Metrite e Endometrite em Vacas de Alta Lactação

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UniRV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

METRITE E ENDOMETRITE EM VACAS DE ALTA LACTAÇÃO

ADEMECIL CANDIDO DUARTE FILHO


Orientador: Prof. Esp. EDINALDO DOURANDO ROCHA NOGUEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade de Medicina Veterinária da
UniRV – Universidade de Rio Verde, resultante
de Estágio Curricular Supervisionado como
parte das exigências para obtenção do título de
Médico Veterinário

RIO VERDE – GOIÁS


2019
DEDICATÓRIA

Meu trabalho de conclusão de curso está sendo dedicado para todos aqueles que
acreditaram no meu potencial, e confiaram que conseguiria me tornar um Médico Veterinário,
em especial a meus pais; Ademecil Candido Duarte e Silvana R. de Macedo Duarte, aos meus
irmãos, Eduardo Macedo Duarte, Athilio Macedo Duarte e Arthur Thadeu Macedo Duarte, a
meus avós Alcides Candido da Fonseca Filho, Marta Duarte da Fonseca, Palmério Francisco
de Macedo, Idelma Rodrigues de Macedo, e a toda minha família que tiveram papel
fundamental na minha criação e na minha vida.
Também dedico meu trabalho a uma pessoa mais que especial na minha vida e que fez
uma enorme diferença nessa reta final, pois passei por desafios grandiosos e difíceis, por me
proporcionar conversas onde me erguia e me animava a não desistir da realização dos meus
sonhos me trazendo orgulho. Obrigado Eline Vieira Oliveira.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me iluminar em todos os momentos de minha vida, dando-me


força e paciência para superar todos os desafios em que fui exposto.
Agradeço também á todos os professores do curso de Medicina Veterinária que me
agregaram conhecimentos durante toda a jornada do curso de graduação, em especial ao
professor orientador Edinaldo Dourando Rocha Nogueira que me indicou os caminhos
corretos para a execução desta monografia tendo paciência e não desistindo de me ajudar
quando precisei. Enfim agradeço a todos que contribuíram de forma direta ou indiretamente
para a realização desta pesquisa.
Agradeço também aos Médicos Veterinários; Nickson Gonçalves Tadão, Bethania
Brignoni, por me proporcionarem dias consecutivos de aprendizagem, confiança e espaço
onde tive oportunidade de colocar o aprendizado adquirido durante toda minha graduação em
execução.
Também quero agradecer aos meus amigos Albert Einstein Ribeiro, Felipe Eduardo
Chagas. Obrigado pelos inúmeros conselhos, frases de motivação e puxões de orelha. As
risadas, que vocês compartilharam comigo nessa etapa tão desafiadora da vida acadêmica,
também fizeram diferença. Minha eterna gratidão. Esse trabalho de conclusão de curso
também é de vocês.
RESUMO

Filho, A.C.D. Metrite e endometrite em vacas de alta lactação-Fazenda Jatobá. 2019. 36f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) – UniRV –
Universidade de Rio Verde, Rio Verde, 20191.

As principais atividades desenvolvidas durante o ESO concentraram-se na área de manejo


reprodutivo, manejo nutricional e manejo sanitário. Observou-se que vários animais
apresentaram metrite e endometrites. (O que justifica o presente trabalho, através de um
estudo aprofundado em metrite somado a descrição de um atendimento, para tal enfermidade.)
Este trabalho tem por objetivo relatar as atividades desenvolvidas no período do estágio
curricular supervisionado para Graduação em Medicina Veterinária realizado na Fazenda
Jatobá em Rio Verde- GO, com a supervisão da Médica Veterinária Bethânia Brignoni. As
atividades desenvolvidas na propriedade demandaram o uso das técnicas da reprodução,
praticadas por profissionais especializados, para que atingisse resultados satisfatórios,
possibilitando ganho genético rápido com o melhoramento genético do rebanho e consequente
aumento da produção leiteira.

PALAVRAS-CHAVE

Bovinos, Reprodução, infecção, produção leiteira, útero.

1
Banca Examinadora: Prof. Esp. Edinaldo Dourando Rocha Nogueira (Orientador); Prof. Dr. Tales Dias do
Prado; Profa. Ms. Mariana Paz Rodrigues Dias - UniRV
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Fazenda Jatobá, produção de leite, Rio Verde- GO.................................. 11


