Apostila EAD Seminario Do Sul - Antigo Testamento

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Direção Geral

Pr. Fernando Brandão


Coordenação Acadêmica
Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda
Coordenação do Centro de Desenvolvimento Ministerial e Missiologia
Pr. Samuel Moutta
Coordenação de Finanças
Juarez Solino
Coordenação de Comunicação e Marketing
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Coordenação de EAD
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Editor Responsável Comitê de Apoio Técnico


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Editores Raphael Andrade de Godoy
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Prof. Dr. Dionísio Soares Autora
Profa. Dra. Maria Celeste Castro Machado Profa. Dra. Teresa Akil
Profa. Dra. Teresa Akil Revisão
Prof. Dr. Valtair Afonso Miranda Profa. Cláudia Luiza Boechat Pires de Almeida Sales
Coordenação Editorial Arte
Pr. Jeremias Nunes dos Santos Oliverartelucas

Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem,


necessariamente, a opinião da Instituição e seu Conselho Editorial.

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20510-412 – Rio de Janeiro – RJ
Faculdade Batista do Rio de Janeiro Tel: (21) 98720-5716
Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil www.seminariodosul.com.br
Palavra do Diretor
O Ensino a Distância se tornou, nos últimos tempos, uma enorme
ferramenta na disseminação do conhecimento. Dificuldades geográ-
ficas, econômicas, profissionais, culturais e de outras naturezas im-
pediam um grande número de pessoas de obter a formação necessá-
ria para buscar seus objetivos.
Para isso, desde o marco legal da Lei 9.394, de 1996, a Lei de Dire-
trizes e Bases da Educação, a modalidade a distância tem se amplia-
do para todos os níveis de ensino.
A Faculdade Batista do Rio de Janeiro, do Seminário Teológico Ba-
tista do Sul do Brasil, não poderia ficar de fora desta que, muito mais
que uma tendência, é uma enorme necessidade em um mundo cada
vez mais complexo, uma vez que promove interconexões, ainda que
as distâncias sejam mantidas.
Por meio da modalidade a distância o aluno tem a possibilidade
de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo
com sua disponibilidade. Ele se torna, assim, responsável principal e
primeiro da sua própria aprendizagem.
O ensino a distância não isola, necessariamente, o aluno do pro-
fessor; mesmo distanciados fisicamente, eles se conectam por meio
de ferramentas de interação presentes em nossa Plataforma de Ead.
O Seminário do Sul - instituição centenária em formação de líderes
para o ministério cristão -, por meio da sua Faculdade, coloca à dispo-
sição dos vocacionados mais uma opção significativa para o desen-
volvimento de seus talentos e capacidades.
Seja bem-vindo ao Núcleo de Ensino a Distância de nossa Instituição.
Pr. Fernando Macedo Brandão
Diretor Geral

3
Sumário
Palavra do Diretor.................................................................................3
Introdução.............................................................................................8
Capítulo 1 – Introdução ao Pentateuco............................................9
1.1 O nome Pentateuco.........................................................................9
1.2 A autoria do Pentateuco................................................................10
1.3 O conteúdo do Pentateuco...........................................................12
1.3.1 Livro de Gênesis...................................................................12
1.3.2 Livro de Êxodo.....................................................................13
1.3.3 Livro de Levítico...................................................................14
1.3.4 Livro de Números................................................................15
1.3.5 Livro de Deuteronômio.......................................................17
1.4 A importância do Pentateuco.......................................................18
1.5 O Pentateuco e o Novo Testamento ............................................19
1.6 Tópico Especial: Como os judeus leem a Torah...........................20
Capítulo 2 –O Livro de Gênesis - O início ......................................22
2.1 Título, Autor e Temas....................................................................22
2.2 Estrutura e Conteúdos..................................................................22
2.2.1. As Histórias Primitivas (Gn 1:1-11:9)..................................23
2.2.2 A História dos Patriarcas (Gn 11:10-37:1)...........................32
2.2.3 A História de José (Gn 37:1-50:26)......................................39
2.3 Principais Teologias......................................................................41
2.4 Gênesis e o Novo Testamento ......................................................42
Capítulo 3 – Livro de Êxodo, saindo do Egito ................................43
3.1 Título e Autoria..............................................................................43
3.2 Estrutura e conteúdos ..................................................................43
3.2.1. O resgate e a saída do Egito (Êx 1-14)................................44
3.2.2. Os primeiros momentos no deserto (Êx 15-18).................50
3.2.3. O Sinai, as Leis e o Tabernáculo (Êx 19-40)........................51
3.3 Principais Teologias ......................................................................56
3.4 Êxodo e o Novo Testamento .........................................................57
3.5 Tópico especial - As Rotas do Êxodo ............................................58
Capítulo 4 - Livro de Levítico, leis para a nova vida .....................60
4.1 Título e Autoria..............................................................................60
4.2 Estrutura e Conteúdos..................................................................60
4.2.1. Os sacrifícios, os sacerdotes e as impurezas (Lv 1-16)......61
4.2.2. O Código da Santidade (Lv 17-26).....................................64
4.2.3. Os Juramentos (Lv 27)........................................................66
4.3 Principais Teologias......................................................................66
4.4 Levítico e o Novo Testamento.......................................................67
4.5 Tópico Especial – O Valor do Alimento Casher.............................67
Capítulo 5 – Livro de Números, as portas da Terra.......................69
5.1 Título e Autoria..............................................................................69
5.2 Estrutura e Conteúdos..................................................................69
5.2.1. Histórias do Monte Sinai (Nm 1:1-10:10)...........................69
5.2.2. Histórias de Cades Barneia (Nm 10:11- 21:25)..................72
5.2.3. Histórias da planície de Moab (Nm 22:1-36:13).................75
5.3 Principais Teologias......................................................................78
5.4 Números e o Novo Testamento....................................................79
5.5 Tópico Especial – A Serpente e a Mula.........................................80
Capítulo 6 - Livro de Deuteronômio, relendo a História ..............84
6.1 Título, Autor e Data........................................................................84
6.2 Estrutura e Conteúdos..................................................................86
6.2.1. O primeiro discurso de Moisés (Dt 1-4)..............................88
6.2.2. O segundo discurso de Moisés (Dt 5-26)............................89
6.2.3. O terceiro discurso de Moisés (Dt 27-30)...........................93
6.2.4. As palavras finais e a morte de Moisés (Dt 31-34).............94
6.3 Principais Teologias......................................................................95
6.4 Deuteronômio e o Novo Testamento...........................................97
6.5 Tópico Especial – A Criação de Adão..............................................9
INTRODUÇÃO
Na primeira unidade, buscaremos entender sobre o significado do
nome Pentateuco.
Adiante, teremos uma discussão sobre quem teria sido o autor do
Pentateuco: Moisés ou vários autores anônimos que escreveram vá-
rias histórias ao longo do tempo?
Na sequência será exposto de forma geral o conteúdo de cada um
dos cincos livros do Pentateuco e, fechando a unidade, explanar-se-á
sobre a importância do Pentateuco para os dias de hoje.
O tópico especial versa sobre o que é, qual a função e importância
do Pentateuco para a fé judaica.
Que Deus nos abençoe,
Profa. Teresa Akil

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CAPÍTULO 1
Introdução ao Pentateuco
1.1 O nome Pentateuco
A palavra Pentateuco é de origem grega e significa literalmente
“cinco” (penta) “estojos, pergaminhos ou rolos” (teucos). Na Bíblia
Cristã se refere ao bloco dos primeiros cinco livros do Antigo Testa-
mento, isto é, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Os títulos de cada um desses livros, que compõem o Pentateuco,
derivam da versão grega do Antigo Testamento, chamada Septuagin-
ta (LXX), composta entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexan-
dria, no Egito.
Nessa versão do Antigo Testamento, os livros foram nomeados a
partir da ideia dos seus conteúdos ou temáticas. Por isso o primeiro
livro chamou-se Gênesis (origens); o segundo, Êxodo (saída); o tercei-
ro, Levítico (tribo de Levi); o quarto, Números (por causa do recense-
amento das tribos) e o quinto Deuteronômio (por conta da revisão da
segunda lei).
Na Bíblia Hebraica, o Pentateuco é chamado de Torah (lei, instru-
ção) e também abarca os livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números
e Deuteronômio. Na Bíblia Hebraica esses livros têm outros nomes,
dados de acordo com a primeira palavra de seu texto: Bereshit (no
princípio), o segundo Shemot (nomes), o terceiro Vayikrah (e cha-
mou), o quarto Bamidbar (no deserto) e o quinto Devarim (palavras)
Na Bíblia, o Pentateuco também é chamado em algumas tradu-
ções é “os cinco livros de Moisés”. Esta é também uma boa descrição

9
em que os livros de Êxodo a Deuteronômio, haja vista fornecer uma
biografia de Moisés, que, tradicionalmente, tem sido visto como o seu
principal autor.

1.2 A autoria do Pentateuco


Apesar do Pentateuco em si não declarar explicitamente que Moi-
sés foi seu autor, é inegável que ele tenha sido o receptor da revelação
feita por Deus.
Além disso muitos textos bíblicos do Antigo Testamento (cf. Êx 24:4;
34:27; Dt. 31:19; Js 1:7,8; Jz 3:4; Ed 6:18; Dn 9:11 e Ml 4:4) atribuem a
autoria do Pentateuco a Moisés. No texto de Êx 17:4, lê-se: “Então dis-
se o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o
aos ouvidos de Josué; que eu totalmente hei de riscar a memória de
Amaleque de debaixo dos céus”. Em Dt 31:9: “E Moisés escreveu esta
lei, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da alian-
ça do Senhor, e a todos os anciãos de Israel”.
A estes se juntam as palavras do próprio Jesus (Mc 7:10; Lc 2:22;
24.44; Jo 7:19,23) e muitos outros textos do Novo Testamento que
corroboram com a autoria de Moisés (Mt 8:4; 19.7; Lc 24:44; Jo 1:45;
8:5; 9:29; At 3:22; 6:14; 13:39; 15:1,21; 26:22; 28:23; 1Co 9:9; 2Co 3:15;
Hb 9:19 e Ap 15:3), dentre os quais destacamos Lc 24:44. “Depois lhe
disse: São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco,
que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na
Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.
É interessante recordar que Moisés nasceu e viveu no Egito, uma
das maiores civilizações do mundo antigo em matéria de construções
e conhecimento. Moisés não só nasceu e viveu no Egito. Ele foi desde
bebê adotado pela filha do Faraó (Êx 2) e recebeu uma educação es-
pecial na corte real egípcia, com instruções de disciplinas, como, por
exemplo, a arte da escrita que, há muito tempo, era empregada pelos
egípcios, inclusive entre os próprios escravos.

10
Não é à toa que Atos 7.22 diz que “Moisés foi educado em toda a sabe-
doria dos egípcios e veio a ser poderoso em palavras e obras”, reconhe-
cendo-o como um homem erudito na antiguidade bíblica, possuidor de
um conhecimento bi cultural, isto é, como egípcio e como israelita.
Apesar de todas essas evidências, no século XIX alguns estudiosos
colocam em dúvida esta tradição dizendo que os livros do Pentateuco
não foram escritos na ordem em que se encontram hoje e que tiveram
um longo e complexo período de escrita e redação.
Muitas foram as teorias desenvolvidas neste período conhecido
como criticismo bíblico, mas, a mais famosa foi a desenvolvida pelo
teólogo alemão Julius Wellhausen e que ficou conhecida como Teoria
das Fontes.
Segundo esse estudioso, o Pentateuco seria resultado de quatro
principais fontes ou tradições que surgiram em épocas e locais dife-
rentes: Javista (J), Eloísta (E), Sacerdotal (P) e Deuteronomista (D).
A fonte Javista (J) é assim chamada porque nela Deus tem o nome
YHWH. Essa tradição, que teria origem no Sul de Israel, em Judá, e é
encontrada em vários textos a partir de Gn 2:4 até o final do livro de
Números. Ela tem uma linguagem especial, um estilo vivo e colorido
com profunda percepção psicológica e antropomórfica.
A fonte Eloísta (E) chama a Deus de Elohim e está presente em Gn
1. Como a anterior, também está presente em vários textos dos livros
do Gênesis, de Êxodo e de Números. Esta tradição teria sua origem no
norte de Israel, em Efraim, e seu estilo é sóbrio e peculiar, evitando o
antropomorfismo.
A fonte Sacerdotal (S ou P devido ao nome alemão Priest), apesar
de ser encontrada nos quatro primeiros livros do Pentateuco, é no li-
vro de Levítico que está a sua concentração, pois se interessa prin-
cipalmente pela organização do santuário, pelos sacrifícios e festas,
pelas pessoas e funções religiosas.

11
A última fonte é a Deuteronomista (D), exclusiva do livro de Deute-
ronômio, que é, em grande parte, uma recapitulação das leis encon-
tradas nos livros anteriores do Pentateuco.
Apesar de ter tido foco e proeminência entre vários estudiosos bí-
blicos, a Teoria das Fontes entrou em descrédito no próprio século
XIX e início do século XX, devido à dificuldade de se mapear com pre-
cisão os textos que pertenciam às fontes e a falta de homogeneidade
entre elas.
Ainda hoje, surgem teorias tentando explicar a autoria e a compo-
sição do Pentateuco, mas a tradição judaica e cristã, em concordância
com tantas passagens bíblicas, tem sustentado, majoritariamente, a
autoria mosaica.

1.3 O conteúdo do Pentateuco


Sabendo um pouco sobre a discussão da autoria do Pentateuco, é
preciso conhecer o seu conteúdo e entender as histórias e os enredos
dos cinco livros que o compõem. Esta disciplina estudará detalhada-
mente cada um dos livros e suas partes. A princípio, introduziremos
seus conteúdos de forma geral.
1.3.1 Livro de Gênesis
Primeiro livro da Bíblia e do Pentateuco, bem como, primeiro dos
cinco rolos atribuídos a Moisés, o Livro de Gênesis é a narrativa dos
acontecimentos fundamentais para a fé cristã e também para a judaica.
Começa descrevendo as Histórias Universais: Como Deus fez a
criação do mundo (Gn 1), inclusive o homem e a mulher que são co-
locados num lindo jardim, onde poderiam viver para sempre, desde
que não comessem do fruto da única árvore proibida, a do conheci-
mento do bem e do mal (Gn 2). Escolhendo comer do fruto proibido, o
da árvore do bem e do mal, são expulsos do jardim (Gn 3). Adão e Eva
têm dois filhos, Caim e Abel, e este é assassinado pelo irmão (Gn 4).

12
Com um cenário caótico, onde a maldade se instalou em todos os
corações e atos humanos, Deus se arrepende de ter feito o homem
e resolve destruí-lo num dilúvio, deixando vivos apenas Noé, sua fa-
mília e alguns animais (Gn 6-9). Mesmo após passar por essa enorme
catástrofe, os homens não aprendem e, na primeira oportunidade,
resolvem construir uma cidade e uma torre, a fim de que fiquem fa-
mosos e não sejam espalhados sobre a face de toda a terra. (Gn 11).
Depois da narração dessas cinco histórias universais, o Livro de
Gênesis apresenta a história dos três patriarcas de Israel: Abraão, o
pai da fé, Isaque e Jacó (Gn 12-36). O livro é fechado com a história
de José (Gn 37-50), filho preferido de Jacó que, por ciúme, é vendido
pelos irmãos e vai parar no Egito, onde após sofrer terríveis amargu-
ras, é elevado a vizir, sendo o segundo homem do Egito, ficando atrás
apenas do próprio Faraó.
1.3.2 Livro de Êxodo
Segundo livro da Bíblia e do Pentateuco, o Livro de Êxodo é con-
tinuação da narrativa da história de José iniciada em Gênesis. Ele se
passa num tempo quando José já havia morrido e um novo Faraó,
que não havia conhecido as benfeitorias que o filho de Jacó fizera
ao Egito, estava no poder. E pior, amedrontado e preocupado com o
crescimento dos israelitas, resolve oprimi-los e escravizá-los, inclusi-
ve mandando matar todas as crianças do sexo masculino que nasces-
sem (Êx 1).
Neste cenário, nasce Moisés, que vive escondido até o dia em que
sua mãe, não podendo mais ficar com ele, coloca-o no rio Nilo, numa
cesta, onde é achado pela filha do Faraó. Enquanto crescia no palá-
cio, longe das mazelas sociais dos escravos, o povo era mais oprimi-
do, até que clama a Deus por um livramento (Êx 2).
Atendendo ao pedido do povo, Deus comissiona Moisés, que nesta
época estava morando com seu sogro Jetro, na terra de Midiã, a levar

13
o povo para fora do Egito até a terra de Canaã, terra de leite e mel,
para lá morar em liberdade.
Após aceitar o comissionamento divino, juntamente com Arão
(também chamado Aarão), começa a negociar com o Faraó a saída do
povo de Israel do Egito. A dureza do coração do Faraó, no entanto, faz
o Egito sofrer dez grandes pragas, até que aos israelitas é permitido
sair rumo à terra de Canaã (Êx 3-13).
Partindo do Egito, os israelitas vivenciam o primeiro e mais impor-
tante ato libertador de Deus: eles atravessam o Mar Vermelho a pés
enxutos, enquanto os egípcios que os perseguiam, morrem afogados
(Êx 14). A travessia do mar os coloca no deserto, onde começam a
aprender a viver na dependência de Deus. Entre muitas murmurações
por água e comida, os israelitas experimentam o cuidado e a bonda-
de de Deus (Êx 15-19) que lhe dá várias Leis e ordena a construção do
Tabernáculo, que é inaugurado ao final do livro (Êx 20-40).
1.3.3 Livro de Levítico
Um livro de caráter legislativo, o terceiro livro da Bíblia e do Penta-
teuco, é ambientado aos pés do Monte Sinai e faz uma interrupção na
movimentada narrativa da Êxodo.
Levítico é um livro que se ambienta na tenda da congregação:
“Ora, chamou o Senhor a Moisés e, da tenda da revelação, lhe disse:
Fala aos filhos de Israel e dize-lhes” (Lv 1:1-2a).
É assim, da tenda da congregação, que o livro começa apresentan-
do ao leitor os vários tipos de sacrifícios: holocaustos (Lv 1:1-7, o ani-
mal é totalmente queimado); oblação (Lv 2:1-16, ofertas de produtos
da terra); sacrifício de comunhão (Lv 3:1-17, o animal é repartido en-
tre Deus e o ofertante); sacrifício pelo pecado (Lv 4:1-5:13, se queima
o sangue e a gordura sobre o altar e o resto é queimado fora do acam-
pamento); sacrifício de reparação (Lv 5:14-26, se oferece normalmen-
te um carneiro, uma parte é queimada e outra é para os sacerdotes).

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Na sequência, o Livro expõe sobre o sacerdócio e seus sacrifícios
(Lv 6-7); sobre as instruções da consagração ou investidura dos sacer-
dotes e a correta realização dos rituais (Lv 8-10); sobre a legislação do
que é puro e do que é impuro (Lv 11-15), em quatro categorias:
(1) Animais puros (que podem ser comidos e oferecidos ao Senhor) e
impuros (aqueles que os pagãos consideravam sagrados, Lv 11);
(2) a purificação da mulher após o parto (Lv 12);
(3) a lepra e as doenças da pele (Lv 13-14);
(4) as impurezas sexuais do homem e da mulher (Lv 15).
Em seguida, o Livro apresenta o Código da Santidade (Lv 17-26),
através do qual Deus convoca a comunidade a ser santa como Ele é
santo (Lv 19:2 e 20:26).
Para atingir a santidade, são apresentadas as proibições religiosas
(Lv 17), as proibições sexuais (Lv 18), recomendações cultuais e éticas
(Lv 19), o valor da vida (Lv 20), a santidade exigida daqueles que es-
tão a serviço no templo (Lv 21-22), a celebração das festas de Israel e
alguns rituais (Lv 23-25). O Código de Santidade conclui com apresen-
tação das bênçãos e das maldições (Lv 26).
Por fim, Levítico fala sobre os resgates para as pessoas, os animais,
as casas e os campos e sobre os dízimos (Lv 27).
1.3.4 Livro de Números
Quarto livro da Bíblia e do Pentateuco, Números retoma a narrati-
va de Êxodo, após a longa interrupção legal do livro de Levítico.
Neste Livro, o interesse histórico é fornecer detalhes acerca da
rota dos israelitas no deserto, dos acontecimentos de seus principais
acampamentos até a chegada às planícies de Moab (ou Moabe).
A narrativa de Números começa contando que Deus manda Moisés
fazer o recenseamento do povo no Sinai, para descobrir quantos ho-
mens estavam com mais de vinte anos e aptos para a guerra.

15
Ao final descobre-se, que excluindo a trigo de Levi (que era con-
sagrada ao serviço no Tabernáculo), um total de 603 550 estavam ca-
pacitados para lutar. Após o censo e a divisão dos levitas em famílias,
várias leis e mandamentos foram decretados e o povo, a primeira ge-
ração de Israel no deserto, volta a caminhar rumo a Terra Prometida
(Nm1:1-10:10).
Deixando o Monte Sinai, os israelitas voltam a peregrinar pelo de-
serto, agora em direção ao norte para o deserto de Parã. Novamente
o povo começou a murmurar e foi punido. Como se não bastasse a
reclamação do povo, Miriã e Arão criticam Moisés, enfurecem a Deus
e Miriã é punida com a lepra, tendo que ficar sete dias longe do acam-
pamento.
Após esses momentos, os israelitas voltam a andar em direção ao
deserto de Parã, já na fronteira de Canaã. Moisés envia 12 espias à ter-
ra. Ao retornarem, mais uma confusão: Dez espias dizem que não há
como entrar na terra, porque os habitantes são fortes e grandes. Ape-
nas Josué e Calebe encorajam o povo, que agora tem muito medo, a
prosseguirem até Canaã. Como consequência à falta de fé do povo,
Deus decide que aquela geração de israelitas não entrará ainda na
terra prometida, mas continuará a vagar pelo deserto. Novas murmu-
rações acontecem (por água e por protagonismo de Coré contra Moi-
sés e Arão). Miriã e Arão morrem (Nm 10-21).
Os israelitas chegam à planície de Moab e armam suas tendas. O rei
Balaque, de Moab, teme a presença deles. Balaque pede ao profeta Ba-
laão que amaldiçoe os israelitas, mas este se recusa e abençoa Israel.
Os israelitas têm relações sexuais com as filhas de Moab e adoram a
Baal e Moisés ordena que os israelitas massacrem o povo de Midiã.
Um novo censo é realizado para contar os homens com mais de
vinte anos e Moisés recebe a ordem de nomear Josué como seu su-
cessor. As tribos de Rúben, Gade e metade da tribo de Manassés rece-
bem sua herança ao leste do Rio Jordão.

