Teoria Do Conto

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-Fichamento do livro: Teoria do conto

Nádia Battella Gotlib

A obra “Teoria do conto”, trata de um estudo de várias obras literárias em


busca do entendimento de como surgiram os contos e como se deu o processo de
evolução ao longo dos séculos.

A autora mostra uma coletânea de contos que vem tendo resistência ao longo
dos anos, além de manifestar para o leitor que se ele percorrer de forma correta a
enumeração de contos em um percurso temporal, verá que estar a conhecer a sua
própria história, através das estórias contadas que viraram histórias após a
concretização da escrita (p.6). Conforme Gotlib (1985): “Portanto, enquanto a força
do contar estórias se faz, permanecendo necessária e vigorosa, através dos
séculos, paralelamente uma outra história se monta (...)” (1990, p.6)

Em seu primeiro capítulo, a autora discute sobre como as estórias foram se


originando, perpassando de pessoas que contam e que ouvem, evoluindo através
da propagação cultural, religiosa existentes na época e ainda nas práticas atuais de
notícias e troca de ideias. O objetivo da autora é buscar o fio da estória, ou seja,
onde começou e consequentemente, entender a teoria do conto. Nadia destaca a
impossibilidade de definir o início do contar estórias, apesar de tratar-se de tempos
remotos, mas toma como base as obras consideradas mais antigas, como: a bíblia,
os contos egípcios- Os contos dos mágicos, que segundo Gotlib: “Devem ter por
volta de 4000 anos antes de cristo” (p.6) Destaca outras modificações nas quais o
conto que era transmitido oralmente passa a ser escrito, promovendo por meio disto
uma característica estética para o conto.

Gotlib, ainda traz para o leitor a existência de uma problemática de estética


literária, existente entre autores e escritores, a respeito do gênero conto, o que
caracteriza um conflito, no qual há quem admite uma teoria, há quem não a admite
de forma específica e ainda aparecem os que só querem liberdade para criar. Logo,
corrobora a autora : “Isto quer dizer que uns pensam que teoria do conto filia-se a
uma teoria geral da narrativa. E nisto tem razão. ” (1990, p.8). Para a autora não há
como desvincular o conto da sua forma narrada.

A partir daí surgem diferenciações acerca das características assumidas


pelos contos em seu desenvolvimento e nas suas produções no decurso da história
e como se preserva seu caráter de conto. (GOTLIB, p.8).

Para a autora é muito angustiante chegar a uma definição concreta sobre a


natureza do conto, já que autores renomados e contistas, como Machado de Assis e
Mário de Andrade encontraram a “forma do conto”, que segundo Mário de Andrade:
“foi a forma do conto indefinível, insondável, irredutível a receitas”. (ANDRADE
1976, apud GOTLIB 1990, p. 9)

Considerado gênero difícil, o conto é retratado como uma alquimia(ciência)


secreta, cheia de indefinições, mistérios e conflitos. Gotlib destaca a dificuldade
apresentada por Machado de Assis, em definir o gênero conto: “É gênero difícil, a
despeito da sua aparente facilidade” (ASSIS 1873, apud GOTLIB 1990, p.9).

Portanto, segundo a autora, tratar a teoria do conto refere-se uma batalha em


que a teoria acabaria com a vida do conto, já que o conto, segundo a teoria da
própria, começa no falar estória, e somente depois na história concreta e escrita.

Teoria do conto é uma obra rica em conhecimentos, trazendo para o leitor


uma enorme visão dos contos de como eram contados através da estória (escrita
dessa forma para referir a fala) e de sua concretização com a escrita, para se
transformar em História. A autora fala em dois tipos de história: a estória contada,
que vai evoluindo com o tempo, passando por gerações; e a história que conta a
estória, que sofre um processo de evolução ao longo do tempo, tendo como início o
simples contar, até a evolução dos contos escritos. Esta nomenclatura de referência
a narrativas ficcionais, “estória”, é desconhecida para muitos, até mesmo esquecida
pelos que já estudaram o assunto, por se tratar de algo que foge do cotidiano.