FIGURA 2 Imagem do aparelho reprodutivo feminino compõe-se de vulva,
vestíbulo, vagina, cérvix, útero, tubas uterinas (oviduto) e ovários........... 16
FIGURA 3 Cérvix bovina vista por corte lateral.......................................................... 17
FIGURA 4 Ilustração esquemática do aparelho reprodutor da vaca; vista dorsal.
Vulva, vestíbulo e conduto vaginal abertos, o que possibilita a
visualização de cérvix, clitóris e meato urinário externo........................... 18
FIGURA 5 Metrite em bovinos.................................................................................... 20
FIGURA 6 Escore de descarga vaginal para Metricheck............................................. 22
FIGURA 7 Imagem fotográfica de aspecto de metrite pós-parto................................. 23
FIGURA 8 Ultrassonografia com imagem Hiperecóica............................................... 28
FIGURA 9 Dispositivo METRICHECK introduzido no animal.................................. 29
FIGURA 10 Dispositivo METRICHECK e a identificação de infecção uterina de
grau 3°........................................................................................................ 29
FIGURA 11 Introdução de Cefapirina Benzatinica no lúmen uterino com o auxílio do
cateter aplicador, juntamente com medicamento ...................................... 30
FIGURA 12 Animal depois de ter respondido o tratamento........................................... 31
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Casos clínicos diagnosticados em bovinos, acompanhados durante a


realização do ESO...................................................................................... 13
TABELA 2 Casos cirúrgicos em bovinos e equinos acompanhados durante o ESO.... 13
TABELA 3 Manejos sanitários, acompanhados durante o ESO.................................... 13
TABELA 4 Manejos reprodutivos acompanhados durante o ESO................................ 14
TABELA 5 Classificação dos processos inflamatórios do trato genital das 21
fêmeas......
LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E SIGLAS

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


ESO - Estágio Supervisionado Obrigatório
IA - Inseminação Artificial
IATF - Inseminação Artificial em Tempo Fixo
SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 10
2-DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTAGIO.................................................................... 11
3-ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.............................................................................. 13
4-REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 15
4.1 Introdução..................................................................................................................... 15
4.1.1 Anatomia do sistema reprodutor das fêmeas............................................................. 16
4.2 Definições..................................................................................................................... 18
4.3 Epidemiologia............................................................................................................... 18
4.4 Etiologia e fisiopatogenia............................................................................................. 19
4.5 Avaliação do catarro genital......................................................................................... 20
4.6 Tipos de Metrite........................................................................................................... 20
4.6.1 Metrite puerperal aguda............................................................................................. 22
4.6.2 Metrite clínica........................................................................................................... 23
4.6.3 Metrite crônica.......................................................................................................... 23
4.7 Tipos de Endometrite................................................................................................... 23
4.7.1 Endometrite clínica.................................................................................................... 23
4.7.1.1 Diagnóstico............................................................................................................. 24
4.7.1.2 Sintomatologia........................................................................................................ 24
4.7.2 Endometrite subclínica.............................................................................................. 24
4.7.2.1Sintomatologia........................................................................................................ 24
4.7.2.3 Prognóstico............................................................................................................. 25
4.8 Diagnóstico................................................................................................................... 25
4.9 Tratamento.................................................................................................................... 26
4.10 Controle e profilaxia................................................................................................... 27
5-RELATO DE CASO....................................................................................................... 28
6-CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 32
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 33
1 INTRODUÇÃO

O Brasil produziu 35,1 bilhões de litros de leite em 2017 e, em quatro décadas, a


produção nacional quadruplicou. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), nas últimas décadas, a atividade leiteira brasileira evoluiu de forma contínua,
resultando no crescimento consistente da produção, que colocou o país como um dos
principais do setor no mundo. A reprodução é um dos pilares principais da produção de leite
(LEBLANC, 2008).
A incidência de metrite varia entre 10 a 20%, de endometrite clínica ou secreção
vaginal purulenta é de aproximadamente 15%, e de endometrite subclínica ou citológica de
15% (SMITH et al., 2002).
Doenças uterinas são reconhecidas por causarem altas perdas econômicas, tais como:
queda na produção de leite, menores taxas de concepção, aumento no intervalo parto
concepção ou primeiro serviço, aumento no intervalo entre partos e aumento no descarte de
vacas por falhas reprodutivas (SHELDON et al., 2009a).
Em 1986, as perdas econômicas devido a doença uterina foram estimadas em US$ 106
por vaca em lactação nos EUA (BARTLETT et al., 1986) e o custo anual de doença uterina
somente nos EUA é estimada em $650 milhões (SHELDON et al. 2009a).
A realização destas atividades exige, além de conhecimentos teóricos profundos, muita
prática para que se tenha agilidade na implantação destas ferramentas na fazenda, buscando
sempre incrementar os índices de concepção e as taxas de gestação, a cada estação
reprodutiva realizada.
As principais atividades desenvolvidas durante o ESO concentraram-se na área de
manejo reprodutivo, manejo nutricional e manejo sanitário, pode se observar animais
apresentando metrite e endometrites. Este trabalho tem por objetivo relatar as atividades
desenvolvidas no período do estágio curricular supervisionado para Graduação em Medicina
Veterinária realizado na Fazenda Jatobá em Rio Verde- GO, no período de 05 de agosto a 12
de novembro de 2019, com total de 440 horas de estágio curricular com a supervisão da
Médica Veterinária Bethânia Brignoni.
11

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A fazenda (Figura 1), localiza-se no município de Rio Verde, estado de Goiás e conta
com seis colaboradores, que são responsáveis pelos cuidados dos animais e pela ordenha. A
fazenda produz cerca de 3.000 litros de leite por dia, com 123 animais em plena lactação,
onde os animais são ordenhados 2 vezes ao dia, contando com um sistema automatizado de
ordenha. A propriedade conta com uma Médica Veterinária que fica responsável pelo
tratamento dos animais durante todo o ano, com acompanhamentos de reprodução, nutricional
e sanitário, praticando o bem-estar de todo o plantel, para que possa expressar seu maior
potencial de produção de leite

FIGURA 1 - Fazenda Jatobá, produção de leite, Rio Verde- GO.

