Direito Ptoteção e Inclusão Social
Direito Ptoteção e Inclusão Social
Direito Ptoteção e Inclusão Social
Proteção e
Inclusão Social
Direito, Proteção e
Inclusão Social
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Adriana Cezar
Carlos Luiz De Lima e Naves
Fernanda Lara de Carvalho
Gustavo Henrique Campos Souza
Editorial
Camila Cardoso Rotella (Diretora)
Lidiane Cristina Vivaldini Olo (Gerente)
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Letícia Bento Pieroni (Coordenadora)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-0671-2
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Muito poderia ser dito sobre isso, mas obviamente aqui não
vamos explorar questões ideológicas em si, mas sim repercussões
jurídicas sobre as decisões (legislativas, executivas ou judiciais) que
atinjam direitos fundamentais.
Princípios fundamentais à
inclusão social
Convite ao estudo
Caro aluno,
Diálogo aberto
Exemplificando
Três exemplos emblemáticos retratam essa ideia. Movimentos liderados
por Martin Luther King, nos Estados Unidos, e por Nelson Mandela, na
África do Sul conseguiram desarmar a perseguição institucional promovida
por seus respectivos governos e supremacistas brancos contra os negros
desses dois países. A Europa, principalmente influenciada pela escola de
Frankfurt na Alemanha, reergueu-se da catástrofe provocada pela ideologia
nazifascista, ao promover reformas constitucionais e políticas para incluir
a tolerância étnica e religiosa como valor inalienável de uma democracia.
Exemplificando
O art. 5º da Constituição da República de 1988 (CR/88) garante que todos
são iguais perante à lei. À primeira vista, essa norma pode soar como
uma mera igualdade formal, já que a sociedade brasileira não é dividida
Assimile
Será que pelo princípio da liberdade eu posso escolher ser criminoso,
então? Discutiu-se muito essa questão, principalmente por ocasião do
lançamento do filme “Laranja Mecânica”. A resposta pode lhe causar
espanto, mas, juridicamente, sim, você pode! Como assim? Você pode
ser quem você quiser ser. O Estado não pode punir alguém pelo exercício
da própria personalidade, nem tampouco forçar alguém a aceitar um
processo de ressocialização baseado no poder. Mas por que o Estado
pune condutas criminosas? O Estado deve condenar ações ou omissões
que atingiram ou teriam capacidade para violar bens jurídicos. Isso é
completamente diferente de punir personalidades. Consequentemente,
quando age de forma criminosa, cabe ao Estado proteger bens jurídicos
(além da personalidade), nomeadamente: a vida, a liberdade, o patrimônio,
a honra dentre outros. Quando uma conduta atinge o bem jurídico alheio,
o Estado é obrigado a intervir para impedir que essa escolha continue
violando valores tutelados pela Constituição. E o Estado faz isso tanto para
dissuadir (prevenção geral negativa), impedir novos crimes (prevenção
especial negativa) quanto possibilitar a reinserção de excluídos por meio
de normas que incentivam a ressocialização penal durante o cumprimento
da sanção imposta (prevenção especial positiva). Moralmente, é claro, que
podemos censurar essa escolha. Isso todos fazemos, inclusive o próprio
criminoso. O filme Carandiru retrata essa contradição da personalidade
Assimile
Boa é um adjetivo que nos remete a uma sensação muitas vezes
passageira. No entanto, bem é um adverbio de modo que nos traz a
ideia de padrão comportamental mais perene. Viver a vida bem significa
adotar um padrão de conduta responsável que concilie deveres, com
desejos e condições a fim de realizar algo para si ou para outrem.
E, por essa razão, concluímos que hoje não mais se entende que
a vida é uma obrigação que precisa ser preservada a qualquer custo.
A vida é um bem que necessita de preservação à medida que possa
ser garantido um mínimo de dignidade. Forçar que o outro viva,
sendo que viver torna-se um sacrifício extremamente oneroso para
seu titular, não é respeitar o direito à vida, é forçar o exercício de um
direito que juridicamente não é dever para o titular.
Assimile
O STF julgou em 2012 a Arguição por Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF/54) em que se discutia a inconstitucionalidade da
criminalização do aborto de fetos anencefálicos. Naquela oportunidade,
os ministros entenderam que punir a mãe que interrompia a gravidez
antecipadamente em razão de anomalia fetal seria uma violação
aos princípios constitucionais, já que não havia vida merecedora de
proteção penal. O feto seria incapaz de viver duas semanas após o
seu nascimento, eis que a deformação provocava graves sequelas ao
funcionamento do organismo do bebê. A proibição assim feria o direito
de liberdade da mãe para escolher o melhor momento de encerrar o
seu próprio sofrimento.
Pesquise mais
Se estiver interessado em saber todos os argumentos explorados pelos
ministros do Supremo Tribunal Federal que descriminalizaram o aborto
de fetos anencefálicos, consulte o seguinte link: <http://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3707334>. Acesso em:
10 out. 2017.
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
a) Liberdade e igualdade.
b) Autonomia e autorrealização.
c) Universalidade e indisponibilidade.
d) Universalidade e igualdade de tratamento.
e) Garantia primária e garantia secundária.
a) Garantia primária.
b) Garantia secundária.
c) Direito à diferença.
d) Competência.
e) Característica alienável.
Caso essa norma seja aprovada, qual princípio constitucional será mais
amplamente reforçado?
a) Liberdade de contratar.
b) Igualdade formal.
c) Autonomia.
d) Autorrealização.
e) Igualdade material.
