as premissas são
mentos metodológicos das pesquisas de campo. Isso não significa, porém, a conclusão deve ser verdadeira verdadeiras, a conclusão é
que as investigações inseridas nessa vertente não tenham natureza aplicada provavelmente verdadeira, mas
corno as demais, visto que toda investigação no campo das Ciências Sociais não necessariamente verdadeira.
Aplicadas, deve visar uma aplicação prática, mesmo que não imediata. Se
consideram1os esse tipo teórico como uma vertente separada e suficiente, b) Toda informação ou conteúdo fatual b) A conclusão enceITa informação
da conclusão já estava, pelo menos que não estava, nem
poderá significar que as pesquisas dogmáticas ou jmídico-sociológicas jamais
implicitamente, nas premissas. implicitamente, nas premissas.
poderão ser teóricas, o que não é verdade. Tanto as primeiras quanto as
segundas poderão realizar pesquisas tanto de campo quanto teó1icas. Sendo
assim, entende-se que esta terceira vertente não deve existir, ela é tão-so- Critica-se o raciocínio dedutivo porque o mesmo fornece premissas ge-
mente um dos procedimentos metodológicos de investigação e não mais que rais das quais fatos ou regularidades podem ser derivados, mas isso nem
isto. Afirma-se, pois, que existem apenas duas grandes vertentes metodológicas sempre é suficiente para uma compreensão mais ampliada. Do mesmo
e não três, como os autores referidos entendem. modo, pode-se criticar essa forma de argumentação por não ser ela con-
Os raciocínios desenvolvidos nas investigações dessas duas vertentes dição suficiente de explicação, nem necessária. Muitas são as explica-
teó1ico-metodológicas podem ser do tipo indutivo, dedutivo, indutivo-deduti- ções que podemos fornecer e que não estão conectadas com leis ou prin-
vo, hipotético-dedutivo e dialético. cípios gerais.
O raciocínio indutivo é um processo mental que parte de dados particu- Lembre-se que o raciocínio indutivo parte da observação de fenômenos
lares e localizados e se dirige a constatações gerais. Assim, as conclusões de det~rminada categoria para a totalidade daquela mesma classe. O dedu-
do processo indutivo de raciocínio são sempre mais amplas do que os dados f IT~2 I?_~r_te-de g.eneralizações ou premissas já aceitas as leis, as totalidades
ou premissas dos quais derivaram. É o caminho do particular para o geral. !. -- para casos ou fenômenos concretos. A indução está 01iginariamente liga-
São três as fases do processo indutivo de conhecimento: a observação dos ·-· da ;Fr;~ic-is Bacon e o empirismo. Já o processo de dedução relaciona-se,
fatos ou fenômenos, a procura da relação entre eles e o processo de gene- também em suas origens, ao racionalismo cartesiano.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA OPÇÃO METODOLÓGICA

O raciocínio indutivo-dedutivo tem sido usado correntemente, nas pesqui- i--danças (tal como Heráclito). O raciocínio dialético fundamenta-se, contudo,
sas atuais, com o sentido de solucionar de alguma forma as insuficiências de · a partir do pressuposto de que a contradição está na realidade, formulando
cada um deles per se. A lógica que tem justificado essa utilização é a de que em o seu pensamento por meio da lógica do conflito. Hegel, como idealista,
qualquer investigação mais complexa os raciocínios indutivo ou dedutivo não subordina a dialética ao espírito. Esse raciocínio trabalharia com a noção de
i ocorrem isoladamente, ao contrário, complementam-se. Alguns investigadores "tese" (ser) e "antítese" (nada), que são abstrações ou momentos de um
argumentam que esse tipo misto não deve ocorrer, por possuir fundamentos que processo de racionalidade que é absorvido na e pela "síntese". Em Marx, o
se contrapõem. É bem verdade, no entanto, que esse tipo tem sido raciocínio dialético postula que o pensamento e o universo encontram-se
crescentemente utilizado e a partir dele tem-se obtido resultados razoáveis. em permanente mudança. Esta forma de raciocínio, contudo, será deter-
minada pela mudança das coisas. Para Marx, tudo se relaciona, tudo se
O raciocínio hipotético-dedutivo remete-nos ao pensamento de Karl
transforma numa interpenetração constante das contradições e da luta
Popper (1975). Para esse autor, cuja obra é de grande complexidade, mas
dos contrários. Tudo é transitório, pois há um proce·sso ininterrupto de
de enorme importância para a produção do conhecimento científico, o avanço
"devir". Pensa-se o fenômeno contendo os contrários que lhe são inerentes
da ciência decorre de sua direção e que podem determinar mudanças.
[... ] rumo a um objetivo remoto e, no entanto, atingível, o de sempre Vale a pena lembrar a argumentação de Pedro Demo (1995) sobre as
descobrir problemas novos, mais profundos e mais gerais e de sujeitar inúmeras banalizações com referência à utilização do raciocínio dialético
suas respostas, sempre a testes provisórios, a testes sempre renovados nas pesquisas científicas. Argumenta o autor que isso tem sido mais fre-·
e sempre mais rigorosos (POPPER, 1975, p. 307-308).
qüente nas chamadas "metodologias alternativas", cujo uso da dialética muitas
Para esse teórico, o raciocínio (o autor refere-se a método) seria o hiQQ: vezes dispensa rigores metodológicos indispensáveis,"[ ... ] em nome de uma
tético-dedutivo, apresentado por meio das seguintes características: a) exis- ,.._criatividade que no fundo é pura incompetência." (DEMO, 1995, p. 123).
tem expectativas ou conhecimento prévio; b) surge o problema de conflitos ' Há que se compreender, ao contrário do que faz Karl Popper em seu livro
com as expectativas ou teorias já existentes; c) propõem-se soluções a par- , Conjecturas e refutações (POPPER, 1994), que a dialética na teoria
tir de conjecturas (dedução de conseqüências na forma de proposições pas- marxiana, quando se refere à identidade dos contrários, não é o mesmo
síveis de teste); d) teste de "falseamento" (tentativa de refutação pela ob- 1 que a identidade dos contraditórios. Relações contrárias convivem e po-
servação e experimentação ou por outros procedimentos). dem ser desvendadas e compreendidas, como, por exemplo, a noção de que
o atual contexto, globalizado e capitalista, pode ao mesmo tempo ampliar
Sendo assim, se a hipótese não suporta o teste, será refutada, exigindo
riquezas e pobrezas, mas não se pode afirmar que esse contexto existe e
todo o processo de argumentos e testes novamente. Se o contrário oc01Te,
não existe simultaneamente. Aquilo que se exclui não pode ter existência
a hipótese será ratificada, porém provisoriamente, até que outra posterior
paralela. Isso seria uma imprecisão de lógica científica.
possa falsificá-la.
Os argumentos dialéticos têm sido utilizados teoricamente e absoluta-·
A maio1ia das ciiticas que são feitas a esse tipo de raciocínio é semelhan-
mente desvinculados de um processo de análise crítica da realidade prática.
te àquelas feitas ao raciocínio da dedução. Outros autores argumentam que
Muitas vezes, por isso, não se entende a diferença entre a unidade dos
não são possíveis raciocínios somente fundamentados na eliminação do erro,
contrários e a presença de contradições. Quanto a isso, afim1a Demo que:
sem estarmos interessados em vislumbrar certezas que, é claro, não são "[ ... ] é possível ser dialético na teoria, destituído de prática, e não ser a
pensadas como verdades absolutas. teórica, ou afundado numa prática que tem pouco a ver com a promessa
O raciocínio dialético tem sido abordado de formas diversificadas. Em crítica da dialética." (DEMO, 1995, p. 129).
suas origens, entre os gregos, equivalia a "diálogo", no sentido de argumen- Todos esses tipos diversos de raciocínio são formas de abordagem do
tação que distingue conceitos em determinada discussão. Heráclito de Éfeso fenômeno jurídico, historicamente considerado no âmbito de cada uma das
incorpora a esse raciocínio o sentido de "mudança": a partir do conflito tudo vertentes metodológicas analisadas. Esses raciocínios ou processos men-
se transforma. Após muitos séculos, os progressos científicos, filosóficos e tais são considerados por alguns autores como métodos; essa não é a posi-
sociais permitiram a Hegel compreender que tudo são movimentos e mu- ção das autoras deste livro. ·-1
I
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA OPÇÃO METODOLÓGICA

4.2 Tipos genéricos de investigações das Ciências Sociais tigador, ou seja, elas formam espaços de compreensão que extrapolam a
Aplicadas à Ciênda jtwídka informação puramente oficial ou formal. Deve haver, sempre, a preocupa-
ção com uma história compreensiva que incorpore as contradições entre
fenômenos, os recalcamentos sociais provocados pelas várias formas de
Após falarmos sobre os processos mentais (raciocínios) que permitem a
opressão, não só o texto e o contexto, mas, principalmente, as intertextua-
abordagem do fenômeno jurídico pelas vertentes teórico-metodológicas,
1idades. É preciso entender que o fenômeno histó1ico-jurídico está inserido
descreveremos os tipos mais genéricos de pesquisa que são formas de con-
em redes socioculturais dinâmicas, às vezes contraditórias e cada vez mais
cretizar as grandes vertentes (dogmática ou sociológica). Poderíamos abor- complexas.
dar somente os procedimentos genéricos das Ciências Sociais, ou seja: as
A produção acadêmica de conhecimento jurídico, em monografias de
investigações de tipo histórico, comparativo, monográfico, estatístico,
final de curso, teses e dissertações, sempre contou com um capítulo dedica-
tipológico, entre outros (LAKATOS, 2000, p. 90-97). Preferimos, no entan-
do à história: história do Direito, histó1ia de algum instituto jurídico ou histó-
to, pelo próprio sentido deste trabalho (de cunho teórico-prático), trabalhar
ria de um personagem de relevo no mundo jurídico.
com a proposta de Witker ( 1985), apesar de algumas mudanças que, a se-
guir, proporemos. Essas "históiias", contudo, têm sido apresentadas a partir de metodologias
tradicionais do conhecimento histórico.
Segundo Witker ( 1985), os tipos genéricos de investigações no campo do
Direito são: 1) histó1ico-jmidicas; 2) jurídico-exploratórias; 3) jurídico-com- É preciso entender que 'História do Direito' é História, porquanto o
parativas; 4) jurídico-desc1itivas; 5) jurídico-prqjetivas; 6) jurídico--propositivas. historiador do Direito utiliza-se de metodologias próprias à ciência his-
tórica e relaciona-se com os novos problemas e novos objetos das ciên-
As investigações do tipo histórico-jurídico são aquelas que, segundo o
cias auxiliares da história (GUSTIN, 1999b, p. 2).
autor, analisam a evolução de determinado instituto jurídico pela compatibi-
lização de espaço/tempo. O autor analisa esse tipo de investigação como a A metodologia da história tradicional foi diretamente influenciada pelo
maimia dos metodólogos: um trabalho sobre a origem dos fenômenos numa positivismo e exerce grande influência na construção da história do Direito
relação temporal de busca de causas e de efeitos e de uma permanente até os dias atuais. Dentre suas principais características, podemos dizer que
;- sucessão de fatos. As novas metodologias históricas, no entanto, não abor- a história tradicional:
: damo fenômeno histórico de forma linear e simplória. As mudanças cons- a) é uma história preocupada em construir um conhecimento por meio
: tituem--se a partir de condições de possibilidade que são transdisciplinares e do reflexo fiel dos fatos do passado;
: que, só assim, podem ser analisadas. O fenômeno histórico, da mesma for-
b) procura eliminar todo fator subjetivo do conhecimento histórico;
ma que o histórico-jurídico, deverá ser reconhecido a partir de uma
multiplicidade de tempos, de fontes, de redes sociais e conceituais. Não c) construiu a figura do historiador imparcial;
existem tempos lineares e sucessivos. 2 Os mesmos ambientes sociais têm d) é uma história vista como um conjunto de fatos bem documentados.
tempos diversificados e que lhe são próprios. Em um detenninado espaço e
Além da influência marcante do positivismo, a história do Direito, metodo-
época podem sobreviver formas de apreensão do mundo que se encontram
logicamente falando, não tem se ocupado da relação constante que deve
cronologicamente distantes: o mundo científico-tecnológico tem um tempo
existir entre o arcabouço teórico da pesquisa desenvolvida, os dados da
que difere do saber artesanal, apesar de viverem uma mesma época e de
realidade e as percepções levantadas sobre o objeto de pesquisa.
serem reciprocamente importantes para essa determinada fase e espaço
históricos. Muitas vezes existem como contrários. Da mesma forma, as Assim, as introduções históricas das teses e dissertações na área jurídica
são, em sua grande maioria, capítulos à parte do trabalho, uma mera compi-
fontes históricas devem ser fonnativas e não só informativas para o inves-
lação de textos doutrinários pouco embasados e documentados. Utiliza-se,
na maioria das vezes, de fontes secundárias, repetindo·-se conhecimentos
Sobre as recentes metodologias da história, consulte: (HUNT, 1992); (LADURIE, conservadores e sem qualquer produção de novos saberes sobre os fenô-
1987); (LE GOFF, 1989); (BURKE, 1990); (DIAS, 1999). menos jurídicos na história do conhecimento.
28 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA OPÇÃO METODOLÓGICA
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No que concerne ao material de pesquisa e de fontes, não há, ainda, uma avaliar o desempenho do corpo discente após o término do curso de Direito.
farta bibliografia de metodologia da história aplicada ao Direito, nem mes- Trata-se de elementos indispensáveis e elementares para a complementação
mo estudos históricos aprofundados sobre o Direito e suas instituições, de tanto da avaliação dos cursos jurídicos quanto da efetiva implementação
fonna a compreendê-lo de maneira transdisciplinar. das diretrizes fixadas pelo Ministério. Apesar de essas diretrizes estarem
--'- O tipo jurídico-exploratório de investigação é, segundo Witker ( 1985), sendo repensadas, não parece que as mudanças serão de grande monta.
uma abordagem preliminar de um problema jurídico. Esse tipo ressalta ca- O tipo jurídico-comparativo é mais reconhecido no campo jurídico.
racterísticas, percepções e descrições, sem se preocupar com suas raízes Segundo Witker ( 1985), esse tipo presta-se à identificação de similitudes e
: explicativas (retirado). Segundo o autor, abre caminho a investigações mais . diferenças de nonnas e instituições em dois ou mais sistemas jurídicos. As-
profundas ou a hipóteses mais precisas. Witker ( 1985) não parece dar rele- r sim, e somente assim, esse tipo tem sido desenvolvido no mundo do Direito.
vo a esse tipo de pesquisa. Os diagnósticos de todo tipo estão, entretanto, -·Esse formato metodológico não deve se restringir somente às comparações
inseridos nesse formato metodológico. Logo, são pré-requisitos de grande entre sistemas jurídicos, apesar de sua grande importância para o desenvol-
valor para a constituição de bancos de dados. Os diagnósticos podem ser vimento do conhecimento científico. Pode-se, também, e com grande valor,
tanto uma investigação autônoma que, como banco de dados, pode ser da realizar investigações comparativas dentro de um mesmo sistema jurídico.
maior utilidade para a produção de conhecimento científico de uma área, Não poucas vezes, as comparações entre institutos jurídicos antinômicos ou
assim como fases metodológicas de determinada investigação. Em ambos contraditórios de um mesmo sistema nonnativo permitem descobrir e sanar
os casos, sua importância constitutiva para o desenvolvimento da produção falhas sistêmicas, ou de dete1minado campo, que podem conduzir a trans-
científica, em determinado campo, não pode ser desconhecida. A pesquisa formações importantes tanto na esfera teórico-argumentativa quanto no
diagnóstica tem crescido em importância no âmbito do Direito, após as aumento da capacidade de decisão de alguma esfera prática de julgamento.
modificações introduzidas, nos cursos jurídicos, pelo Ministério da Educa- Nesse tipo, é geralmente introduzido o raciocínio analógico, pouco utilizado
ção. Essa legislação, referida anteriormente e que passou a fixar as diretri- nas demais áreas do conhecimento e muitas vezes desprestigiado como
zes cmTiculares e o conteúdo mínimo dos cursos jurídicos, culminando com processo mental válido. No campo jurídico, ao contrário, ele é bastante uti-
a instituição do Programa de Avaliação de Cursos (Provão), exige que as lizado na comparação de quadros de referências nonnativos para a solução
instituições de ensino tenham (e efetivamente produzam) conhecimento de lacunas, antinomias ou mesmo como fonte de hipóteses.
detalhado sobre os resultados esperados e efetivamente alcançados pelo r o tipo jurídico-descritivo utiliza-se do procedimento analítico de decom-
curso de Direito oferecido pela instituição de ensino superior. É nesse sen- t posição de um problema jurídico em seus diversos aspectos, relações e
tido que apresentamos, no Apêndice C e no Anexo B deste livro, duas pes- 1 níveis. Neste livro, entende-se que a pura descrição não corresponde à

quisas diagnósticas referentes ao ensino jurídico. O primeiro, um diagnósti-


co de interesse em pesquisa e estágio pelos alunos da Faculdade de Direito
l complexidade investigativa atribuída a esse tipo. A decomposição de um
·-·problema, inclusive em suas relações e níveis, é própria das pesquisas com-
da UFMG, realizado em 1994 (APÊNDICE C). 3 O segundo oferece à co- preensivas e não somente descritivas, que, pela própria denominação, já
munidade jmídica um modelo de questionário de egressos, que teve como mostram seus limites. Por essa razão, propõe-se que esse tipo, como defini-
objetivo principal avaliar os resultados do curso da Faculdade de Direito de do pelo autor, deveria ser denominado como jurídico-compreensivo ou
Sete Lagoas (FADISETE), a pmtir do ano de 2001 (ANEXO B ). Enquanto jurídico-interpretativo, que correspondem melhor às finalidades apresen-
o primeiro foi uma análise de questionário aplicado junto à matricula dos tadas para esse tipo.
alunos da Faculdade de Direito da UFMG, o questionário de egressos da O tipo jurídico-projetivo, ou jurídico-prospectivo, como geralmente é
FADISETE estrutura-se como banco de dados que permite a emissão de denominado nas Ciências Políticas e Sociais, parte de premissas e condições
fommlários completos sobre todos os dados pesquisados, no sentido de melhor •.: vigentes para detectar tendências futuras de detenninado instituto jurídico ou
:r de determinado campo normativo específico. Esse tipo é de grande importân-
Conferir, no mesmo sentido, a pesquisa diagnóstica realizada por Maria Tereza f eia para a análise de tendências. Sua utilização é, contudo, bastante compli-
Fonseca Dias (2003). lcada em níveis de iniciação científica. Essa afirmação decorre do fato de
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA OPÇÃO METODOLÓGICA

que esse formato exige um grande rigor metodológico e uma grande habili- Portanto, não só as fontes formais ou diretas devem ser arroladas em
dade na coITelação de dados objetivos transdisciplinares para a montagem : um projeto de pesquisa jurídica. As fontes indiretas, em várias condições
de "cenários" (socioeconômico,jurídico e cultural) atuais e futuros. Sem 1
investigativas, contribuem da mesma forma que as diretas.
isso, esse tipo pode dar margem à "futurologia", que não se encaixa nos '""" Até o momento, aqui se referiu exclusivamente a fontes secundárias de
propósitos das investigações científicas. Nos cursos de pós-graduação, esse produção do conhecimento jurídico. Hoje avultam, contudo, variados tipos
tipo é de grande valor e utilidade prática. de fontes primárias para o levantamento de dados nas investigações jurí-
Por último, o tipo jurídico-propositivo. Segundo Witker ( 1985), destina- dicas. Todas essas fontes são de abordagem direta do pesquisador, não há
. se ao questionamento de uma nonna, de um conceito ou de uma instituição qualquer intennediário (autor, aiticulista, outro pesquisador, etc.) entre ele e
\ jurídica, com o objetivo de propor mudanças ou reformas legislativas con- a fonte, daí serem de natureza "primátia". Dentre essas fontes, destacam-se:
1,_,cretas. Ocorre que, sendo as pesquisas jurídicas um campo especial das os documentos de todos os tipos (atas, contratos;correspondências, etc.),
Ciências Sociais Aplicadas, toda e qualquer investigação deverá ter finali- arquivos, entrevistas, discursos, notícias de jornais ou periódicos, entre ou-
dade propositiva, por sua própria natureza de ciência aplicada. Assim, en- -tras. As fontes primárias aumentam a capacidade inovadora do pesquisa-
tendemos que todos os demais tipos são, também, propositivos, o que inva- dor, por lhe permitir uma abordagem própria dos dados coletados. Sendo
lida a existência de um tipo especial com essa finalidade precípua. assim, podemos ter fontes diretas, que podem ser primárias ou secundárias
e, do mesmo modo, as fontes indiretas, também de abordagem primária
4.3 As fontes da produção do conhecimento jurídico ou secundária.

A maior parte dos livros que versam sobre as fontes de produção do


conhecimento jurídico só se refere às fontes próprias do Direito. Restrin-
gem-se, assim, às legislações de todo tipo, à doutrina, às obras de Direito de
toda espécie (tratadistas, didáticas, comentaristas, entre outras), aos adágios
e aforismos jurídicos e aos objetos emblemáticos do Direito. Todas elas são
fontes diretas de produção do conhecimento jurídico e, por isso, fontes res-
tritas ao campo do Direito. Alguns desses autores chegam a incluir condu-
tas jurídicas e costumes, também jurídicos, como fonte.
Oc01Te que, desde o início, temos afirmado que as pesquisas jurídicas,
segundo as novas metodologias, devem ser críticas de seu próprio fazer,
contextualizadas, dialógicas e transdisciplinares. Logo, não cabe restringir-
mos nossas fontes de investigação à internalidade do Direito. É possível
desconsiderar que grandes obras literárias reproduzem os costumes, usos e
nonnas de detemünadas épocas com maior fidelidade que alguns compên-
dios de Direito? Podemos nos descurar do levantamento de dados em obras
nos campos da Ciência Política, da Sociologia, da Psicologia ou da Antropo-
logia que se incumbem das relações de poder, da compreensão do Estado e
de sua relação com a sociedade ou com os grupos sociais? E das obras
filosóficas e históricas de determinado momento ou espaço? Não podemos
nos esquecer, ainda, da origem de termos jurídicos a partir das linguagens
sociais, administrativas, político-econômicas ou outras que at:Iibuíram signi-
ficados impo1tantes às normas jurídicas emergentes.
CAPÍTULO O DESENVOLVIMENTO DA
5 PESQUISA, SEUS ELEMENTOS
E FASES ESSENCIAIS

Uma pesquisa inicia-se, sempre, quando um sujeito de conhecimento (pesqui-


sador sênior, pesquisador iniciante, professor, profissionais) percebe algum
problema no saber vigente em determinado campo. Esse problema pode rela-
cionar-se a lacunas, a antinomias do e no conhecimento, a indeterminações
teóricas, ou a dúvidas sobre a eficácia e validade de princípios, conceitos,
:rte01ias, normas, regras, entre outros. lJl!!J?_roblema é, quase sempre, uma
inquietação ou, até mesmo, um obstáculo, uma indignação do sujeito em
relaÇão aô coiihecimentO produzido ou às nmmas morais, sociais ou legisla-
das, segundo determinados conteúdos discursivos. Só a partir desse moinen-·
to~ em ql1eo sujeito se encontra em uma situação problemática ou de dúvida,
é que se pode propor o desenvolvimento de uma pesquisa científica.
A problematização da produção do conhecimento e do conhecimento já
posto, neste início de século, significa que as ciências já não mais se limitam
a posturas metodológicas simplificadoras frente à complexidade do mundo
real. No momento em que o sujeito do conhecimento se dispõe a dar solu-
ção a situações-problemas (dilemas) de determinada área científica, ele
está colocando em questão, e também problematizando, os próprios limites
e fronteiras desse campo científico que o condicionam aos conhecimentos
já estatuídos, que nem sempre correspondem às necessidades humanas,
sociais e de desenvolvimento da própria ciência.
Colocar em questão as temias postas pela ciência tradicional ou vigente,
pode parecer uma heresia ou uma exacerbação modernizante dos cientistas
da atualidade. Foi Epicuro, contudo, naAntigüidade grega, que, pela primei-
ra vez, coloca em questão e problematiza a teoria de Demócrito, considera-
da irrefutável e verdadeira: a queda dos átomos no vazio, com trajetórias
paralelas e na mesma velocidade. Epicuro, porém, pensava a ciência e a
natureza de forma inseparável ao destino e às condições de existência do
homem. Como poderia ser livre, a humanidade, se a constituição da nature-
O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, SEUS ELEMENTOS E ...
34 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
--~--~---~··· ___ ,. , ~~·--··----·- ~-·.-----~-·~-·--------. --~-·"'",,,_ ___________,__________ ._?___.,------·--...........----~--

Os meios também são condicionantes da investigação. Uma boa pesqui-


za e do cosmos dava-se a partir da queda determinística dos átomos? A
sa .deve ser precedid!1 por um plano realista das condições materiais, finan-
partir dessa postura problematizadora, frente à física daquele momento, é
ceiras ou de tempo. E primordial verificar a capacidade dos bancos de dados
que Epicuro"[ ... ] romperá com a noção de inevitabilidade da ação huma-
disponíveis. Muitas vezes, por insuficiência dos bancos de dados, as pesqui-
na que se origina e se consuma na esfera da necessidade, restrita ao reino
sas devem ser limitadas na amplitude de seu objeto. Uma outra caracterís-
da sensibilidade[ ... ] e inovará ao propor a idéia de declinatio (clinamen), t1f"!l q11 P r-r.11d;c1r.1"a rn".lt 0 1·1· a"l·:n°ni·e" ·,..,.. e" o peilil
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yüfoa ,.t..c: 1 uO propno investiga-
" • • •

rompendo com a formulação anterior do devir irremediável e da


dor, o qual pode preferir pesquisas com temas localizados e delimitados a
imutabilidade da matéria" (GUSTIN, l 999a, p. 43). Esse conceito de desvio pequenos espaços mate1iais ou retóiicos. Em pouco tempo é possível reali-
(dina:men), implicando a ausência rigorosa da causalidade, irá, segundo zar uma boa pesquisa, desde que se tenha um objeto bem delimitado, tendo
Prigogine, "[ ... ]estabelecer os termos do dilema a que a física moderna em vista o condicionamento que se detectou.
conferiu o peso de sua autoridade[ ... ] [a partir] do exemplo de uma hipóte-
.. O objeto da investigação deve ser passível de uma delimitação pre-
se arbitrária, que salva um sistema pela introdução de um elemento ad
cisa. Isso significa que o pesquisador e sua equipe devem ter consciência
hoc." (PRIGOGINE, 1996, p. 18). Por esse e outros exemplos que perma-
da ~omplexidade do objeto pesquisado. Assim, a seleção e constituição do
neceram na história do conhecimento humano, é que se deve assumir a
objeto devem considerar os interesses dos pesquisadores envolvidos, suas
condição indispensável de que as investigações científicas não devem te- possibilidades gnosiológicas e temáticas extrínsecas, ou seja, sua habilidade
mer a problematização veemente do conhecimento estatuído pelas teorias de compreender campos conexos e de ser capaz de administrar a aplicação
vigentes nos vários campos do saber científico. Ou, a ciência deixará de ser e de julgar outros campos de conhecimento que estão inter-relacionados
uma esfera inestimável da transformação social. com seu objeto de pesquisa. Inúmeras vezes confundem-se tema com o
Sendo assim, uma pesquisa será condicionada por três elementos primor- objeto da pesquisa. Um tema a ser pesquisado é, ainda, uma proposição
diais: o próprio investigador, os meios materiais de investigação e o objeto genérica, extraída, é claro, do próprio sistema de referências do pesquisa-
da investigação. dor e que se relaciona, de alguma fonna, com o conhecimento científico já
O investigador pode ser originário de uma docência tradicional retórico- pro~uzido. O objeto da investigação faz parte desse tema que se deseja
discursi va ou, ao contrário, integra grupos de produção de conhecimento analisar, mas sua relação é mais direta com o problema ou a dúvida que se
crítico de saber científico e dedica-se às pesquisas de conteúdo transforma- levantou e que abre espaço para novos saberes. Um objeto deve ser delimi-
dor. O primeiro é um sujeito dependente, sem autonomia teórico-doutrinária tado,,
e preciso, para impedir expansões desnecessárias da investi oo-ação ou '
e ideológica. Por essa razão e por assumir uma estrutura lógico-formal de ate mesmo, perda de foco teórico-metodológico.
raciocínio, não consegue alçar vôos metodológicos e conceituais, é pouco Não se pode perder de vista, entretanto, que as ciências trabalham com
criativo na procura de novos procedimentos e fontes e sua linguagem é realidades construídas, ou seja, o objeto não se impõe ao sujeito que o pes-
fragmentada por ser, quase sempre, unidisciplinar. quisa, nem este o inventa. O objeto é fruto de uma construcão de uma
O "novo" investigador, cuja discursividade é emancipada pelo estatuto interação dinâmica e dialética com o sujeito que o constrói e é por ~le cons-
científico que adota em sua produção de conhecimento, utiliza-se de pro- truído. O objeto pertence ao mesmo contexto de referências culturais e de
cessos argumentativos amplos, inter ou transdisciplinares. Possui uma visão conhecimento acumulado do pesquisador. Pedro Demo afirma de forma
compreensiva do objeto investigado e estimula as pesquisas realizadas em criativa: "Na realidade social há no fundo coincidência entre sujeito e obje-
equipes, no mínimo, multidisciplinares. Por isso, sua técnica principal de to, já que o sujeito faz parte da realidade que estuda. Assim, não há corno
discussão dos procedimentos e produtos é o seminário ou outras formas estudar de fora, como se fosse possível sair da própria pele para ver-se de
grupais de discussão, que pe1mite a socialização da linguagem e a interação fora." (DEMO, 1995, p. 28). Assim, nas pesquisas, não se pode descrever
_objetos de fonna neutra como se sustentava tradicionalmente, pois eles são
de saberes diferenciados. Sem essa socialização, não se torna possível o
construídos contextual mente. Não é a norma em si que é objeto da Ciência
convencimento da equipe quanto à validade do marco teórico, da hipótese e
do Direito, mas o fenômeno jurídico do qual ela faz parte. Isso porque,
dos procedimentos metodológicos propostos.
O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, SEUS ELEMENTOS E...
36 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA·-------

quando se refere ao fenômeno jurídico, já se remete a algum tipo de inser- ideologia um conjunto de idéias no sentido positivo. Tem-se uma bagagem
ção cultural ou de contextualização social. ideológica familiar, uma bagagem ideológica advinda da discursividade de
amigos. Isso vai aos poucos condicionando as formas de se ver o mundo.
Introduzidos esses elementos conceituais, indispensáveis à compreensão
Têm-se, ainda, relações profissionais e outras inúmeras relações que cons-
da pesquisa segundo o novo estatuto científico, adentra-se à noção d~s eta-
tituem nossa discursividade ideológica.
~-pas de seu desenvolvimento. São três as principais fases de desenvolvimen-
to de uma pesquisa: 1) o momento de definição da situação-pr~blema, do Quando se desenvolve uma pesquisa, não se pode jogar fora todo esse
marco teórico e de planejamento metodológico da ação (Projeto); 2) o pat1imônio cultural comum, ou seja, os nossos "pré-conceitos", entendidos
desenvolvimento desse plano (realização da pesquisa ou do teste da hipó- como conceitos que se forma anteriormente, um conjunto inumerável de
"pré-noções". Essas pré-·concepções constituem as variadas formas de se
tese); 3) a divulgação e a validação da metodologia e das conclusões (Re-
apreender o mundo.
, latório Final e disseminação dos produtos da investigação).
Esse conjunto de idéias fonna o nosso olhar teórico, mas esse olhar ainda
não é o olhar teórico científico. Esse é o conjunto teórico de senso comum.
5.1 A definição do marco teórico Não é, pois, o marco teórico de que se está falando, apesar de ele também
incorporar essas formas plurais de ver e de perceber o mundo.
Como apresentado anteriormente, uma pesquisa inicia-se, sempre, a par- O que é, então, a teoria científica? A teoria científica é tudo aquilo que é
tir do suraimento ou constituição de um problema teórico ou prático. O mar- produzido por meio da metodologia científica, ou seja, é a produção de co-
co teóric~ deve ser considerado desde essa problematização inicial. Assim, nhecimento a partir de pesquisas sistemáticas, organizadas e controladas
o referencial teórico constitui-se como elemento de controle não só do pro- metodicamente. A teoria é um modo de ver os objetos científicos controla-
blema como de toda a pesquisa. dos segundo procedimentos metodológicos.
Os pesquisadores, sem dúvida, são pessoas que não nasceram hoje ou É comum encontrar projetos de pesquisa que afirmam ser seu marco
que estão desvinculados de seus contextos culturais. Ao se disporem à rea- teórico Kelsen ( 1991 ), Habermas ( 1997) ou lilering ( 1992) e discorrem so·-
lização de pesquisas científicas, pressupõe-se, por conseq~ência, j~ ter cons- bre a obra desses autores. Marco teórico não pode ser confundido com a
tituído uma razoável bagagem teórico-metodológica antenor, um sistema de obra de determinado autor ou com um conjunto de teorias, às vezes,
referências conceituais que permite uma visão estruturada de ciência e de , antinômicas. Marco teórico é uma afirmação específica de determinado
mundo. E essa bagagem anterior constrói os seus paradigmas, ou seja, to- teórico, não de sua obra. E ele é importante por quê? Porque essa teoria é
das as suas formas de pensar e de olhar o mundo são seus paradigmas, seus que vai dirigir o olhar do pesquisador, ou seja, o objeto da pesquisa será
ideários ou conjuntos de idéias que têm sobre as coisas. Essa bagagem analisado e interpretado segundo esse marco previamente definido. O pro-
anterior de vida vai aos poucos constituindo ideologias, formas de olhar a jeto, todos os procedimentos, a metodologia, o problema são constituídos a
realidade circundante. No marxismo, a ideologia foi construída no sentido partir dessa escolha. Pode-se, também, entender como marco teórico, a
negativo, ou seja, no sentido de que a burguesia tinha uma ideologia ~e concepção que fundamenta uma ou toda obra de determinado autor. Mas
dominação sobre o proletariado (MARX; ENGELS, 1980). Então, tod? efeito não está se referindo à obra como um todo. Essa, quase sempre, é formada
da relação entre burguesia e proletariado seria ideológica.1:1 sa-~e a ideo~o­ de um conjunto heterogêneo de argumentações e de explicações. Refe-
gia com o sentido de dominação. A ideologia marxista atribm, assim, sentido re-se, assim, ao fundamento teórico de toda produção do autor ou de uma
negativo à ideologia. Não se refere ao conjunto de idéias, à "bagage~ de de suas obras. O marco teórico seria esse fundamento que respalda toda
pré-concepções", como Durkheim ( 1968) falava. Afinal, sobre todas as ~01sas essa argumentação e lhe dá sentido ou, inclusive, uma de suas afirmações
tem-se pré-noções ou pré-conceitos e ambos inevitavelmente, serão mcor-· que seja incisiva e que reporte a algo que sustente uma idéia que tenha sido
parados às investigações que se desenvolve. teórica ou empiricamente constatada.
Na visão marxiana, o que é ideológico é aquilo que desvia do rumo tido Ao se indicar, em determinado projeto, como marco teórico postulações
como certo. Aqui não se refere a essa forma de conceituação. Denomina-se kelsenianas ou de alguma corrente positivista para investigações sobre di-

. ·11.
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t
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, SEUS ELEMENTOS E ...

vórcio, far--se-á, por certo, indagações sobre a norma e suas relações no ria em determinado autor, cuja legitimidade científica é inescusável e que se
ordenamento jurídico. Fica-se, portanto, adstrito ao ordenamento jurídico. tornou válida para o desenvolvimento de sua pesquisa. Aí estará, pois, 0 seu
Jamais se faria a pergunta: "Quais os fatores sociais que favorece1iam o marco teórico.
divórcio?", por sua inadequação teórica. A questão poderia ser, por exem- Para se compreender a importância do marco teórico na realização de
plo: "Quais os fatores relacionados com a legislação vigente poderiam favo- uma pesquisa científica, observe-se o seguinte exemplo prático. Suponha que
recer o divórcio?" Esse seria um problema relacionado a um marco teórico um pesquisador queira realizar uma investigação científica com o objetivo
com fundamento normativista ou no paradigma positivista. de demonstrar que o centro de Belo Horizonte é violento. A primeira per-
Outro exemplo: escolhe-se uma postulação teórica em alguma obra de gunta a ser feita, para a realização dessa pesquisa, seria a seguinte: existe
Boaventura de Sousa Santos (2000). Como ele é um sociólogo do Direito, a violência no centro de Belo Horizonte? Como procedimento metodolóo-ico
pergunta seria por certo: "Quais os reflexos do divórcio sobre a socieda- inicial, imagina-se a realização de uma pesquisa empírica para a verific:ção
de?" Ou "quais os fatores sociais?" Ou se poderia, ainda, perguntar: "Quais objetiva do fenômeno, uma vez que, tendo sido feita uma pesquisa bibliográ-
os fatores jurídico-sociais que provocariam o divórcio?". Porque o funda- fica, nenhum dado recente foi encontrado que respondesse, de fonna incisi-
mento teórico da obra de Boaventura de Sousa Santos (2002b) é socioló- va, à questão posta. O pesquisador resolveu, então, freqüentar o centro da
gico-jurídico e entende o Direito como uma variável dependente da socie- cidade todos os dias durante um mês para observar, num ponto dete1mina-
dade. Essa postulação poderia ser usada a partir de uma das teorias inserida do, a existência ou não de violência. A qual conclusão ele poderia chegar no
em sua obra. Se, ao contrário, escolhe-se Kholby & Kholberg ( 1987), por final do período? O que ele poderia ter observado? Provavelmente, ele deve
exemplo, cujo fundamento é a questão da moralidade social, então a per- ter observado o trânsito, o fluxo de pedestres, possivelmente alguns atos de
gunta, poderia ser: "Quais os fatores morais provocariam o divórcio em agressão, poluição sonora, visual, sujeira, animais soltos, vendedores, um
sociedade "x"?". assalto a banco, um bem do patiimônio histórico e cultural sendo demolido,
Numa passagem de sua obra Teoria pura do direito, Kelsen (1991) entre inúmeros outros fenômenos. Por meio desse procedimento, ele esta-
propõe a "temia do equilíbrio entre o dever ser e o ser". Aqui está um marco ria em condições de responder se existe violência no centro de Belo Hori-
teórico kelseniano, que pode ser testado em uma pesquisa cujo fundamen- zonte? Acredita-se que não, visto que faltou o ponto de partida da pesquisa
to se pretende normativista. que deveria ter sido enunciado a partir de um referencial teó1ico determina-
Junte a isso, a bagagem ideológico-doutriná.Jia do pesquisador e seus fun- do. Em primeiro lugar, o pesquisador deveria se perguntar: o que posso
damentos culturais. Completa-se, então, o conteúdo do marco teórico. O entender por violência? Qual pesquisa já realizada me fornece um conceito
marco teórico é, portanto, uma afirmação incisiva de um teórico de determi- "teórico", "prático", sobre violência? Qual teórico estaria legitimado a forne-
nado campo do conhecimento que realizou investigações e reflexões orde- cer uma explicação incisiva para o fenômeno da violência, a partir da qual se
nadas sobre detenninado tema e chegou a explicações e conclusões metó- poderia desvendar o objeto de pesquisa? Qual conceito definitivo de violência
dicas sobre o assunto ou, como já se explicou, o fundamento teórico que o pesquisador assumiria? Respondidas essas questões, poder-se-ia, talvez,
respalda suas reflexões em toda sua produção ou em parte dela. considerar encontrado o marco teórico da pesquisa.
Outro exemplo, uma conclusão incisiva tal como"[ ... ] a legislação brasi- Não se deve confundir "marco teórico" com "pressupostos conceituais
leira não tem qualquer eficácia sobre o assédio sexual nas relações de tra-- já aceitos". O p1imeiro, como se viu, é o ponto de partida de uma investiga·-
balho porque elas envolvem muito mais relações de poder do que relações ção. Isso quer dizer que um mesmo problema de pesquisa, se tomado sob
normativas". Eis uma afirmação que pode ter sido postulada em obra de e~foques teóricos diversos, provavelmente encontrará soluções igualmente
valor teórico ou de pesquisa aplicada que se transforma em marco teórico diferentes ao problema. Os pressupostos conceituais, por sua vez, são con-
de outra investigação. Então, a partir dessa escolha, só se pode trabalhar ceitos que não serão objeto de questionamento pela pesquisa. No tema de
com as noções de eficácia ou de efetividade da legislação. A vertente pesquisa "A aplicação do princípio da insignificância em crimes ambientais",
metodológica a ser utilizada também já se explicita: uma pesquisa de cunho o termo "princípio da in~ignificância" necessitaria de um fundamento teó1i-
sociológico-jurídico. Encontrou-se, então, uma afirmação teórico-doutriná- co como guia para a pesquisa que respondesse: o que se entende por esse
(RE)PENSANDO A O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, SEUS ELEMENTOS E ...

tipo específico de p1incípio nessa pesquisa? Tem força de norma jurídica? em organizações, que são da esfera de conhecimento da Ciência Política,
Qual o seu papel no ordenamento jurídico? Qual significado poder-se-ia enquanto o Direito tratará da efetividade nmmativa. Teremos, então, um
atribuir ao princípio da insignificância? Ou da bagatela? E assim por dian- marco teórico de conteúdo interdisciplinar e que determinará um desenvol-
te ... Essas perguntas podem servir como guia do pesquisador para encon- vimento investigativo do mesmo tipo.
trar o seu marco teórico. No que diz respeito ao termo "c1imes ambientais", A identificação do tema, a consulta bibliográfica preliminar, a exposição do
pode-se compreendê-los como pressuposto conceitua! da pesquisa, enten- tema-problema, a hipótese, a fommlação do esquema provisório ou plano de
dendo-os como aqueles que estão definidos na legislação penal, sem trabalho e a discussão e solução final do problema são elementos derivados e
questioná-los ou problematizá-los. Aproveitando o exemplo dado, imagine constitutivos do marco teótico. Em capítulos postetiores se exporá, de forma
que o objetivo de uma outra pesquisa seja determinar o conceito de "crimes detalhada, o planejamento da ação, ou seja, a montagem do projeto de pesqui-
ambientais" e seu significado no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro. sa, que deverá incorporar todos os elementos aqui indicados.
O termo "crime ambiental" já necessitaria passar sob o crivo de algum
marco teórico. Ou seja, qual teoria do "crime" estaria sendo adotada como
5.2 Desenvolvimento da investigação
referencial teórico para confrontá-lo à noção de meio ambiente?
Alguns termos da situação-problema de uma pesquisa jurídica que são
considerados como pressupostos teóricos, quase sempre, necessitam de uma As pesquisas são desenvolvidas para a solução de problemas coletivos,
matriz teórica de apoio, tais como democracia, federalismo, Estado, sobera- __nunca de questões individualizadas. Elas têm funções diferenciadas. Algu-
nia, crime, pena, autonomia, responsabilidade, direito, justiça, lei, ordenamento mas são "pesquisas básicas", destinadas a desenvolver novos campos do
jurídico, norma jmidica, ptincípio, pluralismo jurídico, cidadania, direitos hu- saber ou a fundamentar a geração de conhecimentos. Outras, as "pesquisas
manos, direitos fundamentais, eficiência, Estado democrático de direito, aplicadas", têm a função de desenvolver investigações operacionais desti-
bioética, entre inúmeros outros conceitos. nadas a desenvolvimentos tecnológicos em diferentes campos de saber e,
ainda, as "pesquisas-intervenção", que se destinam ao levantamento exaus-
Apesar das conseqüências apontadas na literatura para a problematização
tivo de informações sobre determinado campo que subsidiarão atuações e
teórica qual seja, a existência de eventuais falsificações dos resultados
estratégias de transformação do contexto de ação. Podem constituir-se em
teóricos obtidos, já que as respostas estariam necessariamente contidas na
pergunta, e a impossibilidade de hierarquizar propostas teóticas rivais, visto intervenções visando o auxílio ao poder público (assessorias, consultorias,
que elas seriam "incomensuráveis" porque produzidas à luz de diferentes e etc.) e de intervenção no exercício da cidadania.
específicos protocolos científicos (PINTO; SILVA, 1986)-, não se deve Adota-se, neste livro, a classificação de tipos gerais de pesquisa, pro-
entender que o marco teórico tenha o efeito de "engessar" a pesquisa. Ao posta por Pedro Demo ( 1995, p. 13) que, além de ser precisa e objetiva, é
contrário, é o marco teórico que fornece à pesquisa o caráter de sistemati- bastante adequada para fins didáticos. O autor propõe quatro gêneros de
zação do conhecimento (que distingue o conhecimento científico do senso __ pesquisa: teórica, metodológica, empírica e prática. O primeiro gêne-
comum) e torna possível a verificação e controle dos resultados obtidos e ro é eminentemente conceitual, destina-se a formular ou rever teorias,
dos procedimentos metodológicos utilizados. Sem o marco teótico, o traba- conceitos, referências teórico-doutrinárias. No campo jurídico, esse tipo é
lho realizado torna-se um produto meramente subjetivo, uma opinião sem a utilizado mais diretamente nas chamadas disciplinas zetéticas, tais como:
fundamentação necessária, podendo tomar-se um achado inconsistente a Filosofia do Direito, Teotias Gerais do Estado, do Direito, História do Direi-
qualquer teste de validade científica. A teoria direciona o olhar do pesquisa- to, entre outras. Isso não significa, porém, que ela se restringe apenas a
dor para desvendar a complexidade de seu objeto e encontrar os procedi- essas áreas ou disciplinas. Todas as demais, inclusive aquelas do campo
mentos metodológicos mais adequados à sua investigação. dogmático, poderão realizar pesquisas teóricas dependendo de seu objeto
Os marcos teóricos não necessariamente exigem pesquisas unidiscipli- e do marco teórico.
nares, como se pensa usualmente. Numa pesquisa sobre "assédio sexual", O tipo metodológico de pesquisa dedica-se a discutir novos procedimen-
· por exemplo, ter-se-á cruzamentos com as teorias sobre relações de poder tos investigativos, fo1mas inovadas de fazer ciência, transfonnação de ca-
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, SEUS ELEMENTOS E ...

minhos metodo1ógicos tradicionais, proposição de novas técnicas de abor- de dados e a levantamentos documentais e bibliográficos complementares
dagem do objeto de pesquisa, entre outros. Esse gênero de pesquisa tem e aprofundados.
sido pouco utilizado pela Ciência do Direito. Isso se dá, possivehnente, pela Na segunda fase, faz-se o registro das informações, sua organização,
complexidade de sua aplicação. Para se obter novos procedimentos tabulações e agrupamentos de dados segundo plano metódico anterior.
metodo]ógicos, novas formas e modos de abordagem do objeto de pesquisa, Faz-se a análise interpretativa e crítica das informações e a qualificação
é indispensável que, antes, tenham sido testados por meio de pesquisas de teórica dos eiementos, tendo em vista a ratificação ou retificação da hipóte-
outros gêneros que possam validá-los. Esse tipo, contudo, pode ser de gran- se proposta. Nesse momento, já é possível trabalhar, ainda de forma preli-
de valor para a transformação e atualização das metodologias aplicadas ao minar, com a confirmação da hipótese e, por conseguinte, com a elaboração
campo jmídico. de respostas à situação-problema colocada pelo projeto.
É importante distinguir a pesquisa empúica da pesquisa prática. A primei- Na terceira fase, há um aprofundamento de todos os elementos da fase
ra, conforme Demo, dedica-se"[ ... ] a codificar a face mensurável da rea- anterior, após a realização de discussões com especialistas e de seminários
lidade social." (DEMO, 1995, p. 13). Sobre essa definição algumas obser- de equipe ou de encontros 01ientador/01ientando. Faz-se a revisão de con-
vações devem ser feitas. Primeiro gostaríamos de alertar que ela não se teúdo e a checagem das proposições iniciais. Redige·-se um texto preliminar
dedica apenas a codificações. Ela formula quadros de observação da reali- do relatório da pesquisa (monografia final de curso de graduação, disserta-
dade, propõe transformações de percurso das condições da realidade obje- ção, tese, etc.) e discutem-se, novamente, os resultados. Passa-se, então, à
to da investigação e fornece cenátios completos da realidade estudada, quer redação final do relatório, sua normalização e edição final segundo as nor-
social, econômica, jurídica, entre outros. Pelo que se observou, não se pode mas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e adequações
entender que esse gênero dedique-se tão-somente a "mensurar" a realida- às exigências institucionais do setor em que se realiza a investigação.
de. Ela se propõe, é bem verdade, a interpretar a objetividade da realidade
sócio-cultural, mas que não se restlinge aos dados mensuráveis. A pesquisa
prática, apesar de se dedicar aos mesmos procedimentos e ter natureza
semelhante ao gênero de pesquisa empírica, desta difere por estar voltada
para intervenções no ambiente sócin-cult:ural, político, jurídico, etc. Pesqui-
sas que objetivem ações transfonnadoras durante o percurso da investiga-
ção ou avaliações que se realizem para a constituição de novos rumos para
a realidade social são tipos desse gênero.
Referiu-se, aqui, às pesquisas das Ciências Sociais Aplicadas, que bus-
cam resultados para a ciência já constituída, para a renovação dos métodos
e procedimentos e para a transformação do contexto e dos fundamentos
teóricos de um determinado campo do saber. São, pois, seus objetivos: co-
nhecimento, descrição, interpretação, explicação e transformação de situa-
ções existentes com intuitos pragmáticos, práticos ou teóricos. Pode·-se,
pois, entender pesquisa, como uma atividade de conhecimento em que se
define um objeto de estudo problematizado em busca de um novo saber ou
de uma nova tecnologia.
Genericamente, as fases de uma pesquisa, como se afirmou anterior-
.. mente, são três. A primeira fase da pesquisa dedica-se à re-elaboração e
detalhamento do plano originário de pesquisa. Dá-se maior precisão ao
foco de estudo e ao esquema metodológico. Passa-se, então, à coleta
CAPÍTULO
ESTRUTURA DO PROJETO
6 DE PESQUISA