A obra é iniciada com a busca do fio da estória, com a finalidade de saber


onde tudo começou, e em seguida, para entender como se concretiza suas regras,
em virtude dessa impossibilidade, tendo em vista as discussões de autores, o livro
traz obras antigas para servir de embasamento do estudo, e isto é de muita valia
para a discussão da teoria do conto, visto que a autora aborda vários contos e cada
um, em seu momento secular, traz dessa forma uma visão histórica da vida de seus
antepassados, assim como de si mesmo. A busca pelo início de tudo é algo muito
interessante de se estudar, visto que enriquece o conhecimento e ajuda no
entendimento do velho e de como foi seu processo até a atualidade.

No capítulo dois, é tratado do conto como uma narrativa que possui três
entendimentos, relatados pela autora através da fala de Júlio Cortázar, em seu
estudo sobre Poe: “1. Relato de um acontecimento; 2. Narração oral ou escrita de
um acontecimento falso; 3. Fábula que se conta às crianças para diverti-las”
(Cortázar apud Gotlib, 1990, p.11). A autora chega à conclusão que todos têm as
mesmas semelhanças, pois todos são formas de contar, e por isso são
caracterizadas narrativas.

Ainda no segundo capítulo, algumas interrogações aparecem, em relação à


veracidade do conteúdo dos contos, mostrando que o contar, não é só o fato de
relatar um acontecimento. O contar vai muito além do relatar, ou seja, não tem
limites, vai além da imaginação, portanto, dependerá mais de quem conta, do que
do conto em questão, já o relatar, é algo mais preciso, de um acontecimento escrito
ou testemunhado por aquele que conta, deixando perceptível que o relato pode ser
cópia, mas o conto tem que ter a autoria da criação. Então para diagnóstico do que
seja verdadeiro ou não no conto, Gotlib diz: “Há, pois, diferença entre um simples
relato, que pode ser um documento, e a literatura” (1990, p.12-13). Ou seja, para ela
o conto não tem dimensão, porém o relato sim, já que é algo mais específico, real
traduzido como ocorrido.

No tópico “O conto literário”, é dito que o processo da história do conto se deu


a partir da invenção, depois de sua narração, para então chegar na sua forma
escrita. Como sequência do seu desenvolvimento o criador toma as rédeas de suas
histórias, dessa forma o criador, escritor e contador afirma a sua aptidão como
literário. Mesmo tomando as rédeas do conto, o autor em sua forma de falar, gestos,
olhares pode alterar o discurso, por isso existe uma “forma” no modo em que o autor
expressa o conto, buscando prender a atenção do público. E isto, também é notório
na forma escrita, dependendo de como se escreve, a voz do contador pode também
causar essa interferência.

A afirmação do contista só se concretiza, quando por meio de um repertório


escrito ou contado, seu criador atinge a construção de um conto que revele seus
valores únicos. Estes valores rebatem a questão da variação na forma do gênero
conto, tendo em vista que existiu um período em que cada gênero teria um público
específico para atingir, juntamente com um repertório de normas a serem seguidas.
Em seguida, surge um período que embaralha os gêneros, uma forma de condensar
o que era concreto, fazendo do conto, por exemplo, uma narrativa que se misturava
ao romance, então tirando dele a ideia de seguir normas. Por essa razão, a autora
afirma que: “O limite dos Gêneros torna-se um problema” (GOTLIB 1990, p.14) visto
que alguns modos partilhavam semelhanças de gêneros, sem especificações e isto
provocava algumas confusões que refletem na terminologia da arte de contar.
Como exemplo, os autores: Machado de Assis e Mário de Andrade, citados no
tópico “ Este inábil problema de estética literária” (p.9)

No que se refere a questão da terminologia, segundo a autora, iniciou-se


com o termo Novel, um termo em inglês para se referir a prosa,a narrativa de ficção
com personagens e ações, porém diferente do romance, que seria uma modalidade
mais longa e mais tradicional, com o passar dos anos o romance antigo entra em
declínio e o novel vira romance e deixa de ser breve.

Com o passar dos séculos o termo que se referia a prosa narrativa de ficção,
passa a se referir a romance e então surge o novo termo: short-story, termo usado
para referir-se a pequenas estórias. Neste período, conto, novela e romance se
misturavam, até o momento em que cada uma foi ganhando sua própria definição e
tamanho. As novelas, diferentemente dos dias de hoje, eram consideradas breves,
por isso se confundia com conto.