Reflita
A ilegitimidade política advém da desigualdade social. Quanto maior
a desigualdade presente em um Estado, maior será a ilegitimidade dos
governantes. Tal afirmativa não vem de um discurso político ideológico,
mas, como afirma Ferrajoli (2005), sustenta-se numa constatação empírica
por meio de argumentos histórico-sociológicos. As garantias criadas
por meio de políticas públicas fornecem o instrumento de proteção
dos direitos para que, na vida real (para além do mundo jurídico), sejam
efetivamente universais e irrenunciáveis. Compreender esses pressupostos
é conscientizar-se de que o povo precisa participar politicamente das
decisões que lhe atingirão para que as garantias sejam criadas na esfera
jurídica e garantidas por meio de ações político-legislativas.
Pesquise mais
E o que acontece se o poder legislativo infraconstitucional for
propositadamente omisso ao deixar de criar garantias secundárias para
acesso a direitos fundamentais sociais? Para Ferrajoli (2005), tratar-
se-ia de uma lacuna legislativa que só poderia ser sanada mediante a
intervenção do próprio órgão representativo. Mas Jorge Reis Novais
Assimile
Então a maioria deve ser desprezada? Não, a maioria também é protegida
pelo conteúdo essencial inalienável dos direitos fundamentais. E como
isso se observa no dia a dia? Suponhamos que o SUS esteja diante de
duas opções de medicamento, contando apenas com um orçamento
de mil reais. Com esse valor, o sistema único pode comprar mil vacinas
com 100% de eficácia em favor de mil pessoas ou um medicamento
para uma pessoa com eficácia discutível. Qual dos dois medicamentos
deve ser adquirido? É claro que será aquele que beneficiará o maior
número de pessoas e de forma mais eficaz.
Mas para que serve essa estrutura? Não seria melhor se nos
desfizéssemos de toda essa burocracia para atingirmos alguns
fins que todos nós sabemos que são necessários para o “bem” da
sociedade? Não exatamente! A estrutura jurídica não é apenas o
meio para retardar e dificultar os atos pretendidos pelos governos
transitórios, mas a imposição de limites para impedir que a política
se exerça de forma bruta, violenta, insegura e lacunosa.
Assimile
Interessante notar que, durante a Idade Média, o Estado assumia
realmente a identidade do seu governante. Naquela época, os meios
e objetivos eram por ele elaborados e executados da forma como
lhe convinha. Mas isso acabou já na segunda metade do século XVIII.
O absolutismo do poder monarca foi abruptamente rompido com
as revoluções inglesa, estadunidense e francesa. Naquela época,
as lideranças revolucionárias iluministas decidiram institucionalizar
as ações do Estado, ou seja, por meio da criação de regras sob as
quais o próprio Estado (representado pelos seus governantes) estaria
submisso. Desaparecia a filosofia de Luis XIV que resumia o Estado
à figura do rei (L’Etat c’est moi) para surgir o Império da Lei (Estado
de Direito). Todos submissos à vontade das instituições reunidas em
conjuntos de leis (Império da Lei). E o modelo atual continua sendo do
Estado de Direito? Não, também já evoluímos! Ao invés de um governo
da maioria (típico de estados fascistas), a sociedade progrediu para o
Estado de respeito a direitos fundamentais com a participação daqueles
que serão atingidos. Esse modelo é chamado de Estado Democrático
de Direito pelo qual nenhuma maioria circunstancial poderá sobrepor-
se aos direitos fundamentais das minorias.
Exemplificando
Numa competição selvagem, é claro que pessoas com deficiência
seriam naturalmente preteridas pelo mercado em relação a adultos
sadios. Do mesmo modo, estudantes mais humildes e, por questões
históricas, os próprios negros, enfrentariam mais obstáculos para
acessar às universidades do que os mais afortunados e brancos. Por
isso, a necessidade de promover a inclusão desses grupos por meio de
iniciativa privada, para que deficiências não sejam eternizadas em razão
da luta descontextualizada do mais forte contra o mais fraco.
1. Existe um problema?
2. Qual é o problema?
3. Quais são os elementos essenciais do problema?
4. Quem é afetado pelo problema?
5. Qual é a população-alvo?
6. Qual é a magnitude atual do problema?
7. Quais são as consequências do problema?
8. Conta-se com todas as informações sobre o problema?
9. Há uma visão clara e definida do meio geográfico,
econômico e social do problema?
10. Quais são as dificuldades de se enfrentar o problema?
Exemplificando
No Brasil, foram criadas ou intensificadas diversas políticas
redistributivas nos últimos 20 anos. Com a estabilização da moeda
e o crescimento econômico, governos estaduais e federal criaram
o Bolsa-Família (antigo Bolsa-Escola, Auxílio-Gás) e o FIES (antigo
Crédito Educativo e que atualmente financia estudantes que não têm
condições de pagar pelos próprios estudos no ensino superior).
Avançando na prática
Menos condições, mais oportunidades
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
a) Regulatório.
b) Distributivo.
c) Retributivo.
d) Redistributivo.
e) Segregacionista.
a) Distributivo.
b) Retribuitivo.
c) Regulatório.
d) Redistribuitivo.
e) Distributivo e redistributivo.
Assimile
Para esta, obra utilizaremos a definição de Kant sobre a dignidade da pessoa
humana. De acordo com Comparato (2003), Kant anunciava que não era
suficiente para a humanidade agir ou deixar de agir apenas preocupada se
tal ato causaria algum dano a outrem. Era preciso avançar nesse conceito,
de forma que nós nos coloquemos também como responsáveis por agir
para favorecer o outrem, tanto quanto possível. Isso porque, se eu sou
o sujeito e o beneficiado da minha ação devo estender isso para todos,
considerando o desejo dos demais membros da sociedade como se meus
fossem. Immanuel Kant inaugura assim a dignidade da pessoa humana
como uma ação que projeta o indivíduo (e todos os demais) como um fim
em si. (COMPARATO, 2003)
Pesquise mais
Pela legislação brasileira, idoso é toda pessoa que tenha idade igual
ou superior a 60 anos. Esse critério é usado para todos os serviços?
