Ae p11 Teste Fev2017
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B (40 pontos)
1
Palavras 11
Lê o seguinte poema e consulta as notas apresentadas.
mote:
Descalça vai pera a fonte
Leanor, pela verdura;
vai fermosa e não segura.
voltas
: Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
5
cinta de fina escarlata1,
saínho2 de chamalote;
traz a vasquinha de cote3,
mais branca que a neve pura;
10 vai fermosa, e não segura.
2
Palavras 11
Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leitura | Gramática
Teresa de Albuquerque
em sua carta ao Mundo
Simão Botelho, meu amado esposo.
Não te admires da configuração daquela que te há de parecer uma bem estranha
carta. Quando estas laudas1 chegarem às tuas mãos, saberás que as escrevi com tinta
feita da cinza que dia e noite me rodeia, diluída na escorrenteza das minhas próprias
5 lágrimas. Oxalá matérias tão precárias resistam à viagem e consigam levar-te
saudações da minha parte, seja onde for que te encontres, e estejas tu acompanhado
por quem quer que seja que o destino te tenha dado por amiga ou amante.
Pois pelo meu lado, se muito mudei, continuo a querer-te como no primeiro dia
em que te vi cavalgando pelas ruas de Viseu, e a amar-te da mesma forma, sem
10 refrigério2 nem apelo, como no último instante, quando te dirigiste ao portaló para
receberes as minhas cartas, na nau que em breve partiria levando-te a caminho da
Índia. Nessa hora, a minha vida acabou, Simão, mas a tua felicidade, fatalmente sem
mim, continua a ser o meu maior cuidado. A tua felicidade é o meu destino. Vê
como são as coisas, meu amado. Agora, pouco me importa que aquela, com quem
15 fazias projetos de partilhar uma casinha nos arredores de Coimbra, já não se chame
Teresa, nem que o peito onde sonhavas encostar a tua cabeça, já não seja o seu. A
vida mudou, isto é, a morte mudou o que foi sonhado em vida. Mas o mais
importante é que sei agora o que não sabia antes. E por isso posso dizer-te que a
natureza daquela Eternidade que ora víamos como um paraíso perfeito, ora como um
20 lugar de quietude e silêncio para onde os dois iríamos adormecer para sempre, afinal
é muito diferente do que ambos imaginávamos. Posso dizer-te que se escrevo esta
carta, é porque faço empenho em avisar-te para que não sejas tomado tu pela
surpresa que a mim me prende. Meu divino esposo do céu, meu amado, estávamos
enganados, a vida a partir daqui tem um sentido diferente. O amor que aí vivemos
25
até ao desespero, cá deste lado, não tem o valor de um pinto, e os bens que
pensávamos que nos conduziriam a um lugar de bom merecimento, ficaram pelo
caminho. Grande dolo3. Só o meu amor por ti, meu adorado esposo, continua igual,
absoluto e derradeiro, e por isso preciso explicar-te o que por cá se passa, antes que
seja tarde. Podes crer. Tão grande é a minha emoção ao fazer esta denúncia, que me
30 atrapalho nas letras de cinza que desenho sobre este pedaço de sudário 4, e tão grande
a minha urgência em fazer-to saber, que nem sei como chamar as palavras.
Colóquio Letras, n.º 181, setembro/dezembro de 2012, p. 136.
1
folhas de papel.
2
alívio, conforto.
3
engano, fraude.
4
lenço usado para envolver um cadáver, mortalha.
1.Teresa escreve “uma bem estranha carta” (l. 2), uma vez que
A. se encontra enclausurada.
B. já morreu e comunica com Simão.
C. as frases não têm nexo.
D. a tinta é de má qualidade.
2. As “matérias tão precárias” (l. 4) remetem para
A. as lágrimas.
B. o papel usado.
3
Palavras 11
C. materiais pouco frágeis.
D. cinza diluída em lágrimas.
3. A expressão “não tem o valor de um pinto” (l. 25) significa
A. tem pouco valor.
B. não vale tanto como um pintainho.
C. não significa nada para mim.
D. não é correspondido.
4. O pronome presente em “nos conduziriam” (l. 26) desempenha a função sintática
de
A. complemento indireto.
B. complemento agente da passiva.
C. complemento direto.
D. sujeito.
5. A oração “que me atrapalho nas letras de cinza” (ll. 29-30) é
A. subordinada substantiva completiva.
B. subordinada adverbial causal.
C. subordinada adverbial consecutiva.
D. subordinada adjetiva relativa explicativa.
6. Refere o tipo de coesão assegurado pelas seguintes expressões: “estas laudas”
(l. 3) e “esta carta” (ll.21-22).
7. Refere os processos fonológicos ocorridos de VITAM > vida.
8. Indica a função sintática da expressão “a minha emoção” (l. 29).
Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião, com 180 a 220
palavras, no qual fundamentes o teu ponto de vista com dois argumentos e com, pelo
menos, um exemplo concreto e significativo para cada um.
4
Palavras 11
1. Teresa é caracterizada como uma jovem, ainda adolescente (“menina de quinze
anos”), “vizinha” de Simão, e que por ele se apaixona. Esta menina pertence a
um estatuto socioeconómico elevado, pois apresenta-se como uma (“rica
herdeira”, “bem-nascida” – ll. 1-2), possuindo uma aparência medianamente
bela (“regularmente bonita” – l. 1). Para a sua idade, Teresa é uma adolescente
singularmente madura, que ama com uma seriedade invulgar (“o amor de Teresa
(…) era verdadeiro e forte”). Outra característica sua é a determinação, já que,
por amor, desafia o dever de obediência filial quando se vê, pela força, impedida
de se relacionar com o seu apaixonado.
B
4. O tema do poema é a exaltação da beleza de “Leanor”, a caminho da fonte. O
sujeito poético descreve com bastante pormenor a roupa da jovem, com
referências às cores “escarlata” e branca. Também os “cabelos de ouro” e as
“mãos de prata” atraem a atenção do “eu” e podem sugerir a beleza e a pureza,
características do modelo clássico de mulher ideal. A jovem está descalça, “vai
fermosa e não segura”, tornando-se alvo de sedução ou das tentações do Amor,
contra os quais se encontra desprotegida e livre. A beleza e a graciosidade de
“Leanor” aproximam-na da perfeição.
Grupo II
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
B D A C C Coesão lexical. Apócope do /m/ e sonorização Sujeito.
do /t/.
Grupo III
5
Palavras 11
Tópicos sugeridos:
criar e educar um filho não é tarefa fácil, pois desde o nascimento, há sempre
muitas decisões importantes a tomar, acompanhadas de incertezas, medos e
angústias;
à medida que os filhos vão crescendo, a cada dia tornam-se mais autónomos nas
suas atitudes e decisões;
a autonomia dos filhos vem também acompanhada de dúvidas e incertezas e,
muitas vezes, de decisões irreverentes e controversas aos olhos dos seus pais;
quando os filhos não fizerem o correto, aos olhos dos seus pais, estes devem
questioná-los, aconselhá-los e alertá-los para as possíveis consequências
negativas destas opções;
mesmo que não concordem com estas decisões, os pais devem manter-se sempre
ao lado dos seus filhos, ainda que se venha a provar que aqueles tinham razão;
(...)