Os projetos de pesquisa apresentam, em geral, três grandes partes: a)


indicações ou partes pré-textuais; b) corpo ou texto do projeto; c) partes
pós-textuais.
Considerando as diferentes abordagens temáticas e metodológicas que
podem ser dadas aos projetos de pesquisa, bem como o fato de que a "or-
dem" dada aos elementos integrantes das partes textuais dos projetos de
pesquisa, apresentados a seguir, não altera substancialmente o planejamen-
to e o desenvolvimento das investigações científicas, trabalharemos neste
livro com a seguinte estrutura de projetos de pesquisa:
A) Partes pré-textuais: capa, folha de rosto, resumo, sumário - elemen-
tos obrigatórios - e apresentação - elemento opcional. A apresentação
é prioritariamente utilizada em relatórios finais de pesquisas. Em proje-
tos, considerando-se a inserção obrigatória do resumo, ela é dispensá-
vel e, quando inserida, dá um peso desnecessário ao projeto, tornando
seu conteúdo repetitivo.
B) Partes textuais - corpo ou texto do projeto: 1 Terna-problema;
2 Justificativa; 3 Objetivo geral e objetivos específicos; 4 Revisão da
literatura sobre o assunto; 5 Hipótese; 5.1 Variáveis; 5.2 Indicadores; 6
Metodologia; 6.1 Marco teórico; 6.2 Setores de conhecimento; 6.3 Pro-
cessos de estudo; 6.4 Natureza dos dados; 6.5 Grau de generalização
dos resultados; 6.6 Técnicas e procedimentos metodológicos; 6.7 Con-
trole metodológico.
C) Partes pós-textuais: 7 Fases da pesquisa; 8 Cronograma físico, 9
Bibliografia básica preliminar; 1OReferências bibliográficas - elementos
obrigatórios - 11 Detalharnento de custos, cronograma financeiro e de
desembolso, anexos, apêndices e índices - elementos opcionais. O
detalharnento de custos, cronograma financeiro e de desembolso são
elementos que compõem projetos com pedido de financiamento da pes-
quisa. Em projetos acadêmicos que não requerem financiamento, essas
partes não são inseridas.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

Relatar-·se-á, a seguir, o conteúdo de cada uma dessas partes e seus ciadoras (como CNPq, CAPES, FAPEMIG, entre outras instituições) ou
elementos integrantes, apresentando ilustrações ou exemplos de trabalhos comitês de avaliação e seleção de projetos costumam limitá-lo a 8 ou 10
desenvolvidos sob a orientação das autoras. páginas, no máximo.
A concisão, a clareza e a objetividade do projeto de pesquisa são elemen-
6J Indicações preliminares tos importantes para a aprovação do plano apresentado. Sabe-se que a
linguagem científica é parcimoniosa e sua estrutura deve restringir··se à
O projeto de pesquisa é o instrumento central do desenvolvimento de essencialidade do conteúdo que o objeto da investigação requer. Os comitês
uma pesquisa, visto que tem por principal escopo delimitar o objeto a ser de avaliação de pesquisa, bancas examinadoras e comissões de avaliação
investigado, a situação-problema na qual está inserido e sua necessária fun- estão atentos para esse requisito que demonstra o conhecimento das diretri-
damentação teórica. zes científicas pelo pesquisador.
Para que uma pesquisa alcance os resultados esperados, é mister a con-
junção de certos fatores: a apresentação de um problema que possui rele-
vância dentro do ramo do conhecimento científico, uma equipe de pesquisa- 6.2 Partes pré-textuais
dores habilitados para trabalhar o problema que se apresenta, a escolha da
metodologia mais adequada para tratar o problema apresentado e realizar o ·- As partes pré-textuais, como o próprio nome indica, antecedem o conteú-
teste da hipótese e o cumprimento de certas exigências formais (prazos do do projeto de pesquisa que é dado pelo "corpo do texto", conforme indi-
para apresentação e entrega de relatórios e resultados, formalidades de cações a seguir.
apresentação do trabalho científico e prestação de contas dos recursos for-· Os diversificados centros de pesquisa e as agências financiadoras de
necidos, quando for o caso, entre outras).
pesquisa costumam exigir um conteúdo mínimo para projetos científicos.
Sem esses elementos mínimos, pode-se dizer que não há trabalho cientí-
Deve-se, portanto, estar sempre atento aos editais de concessão de bolsa e
fico, mas tão-somente um exercício de síntese ou compilação de textos e
às regras editadas por cada instituição no que diz respeito ao formato e
manuais: o que se denomina neste livro como aprofundamento de estu-
dos. Assim, pode··Se estar diante de um tema interessante que, por não ter composição de um instrumento de pesquisa, pois esses podem variar.
obedecido aos requisitos formais, não pôde ser concluído. Contudo, de nada De maneira geral, as partes pré-textuais de um projeto devem conter: a)
adianta um rigoroso cumprimento de metas preestabelecidas e de um for- a capa (ou falsa folha de rosto); b) a folha de rosto; c) o resumo; d) o
mato impecável, sem o desenvolvimento do conteúdo (como a constituição sumário; e) a apresentação. Esta última, no projeto, deve ser conside-
do tema-problema, a identificação do marco teóiico, a fmmulação das hipó- rada opcional e até dispensável, pois o resumo dispensa uma apre-
teses, etc.). Essas questões serão aprofundadas em seções e capítulos pos- sentação, para evitar-se repetições desnecessárias. Essas partes são
teriores. Trataremos, primeiramente, dos requisitos formais mínimos que
utilizadas para indicar e identificar sumariamente as partes do projeto e são
um trabalho científico deve conter. 1
elementos complementares ao corpo do texto e para facilitar a compreen-
Primeiramente, o trabalho científico deve buscar a concisão e a clareza,
são e leitura dos temas e propostas a serem apresentados.
sem prejuízo do conteúdo e desenvolvimento da investigação. Essa conci-
são é a tônica principal do projeto de pesquisa. Algumas agências finan-
6.2.1 Capa
A principal obra que adotamos acerca dos aspectos formais de um relatório de
pesquisa é a sexta edição do Manual para normalização de publicações Alguns manuais de elaboração de projetos indicam que deverá haver
técnico-científicas, das professoras da Faculdade de Biblioteconomia da UFMG: uma falsa folha de rosto (ou capa), como uma"[ ... ] folha obrigatória que
Júnia Lessa França, Stella Maris Borges, Ana Cristina de Vasconcelos e Maria
Helena de Andrade Magalhães (FRANÇA et a!., 2004 ), com as alterações precede a folha de rosto e contém no anverso o título e subtítulo da publica-
introduzidas pela NBR 6023, de ago. 2002 (ASSOCIAÇÃO ... , 2002a). ção, centralizados na página." (FRANÇA et al., 2004, p. 15).
48 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 49
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ,,_,,,--~M .... ~...-·--·- ...-----.... - - - - - - - - - - - - - - · - - - - - - - - - - - - - - -.. ·~~~
----------
AABNT, na NBR 14724 de 2005, entende que a capa é elemento obri- negrito. Deve-se procurar escolher um título atraente para o tra-
gatório dos trabalhos acadêmicos e deve conter: nome da instituição balho e que demonstre ao leitor não só o objeto da pesquisa mas a
(opcional), nome do autor, título e subtítulo, se houver, número de volumes, sua problematização mais específica. Se houver subtítulo, o mes-
quando houver mais de um, local (cidade) da instituição onde deve ser apre- mo será separado do título por dois pontos [:]. Sugere-se que o
sentado, ano de depósito (da entrega). (ASSOCIAÇÃO ... , 2005, p. 4). subtítulo não esteja em negrito para distinguir-se do título. (FIG. 1,
Compreende-se, contudo, neste livro, que há divergências quanto ao rigor 4, 5 e 6);
de formatação em relação à capa do Projeto. Daí, porque, não se entende • Local e ano: local (cidade) onde foi apresentado o trabalho e o
que a capa deva ser considerada obrigató1ia, ao contrário da folha de rosto. ano de seu depósito ou de apresentação para banca ou comitê de
A capa no projeto é opcional e contém aquilo que o autor achar necessário seleção. Esses dois últimos são centralizados no final na página.
dispor como seu conteúdo.
Por ser opcional, supõe-se que a capa do projeto possa ser ilustrada, Esses elementos, no projeto, podem ser considerados como in-
em tipos e cores diversos do trabalho, ou estar impressa na parte ex tema do dispensáveis pelo autor, apesar de não serem obrigatórios. Não há
trabalho, como nos casos de confecção de "capa dura" ou papelão. Apesar uma regra específica que determine o espaçamento entre os elementos da
de não ser isso muito comum no mundo acadêmico, especialmente do direito. capa e da folha de rosto. Como o objetivo primordial das normas técnicas é
A capa de projetos poderá conter: a uniformização dos trabalhos científicos, entende-se que as margens e os
tipos a serem utilizados na capa e na folha de rosto deverão ser os mesmos
• Instituição em que o trabalho será apresentado: é o elemen-
do corpo do trabalho -- somente os destaques dos tipos poderão variar para
to que vem no alto da página e indica qual instituição responsável
que as informações sejam mais bem distribuídas na capa. Em projetos de
pela propositura do projeto ou do plano de pesquisa (universidade,
pesquisa, a capa deve ser considerada de forma bastante livre, ao
faculdade, centro de pesquisa, etc.).
contrário da folha de rosto.
Propõe-se que esse elemento deva ser incluído nos projetos, ape-
sar de opcional, tendo em vista que o aluno ou pesquisador que o
apresenta é um proponente e não ainda o autor da pesquisa, razão 6.2.l Folha de rosto
pela qual a instituição que o recebe deva aparecer como primeiro
elemento da capa do projeto; A folha de rosto contém os mesmos elementos da capa descritos acima,
• Autor, autores ou equipe técnica responsável pelo trabalho segundo indicações da ABNT, diferenciados apenas porque não contém o
(se houver): tratando-se de pesquisa individual, em duplas ou gru- nome da Instituição no alto da folha, como ocorre na capa e ainda por que
pos pequenos, os nomes completos dos autores do projeto de pes- entre o título e o local do depósito, deve ser colocada uma nota explicativa que
quisa aparecem abaixo do título da obra. Apesar de que o nome contém a natureza, o objetivo, área de concentração e o nome do orientador e
do autor é obrigatório apenas na folha de rosto, quando se co-orientador do projeto, quando houver (ASSOCIAÇÃO ... , 2005, p. 4).
trata de projeto. No caso de trabalhos coletivos ou de equipe Nos modelos apresentados a seguir considera-se importante a apresen-
técnica responsável, entende-se que a capa conterá apenas o nome tação do nome da instituição na capa e também na folha de rosto dos proje-
da instituição na qual o trabalho foi desenvolvido e o nome com- tos de pesquisa, em que pese o fato de a ABNT somente exigi-la na capa
pleto dos participantes virá após a folha de rosto, numa folha com (FIG. 1).
título próprio e, se possível, com a indicação da função exercida Como referido acima e detalhando um pouco mais adiante, a nota
por cada um dos integrantes (FIG. 5 e 6); explicativa da folha de rosto deve conter:
•Título e subtítulo (este último, se houver): deverá ser colocado A natureza do trabalho a ser desenvolvido pode explicitar-se como: pro-
no centro da página, utilizando-se os mesmos tipos e tamanhos do jeto de pesquisa (FIG. l); relatório de pesquisa institucional (FIG. 6);
que o utilizado para o nome do autor, podendo ser destacado com monografias de final de curso, dissertações de mestrado ou teses de
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

doutoramento (FIG. 5); o objetivo do trabalho refere-se ao grau preten·- :a n.os .projetos de pesquisa, a não ser que esta seja uma exigência das
dido, à aprovação em disciplina, à conclusão do curso, entre outros; nome mst1tu.1ções em que serão apresentados ou das agências financiadoras de
da instituição a que é submetido o projeto; a área de concentração indica ~esqmsas. Os resumos de projetos devem ser claros e conter apenas as
o campo de conhecimento em que se quer especializar e que a pesquisa o mformações indispensáveis.
pe1mitirá, ou seja: Filosofia do Direito, Direito Administrativo, Biodireito, e Os resumos podem também auxiliar para a apresentacão de trabalhos
outros; o nome completo e a titulação do(s) orientador(es) do trabalho. em encontros científicos ou para a publicação nos anais d~sses encontros
No que diz respeito à fmmatação da nota explicativa, a NBR n. 14724 da exposição oral ou em painéis, de acordo com as exigências estabelecida~
ABNT detennina que deva ser digitada em espaço simples e alinhada do nesses encontros, tal como apresentado no Apêndice B deste livro. Quase
meio da mancha para a margem direita (ASSOCIAÇÃO ... , 2005, p. 8). sempre, entretanto, são utilizados resumos de trabalhos científicos já encer-
Observe a formatação da nota explicativa nos exemplos apresentados a rados e não do ~rojeto, a n~o ser que seja o próprio projeto que se deseja
seguir (FIG. 1, 5 e 6). colocar sob o cnvo da avaliação de pares.
Quanto à forma, os resumos seguirão as regras gerais de apresentação
~aABN~ (item 5.1a5.7 da NBR 14724/2005), lembrando que a palavra
6.2.3 Resumo
resumo , que antecede o texto, deve ser centralizada (ASSOCIAÇÃO ... ,
2005, p. 8).
Trata,-se de um texto dissertativo que deve especificar os principais
. pontos do projeto de pesquisa, tais como, seu valor para o ramo científico
e originalidade, situação-problema, objetivo geral, elementos fundamen- 6.2.4 Sumário
tais da metodologia, marco teórico e hipótese. O resumo sintetiza con-
teúdos do projeto de pesquisa. Nesse sentido, deve-se lembrar que ele Trata-se da listagem das principais divisões, seções e outras partes de um
não deve conter nenhuma informação nova, ou seja, que não esteja con- docum~nto, refletindo a organização da matéria no texto, acompanhada dos
templada no conteúdo do projeto que precede. A NBR 6028 classifica respectivos números de páginas em que serão localizados no texto do docu-
essa espécie de resumo com "indicativo", pois diz respeito aos"[ ... ] pontos mento (NBR 6027/2003).
principais do documento [e][ ... ] de modo geral, não dispensa a consulta ao - O sumário, por vezes, é confundido com índice ou resumo. O resumo
original." (ASSOCIAÇÃO ... , 2003c, p. 1). como se viu, é uma síntese do trabalho que precede o sumário. O índic~
Tem-se como indicação que o resumo de trabalhos acadêmicos deve ~parec~ após o sumário ou a bibliografia - ou referências bibliográficas - e
conter, entre 150 a 500 palavras (NBR 6028/2003). 2 Júnia Lessa França e e urna }1st.agem de pal~vr~s significativas (de autores, obras, figuras ou ter-
outras recomendam que ele deva conter "[ ... ] até 250 palavras para mos tecmcos) com a md1cação da localização das informações no texto.
monografias e artigos periódicos; até 500 palavras para livros, teses e rela- Enquanto o sumário é ~lemento obrigatório do projeto, o índice é opcional,
tórios de pesquisa." (FRANCA et al., 2004, p. 73). Em um projeto de devendo ser estabelecido conforme a NBR 6034, de dezembro de 2004.
pesquisa ele deve ser o mais sucinto possível. Um texto maior poderia Poucas vezes se utiliza índices em projetos de pesquisa.
se afastar do objetivo de concisão, que o resumo deve buscar nesse tipo
Inicia-se essa parte com a palavra "Sumário", escrita em letras maiúsculas
de documento (FIG. 2 e 9). O resumo será apresentado na língua vernácula.
(ou so~~nte em negrito) e centralizada"[ ... ], e com a mesma tipologia da
Não se entende necessária a apresentação de resumo em língua estrangei-
fonte ut1hzada para as seções primárias." (ASSOCIAÇÃO ... , 2003b, p. 2).
N? surnáiio, deve-se utilizar numeração progressiva das seções para pro-
Segundo a NBR n. 14724/2005, resumo na língua vernácula é "Elemento porc10nar o desenvolvimento claro e coerente do texto e facilitar a localiza-
obrigatório, constituído de uma seqüência de frases concisas e objetivas e
não de uma simples enumeração de tópicos, não ultrapassando 500 palavras, ção de cada uma de suas partes (FIG. 3 e 11 ).
seguido, logo abaixo, das palavras representativas do conteúdo do trabalho, Segundo a NBR 6024/2003, "São empregádos algarismos arábicos na
isto é, palavra-chave e/ou descritores, conforme a ABNT NBR 6028." numeração dos itens do sumário." (ASSOCIAÇÃO ... , 2003a, p. 2).
(ASSOCIAÇÃO ... , 2005, p. 5).
52 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
··-----------------

Algumas outras indicações formais (NBR 6027): moderno? Uma (re)construção da distinção entre o público e o privado para
• os elementos pré-textuais não devem constar no sumário; a compreensão das relações entre o Estado e a sociedade." (DIAS, 2002).
Ilustra-se com parte do "Sumário" dessa dissertação:
• os indicativos das seções que compõem o sumário devem ser
alinhados à esquerda;
2 A COMPREENSÃO DO PÚBLICO E DO PRIVADO
A distribuição de itens ficará a critério do autor, dependendo do tipo de NA TEORIA GERAL DO DIREITO COMO SUMMA
trabalho e das seções apresentadas. Quanto a sua divisão, o sumário pode- DIVJSIO ............................................................................ 49
rá, por exemplo, ser dividido em partes e cada parte em capítulos (Parte I, 2.1 Divergências históricas quanto à origem da summa
Capítulo 1, Capítulo 2, ... ; Parte II, Capítulo 3, Capítulo 4, ... e assim sucessi- divisio................................................................................. 52
vamente) ou somente em capítulos (Capítulo 1, Capítulo 2, ... ). Se a publica- 2.2 As correntes de pensamento acerca da distinção entre
ção for coletiva, ou seja, diferentes autores fazem um texto que compõe a o direito público e o privado: afirmativas, negativas e
publicação, deverá ser numerado por itens (1, 2, 3, ... ) e não por capítulos. A mistas ................................................................................ 65
divisão do sumário dos projetos de pesquisa geralmente não é feita em capí- [ ... ]
tulos mas, como no último exemplo, em itens, devido ao reduzido tamanho
2.2.1 Corrente afirmativa e seus critérios de distinção ................. 66
do texto dos projetos.
2.2.2 Os movimentos de privatização e publicização das esferas
É a partir do sumário que será feita a numeração das páginas do texto com
jurídicas públicas e privadas ... ... .. ...... ... .. .. ... .. .. ...... . ... ..... ... .. 78
algarismos arábicos. Nas partes pré-textuais, não há numeração de páginas.
Após a descrição dos itens do sumário, deve-se indicar, no final da mesma 2.2.3 A corrente negativista: o monismo de Kelsen .. .. ... .. ........ .. ... 82
linha, o número da página correspondente no inteiior do relatório (FIG 3 e 11 ).
É regra da ABNT que "Não se utilizam ponto, hífen, travessão ou qual-
Observe-se o seguinte exemplo genérico: quer outro sinal após a numeração indicativa de seção ou de seu título."
(ASSOCIAÇÃO ... , 2003a, p. 2). Observe-se o exemplo acima.
1 SEÇÃO PRIMÁRIA Para melhor visualização das seções do documento no sumário, a ABNT
1.1 Seções secundárias recomenda (NBR 6024) destacar gradativamente o texto. Nos exemplos
dados, utiliza-se a seguinte formatação gradativa: os tipos da seção primária
1.2 foram grafados em letras maiúsculas e em negrito, os da seção secundária
em letras minúsculas e em negrito; na seção terciária, somente os números
1.2.1 Seções terciárias da seção em negrito. A partir da seção quaternária, os números e os nomes
das seções não terão negrito.
1.2.2
1.2.2.1 Seções quaternárias 6.2.5 Outros elementos pré-textuais opcionais

1.2.2.2 Os elementos pré-textuais apresentados anteriormente são de apresen-


tação obrigatória nos projetos de pesquisa. São elementos opcionais e que
1.2.2.3 somente deverão constar do trabalho segundo a conveniência do autor: lom-
1.2.2.3.1 Seções quinárias bada (NBR 12225/2004), errata, dedicatóiia, agradecimentos, epígrafe, lista
de ilustrações, lista de tabelas, lista de abreviaturas e siglas, lista de símbo-
1.2.2.3.2 los, conforme indicativos da NBR 14724 (ASSOCIAÇÃO ... , 2005, p. 3). ·~
JI
A seguir, apresenta-se a aplicação das divisões de documento num exemplo Apresentam-se, a seguir, alguns exemplos de trabalhos estruturados se-
concreto, baseado na dissertação de mestrado "Direito administrativo pós- gundo as normas e regras apresentadas anteriormente.

1
à'..·
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 55

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS· RE.~UMO


Faculdade de Direito/Curso de Pós-Graduação
A distinção público/privado é um problema recorrentemente dis-
cutido pela teoria geral do direito, com conseqüentes reflexos na
dinâmica de criação, compreensão e aplicação do direito.
Maria Tereza Fonseca Dias
Segundo demonstra Habermas, "[ ... ] não se conseguiu harmoni-
zar conceitualmente e de modo satisfatório autonomia pública e pri-
vada." (HABERMAS, 1997, p. 115).
A Reforma Administrativa do Estado tem introduzido novos ele-
mentos que interferem na compreensão da distinção entre público e
privado, sobre os quais deve-se trabalhar conceitualmente:
"publicização'', "setor não-exclusivo", "propriedade pública não-
estatal", "terceiro setor", "entidades públicas não-estatais", entre
outras.
O principal objetivo deste projeto de pesquisa é, pois, compreen-
der a distinção público/privado na Reforma Administrativa do Esta-
Uma (re)construção da distinção público/privado para com- do que está sendo implementada pelo Governo Federal, por meio da
preensão do fenômeno da Reforma Administrativa Brasileira análise crítica da história dessa distinção no pensamento jurídico e
da tentativa de sua (re)construção, tendo em vista novas concep-
ções teóricas.
Essa (re)construção servirá, ao final, para uma análise crítica à
Reforma Administrativa e às tendências do próprio Direito Adminis-
t:rativo com relação ao tema.
Plano de Pesquisa apresentado ao Curso de Pós- Para tanto, adotar-se-á como marco teórico de estudos a "Teoria
, Graduação em Direito da Universidade Federal de Mi- Discursiva do Direito e da Democracia", de Jürgen Habermas ( 1997),
nas Gerais como um dos requisitos da obtenção do que procura problematizar a legitimidade do direito por meio de uma
Grau de Mestre em Direito na Área de Concentração compreensão procedimental de sua elaboração e de uma determina-
em Direito Administrativo, sob a orientação do Pro- da condição de cidadania. Sob essa perspectiva, a titularidade de
fessor Doutor Pedro Paulo de Almeida Dutra e Co- direitos fundamenta e garante a autonomia pública e privada.
orientação da Professora Doutora Miracy Barbosa de A metodologia do trabalho terá cunho transdisciplinar, passan-
Sousa Gustin. do, pela análise da história das reformas administrativas sob o crivo
da metodologia da história política, apresentando os recortes tem-
porais de uma suposta evolução das reformas administrativas, utili-
zando-se, ainda, do método comparativo.
Promover-se-á, dessa forma, com a pesquisa, uma crítica da socie··
dade moderna que incorpore tanto suas falhas ou distorções como
suas realizações positivas.
Belo Horizonte
2000

IG. 1 Exemplo de folha de rosto de projeto de pesquisa (DIAS, 2000). FIG. 2 Exemplo de resumo de projeto de pesquisa - 274 palavras (DIAS, 2000).
56 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 57
---- -----··---

SUMÁRIO Antes da formulação da situação-problema, é necessário identificar e deli-


mitar o tema da pesquisa, ou seja, o assunto a ser pesquisado. Para Délcio
Vieira Salomon, especificar um assunto significa focalizar determinado objeto
11EMA-PROBLEMA ................................................... 1 de pesquisa (SALOMON, 2001 ). Este objeto de pesquisa será melhor delimi-
tado quando ele estiver adequadamente problematizado. Como tema, ele é
2 REVISÃO DALfIERATURASOBREOASSUNTO .. 2 um foco bastante genérico que, possivelmente, será encontrado em diversas
propostas de pesquisas ou em simples aprofundamento de estudos.
3 OBJETIVOS ............................................................... 3 A escolha do tema e a constituição da situação-problema da pesquisa
3.1 Objetivo geral .............••......••.•..••..........•................... 3
significam a etapa mais importante do processo de investigação científica,
pois envolvem não apenas o campo de motivação do estudante e do pesqui-
3.2 Objetivos específicos .....•.............•...........•....•••........ 3
sador para um longo trabalho de leitura, levantamento e compilação de da-
dos, procedimentos múltiplos de campo ou teóricos e convivência aprofundada
4JUSTIFICA11VAS .........•............................................. 4
com o assunto. A não correspondência ao interesse do pesquisador pode
significar maiores dificuldades e menor contribuição para sua formação aca-
5 l\1ETODOLOGIA........................................................ 5 dêmica e profissional. É claro que não se pode deixar de ressaltar que,
5.1 Marco teórico ••...•..••.•.•...•..........••..•....•..•....•..•......•... 5 quando o tema é escolhido pelo pesquisador e a situação-problema da pes-
5.2 Hipóteses ...•.•......•.....•.•......••..•..••.....•............•.......•... 6 quisa é f01mulada e delimitada, necessariamente já estará neles inserido o
5.3 Métodos e técnicas de pesquisa ...•....••....•...•..........•. 7 marco teórico da pesquisa. Ressalta-se que o marco teórico só poderá ser
extraído do sistema de referências do pesquisador e que fundamentará não
6 FASES DO TRABALHO ............................................ 8 apenas os conteúdos do projeto, como de toda pesquisa. Além disso, outros
desdobramentos decorrem da delimitação do tema e da construção do pro-
7 CRONOGRAMA FÍSICO .......................................... 9 blema no processo de desenvolvimento da pesquisa. Entre eles, deve-se
observar que:
8 BIBLIOGRAFIA BÁSICA PRELIMINAR.................. 10 • ;-A situação-problema da pesquisa é sempre fundada em marco
teórico previamente definido. Alguns elementos constitutivos da
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................... 11 situação-problema são o que chamamos de "pressupostos con-
ceituais" [,] já aceitos e efetivamente conceituados na doutrina,
legislação ou em literatura especializada. Esses pressupostos, en-
FIG. 3 Exemplo de sumário de projeto de pesquisa (DIAS, 2000).
tretanto, nem sempre são igualmente conceituados entre dou-
trinadores ou teóricos de campos de conhecimento diferenciados.
6.3 O corpo ou texto do projeto de pesquisa Quando isso ocoITe, toma-se indispensável que o problema seja
seguido do conceito exato de cada elemento, para que não paire
dúvida sobre a conceituação precisa. Muitas vezes, em um mes-
6.3.1 Aescolha do tema ea construção da situação-problema da pesquisa mo autor, um único elemento é conceituado de forma diferente em
obras diversas. Por esse motivo, deve ser extraído do marco teó-
- Como já se afumou inúmeras vezes, só existem pesquisas científicas quan- rico que funda a pesquisa.
do estas são precedidas de uma situação-problema de real importância que •As situações-problema, depois de fommladas, são fundamentos
não possa ser resolvida a partir de simples consultas bibliográficas, nem paradigmáticos para a constituição das hipóteses, dos objetivos e
prescindir de toda sistematicidade que envolve uma investigação. da metodologia da pesquisa.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

• Os problemas ou situações-problema e, em especial, o marco teó- Exemplo 1


rico que os constituíram, condicionam os principais aspectos "A eficácia da legislação do divórcio, no Brasil, e seus fatores
· metodológicos da pesquisa: vertentes metodológicas, tipos de in- condicionantes externos".
vestigação, técnicas, procedimentos e métodos de levantamento e
coleta de dados, etc.
Exemplo 2
A situação-problema direciona, inclusive, as posteriores conclu-
"O exercício democrático do direito fundamental à liberdade de imprensa
sões do relatório final da pesquisa.
e de informação jornalística." (MELO; ROCHA, 2004).
As autoras têm percebido em suas aulas de metodologia da pesquisa e de
orientação monográfica que o aluno pesquisador, sobretudo o de Gradua- Exemplo 3
ção, ainda não habituado ao raciocínio da pesquisa e carente de aprofun- "Uma (re )construção da distinção público/privado para compreensão do
damentos teóricos acerca dos assuntos a serem pesquisados, encontra difi- fenômeno da Reforma Administrativa Brasileira." (DIAS, 1999).
culdades em delimitar, concomitantemente com a elaboração do problema,
o marco teórico da pesquisa. Nesse sentido, tem-se procurado, em primeiro Exemplo 4
lugar, fazer com que ele escolha o tema, apresente a situação-problema e, "O Poder Legislativo estadual e a elaboração de políticas públicas: em
em seguida, identifique, no seu sistema de referências, o marco teórico que busca de um novo padrão de atuação." (MINAS GERAIS, 2000).
permitirá a fundamentação desses elementos. Isso não significa dizer que o
marco teórico da pesquisa deva surgir depois da escolha do tema e da cons-
Exemplo 5
trução do problema da pesquisa. Essa proposta tem um sentido excepcional,
primordialmente didático-pedagógica. Seu principal objetivo é o de contor- "A pessoa jurídica e os direitos da personalidade." (GOMES, 2004).
nar dificuldades de alguns estudantes da Graduação e que não têm sido
facilmente superadas em sala de aula. Exemplo 6
Devem ser considerados alguns critérios importantes para a escolha e "A natureza tributária da prestação cobrada pelo uso de bens ambientais."
delimitação do tema de pesquisa: (BOTELHO, 2004).
• Relevância social, humana e jurídica, ter valor histórico e contri-
Corno se pode observar nos exemplos acima, o terna de pesquisa pode
búir com soluções para a atualidade.
~ser ou não equivalente ao título atribuído ao projeto ou à pesquisa. No caso
• O assunto deve ser adaptado à capacidade e ao nível de qualifi- do Exemplo 1, anteriormente analisado, o terna inicialmente poderia ser,
cação, às inclinações e interesses do pesquisador. "Questões sobre o instituto do divórcio", por exemplo, ou somente "O divór-
• Elementos condicionantes externos, tais corno: tempo para a rea- cio". Esses dois temas, contudo, estão elaborados de uma forma metodolo-
lização da pesquisa, bibliotecas, material e capacidade dos bancos gicamente incmTeta. A fonna cmTeta foi dada no exemplo 1: "A eficácia da
de dados disponíveis, possibilidade de consulta a especialistas, en- legislação do divórcio, no Brasil, e seus fatores condicionantes externos",
tre outros. que tem um significado mais preciso e revela com maiores detalhes o objeto
• Sistema de referências teórico-prático já estruturado sobre o as- da pesquisa, mostrando que o tema já foi devidamente problematizado.
sunto. Vejam que os exemplos 1 a 4 não chegam a explicitar exatamente a
situação-problema da pesquisa, porém demonstram, mais efetivamente, o
Indicam-se, a seguir, alguns exemplos de temas de pesquisa. A partir que se deseja investigar. Já nos exemplos 5 e 6 o problema da pesquisa fica
desses exemplos, procurar··se-á desenvolver os demais elementos do proje- mais explícito, apesar de não formulado claramente e ainda não demons-
to de pesquisa: trando toda sua complexidade.
60 __ ...._.,......,,__..... _____ _
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

O investigador, a partir do tema, apresenta o conteúdo a ser tratado no 4.Quais os fatores de ordem social [ou ... ] que provocam o divórcio em
projeto de pesquisa, apesar de sua condição ainda preliminar e rudimentar. casais com até 10 [ou ... ] anos de casamento e que pertencem ao estrato
Quando se escolhe o tema, que é o assunto que se deseja analisar, deve-se social médio (alto, médio-baixo, popular, etc.)?
também pensar, como já dito, em sua exeqüibilidade e adequação aos fato- E assim por diante. Quanto mais preciso o problema, mais fácil se toma
res externos e internos. O tema é o início de exposição daquilo que será 1

a elaboração dos demais elementos do projeto e sua testagem. Ressal-


explorado na pesquisa científica que se deseja desenvolver.
"-te-se, mais uma vez, que o problema tem de estar conectado com o
A situação-problema constituída no projeto é sempre formulada como marco teórico da investigação e os interesses da equipe de investigação
indagação, como uma questão que o investigador se atribui pela primeira ou as demandas sociais ou institucionais. De um modo geral, ao se colo-
vez ou que permaneceu sem solução em pesquisa anterior, de sua respon-
car o problema, inicia-se por uma linguagem genérica e dar-se-lhe-á, gra-
sabilidade ou de outras equipes de investigação. Deverá pôr em evidência
dualmente, maior precisão de termos e de conteúdo, conforme a exem-
as condições de oportunidade, novidade e relevância e ter uma dimensão
plificação anterior.
viável, tanto no que se refere ao conteúdo, quanto à área de abrangência da
pesquisa e ao tempo disponível. Seguem as situações-problemas, formuladas conforme as temáticas
A linguagem do problema deve ser clara e precisa e o mesmo deve estar indicadas nos exemplos anteriores acerca da escolha do tema da pesquisa.
conectado com a esfera empírica, isto é, os valores devem ser expostos e
analisados objetivamente, como fatos. Situações-problemas, em termos cien- Exemplo 2
tíficos, não podem ser confundidas comjuízos morais. Tema da pesquisa: "O exercício democrático do direito fundamental à
Duas outras características do problema a ser pesquisado são constante- liberdade de imprensa e de informação jornalística." (MELO; ROCHA,
mente lembradas pelos manuais de metodologia de pesquisa: ser suscetível 2004).
_de solução e ter uma dimensão viável.
Situação-problema:
Além de todas essas características, a situação-problema deve ser com-
• A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabe-
pleta em sua formulação, ou seja, conter todas as variáveis necessárias e
lece parâmetros para o exercício democrático do direito à liber-
esclarecedoras da investigação que se deseja fazer.
dade de imprensa, especificamente à liberdade de informação
A seguir, observem-se as indagações formuladas, referentes ao tema do
jornalística. Questiona-se se esses parâmetros seiiam suficientes,
Exemplo 1, dado acima, que reconstrói a seqüência do raciocínio desenvol-
tendo em vista as diversidades de visões de mundo constitutivas
vido tendo em vista a maior completude e precisão da redação do problema,
bem como da maior delimitação do objeto da investigação. de uma concepção de esfera pública que não se reduz à estatal.

Exemplo 1 Exemplo 3
Tema da pesquisa: "A eficácia da legislação do divórcio, no Brasil, e seus Tema da pesquisa: "Uma (re)construção da distinção público/piivado para
fatores condicionantes externos." compreensão do fenômeno da RefonnaAdministrativa Brasileira."
Etapas possíveis para a formulação do problema da pesquisa, do mais Problemas de pesquisa fo1mulados:
simples ao mais complexo e completo: • Como a Teoria geral do direito compreendeu histmicamente adis-
1.Quais os fatores que provocam o divórcio? tinção entre o direito público e o privado no entendimento das re-
2.Quais os fatores de ordem social (moral, religiosa, etc.) que provocam lações entre o Estado e a sociedade?
o divórcio? • Da (re)construção da distinção entre o público e o privado adviriam
3.Quais os fatores de ordem social [ou ... ] que provocam o divórcio em efeitos práticos na forma da compreensão do sistema administra-
casais com até 10 (15, 20, etc.) anos de casamento? tivo e, conseqüentemente, na atuação estatal?
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

Exemplo 4 projeto, pois essa fragmentação, inúmeras vezes, pode demonstrar uma in-
Tema da pesquisa: "O Poder Legislativo estadual e a elaboração de polí- decisão por parte do pesquisador quanto a seu objeto de pesquisa.
ticas públicas: em busca de um novo padrão de atuação." Inúmeras vezes, têm-se observado falhas de pesquisadores, graduandos,
Situação-problema: pós-graduandos, mestrandos e doutorandos na elaboração da situação-pro-
blema de seus projetos de pesquisas. Entre elas destacam-se as seguintes:
• Quais seriam as condições, teóricas e práticas, que possibilitariam
ao Poder Legislativo Estadual alterar os seus padrões tradicionais 1) Confundir problemas científicos com julgamentos morais.
de atuação, assumindo novas posturas, ativas, quando da elabora- Quando se pergunta se os professores de cursos superiores são maus
ção de políticas públicas? professores ou se filhos de intelectuais são melhores que de operários,
essas duas indagações, tais como estão, não podem ser questões de pesqui-
sa científica. Afinal, como realizar a testagem de "maus" e "melhores"?
Exemplo 5
Esses dois valores não apresentam qualquer objetividade.
Tema de pesquisa: "A pessoa jurídica e os direitos da personalidade"
Nesse outro exemplo de problema de pesquisa, verifica-se a mesma fa-
(GOMES, 2004).
lha: "O contrato de seguro de responsabilidade civil pode ser considerado
Situação-problema:
um instrumento valioso no auxilio da política de preservação do meio ambien-
• A pessoa jurídica poderia figurar como titular de direitos da perso- te e, ainda, de controle?"
nalidade, que, como se sabe, têm, na pessoa natural, a matriz a Ao contrário, se se indaga sobre a "pontualidade" ou a "infreqüência"
partir da qual puderam ser pensados? dos professores, haveria possibilidade de testagem, por sua objetividade:
verificar-se-ia o livro de ponto ou o diáiio de classe e até mesmo o porteiro
Exemplo 6 da escola saberia responder. E, do mesmo modo, ao se perguntar se o con-
Tema da pesquisa: "A natureza tributária da prestação cobrada pelo uso trato de seguro é eficaz no auxilio da política de preservação do meio ambien-
de bens ambientais." (BOTELHO, 2004). te é diferente de se indagar se ele é valioso, termo sem qualquer objetivi-
Situação--problema: dade e sem possibilidade de teste científico.
• O conceito legal de poluição, configurativo de um ilícito, e o 2) Não susceptibilidade de solução das situações-problemas.
doutrinário de dano, fundamental no plano da responsabilidade Observe a seguinte indagação fonnulada por alunos de Graduação: "Sendo
civil, podem conviver com a afirmação de que as prestações os direitos humanos institucionalizados em nosso ordenamento jurídico e
pecuniárias exigidas em razão do princípio do poluidor/pagador socialmente aceitos e sendo uma condição inerente ao princípio da convi-
possuem natureza tributária? Ou: vência harmônica entre os indivíduos, qual a possibilidade real de sua
• A via tributária é adequada para alcançar os objetivos preserva- efetivação, numa sociedade de população numerosa e crescente como a
cionistas, inclusive no que tange ao meio ambiente urbano? brasileira?" Não há como solucionar esse problema de pesquisa em virtude
de sua imprecisão e impossibilidade objetiva de resolução.
Os exemplos 2, 4 e S trazem um problema de redação única, uma grande 3) Problemas cuja dimensão não é viável.
questão ou dúvida que apresenta linguagem completa e com significado. "O sistema penitenciário brasileiro está recuperando os sentenciados que
Isso não impede, no entanto, como feito nos exemplos 1, 3 e 6, apesar de nele permanecem?". Outro exemplo apresentado por Hemiques demonstra
não ser necessário, que esse problema seja seguido por perguntas ou inda- essa falha dos problemas de pesquisa: "O que determina que certas leis
gações pontuais, no máximo duas, que esclarecem pontos obscuros do pro-· brasileiras não peguem?" (HENRIQUES; MEDEIROS, 2003, p. 40). O
blema. Muitas vezes, no entanto, essas perguntas pontuais podem ser facil- primeiro exemplo possui dimensão inviável dada a extensão territorial do
mente transformadas em objetivos específicos ou serem incorporadas pelo país para se desenvolver uma pesquisa de campo dessa amplitude, ainda
problema geral. Tanto quanto possível, devem-se evitar fragmentações do que fôssemos trabalhar com um sistema de amostragem. O segundo, pelas
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ---------E~TRU~YRA DO PROJETO DE PESQUISA 65

múltiplas possibilidades e ângulos, pelos quais a referida questão pode ser são conceituados diversamente pela literatura corrente ou por teorias mais
analisada. atualizadas.
4) Problemas não conectados com a esfera empírica. Existem proposições que são axiomas genericamente aceitos. Mesmo
Analisemos o seguinte exemplo: "O que pensam os magistrados?" Além assim, cabe defini-las para não ocorrerem imprecisões de interpretação.
desse exemplo não estar conectado à esfera empírica para seu estudo obje-
tivo, o pensamento está relacionado com tão inumeráveis percepções que 6.3.2 Os objetivos da pesquisa ,\
tornaria impossível sua testagem.
i\
5) Problemas que se confundem com questões práticas e não científicas.
Os objetivos da pesquisa podem ser apresentados de forma dissertativa :1
"O que fazer para que os Prefeitos mineiros parem de desviar verbas da em um texto único que aborda o tema sem destacar suas partes. Essa,
saúde para outras políticas públicas?" entretanto, não é a melhor forma de apresentação, tanto para o pesquisa-
Essa questão, como formulada, não deve ter seu conteúdo considerado li
dor ou uma equipe de investigação, quanto para o comitê ou banca que irá
como um objeto passível de pesquisa científica, quer no campo da ciência julgar o projeto. Na maioria das vezes, quando o pesquisador está em fase
jmidica, ou mesmo da ciência política. O mesmo objeto poderia ser aborda- de iniciação à pesquisa, ele se perde nessa dissertação sem destacar os li
do de forma a se construir um diagnóstico da situação, ou outro tipo de objetivos de forma mais precisa. Sendo assim; a melhor forma é, talvez, a i
investigação, apontando as medidas jurídicas cabíveis e necessárias e ór- que se segue: 3 '1
gãos responsáveis pela sua implementação.
Após a fommlação da situação-·problema, quando necessário, devem ser
30BJETIVOS
apresentados os pressupostos conceituais do problema, que são os conceitos
3.1 Objetivo geral
ou proposições genericamente aceitos em determinado campo ou área do
conhecimento, pela doutrina, legislação ou em literatura especializada com-
plementar. Esses pressupostos, entretanto, nem sempre são igualmente con- 3.2 Objetivos específicos
ceituados entre doutrinadores ou teóricos de campos de conhecimento dife- a) ................................... .
renciados. Quando isso ocorre, toma-se indispensável que o problema seja b) ................................... .
seguido do conceito exato de cada elemento para que não paire dúvida sobre
e) ................................... .
a conceituação que se está usando, o que afinal leva ao marco teórico.
d) ................................... .
"- Quando se refere, no problema, a tem1os que são distintivos do mesmo,
esses devem ser conceituados para que se saiba exatamente sobre o que se
fala. As palavras "complexidade", "globalização", "pós-modernidade" ou Deve-se distinguir entre "objetivo geral" e "objetivos específicos". O pri-
-"modernidade", por exemplo, são definidas diferentemente segundo o autor e meiro refere-se ao produto da pesquisa que se deseja obter. Por ser ele
a teoria ou paradigma ao qual ele está filiado. Assim, as palavras-chave do bastante abrangente, deve-.se utilizar, em sua formulação, verbos no infinitivo
problema devem ser conceituadas, logo a seguir, segundo sua origem doutri- que permitam a apreensão dessa amplitude. Alguns verbos são mais ade-
nária ou segundo a definição exata que se quer atribuir a elas na pesquisa. quados para a apresentação do conteúdo de um objetivo geral, ou seja, o
Algumas já são proposições normativas que não devem ser mudadas, produto da investigação. Dentre eles pode-se pensar em: "compreender'',
pelo menos nessa fase de planejamento da pesquisa. Os termos "proprie- "propor", "demonstrar", entre outros. Tem-se, a seguir, o seguinte exemplo
dade", "posse", "divórcio", "testamento", entre outros, já são previamente aleatório: "Compreender as formas que permitam a harmonização
definidos na legislação, logo deverão ter essa definição preservada, mesmo legislativa no Direito Comunitário do Mercosul, tendo em vista a pressu-
quando se deseja, ao final da pesquisa, questionar essa definição legal. Al-
gumas vezes, entretanto, esses tem1os definidos normativamente também
Exemplo com numeração arbitrária.
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
66 (RE)PENSANDO A PESQUISA~URÍDI~----------
-------·-·---·--------- ----~-- ...