Não. Por exemplo, o transporte urbano coletivo é disponibilizado
gratuitamente apenas para os maiores de 65 anos de idade.
Exemplificando
Mas será que alguém tem coragem de agredir idosos? Sim, com mais
frequência do que imaginamos. Marques (2012) exemplifica as espécies
de agressões física ou moral mais comumente praticadas contra os
idosos, são estes: maus-tratos, violência sexual, abuso econômico,
abandono afetivo e material. O que o direito pode fazer para conter
isso? Além de a prática de um crime contra idoso ser tratada ora
como causa de aumento, ora como circunstância agravante, a própria
discriminação à população idosa também está prevista como um
crime em si, com base no art. 96 da Lei 10.741/03. Este tipo-penal
prevê reclusão de seis meses a um ano e multa.
Pesquise mais
A Constituição da República prevê o serviço social em favor do idoso,
para lhe garantir meios de subsistência e tratamento próprios para a
velhice. Nesse sentido, são direitos à cobertura por morte, invalidez,
acidentes de trabalho. E se o idoso não tiver contribuído com a
É preciso que todos se unam para que o idoso não sofra com a
ausência de um lar, de alimentação e tratamentos médicos adequados.
Tudo isso, conforme art. 230 da Constituição (BRASIL, 1988).
Reflita
Que os pais devem assistir a seus filhos, todos sabem disso, mas será
que os filhos também devem cuidar dos pais? Será que o direito pode
cobrar que um ser capaz também assista a outro igualmente capaz?
Você, enquanto filho, neto, sobrinho, sabe o que pode fazer pelos
seus pais, tios e avôs. Mas, o que o Estado pode fazer pelos idosos?
Conforme ressalta Prevelato (2015), os cuidados com o idoso são
inerentes ao desenvolvimento da nossa civilização. Não se trata,
portanto, de cuidados fúteis ou fazer com que se sintam apenas mais
jovens. É muito mais do que isso! Trata-se efetivamente de concretizar
políticas públicas de conscientização sobre a importância de todos
para uma sociedade que conviva pacificamente com as diferenças.
Reflita
Como, efetivamente, um idoso pode ser útil para a sociedade, tendo
ele perdido sua capacidade de trabalhar com o mesmo rendimento de
antes? Aliás, perdeu essa capacidade ou mudou a forma de trabalho?
Assimile
Lima e Xavier (2014) afirmam que o direito de proteção integral
é a forma projetada pelo Estado para efetivar direitos humanos
inerentes à condição do idoso, satisfazendo suas necessidades
que são diversas de um adulto. Se, por um lado, a criança e o
adolescente precisam de um apoio para o desenvolvimento de
suas capacidades, o idoso requer suporte para reduzir os efeitos
biológicos de envelhecimento.
Pesquise mais
Observe o detalhamento da Figura 1.4, para melhor entendimento:
Reflita
Mas antes de iniciarmos os primeiros esclarecimentos sobre igualdade
racial, façamos uma breve reflexão sobre a seguinte questão: é
adequado privilegiar uma raça em detrimento de outra para combater
justamente o racismo? A melhor forma de defender um grupo social
não seria neutralizar a discussão do racismo ao invés de segregar
alguns com vantagens que não são estendidas universalmente? Será
que medidas assim não alimentariam mais o ódio do que a tolerância?
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
a) Direito coletivo.
b) Direito difuso.
c) Direito de liberdade.
d) Direito à educação.
e) Direito à proteção integral.
Com base nas informações dadas, identifique a única opção correta dentre
as alternativas.
3. “Quem conta “piadas” que ultrapassam o limite do bom gosto, não raro,
diz ser adepto do politicamente incorreto. Como se isso fosse hype ou
Capacidade civil
Capacidade de Capacidade de
direito exercício
Incapacidade Incapacidade
Capacidade
absoluta relativa
toxicodependentes
Causas transitórias
ou permanentes
Pródigos
Rachel Solando: Mas, se eu lhe disser que não sou louca, isso não ajudaria muito,
não é? É uma ideia genial. Se as pessoas divulgarem a todos que uma pessoa é
louca, o fato de ela negar apenas confirma um dos estágios da loucura, que é a
negação. Assim, confirma a sua insanidade.
Dr. Marshall: Reação de autodefesa.
Fonte: adaptado de A Ilha do Medo (2010)
Pesquise mais
Agora, imagine se você fosse tachado de louco e jogado em um campo
de concentração. Sim, isso aconteceu aqui mesmo no Brasil, e sobre o
tema indicamos a leitura da obra:
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I – casar-se e constituir união estável;
II – exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a
informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Fonte: adaptado de Brasil (2015, [s.p.])
Atenção
O Estatuto da Pessoa com Deficiência modificou o art. 1768 do Código
Civil, que passou a consignar o termo ação de curatela, ao invés de
ação de interdição. Ocorre que, por um deslize do legislador, o Código
de Processo Civil também foi reformado no mesmo período. O novo
dispositivo ressuscitou o termo ação de interdição. E agora? Defende a
doutrina que o termo correto a ser utilizado seria ação de curatela e não
interdição. A interdição sugere uma limitação de direito (incompatível
com o modelo atual), enquanto a curatela, por sua vez, induz à ideia de
promoção de direitos, o que foi promovido pela Convenção de Nova
Iorque e pelo EPD.
• O prazo de duração.
Pesquise mais
O dispositivo que disciplina a tomada de decisão está previsto no
art. 1783-A (BRASIL, 2002). O legislador teve o cuidado de explicá-lo
minuciosamente. Leia o artigo na íntegra para se aprofundar no assunto.