Durante o período de Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) foram executados


vários procedimentos sanitários, nutricionais e reprodutivos.
As atividades desenvolvidas na propriedade atendida demandaram o uso das técnicas
da reprodução, praticadas por profissionais especializados, para que atingisse resultados
satisfatórios, possibilitando ganho genético rápido com o melhoramento genético do rebanho
e consequente aumento da produção leiteira.
12

O estágio curricular nesta propriedade possibilitou a fixação e acompanhamento


prático das disciplinas e temáticas repassadas em sala de aula durante a graduação em
Medicina Veterinária, especialmente, no que se trata de clínica médica e cirúrgica e
reprodução de animais de grande porte.
Durante o ESO destacou-se a elevada casuística nos atendimentos clínicos da
ocorrência de metrite e endometrites nas matrizes, uma afecção considerada comum nos
rebanhos leiteiros, porém que gera uma grande preocupação, pois, apesar das biotecnias da
reprodução estarem cada dia mais avançadas, não se consegue diminuir a incidência destas
patologias, o que gera um impacto negativo na reprodução do rebanho.
Desta forma, com o presente trabalho buscou realizar uma revisão de literatura sobre
metrite e endometrites em bovinos de leite, e discorrer um caso clínico citando os métodos de
diagnóstico e terapêutico utilizadas em vacas de alta lactação, com a resposta satisfatória,
após o uso de medicamentos recomendados para o tratamento dos animais.
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Dentre as atividades desenvolvidas durante o ESO destacam-se: Casos clínicos em


bovinos, casos cirúrgicos, manejo sanitário e manejo reprodutivo no rebanho leiteiro, durante
o período de agosto a novembro de 2019, detalhadas nas Tabelas 1,2, 3 e 4.

TABELA 1 - Casos clínicos diagnosticados em bovinos, acompanhados durante a realização


do ESO

Diagnósticos Espécie Números Porcentagem (%)


Endometrite Bovina 1 0.98
Metrite Bovina 28 27,45
Morte embrionária Bovina 17 16,67
Tristeza Parasitária Bovina 15 14,70
Pododermatite Bovina 1 0,98
Cisto Folicular Bovina 6 5,88
Casqueamento Bovina 17 16,67
Pneumonia Bovina 1 0,98
Diarréia Neonatal Bovina 13 12,75
Linfoma Bovina 2 1,96
Timpanismo em Bezerros Bovina 1 0,98
TOTAL 102 100%

TABELA 2 - Casos cirúrgicos em bovinos e equinos acompanhados durante o ESO

Casos cirúrgicos Espécie Números Porcentagem (%)


Descorna de Bezerros Bovina 40 65,57
Hérniorrafia Umbilical Bovina 1 1,64
Cesárea Bovina 3 4,92
Orquiectomia Bovina 17 27,87
TOTAL 61 100%

TABELA 3 - Manejos sanitários, acompanhados durante o ESO

Procedimentos Espécie Número Porcentagem (%)


Vacinação contra Leptospirose Bovina 288 43,84
Vacinação contra Brucelose Bovina 41 6,24
Vacinação contra Clostridiose Bovina 288 43,84
Vacinação contra Pasteurelose Bovina Bovina 40 6,08
TOTAL 657 100%
14

TABELA 4 - Manejos reprodutivos acompanhados durante o ESO

Espécie Número Porcentagem


Procedimentos
(%)
Diagnóstico de gestação por ultrassom e Bovina 657 77,66
palpação retal
Inseminação Artificial em Tempo Fixo Bovina 60 7,09
(IATF)
Inseminação Artificial Convencional (IA) Bovina 105 12,41
Exame Ginecológico (VAGINOCOPIO e Bovina 24 2,84
METRICHECK)
TOTAL 846 100%
3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Introdução