16
A primeira geração de israelitas que saiu do Egito morre. Moisés
analisa a jornada feita até ali e dá instruções a respeito das terras, he-
ranças e cidades de refúgio, locais onde pessoas acusadas de matar
alguém poderiam aguardar até que fosse feito um julgamento justo
(Nm 22-36).
1.3.5 Livro de Deuteronômio
Quinto livro da Bíblia e do Pentateuco, Deuteronômio contém as
últimas palavras e discursos de Moisés ao povo de Israel, no deserto,
antes de entrar na terra de Canaã, tendo como líder Josué.
O título do livro provém do grego e quer dizer, tanto “segunda Lei”,
como “repetição da Lei”. Se em Êxodo, Levítico e Números as leis fo-
ram dadas, em Deuteronômio elas são repetidas a uma nova geração,
que entraria e moraria na terra prometida, e se as guardasse, mante-
riam válidas as promessas de posteridade e proteção feitas por Deus
a Israel.
O livro, que começa com Moisés e os filhos de Israel acampados
a leste do Rio Jordão (Dt 1:1-5), contém os três últimos discursos de
Moisés aos filhos de Israel.
No primeiro discurso são relembrados os acontecimentos mais
importantes dos últimos 40 anos, inclusive da aliança feita no Monte
Sinai/ Horebe (Dt 1-4).
O segundo discurso (capítulos 5–26) consiste em duas partes: Na
primeira parte (Dt 5–11) são relembrados os Dez Mandamentos e é
dada uma explicação prática deles. Esta parte guarda o credo mais
antigo de Israel, que está em Dt 6.4 que diz: “Ouve, Israel, o Eterno é
nosso Deus, o Eterno é um”.
A segunda parte (Dt 12–26) contém o código deuteronomista, o
núcleo de todo o livro, e narra a exortação de Moisés para que sejam
um povo santo ao Senhor. Por isso, não devem se rebelar, como ocor-
reu na época do deserto, mas amar uns aos outros. Devem servir ao

17
Senhor para serem abençoados na terra prometida, fazer a guarda
dos alimentos e das festas, destruir os deuses dos povos cananeus,
permanecer separados das outras nações. Fala, também, sobre as
desvantagens de terem um rei e de como identificar um profeta ver-
dadeiro.
O terceiro discurso (Dt 27-30) narra a exortação de Moisés para que
ensinem aos filhos a amar ao Senhor, guardar os mandamentos, pois
são um povo santo ao Senhor. Aqui está registrado uma solene reno-
vação do convênio entre Deus e Israel e a declaração de que serão
abençoados, material e espiritualmente, mas, se desobedecerem, se-
rão amaldiçoados.
Ao final do livro, Josué e os israelitas são exortados a serem fortes
e corajosos. Um cântico é ensinado para ajudá-los a se lembrar do
Senhor e dos Seus mandamentos. Dt 32:45 a 47 (NAA): Quando Moi-
sés acabou de falar todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes:
Guardem no coração todas as palavras que hoje testifico entre vocês,
para que ordenem a seus filhos que tratem de cumprir todas as pa-
lavras desta Lei. Porque esta palavra não é para vocês coisa vã; pelo
contrário, é a sua vida; e, por esta mesma palavra, vocês prolongarão
os dias na terra em que, passando o Jordão, vocês vão entrar e da
qual tomarão posse.
Cada tribo de Israel é abençoada e, por fim, Moisés falece (Dt 31-34).
Dt 34:10 – Nunca mais se levantou em Israel em profeta como Moi-
sés, com quem o Senhor tratava face a face.

1.4 A importância do Pentateuco


Pode-se destacar três ensinos importantes do Pentateuco:
O primeiro está relacionado a direção, a orientação e ao ensino
sobre quem Deus é. As primeiras histórias registradas em Gênesis
ensinam que o mundo foi criado e governado por um único e verda-

18
deiro Deus. Não existem panteões de deuses, como dito nas culturas
dos povos egípcios, mesopotâmicos e cananeus, que interferem no
mundo. Esse ensinamento é para nós hoje também: existe apenas um
Deus por trás de todos os fenômenos da natureza e leis da ciência.
Esse Deus é amoroso, Todo Poderoso e controla tudo o que acontece
na nossa vida e no mundo.
O segundo ensinamento está ligado ao primeiro, pois esclarece
que o Deus criador sempre teve boas intenções para com a Sua cria-
ção. Mesmo após esse homem desobedecer a única ordem que lhe é
dada, Deus continuou a procurar por alguém com quem pudesse se
aliançar. Chama Abraão, prometendo terra e descendentes, que se-
riam benção para todas as nações.
O terceiro ensinamento está ligado à ética, pois cada história do
Pentateuco revela um pouco de quem Deus é, do Seu caráter e pa-
drões éticos.
O Pentateuco mostra um Deus que é misericordioso, mas também
justo. Mostra um Deus que age com misericórdia, pois criara o ho-
mem à Sua imagem, e este peca. Para que não viva eternamente em
pecado, retira-o do jardim, para que não coma da árvore da viva.
Mostra um Deus companheiro, presente, que exige um compro-
misso ético dos homens em guardar os Seus mandamentos e precei-
tos, e promete puni-los quando os descumprir, como, por exemplo,
no episódio do bezerro de ouro (Êx 32).

1.5 O Pentateuco e o Novo Testamento


Os escritores do Novo Testamento viram as promessas do Penta-
teuco serem cumpridas em Cristo. Jesus é a descendência da mulher
que fere a cabeça da serpente (Gn 3:15). É através de quem todas as
famílias da terra serão abençoadas (Gn 12:3). É a estrela e cetro que
subirá de Israel (Nm 24:17).

19
Se Moisés declarou a lei de Deus para Israel, Jesus é a Palavra, o
Verbo encarnado de Deus para as nações. Se no Antigo Testamento,
o tabernáculo se encheu com a glória de Deus (Êx 40:34-38), no Novo
Testamento, a terra viu a Sua glória, pois “o Verbo se fez carne e habi-
tou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14).
Se no início do Pentateuco, vê-se que o homem, por desobediên-
cia, foi expulso do Éden e impedido de comer da árvore da vida, no
Novo Testamento, através de Cristo, vê-se que homem voltará ao Pa-
raíso e poderá comer da árvore da vida.

1.6 Tópico Especial: Como os judeus leem a


Torah.
No Judaísmo, a leitura das Escrituras inicia-se com a festa de Sim-
chat Torah, marcando o ciclo anual da leitura da Torah.
Em Simchat Torah, além de se iniciar um novo ciclo de leitura da
Torah, se reafirma que quando somos alimentados e estamos alicer-
çados na Palavra de Deus, encontramos força, fé e proteção para os
desafios dos dias vindouros. 
Para facilitar a leitura a Torah, no século 9 d.C., os cinco livros fo-
ram divididos em 54 parashot ou porções semanais de leitura. Nas
parashot, encontramos um roteiro completo de como devemos agir
neste mundo, de acordo com o próprio Autor, o Criador do Universo.
Não existe um consenso de como ou quando surgiu essa divisão
da Torah. Alguns dizem que remontam ao tempo de Moisés, quando
o próprio Deus instruiu em como dividi-las. Outros acreditam que a
divisão é do período de Esdras (IV a.C.), após o exílio, e ocorreu jun-
tamente com toda a recuperação cerimonial e litúrgica do serviço. É
por isso, como vimos no prefácio, que alguns estudiosos acreditam
que desde no século I d.C. estava estabelecida a prática de ler sema-

20
nalmente uma porção da Torá (a parasha), seguida de um trecho dos
profetas (a haftará).
Atualmente, as 54 Parashot haShavuá (porções da semana) da To-
rah correspondem ao calendário hebraico lunisolar, e servem para se
fazer a leitura completa da Torah dentro do ciclo de um ano, inician-
do e terminando (dentro do judaísmo rabínico) na Festa de Simchat
Torah.
São estes os nomes das parashot em português:
Bereshit ou Gênesis tem 12 parashot (porções ou divisões) cujos
nomes são: No início; Noé; Vá, Vá a si; E apareceu; Viveu Sara; Gera-
ções; E sonhou; E enviou; E habitou; No final; E se aproximou; E viveu.
Shemot ou Êxodo tem 11 parashot (porções ou divisões) cujos no-
mes são: Nomes; E apareceu; Venha; Quando enviou; Yitrô; Normas;
Contribuição; Enviará; Quando contar; E juntou; Contas.
Vayiqrá ou Levítico tem 10 parashot (porções ou divisões) cujos
nomes são: E chamou; Mandou; Oitavo; Concebe; Lepra; Após a mor-
te; Santos; Fale; No monte; Se vocês andarem.
Bamidbar ou Números tem 10 parashot (porções ou divisões) cujos
nomes são: No deserto; Censo; Quando você subir; Envie; Qôrah; Es-
tatuto; Balaq; Pinrras; Tribos; Viagens.
Devarim ou Deuteronômio tem 11 parashot (porções ou divisões)
cujos nomes são: Palavras; E implorei pela graça; Em razão de; Vejam;
Juízes; Quando saíres; Quando entrares; Estão de pé; E foi; Escutem;
Está é a Benção.
Em hebraico, o nome de cada Parasha geralmente deriva das pri-
meiras palavras do verso com o qual inicia a porção.

21
CAPÍTULO 2
O Livro de Gênesis
O início
2.1 Título, Autor e Temas
Como dito na unidade anterior, o primeiro livro da Bíblia chama-
se Gênesis, por influência da tradução grega do Pentateuco (a LXX ou
Septuaginta) e significa “início, origem”. Um título que está ligado à
temática da obra, que aborda sobre as origens do mundo, da raça
humana, do pecado e também do povo judeu. Já o título hebraico é
“Bereshit”, “no começo”, extraído da primeira palavra do verso 1 de
Gênesis 1.
Quanto a autoria, tradicionalmente, Gênesis, como o resto do Pen-
tateuco, tem sido atribuída a Moisés. Gênesis é uma introdução aos
livros que se seguem, por isso, é natural supor que, Moisés foi o res-
ponsável pela sua escrita e redação.
Quanto aos temas, Gênesis fornece os primeiros registros de mui-
tos acontecimentos importantes, incluindo a criação, a queda de
Adão e Eva, o primeiro homicídio, o dilúvio, e a aliança abraâmica,
aos seus descendentes Isaque, Jacó e aos 12 filhos de Jacó.

2.2 Estrutura e Conteúdos


Quanto a estrutura, Gênesis se divide em três seções principais:
1. As histórias primitivas (Gn 1:1-11:9)
2. A história dos patriarcas (Gn 11:10-37.1)

22
3. A história de José (Gn 37:1-50:26).
É importante conhecer os conteúdos e detalhes de cada uma das
partes.
2.2.1. As Histórias Primitivas (Gn 1:1-11:9)
A primeira parte do livro de Gênesis apresenta sobre cinco histórias:
1. A criação do mundo;
2. O pecado original;
3. O primeiro homicídio;
4. O dilúvio;
5. A torre de Babel.
Vamos conhecer cada uma delas em detalhes.
2.2.1.1 A CRIAÇÃO DO MUNDO
A narrativa histórica de abertura da Bíblia tem como tema a cria-
ção do mundo e de tudo o que existe. Ensina que Deus é o responsá-
vel pela criação dos céus e da terra, em seis dias. Fala da criação do
homem e da mulher e o descanso de Deus no dia sétimo (Gn 1:1-2.4a).
No primeiro dia, Deus criou os céus (ou tudo que vai além da terra)
e a terra (terra seca, solo), que estava “tohu vabohu”, deserta e va-
zia, pois nada ainda havia sido criado. Nenhuma vida havia, apenas a
água e o Espírito de Deus estejam presentes (Gn 1:1-2). Diante desse
cenário, Deus fala, a luz vem à existência (Gn1:3) e Ele separa a luz da
escuridão. Chama a luz de “dia” e a escuridão de “noite” (Gn 1:4-5).
No segundo dia, Deus criou o céu, que formou o firmamento, uma
barreira entre as águas superiores e inferiores e chamou o firmamen-
to de céu (Gn1:6-8).
No terceiro dia, Deus criou a terra seca, que está acima da água. As
grandes massas de água são chamadas de “mares” e a porção seca

23
é chamada de “terra”. Vendo que tudo isso é bom, Deus começou a
preencher os ambientes criados fazendo toda a vida vegetal autos-
sustentável, com as plantas de vários tipos e com capacidade de se
reproduzir. (Gn1:9-13)
No quarto dia da criação, Deus faz todos os corpos celestes: Sol, lua
e estrelas. O movimento destes corpos distingue o dia da noite, além
de serem sinais para estações, dias e anos. Vindo Moisés de um Egito
politeísta e adorador de divindades astrológicas, um ensinamento se
destaca: Os astros, sol, lua, água, noite, dia, abismo, nada mais são do
que criações do Deus de Israel. Por isso não devem ser adorados nem
reverenciados (Gn1:14-19).
No quinto dia, Deus cria toda a vida que vive na água e todos os
pássaros e insetos que voam com capacidade de se reproduzir. Eles
foram os primeiros abençoados por Deus. Deus declara este trabalho
bom, e isso ocorre em um dia (Gn1:20-23).
No sexto dia, Deus cria todas as criaturas que vivem em terra firme.
Isto inclui o homem, criado à Sua imagem; conforme a Sua semelhan-
ça (Gn 1:24-26).
A criação do homem revela ao leitor duas verdades: Primeiro, que
a Trindade estava presente na criação do mundo e, segundo, que o
homem é colocado em posição de autoridade sobre todas as outras
criaturas. Deus abençoa o homem e ordena-lhe a se reproduzir, en-
cher a terra e sujeitá-la. Diz-lhe que a todos os animais da terra, e
todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego
de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. Homem e mulher
poderiam se alimentar deles. (Gn1:29-30).
Aqui, no sexto dia, o trabalho criativo de Deus está completo, ten-
do tudo, toda a sua beleza e perfeição então formadas.
Na conclusão de Sua criação, Deus anuncia que tudo é muito bom.
Abençoa o dia sétimo e o santifica, porque nele descansou de toda a

24
obra que, como Criador, fizera. (Gn 2:1-3). Os judeus até hoje guardam
o sétimo dia em obediência ao determinado no 4º mandamento (Êx
20:8-11).
Resumindo tudo o que foi criado, o texto bíblico diz:
Dia 1 (1:3-5) Criação da luz
Dia 2 (1:6-8) Criação do firmamento
Dia 3 (1:9-13) Criação do mar, terra, vegetação
Dia 4 (1:14-19) Criação dos corpos celestes (sol, lua e estrelas)
Dia 5 (1:20-23) Criação de animais marinhos e animais alados
Criação de animais selvagens, todos os tipos de ani-
Dia 6 (1:24-31) mais e todos os tipos de répteis na terra e nos seres
humanos

Gn 1 é o relato da criação, mas é também uma afirmação de fé, onde


a Bíblia afirma que tudo o que existe é criado pelo Deus de Israel.
Mostra que, além de tudo, a criação se deu sem conflito. Todos os
outros povos e religiões tinham brigas e guerras para a criação. Os
deuses brigavam entre si. Isto não acontece com o Deus de Israel.
Nosso Deus cria tudo a partir do nada, pela Sua vontade, sem
guerrear com ninguém, porque Ele é soberano.
Cada coisa que Ele cria é boa, e na Sua Plenitude, Ele vê que é mui-
to bom.
2.2.1.1.1 Segundo relato da Criaçâo
O segundo relato da criação que lemos na Bíblia e no Pentateuco,
é registrado no capítulo 2 de Gênesis. Descreve a criação sob um as-
pecto mais específico, focando na criação do Jardim do Éden, jardim
que será uma referência importante em toda a Bíblia.
Noção de jardim é uma noção de algo onde Deus habita, por isso
que o templo no Antigo Testamento, o templo de Salomão, possui as

25
cortinas com árvores, para que se lembre do jardim. Ou seja, é ensina-
do como o lugar onde o homem se encontra com Deus.
No Hebraico, a língua que o Antigo Testamento foi escrito, Éden
significa delícia, lugar de delícia, encanto, um lugar protegido. Esse
lugar de delícias possuía tudo o que o homem precisava, mas acima
de tudo a comunhão com Deus.
O texto narra a criação do mundo, dos homens e dos animais em
uma nova perspectiva. Diferente de Gênesis 1, nesta segunda história,
o homem não é a última coisa criada, mas a primeira: Num ambiente
sem vegetação, sem chuva, apenas com um vapor que subia da terra
(Gn 2:5-6), Deus formou o homem do pó da terra e soprou nas suas
narinas o fôlego de vida, tornando-o uma “alma vivente” (Gn 2:7).
O jardim de delícias, o local que Deus fizera para o homem viver,
possuía rios e todas as sortes de árvores de frutíferas e duas árvores
especiais: a da vida e a do conhecimento do bem e do mal (Gn 2:4-15).
Neste jardim, que o homem tinha que lavrar e guardar, ele recebeu
uma única ordem: “De toda árvore do jardim podes comer livremen-
te, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não co-
merás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”
(Gn 2:16-17).
Na sequência Deus faz os animais, leva ao homem para que os no-
meie, vendo que não era bom ao homem estar só, faz a mulher como
sua auxiliadora (Gn 2:19-22).
Ao encontrar sua companheira, o homem exclama que “esta é ago-
ra osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada
varoa, porquanto do varão foi tomada” e Deus institui o casamento
(Gn 2:23-25).
2.2.1.2 O PECADO ORIGINAL
A segunda história que lemos na Bíblia e no Pentateuco, registrada
no capítulo 3 de Gênesis, fala da queda humana.

26
O processo da queda começa com um contraste do capítulo an-
terior. No capítulo 2, homem e mulher estão nus e não se envergo-
nhavam. No entanto, tudo termina logo em seguida, quando, são
tentados e enganados pela serpente, homem e mulher se alimentam
da árvore que Deus tinha mandado não comerem. Este ato de deso-
bediência causou uma separação entre o homem, a mulher e Deus.
A partir daí a Bíblia nos mostra a caminhada de Deus para, não
só se revelar aos homens, mas também salvar a humanidade do seu
próprio erro.
Satanás escolhe se disfarçar de criatura sagaz, astuta e esperta –
em uma serpente. Inicia sua conversa com a mulher, duvidando da
palavra que Deus dissera: - vocês não podem comer de todos os fru-
tos das árvores do jardim (Gn.3:1). Eva respondeu que sim, à exceção
do fruto da árvore do bem e do mal, pois se comessem, morreriam
(Gn 3:1-3).
A serpente, colocando em dúvida a ordem de Deus, convence a Eva
que ela não morreria se comesse. Seduzida com a fala da serpente de
que ela “seria como Deus, conhecendo o bem e o mal”, Eva come do
fruto e dá ao seu marido (Gn 3:4-6).
No jardim, à tardinha, Deus chama pelo homem e vendo que este
se escondia, pergunta o que ele fez de errado. O homem confessa que
comeu do fruto proibido (Gn 2:7-12). O erro do primeiro casal não dei-
xa outra opção a Deus, que seja punir ao primeiro casal e seus descen-
dentes, com alguns sofrimentos:
1. A terra foi amaldiçoada;
2. A mulher passou a dar à luz, em meio a muitas dores; 3. Para sobre-
viver ambos teriam de trabalhar muito, pois a terra não seria fácil de
ser lavrada (Gn 3:13-20).
Em seguida, Deus os vestiu, os expulsou do jardim do Éden e co-
locou querubins para guardar o acesso à árvore da vida (Gn 3:21-24).