Exemplificando
Durante a venda de um imóvel junto ao deficiente/interessado, os
apoiadores não precisam assinar o contrato junto ao apoiado, mas o
comprador poderá solicitar que aquelas pessoas nomeadas pelo juiz
descrevam sua participação e os limites de sua atuação em benefício
do deficiente. Tal medida tem o objetivo de garantir segurança jurídica
ao negócio pactuado.
Reflita
O autor Cesar Fiuza (2015) faz uma observação importante. Se o
deficiente considera que precisa de auxílio para tomar uma decisão, se
é ele quem define os limites da tomada de decisão e ainda pode pedir
o cancelamento dessa ajuda, seria realmente correto delegar para o
juiz a responsabilidade de decidir a questão? Ora, se o deficiente pode
pedir o término da decisão, por que impor a ele uma decisão judicial?
Assimile
Segundo o autor Daniel Henrique Rennó Kisteumascher (2015), boa-fé
objetiva são os deveres inerentes às partes em uma relação jurídica
material, os quais possibilitam o equilíbrio entre as funções de cada
uma para a realização do ato.
Pesquise mais
Você ficou curioso com outras hipóteses de acessibilidade? Não deixe
de pesquisar as demais alterações promovidas pela lei. Fica aqui uma
referência de conduta: Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.
br/geral/noticia/2015/06/entenda-os-principais-pontos-do-estatuto-
da-pessoa-com-deficiencia-4779470.html>. Acesso em: 22 nov. 2017.
O que fica de lição com essa nova lei? Não basta garantir
a igualdade formal de pessoas vulneráveis. É preciso instituir
instrumentos legais para garantir a efetividade de princípios
constitucionais abstratos, a fim de propiciar a verdadeira experiência
diária dos respectivos titulares de direitos. Isso é o que a garantia
secundária promove, e o papel do legislador é justamente este:
observar uma carência e incluir instrumentos que compensam
distorções de todas as ordens. Isso foi exatamente o que foi feito e,
por isso, esperamos mais!
Avançando na prática
Na saúde e na doença, declaro...
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
a) Proteção ao patrimônio.
b) Maior controle à pessoa com deficiência.
c) Limitação da vontade da pessoa com deficiência.
d) Aumento da autonomia da pessoa com deficiência.
e) Conceder maiores poderes para o curador.
Está(ão) correta(s):
E isso tudo é muito interessante! Sabe por quê? Pelo fato de que
desse movimento que se insurgia contra os costumes arcaicos que
determinavam com que as mulheres somente fossem as “senhoras
do lar” é que, hoje, todas as mulheres em nossa sociedade têm
a possibilidade de alçar os maiores voos: demonstrar toda sua
capacidade e competência no atual mundo global, contribuindo de
maneira relevante para o desenvolvimento social. E isso tudo foi a
porta de ingresso aos demais movimentos de luta pelo direito das
minorias, dos vulneráveis. Faz sentido, não é mesmo? E é muito
legal! Quer ver?
Vocabulário
O que significa transgênero? Conceituamos para você, caro aluno,
veja: indivíduo que se identifica com um gênero diferente daquele que
corresponde ao seu sexo atribuído no momento do nascimento.
Assimile
Atualmente, entende-se que gênero é definido como a percepção
que detém determinado grupo social acerca das assimetrias sexuais
que emanam dos corpos e das mentes dos seres humanos, não
necessariamente ligada à natureza biológica.
Reflita
Em nossa sociedade, temos diversas medidas, inclusive leis protetivas
do direito das mulheres. Muitas delas são fruto da luta do movimento
feminista. Tais medidas trazem em sua essência a diferenciação entre
o gênero feminino e masculino. Por que, então, tais medidas não são
consideradas discriminatórias, mas necessárias?
Assimile
Transgênero é aquele indivíduo que nasce com um sexo biológico,
homem ou mulher, mas o seu gênero não corresponde a ele. Ou seja,
o cidadão não se reconhece como sendo homem, caso tenha nascido
biologicamente homem, tampouco como mulher, se tenha nascido
mulher. Temos, também, como transgênero a pessoa que não se
identifica com nenhum dos gêneros, masculino ou feminino, e que, em
sua identidade de gênero, ora sente-se mulher, ora sente-se homem.
Exemplificando
Ao longo da biografia de Laerto Coutinho, nota-se que a artista negou
aquilo que cultivava em sua intimidade: sempre se reconheceu como
mulher, vindo a assumir o gênero feminino, independentemente da
sua orientação sexual, somente por volta de 2004. Laerte é, assim,
uma pessoa transgênero, compreendeu? Para ilustrar, veja mais em:
<http://ego.globo.com/famosos/noticia/2015/05/cartunista-laerte-
fala-de-sexualidade-e-comenta-transicao-de-bruce-jenner.html>.
Acesso em: 16 dez. 2017.
Ainda não é tudo. Temos que ter bem claros todos os elementos
de estudo que circundam o direito à convivência familiar, os direitos
humanos e conhecer como o Supremo Tribunal Federal vem
enfrentando situações que lhe são postas ao julgamento. Portanto,
mais do que nunca, isso não pode faltar. Vamos lá!