Objetivos Gerais
posição teórica de que as normas nacionais inc~r~oran:i ~~dos culturais
determinados, mais especialmente com relaçao a poss1~1hd~de d~ se ~n­ a) Compreender o conteúdo e a extensão do direito constitucional à
contrar proposições normativas que viabilizem a harmomzaçao leg1slat1va liberdade de imprensa e de informação jornalística a partir da formação
na área específica do Direito do Consumidor". discursiva da opinião pública e da vontade e da concepção de uma esfera
Pelo exemplo exposto, pode-se entender que o objetivo geral da pesquisa pública que não se reduz somente ao estatal, mas que engloba os vários
ou o produto pretendido supõe: participantes do processo deliberativo, no âmbito do Estado Democrático
1° compreender formas possíveis de harmonização (isso subentende que de Direito;
não se aceita a teoria da unicidade legislativa); b) Propor um modelo de controle que leve em conta a necessidade de
2º no campo específico do "Direito Comunitário"; se garantir um processo participativo de formação da opinião pública e da
3º no paradigma teórico do culturalismo; vontade.
4° a pesquisa não só será compreensiva como propositiva em relação à
Objetivos específicos
área dos direitos do consumidor.
Os objetivos específicos têm, ao contrário do objetivo g~ral, natur_eza a) identificar, a partir da teoria do discurso proposta por Habermas, a
operacional. Ou seja, eles se referem às operações qu~ deverao ser realiza- co-relação entre autonomia pública e privada, de forma a subsidiar a
das durante a pesquisa para que, ao final de seu cumpnmento, chegue-se ao formulação de parâmetros legítimos para o exercício da liberdade de
produto pretendido, atingindo o objetivo geral. Dessa forma, os verbos de- imprensa;
verão indicar ações precisas. b) distinguir os pressupostos teóricos da liberdade de imprensa e de liber-
dade de infomiação jornalística, a partir dos conceitos de esfera pública e
Exemplo 1 de esfera privada no Estado Democrático de Direito;
a) Selecionar os itens constitucionais e/ou legislações especiais com rela- c) levantar e analisar os instrumentos de auto-regulamentação dos prin-
ção ao Direito do Consumidor em cada país integrante do Mercosul. cipais jornais do Brasil;
b) Identificar no ordenamento jurídico, princípios gerais ou específicos d) discutir o atual sistema de controle do exercício da liberdade de im-
que permitam a fundamentação das legislações específicas le~antadas, con- prensa e da atividade jornalística brasileiro e os parâmetros vigentes para o
siderados os pressupostos da temia raciovitalista de RECASENS SICHES exercício do direito à liberdade de imprensa;
(1970). e) outros objetivos específicos que se fizerem necessários.
c) Outros objetivos específicos poderão ser definidos.
Esse exemplo ilustra o que estamos chamando de operacionalização do Exemplo 3
objetivo geral. A primeira ação só poderia ser essa "identificação" de dados Tema da pesquisa
nom1ativos. O segundo exemplo, além de propor a aç.ão, com~le~~nta o ob-
jetivo geral demonstrando qual das teorias cultu~ahstas sera utihzada. Da "Uma (re)construção da distinção público/privado para compreensão do
mesma f01ma, outros objetivos poderão ser acrescidos com o mesmo fim. fenômeno da Reforma Administrativa Brasileira."
Se(Juem mais dois outros exemplos de objetivos geral e específicos rela- Objetivo Geral
cionados a temas e problemas anterionnente indicados.
Propor nova visão paradigmática para o direito administrativo contem-
porâneo a partir de uma (re)construção da distinção entre o público e o
Exemplo 2 privado, para a compreensão das relações entre o Estado e a sociedade
Tema da pesquisa no âmbito do Programa de Publicização introduzido pela Reforma Admi-
"O exercício democrático do direito fundamental à liberdade de imprensa
nistrativa Gerencial.
e de informação jornalística." (MELO; ROCHA, 2004).
68 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
-·------....·-·-·..------..----..--------------------------

Objetivos específicos uma educação estruturada[ ... ] A formulação de urna boa hipótese cien-·
tífica é um ato realmente criativo. Por outro lado, a hipótese estatística
a) proceder a um estudo crítico da literatura jurídica especializada sobre não é senão um enunciado a respeito de um parâmetro desconhecido.
a distinção entre o público e o privado no pensamento jurídico para buscar (GLASS; STANLEY apudTHIOLLENT, 2002, p. 273).
(re)construir essa distinção com apoio da Teoria discursiva do direito e
A formulação de hipóteses permite a qualquer pesquisador, inclusive de
da denwcracia de Habermas (1996);
·iniciação científica, a organização do raciocínio argumentativo prévio e sua
b) identificar, no âmbito da Refonna Administrativa gerencial, os aspec-
l...,.relação com todos os tipos de comprovação e de testes concretos. Daí
tos relevantes que interferem na redefinição do papel do Estado (como porque o texto anterior refere-se à hipótese como um "tateio inteligente",
elemento central da esfera pública) e na distinção entre o público e o priva- expressão bastante adequada por ser a hipótese uma formulação preliminar
do para o sistema administrativo; em que o pesquisador deve saber identificar em seu próprio sistema de
c) descrever o fenômeno da reforma administrativa brasileira, historica- referências, de forma seletiva e criativa, a resposta prévia que será passível
mente considerada, para explicar na Reforma Administrativa gerencial o de testagem durante a investigação.
Programa de Publicização e a criação das Organizações Sociais; São características das hipóteses científicas aplicadas:
d) outros objetivos que se fizerem necessários. a) possuírem clareza conceituai;
b) estruturarem-se a partir de um marco teórico;
6.3.3A hipótese c) apresentarem linguagem parcimoniosa e específica;
d) referirem-se a conceitos e valores que podem ser verificados
A hipótese é a oferta de uma solução possível ao problema formulado em (referência empírica).
. relação ao objeto da pesquisa. É uma expressão discursiva suscetível de ser Assim, quando nos referimos à testagem da variável "religiosidade"
. declarada verdadeira ou falsa. Ao contrário do que generalizadamente se como elemento constitutivo de uma hipótese -, sabe-se que o indicador
pensa, a hipótese é uma resposta prévia e não uma pergunta ou indagação. deve ser claro e ter referência objetiva, por exemplo, a "freqüência a cul-
·--Outro engano é entender que a formulação de hipóteses e sua comprova- tos". As hipóteses não devem expressar-se por meio de termos por demais
ção/refutação não se aplicam às Ciências Sociais Aplicadas, especialmente genéricos ou se ligarem a objetivos pretensiosos, desgarrados das condi-
ao campo do Direito. Alguns argumentam que, às pesquisas dessa natureza, ções factíveis da investigação. A relação precária das hipóteses às teorias
só se aplicam diretrizes (ou instruções) relativas às formas de encarar o já suficientemente testadas ou racionalmente refletidas pode conduzir a er-
problema formulado e em relação aos modos de ação. Apesar da proposta ros inomináveis. Por exemplo, a incorreta correlação da situação de domi-
de substituição de hipóteses por diretrizes, também prévias, o raciocínio per- nação da mulher com o tamanho de seu cérebro.
manece hipotético, logo, há somente uma troca de termos, sem a mudança r· São fontes das quais se originam as hipóteses: a observação, os resulta-
dos processos essenciais de inferência. A utilização de hipóteses e de seu L~os de pesquisas, as teorias e as intuições. No primeiro caso, a observa-
processo de testagem não se aplica somente às pesquisas quantitativas. As ção, as hipóteses são formuladas a partir de experiências cotidianas em
pesquisas aplicadas, qualitativas e argumentativas não dispensam a postulação determinado campo de ação. Isso não significa, contudo, que essa fonte não
de respostas preliminares, fundamentadas em marcos teóricos rigorosamente será cruzada com determinado marco teórico que a validará como fonte
postulados. Sobre a adequação da utilização de hipóteses em pesquisas para a formulação da hipótese. Os resultados de pesquisas gozam de
desse tipo, veja a diferença que fazem Glass & Stanley (1974 apud maior grau de confiabilidade como fonte. Esses resultados devem estar, no
THIOLLENT, 2002) entre "hipótese científica" e "hipótese estatística" (de entanto, intimamente relacionados com o objeto, o marco teórico e o proble-
referência quantitativa pura): ma da pesquisa que se pretende desenvolver. As teorias, como fonte de
elaboração de hipóteses, at:iibuem a estas não só grande confiabilidade como
Uma hipótese científica é urna sugestão de solução a um problema e promovem a relação entre as mesmas e o conjunto teórico mais amplo das
constitui um tateio inteligente, baseado em urna ampla informação e em ciências. Uma teoria já comprovada como fonte de hipótese a ser testada,
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

não significa que os demais tipos de fontes de hipóteses não devam se Uma das incorreções mais freqüentes na elaboração das hipóteses de
referir à determinados marcos teóricos. A intuição, como fonte, é a menos pesquisa pelos estudantes é sua não correspondência com os problemas
confiável cientificamente. Apesar de referidas em várias obras de propostos para a investigação. Se o conceito de hipótese é justamente a
metodologia, neste livro as autoras entendem que "simples palpites" não resposta aos problemas formulados, ela deve guardar uma relação neces-
devam ser utilizados como fonte de hipóteses. Supõe-se que somente aos \ sária entre os problemas fmmulados e as afirmações que lhe são atribuídas
pesquisadores com grande experiência seja perrnitida a utilização dessa fonte. como soiução provisória.
Mesmo assim, pode ser uma temeridade e uma opção pouco científica, isso
Um outro problema verificado é a não explicitação da referência teórica
porque, mesmo a experiência relevante de um pesquisador não validaria a
utilização de simples intuição como fonte científica. A intuição é, muitas na hipótese. Para solucionar essa falha sugere-se que, para maior facilida-
vezes, confundida com sínteses, às quais o pesquisador chega após vários de, se elabore hipóteses com a seguinte estrutura: "Considerando o marco
investimentos teóricos e que, de forma aparentemente repentina, surgem teórico x, afirma-se que[ ... ]."
como "verdadeiras" descobertas. Ao longo de nossas vidas, a pa1tir de todo A ausência de clareza das variáveis e indicadores de pesquisa nas hipó-
patrimônio intelectual, social e cultural que acumulamos, as "descobertas" teses tem se apresentado como um problema bastante comum em projetos
ou "intuições" tornam-se quase que corriqueiras. Na maioria das vezes, são de pesquisa, tanto de graduandos quanto de pós-graduandos.
sínteses de investimentos anteriores. Não estamos, no entanto, afirmando
Observem-se dois dos exemplos apresentados anteriormente, relacio-
que as intuições não existam e que não sejam utilizadas como fontes de
hipóteses, mas, mesmo assim, acompanhada de outro tipo de fonte. nando os problemas de pesquisa formulados com as hipóteses correspon-
Em Lakatos & Marconi (2000), são ressaltados três tipos primordiais de dentes a esses problemas:
hipóteses:
Exemplo 1
a) casuísticas: muito freqüentes nas pesquisas históricas e que ocorrem
Situação-problema da pesquisa
em casos delimitados.
Exemplo: "Os estóicos, e não Kant ou Erasmo, formularam pela primei- • A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece
ra vez o axioma da 'humanidade no indivíduo'. Sendo assim, o conceito parâmetros para o exercício democrático do direito à liberdade de
de autonomia interativa deve se fundamentar em suas postulações teóri- imprensa, especificamente à liberdade de informação jornalística.
cas e práticas, por sua similitude conceitual e não apenas por este axioma Questiona-se se esses parâmetros seriam suficientes tendo em vista
ter sido campo primeiro de onde se originaram outras teorias." as diversidades de visões de mundo constitutivas de uma concepção
de esfera pública que não se reduz à estatal.
b) freqüência de acontecimentos: freqüência em detenninado grupo,
sociedade, cultura. Hipótese
Exemplo: "Considerando a questão da transexualidade a paitir das dire-
trizes impostas pela doutrina nacional e o resultado de pesquisas sobre as Considerando a concepção de democracia procedimental de Jürgen
condutas em tribunais, afirma-se que pareceres jmisdicionais de conteúdo Habermas (1996), que pressupõe a formação discursiva da opinião pública
conservador sobre o tema são mais freqüentes entre magistrados cuja con- e da vontade de uma comunidade de sujeitos que se reconhecem livres e
duta se pauta por paradigmas normativistas." iguais, afirma-se que, para o exercício democrático do direito à liberdade
j:)
de imprensa e especificamente de informação jornalística, é imprescindível ::\
c) relação de associação entre variáveis o estabelecimento de parâmetros racionalmente aceitáveis que garantam à :liili
Exemplo: "Considerando os diagnósticos da medicina legal e pesquisas observância do plincípio da dignidade humana e que decorram de um pro- .;;,;~i
estatísticas já divulgadas sobre fatores causadores de mmte, afirma-se que ·\
cesso argumentativo aberto cuja única coerção admitida seja a da força do
o índice de suicídios é maior entre solteiros que casados." Jj
melhor argumento. ;<li
(vaiiáveis: estado civil/suicídio) ~I

·~
72 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

Exemplo 2 Hipótese
Situação--problema da pesquisa Partindo da teoria do "Conceito Analógico de Pessoa aplicado à Perso-
• A compreensão histórica da Teoria geral do direito sobre a distinção nalidade Jurídica", elaborada por Edgar de Godói da Matta Machado ( 1954),
entre o direito público e o privado podem ser observadas na compreen- afirma-se não ser possível conceber a pessoa jurídica como ente titular de
são das relações entre o Estado e a sociedade atuais? direitos da personalidade e, por conseguinte, de figurar como vítima de dano
• Da (re)construção da distinção entre o público e o privado adviriam moral.
efeitos práticos na forma da compreensão do sistema administrativo
e, conseqüentemente, na atuação estatal? Exemplo 4
Hipótese
Hipóteses
Partindo do estudo da estrutura da norma e dos elementos da Responsa-
• Considerando que os espaços público e privado persistem como bilidade Civil, afirma-se que a ocorrência de poluição não é aspecto mate-
duas esferas diversas de atuação do cidadão, não mais concebi- rial da hipótese de incidência das normas que criam as prestações decor-
das como opostas, mas como um complexo de referências recí- rentes do uso de bens ambientais e que não é possível a ocorrência de
procas, segundo a contribuição dada pela Teoria discursiva do responsabilidade civil sem dano, daí ser possível afirmar a natureza tributá--
Direito e da Democracia, afirma-se que as teorias clássicas da ria destas prestações. (BOTELHO, 2004).
distinção público/privado utilizadas pela Teoria Geral do Direito,
baseadas em critérios diversos (interesse, utilidade, sujeito), não
6.3.4 Variáveis eindicadores
se prestam mais a descrever o fenômeno jurídico no âmbito de
sociedades complexas. 4
A esta altura de nossas argumentações, vale a pena entender o que é
• Uma (re)construção da distinção entre o público e o privado traz
. uma variável. Por sua maior clareza, apresenta-se a definição de Kõche:
como efeitos práticos, o problema da legitimidade da atuação daAd··
ministração Pública, na redefinição do papel do Estado e na criação
f nvariáveis são aqueles aspectos, propriedades, características individuais
11 ou fatores, mensuráveis ou potencialmente mensuráveis, através dos dife-
novas categorias de relações entre este e a sociedade civil, abando-
~ re. ntes valores que ass.umem, discerníveis em um ~?jeto de estudo, para
nando, por hora, seu status meramente instrumental (ou executivo)
~"!estar a relação anunciada em uma proposição" (KOCHE, 2002, p. 112).
das atividades estatais e o surgimento de novos elementos de pai1ici-
Entenda, pois, que, quando Koche (2002) fala sobre uma "relação anun-
pação e de controle por parte das demais esferas públicas através do
ciada em uma proposição", o autor refere-se a uma variável anunciada
fluxo do poder comunicativo.
pela hipótese proposta. Depreende-se, pois, que uma hipótese é sempre
uma relação entre variáveis. É a partir do entendimento ou decodificação
Exemplo 3
da natureza dessa relação que se pode definir o tipo de variável que se
Situação-problema da pesquisa ',tem. Nas Ciências Sociais Aplicadas são mais comuns as variáveis in-
A pessoa jurídica poderia figurar como titular de direitos da personali- i, dependentes, dependentes e intervenientes. As primeiras são aquelas
dade, que, como se sabe, têm, na pessoa natural, a matriz a partir da qual que determinam ou afetam outra variável. Ela é fator determinante de
puderam ser pensados? (GOMES, 2004). resultados, efeitos ou conseqüências. As variáveis dependentes, ao con-
trário, são fatores, valores ou fenômenos influenciados pela variável in-
dependente.
Na teoria habermasiana, entende-se sociedade complexa como aquela dotada
de mundos da vida estruturalmente diferenciados e de subsistemas funcio- Apresenta-se, a seguir, um exemplo razoavelmente fácil, para se enten-
nalmente independentes. (HABERMAS, 1987 e 1996). der a relação entre essas duas variáveis:
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 75
~---- ~~~~~~-~~~~~~~-~~-=-~~~~~-~=======

"A classe social da mulher influencia a freqüência de divórcios." Para o exemplo "classe social/divórcio/gênero" pode1iam ser listados os
(variável independente: "classe social"; variável dependente: "divórcio") seguintes indicadores:
- Variável independente (classe social):
A relação entre "classe social" e "divórcio" é, obviamente, de dependên- 1. renda/salário;
cia, conf01me a natureza do conteúdo da proposição. Aí não se poderia, 2. local de moradia/tipo de moradia;
jamais, pensar no fator divórcio determinando a classe social do indivíduo. A
3. escolaridade;
relação entre elas é, portanto, de condição de possibilidade da outra. É a
partir dessa relação que se pode entender a variável interveniente e sua 4. tipo de trabalho/função/área de mercado.
natureza. Ela tem como função afetar, de alguma forma, a relação entre as - Variável dependente (divórcio):
outras duas variáveis. 1. dados cartoriais;
No exemplo, acima, poder-se-ia fmmulá-lo como a seguir: 2. dados estatísticos.
- Variável interveniente (gênero):
"A classe social influencia a freqüência de divórcios se desconsiderado
o gênero". 1. dados pessoais e/ou estatísticos;
2. registros cartoriais.
Vê-se que a variável "gênero" interfere sobre a influência estabelecida
entre as variáveis independente e dependente, minimizando a relação cau-- Em um projeto de pesquisa, uma boa relação de indicadores relacionados
sal entre elas e que era óbvia no primeiro exemplo. aos núcleos temáticos das hipóteses ou variáveis, é um bom indício de faci-
Temos inúmeros outros tipos de variáveis, tais como: moderadoras e de lidade no desenvolvimento da pesquisa. Pois, a partir desses indicadores, a
controle, extrínsecas e componentes, antecedentes, dentre outras que relação de atividades a serem efetuadas durante a investigação torna-se
não serão objeto de estudo neste trabalho, por serem de pouco uso no cam- bem mais completa e objetiva e bem mais fácil a definição dos procedimen-
po da Ciência do Direito. 5 tos metodológicos.
·- Para a análise e interpretação das variáveis, deve-se arrolar um nú- Vejam as variáveis e indicadores apontados nos exemplos de pesquisa
mero de indicadores que permita a atribuição de objetividade às variá- anteriormente apresentados.
veis, que, muitas vezes, são valores que precisam ser concretamente
. definidos. A relação com a "realidade" investigada faz-se por meio dos
··indicadores e as facilidades de testagem da hipótese derivam, na maio-
Exemplo 1
ria das vezes, de um conjunto de indicadores concretos e adequados aos Hipótese
termos da hipótese. Considerando a concepção de democracia procedimental que pressupõe
Por exemplo, em uma hipótese que é formulada a partir da relação entre a formação discursiva da opinião pública e da vontade de uma comunidade
as vaiiáveis "depressão/suicídio" (a p1imeira, independente; a segunda, de- de sujeitos que se reconhecem livres e iguais, afirma-se que, para o exercí-
pendente), ambas podem ser testadas mediante os seguintes indicadores: cio democrático do direito à liberdade de imprensa e especificamente de
1. freqüência a terapeutas; infonnação jornalística, é imprescindível o estabelecimento de pai·âmetros
2. uso pennanente de antidepressivos; racionalmente aceitáveis que garantam a observância do princípio da digni-
dade humana e que decorram de um processo argumentativo aberto, cuja
3. personalidade introvertida nas relações sociais e de trabalho;
única coerção admitida seja a da força do melhor argumento.
4. número de tentativas de suicídio, dentre vários outros indicadores.
Variáveis
Para maior aprofundamento, indica-se a obra de Eva Maria Lakatos e Marina
de Andrade Marconi (2000), Metodologia cient(fica, em seu Capítulo 5. Variável independente: exercício democrático da liberdade de imprensa;
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 71

Variável dependente: responsabilidade social do jornalista. • Decisões estrangeiras em que a extensão dos direitos da personali-
Indicadores: códigos de ética de emissoras e jornais; punições disci- dade à pessoa jurídica é refutada;
plinares a jornalistas por abuso no exercício da profissão; existência de • Exposição de motivos do Código Civil Brasileiro de 2002 (BRASIL,
conteúdos sobre ética profissional nos planos de curso das Faculdades 2006), cujo art. 52 tangencia o problema.
brasileiras de Comunicação Social, públicas e privadas; número de ações
propostas na comarca de Belo Horizonte e São Paulo no ano de 2003; Exemplo 3
indenizações pagas em razão de abusos praticados por jornalistas; exis- Hipótese
tência de Ombudsman e os procedimentos previstos para sua atuação Partindo das teorias sobre a estrutura dâ norma e sobre os elementos
nos dois maiores jornais, segundo sua circulação nacional; número de re- da Responsabilidade Civil, afirma-se que a ocorrência de poluição não é
clamações dirigidas aos Ombudsmen e providências adotadas (referên- aspecto material da hipótese de incidência das normas que criam as pres-
cia: ano de 2003 ). tações decorrentes do uso de bens ambientais e que não é possível a
ocorrência de responsabilidade civil sem dano, daí ser possível constatar
Algumas variáveis podem estar implícitas no texto da hipótese e/ou no
não apenas a natureza tributária dessas prestações bem como ser a tribu-
marco teórico que a fundamenta, ou na natureza e conteúdo da situação-
tação o instrumento mais efetivo de proteção dos bens ambientais.
- problema. Este é o caso da variável dependente "responsabilidade social do
(BOTELHO, 2004).
jornalista". Em situações como esta, a busca pela indicação mais cotTeta e
adequada é fundamental, inclusive para esclarecer os rumos da testagem Variáveis
da hipótese e a natureza da própria hipótese. Variáveis Independentes
Estrutura da norma jurídica
Exemplo 2
Responsabilidade Civil
Hipótese
Variáveis dependentes
Partindo da teoria do "Conceito analógico de pessoa aplicado à persona- Natureza tributária das prestações
lidade jurídica", elaborada por Edgar de Godói da Matta Machado ( 1954),
Efetividade da proteção
afirma-se não ser possível conceber a pessoa jurídica como ente titular de
direitos da personalidade e, por conseguinte, de figurar como vítima de dano Indicadores:
moral.
• Processos em que a exigência legal de o tributo ter como aspecto
Variáveis material de sua incidência sempre um fato lícito.
Variável independente: "Titularidade de direitos da personalidade"; • Casos em que se exigiu a imprescindibilidade da ocorrência de dano
para que houvesse responsabilidade civil.
Variável dependente: "Capacidade de figurar como vítima de dano
moral". • Conceitos doutrinários de poluição e de dano e a obrigação pecuniária
pelo uso de bens ambientais.
Indicadores: No intuito de testar as variáveis acima identificadas, atTO-
lam-se os seguintes indicadores:
Exemplo 4
• Entendimentos doutrinários acerca dos direitos da personalidade, bem Hipótese
como da pessoa jurídica; O processo de redemocratização e de reformulação do Estado não foi
• Argumentos esboçados em acórdãos brasileiros em defesa da pos·· acompanhado pela correspondente mudança de paradigma na atuação
sibilidade de a pessoa jl!qdica figurar como vítima de dano moral; dos Legislativos estaduais, que continuam presos ou a práticas clientelistas
78 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 79
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ou ao que Weber considera "política negativa". A Assembléia Legislativa para a pesquisa. Dessa definição dependem várias das implicações e con-
do Estado de Minas Gerais representa uma exceção nesse contexto, na clusões a serem extraídas. Outras variáveis, também importantes, não po-
medida em que tem pautado sua atuação por padrões inovadores de dem ser esquecidas, especialmente quando se leva em conta o fato de que
interação com a sociedade, facilitados por uma ampla reorientação inter- a atuação do Poder Legislativo estadual está imersa em um contexto
na das atividades administrativas e técnicas de suporte ao processo marcadamente político, no sentido estrito do termo. Algumas vaiiáveis pos-
legislativo. (MINAS GERAIS, 2000). síveis podem ser anoiadas, de forma preliminai·:
Variáveis • atuação do Poder Executivo, em momentos distintos do processo
Principais legislativo iniciativa, emenda e veto;
Duas vmiáveis principais permitem a operacionalização da pesquisa, sendo • estrutura interna (burocracia) da Assembléia Legislativa do Estado
que cada uma delas pode ser abordada por meio de vários indicadores de de Minas Gerais (ALEMG): quanto a esse aspecto, deve-se ressal-
natureza diferenciada. tar a importância da adequação dos quadros técnicos para que se
A primeira variável diz respeito ao primeiro termo da hipótese e está tenha a reformulação das práticas tradicionais. Esse ponto certa-
relacionada ao próprio papel do Poder Legislativo, que, tanto na definição mente será bastante desenvolvido no estudo, especialmente no que
constitucional de competências quanto no seu conteúdo teórico, apresenta.. se refere à antiga discussão entre os papéis do técnico e do político
se de fonnas distintas em momentos históricos diferenciados. Alguns indi- no governo.
cadores podem facilitar o estudo dessa variável:
composição político-partidária da Casa Legislativa, nas diversas
• Contexto jmídico e institucional: limitações existentes nas Constitui- legislaturas e suas implicações na f01mulação de proposições;
ções Federal e Estadual, com respeito ao próprio sentido do Federa-
lismo no Brasil e à relação entre os Poderes, com especial ênfase Apresenta-se, a seguir, parte de uma proposta de plano de ação com
nas delimitações de competências e nas regras de iniciativa no pro- indicação de variáveis e indicadores para o estudo do fenômeno do pluralismo
cesso legislativo; jurídico desenvolvido pela frente "Vilas e Favelas" do Programa Pólos de
• Contexto teórico: a normajmídica como fundamento para a estabili- Cidadania (Faculdade de Direito da UFMG/CNPq):
zação social, em seus aspectos racional e ético, segundo perspecti-
vas distintas no período moderno e pós-.modemo.
PROPOSTADEPLANODEAÇÃO
A segunda variável está relacionada com a produção da "política positi- 2.ª FASE DO PROJETO DE PESQUISA-AÇÃO
va" e pode ser acompanhada por meio de indicadores de natureza predomi- "VILAS E FAVELAS"
nantemente empírica: NO AGLOMERADO SANTA LÚCIA

• produção legislativa "tradicional" (proposições aprovadas); Dando seguimento ao trabalho do Projeto "Vilas e Favelas e Or-
• produção legislativa "inovadora" (participação da sociedade, semi- ganização Popular" procuraremos, tendo em vista os indicativos do
nários legislativos, audiências públicas); plano de pesquisa-ação do Diagnóstico das Entidades do Aglome-
rado Santa Lúcia (CARVALHO NETTO; GUSTIN et ai., 1998),
• relação entre proposições ou emendas-oriundas do Legislativo e aprofundar algumas questões indicadas neste plano, procurando
as do Executivo, sancionadas ou vetadas. desenvolver:
1. Levantamento de percepções (individuais e grupais) sobre a
Variáveis intervenientes legitimidade/ilegitimidade das entidades comunitárias (levantamen-
Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que a própria definição do que to dos significados constituídos no imaginário comunitário em re-
sejam "políticas públicas" representa uma das mais importantes variáveis lação às entidades comunitárias);
80 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDIC__A_ _ _ _ _ _ _ __ ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 81

Variável independente: Estratégias metodológicas: além da possibilidade de utilização


- Legitimidade/ilegitimidade das entidades comunitárias. de conversas informais, a aplicação do roteiro de entrevista (l.º mo-
mento) pode já ter detectado o conteúdo dessas expectativas e o
Variáveis dependentes: papel a ser desenvolvido pelo Programa "Pólos".
- Organização e mobilização da população; Pretende-se, ainda, compor uma amostra intencional de morado-
- Dialogicidade e interatividade. res do Aglomerado para checagem da percepção entre aqueles que
Indicadores: papel das lideranças segundo a comunidade (amos- não freqüentam reuniões comunitárias.
tra), freqüência dos associados às reuniões, ações praticadas pela (parte do 2º momento).
entidade e a opinião da comunidade sobre essas ações, tipos de Questões propostas pelo projeto originário:
problemas que são levantados pela entidade e pelos associados, 1. O fato de que há poucas sedes ou instalações (duas num total
formas de tomada de decisão e a aceitação dessas decisões pelos de 37 ou 5,41 %) doadas pelo Poder Público deve ser considerado
participantes das reuniões, relação entre problemas apresentados como um indicador positivo, negativo ou irrelevante face à autono-
pela comunidade e ações praticadas pela entidade, entre outros. mia das entidades? Qual a influência de poderes sociais (religiosos,
Estratégias metodológicas: observação participante em reuniões políticos, do Poder Público) no funcionamento dessas entidades?
e eventos promovidos pela comunidade e/ou entidades, percepções Identificar o nível de influência das Igrejas no funcionamento das
(diário de campo) e conversas informais durante as visitas às enti- entidades. Até que ponto tais entidades abrem mão de sua "identi-
dade" a fim de usufruírem das boas instalações cedidas pelas Igrejas
dades da amostra e entrevistas.
ou outras instituições?
A descrição do imaginário da comunidade é um trabalho de ob-
2. Quais os entes que financiam as entidades e como eles influen-
servação contínua e deve-se estar atento às "falas" freqüentes e ciam na tomada de decisões dessas entidades?
espontâneas dos moradores.
3. As demandas quanto aos "interesses na área jurídica" apresen-
(parte do 1ºmomento do Plano). taram altos índices em relação à "Prisão ilegal e arbitrária", aos "Direi-
Devem-se verificar as condições de fácil ou difícil acesso das tos da criança e do adolescente" e aos "Direitos do trabalhador".
entidades, bem como a tipificação de suas condições físicas em ade- Essas demandas da comunidade se estruturam em tomo de questões
quadas e inadequadas, feitas a partir das percepções dos pesquisa- "concretas e imediatas"? As demandas poderiam refletir problemas de
dores de campo. Essa percepção é a mesma sustentada pelos mora- toda a comunidade, da entidade, do entrevistado ou a percepção do
dores do Aglomerado? entrevistado sobre a comunidade? Quais são os tipos de demandas
feitas pela comunidade? De que maneira essas demandas são dirigidas
2. Levantamento de expectativas da população em relação aos pa-
às entidades e aos órgãos públicos que desenvolvem "prestações
péis sociais a serem desenvolvidos pelas entidades comunitárias sociais" (desde Assistência Social, prestação de serviços, realização
indicadas na amostra e pelo Projeto Pólos Reprodutores de Cidadania. de obras, doações de bens materiais) no Aglomerado?
Variável independente: 4. Houve um expressivo interesse pelo tema "Prisão ilegal e arbi-
- Papéis sociais das entidades trária". Isso é fruto de alguma experiência violenta vi vida por morado-
res? [observar em campo]. É devido à atuação policial no Aglomera-
Variável dependente:
do? É devido à atuação da pastoral carcerária junto aos ex--presidiários
Expectativas da população que retomaram ao Aglomerado? Qual a reação da população diante
Indicadores: importância dos atores políticos dos movimentos desse fato? Como tem ocorrido a reinserção desses ex-presidiários
sociais nas mudanças das estruturas sociais e políticas do Aglome·- ou "detentos" no local?
rado Santa Lúcia, segundo atores privilegiados da comunidade (pa- 5. Nessa questão sobre as demandas para a área jurídica, alguns
pel desempenhado pelas lideranças e pelos participantes de reuniões temas não foram apontados como interesse. Por quê? Das hipóteses
comunitárias); formas e âmbito de participação do grupo social nos formuladas, quais correspondem à realidade local: a de que haveria
movimentos populares locais; adequação da metodologia do proje- uma sobreposição dos temas? Os interesses das entidades do Aglo-
to às expectativas das entidades comunitárias; papel atribuído à merado são gerais? Há um desconhecimento quanto ao conteúdo
parceria entre as entidades e o Programa Pólos de Cidadania. tratado por cada ramo do Direito? Houve falta de interesse em dar
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 83
82 (RE)PENSA~DO_A PESQUISA JURÍDICA
=======~~~~~·

respostas ao questionário? Ou trata-se da forma como o problema é 6.3.5 Revisão da literatura sobre oassunto
visto (local x global)?
6. Como é entendido o problema do "saneamento básico" pelos A "introdução" ao projeto ou ao problema, que foi abordada no item "tema-
moradores do Aglomerado? Esse problema é bem mais amplo abran .. problema da pesquisa", poderá abordar pontos significativos da literatura
gendo a saúde, o abandono do poder público, a miséria, e outras
que permitem melhor entendimento do objeto de pesquisa e de sua pro-
questões possíveis?
blematização. Entende-se, entretanto, que em um projeto a revisão da lite~ ·
7. Quais os meios adequados para abordagem dos temas jurídi-
ratura só tem uma razão objetiva: justificar a investigação proposta.
cos na comunidade?
3. Decodificação das formas e do âmbito de participação .do gru-
Como isso pode ser feito?
po social nos movimentos populares locais pa:a prom_o':'er a n:iplan- 1º) o pesquisador, a partir da apresentação dos núcleos teóricos
tação de programas de ação diversificada visando a mclusao dos primordiais da literatura selecionada (geralmente os teóricos mais impor-
moradores na comunidade. tantes daquele campo específico), demonstra a ausência de análise ou
Variável independente: de análise insuficiente em relação ao objeto de estudo;
- Participação social 2º) o pesquisador apresenta, por meio da abordagem da literatura selecio-
Variável dependente: nada, a existência de contradições insuperáveis entre os autores com
- Inclusão dos moradores relação ao problema posto e ao objeto da pesquisa;
Indicadores: Inter-relação entre seguimentos organizativos; ti- 3º) nos casos de não ser lacunosa a literatura sobre o assunto e de não
pos de reuniões que mais mobilizam a comunidade; formas de inclu- conter contradições insuperáveis, o pesquisador pode querer demonstrar
são social. a inadequação das conclusões dos autores às condições sociojurídicas
Estratégia metodológica: Aplicação de Roteiro de Entrevi~t~. (F~r­ objetivas;
mu lado segundo indicadores propostos); observação; partic1paçao
4º) o pesquisador, apesar da ausência de todas as argumentações negati-
ativa.
vas anteriores, deseja retestar as conclusões dos autores sobre o objeto
Algumas das questões propostas pelo projeto originário:
de estudo;
1. A demanda pela área de "Cidadania e direitos fundamentais~',
no contexto, não obteve resultado expressivo. Qual a compreensao
5°) existindo somente literatura estrangeira sobre o assunto, o investiga-
da palavra "cidadania" em amostra privilegiada de moradores do dor poderá pretender a adequação das conclusões às condições cultu-
aglomerado? rais de seu país, região, município, etc.
2. Verificou-se em campo o receio dos entrevistados de um possí-
vel efeito de conscientização das mulheres no aglomerado. Isso po·· Essas são algumas das formas que podem ser utilizadas para, por meio
deria indicar a existência de uma normatividade fundada na diferença da revisão de literatura especializada, justificar a oportunidade do estudo.
de gênero. Somente esses elementos validam a inclusão de revisão de literatura em
item especial. Na área do Direito, dependendo do objeto problematizado,
Percebe-se, pelo Plano de Ação apresentado, que variáveis e indica~ores poder-se-á, também ou exclusivamente, realizar uma revisão das legisla-
são indispensáveis para uma fase mais concreta da pesquisa, dep01s .de ções pertinentes e de princípios jurídicos gerais ou específicos com o mes-
formulado e revisto o Projeto. Até mesmo uma boa definição das estratégias mo objetivo: a justificação do estudo proposto.
metodolóaicas deve ser precedida por variáveis e indicadores adequada-
mente fo;;nulados. Alguns autores, talvez com pouca experiência de pes- 6.3.6 Ametodologia
quisa, não atribuem a necessária importância a ess_es elementos e, quando
da execução da pesquisa, eles, inevitavelmente, farao falta para o adequado Neste livro entende-se a metodologia não só como um conjunto de técnicas
desenvolvimento da investigação. e procedimentos utilizados para a construção de um trabalho científico. A
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 85
84

Friedrich Müller (2000, p. 72), 6 cria-se um povo-ícone que se aproxima de


fconcepção metodológica que aqui se esboça incorpora também a dimensão
certa forma à idéia de nação concebida pelos revolucionáiios franceses. A
/l teórica dada à investigação e outros elementos que não costumam integrar os
mitifi~~ção ?ºpovo ou da nação significa elevá-lo a um nível quase que
1) conceitos usuais de metodologia comumente apresentados na literatura sobre
metaf1si~o, ideal e transcendente. Seria uma concepção "pseudo-sacral",
!Lo assunto. Por esse motivo, as seções que se seguem incluem elementos não qu~ levana a conseqüências extremadas, justamente por ignorar o povo real
apenas f 01mais e mecanicistas, mas temas como a apresentação do marco existente. No momento em que esse povo real bo-erasse obstáculos ao exer-
,..
teórico, dentre outros que não se restringem a procedimentos e técnicas. c1c~o do poder estatal, "criar-se-ia" o povo homogêneo, o povo-ícone, que
sena na verdade uma abstração a ser resguardada e tutelada.
6.J. 6. / Omarco teórico Esse conceito ~~ssimista da democracia enquanto regime impraticável,
acertadamente cn~1cado por Müller (2000) em seu estudo sobre o povo, é
que se procura evitar. Para tanto, propõe-se como marco teórico a teoria
Inicia-se a seção "metodologia" com a exposição do marco teórico que
discursiva do direito, de Jürgen Habemias (1997),justamente por apresen-
fundamentará a investigação e todos seus elementos. Como esse tópico já foi
tar uma proposta de democracia que procura trabalhar de forma concreta o
analisado, dispensa-se nova abordagem sobre o assunto. Deve-se realçar,
pluralismo social e apresentar caminhos para as decisões coletivas demo-
contudo, que, apesar de ser esse o item adequado para uma apresentação
craticamente construídas. '
aprofundada do marco teórico, não se dispensa referências a ele nas seções
. Ha~ermas \ 1997) constrói seu conceito de democracia, a partir da parti-
anteriores. Como introduzir o projeto, apresentar o problema ou a hipótese
c1paçao dos cidadãos no processo de formação da vontade e da opinião.
sem referência ao marco teórico? Deve-se entender que o marco teóriêo tem
Un: proc~sso ,.de.formação que convoca a sociedade complexa e plural à
de permear todos os elementos do "corpo" do projeto, pois é fundamento
dehber~ç.ao publica, de modo a produzir decisões aceitáveis (racionais) pe-
indispensável não só para o planejamento como, primordialmente, para o de-
los part1c1pantes do processo deliberativo democrático. O público, enquanto
senvolvimento da investigação. Se o marco teórico é mudado durante a pes-
espaço de formação da vontade coletiva, tem estreita relação com o priva-
quisa, caem por terra todos os demais elementos (problema, objetivos, hipóte-
do, ur_na vez que a ~ondição de participante pressupõe o respeito à pessoa,
se, etc.). Sendo assim, a pesquisa será outra e tudo começará da estaca zero. a partir do reconhecimento efetivo dos direitos fundamentais dos indivíduos.
Observe a estruturação do marco teórico feito em alguns dos exemplos Como a linguagem é possível, a partir da capacidade de se transcender
anteriom1ente trabalhados. c?ntext~s,. ~om base em um pano de fundo de compreensão, que em silên-
cio possibilita a comunicação, assim o é a democracia e a tomada de deci-
Exemplo 1 sões raci~nais, sendo, pois,"[ ... ] possível ampliar as condições concretas de
Tema da pesquisa reconhec1m~nto atravé.s do agir comunicativo, ou seja, através da prática de
"O exercício democrático do direito fundamental à liberdade de imprensa argumentaçao, que exige de todo o participante a assunção das perspecti-
e de informação jornalística." (MELO; ROCHA, 2004 ). vas de todos os demais." (HABERMAS, 1997).

Marco teórico Exemplo 2


Pode-se argumentar que o pluralismo e a complexidade das sociedades Tema da pesquisa
modernas são os grandes inimigos da realização de um conceito "ideal" de "O Poder Legislativo estadual e a elaboração de políticas públicas: em
democracia, entendida como uma participação direta de todos os cidadãos busca de um novo padrão de atuação." (MINAS GERAIS, 2000).
de determinada comunidade política. Daí teorias que apelam para uma de-
mocracia possível, que na verdade procuram fundamentar todos os tipos de 6
Em termos bem genéricos, a iconização reside por igual também [nicht zuletzt]
distorções no processo de tomadas de decisões coletivas. Assim, muitas n? e_mpenho ~e unificar um 'povo' a população diferenciada, quando não
destas decisões são tomadas em nome de um povo construído, por assim cmd1da pela d1ferença segundo o gênero, as classes ou camadas sociais, fre-
dizer, devido justamente à impossibilidade de torná-lo real. Nos dizeres de qüentemente também segundo a etnia e a língua, a cultura e a religião.
86 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 87
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Marco teórico definição operacional para o termo "políticas públicas". Esse tema deverá
O estudo do papel do Parlamento, no atual processo de transformação ser explorado ao longo da própria pesquisa, mas, de início, vale apresentar,
das estruturas tradicionais do Estado, oferece várias possibilidades distintas como exemplo do grau de dificuldade apresentado pela questão, a definição
de abordagem, daí decorrendo a necessidade de se delimitar de forma mais de Thomas Dye: "Política pública é qualquer coisa que os governos esco·-
precisa a questão, dados os limites objetivos da pesquisa proposta. lham fazer ou não fazer. " 8
A primeira questão subjacente ao tema é a da construção de uma "políti- No mesmo sentido, considerando que qualquer resposta governamental a
ca positiva", nos termos adotados por Max Weber ( 1980). Para esse autor, demandas sociais pode ser incluída no rol das chamadas políticas públicas,
o Parlamento, quando restringe sua atuação ao mero encaminhamento de podem ser encontradas definições semelhantes nas obras de Lindblom, Bauer
reclamações e queixas dos cidadãos, quando somente rejeita dotações or- e Dror, como aponta e critica Theodore Lowy (LOWY, 1970, p. 317). Ora,
çamentárias e proposições oriundas de outro poder, exerce o que se consi- se tudo pode ser considerado "política pública", o conceito se esvazia e se
dera "política negativa". toma indefinido, perdendo qualquer validade operacional possível.
À "política negativa" contrapõe-se, é lógico, a uma outra modalidade que Percebe-se, portanto, que o exame da atuação do Poder Legislativo pas-
somente pode ser denominada "política positiva". E essa, por sua vez, tem sa, também, pela própria delimitação - tanto em termos teóricos quanto
como elemento importante, nos dias atuais, a materialização da atuação do empíricos - do que sejam políticas públicas. Essa definição, como já foi
Parlamento nas atividades de formulação, acompanhamento e avaliação de ressaltado, contém aspectos teóricos e práticos: deve ser operacional, no
políticas públicas. sentido de que possibilite a construção de indicadores para o exame da
O passo inicial para o estudo do papel do Parlamento consiste no atuação do Poder Legislativo.
questionamento da própria função "natural" do Legislativo. JamesAnderson Finalmente, como marco teórico dessa pesquisa, é possível buscar, nos
(1975), ao comentar o papel do Parlan1ento nos tempos modernos, critica a estudos de Jürgen Habermas, importantes elementos a partir de uma abor-
"resposta fácil'', que afirma ser papel do Legislativo legislar, contrapondo a dagem sociológica, para a compreensão das funções da lei e do Parlamento
essa resposta o argumento de que muitas legislaturas estaduais (nos Esta- no Estado moderno. Segundo esse autor, a modernidade assiste a substitui-
dos Unidos) são até mesmo incapazes de agir independentemente em face ção da razão prática pela razão comunicativa, que "não é fonte de normas
de casos complexos e de alto grau de dificuldade técnica. 7 do agir" e que, ao possibilitar uma "orientação nas bases de validade,
Considerando-se que uma das formas de ação positiva do Parlamento no entanto, ela mesma não fornece nenhum tipo de indicação concreta
consiste na sua intervenção ativa no processo de fonnulação de políticas para o desempenho das tarefas práticas" (HABERMAS, 1997, p. 20-
públicas, outra ordem de questões logo se apresenta, constituindo uma das 21 ). À obra de Habermas, pode ser agregada uma nova e moderna vertente
vertentes teóricas intervenientes na pesquisa. Trata-se de se construir a no estudo das políticas públicas, ve1tente esta que procura nos pressupostos
da "razão argumentativa", como contraponto à vertente "pós-positivista", o
fundamento para o exame da ação estatal.
A resposta fácil à questão 'o que os legisladores fazem?' é dizer que eles
legislam, isto é, que eles se preocuparam com as tarefas políticas centrais ~e
legislação e formação política no sistema político. Não se pode presumir,
entretanto, que uma legislatura, meramente por suportar uma designação formal, assumed, howeve1~ that a legislature, merely because it bears that formal
realmente tem funções decisórias independentes. Essa é uma questão a ser designation, really has independent decision-making funtions. This is a
determinada por investigações empíricas e não por definição [ ... ] Muitas matter to be determinated by empírica! investigation rather than by definition
legislaturas estaduais, por causa de suas sessões limitadas, membros um tanto [. .. ] Many state legislatures, beca use of their limited sessions, rather 'amateur'
quanto amadores e um equipe de assistência inadequada, são, normalmente, membership, and inadequate staff assistance, are often unable to act
incapazes de agir independentemente em questões técnico-legislativas independently on complex, technical legislative matters.) (ANDERSON,
complexas. ("The easy response to the question 'what do legislatures do?' is 1975, p. 38).
to say that they legislate, that is, that they concerned with the central política! "Public Policy is whatever governments choose to do or not to do." (DYE,
tasks of lawmaking and policy formation in a political system. lt cannot be 1972, p. 1).
88 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
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Em síntese, o acompanhamento da atuação do Poder Legislativo, nos quais deverá se inserir o objeto de estudo. Como dito anteriormente, raras 1
moldes propostos nesse projeto, insere-se em um contexto teórico que pro- investigações serão unidisciplinares ou monodisciplinares (ou seja, per-
cura incorporar novos argumentos e conceitos que, possivelmente, poderão tencentes a um único setor do conhecimento), dada à inadequação desse
vir a se constituir no mais novo paradigma no estudo do Direito moderno. tipo de pesquisa às novas metodologias e à complexidade dos tempos atuais.
1
Se uma pesquisa irá combinar apenas conhecimentos do ramo da ciência
Exemplo 3 jurídica, como por exemplo, direito processual civil, direito administrativo
Tema da pesquisa e direito constitucional, ainda assim será considerada uma pesquisa que
não deve ser tida como unidisciplinar. Isso porque pertence a um mesmo
"A pessoa jurídica e os direitos da personalidade" (GOMES, 2004).
campo de conhecimento, porém relaciona conteúdos de disciplinas
Marco teórico diversificadas.
A presente pesquisa estrutura-se a partir da teoria do "Conceito Analógico Será importante, por isso, indicar se a pesquisa será multi (ou pluri), inter
de Pessoa Aplicado à Personalidade Jurídica", de Edgar de Godói da Matta ou transdisciplinar.
Machado ( 1954). Segundo o entendimento do autor mineiro, a pessoa natu- As primeiras realizam articulações teórico-doutrinárias, tópicas e frag-
ral não consiste em mera criação do direito positivo. Ao revés, encontra-se mentadas. As disciplinas (conexas ou não) ou os setores diferentes de
dotada de valor imanente, em razão da relação analógica estabelecida com determinado campo de conhecimento nesse tipo - pluridisciplinar -
o Analogado Supremo, na visão de Matta Machado ( 1954), Deus, tendo permanecem separadas e com identidades próprias (conteúdos e paradigmas
feito o homem à Sua imagem e semelhança. Engendrada no plano ontológico, diversos). Exemplificando, poder-se-ia, numa pesquisa sobre o assunto "Re-J
essa analogia toma imperativo que o ordenamento reconheça a personali- forma Administrativa do Estado", combinar elementos da Ciência da Admi-
dade jurídica da pessoa natural, excluindo a matéria do âmbito da nistração, da Ciência Política e do Direito Administrativo, sem que se apre-
discricionariedade do legislador. sente uma combinação mais integrada dessas disciplinas, pois cada uma irá
Distinta é a situação das pessoas jurídicas. Trata-se de seres que, dife- contribuir para a pesquisa com os seus conteúdos próprios. O pesquisador
rentemente do homem, não constituem mais do que meras criações do direito apenas buscaria elementos nesses campos para construir argumentos para
destinadas a satisfazer objetivos perseguidos pelas pessoas naturais. Guar- os problemas de pesquisa tratados. Aqui, não é o objeto da pesquisa que
dam, assim, natureza eminentemente instrumental. exige essa conexão.
Também o conceito de pessoa jurídica é análogo, mas em relação ao de Já as pesquisas interdisciplinares realizam uma coordenação de con-1-
pessoa natural. Não se pode perder de vista que a analogia que entre elas teúdos pertencentes a disciplinas diferenciadas (no próprio campo do Direito .
se estabelece é radicalmente distinta daquela verificada entre esta e o ou em campos conexos). Assim, partes das disciplinas permanecem coorde-_,.
Analogado Supremo, Deus. Aqui, a relação analógica é construída com nadas programaticamente, há uma união real de conteúdo, uma articulação
fulcro em semelhanças apreendidas no plano da "operatividade", isto é, no que permite desvendar o objeto da pesquisa em todas as suas características
que diz respeito à possibilidade de figurar como titular de direitos e obriga- plurais. Quando se trata, por exemplo, "da psicanálise no direito de famfüa" se
ções. Portanto, a personalidade da pessoa jurídica constitui matéria atinente estará realizando uma interação desses conteúdos e não apenas uma "articu-
ao direito positivo e a respeito da qual não entram em pauta considerações lação" argumentativa; da mesma forma como Habermas ( 1987) realiza estu-
de ordem ontológica das essências. dos interdisciplinares que combinam a sociologia jurídica, a ciência política, o
direito constitucional e a lingüística, entre outras, nos seus estudos sobre
ó.l ó.2 Setores de conhecimento "Facticidade e Validade". Importa compreender que na interdisciplinaridade
é o próprio objeto do estudo que exige a coordenação com outras disciplinas
( Logo após a apresentação do marco teórico, aprofundando seu conheci- ou partes de seus conteúdos teóricos. Como no primeiro exemplo, depen-
Lmenta, o pesquisador deverá indicar o setor ou setores do conhecimento nos dendo do objeto da pesquisa sobre Direito de Farm1ia, a esfera da Psicanálise
90 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 91

ou de suas teorias é imediatamente solicitada. Outras vezes, ao contrário, o motivos, a investigação será do tipo interdisciplinar, por sua própria natu-
objeto da pesquisa exigirá outras teorias que não as psicanalíticas. reza e complexidade.
Nas pesquisas cujo setor de conhecimento é transdisciplinar, há produ-
ção própria de novos conhecimentos que se dá de forma inter-relacionada, Exemplo 2
numa unidade de saber, como ocorre nos campos da Sociologia Jurídica, da Tema de pesquisa: "A pessoa jurídica e os direitos da personalidade."
Psicologia Forense, da Criminoiogia, da Medicina Legal, do Bioàireito, entre (GOMES, 2004).
tantos outros. Esse tipo de pesquisa não apresenta qualquer fragmentação
entre disciplinas ou setores de conhecimento, porque ao final da investiga- Setores do conhecimento
ção produzir-se-á uma teoria única. A pesquisa insere-se em perspectiva interdisciplinar, pois procura coor-
Não há como estabelecer, aprioristicamente, se determinado tema será denar conteúdos concernentes ao campo da Filosofia do Direito e ao do
mono, pluri, inter ou transdisciplinar, pois isso dependerá do marco teórico Direito Civil, no intuito de analisar o objeto de estudo em todas as suas
adotado, do problema da pesquisa, das hipóteses, bem como das metodologias características plurais.
a serem utilizadas e, mais especialmente, do objeto de pesquisa. O tema "pessoa jurídica" constitui elemento comum tanto à área deli-
O pesquisador deverá esclarecer quais as disciplinas, setores, áreas ou mitada pela Teoria Geral do Direito, quanto àquela da Teoria Geral do
institutos jurídicos e, ai11da, os campos conexos que estarão envolvidos na Direito Privado, cujos enfoques, embora diversos, devem ser igualmente
pesquisa, justificando a inclusão de cada um. Essas disciplinas ou setores considerados e também coordenados, a fim de que o objeto seja analisado
podem se relacionar tanto com a esfera dogmática quanto zetética do Direi- da forma mais completa possível. Enquanto esta se ocupa, sobretudo, do
to. O livro de Tércio Sampaio Ferraz Júnior (2001 ), Introdução ao estudo direito positivo, aquela o encara a partir de seus fundamentos teóricos.
do direito: técnica, decisão, dominação, apresenta uma relação de discipli- Trata-se de panoramas complementares que dão o tom interdisciplinar à
nas e setores dogmáticos e zetéticos razoavelmente completa. pesquisa.
Observe os exemplos dados a seguir:
ó.J.ó.J Processos de estudo
Exemplo 1
"O ex~rcício democrático do direito fundamental à liberdade de imprensa Esses processos de estudo foram suficientemente analisados quando se
e de info1mação jornalística." (MELO; ROCHA, 2004). abordou os tipos genéricos de investigação no campo do Direito9 e os pro-
cessos mentais ou raciocínios utilizados na discursividade argumentativa para
Setores do conhecimento a explicação e interpretação do objeto da investigação. Por essa razão, aqui
Considerando a amplitude e complexidade do tema, percebe-se que o não se deterá em novas explicações sobre esse assunto. Neste item, é de
mesmo poderia ser tratado sob vários enfoques, como por exemplo, no grande valor determinar qual o tipo da pesquisa e quais os processos men-
campo sociológico (os impactos dos abusos do exercício do direito à liber- tais ou raciocínios que serão utilizados em conformidade com o objeto da
dade de imprensa na sociedade); econômicos (existência de oligopólio investigação, seu marco teórico e as preferências do pesquisador ou de sua
dos meios de comunicação); político (manipulação de informações em equipe. Não se podem confundir processos de pesquisa, uma esfera mais
prol de objetivos políticos), administrativos (reflexos na gestão empresarial cognitiva, com procedimentos, área eminentemente técnica e que será
dos meios de comunicação). Nesse sentido, resta claro que o tema envol- detalhada posteriormente.
ve diversas questões relevantes e atuais, sendo de suma importância a
sua análise profunda nos diversos campos do saber, inclusive por se tratar
de um dos instrumentos de realização do regime democrático. Por esses Investigações histórico-jurídicas, jurídico-exploratórias, jurídico-comparativas,
jurídico-descritivas, jurídico-projetivas e jurídico-propositivas.