27
Apesar de toda carga negativa e punitiva ao término de Gn 3, é
bom lembrar que há também a revelação da promessa de salvação
para o homem em Gn 3:15.
Paulo em Rm 5.12-21 diz que, através do pecado do primeiro Adão
todos os homens se tornaram pecadores, mas que a obra na cruz de
Jesus Cristo foi muito maior que a desobediência cometida no Éden
e que pelo “segundo Adão”, os homens podem ser justificados dian-
te de Deus. Ou seja, o homem não estaria para sempre separado de
Deus. Ele poderia, através de Cristo, voltar a desfrutar de uma comu-
nhão íntima e plena com o Criador.
2.2.1.3 O PRIMEIRO HOMICÍDIO
A terceira história que lemos na Bíblia e no Pentateuco é a dos fi-
lhos do primeiro casal (Gn 4:1-16).
Conta o livro de Gênesis, que após a expulsão do primeiro casal do
jardim, eles tiveram dois filhos: Caim, o primogênito lavrador, e Abel,
o pastor de ovelhas (Gn 4:1-2).
Num certo dia, os irmãos trouxeram uma oferta ao Senhor: Caim
ofereceu do fruto da terra e Abel, as primícias do rebanho e da sua
gordura (Gn 4:3-4). O texto bíblico revela que Deus se agradou de Abel
e de sua oferta, e não se agradou da oferta de Caim (Gn 4:5-6). A reação
de Deus deixa Caim enciumado e com raiva do irmão. Deus, na sua
onisciência, o exortou a não ceder ao desejo mal que estava lhe esprei-
tando (Gn 4:6-7), mas Caim não deu ouvidos à exortação de Deus e,
no campo, vingativamente, mata seu irmão Abel (Gn 4:8). Questiona-
do por Deus sobre Abel, Caim ainda respondeu com desdém, dizendo
que não era o “tutor do seu irmão” (Gn 4:9). Vendo que o coração de
Caim estava tomado pela violência e maldade, Deus o sentenciou a
jamais encontrar descanso e andar errante pela terra (Gn 4:10-16).
Partindo para a terra de Node, ao oriente do Éden, Caim edificou
uma cidade, chamou-a Enoque, o nome de seu filho. A descendên-

28
cia de Caim é o tema do final deste capítulo, que registra tanto des-
cendentes pecadores, como Lameque, o primeiro homem polígamo,
como também pessoas que inventaram instrumentos musicais, que
dominaram os metais, que desenvolveram a criação de gado e tam-
bém do piedoso Sete, sobre quem Eva declarou: “Deus me concedeu
outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou” (Gn 4:17-26).
2.2.1.4 O DILÚVIO
A quarta história que lemos na Bíblia e no Pentateuco é a história
de uma grande inundação, que é precedida por Gn 5:1-6:4, onde o lei-
tor é apresentado aos descendentes de Adão até chegar a Noé e seus
filhos Sem, Cão e Jafé (Gn 5:1-32) e ao panorama social da sua época:
Uma época onde a maldade do homem se multiplicara sobre a terra
de forma sem precedentes e que levou Deus a decidir exterminar com
o homem que havia criado, excluindo-se Noé, que achou graça aos
olhos de Deus, e seus familiares (Gn 6:1-13).
Diz o texto que Deus comunicou Noé que enviaria um dilúvio sobre
a terra para destruir os homens e os animais e manda que ele cons-
trua uma arca, coloque nela seus familiares e representantes de cada
espécie de animais e aves, além dos mantimentos (Gn 6:14-21). Noé
fez conforme tudo o que Deus lhe havia ordenado e entram todos na
arca, juntamente com os animais (Gn 7:1-10). Com Deus fechando
a porta da arca, as águas do dilúvio caíram e inundaram a terra (Gn
7:11-16), cobrindo todos os altos montes e matando toda vida que se
movia sobre a terra (Gn 7:17-24).
Após cento e cinquenta dias, o dilúvio chega ao fim e começa a
diminuir o nível das águas e a arca para sobre os montes de Ararate
(Gn 8:1-5). Por três vezes, Noé testa o nível das águas soltando uma
pomba, que na terceira vez retorna com uma folha nova de oliveira no
bico (Gn 8:6-12). Seguindo a ordem de Deus de que poderia sair em
segurança, Noé, seus familiares e os animais saem da arca (Gn 8:13-
19). Agradecido pelo livramento e a nova oportunidade de vida, Noé

29
levanta um altar a Deus, que se agradou do holocausto e prometeu
que nunca mais destruiria a terra com um dilúvio (Gn 8:20-22).
Após isso, Deus abençoa Noé e seus filhos e dá a seguinte ordem:
“Sede fecundos, multiplicai-vos e povoai a terra” (Gn 9:1-2). Após essa
ordenança, outras duas seguiram: sobre a alimentação (os homens
poderiam se alimentar de “tudo o que se move e vive”, (Gn 9:3) e so-
bre a pena de morte: “se alguém derramar o sangue do homem, pelo
homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua
imagem” (Gn 9:6).
A história do dilúvio termina com Deus fazendo uma aliança, cujo
sinal foi o arco-íris, com Noé, sua descendência e toda a criação: “O
arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna en-
tre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra.
Disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança estabelecida entre mim e
toda a carne sobre a terra” (Gn 9:10-17).
NOÉ E O DILÚVIO
Em 3 de dezembro de 1872 George Smith anuncia a descoberta de
plaquetas cuneiformes com a “Epopeia de Gilgamesh”, uma das
mais antigas obras escritas da literatura que fala sobre um catastró-
fico dilúvio ou um conjunto de inundações, incêndios e terremotos e
que causou a morte de quase todos os homens e animais. Histórias
semelhantes à do dilúvio bíblico são encontradas no Oriente Médio
entre os sumérios, babilônios, assírios, hititas e outros. A Epopeia
de Gilgamesh conta a história de Gilgamesh, um herói e semideus
das mitologias suméria, assíria e babilônica, que viajava ao Outro
Mundo à procura do segredo da vida eterna. Lá ele encontra Ut-
napishtim, o Noé sumério, que conta a história do Dilúvio, dizendo
que sobreviveu construindo um grande barco em que salvou das
águas a família, os amigos, os animais e as plantas, “as sementes da
vida”. Na versão de Gilgamesh, Ut-napishtim fala na primeira pessoa
a Gilgamesh: “Eu mandei embarcarem em uma nave toda a minha
família e as minhas relações. Os animais do campo, os rebanhos do
campo, os artesãos, mandei todos embarcarem. Entrei no barco e
fechei a porta... Das fundações dos céus uma nuvem negra ergueu-

30
se. Tudo o que brilha transformou-se em escuridão. Os deuses te-
meram a inundação. Voaram, elevaram-se ao céu de Anu. Os deuses
se agacharam como um cão contra a parede, eles se deitaram. Por
seis dias e seis noites, o vento e a inundação continuaram, o fura-
cão subjugou a Terra. Quando o sétimo dia amanheceu, o furacão
estava abatido, a inundação que provocara uma guerra, como um
exército; o mar estava parado, o vento maléfico acalmara, a inunda-
ção acabara. Eu observei o mar, sua voz estava silenciosa e toda a
humanidade se transformara em lama! Tão alto quanto os telhados,
erguia-se o brejo! Eu observei o mundo, o horizonte do mar; a doze
medidas de distância uma ilha emergira. No monte Nisir chegou o
barco, o monte Nisir firmou o barco e não o deixou mover-se. Quan-
do o sétimo dia chegou, mandei vir uma pomba, eu a soltei. Ela foi,
a pomba, e voltou. Como não havia lugar, ela voltou. Mandei vir uma
andorinha, ela voltou. Como não havia lugar, ela voltou. Mandei vir
um corvo, eu o soltei. Ele foi, o corvo, e observou como baixavam as
águas; ele come, ele chapinha, ele gralha, ele não volta.”

2.2.1.5 A TORRE DE BABEL


Precedida pela narrativa dos atos desastrosos do filho de Noé (Gn
9:20-29) e da apresentação dos descendentes dos filhos de Noé por
clãs, línguas, terras e nações (Gn 10:1-32), chega-se à quinta história
que lemos na Bíblia e no Pentateuco, a história da torre de Babel.
Narrando que os homens, que nesta época tinham uma linhagem
e uma única língua, novamente voltaram a desobedecer à ordem de
Deus, na terra de Sinar resolveram edificar uma cidade e uma torre,
cujo topo pudesse alcançar o céu e perpetuasse, celebrasse seus no-
mes (Gn 11:1-4).
Vendo Deus o que eles estavam fazendo, resolve confundir a língua
que falavam, para que não entendessem mais uns aos outros e paras-
sem a edificação da torre (Gn 11:5-9).
Concluindo essa primeira parte do livro de Gênesis, as histórias
primitivas (Gn 1:1-11:9) nos mostram que após o pecado e a expul-
são do jardim, o homem aumentou sua rebeldia contra Deus, muitas

31
vezes através de atos violentos contra o próximo, como foi com Caim
e seus descendentes, com os homens da época de Noé e os que habi-
taram a terra de Sinar.
Isso vem nos lembrar o que disse Paulo sobre o homem ser peca-
dor e incapaz de fazer o bem tanto em Rm 7:12-25, como em Ef 2:3:
“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar
o bem” e “todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como os outros também”.
No entanto, Deus é bom e misericordioso e não desiste de nós,
nem dos homens que havia criado à sua imagem, conforme a sua
semelhança. Isso é mostrado claramente na segunda parte do livro
de Gênesis com as histórias dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn.
11:10-37:1).
2.2.2 A História dos Patriarcas (Gn 11:10-37:1)
O segundo bloco do livro de Gênesis é aberto com a apresentação
dos descendentes de Sem (Gn 11:10-26) e dos descendentes de Tera
(Gn 11:27-32), que introduz a narrativa do chamado de Deus a Abrão
para que deixe sua casa, família e parta em viagem para Canaã: “Sai
da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra
que te mostrarei” (Gn 12:1). Ao aceitar o chamado de Deus, Abrão se-
ria pai de uma grande nação, abençoado e teria seu nome engrande-
cido (Gn 12:2-3).
Seguindo com sua família para Harã, onde morre seu pai, Tera,
Abrão, com setenta e cinco anos de idade, juntamente com sua espo-
sa Sarai, seu sobrinho Ló e todos os seus servos e bens, partem para
Canaã (Gn 12:4-5). Chegando a Siquém, no carvalho de Moré, Deus
aparece a Abraão e fala novamente com ele (Gn 12:6-7). Depois vai
para o oriente de Betel e lá edifica outro altar, invoca o nome do Se-

32
nhor e segue para o Neguev (Gn 12:8-9).
No Neguev, uma região desértica com baixos índices de chuvas,
a sudoeste do Mar Morto, as lavouras de cereais não dão conta de
alimentar a população e há fome naquela terra. Abrão parte para o
Egito e combina com Sarai de apresentá-la como sua irmã, pois temia
que os egípcios o matassem para ficar com sua esposa. Levada para a
casa de Faraó devida a sua beleza, a captura de Sarai faz Deus castigar
Faraó com pragas (Gn 12:10-17) que só cessam quando o Faraó, des-
cobrindo que Sarai era mulher de Abrão, repreende e despede Abrão
ordenando que ele saísse do Egito com tudo o que possuía (Gn 12:18-
20).
Saindo do Egito e indo para Betel, Abrão e Ló, para evitar maiores
problemas entres os servos que apascentavam seus rebanhos, resol-
vem se separar: Ló, vendo a campina do Jordão, partiu para o Oriente
em direção às cidades de Sodoma e Gomorra (Gn 13:1-13) e Abrão
habitou próximo a Hebrom, onde levantou um altar e cultuou a Deus
(Gn 13:14-18).
Uma guerra entre os cinco reis da região do Mar Morto e a confe-
deração de quatro reis liderada por Quedorlaomer estoura e Ló acaba
capturado (Gn 14:1-17). Ao saber do que estava acontecendo com o
sobrinho, Abrão com um grupo de trezentos e dezoito homens par-
tem para libertá-lo e conseguem recuperar todos os bens e libertar
seu sobrinho Ló.
Após essa vitória, Abrão se encontra com Melquisedeque, rei de
Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, a quem dá o dízimo e é abenço-
ado (Gn 14:18-24).
Após esses acontecimentos, Deus reafirma a promessa feita a
Abrão, de que ele seria o pai de uma grande descendência (Gn 12:1-
2), lhe promete um filho e firma sua aliança com ele, numa cerimônia
onde animais foram cortados. Após essa cerimônia da aliança, Abrão,

33
num sono profundo, é avisado que sua descendência seria peregri-
na em terra alheia, reduzida à escravidão, afligida por quatrocentos
anos, mas que depois seria livre e voltaria a terra de Canaã (Gn 15:1-
17). Por fim, Deus revela os limites geográficos e étnicos da terra que
Ele prometeu dar aos descendentes de Abrão (Gn 15:18-21).
Sarai, cansada de esperar pelo filho prometido, oferece a Abrão sua
serva egípcia, Agar, para que ela pudesse lhe dar um filho (Gn 16:1-3).
Agar e Sarai começam a se desentender e a esposa pede a Abrão para
mandar Agar embora (Gn 16:4-6). Despejada de casa e desamparada,
Agar é encontrada pelo Anjo do Senhor no deserto e promete que seu
filho também terá uma descendência numerosa e se tornará um gran-
de povo (Gn 16:7-14). Retornando a à casa de Abrão, Agar deu à luz o
seu filho, Ismael (Gn 16:15-16).
Após Ismael nascer, Deus fala com Abrão e renova Sua aliança com
ele. Muda seu nome para Abraão e institui a circuncisão ao oitavo dia,
como sinal de Sua aliança (Gn 17:9-14). Em seguida, Deus muda tam-
bém o nome de nome de Sarai para Sara e diz que o filho de Sara é o
filho da promessa (Gn 17:15-22). Obediente, Abraão circuncida todos
os homens de sua casa, inclusive a ele e seu filho Ismael, conforme a
ordem de Deus (Gn 17:23-27).
Na sequência desses acontecimentos, Deus e dois anjos aparecem
a Abraão nos carvalhais de Manre, durante a hora mais quente do dia,
e este os saudou, hospedou e alimentou. Neste momento, Abraão é
informado que Sara geraria um filho seu, mas esta, incrédula, riu-se e
foi repreendida (Gn 18:1-15). O patriarca é informado também sobre a
destruição de Sodoma (Gn 18:16-21), o que leva Abraão a interceder a
Deus pelos homens justos da cidade. Deus é claro com ele: se houver
um justo, a cidade não será destruída (Gn 18:16-33).
E assim os anjos chegam a Sodoma ao anoitecer, encontram Ló,
assentado na entrada da cidade, e são hospedados e defendidos pelo
sobrinho da Abraão (Gn 19:1-11). Após ferir os homens de Sodoma

34
com cegueira, ao amanhecer os anjos tiram Ló e sua família de Sodo-
ma, exortando-os expressamente que não deveriam olhar para trás
para ver as cidades serem destruídas (Gn 19:12-22). Ló chega à cida-
de de Zoar, Deus fez chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra,
mas a mulher de Ló, desobedecendo a ordem dos anjos, olha para
trás e se tornou uma estátua de sal (Gn 19:23-29). Ló e suas filhas vão
viver nas montanhas. As moças, vendo que ali não havia homens com
quem pudessem se casar, embriagam seu pai e se deitam com ele.
Desta relação incestuosa nasceram os povos de Moabe e Amom (Gn
19:30-38).
Voltando a peregrinar, Abraão se estabelece em Gerar e esconde
do rei local que Sara é sua esposa (Gn 20:1-2), mas Deus falou com
Abimeleque em sonhos durante a noite sobre quem era Sara (Gn 20:3-
7). Abimeleque confronta Abraão, que se explica dizendo que ficou
com medo de ser morto por causa de sua mulher. Ora a Deus para as
mulheres da casa de Abimeleque voltassem a ter filhos (Gn 20:8-18).
Aos noventa anos, Sara, finalmente deu à luz ao filho de Abraão e
o chama de Isaque (Gn 21:1-7). Infelizmente o nascimento de Isaque
acirrou o conflito entre Sara e Agar (pois Sara viu que Ismael caçoava
de Isaque). Expulsa novamente Agar (agora junto com o filho dela) da
casa de Abraão. Enquanto choravam, o anjo do Senhor aparece e con-
firma a Agar que Ismael seria o pai de um grande povo (Gn 21:8-21).
Abraão prosperou muito na terra, fez uma aliança com Abimeleque
sobre a água, plantou tamargueiras em Berseba e invocou o nome do
Senhor (Gn 21:22-34).
A maior prova de fé de Abraão ainda está por vir. Um dia Deus cha-
ma Abraão e manda que ele tome Isaque, seu único filho, e o ofereça
em holocausto no Monte Moriá. Obedecendo imediatamente, Abraão
toma um jumento, lenha, dois servos, seu filho Isaque e vai para Mo-
riá (Gn 22.1-3). Ao terceiro dia, avistando o local indicado e apenas
com Isaque, que carregava a lenha, edificou um altar, dispôs a lenha e

35
amarrou Isaque sobre a lenha (Gn 22:4-9). Na hora em que iria imolar
Isaque, porém, um anjo o impediu e, avistando um carneiro preso en-
tre os arbustos, ofereceu-o no lugar de seu filho (Gn 22:10-20). Gêne-
sis 22 termina com a história de Tera, pontuando a descendência de
Naor, irmão de Abraão e do o nascimento de Rebeca, futura esposa de
Isaque (Gn 22:20-23).
Após viver cento e vinte e sete anos, Sara morre (Gn 23:1-2) e é en-
terrada, após uma longa negociação, na caverna do campo de Macpe-
la (Gn 23:3-20). Idoso, Abraão manda seu servo buscar uma mulher
para Isaque e este vai à Mesopotâmia (Gn 24:1-14). Lá chegando en-
contra Rebeca, filha Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, o irmão de
Abraão, e expõe o propósito de sua viagem: achar uma esposa para
Isaque, filho de Abraão (Gn 24:15-51). Com o consentimento da famí-
lia, Rebeca é levada e casa-se com Isaque (Gn 24:52-67).
Aos cento e setenta e cinco anos, Abraão morre de causas naturais,
em “ditosa velhice” e, foi sepultado na caverna de Macpela (Gn 25:1-11).
Ismael morre aos cento e trinta e sete anos de idade, e deixa inú-
meros descendentes (Gn 25:12-18).
Tendo agora por foco a Isaque, o filho da promessa, a narrativa
patriarcal informa que casado com Rebeca, Isaque ora muito e sua
esposa, estéril até então, engravida de gêmeos, Esaú e Jacó, que dis-
putam a primazia desde o nascimento. (Gn 25:19-26).
Diferentes, Esaú (que se torna caçador e é o preferido do pai) um
dia volta esfomeado de uma caçada e vendo que Jacó (fazedor de ten-
das e é o preferido da mãe) fez um ensopado de lentilhas e lhe pede
uma porção. Jacó então negocia a direito de primogenitura com o ir-
mão, que a vende em troca de uma generosa comida (Gn 25:27-34).
Partindo para Gerar por causa da fome que sobreveio à terra onde
morava, Isaque, como fez seu pai, escondeu que Rebeca era sua espo-
sa dizendo que ela era sua irmã. Mas a mentira dura pouco, pois Abi-

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meleque vê Isaque acariciando Rebeca (Gn 26:1-11). Isaque prospera
muito em Gerar e o rei local o aconselha a partir dali para evitar confli-
tos maiores (Gn 26:12-16). Mesmo indo acampar no vale de Gerar, Isa-
que e seus pastores envolvem-se num conflito com os pastores locais
por conta dos poços e de água, obrigando Isaque a morar em Bershe-
va, onde Deus lhe aparece e reafirma a bênção da aliança abraâmica
(Gn 26:17-25). Passados esses acontecimentos, Abimeleque procura
Isaque para firmar uma aliança com ele. Esaú casa-se com duas mu-
lheres filhas dos heteus, o que aborrece muito seu pai (Gn 26:26-35).
Envelhecido e sem enxergar direito, Isaque chama Esaú, e pede
que ele lhe prepare uma refeição com carne de caça (Gn 27:1-4). Re-
beca ouve e faz um plano para que Jacó fosse abençoado em lugar de
Esaú. Cobrindo as mãos e o pescoço de Jacó com a pele dos cabritos,
Rebeca manda que ele leve ao pai uma comida com sua caça prefe-
rida (Gn 27:5-17). Após ser cheirado e beijado pelo pai, Jacó recebe a
bênção da primogenitura, que envolvia fertilidade e domínio da terra,
além de sua supremacia sobre povos e nações (Gn 27:18-29). Mas a
farsa de Jacó não dura muito, pois Esaú, chegando da caça, vai en-
contrar o pai e descobre a trapaça do irmão (Gn 27:30-37).
Inconformado, Esaú insiste em ser abençoado, mesmo que fosse
com uma outra benção. E assim ouve que sua descendência viveria
longe dos lugares férteis da terra e haveria de servir a seu irmão (Gn
27:38-40). Irado, Esaú planeja matar Jacó, que sabendo do intento do
irmão, foge para Harã e vai para a casa de seu tio Labão (Gn 27:41-46).
Durante a fuga de Jacó para Padã-Harã, à noite, ele teve um sonho.
Viu uma escada cuja base estava posta na terra e seu topo atingia o
céu e anjos subindo e descendo dela. Acordando, Jacó reconhece que
Deus estava naquele lugar e, com temor, faz um altar, chama aquele
lugar de Betel, “casa de Deus” e faz um voto: prometeu reconhecer o
Senhor como seu Deus e dar o dízimo de tudo o que lhe fosse conce-
dido (Gn 28:1-22).

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Prosseguindo viagem na manhã seguinte, Jacó chega a Harã e
encontra Raquel, que cuidava das ovelhas de seu pai e a ajuda dar
água aos animais. Em uma rápida conversa, ele a reconhece como
sua parenta (Gn 29:1-12) e vai até a casa de Labão, onde acorda que
trabalharia sete anos para casar-se com Raquel (Gn 29:13-20). Após
trabalhar sete anos, Jacó é enganado por Labão na hora do casamen-
to, pois é Lia, a filha mais velha que lhe é entregue na noite de núp-
cias. Acordando mais sete anos de trabalho, Jacó esposa Raquel (Gn
29:21-30). Nascem os quatro primeiros filhos de Jacó: Rúben, Simão,
Levi e Judá, todos filhos de Lia (Gn 29:31-35).
Aflita por não ter filhos de Jacó, Raquel dá sua serva Bila ao espo-
so, que dá à luz a Dã e Naftali. Lia dá sua serva Zilpa, que dá a Jacó ou-
tros dois filhos: Gade e Aser (Gn 30:1-16). Depois Lia dá à luz a Issacar,
Zebulom e a Diná (Gênesis 30:17-21) e, finalmente Raquel, tem José e
Benjamim (Gn 30:17-26).
Jacó decide voltar para sua terra, mas Labão faz um pacto com Jacó:
receberia como pagamento por seu trabalho os animais nascidos sal-
picados, listados, malhados ou de cor anormal (Gn 30:27-36). Jacó en-
riquece, pois colocou varas em frente ao rebanho, nos locais onde os
animais tomavam água, e eles concebiam diante das varas e nasciam
malhados, listados, salpicados e de cor anormal (Gn 30:37-43).
Com inveja e ressentimento do enriquecimento de Jacó, os filhos
de Labão o acusaram de haver se apossado dos bens de seu pai (Gn
31:1), fazendo com que Jacó, saia sem avisar das terras de Labão, jun-
tamente com toda sua família e todos os seus bens, de Padã-Arã para
Canaã. Jacó não sabia, porém, que Raquel havia furtado os ídolos do-
mésticos de seu pai (Gn 31:2-19). Ao saber do desaparecimento das
filhas e do genro, Labão vai atrás deles, os alcança e interpela Jacó
sobre o motivo de saírem às escondidas: teria sido pelo furto dos ído-
los do lar, que garantiria ao portador o direito à herança? Jacó nega
que isso tenha acontecido e permite que Labão procure pelos ídolos.