100 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
A decisão final do Supremo Tribunal foi no sentido de reconhecer
formas plurais de família, asseverando como fundamental para o
escorreito encaminhamento da sociedade em harmonia com
os ditames constitucionais, os quais, conforme aprendemos,
vedam toda discriminação, em especial aquela que acarrete, no
dizer do Ministro Relator Ayres Britto (STF, ADI 4277 e ADPF 132),
“desigualação jurídica”.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 101
gozam os homens. Foi internalizada no Brasil quando da edição do
Decreto nº 31.643, de 1952. Após, tivemos a Convenção sobre os
Direitos Políticos da Mulher, de 1953, que garantiu, entre outros, o
direito ao voto nas mesmas condições para mulheres e homens,
bem como a possibilidade de as mulheres se elegerem para todos
os organismos públicos em sufrágio. Também merecem destaque,
nesse estudo comparado, as Convenções da OIT, ratificadas pelo
Brasil no séc. XX, e que visavam à promoção de um ambiente de
trabalho que não discriminasse as mulheres por conta de seu gênero.
São documentos legais internacionais que foram internalizados pelo
Brasil e que buscam efetivamente resguardar a igualdade de gênero.
Todavia, um relevante exemplo de legislação de proteção de gênero
é a Lei nº 11.340/2006, a chamada Lei Maria da Penha, que carrega
em seu âmago o combate à violência doméstica de gênero. Já
fixou o STJ, no conflito de competência nº 88.027, que o sujeito
ativo pode ser, inclusive, mulher, ressaltando a ideia de igualdade
de gênero, desde que a vítima tenha relação de hipossuficiência e
vulnerabilidade e se reconheça como não homem.
Pesquise mais
Sobre a legislação protetiva, em especial no que diz respeito à Lei
nº 11.340, de 2006, Lei Maria da Penha, aportou recente decisão do
Juiz Titular da Comarca de São Gonçalo, no RJ, na Vara de violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos autos do processo tombado
em juízo sob o nº 0018790-25.2017.8.19.0004, que enfrentou, de
102 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
maneira dedicada, as questões envolvendo a igualdade de gênero,
liberdade sexual e proteção do sujeito hipossuficiente. Para visualizar
de maneira concreta o que viemos estudando, pesquise mais sobre
referida decisão no seguinte link: <http://emporiododireito.com.br/
leitura/juiz-concede-medidas-protetivas-para-transexual-internada-a-
forca-por-nao-aceitar-sexo-biologico>. Acesso em: 16 dez. 2017. Há
ainda importantes alterações que eclodiram recentemente nessa lei.
A principal delas diz respeito ao fato de poder a autoridade policial
conceder medidas protetivas, o que acaba trazendo uma polêmica
na doutrina especializada. Pesquise mais sobre essas alterações no
seguinte link: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/10/17/
alteracoes-em-curso-na-lei-maria-da-penha-prejudicam-mulheres/>.
Acesso em: 16 dez. 2017.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 103
Parecer jurídico
Do relatório:
É o relatório.
104 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
Estado laico. Logo, não pode o hospital rejeitar a realização de
um procedimento cirúrgico que não impende riscos ao paciente
e em nome de valores alegadamente cristãos. Portanto, não pode
o hospital tratar de maneira discriminatória o paciente, sendo, sim,
sua situação de fato e de direito merecedora de saúde, já que afeta
o sujeito em sua mais íntima dimensão. Não há, assim, qualquer
escusa do hospital em não realizar a cirurgia.
Local, data.
Advogado
OAB/XY
Avançando na prática
É João? É Maria? É pessoa!
Descrição da situação-problema
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 105
Resolução da situação-problema
106 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
2. A sexualidade é um dos elementos que devem ser levados em conta
pelo Estado quando este se manifesta para protegê-la, já que deriva
diretamente da natureza do ser humano. Significa dizer que o sujeito
somente goza de sua dignidade quando possui liberdade sexual plena.
3. Caio e João são um casal. Eles optaram por proceder à adoção de uma
criança, para, enfim, constituírem uma família feliz, invocando, para tanto,
o direito à família.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 107
Seção 2.3
O índio cidadão
Diálogo aberto
Muito bem-vindo à nossa última seção desta importante segunda
unidade! Saiba que temos trabalhado os conteúdos que são de vital
interesse para a construção de uma sociedade que se quer mais
justa, digna e pacífica. E é exatamente esse o nosso papel enquanto
estudantes da matéria. Por isso, querido aluno, por termos chegado
até aqui, você está de parabéns!
108 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
Hospital São Pedro, no Rio de Janeiro, aquele mesmo dirigido por
Rodolfo Rodrigues, e depois de muito esforço da equipe médica, os
profissionais conseguiram salvar a mãe e o filho.
Mas nem tudo são flores, já diria o poeta: a criança nasceu com
falta de oxigenação no cérebro, o que provocaria graves sequelas
para a vida inteira. Nessa situação, cientes de que a cultura indígena
permite o infanticídio de crianças que nascem com deficiência,
o hospital não pretende devolver o recém-nascido para a família
indígena, a qual, por sua vez, se revoltou com essa decisão. Já havia,
inclusive, uma família disposta a adotar. Quais direitos indígenas
devem ser protegidos e adequados em relação ao ordenamento
jurídico brasileiro? Esse é o principal questionamento que devemos
responder ao final da nossa seção. Na resolução da nossa situação-
problema, a Funai, diante da indignação dos indígenas em relação
ao comportamento do hospital, determinou que eles o procurassem
para saberem de seus direitos. Você deverá exarar parecer sobre a
questão, enquanto advogado expert na matéria.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 109
Qual lei deverá ser aplicada neste caso: Lei da Pessoa Deficiente ou
o Estatuto do Índio? Redija um relatório em que explica a solução.