Com o avanço natural das sociedades e das culturas foi surgindo histórias,
relatos, parábolas e fábulas, para então chegar a terminologia conto, já que este, se
concretiza com a característica de outros gêneros, como fábula e parábola, além de
ter alguns traços de novela. Em cada país, os termos escritos vão ganhando novas
formas ou significados, porém o sentido de pequeno texto continua sendo buscado,
e modificado de um país para outro.. Na Alemanha o conto passa a ser algumas
vezes mais longo, muda-se a definição de conto mais curto para kurs schichte,
marchen para referir-se ao conto popular e roman para romance. E as mudanças e
adaptações a essas terminologias continuam nos Estados Unidos, o termo short
story ganha um espaço de destaque, passando a ser um gênero independente com
suas próprias características.

Esta confusão ainda continuava, visto que autores distintos usavam um


mesmo termo para definições diferentes, alguns buscando determinar a forma mais
realista, outros a forma mais estática e mais descritiva. Em seguida aparece mais
dois termos: yarn e tale, o primeiro refere-se a um conto em sua forma real, ou até
mesmo coloquial, o segundo, por sua vez, trata da forma mais fictícia ou não, mas
que tivesse um tamanho maior em relação ao outro.

No século XIX surge uma concepção de gênero misturado, uma forma híbrida
de se compor o conto, mas sempre buscando conservar o seu caráter heroico da
estória, isto com muita ou pouca intensidade, sempre dependendo de quem a
escreve. A autora traz uma diferença importante a respeito do poema em relação ao
conto, que ao perder seu caráter épico, passa a ser lírico, promovendo também uma
característica própria daquele. Mas ressalta: “No entanto, o que faz o conto - seja
ele de acontecimento ou de atmosfera, de moral ou de terror - é o modo pelo qual a
estória é contada” (1990, p.17). Trazendo assim características significativas que o
definem, reafirmando o que destaca Horacio Quiroga( pág. 17 ANO) a ordem em
que se apresentam os fatores que constitui um conto, altera verdadeiramente um
resultado;Conto.

Aqui a autora mais uma vez toma seu posicionamento em relação a


discussão entre autores, mostrando que o conto, para ela, vincula-se a uma teoria
geral da narrativa.

Ao tratar o conto maravilhoso, Gotlib refere-se mais uma vez a acepção de


Julio Casares, desta vez, referindo-se a última concepção descrita por ele: “fábula
que se conta às crianças para diverti-las" (CASARES apud GOTLIB 1990, p.17).
Para a autora, esta concepção tem uma conexão com a estória e do contar estória,
para então satisfazer o leitor e contrariar a realidade do mundo.

A forma de se contar o conto maravilhoso é algo que permanece através dos


tempos, pois a forma de contar pode se modificar de pessoa para pessoa, mas a
finalidade alegre do conto maravilhoso, não muda, de tal forma que não deverá
perder seu aspecto. Por isso, o conto possui particularidade em ser fluído e em
movimento que atinge o entendimento de todos, e que mesmo assim se renova, ao
passo que vai sendo contado por diferentes pessoas. Portanto, o conto é algo que
se transmite, que abrange diversos leitores e que faz desses leitores, contadores
de estórias com formas particulares de se contar.

Com o passar dos anos novela e conto ainda se confundiam, autores como
Jolles, citado por Gotlib (1990, p.18) retrata a novela como uma “forma artística" que
segundo a autora, tem uma semelhança com o atual conto literário, visto que, tanto
o conto literário como a novela levam características de seu criador.

As novelas consideradas de moldura ou toscana, passaram por um processo


de separação dos contos, devido ao declínio das novelas e a ascensão dos contos,
aqueles maravilhosos, a exemplo encontrado no texto de Os Contos da mãe Gança,
escritos por Charles Perrault (1695) e citado por Gotlib (1990), como também os
contos do escritor Grimm (1812).