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Labão procura incansavelmente, mas Raquel os escondeu na sela de
um camelo e ficou sentada sobre eles. Quando o pai manda que ela
se levante, ela alegou não poder, por estar no período menstrual (Gn
31:22-42). Labão e Jacó firmam uma aliança e Jacó parte rumo a Ca-
naã. (Gn 31:43-55).
Chegando ao vau de Jaboque, vê os anjos de Deus (Gn 32:1,2) e,
preparando-se para encontrar Esaú novamente, envia mensageiros a
seu irmão, Esaú, informando que estava na terra de Seir. Jacó é infor-
mado que Esaú estava indo ao seu encontro e Jacó separa presentes
para ele (Gn 32:3-21). Antes de encontrar com o irmão, Jacó encontra
Deus em Peniel, é abençoado e tem seu nome mudado para Israel (Gn
32:22-32). Após isso, Jacó encontra Esaú, se reconcilia com ele e che-
ga a Siquém, onde se estabelece e compra terras (Gn 33:1-20).
Habitando em paz, um dia, Diná, filha de Jacó e Lia é estuprada
por Siquém, mas este deseja desposá-la. Todavia, seus irmãos, Si-
meão e Levi, exigem que os homens fossem circuncidados. Quando
ainda estavam fracos, Simeão e Levi atacaram a cidade, mataram to-
dos os homens e tomaram os bens. Isso faz Jacó repreender os filhos
quando descobriu o ocorrido (Gn 34).
Jacó vai a Betel, o Senhor lhe aparece, reafirma a promessa de que
ele será uma grande nação e que será conhecido por Israel (Gn 35:1-
15). Raquel dá à luz a Benjamim, mas morre no parto, sendo sepul-
tada perto de Belém (Gn 35:16-20). Rúben deita-se com Bila e Isaque
morre aos cento e oitenta anos, sendo sepultado por Jacó e Esaú (Gn
35:21-29).
A narrativa dos descendentes de Esaú em Edom encerram às histó-
rias patriarcais (Gn 36).
2.2.3 A História de José (Gn 37:1-50:26)
No terceiro e último bloco do livro de Gênesis, lemos a história de
José, o filho preferido de Jacó, que, inclusive, foi presenteado com

39
uma túnica longa e colorida, para inveja dos irmãos. Como se isso não
bastasse, José teve dois sonhos nos quais ele aparecia como alguém
proeminente, que seus pais e irmãos reverenciavam (Gn 37:1-10).
Um dia, Jacó envia José ao encontro dos seus irmãos para ver
como estava o rebanho. Os irmãos, mais enraivecidos, planejando
matá-lo, jogam-no numa cisterna e acabam vendendo-o como escra-
vo a uma caravana de ismaelitas-midianitas (Gn 37:11-46).
Ao chegar no Egito, a caravana vende José a Potifar, oficial de Fa-
raó, e vai trabalhar na sua casa. A esposa de Potifar se interessa por
José, mas fracassando na tentativa de seduzi-lo, inventa que ele ten-
tou agarrá-la a força. Sentindo-se traído, Potifar mandou José para a
prisão (Gn 39).
Na prisão, José, abençoado por Deus, conhece dois funcionários
de Faraó: o padeiro e o copeiro, e lhes interpreta os sonhos. A inter-
pretação de José se confirma: o copeiro é solto, enquanto o padeiro
é morto (Gn 40).
Após dois anos desse evento, o Faraó tem dois sonhos que não
conseguem ser interpretados por ninguém da corte. O carcereiro
lembra de José e o leva até Faraó. José interpreta o sonho do Faraó,
dizendo que haveria sobre a terra do Egito sete anos de muita fartura,
mas também sete anos de fome severa. E mais, planeja uma saída
para que o Egito atravessasse os sete anos de crise e o Faraó o coloca
como vizir ou governador do Egito, abaixo apenas dele. Assim, José
recebeu o nome egípcio de Zafenate-Paneia e se casou com Azenate,
filha de um sacerdote de Om, com quem tem dois filhos: Manassés e
Efraim (Gn 41).
Uma fome severa abate a terra de Canaã e faz com que os filhos de
Jacó viajem até o Egito para comprar mantimentos. José reconheceu
os irmãos e, após alguns testes, revela sua verdadeira identidade (Gn
42-45).

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Com isso José resolve trazer seu pai e toda sua família para o Egi-
to (Gn 46) e tem o apoio do Faraó (Gn 47.1-26). Idoso, Jacó pede ser
enterrado em Canaã (Gn 47:27-31), abençoa José, Efraim e Manassés
(Gn 48:1-22) e depois seus outros filhos (Gn 49:1-28).
Jacó morre e José cuida dos preparativos para o sepultamento,
mandando que o pai fosse embalsamado e sepultado em Canaã con-
forme era seu desejo (Gn 50:1-14). Jose tranquiliza seus irmãos (Gn
50:15-21) e aos 110 anos de idade também morre (Gn 50:22-26).

2.3 Principais Teologias


Com base no estudado, podemos dizer que as principais teologias
do livro de Gênesis são:
A) Revelar a soberania de Deus na criação do universo - Se Gn 1
revela que Deus criou o universo e tudo o que existe pelo poder da
Sua palavra, Gn 2-3 explica sobre origem da humanidade, do pecado
e sua nefasta consequência: A separação de Deus e a perda da comu-
nhão com o Criador.
B).Revelar o início da história da redenção - Apresentando Deus
como Soberano e Criador de todas as coisas, Gn 1-3 também revela
que Ele não desistiu do homem pecador. Ao contrário, Ele providen-
ciou imediatamente a redenção em Gn 3:15: ‘Porei inimizade entre ti
e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar’.
C) Relatar a história dos patriarcas do povo de Israel - Gn 12-36 tem
por enredo narrar o início do povo de Israel através da vida dos seus
três patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó, ensinando ao povo de Israel
que Deus tem uma aliança e propósitos eternos para com seu povo,
que nunca os abandonaria e nem revogaria a sua palavra sobre eles.

41
2.4 Gênesis e o Novo Testamento
Todo o livro de Gênesis aponta para Cristo. Em Gn 1:26, vemos a
Trindade explícita na hora da criação do homem: ‘façamos o homem
a nossa imagem; conforme a nossa semelhança’. Já em Gn 3:1,5 Deus
anunciou que o descendente da mulher destruiria Satanás (Gn 5; 11;
Mt 1; Lc 3).
Em Gn 9 é dito que descendentes de Jafé seriam abençoados, en-
contrando a salvação por meio dos descendentes de Sem. Essa pro-
messa se cumpre quando da expansão do Evangelho (Rm 11).
Em Gn 14:18-20, o sacerdócio de Melquisedeque tipificou o sacer-
dócio de Cristo (Hb 7).
Em Gn 22, Abraão entregaria Isaque, seu “único filho”, por amor a
Deus. Na hora H, este é substituído por um carneiro, fazendo assim
uma tipologia com o sacrifício substitutivo e expiatório de Jesus na
cruz.
Por fim, também percebemos que se em Gênesis a comunhão do
homem com Deus foi sendo perdida, no Novo Testamento vemos que
em Jesus, restaurou-se a comunhão entre Deus e o homem e a vitória
sobre o pecado.

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CAPÍTULO 3
Livro de Êxodo, saindo do Egito
3.1 Título e Autoria
Êxodo é o segundo dos cinco primeiros livros do Antigo Testamen-
to cristão. Esse título foi retirado da Septuaginta e, em grego, significa
“saída, partida”.
O nome advém do grande evento da primeira metade do livro,
quando Deus tira e liberta a Israel do Egito.
Na Bíblia Hebraica, o livro chama-se “shemot”, ‘nomes’, pois o li-
vro inicia apresentando os nomes dos filhos de Jacó que estavam no
Egito.
Como a maioria dos livros do Antigo Testamento, Êxodo também
não faz menção ao seu autor ou compositor, mas, tradicionalmente,
é aceito que ele foi escrito por Moisés. Essa tradição baseia-se em re-
ferências explícitas a Moisés nos seus escritos (Êx 17:14; 24:4; 34:28)

3.2 Estrutura e conteúdos


Entre os estudiosos não há consenso sobre a estrutura do Êxodo.
Analisando o seu enredo, no entanto, pode-se facilmente perceber
uma tríplice divisão:
1. O resgate e a saída do Egito (Êx 1-14)
2. Os primeiros momentos no deserto (Êx 15-18)
3. O Sinai, as Leis e o Tabernáculo (Êx 19-40)
Importante conhecer cada particularidade desse tríplice enredo.

43
3.2.1. O resgate e a saída do Egito (Êx 1-14)
O livro começa narrando quais eram os filhos de Jacó que se junta-
ram a José, no Egito: “Os nomes dos filhos de Israel, que entraram no
Egito com Jacó; cada um entrou com sua casa: Rúben, Simeão, Levi,
Judá, Issacar, Zebulom, Benjamim, Dã, Naftali, Gade e Aser”. (Êx 1:1-4)
Vivendo no Delta do Nilo, em Gozen, os israelitas começaram a
crescer, aumentaram muito, multiplicando-se e fortalecendo-se até
que, um novo faraó que não conhecia o que José fez pelo Egito, te-
mendo que o grande número de israelitas pudesse motivar uma trai-
ção contra ele, ordena que todos os recém-nascidos meninos fossem
atirados ao Nilo (Êx 1:5-16).
As parteiras hebreias, tementes a Deus, não cumpriram as ordens
do faraó, o que obrigou o governante a divulgar sua ordem a todos os
moradores do Egito (Êx. 1:17-22).
É nesse contexto de morte e opressão que nasce Moisés, filho de
Anrão e Joquebede, pais levitas. O tempo passa e sua mãe, não po-
dendo mais escondê-lo, deposita-o num cesto de vime nas margens
do Nilo. A filha do faraó, que se banhava naquela hora, encontrou o
bebê Moisés e o toma para si, como se fosse seu filho (Êx 2:1-10).
Criado pela sua própria mãe, a pedido da filha do Faraó, Moisés
cresceu sabendo de sua origem israelita e, um dia, já adulto, viu um
escravo hebreu ser maltratado por um egípcio. Indignado com a co-
vardia, mata o egípcio. Com medo do que poderia lhe acontecer, foge
para a terra de Midiã (Êx 2:11-15). Em Midiã, casou-se com Zípora, a
filha do sacerdote midianita Jetro. Tornou-se pastor de ovelhas e teve
um filho, a quem chamou Gérson (Êx 2:16-22).
O faraó que oprimia os israelitas com intensos trabalhos morre e
o povo, que não aguentava mais tanta servidão, clamou a Deus, que
ouviu o seu gemido e lembrou que fez uma aliança com Abraão, com
Isaque e com Jacó (Êx 2:23-25)

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Neste momento em que Deus se lembra da aliança que fizera com
os patriarcas, que Ele se mostra a Moisés, numa sarça ardente, en-
quanto este pastoreava o gado do seu sogro. Moisés pergunta o nome
de Deus, que responde: “Eu Sou o que Sou”. Deus pede a Moisés que
retorne ao Egito e tire o Seu povo de lá, levando-o até a terra prome-
tida a Abraão, Isaque e Jacó, até Canaã (Êx 3).
Ainda assustado com o encontro tão intenso e pessoal com o Deus
de Israel, Moisés diz que o povo não crerá nele quando lhe falar sobre
o livramento que Ele estava preparando, mas Senhor dá dois sinais a
Moisés: transforma a vara em cobra e torna a mão de Moisés leprosa
(Êx 3:1-9). Ainda inseguro, Moisés diz que é pesado de língua e Deus
escolhe Arão, seu irmão, como porta-voz para andar junto com ele (Êx
3:10-16).
Depois dessas coisas, Moisés se despede do sogro, toma sua fa-
mília e volta para o Egito, onde, junto com Arão falam ao povo que
Deus haveria de libertá-los da servidão e fizeram sinais. O povo creu,
se inclinou e adorou ao Senhor (Êx 3:17-31).
De volta ao Egito, Moisés e Arão vão ao encontro do Faraó e pedem
que ele libere Israel para adorar a Deus no deserto. Faraó questiona:
“Quem é o Senhor”? e impõe cargas ainda maiores aos filhos de Israel
(Êx 5).
O Senhor se identifica como YHWH e diz que apareceu a Abraão, a
Isaque, e a Jacó como o Deus Todo-Poderoso, que estabeleceu com
eles uma aliança para lhes dar a terra de Canaã, que tem ouvido o
gemido dos filhos de Israel e pede que Moisés diga ao povo que os
libertará (Êx 6:1-13). Os descendentes de Rúben, de Simeão e de Levi
são enumerados (Êx 6:14-30).
Novamente Deus encarrega Moisés de levar sua palavra a Faraó,
pedindo que deixasse seu povo sair (Êx 7:1-9). A partir desse momen-
to, o Egito é acometido por dez pragas, cada uma pior do que a ante-

45
rior, pois o Faraó tinha seu coração endurecido e não permitia que o
povo fosse ao deserto adorar ao seu Deus.
A primeira praga aconteceu quando Arão estendeu sua vara e
transformou em sangue as águas do Egito, sejam das correntes, dos
rios, dos tanques, de todo o ajuntamento das suas águas e tudo foi
da água do Nilo. E pior, isso causou a morte dos peixes (base da ali-
mentação do povo, seja pobre ou rico) e um terrível odor. Mesmo com
essa desgraça, o coração do Faraó não amoleceu (Êx 7:14-25)
Então Deus manda uma segunda praga. Arão estendeu a sua mão
sobre as águas do Egito. Subiram rãs e cobriram a terra. Faraó entra
em pânico e pede que Moisés interceda diante do Senhor para que a
praga cesse. Moisés o faz, mas o Faraó ainda não deixa o povo ir ado-
rar a Deus (Êx 8:1-15).
Uma terceira praga é enviada quando Arão, mais uma vez, estende
a sua vara, toca o pó da terra transformando-o em milhares de pio-
lhos, que atingiram os homens e o gado de toda a terra do Egito. Fa-
raó, no entanto, continuou com seu coração endurecido (Êx 8:16-19).
Deus envia uma quarta praga: grandes enxames de moscas vieram
à casa de Faraó, às casas dos seus servos e sobre toda a terra do Egito,
apenas na terra de Gósen, onde habitava o povo de Israel, não houve
enxames de moscas. Mesmo assim Faraó, ainda manteve seu coração
endurecido (Êx 8:20-32).
Uma quinta praga atinge o Egito: o Senhor fez morrer o gado, os
cavalos, os jumentos, os camelos, os bois e as ovelhas dos egípcios,
com pestilência gravíssima. Mesmo vendo que nada ocorreu com o
gado dos israelitas, Faraó ainda se manteve empedernido (Êx 9:1-7).
Uma sexta praga de sarna e úlceras é enviada sobre os egípcios e
seus gados, mas nada mudava o coração do Faraó (Êx 9.8-12).
O Senhor envia uma sétima praga, com saraiva (granizo) e fogo so-
bre o povo de Faraó e destrói plantações, mas não sobre o povo de
Israel e suas roças (Êx 9:13-35).

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A oitava praga é enviada: Uma nuvem de gafanhotos ataca planta-
ções, devorando o que o Faraó possuía, mas ele não cede, não deixa
Israel partir (Êx 10:1-20).
Seguiram-se trevas espessas sobre todo o céu do Egito por três
dias. É a nona praga que atingia os egípcios que passaram dias na
escuridão, diferente do povo de Israel, que nada sofreu. Mas Faraó
continuava irredutível (Êx 10:21-29)
Uma derradeira e última praga foi enviada sobre o Egito e seu
povo. O Senhor matou todo primogênito, seja de homens (inclusive o
filho do próprio faraó) ou de animais, de todos os lares egípcios, mas
nenhum primogênito israelita morreu. Uma grande comoção tomou
conta do Egito e o Faraó, vencido, concordou em deixar o povo sair
para adorar a Deus no deserto.
Em meio a essa desgraça, Deus institui a Páscoa, uma das festas
mais importantes para o judaísmo, pois recorda-se os preparativos
para a saída do Egito e a expectativa de uma vida em liberdade em
Canaã, e a Festa dos Pães Ázimos. Com essa última praga, os filhos
de Israel, após quatrocentos e trinta anos, saem do Egito (Êx 11-13).
Todas essas pragas e suas consequentes calamidades foram en-
viadas para mostrar o poder de Deus tanto aos israelitas quanto aos
egípcios, pois expôs as fraquezas e as ineficiências do que eles tinham
como “seus deuses”, confira:
N. Pragas “deuses destronados”
Águas em sangue HÁPI, o espírito das águas do Nilo. Conside-
1
(Êx 7:14-24) rado um dos deuses da fertilidade.
HEGET, deusa que tinha cabeça de rã e pos-
2 Rãs (Êx 8:2-14)
suía poder criador.
TOT, deusa da criação, do conhecimento,
Piolhos (Êx 8:16-
3 da sabedoria, da arte e da magia e GEB, o
19)
deus da terra.

47
KHEPER, deus com a cabeça de escaravelho
Moscas (Êx 8:20-
4 besouro-do-esterco, visto como o que em-
32)
purrava o sol pelo céu.
ÁPIS, deus sagrado de Mênfis, da fertilidade
Peste sobre bois e dos rebanhos; HATOR, deusa-vaca, deusa
5
vacas (Êx 9:1-7) celestial; NUT, a deusa do céu e algumas ve-
zes representada como uma vaca.
Feridas/ Úlceras IMHOTEP, deus da medicina; THOTH, o deus
6 da inteligência e da ciência médica; NEFER-
(Êx 9:8-12) TEM, deus da cura.
Os deuses que tinham controle sobre os
elementos naturais como NUT, a deusa do
Chuva de pedras céu; SETH, deus das tempestades e protetor
7
(Êx 9:13-35) das plantações; NEPER, deus das culturas
de grãos; OSÍRIS, deus de fogo, governante
da vida, da vegetação e da agricultura.
XU, deus do ar; SEBEQUE, deus-inseto; ANÚ-
Gafanhotos BIS, o guardião dos campos com cabeça de
8 chacal; OSÍRIS, deus de fogo, governante da
(Êx 10:1-20) vida, da vegetação e da agricultura; SHU,
deus do ar, e AMUN, deus do vento.
O deus do sol, conhecido por diferentes no-
Trevas mes como RE, RA, ATUM ou ATON; AMON-RÁ
9
(Êx 10:21-23) era considerado o maior dos deuses do Egi-
to, visto como o criador, o doador da vida.
SERKET, a deusa da proteção; MESKHENET,
a deusa do parto, que assistia ao nascimen-
Morte dos primo- to dos filhos; HU, o deus que personifica a
10
gênitos (Êx 11-12) autoridade real; WADJET, a deusa da auto-
ridade real; MAAT, deusa da ordem cósmica;
SEKHMET, deusa da guerra.
Apesar de ter visto como os “seus deuses” foram ineficientes, Fa-
raó não demorou muito para se arrepender e partir atrás do povo,
tentando capturá-lo de novo. Mas Israel estava na dianteira e Moisés,
seguindo a ordens de Deus, levantou a sua vara, estendeu a mão so-
bre o mar e o fendeu.

48
Assim os filhos de Israel atravessaram o Mar Vermelho a pés enxu-
tos, com as águas formando como muro à sua direita e à sua esquer-
da. Todavia os egípcios não desistiram e perseguiram os israelitas,
entrando atrás deles com seus carros e seus cavaleiros, até o meio do
mar. O mar se fechou e os egípcios morreram afogados no meio do
mar (Êx 14).

A PASCOA NO JUDAÍSMO E NO CRISTIANISMO


Uma das festas mais importantes do calendário judaico, a Páscoa
(em hebraico, “Pessah”, “passagem ou travessia”) é a Festa da Li-
berdade, pois celebra-se a saída do povo do Egito, onde viveram
como escravos por mais de 400 anos.
Um memorial perpétuo, a Páscoa, que deve ser celebrada no dé-
cimo quarto dia do primeiro mês, chamado de Abib ou Nissan, é
o momento festivo de se recordar a travessia dos judeus pelo Mar
Vermelho em direção à Terra Prometida, ou seja, é o momento de
celebrar a passagem da escravidão para liberdade.
Desde a época descrita no livro de Êxodo, capítulo 12, os judeus de
todo o mundo reúnem-se anualmente em família para celebrar a
Páscoa, com elementos que relembrem a sua história e os fatos que
culminaram na saída do Egito.
Comemoração atual da Páscoa segue um ritual, cujos passos são:
busca do Chametz (retirada da casa das migalhas de grãos fermen-
tados, seja de trigo, cevada, centeio, aveia e trigo sarraceno), jejum
dos primogênitos, acendimento de velas; Seder (palavra hebraica
que significa “serviço” e contém um roteiro da ceia da festa) e leitu-
ra do Hagadá do Pessah (relembrar a história do sofrimento vivido e
a restauração da sua liberdade).
Já para o cristianismo essa festa é igualmente importante, haja vis-
ta comemoramos a passagem da morte para vida durante a ressur-
reição de Jesus Cristo, o Messias.
Até o século IV a Páscoa Judaica era comemorada no mesmo dia da
Páscoa cristã, mas a partir do Concílio de Niceia (325 d.C.), a Páscoa
Cristã passou a ser celebrada no primeiro domingo após a primeira
lua cheia do equinócio de primavera, para quem está no Hemisfério
Norte, e no equinócio de outono, para quem está no Hemisfério Sul.