110 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
Agora, você deve se perguntar: ok, o índio, hipossuficiente,
vulnerável, possui proteção constitucional, devendo ter sua cultura,
seus costumes e suas terras preservados. Ora, mas não basta essa
previsão abstrata. E aí, como efetivamente proteger esse grupo
socialmente desamparado? Exatamente, meu amigo. Devemos
fomentar a implementação de políticas públicas que tragam eficácia
a essa proteção formal, garantindo sua inclusão social. Em outras
palavras, essa inclusão passa necessariamente pela adoção de
práticas governamentais e sociais que tragam o índio à cidadania, à
participação social efetiva, enfim, que lhe permitam o gozo de uma
vida social que ao mesmo tempo lhe preserve a cultura, mas que
também lhe permita participar de maneira ativa em sua construção
(da sociedade).
Exemplificando
Um belo exemplo de adoção de medidas inclusivas buscando garantir
o índio enquanto cidadão são as cotas nas universidades públicas
brasileiras. As políticas públicas de cotas de ingresso ao ensino superior
são efetivamente um exemplo da tão importante inclusão social do
indígena. São as chamadas ações afirmativas, que proporcionam ao
índio, enquanto um ser humano socialmente excluído do universo
acadêmico no cenário brasileiro, uma possibilidade, ainda que paliativa,
de reparar os prejuízos decorrentes de séculos de abandono social.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 111
os indígenas, independentemente de se o sujeito já sofreu algum
tipo de aculturação ou de inserção aos costumes cultuados pela
sociedade não indígena. Basta que o sujeito se sinta e se entenda
como índio, que é guarnecido pela proteção constitucional.
Pesquise mais
O julgamento em análise fora televisionado, como de praxe. Acontece
que é um interessante exercício assisti-lo. Ele pode ser encontrado em
diversos links, na página oficial do STF, no YouTube. Pesquise mais
a partir do primeiro link. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=B6kWgruDdSk>. Acesso em: 15 nov. 2017.
Assimile
E a que isso se deve? Mais uma vez, justamente pela dívida histórica
de opressão aos costumes e à vida indígena que perpassou ao longo
dos anos no Brasil. Então, podemos definir de maneira simples que o
indígena é aquele sujeito que se reconhece como índio e que sofre de
uma vulnerabilidade social e cultural forte em relação à sociedade não
indígena. E é exatamente essa a razão pela qual merece a inclusão social.
Mas não é só, querido aluno. Não basta que o indígena seja
incluído socialmente. Ele deve efetivamente ter participação social.
Isso parece familiar a você? Exatamente, meu caro: estamos já
no nosso segundo tópico da matéria. Vamos, então, aprender a
necessidade de se garantir a participação social do índio.
112 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
Um real exercício de cidadania pressupõe uma real participação
social. Por isso, o indígena conta, além da proteção constitucional,
com a Fundação Nacional do Índio (Funai), que visa justamente
promover essa participação. É o chamado “órgão coordenador
da política indigenista”, responsável por catapultar uma efetiva
representatividade do índio na sociedade. Consoante podemos ver
em seu próprio site, a Funai “[...] apoia o processo de participação
dos povos indígenas com o objetivo de possibilitar a discussão dos
seus direitos e garantias, como medidas de intervenção, de forma
a impactar na realidade local nas comunidades indígenas, alterando
e qualificando políticas públicas relacionadas a povos indígenas”
(FUNAI, 2017, [s.p.])
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 113
Reflita
Imagine que Sepé Tiaraju, um descendente indígena homônimo do
grande herói das guerras guaraníticas ocorridas entre 1750 e 1756, na
atual região das Missões, Rio Grande do Sul, e que ainda cultua seus
costumes com firme devoção, passa a, em nome de uma mais eficaz
participação social indígena, trabalhar junto à Funai, em apoio. Para tanto,
passa a perceber remuneração, com CTPS devidamente registrada.
Passado o tempo de contribuição, tendo adimplido com todas as suas
obrigações, e defendendo os interesses de seu povo acima de tudo,
ciente de que, na cultura indígena, não há o instituto da aposentadoria.
Poderia Sepé Tiaraju aposentar-se? Teria ele esse direito social?
114 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
respeitar enquanto sujeitos de direitos, já que todos nós (eu, você e a
comunidade) outorgamos esse poder de regência social.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 115
XI, que diz que cabe à mesma Justiça Federal julgar a disputa sobre
direitos indígenas, o que remete diretamente ao comando do artigo
231, da CF, que define esses direitos indígenas.
116 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
Pesquise mais
Também é muito importante que saibamos que o respeito à cultura
indígena às vezes, se choca com valores que, na cultura não indígena,
são muito caros. Claro exemplo é o infanticídio, visto como um
gesto de amor pelo índio, e como desrespeito à vida pelo não índio.
Como fica a questão? Pesquise mais nesta elucidativa reportagem
do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão. Disponível em:
<http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/12/tradicao-indigena-
faz-pais-tirarem-vida-de-crianca-com-deficiencia-fisica.html>. Acesso
em: 15 nov. 2017.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 117
Atenção
E quando o índio isolado realiza um negócio jurídico com um cidadão
estranho à tribo, ou seja, uma transação de compra e venda, aluguel,
o que o Estatuto do Índio nos orienta? A lei diz que, inexistindo a
participação de órgãos tutelares competentes:
118 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
Exemplificando
Suponhamos que um fazendeiro adquira um terreno que futuramente
seja declarado como reserva indígena. Posteriormente, o Estado deverá
desapropriar e indenizar o proprietário. O direito de propriedade do
fazendeiro foi atingido, mas não foi anulado, já que ele poderá adquirir
outras áreas com o mesmo valor.
Reflita
E se o conflito envolvesse a vida de um índio e o direito de preservação
da cultura, qual dos dois deveria prevalecer? Será que a vida de uma
pessoa morta tem volta? Pergunta meramente retórica, caro aluno!