1
L
'~'-
92 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 93

ó.J.ó.4 Natureza dos dados desenvolvimento investigativo-científico. Ao final, quase sempre se repe-
te o que já foi dito por outros teóricos, sem qualquer inovação ou produção
de conhecimento "novo". É bem verdade que inúmeras vezes o pesquisa~-[,
Os dados incorporados à pesquisa e operacionalizados pelo investigador
dor poderá extrair dados primários de fontes secundárias, isso depende do 1:,
são de dupla natureza: primária ou secundária.
tipo de tratamento que ele dará à informação. Pode-se retirar, por exem:_)
(f Os dados primários são aqueles levantados e trabalhados diretamente
plo, dados de um livro que não se submeterá à mesma interpretação dada
i !i pelo pesquisador, sem qualquer intermediação de outros indivíduos. São dados pelo autor, pois os objetos de utilização do dado são diferentes. Sendo
i l,~'ou fontes primárias aqueles extraídos de entrevistas, de documentos oficiais
assim, este dado será primário e não secundário, apenas a fonte era
ou não oficiais, legislação, jurisprudência, dados estatísticos, informações
secundária.
de arquivos de todo tipo, dentre outros. As fontes primárias atribuem à pes-
quisa uma condição de autonomia e de novidade, isso porque o(s)
pesquisador(es) levantam uma relação de dados ou de percepções por eles ó.J.ó.S Grau de genera/Jza{ão dos resultados
selecionados e imediatamente analisados segundo o marco teórico definido
e os processos de estudo indicados. A delimitação da pesquisa é o estabelecimento de limites para a inves-
Entende-se que os cientistas do direito precisam investir na coleta de tigação. Esta pode ser delimitada quanto ao assunto (seleciona-se um
dados primários, sobretudo para tomarem suas pesquisas mais adequadas determinado tema ou parte de conteúdo já previamente limitado); à ex-
ao contexto social em que vivem e para a compreensão da aplicação dos tensão (limita-se o âmbito da investigação) ou ao número de fatores
direitos pelas comunidades. Exemplificando essa afirmação, podemos di- (delimitação quanto aos meios humanos, econômicos, de tempo, etc.). O
zer que ao invés de estudar simplesmente o tema "Tombamento e o dever objeto, por sua vez, quando bem definido, já limita a investigação quanto a
de indenizar", por que não estudar a questão do tombamento em Belo todos esses elementos.
H01izonte ou em outro Município, como Ouro Preto? Seus procedimentos, Diz-se que o objeto da pesquisa pode constituir-se a partir de toda sua'"~:!
características, as medidas administrativas da Comissão Municipal com- abrangência (de todos os elementos aos quais a pesquisa se refer.e) ou de Ji:
petente para a realização dos tombamentos e, ainda, como tem sido as todo seu universo de abrangência. Os resultados, nesse sentido, seriam
decisões dos juízes rnineiros e do Tribunal de Justiça do Estado sobre o generalizáveis a toda a "população" referida pelo objeto da pesquisa. Esse,,.-_,,_.·.
dever do Município de indenizar os proprietários dos imóveis tombados. universo poderia ser: o conjunto total de normas de determinado instituto
Essas inferências locais podem ser feitas em quaisquer ternas que forem jurídico; o conjunto de membros atuantes em determinado órgão judicial,
abordados pela ciência jurídica, necessitando, nesses casos, da realização etc. Diz-se, aí, que a pesquisa não foi feita por amostragem, ou seja, abran-
de entrevistas, aplicação de questionários e demais técnicas de coleta de gendo parte desse universo. A amostragem é feita pela necessidade de
dados primários. limitação do campo de abrangência da pesquisa, tendo em vista a grande
f Os dados secundári~s ~ã~ também relevant.es p~~ a in_vesti~ação, ap~­ extensão da "população" em foco, e pode ser entendida como"[ ... ] uma
\ sar de serem, no campo JUnd1co, aqueles de maior ut1hzaçao. Sao secunda- porção ou parcela, convenientemente selecionada do universo (população):
'.\ rios por derivarem de estudos e análises já realizados por intermediários é um subconjunto do universo." (LAKATOS; MARCONI, 2000, p. 41).
: entre o pesquisador e o objeto de investigação. São fontes sécundárias:
1
Quanto a essa delimitação, pode-se entender, erroneamente, que uma pes-
-conteúdos de compêndios didáticos, livros de toda espécie, artigos de revis- quisa teórica ao selecionar determinado instituto jurídico - o da "família",
tas ou jornais, doutrina, legislações interpretadas, etc. Dependendo do obje- por exemplo - trabalharia sempre com todo o universo. Isto, contudo, não é
to da investigação, do problema e da hipótese da pesquisa, essas fontes verdade; dependendo do objeto de questionamento dogmático que se faz, o
adquirem maior ou menor relevo. É verdade, no entanto, que pesquisas pesquisador poderá fazer um recorte no instituto para trabalhar teoricamen-
fundadas somente em dados secundários são formas "empobrecidas" de te com apenas uma parte dele. Houve, portanto, uma seleção de amostra de
94 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 95
·~~~~--~~~~~.

estudo em uma pesquisa de tipo teórico e com opção de se restringir à dade quantitativa. O tipo mais comum é o intencional puro. Ele é esco-
esfera dogmática, uma amostra intencional, p01tanto. lhido segundo detemrinados elementos de interesse da equipe pesquisado-
Essas amostragens, por conseguinte, nas pesquisas qualitativas, podem ra. Por exemplo, deseja-se saber o conceito de cidadania das lideranças de
ser classificadas segundo uma grande ou genérica divisão: amostras aleató- determinado baiITo, vila ou favela. Dessa forma, os pesquisadores selecio-
rias (probabilísticas) ou amostragem intencional (não-probabilísticas). nam intencionalmente uma parcela da população a ser investigada, segundo
"e ~"te..e""a
cPn 1ntp1·ecce Q11tro 1nvestL1·5n-ar1 0.11.. () i:'.)~ ....p 0..1 VA.\...-1111'
º,,.,,..,.... ... lo ' em sauer
J-. Soure
J-.
li A amostragem aleatória, ou ao acaso, pennite a delimitação estatística u--. Ã.l.Jl\,.'V'Ã ULJ • v.w. J. \..J. .llll. .1 '

\•, da parcela selecionada do universo. Este tipo evita incorreções quanto à a adequação do Plano Diretor de uma cidade à legislação que lhe precedeu
i' representatividade e significância da amostra em relação aos objetivos de- ou à cultura jurídica local. Para isso, ele poderá apenas selecionar uma
[; finidos para a pesquisa. Há, pelo menos, nove tipos de amostras parte das normas anteriores sobre o assunto questionado e não todas as
L probabilísticas: "aleatória simples", "sistemática'', "de múltiplo estágio", "por legislações locais, em todos os tempos. Vê-se que esta seria uma tarefa
exaustiva e inglória.
área", por "conglomerados ou grupos", "de vários graus", "em várias eta-
pas", "estratificadas" e "amostra-tipo ou padrão". Na Faculdade de Direito da UFMG, o Programa "Pólos de Cidadania" já
O primeiro tipo, a aleatória simples, tem sido utilizado com maior fre- constituiu uma amostragem intencional por "quotas" que foi adaptada à
metodologia utilizada.
qüência no campo das pesquisas aplicadas, por sua simplicidade e segurança.
Em um arquivo de indivíduos atendidos em uma Delegacia de Mulheres, Apresenta-se a seguir como foi constituída essa amostragem na Região
seleciona-se a amostra: por exemplo, retirando-se cada décima ficha. As- Nordeste de Belo Horizonte:
sim, em um número total de cem mulheres atendidas no mês, teríamos uma
amostra de dez. Selecionam-se, da mesma forma, casas de uma rua; ado- PROGRAMA
lescentes internos em casas de correção, etc. "PÓLOS DE CIDADANIA"
A estratificada tem como diferença o fato de que os indivíduos são AMOSTRA DA FASE II DA PESQUISA DE CAMPO
ordenados por estratos, segundo detenninados atributos: renda, idade, sexo,
(GUSTIN et al., 1996)
etc. Cada estrato deverá ter todos os atributos designados pela pesquisa. A
Fenômeno aleatório a ser pesquisado: Racionalidade normativa
amostra mais simples é aquela que conterá somente dois estratos: por exem- não-estatal, segundo o eixo teórico-doutrinário de Boaventura de
plo, "sexo masculino" e "sexo feminino". A incorporação de outras variá- Sousa Santos.
veis dará maior complexidade a essa amostragem. Se acrescentássemos A composição intencional e qualitativa da amostra a ser trabalha-
"idade" (até 18 anos, por exemplo), teríamos uma amostra de três estratos da na segunda fase da pesquisa, segundo indicadores das "Diretri-
e daí por diante. Os demais tipos são variações desses, com menor ou maior zes para configuração da amostra e cruzamentos", elaborada pelos
orientadores do projeto, foi feita a partir dos dados do Questionário
complexidade. 10 Esse tipo de amostragem é mais corrente em pesquisas
da primeira fase aplicados em 129 entidades da Região Nordeste de
nas áreas da sociologia jurídica, da criminologia ou em investigações Belo Horizonte.
interdisciplinares que envolvam áreas diversificadas do Direito e outras áreas Tornou-se corno ponto de partida pesquisa realizada por Boaven-
afins, cujo objeto não dispensa esse tipo de amostragem. tura de Sousa Santos (1988) numa favela do Rio de Janeiro na década
A amostragem intencional ou não-probabilística tem maior apli- de setenta. A metodologia aplicada nesta pesquisa será, o quanto
possível, fiel ao trabalho a que nos referimos. Por esta razão, o ponto
cabilidade nas pesquisas jurídicas qualitativas. Elas não necessitam de
de partida da composição da amostra foi o tipo de entidade a ser
tratamento estatístico e, por isso, são entendidas como de menor confiabili- trabalhado: Associações de Bairro. 1 Assim, 45 das 129 entidades
visitadas na primeira fase (34,65%) apresentam características pr6·
prias para a verificação e contato com o fenômeno da nonnatividade
10
Podem ser analisados também em Lakatos & Marconi (2001). não-estatal.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 97

Em seguida, os critérios observados para a seleção das Associa- Além do cruzamento dos dados do questionário, a composição
ções de Bairro foram: nível de organização da entidade, freqüência da amostra incorporou a percepção dos pesquisadores de campo
dos associados às reuniões periódicas, a abrangência das atividades sobre as entidades visitadas.
e benefícios das entidades, tempo de funcionamento e número de
Do cruzamento dos dados propostos inicialmente, formulou-se o
pessoas inscritas na entidade. Além da escolha dos itens, a compo- seguinte quadro demonstrativo das entidades selecionadas:
sição foi feita tendo em vista as situações-limites (mais/menos) de
cada um dos itens. No caso do nível de organização das entidades,
por exemplo, procuraram-se aquelas com nível alto (possui conse-
lhos, secretaria, comissões de trabalho, diretoria) e nível baixo de
organização (pessoas exercem funções diversificadas sem direção i'.
1!
formal), desconsiderando-se, dessa forma, o nível médio (possui íl
,1
diretoria e alguns setores de atividades especiais). As situações- i!
limites podem indicar as características fundamentais do fenômeno a !\
li
ser observado e possibilitarão uma atividade comparativa das rea- :,;,,I

ções diversas que cada uma das entidades poderá apresentar. Do ii


cruzamento de todos os dados do questionário chegou-se a um total
ili
lijl
de 06 (seis) entidades.
O nível de renda do bairro, ao qual as entidades pertencem,
foi outro critério escolhido para compor a amostra intencional:
duas associações, localizadas em áreas com variáveis limites
para a pesquisa (maior renda/menor renda), puderam ser sele-
cionadas. 2
Considerou-se ainda a possibilidade de participação de Asso-
ciações de Bairro situadas em área de favelamento, pois são as
que mais se aproximam da pesquisa realizada pelo Prof. Boaventura
de Sousa Santos na favela carioca do Jacarezinho (denominada,
por ele, Pasárgada). Assim, duas associações puderam ser
selecionadas.
A razão da escolha dos itens mencionados baseia-se no fato de
que tais quesitos podem aproximar-nos do fenômeno da racionalidade
normativa não-estatal, objeto desta pesquisa.

Segundo Boaventura Santos, as Associações de Moradores constituíram-se


para"[ ... ] coordenar as ações dos vários níveis da vida coletiva e, sobretudo,
para defender os interesses das comunidades perante as agências do aparelho
do Estado. Com o tempo, algumas dessas associações passaram a assumir
funções nem sempre previstas nos estatutos, corno a de arbitrar conflitos
entre vizinhos." (SANTOS, 1988, p. 12-13).
Para a escolha das Associações de Bairro pertencentes a este último item
foram consultados dados da Secretaria de Planejamento da Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte. Os demais itens pertencem ao "Questionário
Organizacional - Fase l ".
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA gg
98 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

Freqüência Abrangência 11mpo N. Inscritos Escolha Renda


Organização
--- Menor Maior +8 -3 AtéSO +100 Voto Indic Alta Baixa
Alto Baixo +50 Até20
Nome
ACOBl-Associação
Comunitária do
Bairro Ipê e Novo X X
X X
São Marcos X

Associação Comunitári
de Defesa do Meio
Ambiente do Bairro X X
X X X X
Palmares
Associação do Bem-
estar Social do X X X
X
Eymard X

Associação dos
Moradores do X X
X X X
Bairro Paulo VI
Associação dos
Moradores do X X
X X X
Bairro Nazaré
-
Centro de Apoio
Comunitário do X 1
X
X X X
Bahrn São Paulo X -t----
1 --

Associação dos 1
Moradores do
Bahrn Capitão
Eduardo
Amorcinova -
Associação dos
Moradores da
X
Cidade Nova
Associação dos
Moradores do X
X X X
Bairro Renascença X

Assoe. Comunitária
X X X X X
Bela Vitória
-----
Fonte: "Questionário Organizacional Fase l" - Projeto "Pólos Reprodutores de
Cidadania-Direito Achado na Rua" -FDUFMG-PBH, 1995 (CARVALHO NETTO;
GUSTIN et ai., 1996).
100 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

ó.J.ó.ó Técnicas eprocedimentos metodológicos mais adequados às pesquisas de legislações, jurisprudências, etc., aplicação de questionário (aberto ou
aplicadas fechado), entrevistas (espontâneas ou dirigidas), conversas e discussões
(espontâneas ou dirigidas), análise de imaginário, análise de conteúdo, etc.
Podemos classificar as técnicas e procedimentos, preliminarmente e corri'-,
Para construir a metodologia da pesquisa devem ser observadas as se-
finalidade didática, em dois grandes grupos: A) as pesquisas de campo; B)
guintes etapas: as pesquisas teóricas.
1. Descrição do marco teórico que fundamenta todo o projeto de pes-
quisa; A. Pesquisa de campo
2. O processo de pesquisa (vertente metodológica, tipos genéricos de As pesquisas de campo são estratégias integradas de investigação que~{
pesquisa e raciocínios que serão priorizados); organizam os procedimentos segundo um caminho crítico. Esse "caminho 1

crítico" refere-se justamente às diretrizes operacionais definidas a partir da /


3. Natureza dos dados;
problematização do tema e da resposta preliminar que está sendo testada.J
4. Grau de generalização; Nas pesquisas de campo dois processos são importantes para a conduta de
5. Técnicas de pesquisa (ou estratégias metodológicas): indicarão o pesquisa e devem ser considerados tendo em vista as dificuldades de distin-_.
enfoque de análise do objeto da pesquisa; ção entre sujeito e objeto da pesquisa: a) processo de familiarização; b) /
6. Os procedimentos: ferramentas de coletas de dados e informações processo de distanciamento. O primeiro processo, de familiarização, deve_)
para a pesquisa, que determinam, na prática, o que deverá ser efeti- ocorrer todas as vezes que o pesquisador vai atuar em determinado campo
vamente feito pelos pesquisadores. de pesquisa (setores de tribunais, juizados especiais, setores governamen-
tais, favelas, escolas, etc.) com o qual ele não tem qualquer proximidade.
Assim, os procedimentos iniciais serão de compreensão do cotidiano do
A metodologia da pesquisa é construída a partir de elementos diversifi-
campo, das linguagens mais utilizadas, dos elementos simbólicos, das condi-
cados (mais ou menos subjetivos), como a escolha dos processos de pesqui-
ções materiais, das visões de mundo, etc. Quando, ao contrário, o pesquisa-
sa, da vertente metodológica e dos tipos de pesquisa, dos raciocínios, da
dor já possuir conhecimento das relações do local onde se dará à pesquisa e
natureza dos dados, entre outros já referidos anteriormente.
ele desejar, por exemplo, realizar uma investigação de dpo participante ou
Este tópico trata não da metodologia em sentido amplo, mas somente das de ação (como no caso de ser membro do Ministério Público e aí realizar
técnicas e procedimentos metodológicos que poderão ser utilizados nas pes- sua pesquisa; ou ser funcionário de determinado setor de Tribunal onde fará
quisas jurídicas, ou seja, uma esfera mais operacional das investigações. Or- a investigação de campo, etc.), deverá valer-se do processo de distan-

l ganiza-se por meio dessas técnicas e procedimentos o "como fazer", ou seja,


qual o caminho indicado para realizar a testagem da( s) hipótese(s) e alcançar
__os objet~ vos específicos da pesquisa. Ess~ etapa mais,. c~ncreta da ir;v~stiga­
ção destma-se, fundamentalmente, a relac10nar estrategias metodolog1cas ou
técnicas com a "vertente metodológica" indicada para a pesquisa.
ciamento. Esse processo é, talvez, o mais difícil, pois, é claro, o pesquisador
já está completamente inserido nas atividades cotidianas do setor, utiliza-se
das mesmas linguagens e elementos simbólicos, insere-se nas relações de
poder internas, etc. O processo de distanciamento é feito, então, por meio do
marco teó1ico selecionado para a investigação. Seu olhar não será mais o
- As principais estratégias metodológicas (técnicas) são: estudo de caso, mesmo olhar de habitualidade, mas um olhar teórico que dirigirá sua atenção
·. análise de cotidiano, pesquisa participante, pesquisa-ação, pesquisa teó1ica, a aspectos e fenômenos (de imaginário, simbólicos, de relações de poder,
1 pesquisa avaliativa, survey, pesquisa diagnóstica, histórias de vida, etc. Cada etc.) que antes não havia percebido de forma teórico-crítica. Esses dois pro-
L. uma dessas técnicas realizar-se-á mediante a escolha de procedimentos cessos são, pois, da maior relevância para iniciar uma pesquisa de can1po.
mais adequados à sua natureza metodológica e aos aspectos teóricos a que Outro aspecto importante na pesquisa de campo é a procura e seleção de
está interligada na pesquisa. Os procedimentos são, em geral, os seguin- "informantes privilegiados" e de "testemunhos ideais". O que são esses elemen-
tes: observação (espontânea ou dirigida), coleta e análise de documentos, tos? Vejamos um exemplo de pesquisa de campo que explicita esses elementos:
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
102
=======--~~~-~....:__;_
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
·~~~~~~--~~~~~

merece·m· análises de cotidiano para a investigação de eficiência, eficácia


a) desejo detectar as condições de democracia e de legitimidade de 11
ou efetIV1dade.
associações representativas de um setor urbano peiiférico;
As análise~ de eficiênc~~ s~o i~temas às org. anizações ou às relações dei:·
b) os informantes privilegiados serão, por certo, os integrantes das grupos espec1ficos. A efic1encia e a regularidade de atos, segundo determi- i,
duas últimas diretorias dessas associações, por exemplo, ou os asso- na~os tempos, e a harm~nia de relações organizacionais que promovem j/
ciados mais antigos, etc. Eles são "privilegiados" pelo maior acesso a efeitos esperados~ no sentido de pennjtir um bom funcionamento de setores .J
informações e relatos sobre a organização ou, simplesmente, por con- ou de t~~a ~rgamza?ão ~udiciária, p~r exemplo). Pode-se falar, tambémJ
viverem mais diretamente com os associados; em efic1encia da leg1slaçao de determmado campo jurídico, apesar de isso
c) já os testemunhos ideais são aqueles que conseguem "fechar" as par~cer estranho.~ eficiência, nesse sentido, é a análise das relações nor-
informações, ou seja, a entrevista com eles é capaz de realizar uma mati:~s ·d·e determm~do setor.ou instituto do ordenamento que permitem
síntese das percepções até então obtidas pelo investigador. Os tes- prev1s1b1hdade de efeitos pela mteração normativa perfeita, sem os proble-
temunhos ideais são detectados pelo pesquisador perguntando a indi- ma~ de relações antinômicas ou de lacunas. Isso, porém, é uma forma de
víduos, inseridos em campos diferenciados e com visões diversas, aplicar o conceito de eficiência de forma pouco comum.
"qual seria o entrevistado que melhor analisaria aquela organização A e~cá~ia é a consecução clara de objetivos previstos para a atuação d;-:,l
'x' do ponto de vista 'tal e qual'. Os informantes privilegiados sejam, orgamzaçoes, de.grupos ou de indivíduos. Isto é, uma ação eficaz é aquela •
talvez, aqueles que melhor indicarão os testemunhos ideais. Após que consegue satisfazer aos objetivos previstos anteriormente. A análise de 1', 1

todas as indicações despontarão dois, no máximo três, indivíduos que e~cácia dá-se, tan:ibém, na investigação da ação de determinadas Iegisla-.J1
a maior parte dos entrevistados indica como sendo "o( s) melhor(es )", çoe.s sobre º. ar:nb1ente externo. Analisa-se se, em sua aplicação, tem-se
ou seja, os testemunhos ideais. obtido ?s ?~Jetivos previstos pelas normas de qualquer tipo em qualquer
campo JUnd1co. Em áreas como de Direito Penal, Criminoloofa Direito Co-
(- Nas pesquisas de campo, uma técnica de efeito bastante positivo é a mercial, Direito do Trabalho e nas novas legislações, a anális~ de eficácia
1 análise de cotidiano que envolve outras ações ou procedimentos. Há con- tem g~an~e valor, não só para analisar a efetivação dos objetivos previstos
l trovérsia na literatura se essa análise seria uma técnica ou apenas um pro- p~los mstitutos de cada campo como para examinar a eficácia das legisla-
1lcedimento. As análises de cotidiano podem ser realizadas tanto em pesqui- çoes sobre o mundo prático.
sas internas às organizações como externas. Sua característica primordial é
A efetividade, apesar de muitas vezes ser empregada como sinônimõ"'I, i
o detalhamento: oferece dados bastante meticulosos sobre os cotidianos das
de eficácia (às ~ez~s, como sinônimo de eficiência), é bem mais abrangente ,.'
1

organizações. Em suas observações, deverá haver uma grande interação


q~e as dua~ ~_:1~e1ras. A efetividade supõe não só a realização das condi-\.·!'
entre observador/observado. O pesquisador que analisa cotidiano (relações çoes de ef1c1encia e eficácia, como, também, a correspondência com as r 1
entre pessoas, hábitos, atitudes, tempos, etc.) deve ter boa preparação me- demandas da população ou de determinados estratos populacionais ou de :

todológica, pois, enquanto observa, deve estar atento a pontos que se grupos (deman~as de ~o.nsumidores, de magistrados, de crianças e adoles- :1 1:,
correlacionam com seu marco teórico ou metodologia. Além disso, não são centes en: relaçao aos Jmzados, Conselhos Tutelares, etc., de contiibuintes, J,
somente externalidades que observa, pois deve estar vigilante quanto a es- enti·e mmtos ou~?s)._Aanál~s~ de e~etividade é de grande relevo para todos 1/!
tados de espírito diferenciados dos indivíduos observados que podem afetar os camp.os. das Cienc1~s So:1ais Aplicadas. Ela não só analisa o cumprime~I
as rotinas e os tempos organizacionais que estão sendo acompanhados. As to de objetivos (de leg1slaçoes, por exemplo) como se interessa pela demaJ:l-:
anotações de impressões, de reflexões teóiicas, de condutas inesperadas ou da externa em relação ao objeto de estudo. Poderíamos no exame dessa
de procedimentos devem ser imediatamente feitas em "diário de campo" ou condição, indagar: os objetivos do Estatuto da Criança e d~ Adolescente são
1-em outra forma de arquivamento. As análises de cotidiano são úteis em
estudos de organizações, nas identificações de relações ou de grupos de
1
11
L_poder ou no exame de normatividade não oficiais (pluralismo jurídico). No- 1 Na análise dos diversos setores da Administração Pública, consultar o interes-
sante trabalho de Sander (1982).
vas organizações, como os juizados especiais ou os conselhos tutelares,

~
104 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 105
-----· ~~~~--·~~------------:.._------======

eficazes? Correspondem às demandas das famílias, de escolas, etc.? No grande relevância quando são utilizados para apontar problemas potenciais
caso dessas indagações, se estaria analisando a efetividade do Estatuto e ou efetivos em organizações de todos os tipos e em programas governa-
não apenas a eficácia, pois a pesquisa de demandas e necessidades da mentais ou comunitários.
população beneficiária também seria contemplada. O estudo de caso exige, primeiro, uma boa delimitação do objeto de--1
Laz~sfeld ( 1971) classifica as pesquisas de campo, segundo os procedi- estudo: grupos em penitenciárias ou em centros de recuperação juvenil; J
mentos utilizados, em "experimentais" ou "naturais". As pesquisas experi- sindicatos para análise de viabilidade da desconcentração de intermediação
mentais são aquelas que interferem no campo analisado ou no objeto de e julgamento de ações trabalhistas simples; identificação de pluralismo
) estudo. Para ele, a aplicação de questionários e as entrevistas formais inter- jurídico em bairros periféricos, casos emblemáticos, 12 entre outros. Como
~-ferem na naturalidade das condutas e comportamentos e transformam uma se pode notar, todos esses exemplos estão insuficientemente delimitados.
pesquisa cujo interesse é "não interferir" em pesquisa com objetivos expe- São somente exemplos genéricos para apreensão do que pode ser um
rimentais. Entretanto, para que as pesquisas de campo sejam consideradas estudo de caso.
"naturais", os procedimentos mais adequados são as observações, as con- O segundo momento do estudo de caso é o da definição dos procedi~ f
r versas informais e a participação direta. Para o referido autor, a pesquisa mentos quantitativos e qualitativos a serem utilizados: aplicação de quesJ
: de campo é a arte de obter respostas, sem fazer perguntas. Daí por- tionários com perguntas fechadas (quantitativos); levantamento de dados
L_que ele prefere as pesquisas de tipo natural. . quantitativos e estatísticos (número de indivíduos, faixa etária, sexo, esta-
Os principais tipos de pesquisa de campo a serem analisados neste texto do civil, etc.); observação de ambientes, de rotinas, de movimentação in-
são: a) estudo de caso, b) pesquisa-ação e c) ~~~qu~~::l_participa~ terna, de relações de poder, de tratamento, etc.; entrevistas (formais ou
informais); análise de conteúdo (de documentos, de falas, de processos,
de legislação, de narrativas de vida, etc.); ação participante (como estagiá-
A. l Estudo de caso rio, como profissional, como voluntário, etc.). A partir dessa apresenta-
r uma das principais pesquisas de ~...ampo é"' o e_st~do ~e c~so: ~sse tem10 ção, é possível notar a pluralidade de procedimentos que podem ser incor-
é específico da metodologia das C~e~crns Socrn~s ~ nao s1gmf1ca ªfe~as porados a essa técnica de pesquisa de campo. Por essa razão, o estudo de
estudo de "processos". Essa estrategrn metodolog1ca tem como objetivo caso é uma estratégia metodológica bastante adequada às Ciências Sociais
1 uma descrição detalhada de grupos, instituições, programas sociais ou
Aplicadas, no campo do Direito, igualmente. Ela pode ser utilizada com

l
. sociojmidicos, entre outros. Essa técnica emprega dados quantitativos e

,
qualitativos.
Podem-se realizar, no estudo de caso, a observação, entrevistas forn1ais
e informais, procedimentos de análise de grupo, dispositivos sociométricos,
sucesso em vários campos jurídicos, como nas Ciências Penais, Direito
Comercial, Direito do Trabalho, etc.
O terceiro momento é o da definição dos métodos de registro dos dados)
levantados. Essa metodologia deve seguir os seguintes passos: seleção doL;
análise de documentos, de relações, entre outros. O estudo de caso, em sua dados, registro, codificação e tabulação. A seleção dos dados deve conside-
condição mais perfeita, necessita de equipes inter ou transdisciplinares: ju- rar os objetivos da investigação, seus limites e um sistema de referências
ristas, sociólogos, psicólogos, antropólogos, etc. Isso não significa, no entan- para avaliar quais dados serão úteis ou, ao contráiio, sem qualquer utilidade.
to, que não possa ser realizado somente com profissionais de Direito, de Somente aqueles selecionados deverão ser analisados, classificados ou co-
campos diversificados ou não (criminólogos, sociólogos jurídicos, filósofos dificados e tabulados (quando for o caso). A codificação é a categorização
do Direito, constitucionalistas, especialistas em legislações específicas, etc.). dos dados, ou seja, são classificados em categorias qualitativas, valorativas
Um esh1do de caso detalhado pode durar longo tempo, ou seja, sua dura- ou quantitativas.
ção seria bastante onerosa se ele também despendesse os mesmos custos
com a equipe. Quase sempre as equipes de estudo de caso são pequenas, 12
Um exemplo de caso emblemático, dentre outros, foi o dos "Irmãos Naves", de
no máximo três especialistas. Não invalida, inclusive, que um estudo de Araguari, que poderia ser estudado com o objetivo de discutir questões jurídicas,
caso seja conduzido por um único pesquisador. Os estudos de caso têm tais como a "pena de morte", os "erros judiciários", etc.
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 107
106 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

a autonomia e o saber da "comunidade", mesmo que em detrimento de seu


(, Após a organização dos dados, imagens, percepções e a análise e_inter-
próprio conhecimento técnico ou científico. Ora, com isso, ocorria que os
L pretação dos mesmos, passa-se p~a o ~róximo n:1º?1:ento: .ª elab~raçao d~s profissionais das universidades pouco contribuíam com as comunidades
relatórios parciais e finais e a reahzaçao de semmanos, disc~ssoes e c?l~­
externas, em razão de uma espécie de idolatria pouco comunicativa. O quêl:
quios para a validação das análises e da confirmação/refutaçao da(s) h~po­
as equipes de pesquisa-ação devem entender é que essa espécie de coope- ·;,
tese(s). Só assim o pesquisador pode sentir-se "pronto" para a redaçao e
ração envolve conhecimentos diversos e que o conhecimento científico só ·I··!/

edição do relatório final (monogrnfia, dissertação, tese).


tem sentido quando sua finalidade é transformar-se em senso comum. Ne-
nhum tipo é mais adequado para a realização dessa finalidade do que a /
A.2 Pesquisa-ação pesquisa-ação. ., , ,_;:
Além do estudo de caso, vale a referência à pesquisa-ação, não só por Apesar de haver uma atuação permanente, a p~sgitisa::-_ª=_Ç_~()_é diferente· -
sua adequação ao campo aplicado, mas muito especialmente ao cam~o do da técnica de pesq1:1isa p~tjcip_ªf!_t~. A primeira - pesquisa-ação - realiza
Direito. Essa estratégia metodológica, como as demais técnicas relaciona- uma pesquisa a partir de vários procedimentos, não só os participantes, e
das com. as investigações sociais aplicadas, tem ~eferência empíric_a e é
l desenvolvida em estreita correlação com uma açao ou com a soluçao de
Lproblemas grupais ou coletivos: As equipes ~e pesquisador~s,.ta~ como n?
sua ação não é realizada a partir do interior da situação, mas numa troca
permanente entre intemalidades/extemalidades. O pesquisador investiga
dentro de seu campo de conhecimento e atua segundo seu próprio saber -
-estudo de caso, deve, preferencialmente, ser mter ou transdisciplmar. Adi- e é isso que os paiticipantes esperam deles -, apesar de as diretrizes e
ferença é que na pesquisa-ação, pesquisadores e participantes da ação, - escolhas das ações serem feitas em conjunto.
"representativos da situação", (THIOLLENT, 2002) 13 envolvem-se de modo A pesquisa-ação favorece a resolução de problemas coletivos, transfor-~
cooperativo. mações de realidades emergentes e a produção de conhecimento. Sua dife-
As características da pesquisa-ação são: a) o inter-relacionamento per- rença das demais é que: a) a resolução do problema coletivo em foco é feita
manente das atividades de pesquisa e de ação (no caso das universidades, solidária e cooperativamente; b) a emergência de novas comunidades, gru-
em seus diversos programas de extensão). Esse inter-relacionament? per- pos, instituições etc., por intermédio da pesquisa-ação, é duplamente auxilia-
mite que a pesquisa e a atuação estejam pen11anentemente se retro-abmen- da: a pesquisa lhes permite conhecimento dos resultados das investiga-
f' tando. Há um constante entrecruzamento das ações e dos resultados das ções no campo jurídico e das ações dos pesquisadores, ao mesmo tempo,
i investigações. Por esse motivo, os seminários de equipe são mais relevan- autoconhecimento de suas condições, possibilitando sua própiia autocrítica;
l
·. tes que em qualquer outro tipo de pesquisa. Neles, as discussões sobre ação a ação (ou atuação) complementa os dados da pesquisa e permite o acesso
Lê pesquisa permitem uma dinâmica de sucessivas mudanças, tanto nos pro- a conhecimentos necessários à sua própria estruturação e à sua prática. O
cedimentos da pesquisa quanto naqueles da atuação. conhecimento produzido é reve11ido em benefício não só da equipe pesqui-
Na pesquisa-ação deve haver um envolvimento ativo da com~~idade, sadora mas também da equipe de participante da situação investigada.
' apesar de não ser algo fácil de se obter. Entre pesquisadores e participantes No campo do Direito, temos a experiência do Programa Pólos de Cida-
L do problema coletivo, não deve haver imposição de c_oncepções .próp.rias. dania, da Faculdade de Direito da UFMG, que há mais de dez anos vem
As soluções a serem encaminhadas são sempre antenormente discutida~. realizando atividades de pesquisa-ação em várias regiões de Belo Horizon-
Isto não significa, contudo, o desconhecimento da distância entre os do~s te (primeiro, Região Nordeste; depois, Aglomerado Santa Lúcia, Aglomera-
:·tipos de conhecimento. Não deve haver qualquer passivida~e entre os ~01s do da Serra, Vila Ponta-Porã; atualmente, na Região Nmte e no Médio Vale
· blocos de integrantes. Já houve época em que os acadêmicos entendiam do Jequitinhonha), por meio de convênios com Ministérios, Secretarias de
L que, em situações como essas, deveriam ser preservados, a qualquer custo, Estado, Tribunais e Juizados, Coordenadorias Municipais, Pastorais e Movi-
i
mentos Sociais. Nos aglomerados de favelas de Belo Horizonte, tem-se
!
agora a experiência em duas frentes de ação: um Núcleo de Atendimento a
1
13 A obra de Thiollent (2002) é referência indispensável no estudo da pesquisa- casos particulares, em que se desenvolve um processo de resolução
ação. Cf. também Costa (1986) e Esteves (1986).

1
.·li,~
108 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 109

extrajudicial de conflitos, a partir da mediação, e um "grupo de expansão", Entende-se que a pesquisa participante deve ter cuidados ampliados de
que, por meio da pesquisa-ação, coletiviza os interesses do Núcleo e das controle metodológico, pois esse tipo de investigação é frágil quanto à incor-
organizações da Região. Se o Núcleo atende um número maior de casos poração de subjetividades e de elementos ideológicos por paite do pesqui-
em determinado campo do Direito, o "grupo de expansão" coletiviza oco- sador. Um bom controle metodológico permite, entretanto, que essa técnica
nhecimento sobre esse campo e suas regulamentações, num sentido de campo transforme-se em um veículo metodológico que pe1mite pesqui-
premonitório e preventivo. Esse grupo realiza constantes pesquisas cujos sas com razoável aprofundamento das questões postas pelo projeto.
resultados interferem sobre a ação da equipe e da comunidade.
São pressupostos da pesquisa·-ação, além daqueles pertinentes a todas as B. Pesquisas teóricas
pesquisas: a) a existência de um problema coletivo (de uma instituição, O segundo grande grupo de estratégias metodológicas de cunho qualita-j:
associação, empresa, comunidade, etc.); b) o envolvimento solidário e tivo está inserido no que aqui denominamos "pesquisa teórica". Atualmente,
dialógico de todos os participantes; c) a participação na investigação, como há uma tendência a priorizar a "análise de conteúdo" como procedimento
sujeitos e não só como informantes. prioritário das investigações de cunho teórico. Por essa razão, aqui se dará
À exceção do survey, que é um levantamento quantitativo e estatístico, maior importância à descrição mais detalhada desse procedimento, em ra-
com objetivos descritivos, trabalhando com uma pluralidade de vruiáveis e zão das confusões conceituais que o envolve. Podem ser considerados tipos
que se dedica, a partir da aplicação de questionários e realização de entre- específicos de "análise de conteúdo": as histórias de vida, a análise de dis-
vistas com uso de roteiro dirigido, a detectar opiniões, atitudes e mudanças curso, a análise das mensagens da mídia, o exame de documentos, estudo
de comportamento sobre assuntos determinados (mercadológicos, de legislações, de jurisprudências estudos históricos, etc.
epidemiológicos, etc.), as demais técnicas de pesquisa de campo são varia- A análise de conteúdo, como procedimento metodológico, tem condições ,._1.1
ções pouco diferentes do estudo de caso e da pesquisa~ação. próprias de produção. Todas as vezes que se desenvolve uma pesquisa
teórica, o procedimento de análise de conteúdo toma-se imprescindível. Par~
A.3 Pesquisa participante a aplicação desse procedimento, o primeiro pressuposto é de que os dados

r. Em termos metodológicos, a pesquisa participante pouco difere dos


,/ demais estudos. É distintiva dessa investigação a condição em que se colo-
e informações obtidos já estão dissociados das condições gerais em que
foram produzidos. A análise de conteúdo não tem motivações históricas,
mesmo que os dados e informações pertençam ao passado, são inseridos
ca o investigador: ele é ou se toma um integrante do campo investigado e
L dele participa efetivamente. Dois casos podem ocorrer: 1º) o investigador já
integra o campo investigado, quer como funcionário de determinado órgão
pelo analista em novo contexto, com objetivos e objeto próprio de pesquisa.
Um sistema de conceitos analíticos é construído para servir como um siste-
(judicial, por exemplo) ou como associado, morador (observação natural), ma de referências conceituais que realizarão as inferências, próprias desse
etc.; 2º) o pesquisador torna-se um membro do campo de investigação procedimento.
(observação ai1ificial). O tipo emblemático desse segundo caso é a pesqui- Após essas etapas, desmonta-se o(s) discurso(s) da fonte objeto da pes--
sa feita por Boaventura de Sousa Santos na favela do. Jacarezinho. 14 O quisa teórica que se analisa e se produz um novo discurso por meio de 1
pesquisador alugou um barraco e transformou-se em morador da favela "traços de significação", que resultam da relação dialética entre as condi-J
para ter possibilidades mais ampliadas de investigação da existência de ções de produção do discurso objeto de análise e as novas condições de i
1
I!
í"pluralismo j.urídic_o", objeto ~e sua p~~quisa. ~essalte-s~ qu~ a diferenç.a produção dessa análise. ji
Ji
I entre a pesgmsa-:élǪQ e a pesqmsap<m1cm@!e e que, na pnme1ra, o pesqm- A denominada "história de vida" é um dos tipos de pesquisa teórica. Para ~!
11 sador ou a equipe de investigação atuam para a transformação do ambien- esse tipo de estudo, são necessários: um plano de hipóteses precisas e um 11
(f te, das relações, etc.; na segunda, o pesquisador apenas participa e não tem problema que se estruture, tanto quanto as hipóteses, a partir de marco \il

J~qualquer motivação imediata de transformação, apenas de conhecimento. teórico predefinido. Todos esses cuidados são necessários para que esse !I
tipo de investigação não se tome somente um estudo biográfico. As biogra-
14
Para mais detalhes sobre essa pesquisa, ver Santos (1988). fias dispensam uma pesquisa sistemática e o procedimento de análise de
110 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 111

conteúdo, tal como relatada. As histórias de vida têm objetivos mais amplos, definida nas partes essenciais do projeto de pesquisa (problema, objetivos,
elas se prestam à análise de contextos precisos. Exemplificando: quando se hipóteses, definição do marco teórico).
levanta dados sobre a vida de lideranças pertencentes a grupos de poder de
detenninada instituição (judiciária, por exemplo) ou setor, deseja--se, por meio ó.J.ó.l Controle metodológico
da "história de vida", obter traços de significação que permitirão compreen-
der aquele contexto institucional e a dinâmica de seus grupos de poder e
não a construção de biografias de cada uma dessas lideranças. Para isso Nas pesquisas qualitativas aplicadas, em lugar da "correlação estatística",
não seria necessária uma pesquisa teórica ou mesmo a análise de conteúdo. controle típico das pesquisas quantitativas, usa-se a covariação ou trian-
gulação. Esse controle por triangulação aponta "padrões" e não leis gerais.
A análise de conteúdo tem grande relevo para a compreensão de legisla-
São cruzadas três grandes categorias de fatores: T =múltiplos enfoques teó-
; ções e suas conexões contextuais, bem como das jurisprudências. Não se
1icos; P = múltiplos observadores (preservação da intersubjetividade); F = .

l
esqueça, no entanto, de que aqui não se trata somente de um aprofundamento
múltiplos procedimentos de observação (imagem a seguir):
de estudo ou de análise simples; como qualquer outro procedimento de pes-
I quisa científica, diz-nos Vala (1986), essa estratégia metodológica pressu-
1 põe objetivos e referenciais teóricos. 15 (A) (B)
As pesquisas teóricas priorizam a construção de esquemas conceituais T T
específicos e utilizam-se dos vários processos discursivos e argumentativos
para o convencimento sobre a validade dos esquemas propostos.
L_
Essas pesquisas são, muitas vezes, confundidas com os procedimentos
íde análise bibliográfica ou documental. Nas pesquisas teóricas, a análise de
~ conteúdo toma-se procedimento e não estratégia metodológica, como, an-
{ teriormente, demonstrado. Essa confusão, antes apontada, tem relação com
···~~o tipo de fonte normalmente utilizada por essa forma de investigação: as
chamadas "fontes de papel". São fontes de papel todas aquelas que não são
personificadas, ou seja, que se utiliza de dados secundários extraídos de
livros de toda espécie, documentos históricos e de arquivos, artigos de re- F p D p
vistas, jornais, jurisprudências, legislações, entre outras inúmeras fontes desse
tipo. Por essa razão, a análise de conteúdo, como dito, é um procedimento A imagem (A) já foi descrita em seus elementos. Seriam cruzados na
indispensável para esse tip_o de investigação. Isso não significa, contudo, imagem (B): T =pesquisadores com paradigmas teóricos diferentes; P =
que não tenha igual importância para as pesquisas de campo. percepções e imagens de pesquisadores e de entrevistados ou de textos
Í- Existem pesquisas teóricas que se originam de fenômenos objetivos, isto selecionados sobre o objeto; D= indicadores objetivos ou dados (de diag-
· é, partem de análises de dados empíricos para realizar todo um trabalho nósticos, de análises preexistentes, de arquivos, etc.). Tudo isto é cruzado
\ teórico-conceituai que se constitui como eixo principal da investigação. O sob o crivo do marco teórico. Cada ângulo do t1iângulo recebe cruzamento
1
\ fato de se originar de fenômenos empíricos, não significa que a pesquisa próprio até que se chegue, por exemplo, às percepções e imagens típicas
ipenha conteúdo empírico. O que detennina o tipo ou espécie de pesquisa é dos indivíduos sobre o objeto de estudo. Da mesma forma, isso é feito em
;o conteúdo do problema posto, sua hipótese e seus objetivos, não os proce- "D" e em "T". Há depois a covariação entre os padrões ou elementos
li~imentos utilizados. Para ser empúica, uma investigação precisa ser assim típicos de cada ângulo. Após esses cruzamentos plurais, a análise é feita
sob o crivo do marco teórico e da hipótese que está sendo testada para, a
15
partir daí, conseguir-se uma resposta plausível ao problema e a comprova-
Cf. também a obra de KRIPPENDORF, K. Content analysis: an introduction to
its methodology. Londres: Sage, 1980. ção/refutação da hipótese.
112 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 113

Em uma pesquisa qualitativa, o controle metodológico é feito a partir da • reelaboração e detalhamento do plano de pesquisa;
intersubjetividade, como já se disse. No vértice superior do triângulo está a • organização dos temas de estudo para transformá-los em
teoria que funda a pesquisa; em um dos vértices inferiores encontram-se os foco de análise;
dados obtidos; no outro as percepções de autores, de entrevistados, do(s) • precisão do foco de estudo e do esquema metodológico;
própiio(s) pesquisador(es). O cruzamento é feito, antes, em cada um dos • coleta de dados e levantamento bibliográfico;
vértices, ou seja, cruzam-se os dados entre si, descobrem-se aqueles que • análise da literatura especializada acerca das teorias sobre
predominam e, após, são relacionados com o marco teórico (vértice superior a distinção entre público e privado na história do pensa-
mento jurídico;
do triângulo). Cruzam-se as percepções, como feito com os dados, encon-
• comparação de dados bibliográficos;
trando-se aquelas hegemônicas. Dados e percepções predominantes são
• discussões com os orientadores.
cruzados entre si verificando-se a compatibilidade com a teoria. Podem ser
obtidos dois resultados dessa triangulação ou covariação: a) dados e per- FASEU
cepções obtidos pela pesquisa referendam a teoria, logo a hipótese proposta Investigação, interpretação
preliminarmente será ratificada; b) dados e percepções invalidam, em parte e qualificação do marco teórico do estudo
ou no todo, o marco teórico, logo a testagem da hipótese concluirá por sua organização, tabulação e agrupamento de dados e biblio-
retificação parcial ou total. Essa retificação não deve ser vista como um grafia coletados na fase anterior;
demérito para a investigação, ao contrário, pode ser um enriquecimento análise crítico-interpretativa e de qualificação dos elemen-
científico pela renovação teórica que deverá provocar. É nesse cruzamento tos a serem aprofundados pela pesquisa, tendo em vista
permanente de dados, percepções e teoria que se dá o fenômeno da as teorias analisadas na fase anterior;
intersubjetividade que controla metodologicamente a pesquisa. aprofundamento do marco teórico do estudo para crítica
dos principais aspectos da temia discursiva e da democra-
cia, de Jürgen Habermas;
ó.ló.8 fasesdapesquisa confirmação ou refutação de hipóteses levantadas pela
pesquisa;
As fases da pesquisa são tomadas de decisão importante para o bom • discussões com os orientadores.
encaminhamento da investigação. Para que essas fases se desenvolvam FASEID
dentro de uma normalidade esperada, tudo deve ser bem planejado e refle-
Discussão e revisão de textos
tido melhor se feito por toda equipe de pesquisadores - para que o cami-
nho crítico da pesquisa não se tome um campo minado pela grande freqüên- • aprofundamento da distinção conceitua} entre público e
privado a partir da teoria discursiva do Direito e da demo-
cia de acontecimentos inesperados. Poucos investigadores preocupam-se cracia identificada no marco teórico;
em relacionar fases da pesquisa por meio de uma sucessividade lógica de revisão de conteúdo e checagem das proposições iniciais;
fatos e atividades. redação preliminar da dissertação;
Coloca-se, a seguir, um exemplo de planejamento de fases de pesquisa: discussão do texto preliminar com os orientadores;
proposta de seminário para discussão dos resultados da
FASES DO TRABALHO pesquisa.
FASE!
FASE IV
Conhecimento do objeto de estudo
Redação do texto final da pesquisa
e redefinição da investigação
e divulgaç.ão dos resultados obtidos
• aprofundamento das leituras bibliográficas, documentais
e de legislações; • discussão com os orientadores;
114 (RE)PENSANDO A PESQUISA JlJRÍDICA
-----··---·--. - - - - - - ESTRUTURA _?~~!O DE PESQUISA
115

• redação final da dissertação;


ma. d,e apresent~ção das informações em tabela com apresentação objetiva
• revisão do texto e edição final; e v1s1vel, a partir de elementos gráficos.
• defesa da dissertação perante banca especializada;
A se~uir, apresenta-se um cronograma físico com o ob. t' d
• divulgação e publicação dos resultados obtidos.
ex~.mpbficação. Esse é um cronograma físico bastante completo ~:o:~ de~
venam sertodos eles. '
A partir da demonstração das fases da pesquisa, elabora-se o cronograma
físico que demonstra o tempo a ser despendido para a conclusão do traba-
lho, conforme severa adiante.

6.4 Partes pós-textuais do projeto

São elementos do projeto conhecidos como pós-texto ou pós-corpo do


Projeto: a) o cronograma físico; b) os cronogramas financeiro e de desem-
bolso; c) os planos de trabalho de bolsistas; d) a bibliografia básica prelimi-
nar; e) as referências bibliográficas; f) glossário; g) apêndices; h) anexos;
i) índices. Estes três últimos não são comuns em projetos de pesquisa.