49
3.2.2. Os primeiros momentos no deserto (Êx 15-18)
Após chegarem em terra seca, os filhos de Israel entoam dois cân-
ticos - o cântico de Moisés (também conhecido como Canção do Mar)
e o cântico de Miriã - onde celebram a libertação com mão forte. Eles
exaltam o Senhor como homem de guerra e regozijam-se em sua li-
bertação do Egito (Êx 15:1-21).
Animados pela vitória, os israelitas se colocam em marcha pelo de-
serto de Sur. Andando durante três dias no deserto tiveram sede, não
acharam água, perguntaram e murmuraram com Moisés sobre o que
beberiam. Moisés clamou ao Senhor. Este lhe mostrou uma árvore,
que lançada às águas, as tornaram doces. Depois, chegando a Elim,
encontraram doze fontes de água e setenta palmeiras e ali acampa-
ram (Êx 15:22-27).
Tempos depois, partem de Elim e chegam ao deserto de Sim, que
está entre Elim e Sinai. Lá os israelitas, mais uma vez, reclamam, lem-
brando da vida no Egito, mas Deus lhes fornece, milagrosamente, o
maná (o pão dos céus), algo que era como semente de coentro branco
e de sabor como bolos de mel, e carne, através das codornizes (Êx 16).
Partindo do deserto de Sim, acamparam em Refidim e novamente
murmuram, porque não havia água para beber. Após ter reclamado
com Deus sobre o comportamento do povo, Moisés fere a rocha em
Horebe, a água jorra da rocha e o povo sacia sua sede (Êx 17:1-7). Ain-
da enquanto Israel estava em Refidim, o povo lutou contra Amaleque.
À medida em que Arão e Hur sustentavam as mãos de Moisés, Josué
prevalecia e acabou derrotando Amaleque e seu povo ao fio da espa-
da (Êx 17:8-16).
Decorridos esses acontecimentos, Jetro, seu sogro, vai ao encontro
de Moisés, levando sua mulher e seus filhos. Moisés lhe conta como
Deus os tirou do Egito de forma maravilhosa e, juntos, ofereceram
sacrifícios ao Senhor (Êx 18:1-12). Na manhã seguinte Jetro observa

50
como Moisés ouvia todos os casos do povo e os julgava e aconselha o
genro a ensinar a lei, a nomear juízes menores e a delegar-lhes poder.
Moisés aprova o conselho e nomeia homens capazes dentre o povo e
os põe por cabeça, para que julguem. Apenas as causas difíceis passa-
ram a ser levadas a Moisés. Jetro despede-se de Moisés e volta à sua
terra (Êx 18:13-27).
3.2.3. O Sinai, as Leis e o Tabernáculo (Êx 19-40)
Partindo de Refidim, chegaram ao deserto de Sinai, onde acam-
param defronte um monte de mesmo nome. Enquanto estavam
acampados, Deus chama Moisés para que suba ao monte e lhe diz
que gostaria de fazer uma aliança especial com o povo. Moisés volta
ao acampamento e diz que Deus quer fazer um convênio para tornar
Israel Sua propriedade peculiar, um reino de sacerdotes e um povo
santo. O povo santifica-se e o Senhor aparece no topo do monte Sinai
em meio a trovoadas, relâmpagos, fogo, fumaça, ao som de trombe-
tas e terremotos (Êx 19).
Moisés novamente sobe ao topo do Sinai e Deus então lhe revela
os Dez Mandamentos (Êx 20:1-17). Diz-lhe que os filhos de Israel estão
proibidos de fazer deuses de ouro ou prata e ordena que se façam
altares de pedras não lavradas e neles ofereçam sacrifícios ao Senhor
(Êx 20:18-26).
OS DEZ MANDAMENTOS
Também conhecido como Decálogo, os dez mandamentos podem
ser divididos em dois blocos. Um conjunto com princípios relacio-
nados à adoração a Deus e outro conjunto relacionado a vida em
comunidade.
O primeiro conjunto contém os quatro mandamentos: 1. Adorar so-
mente a Deus (Êx 20:1-3); 2. Não fazer imagens (Êx 20:4-6); 3. Não
usar o Santo Nome de Deus em vão (Êx 20:7); 4. Lembrar do sábado
(Êx. 20:8-11).
Já o segundo contém seis mandamentos: 5. Honrar pai e mãe (Êx
20:12); 6. Não matar (Êx 20:13); 7. Não adulterar (Êx 20:14); 8. Não

51
furtar (Êx 20:15); 9. Não levantar falsos testemunhos (Êx 20:16); 10.
Não cobiçar as coisas alheias (Êx 20:17).
Com a vinda de Jesus, todos esses importantes mandamentos ga-
nharam um novo sentido, pois tudo foi resumido no mandamento
do amor a Deus e ao próximo: “Amarás o Senhor teu Deus com todo
o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é
o maior e o primeiro dos mandamentos. E o segundo é semelhante
ao primeiro: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:37-40).

Além dos Dez Mandamentos, Deus também revela o Código da


Aliança, um extenso e detalhado código de direito civil e ritual, com
leis concernentes aos servos, casamento, pena de morte para várias
ofensas, dar olho por olho, dente por dente, lesões causadas por bois
(Êx 21). Leis sobre furtos, destruição pelo fogo, cuidado de proprie-
dade alheia, empréstimos, atos lascivos, sacrifícios a deuses falsos,
afligir viúvas, prática da usura, amaldiçoar a Deus, sobre o primogê-
nito de homens e de animais (Êx 22). Leis acerca da integridade e da
conduta piedosa, sobre o ano sabático, sobre as três festas anuais,
sobre a expulsão dos habitantes da terra de Canaã e a proibição de
com eles fazer alianças (Êx 23).
Após a entrega dessas leis, Israel sela seu convênio com o Senhor.
Moisés esparge o sangue do cordeiro e ele, Arão, Nadabe, Abiú e se-
tenta dos anciãos de Israel veem Deus (Êx 24:1-11). O Senhor chama
Moisés ao monte para receber as tábuas de pedra e os mandamentos.
A glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai e Moisés entrou no
meio da nuvem e esteve no monte em comunhão com Deus por qua-
renta dias e quarenta noites (Êx 24:12-18).
Depois disso, Deus começa a dar detalhadas instruções para a
construção do tabernáculo. Primeiro, é ordenado que Israel doe ma-
teriais para a construção do tabernáculo. Então Deus começa a des-
crever como deveria ser feita a arca da aliança (com o propiciatório
e os querubins), a mesa do pão da proposição e o candelabro (Êx

52
25), como deveriam ser as dez cortinas com suas respectivas tábuas,
como seria o véu que separaria o santuário do lugar santíssimo onde
estaria arca da aliança com o propiciatório (Êx 26) e como seria o altar
para holocaustos e o pátio cercado de colunas (Êx 27).
Na sequência, Deus instrui como Arão e seus filhos seriam con-
sagrados e ungidos para ministrar no ofício de sacerdote e descreve
como deverão ser as vestes de Arão, que terá um peitoral (onde esta-
rão encravadas doze pedras preciosas e nelas gravados os nomes das
tribos de Israel, e o Urim e Tumim), um éfode, um manto, uma túnica,
um turbante e um cinto (Êx 28).
Após todas essas instruções, Deus fala como Arão e seus filhos se-
rão lavados, ungidos e consagrados ao sacerdócio e várias cerimônias
de sacrifício serão realizadas, inclusive a de expiação pelos pecados
do povo (Êx 29:1-44) Fazendo isso, Deus promete habitar entre eles,
lhes ser por Deus, e o povo saberá que Ele é o Senhor que os tirou da
terra do Egito (Êx 29:45-46).
Depois desse interlúdio sobre a instituição do sacerdócio, a nar-
rativa volta-se para os móveis do tabernáculo, dizendo que um altar
do incenso será colocado diante do véu. Será feita expiação com o
sangue da oferta pelo pecado e que o dinheiro da expiação será pago
para resgatar todo homem. Os sacerdotes usarão o azeite da santa
unção e o incenso (Êx 30).
Deus continua a falar com Moisés e manda que ele que chame ar-
tífices inspirados para construir e mobiliar o tabernáculo (Êx 31:1-12).
Ordena que Israel guarde o Sábado do Senhor, sendo decretada pena
de morte pela sua profanação (Êx 31:13-17). Moisés recebe as tábuas de
pedra escritas pelo dedo de Deus com todas essas instruções (Êx 31:18).
Em meio a todo esse ambiente religioso de intensa fidelidade, o
povo, que estava acampado aos pés do monte Sinai, fica com medo
de Moisés ter morrido, haja vista já fazerem quarenta dias que ele

53
não dava sinais de vida. Diante desse temor, pedem a Arão que faça
uma divindade que os conduzisse novamente ao Egito. Arão, com
medo do povo, manda que recolham as joias, funde um bezerro de
ouro e convoca a todos para uma festividade de adoração do bezerro
(Êx 32:1-6).
Deus fica irado com o povo e diz a Moisés que irá destruí-lo, mas
Moisés serve de mediador entre Deus e o Israel rebelde e acalma ao
Senhor (Êx 32:7-14). Ao descer e ver o que estava acontecendo, Moisés
também fica irado, quebra as tábuas de pedra e os levitas punem de
morte cerca de três mil homens rebeldes. Moisés, mais calmo, roga e
intercede pelo povo e Deus os perdoa, mas adverte: “Aquele que pe-
car contra mim, esse riscarei eu do meu livro” (Êx 32:15-35).
Deus ordena que Moisés suba de novo ao Monte Sinai e promete
estar com Israel e expulsar os povos daquela terra (Êx 33:1-6). A tenda
do tabernáculo da congregação é armada e levada para fora do acam-
pamento. Deus fala a Moisés face a face no tabernáculo (Êx 33:7-17) e
Moisés pede para ver a glória de Deus (Êx 33:18-23).
Na manhã seguinte, Moisés, seguindo a ordem de Deus, lavra no-
vas tábuas de pedra e sobe ao monte Sinai, onde passa mais quarenta
dias e quarenta noites.
O Senhor proclama Seu nome e atributos e revela Sua lei, dando
um outro convênio com Israel, que agora tinha os seguintes manda-
mentos:
1. Guardar de fazer aliança com os moradores da terra aonde eles en-
trarão;
2. Não adorar a nenhum outro deus;
3. Não fazer deuses de fundição;
4. Guardar a festa dos pães ázimos;
5. Trabalhar por seis dias, mas no sétimo dia descansar;

54
6. Guardar a festa das semanas;
7. Três vezes no ano, todo varão comparecerá perante o Senhor;
8. Não sacrificar o sangue do sacrifício com pão levedado;
9. As primícias dos primeiros frutos da tua terra devem ser trazidas à
casa do Senhor;
10. Não cozer o cabrito no leite de sua mãe (Êx 34:1-28).
Ao descer do monte Sinai trazendo as duas tábuas do testemunho
Moisés não sabia, mas a pele do seu rosto resplandecia e ele precisou
usar um véu (Êx 34:29-35).
Ajuntando a todo Israel, Moisés os exorta a observar o Sábado (Êx
35:1-3). Ofertas voluntárias para a obra do tabernáculo são recolhidas
(Êx 35:4-29). São confirmados os chamados e a inspiração de alguns
artífices (Êx 35:30-35). Escolhem-se homens sábios de coração para
trabalhar no tabernáculo (Êx 36:1-5) e Moisés pede ao povo que não
doe mais materiais.
A decoração do tabernáculo continua (Êx 36:6-38) com Bezalel fa-
zendo a arca, o propiciatório e os querubins (Êx 37:1-9), bem como a
mesa, os utensílios, o candelabro, o altar do incenso, o azeite santo
da unção e o incenso aromático (Êx 37:10-29). Bezalel e outros fazem
o altar do holocausto e todas as coisas pertencentes ao tabernáculo.
Ao todo foram seiscentos e três mil, quinhentos e cinquenta homens
fazendo suas ofertas (Êx 38:1-31). Ainda fizeram as vestes santas para
Arão e os sacerdotes e, com isso, o tabernáculo foi concluído e Moisés
abençoou o povo (Êx 39:1-43).
O livro de Êxodo termina com o tabernáculo sendo levantado, Arão
e seus filhos sendo ungidos como sacerdotes eternos diante de Deus
(Êx 40:1-32) e a glória do Senhor enchendo o tabernáculo (Êx 40:33-
35). Uma nuvem cobriu o tabernáculo de dia e fogo repousava sobre
ele à noite (Êx 40:36-38).

55
3.3 Principais Teologias
Dentre as várias teologias que se pode extrair do livro de Êxodo,
destacam-se cinco:
1) Deus é aquele que ouve o povo - Desde os primeiros capítulos des-
te livro, vê-se que Deus ouve quando o povo clama pelo livramento
da opressão. Depois quando eles já estão no deserto e clamam por
águas, pão e carne. Deus ouve. Diferente dos ídolos mudos, o Deus de
Israel é um Deus presente, que quer ter um relacionamento pessoal e
intenso com Seu povo.
2) Deus é aquele que liberta e salva - Ouvindo o clamor do seu povo,
Deus chama Moisés para conduzir o povo para fora do Egito, libertan-
do-os da escravidão e salvando das garras da maldade do Faraó. Deus
é amor, é liberdade e salvação para todos aqueles que nele creem.
3) Deus é cuidador - Como é lindo ver Deus cuidado do seu povo, seja
durante as dez pragas que atingiram exclusivamente o Egito, seus
homens e animais, seja durante a caminhada do deserto atendendo
as necessidades básicas de Israel e, finalmente, com o tabernáculo,
onde Ele moraria no meio do povo, cuidando deles a partir do acam-
pamento.
4) Deus quer seu povo vivendo fundamentado da ética e moralidade -
Por isso deu tantos mandamentos para o povo a partir de Êxodo 20.
Ele estava preocupado com a vida em comunidade do seu povo elei-
to, com a forma como eles conviveriam uns com os outros e também
com Ele. Deus quer para Ele um povo diferente dos outros povos.
Quer um povo que respeite uns aos outros, fundamentados numa lei
única e especial.
5) Deus é gracioso - O livro de Êxodo transborda a graça de Deus em to-
dos os seus capítulos. Deus mostra sua graça redentora quando ouve
o povo clamando por liberdade, quando chama Moisés para libertá
-los, quando abre o Mar Vermelho e faz seu povo passar a pés enxu-

56
tos, quando afoga os agressores do povo nas águas, quando dá água,
pão e carne durante todos os dias que caminharam pelos desertos e,
finalmente, quando manda que se construa um tabernáculo para que
Ele mesmo possa morar entre o seu povo.

3.4 Êxodo e o Novo Testamento


O “Tabernáculo”, também chamado de “santuário” e de “tenda da
congregação”, era uma estrutura retangular, chamada de átrio (13,5
m x 4,5 m), cercada por dez grandes cortinas de tecido bordadas com
figuras de querubins.
Dentro do átrio, ficavam o altar do holocausto, o lavatório e uma
tenda. O Altar do holocausto ou altar de bronze tinha por função rece-
ber as ofertas a Deus, que eram completamente queimadas (Êx 27:1-
19). O lavatório, uma bacia de cobre ou bronze que ficava entre o altar
do holocausto e a porta do Tabernáculo, armazenava a água com a
qual os sacerdotes se lavavam (Êx 30:17-21; 38:8; 40:30-32). Já a tenda
era dividida internamente em duas partes, separadas por uma corti-
na ou véu interior (Êx 26:31).
A parte maior da tenda era chamada de Santo Lugar e continha a
mesa dos pães da proposição, o altar de incenso e o candelabro ou
menorá. A Mesa dos pães da proposição recebia todo sábado doze
pães, representando cada uma das doze tribos de Israel (Êx 25:23-30).
O Candelabro ou Menorá possuía uma haste central e seis braços,
onde eram colocadas lâmpadas com azeite de oliva puro (Êx 25:31-
40). O Altar do incenso era onde se queimava incenso pela manhã e
também à tarde (Êx 26:1-37; 30:1-10).
A outra parte da tenda, menor e mais quadrada, era chamada de
Santo dos Santos (Êx 26:33) e guardava exclusivamente a Arca da
Aliança. A Arca da Aliança, local da presença de Deus, era uma urna
de madeira de acácia, revestida de ouro puro por dentro e por fora,
com argolas de ouro em cada lado, que serviam para sua locomoção.

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Sua tampa, adornada com figuras de dois querubins, era chamada de
“propiciatório” (Êx 25:10-22).
Segundo Hebreus 8:1-2 o tabernáculo era um tipo, uma sombra da
pessoa e da obra de Jesus Cristo. O mesmo paralelo podemos fazer
com os materiais usados no tabernáculo. A madeira de acácia usa-
da no tabernáculo simboliza a humanidade de Jesus, pois ela crescia
no deserto e como disse o profeta Isaías sobre o Messias: “raiz duma
terra seca” (Is 53:2). O linho branco remete à pureza e santidade de
Jesus, homem perfeito. O cobre, usado para revestir as colunas do
pátio, o altar e a pia (ou lavatório) remete ao juízo e julgamento do
pecado. A prata, usada para os ganchos de sustentação das cortinas,
simboliza o resgate, redenção pelo sangue de Jesus. Finalmente o
ouro, usado na mesa dos pães, no altar do incenso, no candelabro,
na arca, no propiciatório e nos dois querubins, simboliza a glória de
Deus, Sua realeza e divindade de Cristo.

3.5 Tópico especial - As Rotas do Êxodo


Geralmente quando se pensa na rota do Êxodo apresentam-se os
vários caminhos pelos quais os israelitas andaram nos 40 anos de de-
serto. Aqui vale a primeira observação: Israel, em 40 anos, andou por
desertos, por vários desertos – e não um único deserto.
O final da era do bronze (1550 a 1200 a.C.) foi marcado por grandes
migrações como a dos israelitas do Egito. Assim, pensar na rota do
Êxodo apresentada no livro é entender que os filhos de Israel parti-
ram, primeiramente, de Ramassés e foram até Sucote com 600.000
homens com suas famílias e bens (Êx 12:37-38).
Na sequência, foram de Sucote a Etã (Êx 13:20). Depois de Etã a
Pi-Hairote (Êx14:2), onde aconteceu a travessia do Mar Vermelho, e
depois foram do Mar Vermelho até Mara, onde as águas amargas se
tornaram doces (Êx 15:23-26). De Mara foram até Elim, onde encon-
traram muitas fontes de água potáveis e por lá acamparam (Êx 15:27).

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De Elim andaram até Sim, onde receberam o maná e carne através
das codornizes (Êx 16:1). De Sim foram até Refidim, onde correu uma
nova murmuração por água e Moisés fez sair água da rocha e enfren-
tam a primeira guerra com os Amalequitas (Êx 17-18).
Por fim, de Refidim foram até Sinai (Êx 19:1-2), onde ficaram acam-
pados, receberam diversos mandamentos e leis, pecaram fazendo
um bezerro de ouro, construíram e inauguraram o tabernáculo.
Veja no mapa cada um desses lugares.

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CAPÍTULO 4
Livro de Levítico, leis para a nova vida
4.1 Título e Autoria
Levítico é o terceiro dos cinco primeiros livros do Antigo Testamen-
to. Seu título em português deriva do latim “Leviticus” que veio do
grego “Leuitikon”. Em qualquer uma das nomenclaturas faz-se uma
referência aos levitas, à tribo de Arão, aos primeiros sacerdotes, e aos
encarregados dos serviços religiosos, das práticas legais, morais e ce-
rimoniais, como sacrifícios e ofertas a serem oferecidos a Deus.
Na Bíblia hebraica o título do livro é Vayikrá, a primeira palavra do
texto, e significa “E chamou”.
A tradição entende que o texto do livro é de autoria mosaica, mas
os estudiosos modernos pensam que a forma final do livro pode ter
acontecido apenas no retorno do exílio babilônico, quando diversas
tradições sacerdotais foram reunidas num só livro.

4.2 Estrutura e Conteúdos


Apesar da falta de consenso entre os estudiosos quanto a forma
de divisão interna do livro, pode-se, a partir do seu conteúdo, perce-
ber uma tríplice divisão:
1. Os sacrifícios, os sacerdotes e as impurezas (Lv 1-16)
2. O Código da Santidade (Lv 17-26)
3. Os Juramentos (Lv 27)
Importante conhecer cada particularidade desse conteúdo.