O livro traz a discussão sobre o conto: “simples” aquele conto maravilhoso, e


o outro conto artístico, conhecido como novela de toscana e de moldura, ambos
possuem realidades diversas quanto a sua narrativa, enquanto o primeiro
permanece através dos tempos sem perder sua forma, a segunda modalidade de
conto, tem como principal característica,revelar seu autor, mostrando para o leitor a
sua singularidade de escrita. Como descrito pela autora:

“ Um é sempre um, apesar das variações que nunca atingem o fundamento


da sua forma… O outro é sempre o outro, a cada narrativa que nunca se repete e
que é peculiar a seu único autor”. (GOTLIB,1990 p.19-20).
Para se referir às funções, transformações e origens dos contos, Gotlib
realizou um estudo, referente ao entendimento do autor Vladimir Propp. A análise foi
dividida em tópicos, para melhor compreensão, iniciando pelas funções do conto.

Ao tratar as funções do Conto, a autora por meio do entendimento de Propp


afirma que: “A uniformidade específica do conto não se explica”(1990, p.20),ainda
que alguns elementos como motivos, assuntos e motivos se repitam, eles não
devem definir o conto,mas apenas em caso de esses elementos estarem agrupados
por unidades estruturais. Assim a autora destaca por meio de Propp que trata-se de
uma morfologia do conto.

Ao tratar da ação de um personagem, Gotlib aborda em seu livro por meio do


diagnóstico de Propp que há a constância de ações de um personagem, e isso
define a chamada função que para PROPP (1928, p.60) é: “a ação de um
personagem, definida do ponto de vista do seu significado no desenrolar da intriga”
(apud GOTLIB 1990, p.21). O autor traz em sua investigação a identificação de 150
elementos e 31 funções que compõem o conto e para ele um conto maravilhoso
deve possuir esses elementos e funções que promovem o movimento para o conto

Então PROPP (1928, p. 144) dá a sua contribuição afirmativa do que seja


um conto maravilhoso:

“Podemos chamar conto maravilhoso, do ponto de vista morfológico, a qualquer


desenrolar de ação que parte de uma malfeitoria ou de uma falta (...), e que passa
por funções intermediárias para ir acabar em casamento (...) ou em outras funções
utilizadas como desfecho” (apud.GOTLIB, 1990, p.22).

O autor em questão não se prende ao quão extenso pode ser o texto do


conto, mas sim em determinar as ações existentes e os personagens inalteráveis,
encontrados nos contos maravilhosos que por ele são estudados.

Ao tratar sobre as transformações do conto, ainda baseado no estudo de


Propp, é observado que a vida real não interfere na estrutura geral do conto, o que
pode ocorrer é a modificação do conto, em função de existir uma forma, que é
considerada por ele, como “fundamental” e que está ligada às origens do conto,
como também existem as formas “derivadas”, que dependerá da realidade cultural.
E essa realidade cultural segundo Propp pode provocar transformações de
elementos do conto fantástico, podendo ocorrer por alteração na forma fundamental
ou por substituição e assimilação.

Ao tratar sobre “as origens” o conto é dividido por Propp em duas fases de
evolução, a da pré-história,na qual ocorria confusão a respeito do conto e do relato
sagrado. O relato estava ligado a ritual religioso e não era aceita a prática de
narrar,e para as crenças religiosas da época isso estava ligado a rituais mágicos e
implicava a morte. Quanto à segunda fase de evolução, Propp aborda o desvinculo
com práticas religiosas, passando a existência própria do conto, tem-se aqui a
prática de narrar feita por qualquer pessoa. Não há uma data precisa para essa
evolução,o que se deu, foi uma investigação folclórica que foi desenvolvida pelo
autor Propp em seu livro: Las raices históricas del cuento (1946) e usada como
fonte de estudo para Gotlib (1990, p.23) entender “o fio da estória”, com a finalidade
de mostrar para o leitor como se deu a evolução dos contos, que deixou de ser visto
pela minoria da sociedade e passou a ter um caráter mais popular, passando a ser
um patrimônio da classe dominante e popular.

Já Claude Brémond, que também tem Propp como fonte de estudo, aborda
regras para o desenrolar da narrativa em sua totalidade, agrupando três funções
para a narrativa, a de abertura de possibilidade para o processo, a de realização do
processo e a de inclusão do processo, seja ele de sucesso ou fracasso. O estudo
vai se desenvolvendo e chega a uma análise dos textos de Clarice Lispector, a qual
é citada por Gotlib, para retratar a ordem, desordem e reordenamento de seu
momento interior.