6.4.1 Cronograma físico

O cronograma físico deve ser precedido por um relato da execução do


trabalho e de suas fases. Trata-se da apresentação gráfica das fases do
trabalho e do desenvolvimento da pesquisa, com maiores detalhes. Nesse
sentido, ele deve conter todas as informações necessárias para explicitação
do plano que o pesquisador deseja seguir: as grandes etapas a serem cum-
pridas durante o estudo e o tempo (geralmente em meses) que será dedica·-
do a cada etapa, além de eventos significativos a serem cumpridos durante
o desenvolvimento ela investigação. As etapas, por sua vez, deverão ser
discriminadas em atividades (períodos de revisão de literatura, de levanta-
mentos de dados, de idas a campo, de análises, de elaboração de relatórios,
etc.) e momentos de finalização e entrega de relatórios ou de realização de
seminários ou outros eventos intermediários ou finais. Os tempos são mar-
cados por linhas contínuas, ou pontilhadas, conforme as unidades temporais
planejadas (dias, semanas, meses, trimestres, outras). As pontilhadas são
utilizadas para demonstrar tempos intermediários. Para a colocação de even-
tos deve-se utilizar algum tipo de símbolo e, abaixo do quadro, discriminar
esses símbolos em uma legenda (por exemplo: V= visita; RPl= primeiro
relatório parcial; outros). Denomina-se cronograma físico por ser uma for-
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA
116 ------------··-------------·-------

Período
Etapas/Atividades fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

ETAPA 1: Conhecünento da realidade trabalhada e análise do Programa nas Secretarias


1. Levantamento e análise do material disponível sobre o Programa
2. Delineamento do marco teó1ico
3. Caracterização socioeconômica de Estados e Municípios (levantamento de dados)
4. Relatório de andamento do estudo avaliativo
5. Preparação de visita a campo
6. Visita exploratória aos Estados da Região Centro-Oeste
7. Balanço da visita
8. Visita exploratória aos Estados da Região Norte V2
9. Visita exploratória ao MEC
1O. Seleção de Estados para estudo em profundidade
11. Balanço preliminar do Programa (relatórios da Região Norte e justificativa da amosi__·-----1----
EI'APA2: Análise institucional do Programa ao nível do MEC e análise das estatísticas de
desempenho escolar
1. Visita ao MEC V4
2. Balanço das visitas ao MEC (análise em profundidade do material disponível sobre o
Programa ao nível do MEC e consolidação da análise institucional de desempenho
do Programa no MEC) R4
----+
3. Análise em profundidade das estatísticas de desempenl10 educacional dos Estados
e Municípios da amostra R5
!---------~----~---------~-~------~~----
ETAPA 3: Desempenho institucional do Programa ao nível de Municípios e escolas
1. Visita aos Estados, Municípios e escolas da amostra (para focalização de problemas
institucionais e análise de desempenho do Programa no nível municipal e da escola) __J/_5
2. Análise de estatísticas de desempenho escolar da rede municipal de escolas Monhangara
3. Caracterização sociopedagógica das escolas da amostra
4. Análise dos ca.ndicionantes da evasão e repetência
5. Relatório de avaliação do Programa nos Municípios e escolas -----&J~6
6. Relató1io final em versão preliminar ---11>~R7
--------·~-------~---
ETAPA 4: Validação do estudo (seminário)
ETAPA 5: Elaboração do relatório final em versão definitiva RF
* Atividades 1 e 2 da Etapa 1 se prolongarão ao longo de todo trabalho,
16 FONTE: MINAS GERAIS. Fundação João Pinheiro. Projeto de Avaliação do passando por níveis diferenciados de profundidade analítica, sendo con-
Programa Monhangara, 1986. solidadas no relatório final (RF).
** V= Visita a cam o; R =relatório arcial; RF =relatório final
118 ESTRUTURA DO P~OJETO_~E PESQUISA , ___ 110

6.4.2 Cronograma físico-financeiro, proposta orçamentária e de desembolso e em que números-, profissionais de apoio técnico - nonnalizadores esta-
giários, bibliotecários - e de apoio administrativo - secretários, datiló~rafos,
Os cronogramas financeiros e de desembolso somente são incluídos no etc.), recursos materiais (de capital ou de custeio), passagens aéreas, diárias
Projeto de Pesquisa quando se pretende obter recursos junto às agências e tudo mais que for indispensável para o desenvolvimento da pesquisa.
financiadoras: CNPq, FAPEMIG, Finep, BDMG Cultural, Fundação Ford,
BNDES, dentre outras. Os recursos e custos solicitados deverão ser deta- PROPOSfAORÇAMENTÁRIA
lhados em tabela de custos "Proposta Orçamentária" antes de serem colo-
RERJMO
cados nos cronogramas físico-financeiro e de desembolso. Este último tem
muita impmiância, pois demonstra as épocas precisas em que os recursos
serão necessários. O cronograma físico-financeiro tem as mesmas indica- Itens de despesa ValoremR$
ções do cronograma físico, sendo que, em lugar das linhas, dispõem-se to-· I- Pessoal técnico 30.000
dos os custos indicados no orçamento, não com a discriminação do tempo, II - Pessoal de apoio técnico 4.000
mas sim com a identificação dos itens de despesa. Seguem-se modelos III - Consulto1ia 10.000
simulados de "Proposta Orçamentária" e de "Cronograma de Desembolso". N - Despesas de viagens 3.500
Na elaboração do cronograma, deve-se dispensar uma atenção redobrada V- Serviços gráficos
ao edital e às regras previamente estipuladas pela agência financiadora para 8.000
VI-Serviços de computação 5.000
aprovação do financiamento, por exemplo, os valores de financiamento (que
estabelecem limites para cada tipo de pesquisa), os tipos de bens e serviços VII - Material de consumo 2.000
adnútidos, pesquisa de preços (normalmente exigem-se três orçamentos pré- VIII Outros custos 4.000
vios) e prestação de contas da utilização dos recursos financeiros. t--

O projeto de pesquisa enviado deverá detalhar os custos da pesquisa, bem Subtotal --


66.500
como os momentos em que os recursos devem estar disponíveis para a equi- Custo de vídeo
>---· 19.390
pe de pesquisadores, por exemplo, momentos de entregas de relatórios pre-
Total geral 76.890
vistos pelo cronograma físico, relatório de andamento ou final, visitas, viagens,
--
seminários, etc. Na maioria das vezes, entretanto, a agência financiadora já
estipula previamente a época do desembolso, não havendo, portanto, necessi- Al~~1~,as vezes torna-se_ necessá~io o detalhamento da "Proposta Orça-
dade de constar na proposta financeira os momentos do desembolso dos re- mentana . Detalha-se, assim, cada item previsto no resumo orçamentário
cursos. Uma boa previsão de desembolso de recursos tem grande imp01tân- e, em cada subite~, colocam-se os custos correspondentes. É o caso, por
cia para o desenvolvimento normal da investigação. Algumas vezes, pode-se exer~plo, do matenal de consumo (subitens possíveis: papel A4, clipes, tinta
esquecer de recursos para viagens da equipe ou de membros da equipe. Isso para impressora, entre outros, com a previsão orçamentália específica para
pode acanetar atrasos no cronograma geral da pesquisa e, muitas vezes, cada subitem).
aumentos orçamentáiios sem possibilidade de reposições, o que pode, inclusi-
ve, inviabilizar o ténnino da investigação. O desembolso não apenas prevê os
tempos de recebimento dos recursos como também prevê a entrega de pro-
dutos parciais e finais do desenvolvimento da pesquisa (relatórios parciais
contendo produtos específicos da testagem da hipótese, etc.).
A proposta orçamentária contém a relação de recursos necessários à
pesquisa: recursos humanos (perfil da equipe técnica - profissionais da área
120 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

o o o o o o
8o o
o
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00 6.4.3 Plano de trabalho ede acompanhamento de bolsistas
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o
o
8o 8o As financiadoras de pesquisa, especialmente no caso de Programas de
s ~ N N
Financiamento de Bolsas de Iniciação Científica, exigem um plano de traba-
o o lho e de acompanhamento de bolsistas, isso quando o Projeto é apresentado
8 8<:f pelo professor--orientador. Esses planos são roteiros de ação para os bolsis-
~

tas que, inúmeras vezes, estão, pela primeira vez, envolvidos em uma inves-
o
8o o tigação científica. Nesse sentido, um plano de trabalho deve conter infor- __
.:;..., ~
o
~
mações objetivas e seqüenciais, tendo em vista as fases do Projeto e as
o o atribuições que serão delegadas aos bolsistas em cada fase. Deve-se aten-
;:::; e:::;
v) lfÍ tar que uma bolsa de iniciação científica deve ter como objetivo constituir
futuros pesquisadores. Sendo assim, não se deve atribuir aos iniciantes so-
o o
;;. o o mente funções mecânicas como fichamentos, elaboração de tabelas e de
o o o
= v) lfÍ
quadros, normalização final de textos, etc. Deve-se conceder aos bolsistas
o
o o
o
oportunidades reais de participação no caminho crítico da pesquisa, da re-
o o
~ <:f dação de textos preliminares e das discussões da equipe de investigação. O
principal objetivo do plano deverá ser o de constituir um pesquisador que,
o
8
.=
o embora iniciante, já esteja desenvolvendo um pensamento científico crítico.
o
=
..., ci
o
ci
N N
O acompanhamento do bolsista, em seu momento inicial, deve ser mais
o
00
o
00
próximo e permanente. Pelo menos um ou dois encontros semanais para
\O \O
i:...: i:...: dar maior segurança ao bolsista. Aos poucos, ele se tomará mais indepen-
o
dente e em condição de realizar funções sem atendimento constante. En-
o o
o
o o tende-se, contudo, que os encontros com os bolsistas deverão ser, no míni-
0-. s g mo, quinzenais.
~l---+-~--+-~-+~~-J.-~~+-~--+~~~-l-~~+--~-l-~~-l--l---1
,..... o
....
Q,) 8v) § No caso de acompanhamento de pesquisadores de Pós-Graduação, as
"' lfÍ atividades de orientação já deverão estar previstas no cronograma da pes-
quisa, onde o aluno disporá os encontros com o orientador segundo suas
necessidades e disponibilidades mútuas. Inúmeras vezes é o objeto da pes-
quisa e sua testagem que exigem encontros mais ou menos regulares.

PLANO DE TRABALHO DO BOLSISTA


(MODELO)
Pesquisa: Costumes e Direito: uma interlocução entre a Dogmática e
a Sociologia Jurídica
Orientadora: Miracy Barbosa de Sousa Gustin
Orientanda: Maria Tereza Fonseca Dias
1. O treinamento inicial
A intenção é dar continuidade à orientação que vem sendo desen-
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

volvida com o bolsista ao longo do ano em curso: um trabalho siste-


fase anterior e devem ser realizadas entrevistas dirigidas
mático de pesquisa que se destina a uma elaboração conceitua} nos
aos atores comunitários, tendo em vista a seleção feita na
campos jurídico-exploratórios e jurídico-propositivo. Deve-se en-
fase anterior. Prevê-se, também, a duração de 60 dias para
tender que a Iniciação Científica procura familiarizar o estudante de esta fase.
Direito - especialmente aquele em nível de Graduação que tem
pouco ou praticamente nenhum contato com a atividade especulativa d) O bolsista, no momento seguinte, deverá organizar, tabu-
da pesquisa científica. Daí porque os encontros, não raras vezes, lar e agrupar os dados coletados na fase anterior. Para
destinarem-se à indicação de leituras de iniciação científica e de isso, será orientado quanto aos cuidados de uma anáiise
explicações sobre a função de pesquisa (0 que é uma pesquisa? comparada com o direito estatal e não~estatal, bem como
Qual a importância do Projeto? Como realizar uma consulta biblio- da observação da metodologia adotada. Serão dedicados
gráfica, jurisprudencia1 ou documental? Como registrar informações? 60 dias para esta atividade. Neste momento, será relacio-
Como classificá-las e organizá-las? Que tipo de linguagem deve ser nado um campo específico de temas para aprofundamento
utilizado em relatórios?, etc.). da análise.
e) A fase que se segue deverá ser realizada por orientador e
2. A revisão da teoria bolsista em conjunto. Este momento se destinará ao le··
vantamento de percepções de especialistas e de atores
Deve-se introduzi-lo, ainda, quanto ao marco teórico da pesqui- direta ou indiretamente envolvidos com o tema designado
sa. Leituras e discussões sobre o tema deverão fazê-lo compreender para estudo aprofundado. O bolsista será orientado para
que, por meio da investigação, pretende-se, a partir de uma reconsi- realizar interrogatório para levantamento de percepções.
deração da Teoria da Argumentação, notadamente a Tópica, obter Essas percepções serão organizadas, sistematizadas e ana-
uma compreensão da inadequação dos métodos hermenêuticos em- lisadas à vista do marco teórico da pesquisa. Prevê-se uma
pregados na atualidade pelo direito e a implicação desse fato na duração de 60 dias para esta fase.
questão da 'justiça' e da relação entre o direito e a comunidade para
a qual o mesmo foi criado. f) Um relatório preliminar será redigido pelo bolsista e deve-
rá ser posteriormente discutido e revisto com o orientador.
Este relatório preliminar será apresentado em seminário de
3. As atividades por fases especialistas para discussão do direcionamento da argu-
a) Como a pesquisa já está em fase intermediária de desen- mentação. Pretende-se despender 60 dias para a redação e
volvimento, no primeiro momento o estudante bolsista de- discussão.
verá organizar os temas da primeira fase com o objetivo de g) Na última fase, de redação final, o bolsista se encan-egará
transformá-los em foco de análise da segunda fase (dis- de apresentar um texto para revisão final, orientado pelo
curso jurídico comunitário). Sugere-se que sejam dados professor.
60 dias ao bolsista para essa tarefa e, ao final, ele deverá
apresentar ao orientador uma listagem de indagações so-
bre partes não suficientemente compreendidas ou de su- METODOLOGIADEACOMPANHAMENTO
gestões para novos procedimentos. DO BOLSISTA
b) No momento posterior, o bolsista deverá ser orientado
para expandir o levantamento bibliográfico, especialmente O plano de trabalho, antes apresentado, já expõe partes da
em textos doutrinários nacionais mais recentemente publi- metodologia de acompanhamento a ser utilizada. Em termos objeti-
cados, bem como selecionar os temas para as entrevistas, vos, pretende-se que o bolsista apresente ao pesquisador o produto
dirigidas com o fim de obter os usos e costumes aplicados de trabalho semanal, que será discutido e reorientado, corno já vem
numa comunidade e, ainda, escolher as entidades que se- sendo feito.
rão objeto de observação. Essas leituras deverão ser fi-
chadas, organizadas e discutidas com o orientador. Prevê- Como já exposto, o bolsista deverá ser orientado para compor,
se que essa atividade possa ser realizada durante 60 dias. juntamente com o professor, os momentos da investigação. Enten-
de-se que o bolsista de Iniciação Científica é um aprendiz. Ele será
c) A fase seguinte destinar-se-á à observação participante estimulado a redigir textos, cuja complexidade seja compatível com
de reuniões comunitárias nas entidades selecionadas na seu nível.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

Os contatos com o bolsista, para superação de dúvidas sobre as levantamento de obras, alguns textos poderão nem ser efetivamente utiliza-
tarefas previstas ou obstáculos não previstos, deverão ser, tanto dos para a elaboração do texto final do relatório de pesquisa.
quanto possível, diários.
Nos encontros semanais pretende-se uma orientação mais formal,
A lista de referências da bibliografia básica preliminar não deve ser ex-
inclusive com indicação de leituras não só sobre o tema da pesquisa, tensa e será selecionada por sua qualidade, ou seja, por sua importância na
como também de conteúdo metodológico-científico mais amplo. literatura pertinente.
O bolsista será estimulado, também, a participar de seminários ou Os pesquisadores costumam não at1ibuir muita importância ao levanta-
encontros científicos nos quais o tema e seus correlatos sejam abor- mento da bibliografia básica preliminar na elaboração dos projetos de pes-
dados.
quisa, mas a lista de referências revela o aprofundamento de estudos do
tema a ser pesquisado, o conhecimento do assunto que será tratado, bem
Miracy Barbosa de Sousa Gustin
como a coerência teórica dos autores a serem trabalhados.
Orientadora
As listagens da bibliografia básica preliminar e das referências bibliográ-
ficas devem obedecer às normas daABNT (Associação Brasileira de Nor-
6.4.4 Bibliografia básica preliminar mas Técnicas). A regra geral é de que as referências bibliográficas dos
relatórios de pesquisa e a bibliografia básica preliminar do projeto sigam a
Em que pese o fato da bibliografia básica preliminar e das referências ordem alfabética dos sobrenomes dos autores e não sejam numeradas.
11
bibliográficas serem uma lista de obras que aparecem após as partes tex- Existem inúmeras peculiaridades no que se refere à forma de fazer a
tuais de projetos de pesquisas, monografias, dissertações, teses ou qualquer referência bibliográfica, segundo o nome e origem do autor ou autores, tipo
espécie de relatório de pesquisa, elas têm funções diferenciadas e não po- de obra e os dados disponíveis para compor a referência.
dem ser confundidas. A bibliografia ou "bibliografia básica preliminar" apa- Apresenta-se, a seguir, de forma direta e objetiva, as principais formas
rece exclusivamente após as partes textuais dos projetos de pesquisa e diz
de entrada e os formatos das referências bibliográficas mais utilizadas na
respeito à listagem de obras que provavelmente serão utilizadas no desen-
área jurídica, segundo os modelos apresentados pela ABNT -NBR 6023
volvimento da pesquisa, uma vez que, geralmente, são obras de leitura obri-
(ASSOCIAÇÃO ... , 2002a), que trata da Informação e documentação: re-
gatória quando se trata de referido assunto e/ou problema de estudo. A
ferências - elaboração. A seguir, trazemos também os principais tipos de
bibliografia, assim, pode ser entendida como um levantamento preliminar de
citação que poderão ser utilizados tanto na montagem do projeto de pesqui-
obras sobre determinado tema de pesquisa.
sa quanto na redação do relatório final da investigação.
As referências bibliográficas, por sua vez, são as obras efetivamente
utilizadas e citadas no corpo do relatório de pesquisa e aparecem após o
texto das monografias, dissertações e teses. Trata-se, pois, da listagem das
ó. 4. 4. /formas de entrada das referências bibliográficas
obras citadas no corpo do trabalho e de referência obrigatória.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. (ou GUSTIN, M. B. S)
O projeto de pesquisa poderá trazer tanto uma listagem de obras contendo
MATA-MACHADO, Edgar de Godói da. (ou MATA-MACHADO,
as referências bibliográficas, pois já foram citadas no corpo do projeto, quanto
E. G. da)
à bibliografia básica preliminar. Para simplificar a elaboração do projeto, su-
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. (ou MOREIRA NETO, D.
gerimos que tanto as obras já citadas quanto as obras levantadas, mas ainda de F.)
não utilizadas, estejam referidas no item "Bibliografia básica preliminar". Nesse
JUSTEN FILHO, Marçal. (ou JUSTEN FILHO, M.)
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. (ou DI PIETRO, M. S. Z.)
17
Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) referência " ... é um BANDEIRADEMELLO, Celso Antônio. (ou BANDEIRADEMELLO,
conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, C.A.)
que permite sua identificação individual." (ASSOCIAÇÃO ... , 2002a). MARTINEZ VERA, Rogelio. (ou MARTINEZ VERA, R.)
126 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

DINIZ,Eli;AZEVEDO,AntônioCarlos(Org.).(ouDINIZ,E.;AZEVE- Elementos complementares:


DO, A. C. (Org.).)
PAIXÃO, José da Silva; SEIA, Jorge Alberto Aragão. (ou PAIXÃO, AUTOR(ES). Título: subtítulo. Tradutor ou Atualizador. Edição. Lo-
J. da S.; SEIA, J. A. A.) cal (cidade): Editora, data. Número de páginas ou volumes/ cader-
nos. Explicitação sobre origem do trabalho acadêmico (teses, disser-
• As entradas de entidades coletivas são feitas com o seu nome, tações), se for o caso.
por extenso.
PIRES, Maria Coeli Simões. Direito adquirido e ordem pública. Belo
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação.
Horizonte: Dei Rey, 2005. 990p.
CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO ADMINISTRATIVO.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 10. ed.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. São Paulo: Atlas, 1998. 358p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo; FERNANDEZ, Tomas-Ramon.
Curso de direito administrativo. Tradução de Rogério Enhart Soa-
" Referência com mais de três autores, utiliza-se a expressão (et ai.) res. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, v. 1.
CARVALHO NETTO, Menelick de et al. Diagnóstico das entidades
FRANÇA, J. L. et al. sociais do aglomerado Santa Lúcia: relatório preliminar. Belo Hori-
zonte: Faculdade de Direito da UFMG/Coordenadoria de Direitos
• Se não houver referência (publicações anônimas ou não assina Humanos e Cidadania PBH, 1998. (Não publicado)
das) a entrada inicia-se com o título do texto.
Monografia ou artigo em obra coletiva
ó. 4. 4.2 formatos de referências bibliográficas mais utilizados na área jurídica ESTEVES, António Joaquim. A investigação-ação. ln: PINTO, José
Madureira; SILVA, Augusto Santos (Org.). Metodologia das ciências
sociais. 8. ed. Porto: Afrontamento, 1986, p. 251-278.
A NBR 6023/2002 distingue, na elaboração das referências biblio-
gráficas, os elementos essenciais dos elementos complementares,
Livro em meio eletrônico
esses últimos são informações que, acrescentadas aos elementos
essenciais, permitem melhor caracterizar os documentos. Os mode- GORDILLO, Agustín. Reforma administrativa dei Estado. Disponf-
los de referências bibliográficas que traremos a seguir trarão os vel em: <www.gordillo.com> Acesso em: 28 jul. 2002.
elementos essenciais, bem como os elementos complementares das
referências bibliográficas. Teses, dissertações e monografias 1s
ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Conflitos coletivos e negociação
a) Monografias (inclui livro, folheto, manual guia, catálogo e coletiva na/unção pública. 1998. 462f. Tese (Doutorado em Direito
trabalhos acadêmicos) Administrativo) - Faculdade de Direito, Universidade Federal de
Elementos essenciais: Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998.

AUTOR(ES). Título: subtítulo. Edição. Local (cidade): Editora, data. Livros/ monografias produzidos por órgãos oficiais
BRASIL. Ministério da Administração e Reforma do Estado. A refor-
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Direito administrativo pós-moder- ma administrativa na imprensa: seleção de artigos produzidos no
110:novos paradigmas do direito administrativo a partir do estudo
da relação entre o Estado e a sociedade. Belo Horizonte: Manda- 18
mentos, 2003. Devem ser indicados em nota o tipo de documento (tese, dissertação, trabalho
de conclusão de curso, etc.), o grau, a vinculação acadêmica, o local e a data
da defesa) (NBR 6023/2002).
128 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ------·-·--ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 129
--·-------~ . ----.. ·-------4-------------------
MARE/Ministério da Administração e Reforma do Estado. Brasília: impacto da globalização sobre os direitos nacionais e as instituições
MARE, 1997. 81 p. (Cadernos do MARE da reforma do estado, 7) nacionais de controle e da Justiça. Disponível em: <www. global21.
com.br> Acesso em: 24 ago. 2001.

Livros/ monografias de entidades coletivas


e) Legislação
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR n.
6023 - ago. 2002. Informação e documentação - Referências - Elabo- Elementos essenciais
ração. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. 24 p.
NOME DO PAÍS, ESTADO OU MUNICÍPIO Gurisdição). Título (De-
Observações importantes creto, Lei, Medida Provisória, Decreto-Lei, Código, Portaria, Resolu-
ção, etc.) numeração. Data (dia, mês, ano). Dados da Publicação
Quando faltar algum dado tipográfico usam-se as abrevia-
que transcreveu a lei, decreto, medida provisória, resolução, etc.
ções: [s.l.] sem local (sine loco); [s.n.] sem editora (sine
nomine); [s.d.] sem data. Na falta dos três usar [s.n.t] sem
dados tipográficos. BRASIL. Código Civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
Indicar, depois do número da edição, se ela foi revista e ___.Decreto-Lei n. 199, de 25 de fevereiro de 1967. Diário Oficial.
aumentada. Ex: 2. ed. rev. aum. Rio de Janeiro, 27.02.1967, p. 2348. Ratificado em 08.03.1963. 19
_ _ _ . Ato Institucional n. 4, de 7 de dezembro de 1966. ln:
b) Eventos científicos CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Consti-
Elementos essenciais tuições do Brasil. São Paulo: Atlas, 1992.
___ .Constituição ( 1988). 33 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
NOME DO EVENTO, numeração (se houver), ano, local de realiza-
ção (cidade). Título ... : subtítulo (anais, atas, tópico temático). Local Legislação em meio eletrônico
de publicação (cidade): Editora, ano de publicação. Número de pági-
MINAS GERAIS. Projeto de Lei n. 1570, de 11 de dezembro de 1997.
nas ou volumes. Disponível em <www.almg.gov.br/matéria em tramitação> Acesso
em: 20 jan. 2002.
Evento como um todo
COLÓQUIO INTERNACIONAL DA INTERNATIONALASSOCIA- Elementos complementares
TION FOR THE SEMIOTICS OF LAW, 13, 1997, São Paulo. Direito
oficial, contracultura e semiótica do direito. São Paulo: Faculdade
de Direito do Largo São Francisco (USP), 1997. 637f. NOME DO PAÍS, ESTADO OU MUNICÍPIO (jurisdição). Título (De-
creto, Lei, Medida Provisória, Decreto-Lei, Código, Portaria, Reso-
lução, etc.) numeração. Data (dia, mês, ano). Ementa. Dados da
Trabalho apresentado em evento
Publicação que transcreveu a lei, decreto, medida provisória, re-
DIAS, Maria Tereza Fonseca; GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. solução etc.
Costumes e direito: uma interlocução entre a dogmática e a sociolo-
giajurídica. ln: REUNIÃO ANUAL SBPC, 49, 1997, Belo Horizonte.
Anais ... Belo Horizonte: UFMG, 1997. p. 224. BRASIL. Lei Complementar n. 1O1. 4 maio 2000. Estabelece normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
Trabalho apresentado em evento em meio eletrônico
19
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Reforma administrativa brasileira sob A NBR 6023 afirma que" ... os nomes dos autores de várias obras referenciadas
o impacto da globalização: uma reconstrução da distinção entre o sucessivamente, na mesma página, podem ser substituídos, nas referências
público e o privado. ln: SEMINÁRIO DO RED&S E DO GEDIM, seguintes à primeira,_ por um traço sublinear (equivalente a seis espaços) e
2001. Rio de Janeiro. Os direitos nacionais face à globalização: O ponto." (ASSOCIAÇAO .. ., 2002a, p. 21).
ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA 131
--~-·----·---- -------·--=-------======
Relator: Ministro Carlos Velloso. Acórdão 12 nov. 1992. LEX Juris-
fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 5 prudência do STF, São Paulo, n. 175, p. 49-90,jul. 1993. Vencido, in
maio 2000, seção I. Diário do Executivo, p. 513. totum, o ministro Marco Aurélio e, parcialmente, os Ministros Otá-
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Portaria n. 1.886. 30 dez. vio Gallotti e Sepúlveda Pertence.
1994. Fixa as diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso
jurídico. ln: NUNES, Luiz Antônio Rizzato. Manual da nwnografia
e) Publicações periódicas (artigos de revistas, áe jornais, edito-
jurídica. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Saraiva, 2000. 209 P·
riais, reportagens, etc.)
Elementos essenciais
d) Jurisprudência (decisões judiciais)
Elementos essenciais AUTOR. Título do artigo ou matéria. Título do periódico (da publi··
cação). Local de publicação (cidade), numeração correspondente
NOME DO PAÍS, ESTADO OU MUNICÍPIO Gurisdição). No~e-da ao volu1:1e e/ou ano, fascículo ou número, paginação inicial-final,
corte ou tribunal (órgão competente). Título (natureza da decisao: data ou mtervalo de publicação, mês (se houver) e ano.
apelação cível ou criminal, embargos, habeas co~pus, mandado d_e
segurança recurso extraordinário etc.) e numeraçao. Partes envolvi-
das (se b~uver). Nome do relator precedido da ~alavra "Rel~to:" · Artigos de revista
Data (dia, mês, ano). Indicação da Publicação que divulgou o acordao. LOPES, Luís Simões. O Estatuto dos funcionários civis da União.
Revista Forense. Rio de Janeiro, n. 38, p. 18-25, abr. 1939.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Esp~cial n. 213.~5. PEZZELLA, Maria Cristina Cereser; BECKER, Anelise. Medida liminar
Relator: Ministro Peçanha Martins. Diário de Justiça da Unwo, em ação de indenização por desapropriação indireta. Revista Trimes-
Brasília, 27 jun. 1994, p. 16953. tral de Direito Público. São Paulo, v. 27, n. 71, p. 55 ..72, set./dez.
\'
1994.
Jurisprudência em meio eletrônico CHEVALLIER, Jacques. Vers un droit post-modeme? Les transfom1a-
1\
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Ação Popular. Processo n. tions de la régulation juridique. Revue du Droit Publique: et de la
1.0000.00.334614-5/000( 1). Relator: Desembargador Brandão Teixeira. science poli tique en France e à l' étranger. Paris, n. 3, p. 659-690, mai./
jun. 1998. · :\
I 6 abr. 2004. Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br/frames/
m_jurisprudencia. html> Acesso em: 16 maio 2004. \
1
Artigo de jornal
1
Elementos complementares CARVALHO, Paulo Neves de. Os municípios e a emenda 25. Estado 11,

de Minas. Belo Horizonte, 25 maio 2000. Opinião, p. 9.


NOME DO PAÍS, ESTADO OU MUNICÍPIO (jurisdição). Nome da
corte ou tribunal. (órgão competente). Título (natureza da decisão: Artigo e/ou matéria de revista em meio eletrônico20
apelação cível ou criminal, embargos, habeas corpus, mandado d.e SANCHES ALMEIDA, Cmfos. Espafía: la criptografia como derecho.
segurança, recurso extraordinário etc.) e numeração. Ementa da deci- Revista Electrónica de Derecho Informatico. [on line]. Disponível
são. Partes envolvidas. Nome do relator precedido da palavra "Relator".
em: <http://publicaciones.derecho.org/red I/N ._23 Junio del 2000/
Data do acórdão (dia, mês, ano). Indicação da Publicação que divul- 4>.Acessoem: 15maio2000. - - -
gou o acórdão. Voto vencedor e vencido (quando houver)

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Constitucional. Trabalho. Justi- 20


Segun d o a NB R 6023 as referências de artigos periódicos em meio eletrônico
ça do Trabalho. Competência. Ações dos servidores públicos
de~em se~ ~cresc~das "[ ... ] das informações relativas à descrição física do
estatutários. CF, arts. 37, 39, 40, 41, 42 e 114. Lei n. 8112, de 1990, mt.
me10 eletromco (disquetes, CD-ROM, online, etc.)." (ASSOCIAÇÃO ... , 2002a,
240, alíneas "d" e "e". Ação Direta de Inconstitucionalidade n. ~92-1
p. 5).
_ DF. Partes: Procurador Geral da República e Congresso Nac10nal.
132 (RE)PENSANDO A PESQUISA JU~ÍDICA - - - - - - - -

Observação
A NBR 6023 ainda traz regras específicas de como apresenta: as O RELATÓRIO DA PESQUISA:
referências da publicação periódica como um todo, partes de revista,
boletim, etc. Quando se tratar desses casos, sugerimos a consulta
CAPÍTULO A MONOGRAFIA DE FINAL
direta à referida NBR. 7 DE CURSO, A DISSERTAÇÃO
DE MESTRADO EA TESE
f) documentos de acesso exclusivo em meio e~etrôn!c?
21
(base de
dados listas de discussão, site, arquivos em disco rzgzdo, progra- DE DOUTORADO
mas, :·onjunto de programas e mensagens eletrônicas)
Base de dados disponível em meio eletrônico

MAPA Crimes violentos. Minas Gerais, 1997. NESP: Núcle? de Estu-


dos em Segurança Pública. Disponível em: <http://www.fJp.gov.b.r/
7.1 Estruturação dos relatórios de pesquisa
produtos/cees/nesp/mapas_cv_frames.htm> Acesso em: 16 maio
2004.
Os trabalhos de conclusão de cursos (graduação, especialização,
Mensagem de correio eletrônico (Exemplo extraído da NBR 6023) mestrado e doutorado) são relatórios de pesquisas orientadas, apresenta-
ALMEIDA, M. P. S. Fichas para MARC [mensagem pessoal]. Men-
das sob formas diferenciadas, conhecidas no mundo científico-acadêmico
sagem recebida por <[email protected]> em 12 Jan. 2002. como monografias, dissertações e teses. Isso em qualquer campo do co-
nhecimento, inclusive na área jurídica. Entende-se, pois, que esses produ-
tos de conclusão de cursos são, sempre, relatórios finais de pesquisas,
6.4.5 Glossário, apêndice, anexo e índice redigidos sob formatos diversificados e com profundidade teórico-conceitua!
correspondente ao nível do pesquisador. Monografias finais de conclusão
Por não serem elementos pós-textuais, comuns em projetos de pesquisa, de curso de graduação e especialização, dissertações e teses devem ser,
serão tratados com maiores detalhes no capítulo seguinte referente à apre- pois, o reflexo de pesquisas teóricas ou de campo, metodologicamente
sentação e redação dos relatórios finais de pesquisa. De:em conter docu- bem desenvolvidas. A correção e objetividade dos passos e momentos da
mentos importantes que esclareçam e justifiquem a pesqmsa (o_u, em alguns pesquisa permitem ao pesquisador maior segurança para o desenvolvi-
casos, tabelas com dados suplementares, leis, pareceres, os mstrumentos mento do relatório final.
utilizados na pesquisa de campo, etc.). O que são os trabalhos acadêmicos considerados "monografia final
de curso", "dissertação de mestrado" e "tese de doutoramento"? Reitera-se
a afirmação anterior: todos eles, com especificidades relacionadas aos ní-
veis diferenciados de qualificação, são relatórios finais de pesquisa. Um
relatório de pesquisa já concluído deve ter a seguinte estrutura genérica:
1. Pré-textos
21
"
Não podemos desprezar, no momento contemporaneo, as re ferenc1,
" ,·as de dados
. 2. Introdução teórico-metodológica
encontradas exclusivamente em meio eletrônico, entretanto, tambem de~emos 3. Desenvolvimento da argumentação ou corpo do relatório
considerar aloumas peculiaridades dessas fontes, já que devem ser evitadas
4. Análise e interpretação dos dados
as citações d; documentos que circulam rapidamente pela internet, bem como
· e letromco.
" · El es somente
as mensagens que circulam por intermédio de corre10 5. Conclusão (Proposições ou Considerações finais)
devem ser referenciadas quando não se dispuser de nen~uma outra fonte para 6. Pós-textos
abordar o assunto em discussão, aconselha a NBR 6023/2002.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
---~ REL~TÓRIO
---- DA.. ---~- ____
PESQUISA:
......
A MONOGRAFIA
,,
DE FINAL DE CURSO,... 135

7.U Pré-textos capa (FIG. 4) e folha de rosto. (FIG 5). A capa, tal como no projeto, existe
somente para compor o trabalho. Ela é uma "fantasia" desnecessália. Por
As partes pré-textuais de um relatório final de pesquisa, de acordo com a essa razão, não deveria seguir regras. O autor poderá compô-la somente com
NBR 14724 (ASSOCIAÇÃO ... , 2005), compõem-se de elementos obriga- seu nome centralizado no alto da folha; no centro da folha, título e subtítulo; na
tórios e opcionais e são semelhantes às do projeto de pesquisa. São elemen- base da folha, também centralizados, local e ano. ANBR 14724/2005, por sua
tos pré-textuais obrigatórios, capa; folha de rosto e ficha catalográfica no vez, normalizou com maiores detalhes a apresentação da capa dos reiató1ios
verso da folha de rosto; folha de aprovação; resumo na língua vernácula e de pesquisa, diferentemente do que fazia nas normas anteriores.
em língua estrangeira e o sumário. São páginas preliminares opcionais, a A lombada, elemento opcional, deverá conter: nome do autor, título do
saber: lombada, e1Tata, dedicatória, agradecimentos, epígrafe, lista de ilus-· trabalho, número de volumes (se houver) e deverá ser"[ ... ] impresso loncri-
trações, de tabelas, de abreviaturas e siglas, de símbolos e a apresentação, tudinalmente e legível ao alto para o pé da lombada." (ASSOCIAÇÃO,
esta última nem sequer tratada pela Associação Brasileira de Normas Téc- 2005,p.4).
nicas na NBR supra referenciada. Na folha de rosto dos relatórios de pesquisa existem duas diferen-
Os dados da capa de relatórios de pesquisas institucionais são: a) dados ças em relação à capa: não consta o nome da Instituição no alto da página,
da instituição à qual está vinculada a investigação, colocados na parte supe- somente o do autor do trabalho e deve-se acrescentar entre o título do
rior da folha, de forma centralizada (universidade, faculdade, curso ou de- trabalho e o local de apresentação do mesmo uma nota explicativa da natu-
partamento, instituto de pesquisa). ANBR n. 14724 (ASSOCIAÇÃO ... , reza~? trabalho .. Essa nota deve conter especificações sobre o tipo de
2005) coloca o nome da instituição na capa como opcional, entretanto, não relatono e outras mformações acadêmicas, a saber: 1) monografia, disser-
estamos de acordo com essa posição, haja vista a importância em que se t~ção ou tese; 2) objetivo (grau a ser obtido, aprovação em disciplina, ava-
reveste este item para a identificação precisa do local em que o trabalho liação, etc.); 3) nome completo do orientador acompanhado de seu nível de
acadêmico está sendo apresentado; b) o nome do autor (centralizado) ou qualificação e do co-orientador, se houver.
autores (quando for uma equipe grande, de três ou mais pesquisadores,
A folha de rosto, assim como a capa, também não deveria seguir as
assistentes e estagiários, indica-se que os nomes não venham na folha de
indicações formais tanto de margem quanto de espaçamento e caracteres
rosto, mas numa página especial para a "Equipe Responsável" ou só "Equi-
definidos pela Associação Brasileira de Nomias Técnicas -ABNT. Enten-"
pe". No máximo, poderá vir aí os nomes dos "Coordenadores" da pesquisa)
de-se aqui, contudo, que esse formato geral do texto deve ser preservado
(FIG. 6); 1 d) abaixo do autor, apresenta-se o título e, se houver, o subtítulo,
também na capa e na folha de rosto.
centrados no meio da folha. Se houver subtítulo, separá-lo com[:] do título;
d) na base da folha, são dispostos de forma centralizada, o local e o ano. A ficha catalográfica, elemento obrigatório do verso da folha de rosto,
Não mais se utiliza colocar o mês de entrega do trabalho, como era exigido contém dados fixos e sistemáticos conforme o "Código de Catalogação
em normas técnicas anteriores. Uma observação a se acrescentar nesse Anglo-Ame1icano vigente." (NBR 14724/2005). Nonnalmente o quadro que
item é a inclusão número de volumes abaixo do título, quando for o caso. Se contém a ficha catalográfica deve ser entregue às bibliotecárias da institui-
o autor for encadernar o trabalho com "capa dura" esses elementos deve- ção para que elas o definam em seu tamanho, formato e conteúdo.
rão ser impressos na capa externa não havendo necessidade de incluir ou- A errata, elemento opcional, nos tem1os da NBR 14724/2005, é elemen-
tra capa "de papel" no interior do trabalho. Caso contrário, deverá haver to que deverá ser disposto da seguinte maneira: Escrever Errata (centrali-
zado no alto da página) e os seguintes itens: Folha, Linha, Onde se lê, Leia-se.
(FIG. 12). O objetivo da errata é apresentar às bancas examinadoras, even-
Os dados da folha de rosto de relatório final (monografia de final de curso,
dissertação, tese) poderão, pois, ser dispostos de forma diferente daquela
tuais falhas do trabalho já percebidas pelos autores antes mesmo da defesa
apresentada para o projeto, de acordo com o tipo de relatório científico a ser ou da entrega definitiva do relatório de pesquisa à biblioteca da instituição
apresentado, a saber: 1. Relatórios de pesquisas institucionais (FIG. 6); 2. em que foi apresentado. Caso seja necessário, pode o pesquisador apresen-
Relatórios acadêmicos de pesquisa (FIG. 5). tar a errata no momento da defesa, se entender adequado.
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
O RELATÓRI<? DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 137

Folha de aprovação é um elemento obrigatório dos relató1ios de pesqui- As listas de ilustrações, tabelas, abreviaturas e siglas, e de símbo-
sa. Geralmente, as instituições de pesquisa já definem um formulário pa- los, são o~cionais e deverão ser colocadas logo após o(s) resumo(s) e antes
drão de folha de aprovação que contém, às vezes, até mesmo a "logomarca" do sumáno. No caso das listas de ilustrações e de tabelas, elas devem ser
da respectiva instituição. Nos tennos da NBR 14724/2005, a folha de apro- ela~oradas de acordo com a ordem apresentada no texto, com cada item
vação deverá conter: d~s~gnado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número de
[ ... ] nome do autor do trabalho, título do trabalho e subtítulo (se hou- pa~ma, tudo_ conforme previsto naNBR 14724/2005 (Vide, como exemplo,
ver), natureza, objetivo, nome da instituição a que é submetido, área de a Lista d_e Figuras a~resentada como parte pré-textual deste livro). Já no
concentração, data de aprovação, nome, titulação e assinatura dos com- caso da hsta de abreviaturas e siglas, muito comum dos trabalhos acadêmi-
ponentes da banca examinadora e instituições que pertencem. A data de cos no campo da ciência jurídica, e da lista de símbolos, as mesmas deverão
aprovação e assinaturas dos membros componentes da banca exa~na­ conter as abreviaturas, siglas e símbolos seguidos do seu significado ou das
dora são colocadas após a aprovação do trabalho. (ASSOCIAÇAO ... , expressões correspondentes grafadas por extenso.
2005,p. 5).
O sumário, elemento obrigatório, seguirá o mesmo padrão daquele defini-
É importante observar que, mesmo nos casos em que não é exigida a do para o projeto de pesquisa (FIG. 11 ).
banca examinadora, como nas monografias finais dos cursos de pós-gradua- " O relatóri~ ~~ pesquisa, ao co~trário do projeto, em geral, exige uma
ção lato sensu (especialização), a folha de aprovação é obrigatória, pois o ~presentaç~o ·. El~ deve ser sucmta e conter dados significativos que in-
relatório de pesquisa será submetido a uma avaliação (FIG. 8). dique~ as pnncipais questões abordadas na pesquisa, as motivações do
Dedicatória, agradecimentos e epígrafe (FIG. 13) são páginas preli- pesqmsador ao desenvolvê-la e outros elementos condicionantes externos
minares opcionais inseridas logo após a folha de aprovação. A dedicatória e ao desenvolvimento do trabalho. Faz-se, em geral, pouca distinção entre a
a epígrafe aparecem, quase sempre, logo abaixo do centro da folha e próxi- "~~resentação" ,e.a "Introdução", mas suas funções são completamente
mas da margem direita. A "folha de agradecimentos" já se tornou quase distmtas no relatono de pesquisa. Ao se introduzir um relatório ou qualquer
ob1igatóiia em trabalhos acadêmicos. Ela indica as pessoas que, de alguma outro documento de relato do produto de uma pesquisa, deve-se ter em
forma, auxiliaram na pesquisa ou edição final do texto e às quais se deve m~nte que o leitor desse tipo de documento interessa-se primeiro pelos ca-
gratidão. Em geral, constam ainda nomes de colaboradores, entrevistados, rrunhos que antecederam esse produto científico, ou seja, dados metodoló-
instituições pesquisadas ou financiadoras e de orientadores (formalizados e gicos sobre a investigação, tratados a seguir.
informais).
O "resumo em língua vernácula" e o "sumáiio" devem ser especificados 7.1.2 Introdução teórico-metodológica
tal como demonstrado, anteriormente, na estrutura do projeto e confonne
os exemplos apresentados a seguir, extraídos de relatórios de pesquisa de-
senvolvidos (FIG. 9 e 11). O resumo em língua estrangeira (FIG. 10), em A "Introdução" ?ºtrabalho científico ou relatório final da pesquisa deve
apresentar as segumtes partes:
que pese constar como item obrigatório na NBR 14724/2005, geralmente só
é exigido nos cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e douto- 1. Indicação do objeto e do objetivo geral de pesquisa e de seu
rado), cursos esses que exigem o domínio de língua estrangeira por parte campo de c~nhecimento, por ser este segundo o produto previsto
de seus participantes. Nos demais casos, sobretudo nas monografias fi- para a pesqmsa;
nais de curso de graduação em direito, as instituições de ensino não exi- 2. O problema e a hipótese formulados para a investigação;
gem a apresentação de resumos em língua estrangeira. O resumo em 3. ~ metodologia ~tilizada na pesquisa e as reformulações que se
língua estrangeira possui as mesmas características do resumo em língua fizeram necessánas em razão de condicionamentos e fatos não es-
vernácula e deve constar, em folha separada do resumo, em português. perados;
Costuma-se, inclusive, traduzir para a língua escolhida, o resumo feito em 4. Divisão do trabalho em partes gerais ou capítulos e as razões da
língua vernácula. escolha desse formato do trabalho;
138 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
----º-~~LATÓR~~--DA!~~QUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 139
-------------------
5. Idéias e argumentos principais que são discutidos em cada parte mente, atribuiu autonomia ao investigador (agora, concluinte de curso de
ou capítulo do trabalho; graduação ou de pós-graduação) para utilizar-se de uma linguagem clara,
6. Considerações finais preliminares: quase sempre impressões do mas qu~, ao n:esmo tempo, problematiza os assuntos que vão sendo abor-
próprio autor sobre o trabalho científico apresentado: lacunas que dado~, mclus1ve sua relação com "verdades" anteriormente estabelecidas
ainda permaneceram e que podem ser desenvolvidas por outros pes- pela hteratura especializada do campo e da área pesquisados.
quisadores; achados ou produtos da investigação que apresentam ~ ?escrevem-se, a seguir, de forma genérica, as partes do corpo do rela-
relevância social ou para o campo de estudo; as dificuldades encon- tono. ?ptou~se_por esse tipo de abordagem em razão de o pesquisador ter
tradas no desenvolvimento da pesquisa, etc. Essas considerações seu estilo propno e não conseguir, em um único capítulo, apresentar todas
apenas dão um toque pessoal sobre a percepção do autor acerca da as formas e conteúdos possíveis de um relatório de pesquisa. Por isso,
pesquisa e do relato de seus passos. Não confundir esse item com a aprese?~am-se, a partir do próximo item, apenas diretrizes para um cami-
conclusão do trabalho, que deverá ser apresentada somente ao final nho cnt1co da redação de uma monografia de final de curso, dissertação
deste ou de cada capítulo do relatório da pesquisa. ou tese.