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4.2.1. Os sacrifícios, os sacerdotes e as impurezas (Lv 1-16)
O livro de Levítico ambienta-se aos pés do monte Sinai, de onde
Deus chamou Moisés e falou com ele da tenda da congregação dando
diversas instruções (Lv 1:1).
As primeiras instruções foram sobre os vários tipos de sacrifícios e
ofertas como:
1. Holocausto, onde era exigido que um animal doméstico fosse imo-
lado, geralmente um macho sem defeito, como um touro, carneiro
ou bode, mas os mais pobres podiam ofertar pombos e rolinhas (Lv
1:3-7);
2. Oferta de manjares que era preparada e apresentada a Deus como
uma refeição, a fim de mostrar a gratidão a Deus pelo alimento para
sustentar a sua vida física (Lv 2:1-16);
3. Oferta pacífica ou de paz era uma oferta voluntária de comunhão
onde um animal, um bode ou cordeiro macho ou fêmea, tinha seu
sangue derramado. Era a única oferta da qual o ofertante podia co-
mer (Lv 3:1-17);
4. Oferta pelo pecado ou oferta pela culpa tinha como objetivo a ex-
piação de pecados quando o ofertante não tivesse pecado delibe-
radamente, mas por ignorância ou negligência, e a restituição fosse
impossível (Lv 4:1-5.13);
5. Oferta pelos pecados ocultos, pecados intencionais pelos quais o
ofensor podia fazer restituição caso necessário. Era apresentada uma
oferta de animais ou aves pelos pecados, mas antes devia apresentar
ao sacerdote o pagamento total do seu débito para com o ofendido,
com acréscimo de um quinto (Lv 5:14-6.7).
Depois de apresentar esses tipos de sacrifícios, o livro passa instru-
ções aos sacerdotes (Lv 6-7). Deus diz que o povo deve primeiramente
fazer a restituição pelo pecado, depois deve oferecer uma oferta pela

61
culpa, para assim receber o perdão, por meio da expiação feita pelos
sacerdotes (Lv 6).
Há um sumário com a enumeração das leis que regem diversos sa-
crifícios. Proíbe-se aos filhos de Israel comer gordura ou sangue e a
instrução de que eles devem adorar por meio de sacrifício, quando,
então, receberiam o perdão. A feitura dos votos, consagração das pro-
priedades, percebem as graças e a reconciliação com Deus (Lv 7).
Fechando a primeira parte do livro, Deus manda que Moisés faça a
constituição do sacerdócio. Primeiro, Arão e seus filhos são lavados,
ungidos, vestidos com suas túnicas do sacerdócio e consagrados pe-
rante todo o Israel (Lv 8).
Depois Moisés e Arão oferecem os primeiros sacrifícios, para fazer
expiação por si mesmos e por todo o Israel. A glória do Senhor apa-
rece a todos e as ofertas que estão sobre o altar são consumidas pelo
fogo que sai de diante do Senhor (Lv 9).
Após esse lindo ato de reconciliação, infelizmente, os filhos de
Arão, Nadabe e Abiú, realizam sacrifícios não autorizados e são mor-
tos por fogo que sai de diante do Senhor (Lv 10:1-8). Proíbe-se que
Arão e seus outros filhos lamentem a morte deles, abstendo-se de vi-
nho e de bebida forte e devem ensinar tudo o que o Senhor revelou a
Moisés (Lv 10:9-20).
Segue-se a esses fatos a questão das impurezas e seu tratamen-
to (Lv 11-15). Em princípio, Deus revela as criaturas, os animais que
podem e não podem ser comidos e quais são os puros ou limpos
(casher) e os impuros ou imundos (não casher):
1. Dos animais aquáticos são puros todos que possuem barbatanas e
escamas e vivem nos mares ou rios e impuros todos os demais.
2. Dos insetos são puros ou comíveis os insetos alados e com qua-
tro pés, que possuem pernas sobre seus pés, para saltar sobre a terra

62
(por exemplo, os gafanhotos) e impuros todos os que são alados e
andam sobre quatro pés;
3. Dos animais terrestres e quadrúpedes são puros e comíveis qual-
quer animal ruminante que tem casco fendido e dividido em duas
unhas e impuro os que só ruminam e os que só têm o casco fendido
(por exemplo: camelo, coelho, lebre e porco)
Tudo isso tem um motivo: Ser santo, porque o Deus de Israel é san-
to (Lv 11).
Depois Deus revela a lei da circuncisão dos meninos e da purifica-
ção das mulheres após o parto, pois o fluxo de sangue depois do par-
to tornava uma mulher imunda por 40 dias, no caso de nascimento de
menino, e por 80 dias, no caso de nascimento de menina. Assim, de-
pois de cumprido o tempo determinado para a purificação, a criança
e sua mãe deveriam ir ao tabernáculo e oferecer holocausto e oferta
pelo pecado, seja de um cordeiro e um pombo ou rola (Lv 12).
Exatamente o que fez a família de Jesus indo ao templo de Jeru-
salém para a apresentação do filho, segundo Lc 2:24: “Eles foram lá
também para oferecer em sacrifício duas rolinhas ou dois pombi-
nhos, como a Lei do Senhor manda”.
Na sequência, Deus revela as leis e os sinais para reconhecimento e
controle da lepra. Na realidade, a lepra, em hebraico “tzaraat”, poderia
incluir diversos tipos de doenças de pele como a psoríase, aos eczemas,
as pústulas (conteúdo purulento), o vitiligo, as cicatrizes de queimadura
(ou queloides) e micose na pele ou na barba. Quem dava o diagnóstico,
bem como as instruções ao doente, era o sacerdote (Lv 13).
Para atestarem a purificação dessas doenças, a pessoa deveria
voltar ao sacerdote que aspergia sobre a pessoa, por sete vezes, com
sangue de uma ave limpa molhado num ramo de hissopo ou pau de
cedro. Uma outra ave era solta em campo aberto. Os pelos eram ra-
pados, o corpo e as vestes lavadas e, depois de oito dias, se levava

63
ao sacerdote um cordeiro sem defeito, de um ano, como oferta pela
culpa, e três dízimas de um efa de flor de farinha, para oferta de man-
jares, amassada com azeite, e separadamente um sextário de azeite
de oliva e o outro cordeiro sem defeito era oferta pelo pecado (Lv 14).
Depois Deus revela as leis, os ritos e os sacrifícios para a pureza
corporal, seja do homem, que se torna imundo quando tem o seu sê-
men expelido na relação sexual legítima ou na polução noturna (Lv
15:16-18), seja da mulher, através da menstruação (Lv 15:19-28).
A primeira parte do livro termina explicando como e quando Arão
deve entrar no santuário, sobre os sacrifícios que são oferecidos para re-
conciliar Israel com Deus, sobre o bode expiatório que levará sobre si os
pecados do povo e que os pecados de todo Israel são perdoados no Dia
da expiação ou no Dia do Perdão, que terá um rito todo especial (Lv 16).
4.2.2. O Código da Santidade (Lv 17-26)
Parte central do livro, o Código da Santidade é aberto expondo
sobre sacrifícios e comidas. Os sacrifícios devem ser oferecidos uni-
camente a Deus no tabernáculo. É proibido a Israel fazer sacrifícios
a demônios e qualquer ingestão de sangue, afinal o derramamento
de sangue era para expiação pelos pecados. “Porque a vida da carne
está no sangue; pelo que vô-lo dei, para fazer expiação sobre o altar
pela vossa alma; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma”
(Lv 17:11).
Em seguida, expõe-se que Israel não deverá viver como os egípcios
e os cananeus. Proíbe-se casamentos com certos parentes próximos e
alerta-se sobre os tipos de perversões sexuais praticadas pelas outras
nações que são abominação ao Senhor. “Porém qualquer que fizer al-
guma dessas abominações, as almas que as fizerem serão extirpadas
do seu povo” (Lv 18:29).
Na sequência, Deus ordena que o povo de Israel seja santo, viva em
retidão, ame o próximo e guarde os mandamentos. O Senhor Deus

64
ainda reafirma diversas leis e mandamentos (não furtar, não mentir,
não usar de falsidade cada um com o seu próximo etc.) e proíbe a
prática de feitiçaria, adivinhações, prostituição e toda prática iníqua
(Lv 19).
Os crimes graves também são pontuados: haverá a pena de mor-
te para quem, por exemplo, sacrificar filhos a Moloque, amaldiçoar o
pai ou a mãe, cometer adultério, bestialismo, necromancia etc. Essas
e outras leis são enumeradas, porque Deus deseja que o povo seja
“santo, porque eu, o Senhor, sou santo, e separei-vos dos povos, para
serdes meus” (Lv 20:26).
Depois disso, Deus se dirige aos sacerdotes e expõe-lhes as regras
e que devem ser homens santos. O sumo sacerdote, por exemplo, não
deve se casar com viúva, nem com divorciada, nem com prostituta.
Já os descendentes de Arão que tiverem deformidades físicas não po-
dem oferecer o pão de Deus sobre o altar (Lv 21).
Nas regras para refeições sacrificadas, descreve-se quem dos sa-
cerdotes e de suas famílias podem comer das coisas sagradas, e quais
os animais para sacrifício devem ser perfeitos e sem defeito (Lv 22).
O Código da Santidade ainda apresenta os festivais, informando
que Israel deve fazer uma santa convocação a cada dia do sábado.
Deve comemorar a Festa da Páscoa, dos Pães Ázimos, de Pentecostes,
das Trombetas, do Dia da expiação e dos Tabernáculos (Lv 23).
Nas regras para o Tabernáculo, há destaque para o fogo perpétuo
que deverá arder fora do véu, no tabernáculo (Lv 24:1-9) e o alerta
sobre blasfêmia, inclusive determinando que o blasfemador deva ser
morto por apedrejamento (Lv 24:10-23).
O Ano Sabático, a cada sétimo ano, deverá ser um ano de repouso.
O Ano do Jubileu, cada quinquagésimo ano, deverá ser um ano em
que se proclamará liberdade por toda a terra. São determinados por
Deus aos israelitas. Ainda se revelam as leis para a venda e o resgate

65
de terras, casas e servos, afinal a terra é do Senhor, assim como os
servos, por isso está proibida a usura (Lv 25).
A exortação à obediência da lei - pois as bênçãos materiais e espiri-
tuais serão abundantes em Israel se o povo guardar os mandamentos,
mas, na mesma proporção, haverá maldições, castigos e desolação se
o povo desobedecer ao Senhor - fecha o Código Sacerdotal (Lv 26).
4.2.3. Os Juramentos (Lv 27)
O último capítulo de Levítico explica como as propriedades são
consagradas ao Senhor e ordena que Israel pague dízimos de suas co-
lheitas, do gado e dos rebanhos. “Também todas as dízimas do cam-
po, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; san-
tas são ao Senhor. No tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas,
tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor”
(Lv 27:30-32)

4.3 Principais Teologias


A teologia principal do livro está exposta em Lv 11:45: “Porque eu
sou o Senhor, que vos fiz subir da terra do Egito, para que Eu seja vos-
so Deus, e para que sejais santos; porque Eu sou santo”.
Assim, o foco livro é ensinar a Israel que eles não deveriam agir,
proceder ou sequer se parecerem com os povos da terra, antes deve-
riam ser uma nação santa para o Senhor. Israel era um povo escolhido
e deveria viver sobre os preceitos da Aliança. Só assim receberiam as
bênçãos resultantes dela.
Teologicamente, o livro de Levítico ensina que o povo de Israel de-
veria andar em santidade como uma demonstração de gratidão pelos
sucessivos livramentos e cuidados de Deus para com o povo. E caso
não conseguisse viver totalmente em santidade e pecasse, existe um
sistema sacrificial através do qual o povo poderia ter seu pecado ex-
piado.

66
4.4 Levítico e o Novo Testamento
Todos os sacrifícios apresentados no livro de Levítico foram substi-
tuídos pelo sacrifício de Jesus na cruz, pois Ele se ofereceu em nosso
lugar como cordeiro sem mácula, a fim de nos resgatar do pecado e
da maldição da Lei (Jo 14:6; Hb 9:15; 10:11).
É também graças ao sacrifício de Jesus, o Emanuel, Deus conosco,
o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14), e da ajuda do
Espírito Santo do qual somos templo (1Co 3:17; 2Co 6:16-19; Ef 2:21),
que hoje podemos ser santos e viver em santidade, como exige o livro
de Levítico.
Além disso, o livro de Levítico destaca a importância do ministério
sacerdotal. Hoje, reconhecendo Cristo como o Sumo Sacerdote per-
feito, somos feitos “sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9).

4.5 Tópico Especial – O Valor do Alimento


Casher
Até hoje, o Judaísmo respeita as regras alimentares apresentadas
em Lv 11.
A comunidade judaica entende que a Bíblia não proíbe determi-
nados alimentos, porque são prejudiciais à saúde, afinal a Torá não
é um guia de nutrição e saúde, nem por que os não judeus comem
porco, insetos e outros animais, mas por entender que tudo o que um
indivíduo come se transforma em carne e sangue dentro do seu cor-
po, tornando-se parte integrante dele. Assim, quando a Bíblia proíbe
determinados alimentos, impede o homem de assimilar as caracterís-
ticas más e ruins da comida proibida ou não-casher.
Além disso, as leis alimentares foram dadas por Deus para, antes
de tudo, manter a saúde da alma, não apenas a saúde física. “A Torá

67
nos proíbe consumir determinados alimentos, porque turvam a pu-
reza da alma, poluindo e nos contaminando espiritualmente”, disse
Rambam (Maimônides).
Assim há um ensinamento espiritual em cada alimento casher.
Como exemplo pode-se citar a permissão de se comer um animal
puro, ruminante, que tem os cascos completamente fendidos de
cima a baixo. O ruminar a comida ensina que o homem deve “rumi-
nar” toda e qualquer atividade secular que deseja fazer. Neste caso,
ele deve pensar bem, pesquisar e ver qual a melhor forma de realizar
determinada coisa. E se há proveito e honradez nela. Só após essas
reflexões é que sua atividade poderá ser comparada a um “animal
puro”, sendo algo de valor para sua missão espiritual na vida. Já o
casco fendido de cima a baixo indica que a caminhada do homem
na terra e seus relacionamentos seculares devem incluir dois lados:
aproximar-se daquilo que é bom e afastar-se daquilo que é prejudi-
cial.
Concluindo, para os judeus há, pelo menos, dois efeitos da inges-
tão de alimentos casher. O primeiro é a compreensão de que são um
povo santo e devem guardar as leis alimentares para ascender os de-
graus da santidade. Caso as ignore, contamina a si mesmo e constrói
uma barreira que bloqueia sua compreensão da santidade, sua per-
cepção de Deus e sua elevação.
Em segundo lugar a missão espiritual de um judeu é se unir à Fon-
te de Vida espiritual. Se Deus, Fonte da Vida, determinou que alguns
alimentos são obstáculos para alcançar a sublime missão, então cabe
ao judeu obedecer (lembrando que os mandamentos são de origem
divina e nunca poderão ser totalmente compreendidos e explicados
pelo intelecto humano) e assegurar seu crescimento espiritual.
Por fim, cabe ao judeu valorizar a sua dieta casher, que sempre
dará nutrição para o espírito, refinamento para alma e purificação
para o corpo.

68
CAPÍTULO 5
Livro de Números, as portas da Terra
5.1 Título e Autoria
Quarto livro da Bíblia e do Pentateuco, Números ganhou este nome
através do latim “Numeri” que veio do grego “Arithmoi” e é baseado
no censo que é feito entre os israelitas logo no primeiro capítulo.
Em hebraico, o nome do livro é “Bəmiḏbar” que significa “No de-
serto”, fazendo uma referência ao deserto do Sinai, onde o povo esta-
va acampado.
A autoria continua sendo mosaica, baseada tanto na tradição ju-
daica como na cristã.

5.2 Estrutura e Conteúdos


Após o interlúdio legal do livro de Levítico, Números retoma a nar-
rativa de Êxodo 40 e pode, segundo a maior parte dos comentaristas,
ser dividido em três seções com base no local onde os eventos se de-
senrolam:
1. Histórias do Monte Sinai (Nm 1:1-10.10)
2. Histórias de Cades Barneia (Nm 10:11- 21.25)
3. Histórias da planície de Moab (Nm 22:1-36.13)
Conheçamos em detalhes cada uma das partes do livro.
5.2.1. Histórias do Monte Sinai (Nm 1:1-10:10)
O livro inicia com Deus falando com Moisés no deserto de Sinai, na
tenda da congregação, para que ele e os príncipes de Israel procedam

69
a contagem de todos os homens, que podem lutar, de vinte anos ou
mais de cada tribo, excetuando-se os da tribo de Levi. Um total de
seiscentos e três mil e quinhentos e cinquenta homens estavam ap-
tos ao serviço militar. Os levitas, consagrados por Moisés, recebem o
encargo de cuidar do tabernáculo, substituindo os primogênitos que
eram os responsáveis pela tarefa (Nm 1).
Novamente Deus falou para Moisés e para Arão que estabeleces-
sem a ordem e os líderes das doze tribos e dos exércitos de Israel em
suas tendas. E assim foi determinada a posições das tribos (Nm 2:1-2)
e depois deu-se a distribuição individual das tribos (Nm 2:3-34), fican-
do o acampamento da seguinte forma:

Dã Aser Naftali O L

Benjamim Judá
Aser

Moisés,
Tarbenáculo
Manassés Gersonitas Arão e os Issacar
(Tenda do Encontro)
Sacerdotes

Simeão
Efraim Zebulom

Gade Simeão Rúben


jesuseabiblia.com

A primeira tribo era a tribo de Judá e ao seu lado estavam a tribo


de Issacar e de Zebulom e atrás deles Moisés, Arão e os sacerdotes.
Em segundo lugar, Rúben, ao seu lado Simeão e Gade e atrás os
coatitas.
Em terceiro lugar, Dã, ao seu lado Aser e Naftali, e atrás deles, fica-
vam os meratitas. Por último, a tribo de Efraim e ao seu lado Manas-
sés e Benjamim e atrás deles, os gersonitas.

70
Em seguida a missão dos levitas é apresentada, sendo que Arão e
seus filhos ministrarão no ofício de sacerdote e os levitas são escolhi-
dos para realizar o serviço do tabernáculo. Eles, os levitas, são do Se-
nhor, em lugar dos primogênitos de todas as famílias de Israel (Nm 3).
A ordem é contar e registrar o número de cada família dos coati-
tas em idade para trabalhar e também dos gersonitas e os meratitas.
Determina-se que quando os acampamentos de Israel se mudarem,
Arão e seus filhos cobrirão os objetos sagrados no tabernáculo e os
levitas das famílias de Coate, Gérson e Merati levarão a carga do ta-
bernáculo (Nm 4).
Após essas coisas, Deus ordena a Moisés que os leprosos (ou os
que sofrem de doenças de pele) sejam postos para fora do acampa-
mento, para que não os contaminassem e que os pecadores precisam
confessar suas faltas e fazer restituição para receber o perdão, assim
como as mulheres suspeitas de conduta imoral são submetidas à pro-
va de ciúmes diante dos sacerdotes (Nm 5).
Deus pede que Moisés explique ao povo sobre a lei do nazireado,
pela qual os filhos de Israel podem consagrar-se ao Senhor por meio
de um voto. Todo que faz esse voto não bebe vinho nem bebida forte
e, se vier a contaminar-se, deve rapar a cabeça. Eles também não de-
vem chegar perto de corpos mortos, mesmo que fosse o corpo de sua
mãe, pai, irmã ou irmão. O Senhor revela a bênção que Arão e seus
filhos devem usar para abençoar Israel (Nm 6).
Moisés levantou, ungiu e santificou o tabernáculo e todos os seus
utensílios e os príncipes de Israel trouxeram ofertas para o tabernácu-
lo em sua dedicação. O Senhor falou com Moisés de cima do propicia-
tório, que está sobre a arca, entre os dois querubins (Nm 7).
Acontece a ordenação dos levitas, que são lavados, consagrados
e designados por imposição de mãos, afinal, eles são do Senhor, em
lugar dos primogênitos de todas as famílias, e são dados a Arão e seus
filhos para fazerem o serviço do tabernáculo (Nm 8).

71
Depois dessas coisas, Deus ordena a Moisés que Israel comemore
a Páscoa, novamente. Então no dia quatorze do primeiro mês, pela
tarde, eles celebraram a Páscoa no deserto de Sinai. Uma nuvem co-
briu o tabernáculo de dia e de noite, e há também um fogo de noite.
Quando a nuvem se detém, Israel acampa; quando a nuvem se alça,
eles partem (Nm 9).
Deus dá ordem sobre a confecção de trombetas de prata, usadas
para convocar a congregação, para soar alarmes e para festas de lua
nova, festivais, ofertas de companheirismo e ofertas queimadas. (Nm
10:1-10).
5.2.2. Histórias de Cades Barneia (Nm 10:11- 21:25)
A segunda parte do livro de Números começa narrando a partida
de Israel dos pés do monte Sinai, após a nuvem se alçar de sobre o
tabernáculo. É feito um acordo entre Moisés e Hobabe, seu cunhado
e em uma marcha organizada, Israel se encaminha para o deserto de
Parã, com arca do convênio seguindo adiante deles (Nm 10.11-36).
O povo se queixa, Deus se ira e acende um fogo que consome os
rebeldes de Israel, mas logo foi apagado pela oração de Moisés. No-
vamente Israel murmura desejando comer carne em vez de maná e,
ao mesmo tempo, Moisés se queixa com Deus por não poder levar o
fardo da liderança sozinho, por não ter ajuda. Deus promete nomear
ajudantes para Moisés e dar carne ao povo. E assim setenta anciãos
são escolhidos e profetizam e Israel é suprido com codornizes. O povo
ficou cobiçoso com relação as codornizes, as recolhe e espalha pelo
acampamento. Deus fica irado, manda uma grande praga e muitos
israelitas morrem (Nm 11).
Mesmo vendo como Deus trata os rebeldes, Arão e Miriam con-
frontaram e reclamaram contra Moisés, o mais manso de todos os
homens, por causa de ter se casado com uma mulher cuxita. O Se-
nhor os repreende e diz que Ele fala com Moisés face a face. Miriam é

72
acometida de lepra. Moisés docilmente intercede por Miriam, que fica
isolada do acampamento por sete dias. Após estar curada, os israeli-
tas seguem para o deserto de Parã, já na fronteira de Canaã (Nm 12).
Seguindo a ordem de Deus, Moisés envia doze espias para inves-
tigar a terra de Canaã. Ao retornarem, dez desses espias relatam coi-
sas ruins e desanimadoras: “O povo, porém, que habita nessa terra
é poderoso, e as cidades fortificadas e muito grandes; e também ali
vimos os filhos de Enaque” (Nm 13:28). Apenas Calebe foi positivo e
disse: “Subamos animosamente, e possuamo-la em herança; porque
certamente prevaleceremos contra ela” (Nm 13:30). Mas a voz dele foi
sufocada e os outros espias difamaram a terra que tinham espiado,
dizendo que todo o povo que viram eram homens de grande estatura,
gigantes, filhos de Enaque (Nm 13).
E como se o relatório ruim não bastasse, Israel mais uma vez mur-
mura e fala de voltar ao Egito. Josué e Calebe novamente fazem um
relato bom de Canaã e Moisés faz mais uma mediação entre Israel e
o Senhor, mas este decide que todos os adultos dessa congregação
deveriam perecer no deserto, nenhum deles entrará em Canaã, a não
ser Calebe e Josué. O Senhor mata os falsos espias por meio de uma
praga e alguns rebeldes tentam seguir sozinhos e são mortos em Hor-
má pelos amalequitas e pelos cananeus (Nm 14).
Várias ordenanças e leis são dadas a pedido de Deus: lei a res-
peito das ofertas de manjares e libações (Nm 15:1-16), lei a respeito
das ofertas alçadas, das primícias da sua massa (Nm 15:17-21), lei a
respeito dos sacrifícios pelos pecados cometidos por ignorância (Nm
15:22-29) e a punição dos pecados insolentes (Nm 15:30-31). Exem-
plificando o descumprimento das leis, um homem é apedrejado por
apanhar lenha no dia do sábado (Nm 15:32-36). Deus dá uma lei a
respeito das franjas, como lembretes, nas bordas de suas vestes e diz
que os israelitas devem olhar para as franjas das suas vestes e lem-
brar-se dos mandamentos (Nm 15:37-41).