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 119
Então, Ipojucan Tapajós e Potira tiveram seu filho sob os
cuidados do Hospital São Pedro, no Rio de Janeiro. Acontece que,
em decorrência de complicações no parto, o nascituro nasceu
com graves sequelas, as quais são incontornáveis. Sabedor de que a
cultura da tribo Tapajós determina o sacrifício da criança enquanto
prova de amor, mas acreditando fazer um bem maior, qual seja o
respeito à vida humana, o hospital não entregou o recém-nascido aos
pais. Os indígenas, revoltados, foram encaminhados, por intermédio
da Funai, ao seu escritório para saber quais são seus direitos. Agora,
lhe cabe a confecção de um parecer sobre a situação fática-jurídica
que se apresenta.
PARECER JURÍDICO
Do relatório:
Do parecer técnico:
120 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
importa. Assim, temos o conflito entre dois bens jurídicos bem
definidos: o direito à vida humana e o direito à própria cultura. E nesse
confronto pontual, em que pese o comando específico do art. 231,
da CF, nos parece claro que o direito à vida deve prevalecer. Portanto,
o infanticídio cometido alegadamente em nome do amor, ainda que
algo inerente à cultura da tribo Tapajós, não pode ser respeitado, pois o
direito à vida é proeminente. Ainda, vale lembrar, a título de ilustração,
que tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 1057/2007,
que se encontra aguardando apreciação do Senado Federal, que traz
a seguinte ementa: “Dispõe sobre o combate a práticas tradicionais
nocivas e à proteção dos direitos fundamentais de crianças indígenas,
bem como pertencentes a outras sociedades ditas não tradicionais”;
a seguinte explicação: “Projeto de Lei conhecido como 'Lei Muwaji',
em homenagem a uma mãe da tribo dos suruwahas, que se rebelou
contra a tradição de sua tribo e salvou a vida da filha, que seria morta
por ter nascido deficiente”.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 121
condições para que o indígena tenha permissão legal para efetuar
transações de qualquer gênero com as pessoas não integrantes de
tribos. Consequentemente, a Lei nº 6001/73 ainda dispõe que os
negócios realizados pelo índio são nulos porque não geram efeito
legal. Assim, por mais que as partes tenham anuído com a troca,
o fazendeiro não poderia ter proposto esse negócio, já que uma
das partes era incapaz e não estava assistido por um órgão tutelar
competente. Portanto, tanto a espingarda quanto a lancha deverão
ser devolvidas para os seus antigos proprietários, conforme dispõe
o art. 8º, da Lei nº 6001/73.
Avançando na prática
Índio mata índio: e agora, quem poderá julgar?
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
122 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
ao manusear o processo, percebeu que não incumbe à sua unidade
jurisdicional receber a denúncia em tela. Portanto, você deve
despachar suscitando, de ofício, conflito de competência.
Cumpra-se.
Diligências legais
Data, Local
Juiz Federal
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 123
a) É importante essa proteção constitucional no sentido de se preservar a
autodeterminação do povo indígena. Autodeterminação é a capacidade
de participar democraticamente da construção da sociedade.
b) É importante essa proteção constitucional no sentido de se preservar a
autodeterminação do povo indígena. Autodeterminação é a capacidade
de poder se comportar como bem entender.
c) Não é importante essa proteção constitucional no sentido de se preservar
a autodeterminação do povo indígena. Autodeterminação é, portanto, um
conceito que desinteressa ao estudioso do Direito.
d) É inconstitucional essa proteção, eis que trata o índio como desigual.
Por isso, acarreta o desrespeito à autodeterminação da sociedade branca
e amarela.
e) É importante essa proteção constitucional no sentido de se preservar a
autodeterminação do povo indígena. Autodeterminação é a incapacidade
de participar democraticamente da construção da sociedade, já que o
índio não possui consciência para assim agir.
2. O índio deve ser visto sob a túnica do “índio cidadão”. Acontece que,
para assim construirmos uma sociedade que o contempla como tal, é
imprescindível conhecer o conceito de cidadania, o que pode até parecer,
mas não é nada simples.
124 U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena
constituinte em definir algumas competências jurisdicionais específicas no
que concerne aos direitos dos índios. Considere que houve uma disputa
entre uma multinacional exploradora de celulose, que buscava plantar
eucalipto em uma localidade que se configura como terras indígenas, e a
tribo, que se insurgia contra essa medida.
U2 - Da inclusão social da pessoa com deficiência, igualdade de gênero e a questão indígena 125
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1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
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WITTMANN, Luísa Tombini (Org.). Ensino d(e) história indígena. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2015.
Unidade 3
Convite ao estudo
Olá, querido aluno! Vamos dar início a mais uma unidade do
nosso estudo sobre Direito, Proteção e Inclusão Social. Nesta
unidade que iniciamos agora vamos falar sobre os direitos,
garantias, medidas protetivas e outros aspectos relativos à
criança e ao adolescente. Nosso conteúdo é interdisciplinar,
vamos passear pelo Direito Constitucional, pelo Direito Civil,
Penal e Processual.
Assimile
Quando se fala em proteção integral, refere-se àquela que abrange
todas as necessidades de um ser humano para o pleno desenvolvimento
de sua personalidade. Assim sendo, de acordo com o princípio da
proteção integral, a todas as crianças e aos adolescentes devem ser
prestadas a assistência material, moral e jurídica (ELIAS, 2010).
Assimile
De acordo com o art. 2º do Estatuto da Crianças e do Adolescente (Lei
8.069/90), consideram-se crianças as pessoas com idade inferior a 12
anos. Já os adolescentes são indivíduos com idade entre 12 a 18 anos.
Pesquise mais
Sobre o assunto, o STJ já teve a oportunidade de se manifestar sobre
a legalidade do ato de estabelecimento que proibiu a entrada de
menor acompanhado dos pais em espetáculo de teatro considerado
impróprio para a idade. Veja na íntegra alguns acórdãos proferidos pelo
STJ e os argumentos utilizados, é uma discussão muito interessante!