Já Boris eikhenbaum, aparece no texto como um analista dos contos de


O.Henry, aponta diferença quanto à origem entre conto (ou novela) e romance, o
romance vem de uma história de narração de viagens, e o conto, que pode ou não
ser maravilhoso, vem das anedotas, ou seja, narrativa breve de um fato engraçado
ou picante.

A finalização da obra se dá com uma visão de transição do conto maravilhoso


para o moderno, devido a caracterização do conto se mostrar através dos tempos,
com uma mudança de técnica, porém sem perder a estrutura. O que mudou foi o
modo de se narrar, deixando um esquema retilíneo para um esquema fragmentado
e desalinhado. Na fase clássica havia princípios ou normas estabelecendo a
sequência fixa de fatos a seguir e a maneira de narrar que representava o mundo e
todos que nele viviam. Com a revolução Industrial e os avanços comuns na
sociedade vai se perdendo essa forma delimitada de ser ou escrever,
desvinculando-se de um início e fim. Com o passar dos tempos essa modalidade de
narrativa passa a perder esse ponto que até então parecia eterno. Em seguida vai
ocorrendo uma representação da palavra e as pessoas começam a representar as
classes, seja ela minoria ou maioria. Consequentemente o que era verídico para
todos, passou a ser verdade para um só ou não.

Os modos artísticos e fixos do período grego-latino e do classicismo,


perderam sua linearidade, de tratar de um fato em um exato momento, de
obediência a normas de começo, meio e fim, para então chegar no modernismo, em
uma maneira mais fluída de contar os fatos.

Portanto, ficou entendido que a teoria do conto é abordada e visto


diferentemente para cada autor apresentado no texto, desde quando os autores
quiseram defini-la como uma receita de bolo, na qual é necessário seguir regras.
Esta forma de pensar divide opiniões até os dias atuais, transformando o limite da
teoria em um problema literário. Autores como Gotlib (1990), acreditam na aliança
existente entre a teoria geral e a narrativa, baseando-se na melhor maneira de
representar a realidade, já outros autores, que também por ela, são considerados
renomados, como: Mario de Andrade e Machado de Assis, não compartilham de sua
mesma ideia, e isso faz com que o leitor fique um pouco confuso a respeito de que
ponto de vista está mais ligado a realidade da evolução da teoria do conto. Depois
dessa leitura, o que fica é um conhecimento rico, a respeito aos autores que
preferem caminhar a procura de formas, regras e de teorias, enquanto outros
ironizam essa forma predeterminada do conto”, conforme diz Machado de Assis
(1873): “É gênero difícil, a despeito de sua facilidade”. O autor ainda nos alerta para
alguns elementos estruturais:

“ e creio que essa mesma aparência lhe faz mal, afastando-se dele os escritores e não lhe
dando, penso eu, o público toda atenção de que ele é muitas vezes credor” (ASSIS 1873,
apud GOTLIB 1990, p.10).
Deste modo fica claro que Machado de Assis preocupa-se mais em satisfazer
o leitor de maneira adequada, em vez de ficar se preocupando com a aparência ou
característica que padronizam o conto.

A respeito do pensamento de Júlio Casares precisamos lembrar que


incorpora o pensamento de Júlio Cortázar (1914-1984), em relação a teoria do conto
ser uma batalha que pode acabar com a vida do conto. Por isso, Cortázar diz: “(...)
Só com imagens se pode transmitir essa alquimia secreta que explica a profunda
ressonância que um grande conto tem em nós, e que explica também por que há
tão poucos contos verdadeiramente grandes ``. (apud Gotlib 1990, p.10). Tendo em
vista os pensamentos de autores tão renomados e a dificuldade em se encontrar
parâmetros para justificar a teoria do conto, o melhor seria deixar que os contistas
façam suas próprias definições, com liberdade e sem regras. Como o próprio Mário
de Andrade (1893-1945) diz: “em verdade, sempre será conto aquilo que seu autor
batizou com o nome de conto”. O autor ainda revela em seu conto “Vestida de
Preto” que: “Tanto andam agora preocupados em definir o conto que não sei se o
que vou contar é conto ou não, sei que é verdade” (1976, p.7, apud Gotlib 1990,
p.9). Por fim, se é difícil para autores como Mário de Andrade chegar em uma
definição, então é porque cada autor deve ter sua autonomia de expressão e
definição de sua própria escrita.

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