73
Mais uma rebelião acontece em Israel. Agora Coré, Datã, Abirão e
duzentos e cinquenta líderes se rebelam desejando os ofícios de Moi-
sés e Arão. Há um solene comparecimento dos rebeldes diante uma
aparição pública da glória do Senhor. Toda a congregação de Israel
teria sido consumida se Moisés e Arão não tivessem intercedido, mas
a terra tragou os três rebeldes com suas famílias e o fogo do Senhor
consumiu os duzentos e cinquenta rebeldes. Numa nova insurreição,
Israel murmura contra Moisés e Arão por matarem o povo, mas Deus
interrompeu a nova rebelião enviando uma praga onde morreram
quatorze mil e setecentas pessoas (Nm 16).
Como teste de fidelidade, Deus manda que se tome uma vara para
cada tribo e a coloque no tabernáculo do testemunho, sendo que so-
bre a vara de Levi deve-se escrever o nome de Arão. A vara de Arão
brota, floresce e produz amêndoas e é guardada como sinal contra os
rebeldes (Nm 17).
Deus chama Arão e seus filhos para ministrar no ofício de sacerdo-
te. Os levitas são chamados para ministrar no serviço do tabernáculo.
Eles não recebem herança na terra, mas são sustentados pelos dízi-
mos do povo: “E eis que aos filhos de Levi dei todos os dízimos em
Israel por herança, pelo seu serviço que realizam, o serviço da tenda
da congregação” (Nm 18:21,24-26).
O povo, então, é instruído quanto a preparação e ao uso das cinzas
que deveriam impregnar a água da purificação. Deus dá instruções
sobre a preparação destas cinzas, sobre a queima de uma novilha ver-
melha, a maneira de usar as cinzas, como elas deveriam ser lançadas
em água corrente, para que as pessoas pudessem se purificar (Nm
19).
Chegando o povo de Israel ao deserto de Zin, Miriã morre. Em Me-
ribá, o povo volta a murmurar por água, alegando que Moisés quer
matá-los de sede. Deus manda que Moisés fale a rocha para que dela
jorre água, mas irritado com a postura do povo, ele fere por duas ve-

74
zes a rocha. A água jorra, mas Deus diz que por conta da desobediên-
cia, ele não entrará na terra prometida. Aproximando-se da terra dos
edomitas, Moisés pede que o rei de Edom permita que Israel passe
pacificamente por sua terra, mas este se recusa a deixar. No monte
Hor, Arão morre, Eleazar se torna o sumo sacerdote e ocupa o lugar. O
povo pranteia por Arão (Nm 20).
Sabendo que Israel se aproximava, os cananeus lutam contra eles,
mas os filhos de Israel os destroem. Novamente o povo murmura con-
tra Deus e contra Moisés dizendo que eles querem matá-los no deser-
to. Deus se ira e os israelitas são assolados por uma praga de serpen-
tes ardentes. Moisés intercede pelo povo e Deus manda que ele erga
uma serpente de bronze para salvar os que olharem para ela. Israel
derrota Seom, rei dos amorreus, destrói Ogue, rei de Basã e ocupa
suas terras (Nm 21).
5.2.3. Histórias da planície de Moab (Nm 22:1-36:13)
A última parte do livro começa com a narrativa de Balaque, rei de
Moab, apavorado com a proximidade de Israel das suas terras. Te-
mendo o pior, Balaque manda, por duas vezes, mensageiros, para
encontrar com o profeta Balaão oferecendo dinheiro, gado e grandes
honras, mas Balaão recusa as ofertas de Balaque em amaldiçoar Is-
rael, pois o Senhor o proíbe de assim fazê-lo. Pela terceira vez Bala-
que envia mensageiros a Balaão, pendido que este apenas atrapalhe,
freie Israel. Consultando a Deus e recebendo permissão, Balaão vai
ao encontro de Balaque, mas durante a viagem sua mula vê o anjo
do Senho que se opõe a Balaão no caminho e não anda mais. Após
espancar sua mula por três vezes, Deus abre os olhos de Balaão e ele
também vê o anjo que lhe diz que, ao encontrar com Balaque só deve
falar o que Deus mandar. Balaão chega às terras de Moab e encontra
com Balaque (Nm 22).
Desejoso em prejudicar Israel, Balaão manda Balaque fazer sacri-
fícios sétuplos ao Deus de Israel, mas este não libera o profeta para

75
amaldiçoar Israel, muito pelo contrário, Balaão profere bênção sobre
Israel. Mais uma vez Balaão tenta atender os pedidos de Balaque,
mas, da mesma maneira, frustra-se. Novamente, sacrifícios sétuplos
são feitos ao Deus de Israel (Nm 23).
Apesar de todo esforço, Balaão, em visões, profetiza o destino de
Israel e transforma a maldição em bênção, além de profetizar a res-
peito do Messias (uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de
Israel) e fazer predições sobre algumas das nações vizinhas. Irritado
por não conseguir amaldiçoar Israel, Balaque dispensa os serviços de
Balaão (Nm 24).
Acampado em Sitim, o povo de Israel foi seduzido pelas filhas
dos moabitas e começou a se prostituir com elas, além de ir aos seus
deuses. Deus fica irado com a atitude do povo e manda enforcar os
pecadores. Fineias, piedoso, mata a Zinri e Cosbi, dois pecadores in-
solentes, e Deus se agrada do zelo de Fineias. Israel recebe de Deus a
ordem de afligir os midianitas que os enganaram (Nm 25).
Um novo censo é feito. Moisés e Eleazar contam os israelitas nas
planícies de Moab, perto de Jericó, e descobrem que os homens de
vinte anos para acima, excluindo os levitas (que são cerca de 23.000),
somam 601.730. Deus dá instrução para dividirem a terra entre si. O
capítulo termina informando que restam somente Calebe e Josué
dos que foram contados no Sinai (Nm 26).
As filhas de Zelofeade, do clã de Manassés, pedem sua herança da
propriedade de seu pai antecipada, pois seu pai morreu injustamente
na revolta de Coré. Após consultar a Deus, Moisés atende ao pedido,
pois o Senhor lhe disse que as filhas de Zelofeade estavam certas. De-
pois explica a lei de herança para filhos, filhas e parentes. Deus manda
Moisés olhar a terra prometida, pois não entrará nela. Moisés nomeia
o filho de Nun, Josué, como novo líder de Israel (Nm 27).
Após essas coisas, Deus manda Moisés recapitular as leis a respei-

76
to dos sacrifícios que deveriam ser oferecidos, seja diário, semanal,
mensal e anualmente. Todas as manhãs e todas as noites, no dia do
Sábado, no primeiro dia de cada mês, na Páscoa, em cada dia da Fes-
ta dos Pães Ázimos e na Festa das Primícias (Nm 28).
Deus continuou a falar que deveriam ser oferecidos, através do
fogo, sacrifícios no sétimo mês, inclusive na Festa das Trombetas, no
primeiro dia daquele mês, no Dia da expiação, que era o décimo dia,
e na Festa dos Tabernáculos, no décimo quinto dia, e nos sete dias
seguintes (Nm 29).
Em seguida Moisés exorta ao povo que os votos e juramentos de-
vem ser cuidadosamente cumpridos e que os votos das filhas não de-
veriam ser obrigatórios, a menos que fosse permitido pelo pai (caso
contrário, o pai poderia invalidar o voto das filhas), e que marido
pode invalidar o voto da esposa, caso ele tenha sido feito sem sua
permissão (Nm 30).
Deus manda Moisés guerrear e fazer vingança contra os midianitas
e este envia 12.000 homens à guerra. Israel vence e destrói os midiani-
tas e o espólio é dividido em Israel, sendo a metade para os soldados,
a outra metade para a congregação e um tributo ao Senhor de cada
metade. Na guerra, ninguém do exército de Israel foi morto (Nm 31).
As tribos de Rúben, Gade e metade da tribo de Manassés tinham
muito gado e vendo que a terra de Jazer e de Gileade era um bom lu-
gar para gado, pedem por herança as terras a leste do Jordão, na qual
Israel agora estava acampado. Sob a promessa de que se uniriam às
outras tribos na conquista de Canaã, eles têm seu pedido atendido
(Nm 32).
São relembrados os quarenta e dois acampamentos pelos quais
passaram os filhos de Israel, desde a sua saída do Egito até a sua en-
trada em Canaã, e os eventos notáveis neles ocorridos. O povo recebe
o mandamento, uma ordem explícita de expulsar todos os habitantes

77
da terra, caso contrário esses remanescentes afligiriam a Israel (Nm
33).
Deus manda que Moisés determine os limites da herança de Israel
em Canaã - que se inicia na região leste da região sul do Mar Morto e
conclui no mar Mediterrâneo - e são nomeados os príncipes das tri-
bos que repartirão a terra (Nm 34).
Nas campinas de Moab, junto ao rio Jordão, na altura de Jericó,
Moisés informa ao povo que os levitas terão as suas próprias cidades,
em número de 48. Destas 48 cidades, seis deveriam ser cidades de
refúgio destinadas aos culpados de homicídio (para qualquer homem
que matasse outro não intencionalmente). Todavia, em caso de ho-
micídio deliberado ou intencional, os homicidas seriam executados
pelo vingador do sangue (Nm 35).
Concluindo o livro, Moisés, para evitar futuros problemas, fala às
filhas de Zelofeade, que elas deveriam se casar na sua própria tribo
e família. E assim elas concordam em fazer e as heranças não serão
passadas de uma tribo a outra (Nm 36)

5.3 Principais Teologias


Dentre as teologias encontradas no livro de Números, podemos
destacar:
1. A misericórdia e o cuidado de Deus com Israel - Em diversas passa-
gens vemos Deus corrigindo, ensinando e consolando Israel através
de Moisés, com quem falava face a face.
2. A soberania de Deus, que jamais deixará de realizar os seus planos
- Ele é o Senhor da história e a conduz ao seu modo para realizar seus
propósitos eternos. Escolheu Israel para ser Sua propriedade particu-
lar e irá caminhar e conduzir seus filhos, mesmo em meio a guerras,
rebeliões e contendas. Nada atrapalhará os planos de Deus.
3. A imutabilidade de Deus - O que falamos acima reflete exatamente

78
o caráter imutável do Deus de Israel. Ele fez com o povo uma aliança
eterna e não mudará de posição. Não abandonará seu povo, não de-
sistirá dele. As suas promessas não caducam.

5.4 Números e o Novo Testamento


O livro de Números tem inúmeras intertextualidades com o Novo
Testamento. Podemos, primeiramente, lembrar dos acontecimentos
que prefiguraram a obra de Jesus como:
A) Hb 9:13-14 - que diz “porque, se o sangue dos touros e bodes,
e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica,
quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que
pelo Espírito eterno se ofereceu a Si mesmo, imaculado a Deus, pu-
rificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao
Deus vivo?”- está relacionado a Nm 19 e o sacrifício de uma novilha
vermelha;
B) 1Co 10:1-4 - que diz “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que
nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram
pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e
todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam todos
de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual
que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior
parte deles, por isso foram prostrados no deserto”. - está relacionado
a Nm 20:11 e ao ferimento duplo da rocha por Moisés;
C) Jo 3:14-15 - que diz “e, como Moisés levantou a serpente no de-
serto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” - está
relacionado a Nm 21:4-9 e ao episódio da serpente de bronze levan-
tada por Moisés.
D) Hb 6:19-20 - que diz “a qual temos como âncora da alma, segura
e firme, e que penetra até ao interior do véu, onde Jesus, nosso pre-

79
cursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a
ordem de Melquisedeque” - está relacionado a centralidade do taber-
náculo exposta em Nm 2.
Além das intertextualidades citadas acima, temos Nm 24:15-19,
onde a profecia de Balaão anuncia as conquistas do reinado messiâ-
nico. Embora possamos ver essa profecia ser parcialmente cumprida
em Davi, o seu pleno cumprimento, ou o seu cumprimento final, está
na pessoa e a obra de Cristo, o Rei dos Reis, cujas conquistas jamais
terão fim.

5.5 Tópico Especial – A Serpente e a Mula


Você já parou para pensar que dois personagens do Pentateuco
conversaram com animais? Pois é, tanto Eva, em Gn 3:1-7, conversou
com uma serpente como Balaão, em Nm 22:22-37, conversou com
uma mula.
Será que essas histórias têm outras semelhanças além de ter hu-
manos conversando com animais? Confira a seguir dez (curiosas) se-
melhanças entre duas histórias:
1. Os episódios dos animais falantes são a parte central de histórias
maiores. Gn 3:1-7 faz parte da Antropogonia e Nm 22:22-37 do Sefer
Bilam. Confira:
A - Introdução (Gn 2.4-6 e Nm 22.2-4)
B - Desenvolvimento (Gn 2.7-25 e Nm 22.5-21)
C - Clímax: Diálogo entre humanos e animal falante (Gn 3:1-7 e Nm
22:22-35)
B’ - Desenlace (Gn 3.8-19 e Nm 22.36-24.24)
A’ - Conclusão (Gn 3.22-24 e Nm 24.25)
2. As partes centrais das perícopes têm a mesma estrutura ou sequên-
cia interna: à uma moldura inicial com sentença em terceira pessoa,

80
seguem-se os diálogos entre animais e humanos e, depois, uma mol-
dura final com sentença em terceira pessoa (Gn 3:1-7 e Nm 22:22-37):

Diálogo de Eva e a Serpente (Gn 3:1-7):


Moldura inicial com sentença em terceira pessoa (3:1a)
Fala da SERPENTE – 3:1b E disse à mulher: É assim que Deus disse:
Não comereis de toda a árvore do jardim?
Fala da MULHER – 3:2 E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvo-
res do jardim comeremos, 3 Mas do fruto da árvore que está no meio
do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que
não morrais.
Fala da SERPENTE – 3.4 E a serpente disse à mulher: Certamente não
morrereis. 5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se
abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
Moldura final com sentença em terceira pessoa (3.6-7)

Diálogo de Balaão e a Mula (Nm 22:22-37)


Moldura inicial com sentença em terceira pessoa (22.28a).
Fala da MULA – 22:28b E disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espan-
caste estas três vezes?
Fala de BALAÃO – 22:29 E Balaão disse à jumenta: Por que zombaste
de mim; quem dera tivesse eu uma espada na mão, porque agora te
mataria.
Fala da MULA – 22:30a E a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou
a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei
tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E
ele respondeu: Não.
Moldura final com sentença em terceira pessoa (22.31)

81
3. Os episódios mostram que as conversas entre humanos e animais
são iniciadas com perguntas em diálogos sem estranheza, como se
fosse comum animais falarem (Gn 3.1 e Nm 22:28).
4. A não estranheza pelos animais falantes acontece porque, tecnica-
mente, ambos os relatos são classificados como uma fábula. A fábula
é uma narrativa na qual as personagens são geralmente animais que
possuem características humanas. Pode ser escrita em prosa ou em
verso e é sustentada sempre por uma lição de moral, constatada na
conclusão da história. A função de uma fábula é passar um ensina-
mento para seu leitor.
5. Ambos os relatos têm por função explicitar a dificuldade humana em
guardar uma ordem de Deus (Gn 2:16-17 x 3.6 e Nm 22:20 x 22:34-35)
6. Os animais falantes levam o humano a crer que agem de boa-fé. Em
Gn 3:4-5 a serpente repete a fala de Deus “Certamente não morrereis”,
mas acrescenta uma informação dando a entender que ela sabe de
algo que Eva desconhecia: “Porque Deus sabe que no dia em que dele
comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o
bem e o mal.” Em Nm 22:30-31 a jumenta chama Balaão a realidade
de que ela era sua jumenta há muitos anos e nunca o havia desapon-
tado. Agora estava agindo assim, porque Balaão desconhecia o que
realmente a impedia de andar (o anjo do Senhor com uma espada
desembainhada na mão).
7. A fala dos animais revela links inversos: A serpente age para a “des-
proteção” (Gn 3:4-5), mas a mula para a proteção (Nm 22:30-31).
8. Em ambos os relatos, o animal falante sabia/via mais que os huma-
nos. A serpente dá a entender que sabia que os olhos dos humanos
seriam abertos e eles veriam algo que não estavam enxergando (Gn
3:4-5) e a mula via o anjo, que Balaão na enxergava (Nm 22.31).
9. A conversa com os animais faz os humanos verem coisas que não
viam antes: a nudez (Gn 3:7) e o anjo (Nm 22:31)

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10. Os humanos que falaram com os animais, na tradição bíblica, fica-
ram com memória desonrosa.

Sobre a mulher:
Gn 3:16: E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a
tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o
teu marido, e ele te dominará.
Sabedoria 2:23-24: Ora, Deus criou o homem para a imortalidade,
e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio
que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio a pro-
varão.

Sobre Balaão:
Js 13:22. Também os filhos de Israel mataram à espada a Balaão,
filho de Beor, o adivinho, com os outros que por eles foram mortos.
Nm 31:8: Mataram também, além dos que já haviam sido mortos,
os reis dos midianitas: a Evi, e a Requém, e a Zur, e a Hur, e a Reba,
cinco reis dos midianitas; também a Balaão, filho de Beor, mataram
à espada.
2Pe 2:15: Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo
o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça;
Jd 1:11: Ai deles! Porque entraram pelo caminho de Caim, e foram
levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradi-
ção de Coré.

83
CAPÍTULO 6
Livro de Deuteronômio, relendo a história
6.1 Título, Autor e Data
Quinto livro da Bíblia e último do Pentateuco, Deuteronômio é
uma palavra formada a partir de duas palavras gregas: “deutero”, se-
gunda, e “nomos”, lei e significa “segunda lei”.
Essa nomenclatura encontrada em nossas Bíblias está relaciona-
da a dois fatores. Primeiro motivo está relacionado à passagem de Dt
17:18 - “quando subir ao trono do seu reino, mandará fazer num rolo,
uma cópia da lei, que está aos cuidados dos sacerdotes levitas para o
seu próprio uso”, que dá entender que o rei, ao ser entronizado, deve-
ria ter junto a ele, para governar, uma cópia do livro conduzindo seu
reinado. O segundo motivo está relacionado ao fato das leis contidas
no livro não serem uma nova lei, mas uma nova contextualização das
leis já dadas a Israel no monte Sinai.
Na Bíblia Hebraica, o livro chama-se “Devarim”, que significa “pa-
lavras”, nomenclatura retirada da primeira sentença do livro “Estas
são as palavras…” (Dt 1:1), seguindo o costume judaico de nomear os
livros bíblicos a partir das primeiras palavras que podem ser lidas na
primeira frase do texto.
Quanto a autoria, seguindo a tradição, o livro continua sendo es-
crito por Moisés. Dt 31:9, atestando a autoria mosaica registra: “E
Moisés escreveu esta lei, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que
levavam a arca da aliança do Senhor, e a todos os anciãos de Israel.”.
Ao dizer que Moisés escreveu “esta lei”, provavelmente refere-se a
capítulos 1-30.

84
Soma-se a isso o fato de todo o livro conter grandes discursos de
Moisés para Israel, que após peregrinar 40 anos pelos mais diversos
desertos, estava acampado nas planícies de Moab, pronto para entrar
e conquistar Canaã, a Terra Prometida aos pais Abraão, Isaque e Jacó
e confirmada a Moisés.
Ainda vale registrar que outras passagens do Antigo e do Novo Tes-
tamento atestam a autoria mosaica do texto. Temos por exemplo:
a) Js 23:6 - “esforçai-vos, pois, muito para guardardes e para fazer-
des tudo quanto está escrito no livro da lei de Moisés; para que dele
não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda”.
b) 1Re 2:3 - “E guarda a ordenança do Senhor teu Deus, para anda-
res nos seus caminhos, e para guardares os seus estatutos, e os seus
mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está
escrito na lei de Moisés; para que prosperes em tudo quanto fizeres, e
para onde quer que fores.”
c) Mt 19:7-8 - Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés
dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por
causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas
mulheres; mas ao princípio não foi assim.”
d) Rm 10:19 - “Mas digo: Porventura Israel não o soube? Primeira-
mente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são
povo. Com gente insensata vos provocarei à ira.”
Quanto a datação final do livro, ou a data na qual os trinta e qua-
tro capítulos do livro foram terminados, entendem alguns estudiosos
que, provavelmente, ele teve sua redação final na época de Josué. Os
que defendem essa teoria argumentam que Moisés não poderia ter
escrito sobre sua própria morte, como consta em Dt 34:1-5:

“Então, das campinas de Moabe, Moisés subiu ao monte Nebo, ao topo


do Pisga, em frente de Jericó. Ali o Senhor lhe mostrou a terra toda: de

85
Gileade a Dã, toda a região de Naftali, o território de Efraim e Manassés,
toda a terra de Judá até o mar ocidental, o Neguebe e toda a região que
vai do vale de Jericó, a cidade das Palmeiras, até Zoar. E o Senhor lhe
disse: “Esta é a terra que prometi, sob juramento a Abraão, a Isaque e
a Jacó, quando lhes disse: Eu a darei a seus descendentes. Permiti que
você a visse com os seus próprios olhos, mas você não atravessará o rio,
não entrará naquela terra”. Moisés, o servo do Senhor, morreu ali em Mo-
abe, como o Senhor dissera.”