No parto de vacas, o útero é contaminado por bactérias ambientais, as quais são


eliminadas durante o processo de involução uterina normal. O ambiente uterino é
comprometido quando ocorrem alterações nos mecanismos de defesa locais e consequente
persistência de bactérias patogênicas, resultando no estabelecimento de diferentes quadros de
infecção uterina (SHELDON et al., 2004; SHELDON et al., 2009b).
O termo “infecção uterina” é considerado generalista, uma vez que os critérios
utilizados para diagnosticar e classificar os tipos de infecções uterinas são muito variados.
Além disso, muitos estudos não descrevem os critérios adotados, o que dificulta a comparação
e a interpretação dos dados (LEWIS, 1997; GAUTAM et al., 2010).
Ocorrências de retenção de placenta, distocias, partos gemelares, abortos e curtos
períodos de gestação estão entre os principais fatores de risco associados ao estabelecimento
de infecções uterinas (SHELDON et al., 2006; BELL e ROBERTS, 2007; BENZAQUEN et
al., 2007, RISCO et al., 2007). O estabelecimento, a gravidade e a persistência dos diferentes
tipos de infecção são influenciadas basicamente pela condição do ambiente uterino, por
fatores genéticos, além das imunidades inata e adquirida (WILLIANS et al., 2007;). A
expressão dos sinais clínicos depende da interação entre resposta imunológica, quantidade e
patogenicidade dos agentes microbianos (MARTINS et al. 2014; AZAWI et al., 2008).
Em torno de 40% dos animais de alta produção, mantidos em sistemas intensivos,
persiste na forma de endometrite clínica em até 20% dos animais (SHELDON et al., 2009b).
No estudo de Martins (2010), 64% dos animais avaliados, de um rebanho de vacas da raça
Holandesa mantidas em confinamento tipo free-stall, apresentaram metrite ou endometrite,
até 42 dias após o parto.
As consequências da alta incidência de infecções uterinas diferem consideravelmente
entre os animais. A intensidade dos efeitos depende da gravidade da infecção, do tempo de
ocorrência após o parto e da saúde geral do rebanho (Lewis, 1997). Os principais efeitos da
infecção uterina estão associados ao atraso na involução uterina, aos altos gastos com
16

tratamento, à diminuição da ingestão de alimentos, à redução na produção de leite e aos


quadros secundários de subfertilidade, que podem levar ao descarte involuntário dos animais
(LEWIS, 1997; BELL e ROBERTS, 2007; MARTINS, 2010).

3.1.1 Anatomia do sistema reprodutor das fêmeas

De maneira geral, o aparelho reprodutor feminino em bovinos é composto da camada


mais externa para interna, por vulva, vestíbulo, vagina, cérvix, útero (constituído de colo,
corpo e cornos uterinos direito e esquerdo), ovidutos e ovários (PANSANI e BELTRAN,
2009).
A genitália externa, composta pela vulva e vestíbulo é onde se inicia o trato genital,
seguida pela vagina – órgão copulatório – e cérvix uterina (também denominado colo),
comunica o fundo vaginal com o corpo uterino (HAFEZ et al. 2004) Essa última é composta
por anéis e tem como principais funções a seleção e reservatório dos espermatozoides para
posterior prenhez, além de viabilizar a proteção para o útero e concepto durante a gestação
(Figura 2) (FEITOSA, 2014).

Fonte: Nickel e Schummer (1981).

FIGURA 2 - Imagem do aparelho reprodutivo feminino compõe-se de vulva, vestíbulo,


vagina, cérvix, útero, tubas uterinas (oviduto) e ovários.

O útero apresenta ampla capacidade de distensão, o que possibilita a gestação, além de


grande força de contração, facilitando a expulsão dos produtos e permitindo a rápida
involução no período puerperal (Figura 3) (FEITOSA, 2014).
17

Fonte: Nickel e Schummer (1981).

FIGURA 3 - Cérvix bovina vista por corte lateral.

Esse órgão tem peso aproximado de nove quilos (kg) no momento do parto e regride
para cerca de 1 quilo ao completar 30 dias de puerpério. Em condições normais, o útero é
estéril, porém, no momento do parto, com a vulva e a vagina relaxadas, bactérias podem
ascender e contaminar o lúmen uterino (SHELDON e DOBSON, 2004).
De acordo com Feitosa (2014), as tubas uterinas ou ovidutos podem ser divididos
segundo a funcionalidade dos segmentos em (1) fímbrias; (2) infundíbulo; (3) ampola; e (4)
istmo, cm funções singulares de condução do óvulo e espermatozoides em direções opostas,
possibilitando, em conjunto, a fertilização e as primeiras clivagens, além de conduzir o
embrião ao útero. Já os ovários, que possuem o formato de amêndoas, têm duas funções bem
definidas: a exócrina responsável pela liberação dos oócitos e endócrina encarregada pela
estereoidogênese (Figura 4).
18

Fonte: Feitosa (2014).

FIGURA 4 - Ilustração esquemática do aparelho reprodutor da vaca; vista dorsal. Vulva,


vestíbulo e conduto vaginal abertos, o que possibilita a visualização de cérvix,
clitóris e meato urinário externo.

3.2 Definições

Os processos inflamatórios podem ser classificados de acordo com a estrutura


acometida. No caso das endometrites, a inflamação envolve o endométrio e os tecidos
glandulares. As metrites acometem o endométrio, os tecidos glandulares e principalmente as
camadas musculares (miométrio) e em muitas das vezes se associam com as endometrites. Em
estudos correlacionados, o termo metrite é utilizado para ambos os casos (BORALLI e
ZAPPA, 2012).
Segundo Souto et al., (2013) as metrites podem ser classificadas em puerperais, que
ocorrem na primeira semana pós-parto (agudas), também denominadas de sépticas, e pós-
puerperais (crônicas) que ocorrem depois dos 45 dias pós-parto.
Para Marques Júnior et al., (2011), há ainda a metrite clínica que ocorre entre 14 e 21
dias pós-parto, a endometrites clínica que pode ocorrer além de 21 dias pós-parto e a
endometrites subclínica, que surge após o período voluntário de espera.