A finalidade da "Introdução teórico-metodológica" é situar o leitor no con- De acordo com as características da pesquisa, divide-se o texto em gran-
texto da pesquisa e próprio relatório. Ao leitor deve ficar claro o tipo de inves·· des partes, capítulos, seções e subseções. As margens, os parágrafos, 0
tigação desenvolvido, suas motivações e o alcance da pesquisa, e de suas formato do papel, as variações tipográficas e as citações devem seguir o
bases teóricas. Em geral, ela tem um caráter de feitio didático que indica para modelo geral de texto monográfico, segundo as normas da ABNT.
o leitor as pmtes teó1ico-metodológicas essenciais do trabalho. A "Introdu- ~ necessáiio lembrar que relatórios científicos não têm limite de páginas,
ção" poderia só discutir genericamente o que se segue e apresentar as paites po~s a pr~ocupação desses instrumentos é oferecer espaço suficiente para
essenciais do trabalho e suas idéias principais. Ela não telia qualquer diferen- a d1sc~ssao do problema e a argumentação crítica em tomo dos produtos da
ça da "Apresentação". Propõe-se, entretanto, uma "Introdução teórico- pesq~1sa. ~lguma~ teses de doutoramento apresentam número de páginas
metodológica" que faça a apresentação não só do trabalho como das diretli- mfenor a d1ssertaçoes de mestrado ou, até mesmo, algumas monografias de
zes plimordiais do planejamento e do desenvolvimento da pesquisa. Essa pmte final de ~raduação. Demérito? Sem dúvida que não. Dependendo do objeto
do relatório pode já apresentar o conteúdo crítico da pesquisa realizada. de pesqmsa e da metodologia utilizada, o campo de retórica do relatólio final
Pode parecer que esta "Introdução" é apenas uma reprodução do Proje- amplia-se ou toma-se mais conciso. Logo, não é uma questão de maior ou
to. Ao contráiio, ela é disse1tativa, crítica, interpretativa e explicativa, e não menor qualidade, mas de adequação.
apenas desciitiva. Dependendo do enfoque metodológico da pesquisa e da necessidade de
Antes da "Introdução", como já se explicou, pode-se inserir uma "Apre- arg~mentação crítica por tópicos, o corpo do relatório ou da monografia
sentação", que tem como objetivo uma exposição gené1ica sobre o trabalho. sera apresentado em tantas partes ou capítulos quantos necessáiios. Deve-se
É um texto opcional e normalmente utilizado apenas em relató1ios científicos. t~r ~cuidado, no entanto, de não perder a unidade postulada pelo teste da
Costuma-· se constar de alguns livros de metodologia que a introdução não é h1potese e solução do problema, por conseguinte, de não fraomentar em
. - /. b
numerada. Não é o que está previsto, entretanto, na NBR 14724/2005 item exce~so a expos1çao cnt1ca ela monografia. Essa fragmentação acaba de-
5.3.3. (ASSOCIAÇÃO ... , 2005, p. 8). terrnmando descontinuidade de argumentos.
~s grandes partes do corpo do relatório de pesquisa podem ser as se-
gumtes:
7.1.3 Corpo do relatório: desenvolvimento da argumentação, análise e interpretação
dos dados 1. ~rgumentação crítica sobre o esquema da investigação, tendo em
v1st~ os resultados obtidos (argumentação sobre o marco teórico, pro-
O corpo do relatório de pesquisa deverá apresentar redação e conteúdo cedimentos metodológicos, fases e obstáculos). O que antes se cha-
próprios. Ele é, afinal, o produto de uma pesquisa científica que, possível- mou de "Introdução teó1ico-metodológica".
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 141

2. Relato sobre a coleta de dados, sua organização, mapeamentos, Não se deve esquecer que as bancas examinadoras, em geral, à exceção
codificações e tabulações. Demonstração das dificuldades com relação do orientador, desconhecem o conteúdo do projeto de pesquisa, logo, suas
aos bancos de dados e com a exigüidade da bibliografia, jurisprudências partes, ao longo do texto, devem ser esclarecidas (problema, marco teórico,
e legislações sobre o objeto da pesquisa Esse relato poderá ser colocado objetivos, hipóteses, metodologia, justificativas, etc.) convenientemente para
em um único capítulo ou parte ou aparecer nos vários capítulos ou itens melhor compreensão da argumentação crítica do relatório final da pesquisa.
do relatório, conforrne a necessidade dessa apresentação. A revisão da literatura especializada e os dados históricos levantados
3. Análise e interpretação dos dados e informações por meio de deter- sobre o tema-problema não devem estar expostos em um único capítulo ou
minados tipos de raciocínio claramente apresentados e em face do seção da monografia. Essa revisão só adquire sentido se for utilizada para a
marco teórico postulado para a fundamentação da pesquisa. Esses confirmação/suspeição de argumentos desenvolvidos em todas as partes do
dados e informações podem ter sido coletados a partir de entrevistas, relato. É na aplicação concreta e adequada dessa revisão, que o autor
arquivos, jurisprudências e legislações, questionários, bibliografia, etc. demonstra profundidade de conhecimento sobre o assunto problematizado.
Todos eles devem ser interpretados de forma crítica e realizando a Apesar da necessidade de objetividade e clareza da linguagem utilizada
triangulação metodológica. O tipo de organização dos dados poderá para o processo argumentativo do relatório, o autor não deve se furtar a
definir seções e subseções do relatório (monografia, dissertação, tese). utilizar termos técnicos e próprios do campo jurídico que permitem uma
Da mesma forma que no item anterior, essa análise e interpretação comunicação bem mais ampliada com os demais integrantes da área de
de infomiações podem estar condensadas em um único capítulo ou conhecimento.
inserir-se em diversas partes do Relatório, conforme necessidade.
Prefere-se, contudo, esta segunda forma por ser mais adequada às
exigências da apresentação do teste da hipótese-realizado durante a 7.1.4 Conclusão ou considerações finais
investigação.
4. Análise do problema (seqüência de raciocínios que permite a A estrutura da "conclusão" ou das "considerações finais" deve restabe-
desconstrução gradual das partes do problema que foram ou não lecer os raciocínios mais relevantes que foram expostos nos vários capítulos
solucionadas a partir dos dados da pesquisa, com referências às ou seções do relatório. Quando cada capítulo expôs suas próprias conclu-
afirmações da literatura sobre o assunto ou das características só- sões (o que nem sempre é bom, tendo em vista a perda de unidade teórica
cio···contextuais e jurídicas). Essa desconstrução/reconstrução do dos resultados), cabe, ao final, somente correlacioná-las em um último capí-
problema também poderá estar concentrada ou dispersa ao longo tulo sob o título de "Considerações finais". Quando isso não foi feito, per-
do Relatório. manece para o capítulo da "Conclusão" a síntese-crítica dos resultados ob-
5. Finalmente, far-se-á a comprovação/refutação da(s) hipótese(s), com tidos. Para isso é indispensável realizar boas correlações entre resultados/
a apresentação das variáveis analisadas e dos indicadores utilizados. teorias/doutrina/contexto socioeconômico-cultural e jurídico. Também aí não
Nesse momento, faz-se o cruzamento da hipótese não só com os se deve esquecer de argumentações relativas à validade dos produtos da
dados e percepções levantados e cruzados como também com o marco pesquisa, tendo em vista sua aplicação em campo interno ao ordenamento
teórico e a revisão da literatura, demonstrando que: jurídico ou externo.
a) a comprovação/refutação da hipótese produz novo conhecimento ou Deve-se ter o cuidado de os raciocínios expostos na "Conclusão" não
não para a compreensão de determinado tema jurídico; ou extrapolarem os dados e resultados da investigação. Quando isso ocor-
b) a comprovação/refutação da hipótese nega ou não afimiações, dire- re, ou o autor não confia na pesquisa desenvolvida e em seus resultados,
trizes e teorias tradicionalmente aceites pelo Direito; ou ou atribui valor desmesurado a outros teóricos, ou a intuições próprias
sem qualquer testagem científica. É natural, ainda, que a pesquisa não
c) a comprovação/refutação da hipótese confimia teoria emergente que
esgote o teste da hipótese e a investigação do problema posto inicial-
vem sendo negada por esferas mais conservadoras do Judiciário, Fa-
mente. Sendo assim, vale a pena apontar esses vazios e as formas plu-
culdades de Direito, teóricos reconhecidos no Brasil ou no exterior, etc.

l
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 11'3

rais de preenchê-los. Essa conduta demonstra o reconhecimento, pelo autor, Os índices são bastante comuns nas obras jurídicas, por facilitar a locali-
dos limites da pesquisa científica. zação de assuntos no texto, mas existem várias espécies de índice: índice
Nesse capítulo, deve-se, inclusive, fazer indicações para correções alfabético remissivo, índice de autores, índice de obras, entre outros.
metodológicas em novas situações investigativas similares. É importante A utilização das partes pós~textuais nos relatórios de pesquisa deve
demonstrar, ainda, que essas indicações estão ou não relacionadas com o levar em consideração a natureza do trabalho, seu conteúdo e a real neces-
fato de a pesquisa ter enfoque multi ou transdisciplinar ou, ao contrário, por sidade da inserção de tais elementos.
ter se restiingido à unidisciplinaridade.
7.3 Escrita e redação dos relatórios de pesquisa
7.2 Pós-textos
A redação do relatório de investigação deve ser precedida por um plano
As partes pós-textuais dos trabalhos acadêmicos diferenciam-se bastante de desenvolvimento da argumentação e do caminho crítico a ser percor-
daqueles apresentados nos projetos de pesquisa. Nos relatórios de pesquisa, o tido. Esse plano já pressupõe, no mínimo, uma seleção, organização e análise
único elemento pós-textual obrigatório é a lista de referências bibliográficas. anterior dos dados e informações obtidos durante a pesquisa. Essa seleção, já
Trata-se da listagem das obras efetivamente utilizadas no trabalho de pesqui- disposta em bancos de dados específicos, deverá considerar questões relacio-
sa e referenciadas ao longo do relatóiio apresentado. A forma de apresenta- nadas ao valor dos dados em relação à solução do problema e à confirmação/
ção, segundo as regras da ABNT, consta do item 6.4.4.1 deste livro. refutação da hipótese. Nem sempre todos os dados, informações e percep-
Quanto aos demais elementos pós-textuais dos relatórios de pesquisa ções levantados são essenciais para o desenvolvimento do relatório final. Grande
não obrigatórios (glossário, apêndice, anexo e índice), apresentaremos os parte das informações pode ser dispensável, por sua inadequação ao objeto
conceitos gerais descritos pelaABNT na NBR 14724, de 30 de dezembro da investigação ou ser de conteúdo secundário. Essa inadequação pode levar
de2005. o pesquisador a um desperdício de tempo e de energias.
Glossário: relação de palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou Nesse plano, deve constar, também, a seqüência lógica da argumentação
de sentido obscuro, utilizadas no texto, acompanhadas das respectivas e o cuidado com uma exposição discursiva que seja coerente com as pro-
definições. [ ... ] postas do projeto e os produtos da pesquisa. Para construir essa seqüência
Apêndice: texto ou documento elaborado pelo autor, a fim de comple- lógica, é necessário construir uma espécie de "sumário comentado", ou
mentar sua argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho. seja, itens de um "sumário" com uma proposta dos principais conteúdos que
[ ... ] serão abordados em cada item. Essa espécie de "sumário" não deve apre-
Anexo: Texto ou documento não elaborado pelo autor, que serve de sentar somente uma relação de itens e subitens. Deverá ser uma correla-
fundamentação, comprovação e ilustração [ ... ]
ção de itens e de explicações argumentativas sobre a validade da inserção
Índice: lista de palavras ou frases, ordenadas segundo determinado
de cada tópico e das formas e conteúdos por meio dos quais ele será desen-
critério, que localiza e remete para as informações contidas no texto.
(ASSOCIACÃO ... , 2005, p. 1-2). volvido. Esse "sumário comentado" deverá ser exaustivamente discutido
com o orientador ou outros especialistas, além do próprio "plano de reda-
Analisados os referidos conceitos, remetemos o leitor para a análise dos ção", para que este seja o mais completo e coerente possível em relação às
anexos e apêndices contidos neste livro, pois eles mostram como devem ser informações selecionadas e à seqüência lógica da argumentação. E, princi-
apresentados e formatados, sem prejuízo da consulta às regras da ABNT. palmente, ser um relato crítico da testagem da hipótese para uma solução
O glossário somente deve ser utilizado em textos com conteúdo muito conseqüente do problema posto inicialmente.
técnico e que exigiria uma maior explicitação dos conceitos utilizados, des- O texto redigido deverá apresentar clareza, objetividade e precisão
de que não se tenha optado pela lista de abreviaturas e siglas, como parte da linguagem. Para que isso ocorra, é importante uma revisão do texto
pré-textual, que possui função diversa do glossário. final com relação a seu estilo, vocabulário, correções gramaticais, símbolos,
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 145

abreviações, citações, etc. Isso requer consultas constantes ao orientador vras que possam reproduzir claramente esses conteúdos; frases e argu-
e, se necessário, a colegas ou profissionais da área de linguagem e de nor- mentos que sejam simples em sua redação, isto é, que permitam o acesso à
malização para sanar dúvidas não solucionadas por meio dos demais expe- complexidade do conteúdo por meio de formulações claras e simples. Quando
dientes. Não apenas o desenvolvimento da pesquisa, mas também seu rela- se fala em "clareza", "objetividade" e "precisão", não se deseja, entretanto,
tório final, devem ser pemianentemente discutidos em seminários de pares, reduzir a complexidade do conteúdo da comunicação a uma linguagem va-
de um mesmo campo teórico ou de áreas conexas ou similares, isso porque zia de sentido. Essas qualidades da linguagem não significam superficiali-
a dialogicidade enriquece os produtos de qualquer investigação. Já se foi. a dade de conteúdo.
época em que o resultado de pesquisa - uma tese, principalmente - devena A redação científica deve ser, tanto quanto possível, impessoal: a terceira
ser guardado em completo segredo. pessoa impessoal é a mais razoável. Não se afirma "nós concluímos que"
A redação de relatórios parciais ou finais deve considerar alguns cuida- ou "conclui que", mas "concluiu-se que'' e assim por diante. Isto, no entan-
dos fom1ais e materiais ou de conteúdo. As frases muito longas, por exem- to, não é regra obrigatória, apenas uma indicação estética para a linguagem
plo, são sempre perigosas quanto à clareza do enunciado e às af~rmações preferencial de relatórios de científicos.
vagas. A reorganização desses períodos longos é conveniente; cmdado, no Relatórios científicos, tais como as monografias, as dissertações e as teses,
entanto, com a desconexão entre as frases reorganizadas. A inter-relação não têm limite de páginas, pois a preocupação desses instrumentos é oferecer
entre os argumentos deve constituir, ao final, uma seqüência lógica de racio- o espaço suficiente para a discussão de um problema e o teste crítico da
cínios. Sempre que se lê um texto pela segunda vez, notam-se desconexões hipótese. Definir de antemão o tamanho do trabalho importaria em restringir o
de seqüências de raciocínio. Às vezes, uma frase ou uma única palavra campo de discussão, criação e de originalidade que toda abordagem científica
permite e realiza a correlação necessária. Freqüenteme~te, n? ~ntanto, ~ deve conter. Algumas vezes, dependendo do objeto da pesquisa, um relatório
desconexão é de conteúdo teórico. Aí não bastam correçoes rap1das. Sera final de doutoramento pode ser menos longo que uma dissertação de mestrado
indispensável uma correção mais profunda, revendo informações.e correla- e, nem por isso, ter argumentação menos crítica ou menos profunda.
ções entre essas informações e a esfera teórico-doutrinária. Mmtas ve.z~s
devem-se rever aspectos da testagem da hipótese. Problemas essenciais
na redação são, em geral, disfunções do desenvolvimento da pesquisa e da 1.4 Notas sobre o formato do texto e a apresentação dos
compreensão imperfeita sobre o objeto testado. A clareza do texto é uma originais
correspondência a uma escrita e raciocínio claros, em que o autor consegue
explicar ao leitor o conteúdo mais relevante de seu trabalho. Isso significa A forma do projeto, relatório de pesquisa e monografia é um elemento
que o próprio autor tem clareza sobre os produtos obtidos da investigação. importante que complementa o desenvolvimento do trabalho científico e é
Textos obscuros, inúmeras vezes, são decorrência de insegurança teórica, definido pela ABNT. As regras da ABNT, entretanto, não são integralmente
ou pior, de uma pesquisa mal feita em tennos metodológicos. vinculativas, pois em alguns casos, é possível adotar tanto uma como outra
O texto deve ser mais "leve". Uma forma de obter essa leveza é a aber-· formatação e manter o trabalho em consonância com os padrões formais da
tura de novos parágrafos, além disso, usar poucos parênteses e reticências ABNT. É por esta razão que podem ser observadas algumas variações de
e incluir conceituações e definições em "pés de página" todas as vezes que orientação na formatação de trabalhos acadêmicos, sem que isso signifique
os termos utilizados possam parecer de difícil compreensão para aqueles a desobediência às regras. O que tem oc01Tido na prática é que boa parte
que não são iniciados no tema investigado. Não esquecer de que não se das instituições de ensino e pesquisa têm editado alguns manuais de
está escrevendo somente para o orientador. Escreve-se para uma banca, formatação de trabalho, determinando, dentro das opções traçadas pela
2
quase sempre multidisciplinar, mesmo com integrantes somente do Direito ABNT, qual o padrão a ser utilizado. É importante, pois, se manter informa-
porém de áreas diversas, e para todo tipo de leitor após a divulgação do
trabalho. A objetividade e precisão da linguagem requerem uma argumenta- É o caso da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, que mantém
ção que apresente urna seqüência lógica; precisão de conteúdo e de pala- atualizado e disponível em sua página da rede internacional de computadores
O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 147
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

mento com maior capacidade de armazenamento de dados e facilidades de


do acerca das instruções sobre a formatação de trabalhos acadêmicos de correção e reprodução de textos do que as tradicionais máquinas de escre-
cada escola. _ é a de ver. A maioria das nonnas técnicas para textos científicos estão ainda volta-
A principal regra que norteia a apresentaçao d? texto, ~ortantotodo o das para o trabalho feito em máquinas de escrever. Essas normas têm sido,
que ao se adotar determinado formato, ele seja mantido em pouco a pouco, adaptadas para os editores de texto dos microcomputa-
trabalho. L., _.~.c.-..:l~A ou
-1
dores. Assim; no que diz respeito à escolha do tipo e tamanho àe caracteres
No que diz respeito à forma, os trabalhos devem ser uãLHOglclrn~;97 a serem adotados em trabalhos científicos, aABNT recomenda a utilização
di o-itados em papel branco de boa qualidade, formato A4 (21 Om~15 entre da fonte de tamanho 12 para todo o texto (NBR 14724/2005), com exceção
m~) impresso em tinta preta, em uma só face, usando-se _espaço ·: - das citações textuais longas, notas de rodapé, paginação e legendas, que
. 'h (NBR 14724/2005). Permanecem em espaço snnples: c~taçoes devem ser digitadas, segundo a citada NBR, em tamanho menor e unifor-
as 1m as · ,.. · l d s das ilustra-
com mais de três linhas, notas de rodapé, referencias, egen a me, geralmente o tamanho 1O. Em que pese ABNT não determinar a fonte
ções e das tabelas, ficha catalográfica e a nota explicativa da folha d~ rosto. a ser adotada tem-se utilizado com maior freqüência Arial, tamanho 12;
A reo-ra eral para os espacejamentos entre os títulos das seçoes e o
texto d~ tra~alho é que os títulos das seções devem ser separados
que os sucede por dois espaços 1,5 entrelinhas, da ~esma form~ even o
:o tex~o
Times New Roman, tamanho 13. Deve-se buscar, na escolha do tipo mais
adequado, clareza e possibilidades de utilização de recursos como negrito
e itálico.
ocorrer entre os títulos das subseções e seus respectivos textos. No que diz respeito às pastas e encadernações, algumas agências
As referências bibliográficas que aparecem c~mo pai:e pós-text~:: ~~ss financiadoras de trabalhos científicos exigem ou não que os textos apresen-
trabalhos acadêmicos devem ser separadas entre s1 por d01s es~aços s p . tados sejam encadernados, regra que deve ser atentamente observada em
As margens devem obedecer às seguintes medidas: supenor e esquer.da, cada caso.
3 c1~; ~argens inferior e direita, 2 cm. Esse formato procura aproveitar Se não houver qualquer regra para encadernação, sugere-·se que o texto
melhor o espaço do papel· d ·o- esteja preso numa pasta ou encadernado, para que não se perca. Encontra-
0 parágrafo f01mal e tradicional é o que se apresenta a 2 ~~ a maibe~ mos no mercado diferentes tipos de pasta para que o papel seja perfurado
esquerda mas existem outros tipos de parágrafo, como sera visto a segu~r. ou somente preso. Diversas formas de encadernações podem ser feitas,
No qu~ diz respeito aos caracteres, devem ser do me~mo ti.po par~t~. o dependendo sempre do tamanho do texto (encadernação tipo binder, espi-
o trabalho, de forma a permitir uma melhor leitura e un~orm~d~~~ ai i:~ ral com capa plástica, confecção de capas duras, entre outras).
ções tipoo-ráficas em relação ao tamanho dos mesmos sao ?e~mtit; ~~ :s) No que concerne à numeração das páginas (paginação), para que não
nas ara i~otas de rodapé, citações textuais longas (com mais e res m , se confundisse a numeração das páginas pré-textuais - que, conforme
ao-fnação e leo-endas das ilustrações e das tabelas, conforme veremd.~st~o veremos, não apresentam o conteúdo do trabalho desenvolvido, mas so-
P b b . NBR 12256 traçou uma ue nz mente se prestam a organizá-lo-, costumava-se numerá-las com algaris-
decorrer deste texto. Quanto aos tipos, a ·· ,, d"
segundo a qual os tipos de c~rac~eres "[ ... ]devem ~e~,de taman~~mÃ~~.~ mos romanos (I, II, III, IV. .. ) para diferenciar da numeração do corpo do
redondos, evitando-se tipos mclmados e de fantasia. (ASSOC Ç trabalho, que é feita em algarismos arábicos (1, 2, 3, 4 ... ). Como as partes
pré-textuais não são muito extensas, é habitual que elas não contenham
1992, P· 4). · tTcos
O problema da escolha do tipo a ser adotado em trabalhos_ c1en I i_ - mais qualquer numeração. Elas são, no entanto, contadas e a numeração
ficou mais complexo com a difusão da utilização dos computad01es-eqmpa arábica inicia-se somente na introdução do trabalho, logo após o sumário.
Sendo assim, a "Introdução" não mais recebe a paginação de número 1,
. l N . lização· normas para apresentação mas aquela determinada pela contagem das páginas pré-textuais. A colo-
o documento ''.Pad,r~o PUC Mm~s ,e e ~rm,~ TIFÍCIA UNIVERSIDADE cação da numeração de página será feita da forma indicada no esquema
de trabalhos cient1f1cos, teses, d1ssertaçoes. (PON
CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2006). . _ d ')O l? 05, contendo o fonnato geral das regras da Associação Brasileira de Normas
. . . , .- d NBR 14724 em sua ed1çao e -1 • - · 20 Técnicas. (FIG. 14).
Essas foram as prmc1pais alt_eraçoes a -O 2005).
que passou a vigorar a partir de 30.1.2006 (ASSOCIAÇA ... ,
148 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 149

7.4.1 Citações "grifo do autor". O espaçamento da citação é simples e não 1,5 como no
decorrer do texto, por se tratar de citação textual longa.

As citações deverão ser feitas de acordo com as regras da NBR 10520/ Ex. 2:
2002. Segundo a ABNT, citação pode ser definida com_?"[ ... ] menção de De acordo com Rorty, "[ ... ] o único sentido que há em contrastar o ver-
uma informação extraída de outra fonte." (ASSOCIAÇAO ... 2002b, p. 1). dadeiro com o meramente justificado é contrastar um futuro possível com
a) Citação indireta (ou livre): que se compõe de um texto baseado na um presente real." (RORTY, 2000, p. 46, tradução nossa).
obra do autor consultado (NBR 10520/2002). Fom1ato: As citações curtas (menos de três linhas) permanecem no texto
entre aspas duplas. Aspas simples devem ser utilizadas para indicar citações
Exemplo: dentro de citação. Deve-se indicar, quando o texto for traduzido, a expressão
Paulo Erm1io Ribeiro de Vilhena (1996) eAugustín Gordillo (1998), fun- "tradução nossa". AABNT sugere que o texto na língua original conste em
dados na distinção entre Estado-Administração e Estado-ordem jurídica, nota de rodapé logo após a referência. Para finalizar a frase citada, deve-se
entendem que não é o Estado-Administração que pode alterar unilateral- utilizar ponto[.] antes das aspas se for o final do texto e sinal de supressão
mente a relação de função pública. [... ] se tiver sido interrompido antes do término da frase original. Após a
Formato: Observe que o nome dos autores, quando estiver no texto, deve referência bibliográfica também deve ser colocado ponto[.].
ser apresentado em maiúsculas e minúsculas. c) Citação de citação: citação direta ou indireta de um texto em que não
b) Citação direta (ou textual): que consiste na transcrição textual de par- se teve acesso ao original (NBR 10520/2002).
te da obra do autor consultado (NBR 10520/2002). O exemplo citado a seguir foi extraído da obra de Júnia Lessa França e
outras (FRANÇAetal., 2003, p. 108).
Ex. 1: Marinho, 3 citado por Lakatos & Marconi (2002), apresenta a fommlação
Na Constituição Portuguesa, o princípio da impessoalidade está expresso do problema como uma fase de pesquisa que, sendo bem delimitada, simpli-
como princípio da imparcialidade da administração e pode ser interpretado fica e facilita a maneira de conduzir a investigação.
como
[... ]um princípio simultaneamente positivo e negativo: ao exigir-se im- MARINHO, Pedro. A pesquisa em ciências humanas. Petrópolis: Vozes, 1980.
parcialidade proíbe-se o tratamento arbitrário e desigual dos cidadãos
por parte dos agentes administrativos, mas, ao mesmo tempo, impõe-se As citações podem aparecer, como visto nos exemplos acima, no próprio
a igualdade de tratamento dos direitos e interesses dos cidadãos ~tra­ texto que está sendo produzido, ou, ainda, em notas de rodapé.
vés de um critério uniforme da ponderação dos interesses públicos.
(CANOTILHO, 2002, p. 172, grifo nosso).
7.4.2 Formato das referências bibliográficas
Formato: Observe que o nome do autor que aparece entre parênteses
deve ser grafado todo em letras maiúsculas. Houve recuo de citação de 4 A ABNT, na NBR n. 10520 e na NBR n. 6023, reconhece dois sistemas
cm por se tratar de uma citação textual longa (mais de três linhas). O sinal de apresentar as referências bibliográficas, a saber: o sistema numérico e o
[ ... ] no início da frase indica que houve supressão de conteúdo do texto, sistema autor-data. Escolhido um sistema, ele deve ser utilizado em todo o
devendo o mesmo aparecer sempre que isso ocorrer. Deu-se ênfase ao trabalho, sendo vedada a mesclagem de sistemas de referências.
conteúdo do texto com negrito (podendo-se optar também pelo uso do itá- No sistema numérico"[ ... ] a indicação é feita por uma numeração única
lico). Se o grifo for acrescido por quem faz a citação, como é o caso do e consecutiva, em algarismos arábicos, remetendo à lista de referências ao
exemplo acima, deve-se acrescentar, após a referência bibliográfica, a ex- final do trabalho, do capítulo ou da parte, na mesma ordem em que apare-
pressão "grifo nosso". Se, ao contrário, o grifo estiver no original, ele deverá cem no texto." (ASSOCIAÇÃO .. ., 2002b, p. 4). Tal sistema, como se pode
ser mantido, devendo-se indicar junto à referência bibliográfica a expressão observar pelo seu conceito, não é uma boa recomendação para os trabalhos
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA.
··-·--O RELATÓRIO DA_ PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 151
150 ----------------
acadêmicos: primeiro, porque as notas de referência som~nte ~rão aparecer ca e consecutiva para cada capítulo ou parte (NBR 10520/2002). Na utiliza-
no final do capítulo ou do texto, o que faria com que o leitor tivesse ~ue: a ção desse sistema de referências, quando uma obra for citada pela primeira
todo 0 momento em que aparecer a numeração indicativa da referencia, vez no trabalho, essa deve ter sua referência completa, como no exemplo
buscar o final do capítulo ou do texto; segundo, porque NBR recomeu~~
ª. acima. As citações subseqüentes podem ser feitas de forma abreviada, como
6
que "O sistema numé1ico não deve ser utiliza?º q~~ndo ha notas d.e rodape no exemplo a seguir:
/AC'""r'IAÇA-
~ ,::>0V\.-
fl 0Qf'l2h .... ')\ 1'.J,,,.sse sentido
v ... , k V u, J_J• ~,.1·,,._, · '
e imoortante
._
sahentar
-
que
HABERMAS, 1996, p. 98, tradução nossa.
a ABNT distingue notas de rodapé, que são indicaçõe~, o?servaçoes ou
aditamentos ao texto feitos pelo autor das notas de referencia, que s~rv~m Deve-se também dar a devida atenção às expressões latinas a serem
para indicar as fontes de pesquisa efetiv~mente consultadas. O objetivo utilizadas quando da repetição de obras, trechos, etc., na mesma página, tais
dessa norma é exatamente não confundir no mesmo texto as not~s de como idem ou id. (do mesmo autor); op. cit. (na obra citada), ibidem ou
referências, onde são citadas as obras utilizadas, das notas de rod~pe, que ibid. (na mesma obra); Cf (confira ou confronte); et seq. (seguinte ou que
servem também para comentários, esclarecimentos ou expla:1açoes, esta se segue). No sentido de evitar dúvidas ao longo do texto, essas expressões
última também designada nota explicativa. Caso o trabalho .n.ao conte~lrn, somente devem ser utilizadas na mesma página ou folha da citação a que se
portanto, notas de rodapé e notas exp:i.cati~as: poderá se: u~1hzado o siste- referem (NBR 10520).
ma numérico. Vê-se, pois, que sua ut1hzaçao e bastante limitada. Exemplo de como fica a nota de referência:
Exemplo da citação indireta: HABERMAS, 1996, p. 98, tradução nossa.
o modelo de gestão fiscal responsável da legislação brasileira tem c~mo Ibid., p. 89 et seq.
objetivo nuclear a busca do equilíbrio orçamentário (art. 1º, § 1º, Le1 de
Há também o sistema (AUTOR, data), que aparece logo após a citação
Responsabilidade Fiscal). 4
no próprio texto do trabalho. Neste sistema, a indicação da fonte é feita:
BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 5 de maio de 2000. !n:
MEDAU~R, "[ ... ]pelo sobrenome de cada autor ou pelo nome de entidade responsável
Odete (Org.). Coletânea de legislação administrativa. 6. ed. Sao Paulo: Revista até o primeiro sinal de pontuação, seguido(s) da data de publicação do docu-
dos Tribunais, 2006, p. 542. mento e da(s) página(s) da citação, no caso de citação direta, separados por
vírgula e entre parênteses." (ASSOCIAÇÃO ... , 2002b, p. 4). O sistema
Exemplo na citação direta: escolhido para as referências, neste livro, foi o sistema (AUTOR, data)
Os estudos desenvolvi dos nesta tese pretendem aprofundar as noções de visto que foram inseridas no texto diversas notas de rodapé e notas
esfera pública e sociedade civil, desenvolvidas no âmbito ~a Teoria.D.iscursiva explicativas, sendo o sistema numérico utilizado como exceção.
do Direito e da Democracia. Segundo Habermas, a sociedade civil Utilizado o sistema autor-data, a referência completa da obra aparecerá
na lista de referências bibliográficas apresentadas no final do trabalho.
[ ... ] compreende aquelas conexões não-governamentais e não-eco~ôr1~i­
cas e as associações voluntárias que fixam as estrnturas de co~mmcaçao Veja o seguinte exemplo extraído da NBR 10520 (ASSOCIAÇÃO ... ,
1
da esfera pública no componente societário do mundo da vida . Neste \ 2002b, p. 4 ):
contexto, a categoria abrange as diferentes associações voluntánas que 1 A chamada"[ ... ] pandectística havia sido a forma particular pela qual o
1
absorvem e condensam a ressonância que as situações problema e:ner- direito romano fora integrado no século XIX na Alemanha em particular."
oentes na sociedade encontram nos domínios da vida privada, canalizan-
5 (LOPES, 2000, p. 225).
do tal resposta de forma amplificada para a esfera pública política.
1 Na lista de referências bibliográficas, ao final do trabalho, deverá apare,.
1 cera referência completa do livro:
HABERMAS, Jürgen. Betweenfacts and norms: contributions to a Dircou:se Theory 1
of Law and Democracy. Cambridge: Massachussets, 1996, p. 70, traduçao nossa. LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História. São Paulo: Max
Limonad, 2000.
Formato: O número da referência é feito logo após a citação e a nota d.e Observe no esquema apresentado na FIG. 14, as principais regras sobre
- , , i
referência respectiva deve aparecer na mesma página. A numeraçao e un - 1 a apresentação formal dos trabalhos de pesquisa:

l
152 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 153

,--------------------·-------------,
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS· MlRACYBARBOSADESOUSA GUSTIN
FACULDADE DE DIREITO / CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

Nome da instituição em que o ""=Autora


trabalho está sendo apresentado

TUTELA JURÍDICA ÀS NECESSIDADES HUMANAS


EM NOVA ORDEM SOCIAL:
MIRACYBARBOSADESOUSAGUSTIN Uma reconceituação da autonomia

~Autora
como necessidade primordial

""=Titulo e
Subtítulo

Tese apresentada ao Curso de Pós-


Graduação em Direito da Faculdade
de Direito da Universidade Federal de
TUTELA JURÍDICA ÀS NECESSIDADES HUMANAS
Minas Gerais para obtenção do grau
EM NOVA ORDEM SOCIAL:
de Doutor em Filosofia do Direito, sob
Uma reconceituação da autonomia orientação do Professor Doutor Joa-
como necessidade primordial quim Carlos Salgado.

"'\:Título e Nota
Subtítulo explicativa
(espaçamento
simples)

Belo H01izonte Local Belo Horizonte


Local
1997 _.Ano 1997 ___.,Ano

FIG.4 Exemplo de capa de tese de doutorado (GUSTIN, 1997). FIG. 5 Exemplo de folha de rosto de tese de doutorado (GUSTIN, 1997).
154 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 155

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS· EQUIPE RESPONSÁVEL


FACULDADE DE DIREITO
COORDENADOR-GERAL
PROGRAMA PÓLOS DE CIDADANIA
~~~~~~~~ -~~~~~~~~~~~- Menelick de Carvalho Netto
Instituições responsáveis pela
apresentação do relatório. COORDENADORES
Somente quando houver uma equipe Fernando Antônio de Melo
de pesquisadores responsáveis, que Juliana Neuenschwander Magalhães
virá na página seguinte Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira
Miracy Barbosa de Sousa Gustin

ORIENTADORES DE CAMPO
Cláudia de Cássia Vieira Batista Aguiar
Cristiane Branco Macedo
José Eduardo Elias Romão
DIAGNÓSTICO DAS ENTIDADES SOCIAIS Maria Fernanda Salcedo Repolês
Maria Tereza Fonseca Dias
DO AGLOMERADO SANTA LÚCIA:
RELATÓRIO PRELIMINAR PESQUISADORES EXTENSIONISTAS
Ana Luiza Paiva Pimenta da Rocha l
~
Cecília Rodrigues de Alencar 1
Giselle Ribeiro de Oliveira
Título e subútulo Helena Colodetti Gonçalves Silveira lili
Luiz Felipe Rosa dos Santos li
Onésio Soares Amaral
Rafael Miranda Moreira ·1
Renata Camilo de Oliveira
Samantha da Silva Hassen
CONVÊNIO: Sarah Amarante de Mendonça Cohen
FACULDADE DE DIREITO/UFMG Vanilza Ribeiro Xavier
COORDENADORIA DE DIREITOS
ANIMADORES DA AÇÃO
HUMANOS E CIDADANIA/PBH Ana Paula Repolês Torres

~Nota
Carnila Silva Nicácio
Ivana Brm>ileiro Reis Pereira
explicativa Leonardo Brasil Menicucci
Leonardo Fazito Rezende Pereira da Silva
Mércia Aparecida Torres
Ronaldo Araujo Pedron
Belo Horizonte Rodrigo Fernando Canova de Castro
Local e
1998 ~Ano EQUIPE RESPONSÁVEL PELO RELATÓRIO
Miracy Barbosa de Sousa Gustin
Maiia Tereza Fonseca Dias
Luiz Felipe Rosa dos Santos
Samantha da Silva Hassen
FIG. 6 Exemplo de folha de rosto de relatório de pesquisa institucional com equipe Sarah Amarante de Mendonça Cohen
de pesquisadores responsáveis (CARVALHO NETTO, GUSTIN et a!., 1998).
Vanilza Ribeiro Xavier
156 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 157
·~~~~~~~~~~~~-

MARIA IBREZAFONSECA DIAS·

DIREITOADMINISTRA11VO PÓS-MODERNO?
uma (re)construção da distinção entre o público e o privado
para a compreensão das relações entre o Estado e a sociedade

Dissertação apresentada e aprovada junto ao Curso de Pós-Gradua-


ção em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais visando a
obtenção do título de Mestre em Direito Administrativo.

Belo Horizonte, 4 de março de 2002

Componentes da banca examinadora:

Professor Doutor Pedro Paulo de Almeida Dutra (Orientador)


Universidade Federal de Minas Gerais
D54ld Dias, Maria Tereza Fonseca

2002 Direito Administrativo pós-moderno? Uma reconstrução


Professora Doutora Miracy Barbosa de Sousa Gustin
da distinção entre o público e o privado para a
(Co-orientadora)
compreensão do fenômeno da relação entre o Estado
Universidade Federal de Minas Gerais
e a sociedade - Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de
Direito, 2002.
300p.
Professor Doutor Paulo Neves de Carvalho
Dissertação (mestrado) UFMG. Faculdade de Direito Universidade Federal de Minas Gerais

1. Direito Administrativo contemporâneo 2. Reforma Administrativa


gerencial. I. Título. Professor Doutor José Alfredo de Oliveira Baracho Júnior
CDU:35.004.6 (81) Universidade Federal de Minas Gerais

FIG. 7 Exemplo de ficha catalográfica de dissertação de mestrado a ser impressa no


verso da folha de rosto (DIAS, 2002). FIG. 8 Exemplo de folha de aprovação de dissertação de mestrado (DIAS, 2002).
158 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MO~_ü_G_R_A~FI_A-~E_FI_NA_L_D_E_CY:..:..R.:.::.S...:::..O.::,..:::::.=1:::::5::::::9

RE5UMO ABSTRACT.

A argumentação desta tese diz respeito a um campo específico do PostmodernAdministrative Law? A reconstruction of the distinction
pensamento humano: as necessidades do homem e sua autonomia. between public and private for the comprehension of the interchange
O tema foi explorado a partir dos cortes históricos na sucessão das between State and Society
abordagens filosóficas e jurídicas. The changes in the Society stmctures occurreà in the contemporary
As principais teorias e os conceitos mais representativos de pensa- rnoment - phenomenon that many scholars have named postmode-
dores da Antigüidade, do Mundo Moderno e do Mundo Contempo- mity lead us to reflect the role of the Law in this new context.
râneo foram analisados e interpretados com o sentido de entender o The research intended to reconstruct the relation between State and
percurso teórico e as incongruências de seu tratamento, segundo Society using the distinction between public and private spheres as
seu valor paradigmático para a evolução conceitual da questão das the criteria to achieve such scope. As it was not possible to harmo-
necessidades humanas - com prioridade para a análise da autono- nize conceptually, nor in any satisfactory way, public and private
mia - em relação à sua importânciajusfilosófica. autonomies, the study privileges the perspective of the German
A partir desse esforço foi possível confirmar as hipóteses iniciais de philosopher Jürgen Habennas (1996) according to which, in the field
que as necessidades têm, genericamente, natureza social e cultural. of a Discourse Theory of Law and Democracy, public and private are
Ao identificar, porém, a existência de um conjunto de necessidades in permanent tension and in a complementary way.
humanas básicas generalizáveis a todo gênero humano, dentre as The (re)construction of the distinction between public and private
quais sobreleva destacar a autonomia, a autora afirma que quando for the comprehension of the State-Society relation intends to reflect
garantidas oportunidades justas aos indivíduos eles tomam-se capa- about the Management Administrative Refonn Program proposed
zes de minimizar danos, privações ou sofrimentos graves, ampliando, by the already extinct Ministry of Administration and State Reform
assim, sua potencialidade de atividade criativa e interativa. Conclui-se, (MARE). Once this Ministry introduced, through the Publicization
além disso, que a realização ou não das necessidades humanas afeta a Program and the creation of Social Organizations, new elements that
plenitude das pessoas e das coletividades em sua busca pela emanci- interfere in the comprehension of the distinction between public and
pação e auto-realização. Por essas razões, as necessidades humanas priva te such as "publicization", "non-exclusive sector", "non
concedem aos indivíduos argumentos sobre a· justiça dos fatos e governmental public properties", "third sector", "non govemmental
das relações, legitimando-os. Especificamente em relação à autono- public entities", among others, these elements must receive new
mia, conclui-se que ela se destaca como necessidade primordial, conceptual and theoretical treatment.
especialmente no Mundo Contemporâneo, e que não mais deve
The methodology applied was developed above all in the sphere of
corresponder a seu conceito liberal e moderno de auto-suficiência,
a theoretical line of research through a critic and reconstructive
devendo ser entendida segundo uma natureza interativa e dialógica
perspective, with the goal of creating new conditions for concrete
capaz de romper com a tradicional disjunção entre esfera pública e
actions in which concems the State-Society relations in the field of
privada. Nesse sentido, é possível ao homem superar uma visão
Administrative Law. About the methods, the research was developed
tópica de comunidade e de discurso comunitário e transcender os
following a descriptive and historical perspective, with the use of
limites de uma linguagem normativa particular.
bibliography and document research techniques as well as analysis
Palavras-chaves: necessidades humanas - autonomia teoria of surveys already done.
discursiva do direito
After the argumentative moments of the development of this study,
it has been concluded that the main premise of the Management
Administrative Reforro - the public sphere is wider than the State -
matches, in some degree, the rupture of some basic principles of
modernity, such as the indistinctness between public sphere and
govemmental sphere.
However, the use of the widened concept of public occmTed only to
justify the transfer of some governmental activities to the private
FIG 9 Exemplo de resumo em língua vernácula de tese de doutorado, com 305 sphere, not as a way of inserting civil society in this process. It did
palavras (GUSTIN, 1997).
160 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO,... 161
=======--~--~~~ --~-~~--~-·~~~~~~~~~~~~

not occur, as the Publicization Program proposed, the flux of SUMÁRIO


communication from the periphery to the center of the public sphere.
The work demonstrates the imperative need of initiating a truly 1 INTRODUÇÃO 9
discursive process of citizens acting with the scope of legitimating
the actions of tlie Government.
Key words: Contemporary Administrative Law - Management 2 PREÂMBULO CONCEITUAL AO TEMA DAS
Administrative Reforro Program - Third Sector NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS E DA AUTO-
NOMIA COMO NECESSIDADE PRIMORDIAL .................... 17
2.1 Considerações iniciais ...................................................... 17
2.2 A autonomia como necessidade primordial .. .... ....... ..... .. .. 29

3 A ANTIGÜIDADE COMO MARCO INICIAL NA


CONCEPÇÃO DE NECESSIDADES HUMANAS E
DEAUTONO.l.\11A ..................................................................... 36
3.1 Os principais sentidos do necessário ............................... 36
3.2Autonomia e capacidade de deliberação ............................ 42

4 A RUPTURA DA ERA MODERNA EM RELA-


ÇÃO AO CONCEITO DE NECESSIDADES DO HOMEM
EANOVADIMENSÃODAAUTONOMIA.......................... 56
4.1 Um olhar ético sobre as necessidades humanas..................... 56
4.2 O conceito kantiano de autonomia e o mundo moderno ........ .. 64

5 NECESSIDADES HUMANAS E AUTONOMIA


NO MUNDO CONTEMPORÂNEO: ALGUMAS TEORIAS
PARADIGMÁ11CAS .............................................................. 82
5.1 Esclarecimentos iniciais .................................................. 82
5.2 As necessidades como categoria ontológico-
histórica do ser social na teoria de Karl Marx ... .. ... .. ..... ..... .. 82
5.2.1 Autonomia e emancipação na teoria màrxiana ................. 105
5.3 As teorias motivacionais e a conceituação de neces-
sidade e de autonomia: os pensamentos paradigmáticos
de Sigmund Freud e de Herbert Marcuse .. ......... ... ... .. ... ... ..... ..... 109
5.4 As abordagens atuais sobre a relação necessidade direito-
autonomia ................................................................................. . 124
5.4.1 Afión Roig: as necessidades como critério distributivo
de igualdade ..... ... .... .... .. .. ... .. .. . ... .. ...... .... ... .... .... .. .. ..... .. ... ... .. .... . 126
5.4.1.1 A autonomia humana corno competência argumentativa
FIG 1OExemplo de resumo em língua estrangeira de dissertação de mestrado, com
447 palavras (DIAS, 2002). em relação às necessidades .. .. .. .. .. .. .. .. .. ... ... .. .. ... .. .. .. ... .. ... .. .. .. .. . 137
162 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
·~----- ---· O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO, ... 163

5.4.2 Realização de direitos civis e políticos como pré-condição ERRATA.


da autonomia c1itica: a teoria de Doyal e Gough .... .... ..... ..... .. .. .. . 142
5.4.3 Norberto Bobbio: o surgimento de novas necessidades e
a revalorização da autonomia.................................................... 159 Folha Linha Onde se lê Leia-se
5.4.3. l A autonomia como emancipação do ser ........................ 166 183 5 atividades meio atividades-meio
183 21 exposição de motivos n.
192 14 Exposição de Motivos n.
6UMDESTAQUEÀ TEORIADEJÜRGENHABERMAS ...... 184 este 11 títulos este possuía l1 títulos
210 26 <www .ocde.org>
6.1 Traços genéricos de Haberrnas e de sua obra................... 184 221 18
<www .oecd.org>
admininstração administração
6.2 A teoria da ação comunicativa ............................................ 192 222 17 (BRESSER PEREIRA, 1999a) (BRESSER PEREIRA; GRAU,
6.3 Indicações gerais da obra Faticidade e Validade ............... 213 1999a)

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........ .......................................... 241

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 261

FIG. 11 Exemplo de sumário de tese de doutorado (GUSTIN, 1997).

l
FIG. 12 Exemplo de errata.
O RELATÓRIO DA PESQUISA: A MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO, ... 165
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
164

l Mru-gem superioc de 3 cm Numeração


de página
(2cm)

CAPÍTULO 1
FORMATO GERAL DO TEXTO DE MONOGRAFIA SEGUNDO AS NOR-
MAS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT

l O espaço entre o título da seção primária e o


texto é de dois espaços 1,5 entrelinhas

l.l Como formatar os parai'graf:se:paço entre os títulos das seções secundárias e o l


texto é também de dois espaços 1,5 entrelinhas
Margem
____., Parágrafo (2 cm). Observe: direita
O parágrafo formal e tradicional é o que se apresenta a 2 cm da de 2 cm
margem esquerda, mas existem outros tipos de parágrafo. Pode-se ter um texto
sem parágrafo, mas com um espaço entre um parágrafo e outro.

l
Margem 1.2 Citações
l O espaço entre os textos e os títulos das subseções
é das seções é também dois espaços 1,5 entrelinhas

esquerda
3 cm
Segundo afirmam Gustin e Dias:
"A principal regra que norteia a apresentação
Recuo de citação do texto é a de que ao se adotar determinado
· com mais de três li- formato, ele seja mantido em todo o trabalho.
nhas (4 cm)
Assim, podemos dizer que existem dois princí-
~
pios que norteiam a apresentação formal de
um trabalho de pesquisa: o bom-senso e a uni-
formidade." (GUSTIN; DIAS, 2001)

Deve-se observar, entretanto, que "As citações curtas (de até três linhas)
podem ser inseridas no texto, entre aspas." (FRANÇA, 2003, p. 110).
·
"Método cartesiano que acerta tão bem em explzcar o mun dº'. nao
- e.hgaa
e. ,,
complicar a experiência, o que é a verdadeira função da pesquisa ob1et1va.

Margem inferior 2 cm
(GASTON Bachelard. O novo espírito científico. Rio de Janeiro: Tempo
' Brasileiro, 1968, p. 123).

FIG. 14 Esquema contendo o formato geral das regras da Associação Brasileira de


Normas Técnicas.
FIG. 13 Exemplo de epígrafe.
CAPÍTULO NOTAS CONCLUSIVAS
8

(Re)pensar a pesquisa jurídica é tarefa árdua, tendo em vista a resistên-


cia de parcela significativa das faculdades de direito de nosso País em rela-
ção ao tema e à aceitação de que educação jurídica não se faz apenas em
sala de aula, sendo também pesquisa e extensão (esta última somente acei-
ta quando se configura no formato de "assistência jurídica"). Há, contudo,
determinações ministeriais e grupos de especialistas que têm se esforçado
para as mudanças curriculares que acobertem definitivamente as pesquisas
no campo do Direito. Assim colocado, pode-se suspeitar da fidelidade ou
correção do título do livro. Entretanto, ainda persevera nos meios jurídicos
uma postura recalcitrante que supõe serem equivalentes as atividades de
pesquisa com aquelas que se destinam tão-somente ao aprofundamento
de estudos bibliográficos,jurisprudenciais e/ou normativos. Daí a necessi-
dade de (re )pensamento para edificação e transformação de uma "produ-
ção científica da repetição" em uma postura crítica da "descoberta", da
proposta permanente de desvendamento da complexidade do fenômeno ju-
rídico a partir da problematização dos princípios, dos fundamentos, das re-
gras e das normas que se expressam apenas em sua formalidade e que se
encontram desconectados do mundo das relações vivas.
Esquece-se, não raras vezes, de que ato jurídico é, primordialmente, ato
de justiça, qualquer que seja o campo específico do Direito. E ato de justiça
é sempre ação de transformação da realidade no sentido do bem, da apro-
ximação do homem de seu semelhante, de preservação do meio ambiente-
habitat natural do ser humano, de manutenção da intimidade tanto quanto da
pluralidade, do redimensionamento e reinvenção da vida e de tantos outros
"fazeres" que dignificam a humanidade e a cada um de seus integrantes:
quer sejam homens, mulheres, crianças, idosos, quer sejam das mais varia-
das etnias e dos mais diversos tempos ou espaços éticos.
Toda essa complexidade inserida em um simples ato de justiça só será
compreendida, interpretada e recriada a partir da atividade constante de
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA: TEORIA E PRÁTICA

investigação científica, da procura de novos caminhos que respaldem a fe.-


licidade humana. Desde tempos imemoriais, tem-se atribuído aos direitos do
homem o papel de guardiões dessa eudaimonia, da realização criativa e
harmônica dos seres entre si, numa perspectiva dialógica e emancipadora. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A pesquisa jurídica é, portanto, não apenas um ato de reprodução - como
se tem entendido-, mas de criação e de constituição crítica de novas for-
mas de pensar o ordenamento jurídico, as relações de cidadania, os princípios
ético-jurídicos, quer gerais ou especiais, tudo isso sob o manto revisto e
revisitado da Justiça, que atribui significado ao fenômeno jurídico e lhe con-
fere legitimidade e efetividade. ANDERSON, James E. Public policy-making. London: Thomas Nelson and Sons,
No campo das Ciências Sociais Aplicadas, no qual se aconchega a Ciên- 1975.
cia do Direito, a pesquisa deve ter sempre o objetivo final de "retomo" de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR n. 12256- abr. 1992.
Apresentação de originais. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. 4p.
sua produção ao homem comum, àquele que participa das sociedades locais
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR n. 6023 - ago. 2002.
e globais e que merece em troca de seu trabalho árduo, os frutos e produtos Informação e documentação Referências -- Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT,
da investigação científica. Estes não devem se restringir à satisfação dos 2002a. 24p.
interesses de poucos ou às produções inócuas e repetitivas de saberes já ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR n. 10520- ago. 2002.
postos. Uma pesquisa social-aplicada que emancipa esse homem comum Informação e documentação - Citações em documentos - Apresentação. Rio de
em seu agir habitual e de sua própria vida, deve ser a meta do pesquisador Janeiro: ABNT, 2002b. 7p.
jurídico. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR n. 6024-maio 2003.
Em boa hora, pois, instituiu-se a disciplina Metodologia da Pesquisa Informação e documentação Numeração progressiva das seções de um docu-
mento escrito -Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003a. 3p.
Jurídica nos currículos das Faculdades de Direito, quer nas graduações ou
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR n. 6027 -- maio 2003.
pós-graduações. Há muito que se fazer, há muito a se revelar no campo da hlformação e documentação-- Sumário-Apresentação. Rio de Janeiro: ABN1: 2003b. 2p.
ciência jurídica. Quer sejam pesquisas históricas, sociológicas, antropoló- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 1ÉCNICAS. NBRn. 6028-nov. 2003. Infor-
gicas quer sejam dogmáticas, a todas elas existe um espaço ainda promis- mação e documentação - Resumo - Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003c. 2p.
sor de produção, de recriação e de (re )pensamento. Essa é tarefa de todos: ASSOCIAÇÃOBRASILEIRADENORMASTÉCNICAS.NBRn.14724-dez.2005.
docentes, discentes, profissionais das várias áreas do Direito. Em conjunto, Informação e documentação -- Informação e documentação -Trabalhos acadêmi-
deveremos, por meio de investigações científicas, (re )pensar o fenômeno cos -Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. 9 p.
jurídico e sua conexão com o mundo da vida e das relações efetivas de BACHELARD, Gaston. A fonnação do espírito cientifico. Tradução Estela dos
justiça e de cidadania democrática. Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. 316p.
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Janeiro: Jorge Zahar, 2001. 258p.
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- - - - Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 2. ed. São
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--·--.A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. Para um
novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática.
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:
1

l
_l
ASSEMBLÉIALEGISLATIVADO ESTADO DE MINAS GERAIS
ESCOLADO LEGISLA11VO

O Poder Legislativo estadual e a elaboração de políticas públicas:


em busca de um novo padrão de atuação

Projeto de pesquisa apresentado ao


Curso de Especialização em Técnica
Legislativa Avançada em convênio com
a Universidade Federal de Minas Ge-
rais como um dos requisitos para a ob-
tenção do título de especialista em téc-
nica legislativa.
Aluno:
Orientador:

Belo H01izonte

2000
178 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
ANEX~ A - PROJETO DE PESQUISA VERTENTE SOCIOLÓGICO-JURÍDICA 179
---

SUMÁRIO

RESUMO
1 DEFINIÇÃO DO TEMA-PROBLEMA ......................................
4
O estudo proposto tem como tema a atuação do Poder Legislativo
estadual em um novo contexto histórico e constitucional. A supera- 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS .................
4
ção das formas tradicionais de atuação das Casas Legislativas, bas-
tante dependentes da iniciativa e do aval do Poder Executivo, é 30BJETO ...................................................................................
ainda fato raro no conjunto das Assembléias Legislativas estaduais, 7
3.1 Delimitação ....................................................................... . 7
como também acontece no Congresso Nacional. A Assembléia
3.2 Justificativa
Legislativa do Estado de Minas Gerais tem desenvolvido mecanis- ········································································ 7
mos institucionais de atuação que lhe permitem assumir papel inova-
dor e importante na formulação de políticas públicas, aparecendo, 41IlPÓTESE .................................................................................
dessa forma, como uma exceção no contexto político-institucional 8
brasileiro.
5VARIÁVEIS ............................................................................
O estudo está centrado na análise da organização, que constitui 8
5.1 Principais
o foco central da pesquisa. Não se descuida, no entanto, do contex- ··········································································· 8
to histórico e institucional, indispensável para o exame crítico da 5.2 Variáveis intervenientes
atuação dos agentes envolvidos no processo de elaboração das
··················································· 9
leis. Busca-se, em síntese, mais do que um simples 'exercício acadê- 6METODOLOGIA .......................................................................
mico, a compreensão de mecanismos que são fundamentais para a 10
prática da democracia e, sobretudo, a análise crítica de ações que
podem ser adotadas em outras Casas Legislativas, de forma a contri- 7 CRONOGRAMA FÍSICO ..........................................................
11
buir para o aperfeiçoamento das suas formas de agir e atuar.
8BIBUOGRAFIA PRELIMINAR E REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 11

li
ti
li
ji

l
l;.I
' 1

·I
j
-::.·:
um (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ANEXO A PROJETO DE PESQUISA VERTENTE SOCIOLÓGICO-JURÍDICA 181
----·----------·. ·----·----·-....-- -----·--- ...

lDEFINIÇÃODOTEMAIPROBLEMA Então esse parlamento só pode se envolver em "políti-


ca negativa", isto é, enfrentar os chefes administrati-
Indaga-se, na pesquisa proposta, quais seriam as condições, teó- vos como se o parlamento fosse um poder hostil; nes-
ricas e práticas, que possibilitariam ao Poder Legislativo Estadual sas condições o parlamento receberá apenas o mínimo
alterar os seus padrões tradicionais de atuação, assumindo novas indispensável de informações e será considerado como
posturas, ativas, quando da elaboração de políticas públicas. Consi- uma simples corrente de arrasto, um conglomerado de
dera-se, no caso, que os padrões tradicionais de atuação do Poder críticos impotentes e sabichões." 2
Legislativo estão estritamente relacionados à elaboração de normas
jurídicas, com grande dependência ao Poder Executivo no que se À "política negativa" contrapõe-se, é lógico, uma outra modali-
refere à iniciativa no processo legislativo e à própria aprovação da dade que somente pode ser denominada "política positiva". E essa,
matéria.1 Novos padrões de atuação apareceriam quando, em por sua vez, tem como elemento importante, nos dias atuais, a
contraposição à forma tradicional, o Legislativo tenta buscar maior materialização da atuação do Parlamento nas atividades de formula-
autonomia em suas ações, procurando no intercâmbio com a socie- ção, acompanhamento e avaliação de políticas públicas.
dade civil o contraponto para enfrentar, de forma legítima, as pres- O passo inicial para o estudo do papel do Parlamento consiste no
sões do Executivo. questionamento da própria função "natural" do Legislativo. James
Anderson, ao comentar o papel do Parlamento nos tempos moder-
2PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS nos, critica a "resposta fácil" que afirma ser papel do Legislativo
legislar, contrapondo a essa resposta o argumento de que muitas
O estudo do papel do Parlamento no atual processo de transfor- legis-laturas estaduais (nos Estados Unidos) são até mesmo incapa-
mação das estruturas tradicionais do Estado oferece várias possibi- zes de agir independentemente em face de casos complexos e de alto
lidades distintas de abordagem, daí decorrendo a necessidade de se grau de dificuldade técnica. 3
delimitar de forma mais precisa a questão, dados os limites objetivos
da pesquisa proposta.
A primeira questão subjacente ao tema é a da construção de uma
"política positiva", nos termos adotados por Max Weber. Para esse WEBER, Max. Parlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída.
São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores, 12). p. 30.
autor, o Parlamento, quando restringe sua atuação ao mero encami-
"A resposta fácil à questão 'o que os legisladores fazem?' é dizer que eles
nhamento de reclamações e queixas dos cidadãos, quando somente
legislam, isto é, que eles se preocuparam com as tarefas políticas centrais
rejeita dotações orçamentárias e proposições oriundas de outro po- de legislação e formação política no sistema político. Não se pode presumir,
der, exerce o que se considera "política negativa": entretanto, que uma legislatura, meramente por suportar uma designação
formal, realmente tem funções decisórias independentes. Essa é uma questão
"Entretanto, desde que um parlamento possa apoiar as a ser determinada por investigações empíricas e não por definição [... ]
queixas dos cidadãos contra a administração apenas Muitas legislaturas estaduais, por causa de suas sessões limitadas, membros
rejeitando dotações e outras legislações e introduzindo um tanto quanto amadores e urna equipe de assistência inadequada, são,
noções inexeqUíveis, esse parlamento é excluído de par- normalmente, incapazes de agir independentemente em questões técnico-
legislativas complexas." ("The easy response to the question 'what do
ticipação positiva na direção dos assuntos políticos.
legislatures do?' is to say that they legislate, that is, that they concerned
with the central political tasks of lawmaking and policy fonnation in a
political system. 1t cannot be assumed, however, that a legislature, merely
Essa é a tese central defendida por Argelina Chiebub Figueiredo e Fernando beca use it bears that formal designation, really has independent decision·
Limongi quando estudam o parlamento brasileiro no atual ordenamento makingfuntions. This is a matter to be detenninated by empirical investigation
constitucional. Para os autores, existe uma" ... forte e marcante preponderância ·rather than by definition [. .. } Many state legislatures, because of their
do Executivo sobre um Congresso que se dispõe a cooperar e que vota de limited sessions, rather 'amateur' membership, and inadequate staff
maneira disciplinada". FIGUEIREDO, Argelina Chiebub; LIMONGI, Fernando. assistance, are often unable to act independently 011 complex, technical
Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional. Rio de Janeiro: legislative matters. ") ANDERSON, James E. Public policy-making. London:
FGV, 2000. p. 20. Thomas Nelson and Sons, 1975. p. 38.

4 5
182 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ANEXO A - PROJETO DE PESQUISA VERTENTE SOCIOLÓGICO-JURÍDICA 183
~~~~-~~~~· ·~~~~--~~~~~~ --====