Assim, a pessoa que teria registrado por escrito e incluído no livro


a morte de Moisés seria Josué, o “discípulo” mais próximo de Moisés
e o seu sucessor na liderança do povo.
Já outros estudiosos, mais modernos, pensam que o livro pode ter
sido terminado na época do rei Josias, quando foi descoberto um li-
vro (provavelmente o de Deuteronômio) no templo, que passava por
reparos e, após ser lido ao rei, acabou motivando a maior e mais am-
pla retorna religiosa de Judá.
Apesar disso, temos que convir, que o achado do livro (passagem
de 2Re 22:8-20) não indica que, necessariamente, o livro tenha sido
escrito ou terminado de ser escrito nessa época. Aponta apenas que
um livro – que já estava escrito – foi encontrado pelos trabalhadores.

6.2 Estrutura e Conteúdos


Diferente dos outros livros, Deuteronômio pode ser dividido em
quatro partes:
1. O primeiro discurso de Moisés (1-4)
2. O segundo discurso de Moisés (5-26)
3. O terceiro discurso de Moisés (27-30)
4. As palavras finais e a morte de Moisés (31-34)
Essa diferenciação na estrutura interna do Deuteronômio (quan-

86
do comparada com as apresentadas anteriormente para os livros de
Gênesis até Números, que puderam ser facilmente tripartidos) está
relacionada ao avanço do trabalho arqueológico realizado no final do
século XX, que possibilitou aos estudiosos perceberem algumas simi-
laridades entre a estrutura de Deuteronômio e a dos antigos tratados
dos hititas (do segundo milênio a.C.) e dos tratados dos assírios (do
século VIII a.C.).
Esse antigos tratados extra bíblicos eram constituídos por sete
partes:
1. Preâmbulo;
2. Prólogo histórico;
3. Disposições gerais;
4. Estipulações específicas;
5. Bênçãos e maldições;
6. Cláusula Documento;
7. Testemunhas.
Essas sete partes também podem ser encontradas em Deuteronô-
mio:
1. Preâmbulo (Dt 1:1-5);
2. Prólogo histórico (Dt 1:6-4:49);
3. Disposições gerais (Dt 5:1-11.32);
4. Estipulações específicas (Dt 12:1-26:19);
5. Bênçãos e maldições (Dt 27:1-28:68);
6. Cláusula Documento (Dt 31:9-29);
7. Testemunhas (Dt 32:1-47).
Passemos agora a exposição e comentário das suas quatro partes:

87
6.2.1. O primeiro discurso de Moisés (Dt 1-4)
O livro é aberto com uma extensa recordação do passado (Dt 1-3),
onde Moisés começa a relatar os grandes eventos que aconteceram
ou pelos quais passou Israel durante os seus quarenta anos de pe-
regrinação pelos desertos. Como quando os filhos de Israel recebem
o mandamento de entrar em Canaã e tomar posse da terra, quando
foram escolhidos juízes e governantes para auxiliar Moisés, quando
ficaram incrédulos e murmuraram por conta do relatório ruim dos es-
pias de Israel e quando os amorreus derrotam os exércitos de Israel
(Dt 1).
Depois é recordado quando os filhos de Israel avançaram para
a terra prometida, passando pelo ribeiro de Zerede, pelas terras de
Esaú e de Amom, onde lutaram, venceram e destruíram os amorreus
(Dt 2).
Prosseguindo com sua recapitulação, Moisés lembra quando os fi-
lhos de Israel capturaram Ogue, rei de Basã, conquistaram sua região
e destruíram o seu povo; quando as terras destas novas conquistas,
a leste do Jordão, são dadas a Rúben e a Gade, quando ele, por fim,
aconselha e fortalece Josué e quando Moisés vê a Terra Prometida do
alto de Pisga, mas é-lhe negado o direito de nela entrar (Dt 3).
Finalizando seu primeiro discurso, Moisés faz um chamado à obe-
diência, onde exorta os filhos de Israel a cumprir os mandamentos, a
ensinar a seus filhos e a ser um exemplo perante todas as nações. Eles
também são proibidos de fazer imagens de escultura e adorar outros
deuses e devem testemunhar que ouviram a voz de Deus.
Moisés ainda lembra que, quando, no futuro, adorarem outros
deuses, serão dispersos entre as nações, mas Deus continuará a se
manter fiel à aliança e eles serão reunidos novamente. As cidades de
refúgio deste lado do Jordão são pontuadas e, por fim, é descrito o
lugar onde Moisés transmitiu a repetição da lei (Dt 4).

88
6.2.2. O segundo discurso de Moisés (Dt 5-26)
Em seu segundo e mais longo discurso, com 21 capítulos, Moisés,
primeiramente, recapitula o convênio que Deus fez com Israel em
Horebe, recorda os Dez Mandamentos e o fato do povo compreender
que Deus, através de trovões, relâmpagos, fogo etc. os deixou ver a
sua glória, ouvir a sua voz e permanecer vivo (Dt 5).
Na sequência, Moisés proclama o credo mais antigo de Israel, a
declaração de fé que até hoje é a base da fé judaica: “Ouve, Israel, o
Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensa-
mento” (Dt 6:4-5).
Depois fala de três práticas que até hoje são respeitadas e segui-
das à risca pelos judeus: “E as ensinarás a teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e le-
vantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por
frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa,
e nas tuas portas” (Dt 6:7-9).
Por fim, Moisés os exorta a cumprir os mandamentos, testemu-
nhos e estatutos do Senhor para que prosperem (Dt 6:24-25).
Após isso, Moisés exorta que quando Israel entrar em Canaã, eles
devem destruir as sete nações (os heteus, girgaseus, amorreus, ca-
naneus, perizeus, heveus e jebuseus,) que são mais numerosas e
mais poderosas que eles. Não devem, em nenhuma hipótese, casar-
se com pessoas desses povos, para que isso não resulte em apostasia.
Antes, Israel deve derrubar os altares, os cultos, as imagens das falsas
divindades dessas nações e guardar todos os mandamentos de Deus,
pois assim fazendo será abençoado, se multiplicará e prosperará em
todos as áreas da vida. Moisés diz que eles não devem temer as ou-
tras nações, pois o Senhor que os ama, removerá as enfermidades e
dará vitória sobre os inimigos, se forem obedientes e guardarem os
mandamentos (Dt 7).

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Após exortar à obediência, Moisés recorda que Deus pôs os filhos
de Israel à prova no deserto por quarenta anos, mas que nem por isso
deixou de sustentá-los com maná (lhes ensinando que o homem vive
pela palavra de Deus) e que suas vestes não envelheceram. Novamen-
te lembrando que é importante guardar os mandamentos, reafirma
que se eles, ao entrarem na Terra Prometida, servirem outros deuses,
deuses das outras nações, perecerão (Dt 8).
Agora, através de Moisés, Deus explica que o motivo das outras na-
ções serem expulsas de Canaã é a sua constante iniquidade e impie-
dade (Dt 9:4) e os adverte a não atribuírem a si próprios os sucessos
contra os inimigos, mas à justiça e à fidelidade de Deus. Moisés recor-
da os erros, as transgressões e as rebeliões de Israel (inclusive com o
bezerro de ouro, cuja história ele narra detalhadamente, Dt 9:8-21) e
relata como foi mediador entre o povo e o Senhor em Horebe, para
evitar que fossem destruídos (Dt 9).
Moisés lembra também que duas tábuas de pedra, contendo os
Dez Mandamentos foram colocadas na arca e, no mesmo tempo, o
Senhor separou a tribo de Levi, para levar a arca da aliança, para estar
diante dele para o servir, e para abençoar em seu nome. Disse tam-
bém que para o povo possuir a terra prometida, a única coisa exigida
de Israel é temer, amar e servir a Deus, guardando os seguintes man-
damentos para sempre (Dt 10:16-21):
1. Circuncidai o prepúcio do vosso coração, e não mais endurece a
cerviz.
2. O Deus de Israel é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o
Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas,
nem aceita recompensas;
3. Que se faça justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-
lhe pão e roupa.

90
4. Ao Senhor teu Deus temerás, a ele servirás, e a ele te apegarás, e
pelo seu nome jurarás.
5. Ao Senhor é o teu louvor e o teu Deus, que te fez estas grandes e
terríveis coisas que os teus olhos viram.
Especificando as diversas e as grandes obras que Deus já fez ao
povo, Moisés diz que os israelitas devem amar e obedecer ao Senhor
seu Deus, pois, obedecendo, serão abençoados com chuva e colhei-
tas e expulsarão nações poderosas e maiores do que eles. Israel pre-
cisa aprender, continua Moisés, as leis de Deus e ensiná-las. A regra de
ouro é simples: A obediência resulta em bênçãos, a desobediência é
acompanhada de maldições (Dt 11).
Os capítulos 12 ao 26, contém o Código Deuteronômico, o coração
propriamente do livro, onde estão registrados os estatutos particula-
res e diversas leis que regerão a vida de Israel em seus mais diversos
campos.
Para alguns estudiosos, foi esse código que, achado no templo,
inspirou Josias na sua reforma religiosa em Judá (2Re 22-24).
Neste código, quatro blocos de leis são apresentados:
1. Leis cerimoniais que governarão a religião dos israelitas (Dt 12:1-
16,17);
2. Leis civis, que abordam nomeação e regulamentação de líderes co-
munitários e religiosos (Dt 16:18-18:22);
3. Leis criminais (Dt 19:1-21:9);
4. Leis sociais (Dt 21:10-25:19).
Entre as leis cerimoniais destacam-se a destruição dos deuses e
dos lugares de adoração dos cananeus, só adorar e cultuar onde Deus
determinar, isto é, em Jerusalém, não ingerir sangue, não desamparar
o levita (Dt 12), a morte dos profetas, sonhadores, parentes ou amigos

91
que pregarem a adoração de deuses falsos, a destruição das cidades
e seus moradores idólatras (Dt 13), a proibição de comer aves, peixes
e animais imundos, a entrega anual do dízimo de todo o fruto da sua
semente (Dt 14), o perdão de todas as dívidas a cada sete anos, o cui-
dar dos pobres, a liberdade dada ao escravo hebreu no sétimo ano,
a entrega e a consagração dos primogênitos dos rebanhos e do gado
ao Senhor (Dt 15) e a guarda e a celebração anual da Páscoa, da Festa
dos Pães Ázimos, da Festa das Semanas e da Festa dos Tabernáculos,
com todos os homens perante o Senhor (Dt 16:1-17).
Entre as leis civis destaca-se que os juízes devem julgar com reti-
dão e não desonestamente, que não farão acepção de pessoas e nem
receberão suborno (Dt 16:18-20), a morte de todos os que adorarem
deuses falsos, apenas os sacerdotes e os juízes deverão julgar os ca-
sos difíceis, os reis não devem multiplicar para si cavalos, esposas ou
ouro e devem estudar as leis de Deus diariamente (Dt 17), a forma de
sustento dos sacerdotes; e as adivinhações, o ocultismo e coisas se-
melhantes são abominações e devem ser lançados fora (Dt 18).
Entre as leis criminais está o uso das cidades de refúgio para casos
de homicídio, a morte dos homicidas após o julgamento por duas ou
três testemunhas, a punição para as falsas testemunhas (Dt 19), as
leis para se escolher os soldados e o fazer guerra, a destruição com-
pleta dos heteus, dos amorreus, dos cananeus, dos perizeus, dos he-
veus e dos jebuseus (Dt 20) e como serão expiados os homicídios cujo
autor seja desconhecido a fim de tirar o sangue inocente do meio do
povo (Dt 21:1-9).
E entre as leis sociais está a equidade no trato com as esposas e
com os filhos, a morte por apedrejamento dos filhos rebeldes e con-
tumazes (Dt 21:10-23), as leis referentes a bens perdidos, ao uso de
roupas adequadas, ao cuidado com os interesses alheios, ao casa-
mento com uma moça virgem, à imoralidade sexual (Dt 22), sobre
quem pode e quem não pode entrar na congregação, leis sobre à hi-

92
giene, sobre servos, à usura e aos votos (Dt 23), leis sobre o divór-
cio, os recém-casados, o comércio de escravos, os penhores, a lepra,
a opressão dos servos, as sobras da colheita deixadas no campo (Dt
24), a determinação, pelos juízes, do castigo aos iníquos, lei de cam-
po, a viúva de um irmão, a exigência de pesos e medidas justas e so-
bre a eliminação dos amalequitas (Dt 25).
O Código, bem como o segundo discurso, termina com a ordem
para que os filhos de Israel ofereçam ao Senhor um cesto com as pri-
mícias de Canaã e sobre o cumprimento da lei do dízimo. O povo sela
o convênio de guardar os mandamentos e Deus promete fazer deles
um povo santo e uma grande nação (Dt 26).
6.2.3. O terceiro discurso de Moisés (Dt 27-30)
O terceiro discurso de Moisés abre com uma cerimônia onde, pri-
meiro, Moisés e os anciãos mandam que o povo guarde os manda-
mentos e aqueles que cruzarem o Jordão devem escrever todas as
palavras da lei, edificar um altar e adorar o Senhor. E alerta: eles são
o povo eleito de Deus e serão amaldiçoados se não obedecerem a Ele
(Dt 27).
O alerta continua informando ao povo que se forem obedientes,
serão abençoados, mas se forem desobedientes, terão que arcar com
as seguintes sanções: serão amaldiçoados, feridos e destruídos; serão
afligidos com enfermidades, pragas e opressão; servirão a falsos deu-
ses e se tornarão um escárnio entre todos os povos; nações ferozes os
escravizarão; comerão a carne dos próprios filhos e serão espalhados
entre todas as nações (Dt 28).
Aqui é interessante recordar que na formação de alianças no An-
tigo Oriente Próximo era comum incluir uma lista de bênçãos pelo
cumprimento da aliança e maldições pelo não cumprimento. O pro-
pósito de listar bênçãos e maldições era encorajar os participantes à
fidelidade as exigências da aliança.

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Esse discurso é concluído apresentando as cláusulas de um novo
concerto (além do feito em Horebe) ou convênio de Deus com seu
povo. Moisés, primeiro, recorda o que Deus já fez pelo povo, depois
recomenda solenemente para que guardem o concerto, resume o
concerto propriamente dito e, novamente, diz que eles serão abenço-
ados se forem obedientes, e amaldiçoados, se forem desobedientes e
que sua terra será como enxofre e sal (Dt 29).
Informando que os israelitas dispersos serão reunidos de todas
as nações, quando se lembrarem do convênio, Moisés põe diante do
povo a vida ou a morte, a bênção ou a maldição (Dt 30).
6.2.4. As palavras finais e a morte de Moisés (Dt 31-34)
Após concluir sua fala sobre o concerto, Moisés aconselha Josué
e todo o Israel a serem fortes e corajosos e diz que a lei deve ser lida
para todo o Israel a cada sete anos, na Festa dos Tabernáculos, e
alerta que os filhos de Israel seguirão deuses falsos e se corrompe-
rão quando entrarem na terra, mas o livro da lei será por testemunha
contra eles (Dt 31).
Um longo cântico do testemunho ou o cântico de Moisés é registra-
do contendo, dentre outros assuntos, que Deus escolheu Israel, mas
eles esqueceram a Rocha de sua salvação e Deus enviou pavor, espa-
da e vingança sobre eles, que não há Deus além Dele (Dt 32).
Moisés abençoa as tribos de Israel. Levi é encarregado para ensi-
nar os juízos do Senhor e Sua lei, José é o mais abençoado de todos.
Lembra ainda que o Senhor reunirá Israel nos últimos dias, pois Israel
triunfará (Dt 33).
Após essas coisas, deixando as campinas de Moabe e indo ao mon-
te Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó, Moisés vê a
terra prometida, desde Gileade até Dã, e, aos cento e vinte anos, é
levado pelo Senhor. Josué passar a ser o novo líder de Israel.
O livro fecha informando que Moisés foi o maior profeta de Israel:

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“E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a
quem o Senhor conhecia face a face; e nem semelhante em todos os
sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egi-
to, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; e em toda a
mão forte, e em todo o espanto grande, que operou Moisés aos olhos
de todo o Israel” (Dt 34:10-12).

6.3 Principais Teologias


Se tem um livro difícil de elencar as principais teologias é o Deu-
teronômio. Seus ensinos e palavras são tão relevantes que sempre
ficamos com a sensação de que está faltando um ensinamento im-
portante a ser destacado.
Diante disso, pontuo cinco versos e suas teologias:

a) Dt 4:2 - “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem di-


minuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso
Deus, que eu vos mando”. Segundo o dicionário da língua portuguesa,
guardar é “vigiar para defender, proteger, preservar, zelar por”. Pois é
exatamente isso que este verso nos manda fazer: Devemos vigiar para
defender, proteger, preservar, zelar pelos mandamentos do Senhor.
Demos preservar em nossos corações e mentes as palavras de Deus
ditas a Israel de ontem e a Israel de hoje, a Igreja, para que possamos
viver de forma agradável a Deus e receber seu favor.

b) Dt 6:4 - “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” Eis


a declaração de fé mais antiga de Israel e válida até hoje, tanto para
judeus, como para cristãos. “Ouve Israel” em hebraico “Shema Israel”.
Aqui o verbo ouvir / shema é um imperativo de ouvir com atenção,
com urgência, com imperativo de obedecer ao que se ouve. E o que se
ouve neste verso. Que só o Senhor é Deus. Que nós podemos até fazer
pessoas e coisas de “divindades”, mas elas não o são, de verdade. Só
YHWH é Deus. Só Ele é digno de todo louvor, honra e glória. Esse verso

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é também um convide a adorar e cultuar apenas ao Senhor, a Deus, o
Pai de Jesus, o Messias.

c) Dt 6.5 - “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração,


e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” - Essas palavras fo-
ram usadas por Jesus em Mt 22:36-37 quando um fariseu lhe pergun-
tou qual é o grande mandamento na lei. De pronto Jesus respondeu:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu pensamento.” Ou seja, o amor a Deus deve estar
enraizado em todos os aspectos do nosso ser: corpo/ coração, alma/
espirito e pensamento/ consciência.

d) Dt 6:6-7 - “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu


coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua
casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te”. Estes
versos começam exortando que as palavras de Deus devem estar no
coração. Hoje, o coração está ligado aos sentimentos e a mente as
decisões, mas não era assim na época do Antigo Testamento, quando
o coração era o centro das decisões. É por isso que as palavra de Deus
devem estar no coração. Mas não apenas no nosso coração, mas nos
dos nossos filhos, por isso falar a eles as palavras de Deus em casa
e durante as atividades diárias (andando pelo caminho, deitando e
levantando). Para o antigo Israel, o Shabat e as festas eram ótimos
momentos para, em família, ensinar e perpetuar a história e os man-
damentos de Deus.

e) Dt 32:46-47 - “Disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as pa-


lavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos
filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta
lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta
mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jor-
dão, ides a possuir”. Aqui encontramos a fórmula para ir bem na vida,
para prosperarmos conforme a visão de Deus: Cumpra as palavras da

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Lei. Viva conforme a Palavra. É nela que encontramos as respostas
para nossas dúvidas, direção para nossos planos. Nela encontramos
vida eterna e paz para enfrentar toda e qualquer vicissitude que nos
atinja pelo caminho.

6.4 Deuteronômio e o Novo Testamento


O livro de Deuteronômio, citado mais de 190 vezes no Novo Testa-
mento, é também o livro mais citado por Jesus. Na tentação do deser-
to (Mt 4:1-11, Mc 1:12-13 e Lc 4:1-13), quando travou um diálogo com
Satanás, usa o livro três vezes.
Em Mt 4:4, Jesus responde a tentação de mandar que as pedras se
tornem em pães com a passagem de Dt 8:3: “Nem só de pão viverá o
homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.”
Em Mt 4:5-7, quando Satanás transportou Jesus à cidade santa e
colocou-o sobre o pináculo do templo e falou para Ele se atirar abai-
xo, Jesus, repelindo a tentação, usa Dt 6.16 que diz: “Não tentareis o
Senhor vosso Deus”.
Por fim, em Mt 4:8-10, quando o diabo leva Jesus a um monte mui-
to alto e lhe mostra todos os reinos do mundo, a glória deles e diz que
tudo será dele se Ele o adorar, Jesus, repreende Satanás e o expulsa
citando Dt 6:13 e 10:20: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele ser-
virás.”
Importante citar também Dt 18.15-19: “O Senhor teu Deus te le-
vantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ou-
vireis; conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe,
no dia da assembleia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor teu
Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então o
Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram. Eis lhes susci-
tarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas
palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. E

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será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em
meu nome, eu o requererei dele.”
Nesta passagem, Moisés profetizou sobre o maior Profeta de to-
dos, Jesus Cristo, o Messias, que assim como Moisés, iria receber e
pregar revelação divina, salvando o povo de Israel.

6.5 Tópico Especial – A Criação de Adão


Uma das mais famosas do mundo e um dos marcos da Renascen-
ça Italiana, as pinturas de Michelangelo Buonarroti no teto da Capela
Sistina, foi encomendada pelo Papa Júlio II, cujo pontificado foi entre
1443 e 1513.
Contendo nove painéis que representam cenas do livro do Gêne-
sis, uma das mais belas e intrigantes é o quarto painel, o da criação
de Adão

Repare que dedos de Deus e Adão não se tocam...

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Na pintura, Deus está com o braço e o dedo bem estendidos, bem
esticados em direção ao homem, até demonstrando um certo esforço
para alcançar o dedo do homem, que está com o braço dobrado, meio
displicente sobre a perna, com o seu dedo caído e com as últimas fa-
langes contraídas.
O sentido deste detalhe dos dedos e braços talvez seja lembrar
que Deus sempre estará à disposição do homem, de encontrar com
ele, mas a decisão de buscar a Deus e de tocar na sua mão será do
homem.
Se o homem quiser tocar em Deus basta fazer um gesto simples:
esticar o dedo. Por outro lado, não esticando o dedo, passará uma
vida inteira sem tocar em Deus.
Isso nos remete a várias passagens livro que estamos estudando,
tais como Dt 4.29 - “Então dali buscarás ao Senhor teu Deus, e o acha-
rás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma”
- e Dt 28:1 e 2 - “E acontecerá que, se ouvires atentamente a voz do
Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus manda-
mentos (...) todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão”, onde
aprendemos que Deus quer abençoar o homem concreta e espiritu-
almente.

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