3.3 Epidemiologia

A eficácia reprodutiva está intimamente relacionada com a incidência de endometrite.


Estima-se que 60% dos bovinos sejam acometidos por alguma patologia uterina no pós-parto.
19

Tais condições levam a repercussões econômicas, pois, por exemplo, há diminuição da taxa
de concepção e da produção de leite.
De acordo com Sheldon et al., (2009) nas duas primeiras semanas pós-parto a
prevalência da metrite varia entre 25-40%. Se houver sinais sistêmicos, principalmente a febre,
a prevalência pode variar entre 18,5% e 21%.
Dentre os problemas reprodutivos mais frequentes relacionados à esterilidade e que, se
relacionam com as infecções uterinas pode-se citar: as retenções de placenta (49%), os
abortos (38%), as metrites (29%) e as endometrites (30%) (ANDRADE et al., 2005;
KASIMANCKAM et al.2005)

3.4 Etiologia e fisiopatogenia

No período pós-parto, fisiologicamente ocorre o relaxamento da cérvix, dilatação da


vulva e vagina, o que predispõe a ascensão de bactérias e sua proliferação no lóquio uterino
(EMBRAPA, 1991).
De acordo com et al. (2005), os principais agentes relacionados às infecções uterinas
são Streptococcus, Staphylococcus, Escherichia coli, Proteusspp,Actinomycespyogenes,
Clostridium spp, Micrococcus, Pseudomonas spp.,Enterobacter spp.eBacillusspp. Pode-se
relacionar a frequência das infecções uterinas com o agente etiológico específico.
A metrite puerperal está associada aos partos distócios (por atonia uterina e edema de
membranas), ou por alterações fetais como a gemelaridade e o gigantismo, por exemplo. Os
principais germes são Streptococcus, Staphylococcus, Escherichia coli e os representantes do
gênero Clostridium (SANTOS, 1979). Além disso, a retenção placentária pode ser
considerada o principal fator de risco para essa infecção. Essa condição favorece o acúmulo
de secreções, diminuição da contratilidade do miométrio e dos mecanismos de defesa locais,
aumentando a colonização de patógenos (MARTINS et al.,2013).
Nas endometrites, os casos graves se relacionam com C. pyogenes enquanto que, nas
endometrites moderadas há maior incidência de Staphylococcussp, C. pyoaenes, Escheríchía
colí. Streptococcus sp. (EMBRAPA, 1991).
Histologicamente, a metrite apresenta-se como inflamação aguda serosa e purulenta
com edema importante nos casos agudos. Pode haver erosão do epitélio de revestimento e
predomínio de linfócitos nos exsudatos (SANTOS, 1979). Já na endometrite há infiltração do
estroma por linfócitos e plasmócitos além de que as glândulas podem ficar revestidas por
tecido conjuntivo (fibrose periglandular) além de dilatação glandular (SOUTO et al., 2013).
20

Macroscopicamente, na endometrite, há aumento do volume da cérvix associado ao


relaxamento do canal e a projeção dos primeiros anéis para o interior da vagina. Devido ao
aumento da espessura das paredes, o corpo e os cornos uterinos estão com maior volume. Nos
casos mais graves, pode haver ulcerações e petéquias endometriais e até mesmo fibrose e
obstrução das tubas uterinas (Figura 5) (EMBRAPA, 1991).

Fonte: Campos e Carrer (2007).

FIGURA 5 - Metrite em bovinos.

3.7 Avaliação do catarro genital

Nas infecções uterinas, os sinais apresentados pelas vacas e búfalas variam de acordo
com a severidade do processo inflamatório. Dessa forma, podem-se diferenciar quatro formas
clínicas distintas. Tais apresentações não necessariamente representam patologias diferentes,
somente representam uma variação dos sintomas (Tabela 5) (GRUNERT et al., 2005).

TABELA 5 - Classificação dos processos inflamatórios do trato genital das fêmeas

CATARRO GENITAL APRESENTAÇÃO CLÍNICA


21

1 – Catarro genital de 1° grau (CGI) – Processo inflamatório que atinge a mucosa.


cervicite e endometrite pós-puerperal Manifestação clínica: produção de secreção
crônica sero-mucosa.
2 - Catarro genital de 2° grau (CGII) – Maior severidade das manifestações do
cervicite e endometrite pós-puerperal processo inflamatório, com aumento do fluxo
muco-purulente crônica cervical, mucoso, associado a grumos
purulentos;
3 - Catarro genital de 3° grau (CGIII) – Processo inflamatório generalizado do
cervicite e endometrite pós-puerperal endométrio e da cérvix. Características: fluxo
purulenta crônica genital purulento com alteração na
regularidade dos ciclos estrais
Processo inflamatório da mucosa uterina com
4 - Catarro genital de 4° grau (CGIV) – exuberante produção de pus, alteração da
piometra regularidade dos ciclos estrais, aumento do
volume dos cornos uterinos com flutuação e
presença de corpo lúteo;