Considerando-se que uma das formas de ação positiva do Parla- postos da "razão argumentativa", como contraponto à ve11ente "pós-
mento consiste na sua intervenção ativa no processo de formulação positivista", o fundamento para o exame da ação estatal. 7
de políticas públicas, outra ordem de questões logo se apresenta, Em síntese, o acompanhamento da atuação do Poder Legislativo,
constituindo uma das vertentes teóricas intervenientes na pesquisa. nos moldes propostos nesse projeto, insere-se em um contexto teó-
Trata-se de se construir a definição operacional para o termo "políti- rico que procura incorporar novos argumentos e conceitos que, pos-
cas públicas". Esse tema deverá ser explorado ao longo da própria sivelmente, poderão vir a se constituir no mais novo paradigma no
pesquisa, mas, de início, vale apresentar, como exemplo do grau de estudo do Direito moderno.
dificuldade apresentado pela questão, a definição de Thomas Dye:
"Política publica é qualquer coisa que os governos escolham fazer 30BJETO
ou não fazer." 4
3.1 Delimitação
No mesmo sentido, considerando que qualquer resposta gover-
namental a demandas sociais pode ser incluída no rol das chamadas Dada a amplitude do tema proposto e as restrições naturais exis-
políticas públicas, podem ser encontradas definições semelhantes tentes, a pesquisa deve ser delimitada e adequada às condições
nas obras de Lindblom, Bauer e Dror, como aponta e critica Theodore possíveis. A perspectiva ampla que demonstra a relevância do tema
Lowy. 5 Ora, se tudo pode ser considerado "política pública", o con- representa tão-somente um ponto de partida para o estudo, demons-
ceito se esvazia e se torna indefinido, perdendo qualquer validade trando a sua relevância e indicando, de forma preliminar, algumas de
operacional possível. suas implicações.
Percebe-se, portanto, que o exame da atuação do Poder Legislativo Propõe-se como objeto o estudo do Parlamento estadual, no Bra-
passa, também, pela própria delimitação - tanto em termos teóricos sil, nas duas legislaturas que compreendem o período 1991-98. O
quanto empíricos - do que sejam políticas públicas. Essa definição, enfoque será direcionado para o estudo da Assembléia Legislativa
como já foi ressaltado, contém aspectos teóricos e práticos: deve ser do Estado de Minas Gerais ~ ALEMG, utilizando-se, na medida do
operacional, no sentido de que possibilite a construção de indicado-
res para o exame da atuação do Poder Legislativo.
Finalmente, é possível buscar nos estudos de Jürgen Habermas "Ao longo das duas décadas passadas, abordagens tradicionais de estudos
importantes elementos, a partir de uma abordagem sociológica, para políticos tem sido criticadas em bases epistemológicas e práticas.
a compreensão das funções da lei e do Parlamento no Estado moder- Incorporando concepções defeituosas de ciência e conhecimento, e
no. Segundo esse autor, a modernidade assiste a substituição da produzindo políticas tecnocratas incompatíveis com a democracia
razão prática pela razão comunicativa, que "não é fonte de normas participativa, análises políticas tradicionais e planejamento têm sido despidos
do agir" e que, ao possibilitar uma "orientação nas bases de vali- de suas pretensões à neutralidade e objetividade. [... ] No centro dessa obra
reside uma simples premissa: análise política e planejamento são processos
dade, no entanto, ela mesma não fornece nenhum tipo de indicação
práticos de argumentação. Assim, de acordo com os editores, uma abor-
concreta para o desempenho das tarefas práticas". 6 À obra de dagem cujo argumento principal suporte uma melhor descrição do que
Habermas pode ser agregada uma nova e moderna vertente no es- analistas políticos e planejadores fazem, também abre novas áreas para
tudo das políticas públicas, vertente esta que procura nos pressu- inquirição em estudos e políticas acadêmicas." ("Over the past two decades,
traditional approaches to policy studies have been criticized 011
epistemo!ogical a11d practical grounds. Inco1poratingflawed conceptions
of science and knowledge and producing technocratic policies incompatible
"Public Policy is whatever governments choose to do or not to do." (DYE, ivith participatory democracy, traditional policy analysis and planning
Thomas. Understanding public policy. 4. ed. New York: Prentice Hall, have been stripped of their pretenses to neutrality and ohjectivity. [... J At
1972. p. 1.) the heart of this work fies a simple premise: 'policy analysis and pla1111ing
LOWY, Theodore. Decison making vs. policy making: toward an antidote are practical processes of argumentation '. Thus, according to the editors,
for technocracy. Public Administration Review, [s.l], an approach that foregrounds argument affords a better description of
v. 30, n. 2, May/June 1970. p. 317. 1vhat policy analysts mui planners do, while also opening up new areas
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre faticidade e validade. for inquiry in academic policy studies.") FISCHER, Frank, FORESTER,
Tradução Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, John. The argwnentative tum in policy analysis and plmmi11g. Durham,
1997. 2v. p. 20-21. London: Duke University Press, 1993. p. 2.

6 7
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ____ ANEXO A__- PROJETO DE PESQUISA VERTENTE SOCIOLÓGICO-JURÍDICA 185
----
possível, de elementos comparativos obtidos junto a outras Casas 5VARIÁVEIS
Legislativas estaduais. Dentro desses contornos espacial e tempo-
ral, o estudo se volta especificamente para duas modalidades da 5.1 Principais
produção legislativa: a tradicional, que se materializa através da ini- .Duas variáveis principais permitem a operacionalização da pes-
ciativa parlamentar no processo legislativo, e a inovadora, que pode qmsa, sendo que cada uma delas pode ser abordada através de
ser acompanhada através de outras ações -- especialmente as relacio- vários indicadores de natureza diferenciada.
nadas com a participação da sociedade na formulação de proposi- A primeira variável diz respeito ao primeiro termo da hipótese e
ções legislativas. está relacionada ao próprio papel do Poder Legislativo, que, tanto na
definição constitucional de competências quanto no seu conteúdo
3.2 Justificativa teórico, apresenta-se de formas distintas em momentos históricos
diferenciados. Alguns indicadores podem facilitar o estudo dessa
A escolha da ALEMG é imposta por duas ordens distintas de variável:
fatores. Em primeiro lugar, condições objetivas de pesquisa relati-
vas às limitações de tempo e orçamento, por exemplo, ao lado da Contexto jurídico e institucional: limitações existentes nas
facilidade de acesso a fontes primárias - apontam para essa escolha. Constituições Federal e Estadual, com respeito ao próprio
Em segundo lugar, não se pode negar o fato de que, dentro do sentido do Federalismo no Brasil e à relação entre os Pode-
universo dos Legislativos estaduais, a ALEMG tem se destacado res, com especial ênfase nas delimitações de competências e
nas regras de iniciativa no processo legislativo;
pela busca de inovações e de melhoria de qualidade, constituindo,
dessa forma, um interessante objeto de estudo. Contexto teórico: a norma jurídica como fundamento para a
O corte temporal propõe como termo inicial a legislatura que se estabilização social, em seus aspectos racional e ético, segun-
inicia em 1991 (eleita em 1990). Trata-se daquela que vive o período do perspectivas distintas no período moderno~ pós-moderno.
imediatamente posterior ao momento de redemocratização do país e A segunda variável está relacionada com a produção da "política
que deve regulamentar as diretrizes aprovadas na Constituição mi- positiva" e pode ser acompanhada através de indicadores de nature-
neira de 1989. Deve-se lembrar ainda que, a partir de 1990, são za predominantemente empírica:
implementadas, no âmbito administrativo da Assembléia, ações con- • Produção legislativa "tradicional" (proposições aprovadas);
cretas no sentido de se dotar a Casa de elementos facilitadores de
novas formas de atuação parlamentar. Na legislatura subseqüente, Produção legislativa "inovadora" (participação da sociedade,
seminários legislativos, audiências públicas);
que se estende de 1995 a 1999, podem ser acompanhados os desdo-
bramentos do processo, em várias de suas dimensões. Relação entre proposições - ou emendas - oriundas do
Legislativo e as do Executivo, sancionadas ou vetadas.
4HIPÓTESE
5.2 Variáveis intervenientes
O processo de redemocratização e de reformulação do Estado Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que a própria definição do
não foi acompanhado pela correspondente mudança de paradigma que sejam "políticas públicas" representa uma das mais importantes
na atuação dos Legislativos estaduais, que continuam presos ou a variáveis para a pesquisa. Dessa definição dependem várias das
práticas clientelistas ou ao que Weber considera "política negativa". implicações e conclusões a serem extraídas. Outras variáveis, tam-
A Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais representa uma bém importantes, não podem ser esquecidas, especialmente quando
exceção nesse contexto, na medida em que tem pautado sua atuação se leva em conta o fato de que a atuação do Poder Legislativo es-
por padrões inovadores de interação com a sociedade, facilitados tadual está imersa em um contexto marcadamente político, no senti-
por uma ampla reorientação interna das atividades administrativas e do estrito do termo. Algumas variáveis possíveis podem ser arrola-
técnicas de suporte ao processo legislativo. das, de forma preliminar:
atuação do Poder Executivo, em momentos distintos do pro-
cesso legislativo - iniciativa, emenda e veto;

8
9
ANEXO A PROJETO DE PESQUISA VERTENTE SOCIOLÓGICO-JURÍDICA 187
186
-·--·--·---
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
·--------- ----
• estrutura interna (burocracia) da ALEMG: quanto a esse as- • definição de conceitos a serem utilizados na pesquisa;
pecto, deve-se ressaltar a importância da adequação dos qua- reconstrução do contexto histórico recente;
dros técnicos para que se tenha a reformulação das práticas
levantamento estatístico: produção legislativa;
tradicionais. Esse ponto certamente será bastante desenvol-
vido no estudo, especialmente no que se refere à antiga dis- análise qualitativa: questionários fechados sobre a atuação
cussão entre os papéis do técnico e do político no governo. daALEMG;
• composição político-partidária da Casa Legislativa, nas di- análise qualitativa em segundo nível: questionários abertos e
versas legislaturas, e suas implicações na formulação de pro- entrevistas.
posições.
7 CRONOGRAMA FÍSICO
6METODOLOGIA
1. º semestre 2.º semestre 3.º semestre 4. º semestre 5.º semestre
A compreensão da ação humana deve levar em conta a sua inser- 2001 2001 2002 2002 2003
ção em um determinado contexto histórico ou social específico. As ----- ---
Revisão Revisão Levantamento Montagem Apresentação
várias possibilidades de atuação estão circunscritas por contextos
bibliográfica bibliográfica de dados preliminar do texto
diversos - naturais, econômicos e culturais - que lhes completam o
empíricos do texto da final
seu significado. Assim, deve-se delimitar, de início, o ambiente em monografia
que se desenvolve uma determinada ação humana, individual ou
governamental, e, nos termos de Kuhn, perceber a sua pertinência a Síntese e Levantamento Discussão e Defesa do
um determinado paradigma dominante. crítica de de dados revisão texto final da
Para um estudo da realidade política, deve-se partir do geral para aspectos da comparativos do texto monografia
bibliografia preliminar
o particular, estudando tanto o contexto amplo quanto as caracterís- -·
ticas intrínsecas do objeto. A seguir, deve-se procurar reconstruir a Definição dos Exame e Levantamento Análise
realidade, nela incorporando as características de ambas as situa- conceitos síntese dos de dados qualitativa
ções geral e particular. As esferas são, de certa forma, concêntri- fundamentais dados obtidos empíricos dos dados
cas: o processo de produção legislativa está inserido no processo obtidos
político nacional, que, por sua vez, insere-se em um determinado
modelo histórico de Estado.
A utilização de uma perspectiva dialética, em que as categorias de 8BIBLIOGRAFIA PRELIMINAR E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁ-
tempo e movimento e os conceitos de totalidade, totalização e supe- FICAS
ração são fundamentais, não afasta, entretanto, o recurso a procedi-
mentos empíricos específicos, indispensáveis para o conhecimento ANDERSON, James E. Public policy-making. London: Thomas Nel-
da base de dados concretos da qual serão extraídas as relações. son and Sons, 197 5.
Ao lado dessa perspectiva, não se pode esquecer que a pesquisa BEZERRA, Marcos Otávio. Em nome das "bases": política, favor e
empírica requer a construção e a utilização de indicadores precisos, dependência pessoal. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1999.
para que não se t.orne mera divagação sem sentido. Assim, parte BOBBIO, Norberto. Dh-eito e estado no pensamento de Enianuel
relevante do trabalho consiste em definir e aplicar métodos quanti- Kant. 2. ed. São Paulo: Mandarim, 2000.
tativos de apuração dos fatos estudados, para que, num segundo
DYE, Thomas. Understanding public policy. 4. ed. New York: Prentice
momento, se possa proceder ao exame qualitativo das relações exis-
Hall, 1972.
tentes.
FIGUEIREDO, Argelina Cheibub, LIMONGI, Fernando. Executivo e
Procedimentos:
Legislativo na nova ordem constitucional. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
• levantamento bibliográfico: listagem, cruzamento e crítica;

10 11
188 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
-·---·-- ------·

FISCHER, Frank, FORESTER, John. The argumentative tum in policy


analysis and planning. Durham, London: Duke University Press, ANEXO B
1993. 327p.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia; entre faticidade e vali- PROJETO DE PESQUISA VERTENTE
dade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
DOGMÁTICO-JURÍDICA
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes,
1994.
LOWY, Theodore. Decison making vs. policy making: toward an
antidote for technocracy. Public Administration Review. [s.l.], v. 30,
n. 2, May/June 1970.
MONTESQUIEU, Charles-Luís de Secondat, Barão de la Brecte et de.
Do espírito das leis. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.
PASCAL, Jan. A renovação do trabalho parlamentar da Assembléia
Nacional francesa. Cadernos da Escola do Legislativo. Belo Hori-
zonte, Assembléia Legislativa de Minas Gerais, n. 5, p. 5 .. 18, j an./jun.
1997.
SCWARTZMAN, Simon. Bases do autoritarismo brasileiro. 2. ed.
Rio de Janeiro: Campus, 1982.
WEBER, Max. Parlamentarismo e governo numa Alemanha
reconstruída. São Paulo: Abril Cultuai, 1980. (Os pensadores, 12)

12
UNIVERSIDADEFEDERALDEMINASGERAIS
FACULDADE DE DIREITO

LUDMILLA SANTOS DE BARROS CAMILLOTO

DENÚNCIAFSPONTÂNEA:
Exegese e aplicação do art. 138 do Código Tributário Nacional
frente ao entendimento do Superior Tribunal de Justiça

/Projeto de pesquisa apresentado pela


aluna Ludmilla Santos de Barros
Camilloto à disciplina de Metodologia
da Pesquisa Jurídica do Programa de
Pós-Graduação da Faculdade de Direi-
to, da Universidade Federal de Minas
Gerais - UFMG, ministrada pela Profa.
Miracy Barbosa de Sousa Gustin.

Belo Horizonte
2005
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ANEXO B - PROJETO DE PESQUISA VERTENTE DOGMÁTICO-JURÍDICA 193

RFSUMO
SUMÁRIO
A abrangência do instituto da denúncia espontânea, expressa no
artigo 138 do Código Tributário Nacional, é questão amplamente discu-
tida entre doutrinadores e especialistas do Direito Tributário. Tal dis-
cussão acontece quanto à sua exegese e aplicabilidade, tendo em vista 1 DEFINIÇÃO DO TEMA-PROBLEMA..................................... 4
que o Superior Tribunal de Justiça vem decidindo, na maior parte das
vezes, em detrimento do contribuinte que se autodenúncia, bem como 2 OBJETIVOS ............................................................................ 5
vem exigindo requisitos não necessários para a configuração do insti-
2.1 Objetivo geral...................................................................... 5
tuto em apreço.
2.2 Objetivos específicos .......................................................... 6
O objetivo precípuo desta pesquisa está em demonstrar a finalidade
do instituto da denúncia espontânea assim como investigá-lo minucio-
samente, a fim de verificar a possibilidade de sua aplicação diante de 3 JUSTIFICATIVA ...................................................................... 6
três questões corriqueiras no mundo jurídico, quais sejam, quando o
contribuinte autodenunciante é infrator de obrigação acessória; quan-
4 IllPÓTESE ................................................................................ 8
do o mesmo pede o parcelamento do débito fiscal juntamente com sua
denúncia; e ainda quando o tributo não pago é sujeito ao lançamento
4.1 Variáveis
por homologação.
Para a persecução deste fim, será adotado como marco teórico a 5 ME1'0DOLOGIA ..................................................................... 9
afirmação feita pelo professor italiano Emilio Betti (1990) acerca do pro- 5.1 Marco teórico ...................................................................... 9
cesso teleológico que deve ser seguido quando da interpretação de
5.2 Procedimentos metodológicos ............................................ 11
qualquer norma jurídica, baseando-se na finalidade desta para que haja
uma consonância entre o pretendido pela ratio legis e o fato hipotético 5.3 Dados da pesquisa ............................................................... 12
por ela regulado.
O caminho metodológico percorrerá a análise de conteúdos doutri- 6FASESDAPESQUISA ............................................................. 12
nários, bem como pareceres e legislações, e especialmente das jurispru-
dências do Superior Tribunal de Justiça, buscando assim, retirar os
pontos fundamentais de cada posicionamento, perquirindo-os e apre- 7 CRONOGRAMA FÍSICO ........................................................ 14
sentando, por fim, a solução obtida.
Apresentar-se-á como hipótese a possibilidade da configuração da 8 BIBLIOGRAFIABÁSICAPRELIMINAR .............................. 15
denúncia espontânea e conseqüente perdão da multa, quando o cerne
da questão for qualquer dos casos expostos. Ou seja, a hipótese será a
de cabimento da denúncia espontânea quando da infração à obrigação
acessória, quando houver pedido de parcelamento e, ainda, quando se
tratar de tributo sujeito ao chamado lançamento por homologação.
194 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ANEXO B - PROJETO DE PESQUISA VERTENTE DOGMÁTICO-JURÍDICA 195
·~~~~~~~~~~--~~~

------·----·---. ---
1 DEFINIÇÃO DO TEMA-PROBLEMA 20BJETIVOS

Reza o art. 138 do Código Tributário Nacional, acerca do instituto 2.1 Objetivos gerais
da denúncia espontânea:
Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia a) Demonstrar a finalidade, extensão e aplicabilidade do instituto
espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, da denúncia espontânea, partindo de uma interpretação teleológica
do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, do art. 138 do CTN.
ou do depósito da importância arbitrada pela autori- b) Propor a possibilidade de sua permissão quando da ocorrência
dade administrativa, quando o montante do tributo de infração à obrigação acessória, quando do pedido de parcelamento
dependa de apuração. da dívida e ainda, quando se tratar de tributo sujeito ao lançamento
Parágrafo único. Não se considera espontânea a de- por h~:n?logação que, destarte, eximiria o contribuinte da sanção
núncia apresentada após o início de qualquer proce- pecumaria.
dimento administrativo ou medida de fiscalização, re-
lacionados com a infração. (BRASIL, 2005). 2.2 Objetivos específicos
O problema que se apresenta é se existe a possibilidade de con- a) Analisar em profundidade o instituto da denúncia espontânea
trariar a exegese do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no que tange apontando seus elementos constitutivos.
à aplicação do art. 138 do Código Tributário Nacional (CTN), em . b) E~ur~er~r os requis~tos, consagrados na norma em questão,
especial quando se tratar de infração à obrigação acessória, parcela- imprescmd1ve1s para a aplicação do permissivo legal.
mento e lançamento por homologação.
c) Levantar e interpretar dados jurisprudenciais examinando as
Discute-se nesta pesquisa a real extensão do instituto da denún-
~ecisõ~s proferidas pelo Poder Judiciário, especialmente, pelo Supe-
cia espontânea, buscando sua finalidade, principalmente quando do rior Tribunal de Justiça (STJ).
surgimento das seguintes situações:
d) Realizar estudo comparado das doutrinas especializadas
1) se a norma em questão abrange além das infrações à
concernentes à questão.
obrigação principal, também aquelas infrações às obri-
gações acessórias, elidindo a responsabilidade e fican- e) Identificar princípios constitucionais e tributários que funda-
do o contribuinte isento de multa quando descumprir mentem o art. 138 do CTN.
prescrição legislativa que impõe a prática ou abstenção " f) Fundamentar ~ possibilidade de aplicação da denúncia espon-
de ato, ou seja, deveres de fazer ou não fazer exigidos tanea nos casos de mfração à obrigação acessória, parcelamento da
no interesse da arrecadação e fiscalização; dívida e tributos sujeitos ao lançamento por homologação.
2) se quando o contribuinte infrator, ao se autodenunciar,
pedir o parcelamento de sua dívida, ficará a salvo da 3 JUSTIFICATIVA
sanção pecuniária. Ou seja, se só merece o amparo do
instituto aquele que realiza o pagamento integral do A pesquisa .proposta se faz necessária pela divergência de opiniões
tributo devido, além dos juros de mora e correção mo- entre os doutrinadores selecionados e o Superior Tribunal de Justi-
netária ou do depósito; ça, uma vez que este último vem decidindo em detrimento do contri-
3) se é possível a aplicação da denúncia espontânea em buinte infrator que se utiliza do beneplácito do art. 138 do CTN para
relação aos tributos sujeitos ao lançamento por homo- se autod.enun~iar e ter sua responsabilidade excluída, ficando, por
logação, quando o débito fiscal estiver devidamente consegumte, isento do pagamento de multa.
declarado ou registrado nos documentos e livros fis- Tal órgão julgador, vem realizando interpretações extensivas do
cais do contribuinte. Ou seja, se o contribuinte merece artigo em tela, esquecendo de inseri-lo no contexto em que se encon-
o perdão, ficando isento de multa, quando realizar o tra, através da interpretação sistemática e, principalmente, se esqui-
pagamento em atraso de tributo por ele declarado, an-
vando de analisá-lo teleologicamente, buscando, assim, a finalidade
teriormente à fiscalização da Fazenda Pública. da norma.
ANEXO B PROJETO DE PESQUISA VERTENTE DOGMÁTICO-JURÍDICA
196

Destarte, a justificativa para o presente trabalho está em apurar o Deste modo, o que se busca é a real extensão do benefício aos
sentido e akance da denúncia espontânea, apresentando os requisi- contribuintes que se denunciam espontaneamente, partindo de uma
tos realmente imprescindíveis para sua configuração, utilizando, para interpretação teleológica para verificar sua finalidade e estabelecer
tanto da interpretação teleológica, não deixando de lado a interpreta- seus limites.
ção sistemática. É com base nesses momentos da interpretação, que
se pode dizer que o STJ está malferindo o fim inspirador da norma, 5.1 Marco teórico
deturpando sua finalidade e acrescentando-lhe requisitos inexistentes O Professor Emilio Betti ( 1809-1968), jurista e historiador do direi-
para sua aplicação. to, preocupou-se com a construção de uma teoria da interpretação
Em suas decisões, de acordo com as três questões apresentadas jurídica que tem por objetivo garantir o êxito epistemológico da ativi-
no problema exposto, o STJ tem praticamente levado o instituto da dade interpretativa. Para tanto elaborou uma metodologia que privi-
denúncia espontânea à sua completa extinção, uma vez que se legia a interpretação teleológica para alcançar o sentido do orde-
posiciona contrariamente à sua aplicação quando do surgimento namento jurídico. O marco teórico no qual a pesquisa se baseia é a
das situações em que basicamente se resume a provável utilização assertiva feita por Betti (1990, p. 3):
do benefício concedido pelo legislador.
Um processo teleológico voltado a transformar o real
4HIPÓTESE (a realidade) segundo certos fins se verifica em qual-
quer gênero das atividades práticas: ele é especial-
Considerando a teoria desenvolvida por Emílio Betti (1990) acer- mente evidente naquelas atividades éticas, onde as
ca da interpretação teleológica, afirma-se ser possível interpretar o ações se colocam a serviço dos ideais superiores, que
instituto da denúncia espontânea diferentemente do STJ, podendo somente por seu valor possam atuar; mas não menos
aplicá-la quando do surgimento de qualquer dos casos apresenta- evidente o processo normativo do direito se realiza
dos no problema exposto, quais sejam, quando houver infração à com base no processo teleológico, enquanto discipli-
obrigação acessória, parcelamento de dívidas tributárias ou tributos na da vida das relações, onde a típica hipótese de fato
sujeitos ao lançamento por homologação. (norma) relaciona-se com situações correspondentes
Se o legislador permitiu que o contribuinte ao se denunciar espon- segundo certos critérios de valorações comparativas
taneamente tivesse sua responsabilidade elidida, é porque assim o dos interesses em conflito. 1
quis, ou seja, esta é a ratio legis, não podendo o intérprete estender O pensamento acima transcrito deixa claro que o processo de
ou restringir a nonna segundo convicções distintas do conteúdo da interpretação ocorrido nas ciências éticas (aquela voltadas para uma
lei. O legislador teria ressaltado, expressamente no artigo, que se trata- ação prática) deve ser permeado pela realização de suas finalidades.
va de infração à obrigação principal, ou ainda, que o pagamento deve-
Desta forma, a interpretação deverá estar voltada para cumprimento
ria ser realizado de forma integral se fosse contrário à aplicação da
da finalidade, ou seja, do valor que norteia determinada ação prática.
denúncia espontânea quando o contribuinte cometesse infrações à
obrigação acessória ou ao parcelamento, por exemplo. Para o aplicador do direito o problema da segurança jurídica sur-
ge na investigação (histórica) dos interesses (valores) protegidos
4.1 Variáveis pela norma jurídica. Por outro lado, na hora da adaptação das
Apresenta-se corno variável independente o conceito normativo valorações iniciais (primeiro momento) à situação social em que a
de denúncia espontânea. São variáveis dependentes a obrigação
acessória, o parcelamento e o lançamento por homologação. Po-
dem ser adotados como indicadores os posicionamentos do STJ, a
"Un processo teleologico rivolto a trasformare il reale secondo certi fini
interpretação teleológica e entendimentos de doutrinadores brasi- si verifica in ogni genere di attività pratica: specialmente evidente esso e
leiros e estrangeiros acerca do instituto da denúncia espontânea. nell'etticità, dove l'azione se mette ai servizio di superiori ideali, che solo
per suo ministero possono attuarsi (§§ 7-8) (7); ma non meno evidente
5METODOLOGIA esso é nel processo normativo dei diritto, in quanto disciplina della vita di
relazione, che a típiche ipotesi di fatto ricollega situazíoni corrispondenti
O art. 138 do CTN, doutrinariamente chamado de "ponte de ouro", secondo certi criteri di valutazione comparativa degli interessi in conflito
vem despertando dúvida acerca de sua extensão e aplicabilidade. (8)." (BETTI, 1990, p. 3). -1
I
108 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA 109
------- ANEXO B - PROJETO DE PESQUISA VERTENTE DOGMÁTICO-JURÍDJCA

norma deve ser aplicada, surge a necessidade da correção da deci- 6 FASES DA PESQUISA
são e, principalmente, do respeito à finalidade do disposto na norma.
Logo, os métodos de interpretação consagrados por Betti ( 1990) são FASE 1 - Conhecimento do objeto de estudo e redefinição da inves-
o teleológico e o histórico. tigação:
A observação da finalidade e dos valores de determinada ativida-
• aprofundamento das pesquisas bibliográficas e das legislações;
de prática está presente, de fonna essencial, na Ciência do Direito.
reelaboração e detalhamento do piano de pesquisa;
Deste modo, o processo de aplicação do direito deverá obedecer a
um processo de interpretação que se voltará para a teleologia da • organização do tema de estudo;
norma a ser seguida. levantamento bibliográfico;
• análise da literatura especializada acerca de Direito Tributário
5.2 Procedimentos metodológicos e mais especificamente sobre denúncia espontânea;
A pesquisa que se propõe pertence à vertente jurídico-teórica, • discussão com o orientador e com pares para análise em pro-
por basear-se no conceito, interpretação e aplicação de uma nor- fundidade do objeto de pesquisa.
ma jurídica, que está inserida no art. 138 do Código Tributário FASE 2- Investigação, interpretação e qualificação do marco teóri-
Nacional. Por conseguinte, a pesquisa segue o tipo metodológico co do estudo:
(ou de investigação jurídica) chamado jurídico-exploratório, atra-
vés da análise do instituto da denúncia espontânea com sua de- " organização e agrupamento de dados bibliográficos coletados
composição em diversos aspectos, e também o tipo jurídico-pro- na fase anterior;
positivo, uma vez que parte do questionamento de uma norma • análise crítico-interpretativa e de qualificação dos elementos a
com o intuito de propor, ainda que audaciosamente, certas mu- serem aprofundados pela pesquisa;
danças no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, em prol " aprofundamento do marco teórico;
do contribuinte. • confirmação ou refutação da hipótese levantada pela pesquisa;
De acordo com as técnicas de análise de conteúdo, afirma-se que • discussão com o orientador.
se trata de uma pesquisa teórica, de modo que o procedimento ado-
tado para que se demonstre que é possível a aplicação do benefício FASE 3 - Discussão e revisão de textos:
da denúncia espontânea aos contribuintes que se auto-denunciam é
• revisão de conteúdo e checagem das proposições iniCiais;
a análise de conteúdo de textos doutrinários, pareceres, normas,e
resoluções. " redação preliminar da dissertação;
Far-se-á também um levantamento de dados jurisprudenciais, • discussão do texto preliminar com o orientador;
analisando as posições do Superior Tribunal de Justiça, bem como FASE 4 - Redação do relatório final da pesquisa e divulgação dos
perquirindo as características e elementos apontados por este para resultados obtidos:
seu posicionamento desfavorável ao contribuinte que se utiliza do
permissivo legal. • discussão com o orientador;
• redação final da dissertação;
5.3 Dados da Pesquisa • revisão de texto e edição final;
Quanto à natureza dos dados, são dados primários da pesquisa • defesa da dissertação perante a banca especializada;
as leis, resoluções e demais normas, bem como a jurisprudências do
" divulgação e publicação dos resultados obtidos.
STJ relacionadas com o assunto; e são dados secundários da pes-
quisa as doutrinas referentes ao Direito Tributário e sua interpreta-
ção, além das específicas que abordam a denúncia espontânea, e as
legislações comentadas.
200 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
-•• ..- • n _ . . _ , __ ._....__,,.....,..~-•·----,,..,.._.___,__ ... _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ••-~---:---·--------

ANEXO B - PROJETO DE PESQUISA VERTENTE DOGMÁTICO-JURÍDICA

7 CRONOGRAMA ~isICO
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 1996.
Etap<rs-' Atividades 2005 2006
jan _I maio 1 set
COÊLHO, Sacha Calmou Navarro. Curso de Direito Tributário Bra-
1 Í•lll 1 1n<1io 1 set
r<rse 1 Connecunento <lo OllJeto <1e tst11<10 e sileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. 801 p.
Redefiniçao da h1vesti9aç;io. ____ . Infrações tributárias e suas sanções. São Paulo: Rese-
1) aprofundamento das pesquisas bibliográficas, nha Tributária, 1982.
2) levantamento bibliográfico;
3) reelaboração do plano de pesquisa, ____ . Comentários ao Código Tributário Nacional: (Lei n.
4) análise da literatura especializada a cerca da 5172, de 25. l 0.1966). ln: NASCIMENTO, Carlos Valder do (Coord.).
denúncia espontânea, _____
5) elaboração de relatório parcial e discussão com Comentários ao Código Tributário Nacional. 4. ed. Rio de Janeiro:
o orientador. Forense, 1999.
Fase2-111vesti9açao. inteqHetaçao e
<1ualificaç."\o do 111<11co teórico do estudo.
COSTA, Alexandre Freitas. A denúncia espontânea. Revista da ABDT.
São Paulo, n. 53, p. 249-265,jun. 2000.
1) organização e agrupamento. de dados
bibliográficos coletados na fase anterior, COSTA JÚNIOR, Paulo José; DENARI, Zelmo. Infrações tributárias
2) análise crítico-interpretativa e de qualificação
dos elementos a serem aprofundados pela
e delitos fiscais. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 167 p.
pesquisa; FANUCCHI, Fábio. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed.
3) aprofundamento do marco teórico,
4) confirmação ou refutação da hipótese levantada São Paulo: Resenha Tributária, 1975.
pela pesquisa;
5) elaboração de relatório parcial e discussão com FLÓRIDO, Luiz Augusto lrineu; BARROS, Afonso Cláudio Aquino
o orientador. de; BAZHUNI, Marco Antônio. Curso de Direito Tributário. 6. ed.
Fase 3 - Dis cuss;io e revis fio de textos. Atualizada de acordo com a Constituição de 1988. Rio de Janeiro:
1) revisão de conteúdo;
2) checagem das proposições iniciais, Líber Júris, 1992. 239 p.
3) revisão e análise da bibliografia levantada;
4) elaboração de relatório parcial e discussão com FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Denúncia espontânea e parcelamento de
o orientador débitos. Revista daABDT, São Paulo, n. 76, p. 107-120, mar. 2001.
F.lSe 4 - Redaç5o do texto final da 1>es<1uisa e GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do Direito. 30.
div11l9açao dos 1es11lt<idos obtidos. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, 459 p.
1) análise prelimi:1a~ dos resultados ~btidos; ..
2) análise prehm1n ar dos conceitos ana ht1cos NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 13. ed. São
obtidos Paulo: Saraiva, 1994. 346 p.
3) discussão do texto preliminar com o orientador;
SILVA, Sérgio André R. G. da. Denúncia espontânea e lançamento
F.lSe 5 - Elaho1t1çao do ielatório final em f<lSe
definitiv.1 por homologação: comentários acerca da Jurisprudência do STJ.
Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 98, p. l 06-112,
nov. 2003.
TAVARES, Alexandre Macedo. O parcelamento do débito fiscal es-
8 BIBLIOGRAFIA BÁSICA PRELIMINAR pontaneamente confessado à luz do novo art. 155-A, § 1º,do Código
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 4. ed. Atualizada Tributário Nacional. Revista Dialética de Direito Tributário, São
por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2001. Paulo, n. 71, p.18-24, ago. 2001.
1063p.
BE'ITI, Emilio. Teoria Generale delln bzte1pretazione. I. Milano Dott:
A Giuffre Editore, 1990.
BONITO, Rafhael Frattari. Denúncia Espontânea e tributos sujeitos
ao "lançamento por homologaçcio ": novo requisito na jurispru ..
dência do STJ? 2005 (não publicado).
BRASIL. Código Tributário Nacional. Disponível em: <www.planalto.
gov.br/legislação/códigos> Acesso em: nov. 2005. ·.1
•!
ANEXOC
EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO
PARA ACOMPANHAMENTO
DE EGRESSOS

._(
f
Fundação Educacional Monsenhor Messias
Faculdade de Direito de Sete Lagoas

Acompanhamento de Egressos
Curso de Graduação em Direito da FADISETE

Convênio:
UFMG/Faculdade de Direito!NIEPE
FEMM/Faculdade de Direito/Coordenação Pedagógica

Fevereiro
1

xrn J

J
206 (RE)PENSANDO A PESQUISAJlJRÍDICA
ANEXO C - EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ... 207
---···--------·---.. - ~~~~~-~~~~~

Não escrever
Fundação Educacional Monsenhor Messias FACULDADE DE DIREITO DE SETE LAGOAS na margem
Faculdade de Direito de Sete Lagoas Questionário de acompanhamento de egressos 1 direita
Ano de remessa: 2001 DDDD
Acompanhamento de Egressos DADOS PESSOAIS Recebido em:
Curso de Graduação em Direito da FADISETE
Q. l.Sexo: 1. D Masculino 2. D Feminino
_!_!_
Instruções para preenchimento do Questionário Q. 2. Idade: _ _ anos.
Q. 3. Estado Civil: 1. D Solteiro
As inf01mações solicitadas neste questionário referem-se a 2. D Casado, ou outra forma de união.
seu histórico escolar e a seu histórico ocupacional, além de 3. D Desquitado, divorciado ou viúvo.
alguns dados pessoais. ~~·~-+--~~~~---!

A tenção: Procure caracterizar da frnma mais precisa possível a


Responda, colocando no quachinho à direita das alternativas, ocupação e o cargo, bem como as principais tarefas
o código correspondente àquela ou àquelas escolhida(s). As
desempenhadas.
questões são, em sua maimia, pré-codificadas.
Exemplo:
Exemplo: Indique em que medida os fatores abaixo pesaram
como dificuldade para você concluir seu curso. Responda to- Ocupação: Professor de ensino de 2º Grau.
dos os itens de acordo com os códigos seguintes: Atividades: Ministrar aula; participar de reuniões de planejamen-
O= Nada 1 =Pouco 2 =Bastante 3 =Muito to dos cursos de programas; elaborar ou selecionar o
material didático.
Ocupação: Assessor jurídico de empresa.
1. [II poucos recursos para custear o curso
Atividades: Acompanhar ações na área trabalhista; propor no-
(mensalidades, livros e outros materias) vas regulamentações internas.
2 [IJ professores desestimulantes Caso possua mais de um emprego, refira-se àquele ao qual dedica
mais tempo.
3. [!] desinteresse pelo curso Q. 4. Ocupação que seu pai (ou responsável) exerce ou exerceu por
4. dificuldade de aprovação em determinadac:; disciplinas mais tempo:
5. mdificuldades de conciliar o curso com outras atividades
(trabalho fora de casa, obrigações domésticas, etc.)
Descreva brevemente as atividades desempenhadas ou o cargo ocupado:
DDDDD

6. ITJ falta de base no curso de nível médio


Q. 5. Indique o nível de escolaiidade dos pais ou responsáveis:
7. D outro ------------~---------~
Pai D Mãe D
• Em outros casos, solicita-se apenas a indicação das alternati- 1. analfabeto
vas que se aplicam. A resposta então será dada marcando com 2. primário incompleto (ou alfabetizado)
um "x" todas as escolhidas. 3. p1imáiio completo
4. ginasial incompleto
Exemplo: Por que você não está trabalhando? (Assinale 5. ginasial completo
todas as escolhidas que se aplicam) 6. colegial, técnico ou nonnal incompleto
1. lXJ Não preciso trabalhar. 7. colegial, técnico ou nonnal completo
2 D Estou estudando e desejo dedicar-me só aos estudos 8. superior incompleto
3. D Tenho que cuidar de minha família 9. supe1iorcompleto
4. D Os empregos que poderia conseguir são pouco atraentes. 1
Questionário elaborado por Miracy B. S. Gustin e Vanessa Paiva.
5. D Fui despedido do emprego que tinha
208 (RE)PENSANDOAPESQUISAJURÍDICA ANEXC? C - EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ... 209
----------------

HISTÓRICO ESCOLAR Q. 1O. Indique em que medida os fatores abaixo pesaram como difi-
Dados de 2º grau: culdade para você concluir seu curso. Responda todos os itens de
Q. 6. Escreva o nome e o local da instituição onde você obteve o acordo com os códigos seguintes:
diploma de 2° Grau: O = Nada 1= Pouco 2 = Bastante 3 = Muito
Local: 1. D poucos recursos para custear o curso
Instituição: (mensalidades, livros e outros materiais)

1. D Particular 2. D Pública 3. D Comunitária 2. o professores desestimulantes


3. D desinteresse pelo curso
Dados da graduação 4. D dificuldade de aprovação em detenninadas disciplinas
Q. 7. Em que turno freqüentou a maior parte do seu curso? 5. O dificuldades de conciliar o curso com outras atividades
1. DDiumo 2. D Noturno (trabalho fora de casa, obrigações domésticas, etc.)
6. D falta de base no curso de nível médio
Q. 8. Data de início e conclusão do curso de graduação:
7. O outro
Início: (ano) Conclusão: ______(ano)
Atenção: dentre os fatores em que você assinalou o código
"3" (muito) envolva com um círculo o quadrinho da
Q. 9. Indique em que medida as razões abaixo influenciaram a esco- alternativa que julga mais importante.
lha de seu curso de graduação. Responda cada item de acordo com
Q. 11. Indique como você se mantinha durante o curso universitá-
os códigos seguintes:
rio. Responda cada item de acordo com os códigos seguintes:
O = Nada 1= Pouco 2 = Bastante 3 = Muito O = Não se aplica 1 = Meio secundário 2 = Meio
1. D adquirir conhecimentos específicos principal
2. D aumentar cultura geral 1. o apoio dos pais ou responsáveis
3. D incentivodafamiliaouarnigos 2. D apoio do cônjuge
4. D conseguir promoção no emprego 3. D bolsa de estudos
5. D maiores oportunidades no mercado de trabalho 4. D trabalho
6. D possibilidade de conseguir maior renda nesta cai.reira 5. Ocréditoeducativo
7. D ausência de alternativa melhor no local onde morava 6. D bolsa de pesquisa/estágio

8. D maior facilidade para ingressar no curso 7. D outras fontes (especifique)

9. D por já exercer atividades relacionadas ou semelhantes Q. 12. Dentre as asse1tivas abaixo, assinale com um '!x" todas as que
10. D não podia deixar de trabalhar durante o curso se aplicam ao seu curso:
1. D Concluí outro curso universitário. Qual? - - - · · - - - -
11. D menor custo para realização do curso
2. D Estou realizando outro curso universitário. Qual? _ __
12. D outra. Especifique: - - - - - - - - - - - - - - -
3. o Concluí um curso de aperfeiçoamento (mfuimo de 180 horas)
A tenção: caso você assinale mais de uma razão com o código
"3" (muito), envolva com um círculo o quadrinho da 4. D Estou fazendo curso de aperfeiçoamento
alternativa que julga mais importante 5. D Concluí curso de especialização (mínimo 360 horas)
'--~~-~~------=--=---=---_:::._-·~-~--·~--~-'-~--~-'
210 (RE)PENSANDOAPESQUISAJURÍDICA _ _ _ _ _ _ _ANEXO C - EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ... 211
::::::::::=====-·~~~~~-

6. D Estou fazendo curso de especialização Q. 16. Quanto tem po você levou para conseguir seu 1. º trabalho
após concluir o curso universitário?
7. D Concluí curso de mestrado. Área: 1. O Já estava trabalhando
8. D Estou fazendo curso de mestrado. Área: 2. DNaépocanão estava procurando emprego
9. D Estou fazendo curso de doutorado. Área: 3. D Ainda não encontrei emprego
4. D Menosde2me ses
1O. D Não realizei outros cursos
5. D 2a6meses
11. D Outra Especifique: 6. D 7mesesa 1 ano
7. D 1 a2anos
IDSTÓRICO OCUPACIONAL 8. D Maisde2anos
Se você nunca trabalhou, passe para a QUESTÃO 31 Durante
Q.17.Local ondetI·abalha ou trabalhou: a maior parte Primeiro
emprego
Emprego
atual
Atenção: Procure caracterizar da fonna mais precisa possível a 1. Governo Federal (Adm. Direta, do curso após ou mais
ocupação e o cargo, bem como as principais tarefas Fundação e Autarquia) a conclusão recente
do curso
desempenhadas. 2. Governo Estadualou Municipal
Exemplo: (Adm., Fund. e A utarquia)
3. Empresa Pública ou sociedade de
Ocupação: Professor de ensino de 2° Grau.
economia mista
Atividades: Ministrar aula; participar de reuniões de planeja- 4. Empresa privada o o o
mento dos cursos de programas; elaborar ou sele- 5. Sociedade ou es critório de autônomos
cionar o material didático. 6.Autônomo
Ocupação: Assessor jurídico de empresa. 7. Outro. Especificar
Área: _ _
Atividades: Acompanhar ações na área trabalhista; propor no- -
vas regulamentações internas. Q.18. Setorondeexerce ou exerceu a
Caso possua mais de um emprego, refira-se àquele ao qual dedica mais tempo atividade principal
1. Agricultura e coITelatas
Indique a ocupação principal exercida em três momentos de sua vida 2. Indústria e cm~e latas
profissional: durante o curso, logo após de fonnado e atualmente. 3. Constiução civi1
Descreva brevemente as funções e atividades desempenhadas. Se 4. Serviços públicos
não mudou de trabalho depois de fonnado escreva "o mesmo". 5.Comércio
Q. 13. Ocupação durante a maior paite do curso: 6. Instituições de Crédito e correlatas
7. ServiçosdeAloJ runento e Alimentação
Funções e atividades desempenhadas e/ou áreas de exercício: ººººº (hotéis, restaurantes e sirnilares)
8. Serviços Técnicos
9. Serviços profissionais no campojUiídico
Q. 14. Primeira ocupação após a conclusão do curso:
Área:--- D D o
Funções e atividades desempenhadas e/ou áreas de exercício: ººººº 1O. Serviços comu nitá1ios e sociais
11. Serviços de diversão, espmie, TV, etc
,__ -- 12. Serviços públicos de Defesa e Segurança
Q. 15. Ocupação atual ou mais recente: 13. Ensino de 1.º,2.º Grau e aulas paiticulares

Funções e atividades desempenhadas e/ou áreas de exercício:


ººººº 14. Instituições de Ensino Superior
(atividades adm inistrativas)
15. Outros serviço s ou atividades ·.I
f
212
--------·----~_ . ______ ____
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA
,.. .
ANEXO C EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ...

~-
Q. 24. Indique como conseguiu ingressar no emprego que você está exercendo, .
Q.19.Indiqueoquantooseutrabalhose
desde que correlacionado com seu curso de Direito (marque com "x" todos os
relacionava ou se relaciona com o seu

-c-u-rs_o_s_u_p_e_n_·º_r_.U~s-e_o_s_s_e_g-u1-·r-1t-es~co-;d--i-g_o_s_:.__~-º~---'-~-º-
itens que se aplicam)
. O . 1. D Anúncio nos meios de comunicação
~O = Nada 1 = Pouco 2 = Bastante 3 = Muito __
2. D Agência de colocação e/ou associação de profissionais
Q. 20. Se seu trabalho atual ou mais recente está POUCO ou NADA relacionado
3. D Indicação ou convite de parentes ou amigos
ao curso, marque com um "x" todos os itens que se aplicam ao seu caso.
4. D Indicação de professores e/ou profissionais da área
1. D não gostei das experiências que tive em meus trabalhos relacionados
5. D Concurso ou seleção
2. D desde meu primeiro trabalho desenvolvi interesses diferentes dos
trabalhos relacionados com o curso 6. D Contato direto com o empregador
3. D estou ligado à firma de minha família ou de minha propriedade 7. D Na próp1ia empresa ou instituição onde trabalhava, por ascensão ou promoção

4. D encontrei um trabalho que remunera melhor 8. D Por estabelecer-me por conta própria
5. D encontrei um trabalho com maiores oportunidade de ascensão funcional 9. oNãoseaplica
6. D fiz curso para trabalho relacionado, mas não fui aprovado Atenção: Envolva com um círculo o quadrinho referente ao item considerado
mais importante. O último item ("não se aplica") refere-se àqueles que nunca
7. D queria trabalhar em tempo parcial ou com horário flexível
tiveram emprego na área juddica.
8. D não consegui trabalho relacionado, embora o tivesse l?referido
9. D os trabalhos relacionados exigem experiência anterior Q. 25. Há quanto tempo está (esteve) no seu emprego atual ou mais recente?