De acordo com Sheldon et al. 2006) o caráter do catarro genital pode ser pontuado,
com o odor (0 para nenhum odor e 3 para odor fétido). Tal pontuação representa a
colonização uterina por certas bactérias, como por exemplo, a apresentação mucopurulenta
pode ser associada com F. necrophorum e a secreção purulenta foram associadas a espécies
de A. pyogenes e Proteus, enquanto o odor fétido foi associado a uma maior carga de A.
pyogenes, E. coli, Streptococci e Mannheimia haemolytica. O escore 0 é caracterizado por
muco limpo ou translúcido; escore 1 apresenta características de muco contendo manchas
brancas ou claras de pus; escore 2 representa a descarga vaginal contendo ≤ 50% de material
mucopurulento branco ou claro e o escore 3 ilustra a descarga vaginal contendo ≥ 50% de
material purulento, branco ou sanguinolento (Figura 7).

Fonte: Sheldon et al. 2006)


22

FIGURA 7 - Escore de descarga vaginal para Metricheck.

3.5 Tipos de Metrite

3.5.1 Metrite puerperal aguda

Apresenta-se clinicamente por meio de sinais de septicemia tais como febre alta
(temperatura retal geralmente maior que 39,5°C), diminuição importante da produção de leite,
depressão, anorexia e secreção cervicovaginal fétida, sanguinopurulenta e com coloração
achocolatada (BORALLI e ZAPPA, 2012). O prognóstico da metrite puerperal aguda é
reservado, pois frequentemente apresenta complicações como perimetrite, parametrite e o
quadro toxêmico pode levar a morte do animal. Além disso, o quadro clínico muda sua
apresentação, modificando o catarro genital de 2º ou 3º grau (GRUNERT et al., 2005).

Fonte: Campos e Carrer (2007).

FIGURA 6 - Imagem fotográfica de aspecto de metrite pós-parto.

3.5.2 Metrite clínica

Caracterizada por ausência de sinais sistêmicos e presença de secreção vaginal


purulenta, entre 14 e 21 dias após o parto (MARTINS et al., 2013).

3.5.3 Metrite crônica


23

Apresenta-se como processo inflamatório profundo, acometendo principalmente o


miométrio e que na maioria das vezes possui mal prognóstico em relação à função reprodutiva
(GRUNERT et al., 2005).

3.6 Tipos de endometrite

3.6.1 Endometrite clínica

A literatura técnica veterinária sobre endometrite em bovinos não possui uma


definição mundialmente aceita dessa doença, nem uma uniformidade nos critérios de
diagnóstico (KNUTTI et al., 2000).

3.6.1.1 Diagnóstico

Segundo Knutti et al. (2000), o diagnóstico é feito através de palpação retal e


eventualmente pela observação de descarga vaginal.
Segundo o autor a ultrassonografia é outro método muito útil no diagnóstico de
endometrites, pois possibilita verificar a presença de diferentes quantidades de conteúdo no
lúmen uterino, as características desse conteúdo, além do aspecto do endométrio.

3.6.1.2 Sintomatologia

Na endometrite muco-purulenta (endometrite do 2º grau) as secreções contêm estrias e


flósculos de pus. O óstio caudal da cérvix está ligeiramente edemaciado, com estrias ou
manchas inflamatórias avermelhadas. O corrimento da secreção pode ser observado no
interestro. Tais fêmeas mostram vestígios anormais de secreção na região da vulva e abaixo
da cauda.

3.6.2 Endometrite subclínica

A endometrite subclínica é uma doença de natureza crônica e é caracterizada pela


presença de neutrófilos na citologia uterina na ausência de sinais clínico de inflamação como
o exsudato purulento (SHELDON et al., 2006) Esse tipo de endometrite é causado geralmente
24

por algum trauma mecânico favorecendo o ingresso bacteriano no lúmen uterino, favorecido
pelo nível de progesterona da fase diestral.

3.6.2.1 Sintomatologia

Nos casos de alterações inflamatórias de pequeno grau ou localizadas, não se


observam sintomas clínicos. As secreções são totalmente reabsorvidas pela mucosa do
aparelho genital. O único sintoma clínico indireto é a repetição do cio. Com base na citologia
e histopatologia do endométrio admite-se que cerca de 10% a 20% dos animais que repetem o
cio sem causa aparente são portadores de endometrite.

3.6.2.3 Prognóstico

O prognóstico depende da causa e duração da patologia. Quanto mais catarral e mais


cedo se derem o diagnóstico e tratamento, maior e melhor será a perspectiva para o
restabelecimento da fertilidade. Muitas vezes a endometrite é curada espontaneamente em
fêmeas que estão ciclando, isso porque, a eliminação de patógenos e a regeneração da região
endometrial são favorecidos pelas alterações cíclicas uterinas e que são geridas pelo sistema
endócrino. Cerca de 85% dos animais com endometrite catarral ficam gestantes após um ou
dois tratamentos.
As infecções causadas por A. pyogenes, todavia, são de prognóstico desfavorável, pois
na maioria das vezes, persistem, mesmo depois de um tratamento intensivo e teste de
sensibilidade in vitro. Também são desfavoráveis os casos de inflamação que se dão de modo
prolongado ou a repetição de tratamentos com produtos de tipo abrasivo que levam à troca do
endométrio por tecido conjuntivo. Na endometrite de 1º grau, o prognóstico para o
restabelecimento varia de 50% a 70%; na de 2° grau o prognóstico de restabelecimento é de
40% a 60%; e nas de 3° grau, varia de 10% a 20%. Nas piometras estabelecidas por um longo
período, o prognóstico de restabelecimento é nulo devido a lesões não reversíveis no
endométrio, conduzindo a vaca à infertilidade.

3.8 Diagnóstico

O reconhecimento da doença em questão inicia a partir da observação de sinais


sistêmicos inespecíficos como a hipertermia, desidratação e diminuição da produção de leite,
25

porém não são completamente cruciais na determinação do diagnóstico, sendo necessária


investigação complementar (SHELDON et al., 2006).
A confirmação diagnóstica pode ser realizada através de vários meios de diagnósticos
como a palpação, avaliação da temperatura retal, a vaginoscopia associada à palpação, além
da coleta de culturas bacteriológicas e análise de sangue periférico (DOLEZEL et al., 2008).
A presença de hipertermia, porém apresenta-se apenas em 50% dos casos, segundo
estudo realizado. Assim, a medição da temperatura é um meio pouco confiável como
diagnóstico, já que o seu valor varia segundo fatores externos e internos como: saúde, idade,
época do ano e período do dia (PALENIK et al., 2009).
Ademais, quando comparado a avaliação do corrimento uterino, a avaliação de
temperatura também não representa fator definitivo no diagnóstico da metrite puerperal e sim
como fator prognostico da severidade da doença (DOLEZEL et al., 2008).
Ainda é possível determinar o nível de tonicidade uterina (hipotônico ou até mesmo
atônico) associado a distensão provocada pela quantidade de lóquio presente em seu interior.
É útil ressaltar que não se deve forçar tentativas de retração uterina nesse período, podendo
ser realizado uma massagem suave na cérvix, vagina e copo uterino, possibilitando assim a
eliminação da secreção fétida pela vulva (HILLMAN e GILBERT, 2008).
Para alguns autores, porém, a técnica pode ser a fonte de possível contaminação
bacteriana, sendo posteriormente contestado por Sheldon et al., (2008) que afirma que, desde
que a execução da técnica seja cuidadosa, a mesma não tende a afetar por tanto a involução
uterina, a respostas agudas das proteínas ou a própria contaminação bacteriana.
A ultrassonografia auxilia a verificar com maior precisão se há presença de conteúdo e
a involução uterina, que é caracterizada pela redução dos cornos e retorno do útero à pelve,
contração da cérvix e reepitelização do endométrio (MARTINS et al., 2013).
Além de permitir determinar o espessamento da parede uterina e revelar possível
retenção de membrana fetal ou mesmo gases (HILLMAN e GILBERT, 2008).

3.9 Tratamento

Estudos recentes na literatura relataram que a administração intra-uterina de cefapirina,


cefalosporina de primeira geração, formulada especificamente para administração intra-
uterina, foi capaz de melhorar o desempenho reprodutivo em vacas leiteiras com fatores de
risco de doença uterina. Todas as infusões intra-uterinas, com exceção da cefapirina, são
aparentemente contraindicadas. Dada a atual sensibilidade ao uso de antibióticos em vacas
26

produtoras de alimentos, são necessários mais testes antes que se possa endossar o uso da
cefapirina em todos os casos. Embora sejam fracos os indícios a favor do uso da PGF2α, esse
produto é barato e não prejudicial. Ele é útil nos programas de manejo reprodutivo, podendo
ser benéfico, independente da presença de endometrite (GAMBARINI et al., 2005).
A escolha do tipo de terapia implementada depende, do quadro clínico do animal,
sendo reservados tratamentos mais agressivos para casos de maior severidade (GAMBARINI
et al., 2005).
No entanto, com a grande gama de resultados apresentados e falta de dados sobre o
efeito do tratamento na prevenção de novos quadros infecciosos ou sobre a melhoria do
desempenho reprodutivo, uma análise mais crítica fica dificultada (LEBLANC, 2008).
Infelizmente ainda não há um método de prevenção eficaz, tão pouco um tratamento
seguro e eficaz. O uso da PGF2α (ou análogos) em alguns tipos de manejo pode ser benéfico
para o melhor desempenho reprodutivo, porém sem efeito prático para a cura da endometrite
(KNUTTI et al., 2000).