1O. D não fui indicado por pessoas influentes 1. D menos de 6 meses

11. D outros. Especificar: ·- 2. D 6mesesa 1 ano


3. o mais de 1 até 2 anos
Atenção: Envolva com um círculo o quadrinho referente ao item 4. D mais de 2 até 3 anos
considerado mais importante.
5. D mais de 3 até 4 anos
Q. 21. Para seu exercício profissional você considera importante o estágio super- 6. o mais de 4 até 5 anos
visionado curricular?
7. omaisde5anos
1. D Muito importante
8. D trabalho como autônomo
2. D hnportante
3. D Pouco ou nada importante Q. 26. Indique em que medida os seguintes aspectos que influenciararn na aquisição
dos conhecimentos necessários a seu trabalho atual ou mais recente. Responda
4. D O cuniculo não exigia estágio supervisionado
cada item de acordo com os códigos seguintes:
Se você atualmente não está trabalhando, passe para a questão 25 O = Nada 1 = Pouco 2 = Bastante 3 = Muito
Q. 22. Quantas horas você trabalha por semana? (tendo mais de um trabalho, 1. D conteúdo das disciplinas profissionalizantes ob1igatórias do meu curso
registre o total de horas trabalhadas nos dois) 2. o conteúdo das outras disciplinas do meu curso
________ horas 3. o outro curso universitário
4. o expe1iência de trabalho
Q. 23. Quantos trabalhos você tem?
5. D atividades de extensão universitária
1. D Un 2. D Dois 3. D Três
214 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ANEXO C EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ...

6. D programas de treinamentos oferecidos pelo empregador Q. 29. Em relação ao seu emprego atual ou mais recente, cÕÍ:n quais das seguintes
afirmações você concorda? (assinale com um ''x'' todas as que se aplicam ao seu caso)
7. o contatos com outras empresas no trabalho (aprender vendo outras pessoas
1. D Pessoas com escolaridade menor que a minha estão trabalhando com
fazerem algo)
emprego igual ao que tenho
8. D conteúdo de cursos de pós-graduação (mestrado, doutorado)
2. o Pessoas com escolaridade menor que a minha estatiam aptas a ter o mesmo
9. D estágio realizado durante o curso emprego que tenho
1O. D outro. Especifique:
3. D Tenho habilidades necessáiias para desempenhar satisfatodarnente mi-
Atenção: Dentre os aspectos que você assinalou 3 (muito), envolva com um
nhas atividades de trabalho
círculo o quadrinho da alternativa que julga mais importante.
4. D Dada minha formação e expeiiência considero-me "subempregado" ou
Q. 27. Após amnclusão do curso, quantas vezes você mudou o seu emprego principal? subtilizado no meu trabalho
O. D Nenhuma 5. o Se eu não tivesse freqüentado uma faculdade, não seria capaz de atuar
1. DUrna satisfatotiarnente no meu trabalho
2. D Duas ou três 6. D Tenho habilidades necessárias para desempenhar funções mais complexas
3. D Quatro ou mais que as que exerço atualmente
~~~~-~~~~~~-~~~~~~~~~~~--i 1------ --~~~~~~~~~~.~~-~~-~-----~

Q. 28. Indique o seu grau de satisfação em relação aos seguintes aspectos de seu Q. 30. De modo geral, qual o seu grau de satisfação em relação aos seguintes
emprego atual ou mais recente. Responda cada item de acordo com os códigos aspectos. Responda cada item de acordo com os códigos seguintes:
seguintes: O = Insatisfeito l = Pouco satisfeito 2 = Bastante satisfeito
O= Insatisfeito 1 =Pouco satisfeito 2 =Bastante satisfeito 3 =Muito satisfeito 3 = Muito satisfeito
1. D salário 1. D vida em geral
2. D abonos, incentivos e outras vantagens 2. D vidafamiliar
3. D condições de trabalho (horádo, local) 3. D qualidade das atividades de lazer
4. D prestígio da instituição onde trabalho 4. D quantidade de tempo para as atividades de lazer
5. D vadedade das atividades que desempenha 5. D quantidade de tempo para dedicação à família
6. D relacionamento pessoal no trabalho 6. D cidade onde você mora
7. D competência de colegas 7. D perspectivas de vida
8. D possibilidade de contatos com outros possíveis empregadores
8. D o curso realizado na faculdade
9. D estabilidade no emprego
AS QUESTÕES 31 E 32 SÓ DEVERÃO SER RESPONDIDAS POR AQUE-
1O. D oportunidade de treinamento oferecido por empregador LES QUE ATUALMENTE NÃO ESTÃO 1RABALHANDO.
11. D oportunidade de atuar com cliatividade
Q. 31. Há quanto tempo está procurando trabalho?
12. O oportunidade de utilizar os conhecimentos adquiddos na Faculdade
1. D Não estou procurando trabalho
13. D possibilidade de promoção
2. D Menos de 2 meses
14. D autonomia, independência
3. D3a6meses
15. D outro. Especifique:
4. D 7 meses a 1 ano
Atenção: Dentre os aspectos em que você assinalou o código 3 (Muito satisfei-
5. D 1 a2anos
to), envolva com um círculo o quadrinho da alternativa que julga mais importante.
6. D mais de 2 anos
216 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ANEXO C - EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ...

Q. 32. Por que você não está trabalhando? (assinale todas as que se aplicam ao 9. D capacidade de elaboração de textos teóricos
seu caso) 10. D habilidade de expressão verbal indispensável a sua prática profissional
1. o não preciso trabalhar 11. D autoconfiança no exercício profissional
2. D estou estudando e prefiro dedicar-me exclusivamente aos estudos 12. D ética profissional associada à responsabilidade para com a promoção da
cidadania
3. D não me sinto capacitado para trabalhos em minha área
13. D capacidade de se responsabilizar por documentação pessoal ou
4. D os empregos que poderia conseguir são pouco atraentes
institucional confidenciais
5. D os empregos que poderia conseguir requerem mudança para outra cidade
14. D habilidade de emitir laudos e/ou pareceres técnicos que sejam fidedignos e
ú D fui despedido do emprego que tinha verazes em relação a determinado fenômeno ou objeto jurídico
7. o estou aguardando emprego já confinnado 15. D conduta cria.tiva e autônoma na busca de soluções para os problemas do
8. D os empregadores rejeitam empregados como eu, devido à idade cotidiano profissional
9. D os empregadores rejeitam empregados como eu, devido ao sexo 16. D capacidade ampla de relacionamento com outras pessoas no exercício da
10. D os empregadores rejeitam empregados como eu, por não ter experiência em profissão
minha área de graduação 17. D outra. Especifique: __________________________

11. D outros. Especifique: (deficiência física, cor, nacionalidade etc.) Atenção: Dentre os aspectos que você assinalou 3 (excelente), envolva com
Atenção: Envolva com um círculo o quadrinho da alternativa que julga mais um círculo o quadrinho da alternativa que julga mais importante.
impo1tante. Q. 34. Assinale em que faixa se situa o total mensal dos seus rendin1entos brutos,
provenientes do conjunto de suas atividades profissionais, em janeiro de 2001
Q. 33. Como você avalia hoje o seu curso em relação ao desenvolvimento das
(se recebe mais de 12 salários por ano, calcule a média mensal de seus rendimentos):
seguintes habilidades? Responda cada item de acordo com os códigos seguintes:
1. D menos de 1 saláiio mínimo
O = Deficiente 1 = Regular 2 = Bom 3 = Excelente 2. D de 1 a 3 salários mírúmos
1. D capacidade de seleção e utilização de conhecimentos úteis à atividade 3. D de 3 a 5 salários mírúmos
profissional
4. D de 5 a 1Osaláiios mírúmos
2. D habilidade de pruticipação em grupos de trabalho (em escritórios, em as-
5. D de 1O a 15 salários mínimos
sess01ias de empresas ou de serviços públicos etc.)
6. D acima de 15 salários mínimos
3. D capacidade de percepçãocriticadarealidaderegional, nacional ou internacional
4, D capacidade de leitura e inte1pretação de textos técnicos, filosóficos, teó1icos DADOS COMPLEMENTARES PESSOAIS

5. D capacidade de reflexão e de utilização de conhecimentos de caráter inter Q. 35. Indique a renda mensal de sua família (inclusive a sua):
disciplinar 1. D de 1 a 3 salários mínimos
6. D aptidão para a pesquisa em Direito com ênfase não só em aspectos 2. D de 3 a 5 salários mfuimos
técnicojmídicos quanto nos can1pos filosóficos, sociológicos e políticos 3. o de 5 a 1Osalários mfuimos
7. D habilidade de levantamento, avaliação e sistematização de dados no ca111- 4. D de 1Oa15 salários mínimos
po de conhecimento jurídico
5. D de 15 a20saláriosmínimos
8. D capacidade de elaboração de textos técnicos
6. D acima de 20 salários mínimos
218 (RE)PENSANDO. A PESQUISA
----------···------ ~ _____________
... JURÍDICA ~~~~~--~~~~~~~~
ANEXO C - EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO ...
·~~~~·~~~----=======
219

VISIBILIDADE DE MUDANÇAS NAFACULDADE Q. 38. As mudanças curriculares na Faculdade foram importantes para que você,
Q. 36. Do momento em que você entrou na FADISETE ao momento de sua con- na condição de egresso do curso de graduação, fosse capaz de:
clusão de curso, ocorreram mudanças substanciais que influenciaram na melhoria O = não se aplica 1 = de certa importância 2 = importante
do ensino, pesquisa e extensão? Indique qual a medida dessa influência: 3 = muito importante
O= Nada 1 =Pouco 2 =Bastante 3 =Muito 1. D apresentar melhor desempenho em suas atividades
1. D maior adequação das instalações físicas e materiais
2. D ter mais chances de emprego na área em que se especializou
2. D atendimento a interesses dos alunos quanto a inovações cuniculares
3. D conseguir mais prestígio dentre os profissionais da área
3. D aumento do bem-estar do aluno
4. D ter mais chances de ingresso em cursos de pós-graduação
4. D melhmia da relação Universidade/meio
5. O adaptar-se melhor às condições reais do mercado de trabalho e de sua
5. D melhoria da relação ensino/pesquisa/extensão
profissão
6. D melhmia da relação aluno/docente
7. D melhoda das aulas (em termos de número de alunos e sala etc.)
8. D melhoria da relação aluno/organizações estudantis
9. D aumento das atividades complementares de graduação (atividades cultu-
rais, científicas etc.)
10. D aumento de atividades práticas
11. D maior acesso a acervo bibliográfico
12. D acervo bibliográfico de melhor qualidade e mais atual
13. D outra. Especifique: ____

Q. 37. Considerando a maior capacitação de docentes e administrativos, em sua


opinião, em que medida houve mudança nos últimos anos quanto a:
O = Nenhuma 1 = Alguma 2 = Bastante 3 = Muita
1. D auménto do tempo de trabalho entre aluno e professor
2. D ensino mais adequado à realidade
3. D melhor uso do acervo bibliográfico
4. D inovações metodológicas
5. D aumento e melhoda da participação de alunos e docentes nas atividades
de pesquisa
6. D aumento e melhoda da participação de alunos e docentes nas atividades
de extensão
7. D melhoda do planejamento das atividades de estágio
8. D acompanhamento mais sistemático do estágio supervisionado
9. D uso mais adequado de matedal didático
10. ~D aumento da satisfação dos alunos com o curso
APÊNDICE A
PROPOSTA PARA
FICHAMENTO DE TEXTOS
PROPOSTA PARA FICHAMENTO DE TEXTOS/LIVROS

1) Indicação bibliográfica precisa


Exemplos:
(UVRO)
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direi-
to: técnica, decisão dominação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 364p.
(ARTIGO)
RECASÉNS SICHES, Luis. La naturaleza dei pensamiento jurídico.
Arquivos do Ministério da Justiça. Brasília, n. 30, v. 125, p. 22- 31,
jan./mar. 1973.

2) Informações sobre o autor


Exemplos:
Juiz do Tribunal de Alçada Civil de São Paulo
Professor/Diretor da Faculdade de Direito da UFRJ
Membro do Instituto Internacional de Filosofia do Direito e Socio-
logia Jurídica
Professor de Sociologia Jurídica/Direito Civil, etc.

3) Breve resumo do livro ou do artigo


Mostrar a orientação geral do livro ou artigo. Relatar as conclu-
sões do autor sobre o assunto (parciais ou finais). Relatar as críticas
feitas a outros autores ou correntes de pensamento.
É muito importante utilizar para o estudo de textos o procedimen-
to de análise de conteúdo; sendo assim, devem-se anotar apenas os
trechos que corresponderem às necessidades das variáveis teóricas
previstas no Projeto. Ver, no corpo do livro. A explicação sobre o
procedimento de análise de conteúdo.

4) Citações de trechos do livro ou do artigo que merecerão ser


citadas no relatório da pesquisa
Não esquecer de colocá-las entre aspas com indicação precisa de
página ou páginas. Na citação que não é contínua, não esquecer de
colocar reticências entre colchetes no lugar do trecho que se saltou
[ ... ]

5) Comentários pessoais
Esses comentários são para lembrar como se percebeu o texto na
hora da leitura e em que ponto preciso do relatório da pesquisa seu
224 (RE)PENSANDOAPESQUISAJURÍDICA

conteúdo deve ser referido. E, ainda, as novas indicações para leitu-


ra encontradas no texto (autores citados em pé de página ou no APÊNDICE B
texto, referências a leis ou a pareceres jurisprudenciais etc).
Os comentários pessoais podem aparecer no meio ou no final de
EXEMPLO DE RESUMO PARA
citações. Nesse caso, sempre colocá-los entre colchetes. PARTICIPAÇÃO EM
ENCONTROS CIENTÍFICOS
B.3-010-COSTUMESEDIREITO:UMAINTERLOCUÇÃO
ENTREADOGMÁTICAEASOCIOLOGIAJURÍDICA

Maria Tereza Fonseca Dias


(Departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao Estudo do
Direito, Universidade Federal de Minas Gerais)

Miracy Barbosa de Sousa Gustin


(Departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao Estudo do
Direito, Universidade Federal de Minas Gerais)

(INTRODUÇÃO) Os costumes, por serem normas que inspiram convic-


ção de obrigatoriedade, são inegáveis dados da realidade que direcionam
comportamentos, delineiam atividades humanas em sociedade e con-
seqüentemente influenciam o direito, sobretudo no que diz respeito à
resolução de conflitos. Procurou-se, numa perspectiva dogmática do
conhecimento jurídico, identificar em decisões proferidas pelos tribu-
nais, sentenças, estudos doutrinários e entrevistas, o papel efetivo dos
costumes sociais na resolução de litígios pelo Poder Judiciário e uma
análise crítica da situação. Os resultados obtidos nesta fase podem ser
assim sintetizados: a concepção de fontes do direito vincula-se neces-
sariamente a uma concepção de direito; os costumes têm permitido uma
expansão do conceito de direito e de sua origem; a natureza e função do
direito é obscura por não se refletir (e conseqüentemente não reconhe-
cer) sobre suas fontes reais de criação; os usos e costumes têm sido
incorporado pela atividade jurisdicional brasileira não só como fonte
formal do direito. Numa perspectiva sociológica do direito partiu-se para
a análise de discurso e observação participante de reuniões com associa-
ções de bairro da Região Nordeste de Belo Horizonte, segundo indi-
cações da pesquisa socioantropológica realizada por Boaventura San-
tos no Rio de Janeiro da década de 70. A metodologia empregada nesta
fase é a da pesquisa-ação. Como resultados desta segunda fase pode-
mos mencionar que a utilização de costumes locais por uma "comunida-
de urbana periférica" através da instituição de procedimentos próprios
varia em proporção direta ao acesso à justiça; a proximidade ao discurso
jurídico estatal através do acesso à justiça favorece a reprodução deste
na comunidade, segundo demonstra o uso da linguagem ')midica" pe-
los participantes das reuniões das associações de bairro na Região
Nordeste de Belo Horizonte. O marco teórico adotado nac; duas fases foi
pano de fundo para a rediscussão do papel da Retórica e da Tópica
(Viehweg) na Ciência do Direito.
.~J
'1
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1
il
APÊNDICEC
EXEMPLO DE PESQUISA
DIAGNÓSTICA EANÁLISE
DE DADOS
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Direito
COORDENADORIA ACADÊMICA

DIAGNÓSTICO DE INTERESSE
E DISPONIBILIDADE
PARA AS ATIVIDADES
DE PESQUISA E DE ESTÁGIO

Belo Horizonte
1994
232 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA APÊNDICE C - EXEMPLO DE PESQUISA ... 233

DIAGNÓSTICO DE INTERESSE Da mesma forma quanto a horário de trabalho. Melhor teria sido
E DISPONIBILIDADE PARA AS ATIVIDADES indagar sobre a duração diária do trabalho (4, 6, 8 horas ou outra?), o
DE PESQUISA E DE ESTÁGIO que facilitaria a tabulação e impediria dúvidas relacionadas à incor-
poração ou não de horário de almoço ou de outras interrupções na
jornada diária. Uma outra falha do instrumento de pesquisa refere-se
à incorporação ou não do estágio como atividade de trabalho. O
PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE GRADUAÇÃO DA FA- questionário não permite que esta distinção seja feita.
CULDADEDEDIREITO DA UNIVERSIDADEFEDERALDE Sabe-se que os métodos de levantamento (ou diagnóstico) são
MINAS GERAIS aqueles que têm por fim a obtenção de dados descritivos sobre
determinada realidade ou público-alvo definido. Esse método, por
sua própria natureza e forma de aproximação do objeto de estudo,
INSTRUMENTO: QUESTIONÁRIO DE MATRÍCULA- não se destina a realizar análises de profundidade em sentido quali-
2.ºSEMESTRE 1994 tativo. O máximo que se pode obter a partir de levantamentos realiza-
dos através da aplicação de questionário simples, não combinados a
As funções de ensino, pesquisa e extensão no nível universitário outras técnicas, são interpretações quantitativas de tipo linear ou
requerem planejamentos detalhados que derivem de diagnósticos so- correlacionadas a outros elementos obtidos na coleta de dados.
bre expectativas e disponibilidades do público. Nesse sentido, foi Não se deve esperar, portanto, uma análise mais abrangente. As
aplicado um questionário com os alunos da Faculdade de Direito, no observações deste relatório deverão, nesse sentido, traçar uma es-
nível de graduação, para a identificação e definição de expectativas e pécie de perfil dos alunos da Graduação, segundo seus interesses e
demandas, inclusive com delimitação de área ou matéria de interesse. disponibilidades em relação às funções de pesquisa e estágio, e
O questionário, em Anexo 1, constou de quatro grandes campos tentar apontar problemas potenciais à vista das diretrizes curriculares
de indagação. O primeiro destinou-se à identificação do aluno (nome, ou de outros fatores relacionados com o tema. Pela mesma razão, a
n., período); o segundo considerou sua situação e condições de linguagem a se usar deverá ser objetiva e clara, sem pretensões de
trabalho (se trabalha, local de trabalho e função, duração); o terceiro aprofundamento teórico-conceituai.
indagou sobre sua condição de estágio (se estagia, local e horário de
estágio); e o último campo questionou sobre a disponibilidade e 1 REPRESENTATIVIDADE DO DIAGNÓSTICO
interesse pelas atividades de pesquisa e de estágio, com a especifi-
cação de preferência por área ou matéria. Quanto à representatividade dos dados obtidos, pode-se afirmar
Algumas falhas podem ser apontadas no questionário e que in- que, em termos quantitativos globais, eles são bastante expressivos,
terferiram sobre a análise e resultados da pesquisa. Um questionário ou seja, 87% dos alunos matriculados responderam ao questionário
auto-aplicável deve conter indagações e comandos bastante preci- (Gráfico 1). Isto significa que, em uma base de 1474 pessoas, matricu-
sos para não permitir dúvidas posteriores em sua tabulação. Assim, ladas no segundo semestre deste ano, 1280 responderam às indaga-
no último campo, onde o aluno respondeu que "não queria pesqui- ções do questionário. O que, em termos estatísticos, pode ser consi-
sa", não fica claro se deseja estágio quando este espaço permane- derado como um nível alto de representatividade no universo de
ceu em branco. Da mesma forma, no sentido inverso uma outra falha, alunos da Graduação.
e esta talvez ainda mais constrangedora, é quando se pergunta, em
uma única indagação, se o aluno "tem tempo para pesquisa e gosta-
ria de fazê-la". A mesma indagação repete-se para a atividade de
estágio. Na tabulação surge o problema: quando o aluno responde
negativamente ("não"), por exemplo, não se sabe se ele não tem
tempo para a pesquisa (ou para o estágio, quando for o caso), ou se
não gostaria de fazê-la. Para um diagnóstico que se prestará ao pla-
nejamento de funções universitárias, esta distinção entre "disponi-
bilidade" e "interesse" é muito relevante. Se os comandos fossem
mais impositivos essa falha não ocorreria.

1\
...
234 (RE)PENSANDOAPESQUISAJURÍDICA APÊNDICE C-EXEMPLO DE PESQUI_..::S_A_.._·----==2=3=5

GRÁFICOl trabalha, mais de 66% apresentam jornada diária de 6 a 8 horas.


Somente 8,2% trabalham quatro horas por dia. Este é, sem dúvida,
Representatividade da Pesquisa
um indicador de baixa disponibilidade para atividades que requeiram
uma permanência maior na Universidade ou em outros locais para
estágios. Isso vem demonstrar, ainda, que é no período de aulas que
Não habilidades e capacidades próprias da pesquisa e da extensão (está-
Pesquisados gio) deverão ser desenvolvidas. Essa situação sugere, talvez, que a
13% função de ensino deva ser dinamizada e repensada no sentido de se
tentar superar as deficiências do não envolvimento do alunado nas
demais funções típicas do nível universitário.

Pesquisados TABELA2
87% Condição de Trabalho dos Alunos
da Graduação-1994 (2.º Semestre)
Fonte: Tabela 1.
Alunos que N %
Já em relação a cada período, dada a insuficiência de dados sobre
o assunto, não se pode precisar o nível de representatividade. Isto Trabalham 562 43,91%
porque o serviço de Ensino da Faculdade, em razão de seu formato
de matrícula (por disciplina e não por pe1iodo ), não tem condições de Não trabalham 689 53,83%
informar o total exato de alunos por período. Supõe-se que a
representatividade global possa ser atribuída aos períodos. Além N.R 29 2,27%
disso, um alto percentual de alunos não preencheu o campo relacio-
nado ao período (239 alunos ou 16% do total de entrevistados), o
que reforça a impossibilidade de se verificar a representatividade da Fonte: Pesquisa direta. Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.
pesquisa por período.
Tendo em vista que a matrícula dos alunos do 1.º período não é
feita na Faculdade de Direito, os seis alunos que aparecem nesse GRÁFIC02
período devem ser considerados como "incorreção de preenchi- Duração da Jornada Diária de Trabalho dos Alunos
1nento". da Graduação-1994 (2.º Semestre)

2 TEMPO DISPONÍVEL PARA PESQUISA E ESTÁGIO


40%
A análise da disponibilidade dos alunos para a pesquisa e está- 35% 1111 4hs
gio será feita de forma indireta, ou seja, pressupor-se-·à que a dispo- 30%
§ 25% D 6hs
nibilidade quanto a essas duas funções está em ordem inversa à
duração da jornada de trabalho: maior disponibilidade/menor dura- =~ 20%
15%
D 8hs

ção da atividade de trabalho. Far-se-á a análise nesse sentido tendo & 10% ~ outras
em vista que a indagação "se o aluno tem tempo" ficou prejudicada 5%
0% D N.R.
por imprecisão do questionário, conforme explicado em item anterior.
% D (Base: 562)
A participação de alunos que trabalham no universo pesquisado
pode ser considerada bastante alta: 44% ou 562 alunos (Tabela 2).
Esse dado é recrudescido pelo fato de que, desse total de alunos que
Fonte: Tabela 3.
236 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA APÊNDICE C - EXEMPLO DE PESQUISA. .. 237
·~~~~~·---=======

Poder-se-ia supor que esses alunos que trabalham distribuem-se GRÁFIC04


prioritariamente nos últimos períodos, o que não é absolutamente Interesse por Pesquisa e Estágio dos Alunos
exato. Considerando mais atentamente os dados, por período (Gráfi- da Graduação -1994 (2. º Semestre)
co 3 ), nota-se que eles se distribuem de forma bastante homogênea
e as diferenças entre as turmas mais ou menos avançadas não são
significativas. A participação de alunos que trabalham no 6.º período
é, por exemplo, praticamente igual àquela encontrada para os 9. 0 e NÃO QUEREM
10.º períodos (53% e 54%, respectivamente). Só nos 2.º e 3.º períodos D Estágio e pesq.
apresentou-se maior participação de alunos com disponibilidade de
IZ?l Pesquisa
tempo. Os dados sugerem, portanto, que já nesses períodos os alu-
35% ~Estágio
nos sejam estimulados a se envolverem com a função pesquisa. Daí 30%
porque cursos de iniciação à metodologia da pesquisa jurídica deve·· ~ 25%
QUEREM
riam ser destinados também a esse público. Talvez, prioritariamente. B 20% ~ Estágio e pesq.
e::
Q)
15%
8 §Pesquisa
o... 10%
Q)

GRÁFIC03 5% OTI Estágio


Disponibilidade para Pesquisa e Extensão dos Alunos da 0% 1111 N.R.
Graduação por Período - 1994 (2.º Semestre) % (Base: 1280)

Fonte: Tabela 4.
60% Ili TRABALHAM
~ 50%
B 40% D 4hs
e::
Q)
Por falha do instrumento aplicado não se pode afirmar que den-
30% 6hs
8Q) D tre aqueles que disseram não querer estágio não estejam incluídos
o... 20%
10% e 8hs os alunos que já estagiam: 24% do universo pesquisado ou 306
0% D outras
alunos. Possivelmente isto tenha ocorrido, pois ao se analisar a
* distribuição dos dados por período, aqueles que afirmaram não
....;
o o
~ c:i o.: D N.R.
querer as duas funções concentram-se nos últimos quatro perío-
C'i ir) r..:
'° oô
(")
o\ u:i
dos (praticamerite 40% dos alunos que não demonstraram interes-
se pelas duas atividades).
Fonte: Tabela 3.1. Os dados demonstram que o interesse pelas duas funções con-
juntas (pesquisa e estágio) concentra-se até o 7.º período, com
predominância nos quatro primeiros períodos. A partir daí, o inte-
3 INTERESSE POR PESQUISA E ESTÁGIO resse pelas duas atividades conjuntas decresce sistematicamente
(só 7% nos 9.º e 10.º períodos). O interesse só por pesquisa não é
O interesse expressado pelos alunos em relação às funções de alto e distribui-se com certa homogeneidade entre os períodos,
pesquisa e de estágio reproduzem essa situação de não disponibili- com pequeno acréscimo nos 8.º e 9.º períodos. O mesmo fenômeno
dade de tempo por boa parte do público entrevistado. Apesar da ocorre com a função "só estágio", aumentando o interesse nos 2.º,
metade do público-alvo (51 % ) ter afirmado seu interesse pelas ativi- 6.º e 7 .ºperíodos sem possibilidade de explicação lógica para esse
dades de pesquisa e de estágio (Gráfico 4), praticamente 32% (406 acréscimo.
alunos) disseram não querer tanto estágio quanto pesquisa. Soma-
dos estes àqueles que não se interessam por estágio ou por pesqui-
sa ou que não responderam à questão correspondem exatamente à
outra metade do alunado. Isto não é normal quando se sabe que
alunos dos chamados cursos superiores profissionais interessam-
se, via de regra, no mínimo, pelas chamadas atividades complemen-
tares de tipo prático que é o caso do estágio.
238 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA APÊNDICE C- EXEMPLO DE PESQUISA ... 239

GRÁFICOSA verso muito pequeno quando comparado ao interesse expressado


Interesse por Pesquisa e Estágio dos Alunos pela pesquisa: 171 alunos querem só pesquisa; 290 querem pesqui-
da Graduação por Período -1994 (2.º Semestre) sa e extensão (Gráfico 4 e Tabela 4).

50% 4 INTERESSE POR ÁREA ESPECÍFICA DE PESQUISA E DE


45% li E'ITÁGIO
40% NÃO QUEREM
'@
B 35% Se não considerado o item "outras", a opção majoritária, quer
i:: 30%
O)
25%
li Estágio e pesq.
para estágio ou pesquisa, é pelo campo civil (11,64% por estágio;
8O)
o.. 20%
15% o Pesquisa 9,06% por pesquisa), seguido diretamente pela área constitucional
10% quanto à pesquisa (6,41 %) e penal quanto à estágio (6,02%). À
5% m Estágio
'

exceção da área tributária, que ainda apresenta uma participação


0%

razoável (5% para estágio; 4,69% para pesquisa), seguida de comer-


cial somente para estágio (4,45% ou 57 alunos), as demais áreas
Fonte: Tabela 4.1. apresentaram participações pouco significativas e distribuídas
homogeneamente.
GRÁFICOSB
Interesse por Pesquisa e Estágio dos Alunos
da Graduação por Período-1994 (2.º Semestre) GRÁFIC06
Interesse por Área Específica de Pesquisa e Estágio dos Alunos
da Graduação por Período
1994 (2. º Semestre)
45%
40%
35%
~ 30% QUEREM
.8 25%
~ 20% O Estágio e pesq.
~ 15%
o.. 10% li Pesquisa Pesquisa
5%
0% D Estágio

lffil N.R.
Comercial Tributário Econômico
Filosofia
Fonte: Tabela 4.1.
Administrativo
Tributário
O universo de alunos já envolvidos com estágio e pesquisa (320
alunos) é pequeno em relação ao público-alvo que se interessa pelas
duas atividades, 651 alunos (Tabela 6). Quanto à atividade de pes-
quisa não se sabe exatamente quantos alunos estão envolvidos,
visto que essa pergunta não foi feita. Os quatorze alunos que apare- Estágio
~
cem na Tabela 6 decorrem de informações complementares coloca- Fonte: Tabela 5.
das no questionário. Este fato prejudicou a análise, ficando mais
clara a situação do estágio. Segundo informações dos arquivos da
Coordenadoria Acadêmica, existem em tomo de 40 bolsistas de Inicia-
ção Científica na Graduação da Faculdade de Direito. Este é um uni-
'~
)1,·1

1
240 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA APÊNDICE C - EXEMPLO DE PESQUISA ... 241
--------
Estranha-se que não tenha aparecido na pesquisa interesse mais no. Por essa razão, a repetição desse questionário nos momentos de
significativo pelas áreas de Direito do Trabalho e de Filosofia do Direi- matrícula deverá ser reiterada. Se possível, combinando-se essa téc-
to. Sugere-se que atividades não estritamente curriculares (seminários, nica a outras que possibilitem o aprofundamento da análise.
debates, grupos de estudo, etc.) sejam realizadas para estimular os
alunos a esses dois campos importantes de estudo e de reflexão.
Outubro/1994
O item "outras" compõe-se majoritariamente de um público que
se dispõe a realizar pesquisa ou estágio em "qualquer área", ou seja,
ainda não é capaz de selecionar os campos de maior interesse. Este
fato não seria estranhável se ocorresse somente entre alunos dos Miracy Barbosa de Sousa Gustin
primeiros períodos. Aparece, contudo, e com relativa freqüência, Coordenadora Acadêmica
entre pesquisados do 5.º a 8.º períodos, fase do curso em que os
alunos já deveriam indicar, com certa segurança, suas áreas de prefe-
rência. Compõem, ainda, o item "outras" algumas áreas e subáreas
jurídicas, como Direito Romano, Introdução ao Estudo do Direito,
Direito Ambiental, Processo Legislativo, Direitos Difusos, Advoca-
cia de Empresas, entre outras. Sua participação no total é, no entan-
to, pouco significativa em termos estatísticos.

SCONSIDERAÇÕESFINAIB
Entende··Se que os resultados da pesquisa foram diretamente pre-
judicados por imprecisões do instrumento de diagnóstico (Questio-
nário de Matrícula). Por essa razão, apresenta-se, em Anexo 2, pro-
posta de reformulação do instrumento. Seria importante, contudo,
que essa proposta de questionário de matrícula fosse encaminhada
aos Departamentos para que estes a analisem e proponham a inser-
ção de novos itens ou modificação daqueles já definidos.
Apesar da opção, neste relatório, de se inserir considerações e
propostas ao longo de seu texto e não somente em suas conclusões,
deve-se ressaltar a situação de praticamente metade do alunado da
FacuÍdade de Direito não ter declarado disponibilidade para as fun-
ções de pesquisa e de estágio. Este dado merece ser objeto de refle-
xão dos Departamentos, do Colegiado de Graduação e da Comissão
de Reestruturação Curricular para que conteúdos típicos dessas
outras funções possam ser absorvidos pela função ensino. Há que
se inovar e propor novas medidas que venham superar essa eviden-
te incapacidade de realização plena das funções universitárias.
Para a visualização de dados utilizou--se de tabelas e gráficos.
Algumas tabelas complementares aos gráficos foram inseridas no
Anexo 3 deste relatório. As fontes de alguns gráficos inseridos no
texto estão, portanto, em anexo e não ao longo do relatório.
A iniciativa de realização deste diagnóstico, apesar das impreci-
sões, deverá servir para fundamentar o planejamento ou o replaneja-
mento da oferta de atividades de pesquisa e de estágio da Faculdade
de Direito. Poderá ter, inclusive, reflexos sobre a atividade de ensi- .\
Í'
(RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA ·----A-~~N[)ICE C- EXEMPLO DE PESQUISA ... 243
242

ANEX02
ANEXOl Proposta de Reformulação do Questinário de Matrícula
Questionário de Matrícula Aplicado
I. Nome do Aluno: Matrícula:

Nome do Aluno
Protocolo de Requerimento de Matrícula n. _____
N. Matrícula
Pedodo:()l.º ()2.º ()3.º ()4.º ()5.º ()6.º ()7.º ()8.º ()9.º oW--
'rM~rq"º ~~n'
..... u.., .... v. • u·n V~ ·-,~r1'0.-I~
" "'-vi'" ~-- .
u,, "''"que voce~ so1·ICILOU
.. matncula
, . número àe àisciplinas)
no ma10r
Você tem matéria atrasada? ( ) Sim ( ) Não. Qual?____ Período:
Endereço: Telefone:
Preencha o quadro abaixo, relativo ao período que você vai cursar:
Código Denominação das Disciplinas Turma
Período ll. Você trabalha?
( ) Sim ( ) Não (Responda não quando seu trabalho for estágio e passa para o item III)
Cargo/função: _ __
Duração da jornada diária de trabalho:
( ) 4 horas ( ) 6 horas ( ) 8 horas ( ) Outra:
(Especificar)

Assinatura do Aluno Empresa/Órgão: -------~--------~~--~


Local de trabalho:
Ratificação da Matrícula: entre dias 25 e 27 de julho, mediante a apresentação da
Belo Hmizonte ( ) Sim ( ) Não
guia de recolhimento da taxa de matrícula quitada:
--- Cidade da Região Metropolitana ( ) Sim ( ) Não
(assinatura do Aluno)
Outracidade: - - - - - - - -
Nome do Aluno: Matrícula: (Especificar)
----
Período: III. A) Você faz estágio? ( ) Sim ( ) Não
(No caso de resposta negativa passar para o item B)
Você trabalha? ( ) Sim ()Não Você faz estágio? ( ) Sim ()Não
Horário do estágio: Duração diária do estágio:
Cargo/função:-·-
Empresa/Órgão: ( )4horas ( )6horas ( ) O u t r a : - - - - - - - - - - - - - -
Horáiio:
(Especificar)
Endereço: Endereço:
Empresa/Órgão:
Telefone: Telefone:
Endereço: Telefone: _ _ _ _ __
Você tem tempo para pesquisa e gostaiia
Você tem tempo p/ estágio e gostaiia de
de fazê-la? Área de estágio ou função que realiza:
fazê-lo?
( ) Sim ( ) Não. Em que área ou matélia?
()Sim ()Não. Emqueáreaournatéria?
Outras observações ou sugestões? ÉconvêniodaUFMG? ()Não ()Sim. Qual?
Outro convênio? ( ) Não ( ) Sim. Qual?- ______ -·----- ,

Outro tipo de estágio? ( ) Não ( ) Sim. Qual?


·l
f
(RE)PENSANDO A PESQUISAJURÍDICA
- - - - - - - - · AP~NDICE C_- EXEMPLO DE PESQUISA..:______·--·==2::::::4=5

B)Vocêestádesenvolvendo alguma pesquisa?


ANEX03
()Sim ( ) Não (No caso de resposta negativa, passe para o item IV) Tabelas- Dados Absolutos
NaFacul dade de Direito? ( ) Sim ()Não
Em outro órgão? ( ) Sim ()Não Qual? TABELA!
Representatividade da Pesquisa -1994 (2.ºsemestre)
Vocêébolsista? ( ) Sim ()Não Em qual programa?
( )PAD ( ) PBIC/CNPq ( ) PBIC/J:-<APEMIG ( ) Outro:-~
Alunos N %
Se não e"bolsista mas desenvolve pesquisa: Pesquisados 1280 86,84%
•Vocêintegra projeto de algum professor? ( ) Sim ()Não (Base: 1474)
e Foi inic iativa sua e algum professor o orienta? ( ) Sim ()Não

•Outra altemativa: - ----- Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.
(&pecificar)
Áreadepesquis a:

IV. Interesse por pesquisa e por estágio 'D\BELA2


Condição de 'frabalho dos Alunos da Graduação-1994
A) Você gostaria de fazer estágio?
(2. ºsemestre)
( )Não. Porquê?
( )Sim. Em que área ou matéria? Alunos que N %
Porquanto tempo? Trabalham 562 43,91%
B)Você tem tempo disponível para estágio:
Não trabalham 689 53,83%
( )Não
N.R 29 2,27%
()Sim. Quanto tempo diário?
(Base: 1280)
(Em horas consecutivas)
Em turno do dia?
(Manhã/farde/Noite) Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.
C)Voce gostaria de fazer pesquisa?
A

( )Não . Porquê?
( ) Sim. Em que área ou matéria? TABELA3
-
Duração da Jornada Diária de lhlbalho dos Alunos
Por quanto tempo?
da Graduação - 1994 {2° semestre)
D)Você tem tempo disponível para pesquisa?
( )Não Alunos qut: N %
( ) Sim. Quanto tempo diáiio?
trabalham
(Em horas consecutivas)
4hs 46 8,19%
Em turno do dia?
6hs 206 36,65%
(Manhã/farde/Noite)
V.Out ras observações e sugestões? 8hs 166 29,54%
·- outras 115 20,46%
N.R 29 5,16%
Assin atura:
(Base:562)
Data: /
Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.
246
· - - - - -APÊNDICE
- - C - EXEMPLO DE PESQUISA ... 247
TABELA3.1
Duração da Jornada Diária de 'frabalho dosAlunos TABELA4.1
da Graduação por Período-1994 (2.ºsemestre) Interesse por Pesquisa e Estágio dos Alunos da Graduação
por Período -1994 (2.ºsemestre)
Período 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º 7.º 8.º 9.º 10.º SP*
Período 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º
Trabalham 33% 24% 35% 44% 48% 53% 49% 46% 54% 54% 44% 7.º 8.º 9.º 10. 0 SP*
Não querem
4hs 0% 2% 4% 11% 4% 2% 5% 6% 4% 5% 2%
Estágio e Pesq. 33% 33% 30% 28% 21% 18% 22% 42%
45% 48% 32%
6hs 17% 10% 10% 41% 17% 18% 19% 16% 12% 22% 19% Pesquisa 0% 4% 2% 3% 10% 11% 5% 7%
7% 8% 7%
8hs 0% 7% 12% Y/% 15% 13% Estágio 0% Oo/o 0% 0% 1% 0% 5% 0%
16% 11% 22% 13% 12% 0% 4% 1%
Querem
outras 17% 5% 6% 18% 11% 19% 9% 6% 7% 14% 8%
Estágio e Pesq. 33% 33% 42% 31% 29% 22% 21%
9% 7% 7% 18%
N.R. 0% 1% 4% 4% 1% 0% 0% 7% 8% Oo/o 2% Pesquisa 33% 8% 11% 14% 15% 17% 13% 21% 18%
8% 11%
(Base) (6) (131) (142) (126) (144) (93) (91) (107) (95) (106) (239) Estágio 2% 19% 13% 10% 11% 19% 24%
13% 6% 15% 17%
* Alunos que não especificaram o período
N.R. 0% 3% 2% 12% 12% 13% 10% 8% 16% 9% 14%
Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matócula da Faculdade de Direito. (Base): (6) (131) (142) (126) (144) (93) (91)
(107) (95) (106) (239)

TABEIA4
*Alunos que não especificaram o período
Interesse por Pesquisa e Estágio dos Alunos
da Graduação-1994 (2.ºsemestre) Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.

Alunos N %
Não querem
Estágio e Pesq. 406 31,72%
Pesquisa 82 6,41%
Estágio 13 1,02%
Querem
Estágio e Pesq. 290 22,66%
Pesquisa 171 13,36%
Estágio 190 14,84%
N.R. 128 10,00%
(Base: 1280)

Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.


APÊNDICE C- EXEMPLO DE PESQUISA. .. 249
248 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

TABELA5.1
TABELAS
Interesse por Área Específica de Pesquisa
Interesse por Área Específica de Pesquisa
e Estágio dos Alunos da Graduação,
e Estágio dos Alunos da
por periodo-1994
Graduação-1994 (2.º semestre)
(2.º semestre)

Alunos N % p eríodo 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º 7.º 8.º 9.º 10. 0 SP*
Querem
QueremPesq.
Pesquisa
Área Cível 0% 4% 15% 8% 13% 17% 12% 997'0 4% 2% 7%
Área Cível 116 9,06%
ftj 5,16%
Penal 0% 3% 8% 10% 10% 3% 3% 3% 2% 2% 4%
Penal

Comercial 38 2,97% Comerdal 0% 2% 0% 5% 4% 5% 5% 3% 3% 2% 3%

Tributário (í) 4,69% Tn·butário 0% 4% 8% 6% 6% 6% 8% 1% 5% Oo/o 3%


Econômico 36 2,81% Econômico 0% 5% 6% 7% 2% 2% 2% 0% 1% 1% 1%
Filosofia 18 1,41%
Filosofia 0% 2% 4% 2% 1% 2% 0% 2% 0% 0% 2%
Administrativo 31 2,42% ..
Administrativo 0% 1% 0% 2% 1% 2% 4% 7% 7% 4% 1%
Constitucional 82 6,41%
Constitucional 0% 7% 7% 7% 10% 5% 4% 6% 3% 3% 8%
Outras 140 10,94%
Querem Outras 33% 25% 18% 6% 10% 5% 7% 7% 4% 4% 13%

Estágio Qu erem Est.


Área Cível 149 11,64% Área Cível Oo/o 13% 20% 13% 13% 23% 14% 7% 3% 5% 8%
Penal 77 6,02%
Perlal Oo/o 2% 11% 10% 10% 6% 4% 3% 4% 2% 5%
Trabalho 24 1,88%
Trabalho Oo/o 2% 3% 3% 1% 2% 2% 2% 0% 2% 1%
Tdbutário 64 5,00%
Tributário Oo/o 4% 8% lOo/o 3% 6% 4% 5% 1% 2% 5%
Comert---ial 57 4,45%
Outi-as 247 19,30% Comercial 0% 2% 1% 7% 8% 5% 11% 2% 1% 6% 3%

(Base: 1280) Outras 67% 37% 25% 14% 20% 11% 20o/o 14% 6% 8% 23%
(Base): (6) (131) (142) (126) (144) (93) (91) (107) (95) (106) (239)
Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Mat1icula da Faculdade de Direito.
*Alunos que não especificaram o período
Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.
250 (~)PENS_ANDOAPESQUISA~IC_A_ _ _ _ _, APÊNDICE C- EXEMPLO DE PESQUISA ... 251
·~~~~~--'========

TABELA6 Pode-se afirmar que, em termos quantitativos globais, os dados


Envolvimento com Pesquisa e Estágio obtidos são bastante expressivos e representativos: 87% dos alu-
nos matriculados responderam ao questionário. Isto significa que,
de 1474 alunos matriculados no segundo semestre de 1994, 1280
Alunos N % responderam às indagações do questionário. É possível, portanto,
Pesquisam 14 1,09% afirmar que, apesar de nossas dificuldades de tabulação e algumas
imprecisões do instrumento aplicado, atualmente temos noção razoá-
Estagiam 306 2'3,91% vel do interesse, disponibilidade e demandas de nossos discentes
em relação à pesquisa e à extensão.
(Base: 1280)
Consideremos primeiro a disponibilidade de tempo de nosso
alunado para essas atividades. A participação de alunos que traba-
lham no universo pesquisado pode ser considerada bastante alta:
Fonte: Pesquisa direta - Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito.
44% ou 562 alunos trabalham. Este dado é recrudescido pelo fato de
que mais de 66% desse total declaram uma jornada diária de trabalho
de seis a oito horas. Apesar desse percentual distribuir-se de forma
TABELA6.1 praticamente homogênea entre os períodos, há menor incidência de
Envolvimento com Pesquisa e Estágio alunos que trabalham nos primeiros períodos (l. 0 a 3. 0 períodos). Os
dados sugerem, portanto, que já nessa fase inicial de cursos os
- alunos deveriam ser estimulados a se envolverem com as funções de
Período Lº 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º 7.º 8.º 9.º 10.º SP* pesquisa e extensão. Daí porque cursos de iniciação à metodologia
-
Trabalham 33% 24% 35% 44% 48% 53% 49% 46% 54% 54% 44% da pesquisa jmídica devam ser destinados também a esse público.
Talvez, prioritaiiamente.
Pesquisam Oo/o 0% 1% 3% 2% 2% 1% 1% Oo/o 0% 1%
O interesse expressado pelos alunos em relação às atividades de
Estagiam Oo/o 3% 7% 13% 19% 24% 37% 46% 47% 46% 2D% pesquisa e de estágio reproduzem essa situação de não disponibili-
(Base) (6) (131) (142) (126) (144) (93) (91) (107) (95) (106) (239) dade de tempo por boa parte do público entrevistado. Apesar de
metade do alunado (51 % ) ter afirmado seu interesse pelas atividades
de pesquisa e de estágio, praticamente 32% (406 alunos) disseram
* Alunos que não especificaram o período "não querer tanto estágio quanto pesquisa". Esta é, sem dúvida,
Fonte: Pesquisa direta -- Questionário de Matrícula da Faculdade de Direito. uma situação a ser reexaminada tendo em vista que alunos de cursos
superiores, especialmente os chamados cursos profissionais, inte-
Reflexões sobre o diagnóstico de interesse e disponibilidade dos ressam-se, via de regra, no mínimo, pelas atividades de tipo prático,
alunos da Faculdade de Direito em relação às atividades de Pesquisa que é o caso do estágio.
edeEstágiO
O total de alunos já envolvidos com estágio e pesquisa (320 alu-
Entendendo que as funções de ensino, pesquisa e extensão no nos) é ainda pequeno em relação ao público que se interessa pelas
nível universitário requerem planejamentos detalhados que se duas atividades, 651 alunos. Segundo informações dos arquivos da
estruturem a partir de dados objetivos sobre expectativas e disponi- Coordenadoria Acadêmica, existem em torno de 40 bolsistas de pes-
bilidades do público alvo, foi aplicado no último semestre um questio- quisa nesta Faculdade. Este é um universo extremamente pequeno
nário com os alunos de graduação da Faculdade de Direito para a quando comparado ao número de alunos que se interessam por essa
identificação desses aspectos. atividade: 171 entrevistados optaram só por pesquisa, 290 querem
A Coordenadoria Acadêmica que, em nossa Faculdade, é o órgão pesquisa e extensão.
responsável pelo apoio às atividades de pesquisa e extensão de Quanto ao interesse por área específica, a opção majoritária dos
docentes e alunos, incumbiu-se da tarefa de organizar e analisar as entrevistados, quer para estágio ou pesquisa, é pelo campo civil
informações obtidas no questionário de matrícula. Dessa atividade ( 11,64% por estágio, 9,06% por pesquisa), seguido diretamente pela
resultou um relatório que nos permite algumas reflexões sobre área constitucional quanto à pesquisa (6,41 % ) e penal quanto a
potencialidades e condições de pesquisa e extensão e sobre deman- estágio (6,02% ). À exceção do campo tributário, que ainda apresenta
das ainda latentes. uma participação razoável (5 % interessam-se por estágio; 4,69% por

1
252 (RE)PENSANDO A PESQUISA JURÍDICA

pesquisa), seguido de comercial somente para estágio (57 alunos, ou


4,45%), as demais áreas curriculares apresentaram participação pou-
co expressiva quanto à demanda de estágio ou pesquisa. Estranha-
se o menor interesse pelas áreas de Direito do Trabalho e Filosofia
do Direito. Sugere-se que atividades não estritamente curriculares
(seminários, debates, grupos de estudo, etc.) sejam realizadas para
estimular o corpo discente a esses dois campos relevantes de estu-
do e de reflexão.
A iniciativa de realização deste diagnóstico deverá servir para
fundamentar o planejamento ou replanejamento da oferta das ativi-
dades de pesquisa e de estágio da Faculdade de Direito. Por esta
razão, a repetição da aplicação do questionário - agora, já reformulado
e mais completo - neste primeiro semestre de 1995, deverá fornecer
novos e importantes subsídios para que nossos setores acadêmi-
cos, como Colegiado de Graduação, Departamentos, Comissão de
Reestruturação Curricular e Coordenadoria Acadêmica, dentre ou-
tros, possam utilizar-se de dados objetivos para o reexame das ofer-
tas e do planejamento das atividades-fim de nossa Faculdade de
Direito, com sua conseqüente melhoria.
A Coordenadoria Acadêmica está em fase final de elaboração do
relatório com as informações obtidas através do questionário de
matrícula deste primeiro semestre. Sua divulgação deverá ser feita
amplamente.
Miracy Barbosa de Sousa Gustin
Coordenadora Acadêmica

Impresso em abril de 2006

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