3.10 Controle e profilaxia

As infecções bacterianas do sistema reprodutivo são as principais e mais relevantes


causas de infertilidade (MARTINS et al., 2015). O período puerperal é determinante e possui
suma importância na vida reprodutiva das vacas (EMBRAPA, 1983).
Sabe-se que tais impactos reprodutivos geram consequências negativas no setor
econômico da bovinocultura e agropecuária, principalmente em vacas leiteiras de alta
produção. Deste modo, é imprescindível que sejam adotadas medidas de intervenção no
período pós-parto. Os conhecimentos dos métodos preventivos e diagnósticos tornam-se cada
vez mais essenciais (JÚNIOR et al., 2011).
A profilaxia inclui atitudes de higiene e manejo, boa alimentação e observação do
animal nos períodos pré-parto, durante e pós-parto. Além disso, deve-se adotar medidas para
eliminar as principais e possíveis causas de metrite, como a retenção placentária e distócias a
fim de que haja boa produtividade do rebanho (BORALLI e ZAPPA, 2012).
Para LeBlanc (2008), o melhor método preventivo para a retenção placentária é a
redução do estresse do animal com a melhora da função imune no período pré-parto e com
boa ingesta de alimentos no período de transição.
27

Uma medida importante de controle que pode ser adotada é a realização de exame
ginecológico das fêmeas 30 dias após o parto, o que permite a identificação precoce das
infeções e melhor resposta terapêutica (EMBRAPA, 1991).
4 RELATO DE CASO

No dia 10 de agosto de 2019, foi iniciado todo o manejo reprodutivo na fazenda Jatobá
no município de Rio Verde- GO, de propriedade dos irmãos Brignoni (Lirio Brignoni e
Anildo Brignoni), onde os Médicos Veterinários fazem o acompanhamento do plantel.
No mesmo dia, o manejo reprodutivo foi realizado em vacas de alta lactação, na
quantidade de 180 matrizes, onde permaneciam no sistema semi confinado.
Ao fazer a avaliação de rotina nos animais, os colaboradores informaram que havia
uma novilha que apresentava corrimento com odor fétido, em seguida foi separada dos demais
do lote, onde visualizou o corrimento inespecífico vaginal. O exame realizado através de
ultrassonografia por imagem hiperecóica (Figura 8) nos mostrou um abalotamento uterino que
constatou possivelmente pus uterino.

FIGURA 8 – Ultrassonografia com imagem Hiperecóica

Realizando o segundo exame ginecológico (VAGINOSCOPIO), foi descoberto


resquícios de pus, somente no terceiro exame realizado com o dispositivo Metricheck (Figura
9) foi possível à identificação de infecção uterina de grau 3° (Figura 10).
29

FIGURA 9- Dispositivo METRICHECK introduzido no animal.

FIGURA 10 - Dispositivo METRICHECK e a identificação de infecção uterina de grau 3°.

A ficha do animal, apresentou várias inseminações artificiais com confirmações de


prenhez através de ultrassonografia, com histórico de morte embrionária anteriormente,
período no qual ocorre a infecção chamada Metrite e Endometrite, que torna o tratamento
mais difícil. Se não devidamente tratada e medicada pode acarretar problemas futuros
causando esterilidade e morte do animal.
30

O medicamento utilizado no tratamento do patógeno foi dada através da utilização de


Amoxilina Tri-Hidratada de dosagem 15mg/kg, via intramuscular, durante 5 dias com
intervalo de 24 horas de uma aplicação a outra; com a associação de dipirona com dose de
500mg administrada com dose de 20 ml por aplicação: durante 5 dias com intervalo de 12
horas de uma aplicação a outra, por via intramuscular. Outro medicamento eficiente utilizado
no combate do patógeno foi a Cefapirina Benzatínica (METRICURE) na dose de 500mg,
introduzido no lúmen uterino com o auxílio de cateter aplicador (Figura 11), com intervalo de
7 dias de uma aplicação a outra, essas 4 aplicações foram suficientes para a cura completa.

FIGURA 11 – Introdução de Cefapirina Benzatinica no lúmen uterino com o auxílio do


cateter aplicador, juntamente com medicamento.

O animal foi acompanhado diariamente pelos responsáveis e a cada sete dias os


exames ginecológicos foram repetidos para observar a diminuição da metrite e endometrite, e
com a avaliação por meio dos exames soube-se a continuação do tratamento.
Devido ao grau da infecção o animal foi completamente curado com o tratamento de
30 dias (Figura 12), deixando-o pronto para o próximo manejo reprodutivo.
31

FIGURA 12- Animal depois de ter respondido o tratamento.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal consequência das endometrites é a interferência direta na taxa de prenhez,


em que vacas doentes ficam por um longo tempo vazias, com consequentes prejuízos nos
índices reprodutivos e produtivos do rebanho. A profilaxia ainda é a melhor maneira de evitar
a endometrite nas vacas, incluindo medidas higiênicas e de manejo, boa alimentação e
observação da vaca durante o período do periparto, ou seja, pré-parto, parto e pós-parto.
Com a utilização dos medicamentos, observou-se a melhora e a recuperação do animal
com rapidez, deixando-o pronto para a próxima reprodução, mas claro que com uma atenção a
mais.
O mais indicado, no entanto, continua sendo a prevenção que consiste em otimizar os
serviços reprodutivos deste animal promovendo a maior higiene possível, respeitando o ciclo
reprodutivo e sempre utilizando tratamento hormonais com cautela e segurança, sem esquecer
do período parto e pós-parto, onde o animal está muito suscetível a entrada de
microrganismos no útero.
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