Reflita
Tendo em vista o direito à convivência familiar, os pais estão obrigados
a dar afeto aos filhos menores? Como fica essa questão?
Avançando na prática
“Laranjinha” e os cinco irmãos
Descrição da situação-problema
Renato, mais conhecido como “Laranjinha”, é um menino de
oito anos de idade que reside com sua mãe e mais cinco irmãos
em um bairro muito pobre na cidade de São Paulo. “Laranjinha” é
um menino doce e muito esperto, mas em razão das condições
familiares teve que deixar de estudar para trabalhar, vendendo balas
nos semáforos da cidade.
A mãe do menino, Rosilene, é uma jovem moça castigada pela
vida e que, não vendo mais perspectivas em um futuro melhor,
acabou se entregando para o vício das drogas. Rosilene é usuária
e dependente de craque. Pelo uso contínuo do entorpecente, a
mãe deixou de cuidar de “Laranjinha”, filho mais velho, e dos outros
menores. As crianças estão vivendo em situação precária, sem
alimento, sem estudo e sem uma moradia digna, seu único sustento
vem das balas que “Laranjinha” vende.
Diante dessa situação, o que pode ser feito para garantir os direitos
dos menores, filhos de Rosilene? Que tipo de ajuda “Laranjinha”
pode buscar para si e seus irmãos?
Resolução da situação-problema
O art. 19 do ECA institui expressamente o direito da criança e
do adolescente de ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes.
O dispositivo legal trata como prioridade a manutenção da
Assimile
Em resumo, a política de atendimento à criança e ao adolescente
é desenvolvida por todos os entes federativos: União, Estados e
Munícipios. Compete à União a coordenação e a elaboração de normas
gerais, já a coordenação e a execução dos respectivos programas
competem aos Estados e Municípios, bem como a entidades
beneficentes e de assistência social. A população também poderá
atuar, por meio de organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis.
Pesquise mais
Aluno, em razão da nossa limitação de espaço, focamos aqui nos
aspectos mais relevantes da política de atendimento à criança e ao
adolescente. Entretanto, você não deve deixar de lado a leitura da letra
da Lei para assimilar melhor o conteúdo, até mesmo porque evitamos
aqui transcrever os dispositivos legais. Para que você complemente o
seu conhecimento acerca das diretrizes da política de atendimento à
criança e ao adolescente, das suas linhas de ação e seu funcionamento,
leia o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) do art. 86
ao 97. Você deve buscar também ler os respectivos dispositivos em sua
Assimile
As medidas protetivas nada mais são do que providências que visam
salvaguardar qualquer criança e adolescente cujos direitos tenham sido
violados ou estejam ameaçados de violação (MACIEL, 2015, p. 723).
Reflita
Será que o Conselho Tutelar poderia destituir o poder familiar em
decorrência de uma situação de perigo provocada pelos pais em
relação aos seus filhos devido ao vício em substâncias psicoativas?
Essa questão da competência do Conselho Tutelar é assunto para
outra seção, tudo bem? Por enquanto, reflita sobre a gravidade
dessa medida e qual seria o órgão mais adequado para restringir
esse direito constitucional.
Portanto, aluno, tendo em vista que o rol do art. 101 do ECA não
é um rol taxativo, e é, ainda, cumulativo, além do tratamento médico
Avançando na prática
Bibi Irreverente
Descrição da situação-problema
Bianca, ou Bibi, como é conhecida na comunidade em que mora,
é uma menina linda e sempre muito alegre, desde criança. Sempre
apresentou um comportamento irreverente, gostando de quebrar
regras. Quando criança, era muito sapeca, e vivia dando muitos sustos
em seus pais, Leonor e Luís, um jovem casal que, por trabalhar o dia
todo fora de casa, passava pouco tempo com a menina, que ficava
na casa de vizinhos e amigos a maior parte do tempo.
Bibi cresceu e completou 15 anos. O seu comportamento
irreverente só piorou e Bibi, que já se acha adulta, começou a
frequentar festas na comunidade. Ocorre que essas festas são
proibidas para menores de 18 anos, mas Bibi não se importa, ela gosta
mesmo de transgredir as regras.
Certo dia, em uma das festas houve uma batida do Conselho
Tutelar, e Bibi foi descoberta. Pediram a sua identidade e viram que
ela ainda era menor de idade, logo não devia estar naquele ambiente
sabidamente restrito.
Diante dessa situação, como deverá agir o Conselho Tutelar?
Quais medidas devem ser adotadas?
Resolução da situação-problema
O Conselho Tutelar, a fim de proteger os direitos de Bibi, ao
encontrá-la frequentando ambientes proibidos para a sua faixa etária,
deve proceder o seu encaminhamento aos pais ou responsável,
mediante termo de responsabilidade. Ao analisar o histórico do
seu comportamento e relação familiar, deve também, de forma
complementar, proceder a orientação, apoio e acompanhamento
temporário do menor e da família, com o objetivo de adequar o
Assimile
Dessa forma, o ato infracional é análogo ao crime, mas não pode ser
definido como tal, eis que seus autores são inimputáveis.
Exemplificando
O art. 157 do Código Penal (BRASIL, 1940) descreve a conduta do
roubo, da seguinte forma: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”.
E, para quem praticar tal conduta, a aplicação da pena de reclusão de
4 a 10 anos e multa.
Imagine que um jovem, prestes a completar dezoito anos pratica
exatamente a conduta descrita no art. 157. Isto é plenamente possível,
sabemos. Entretanto, apesar de tal conduta, sua respectiva penalidade
está prevista no Código Penal, o fato não será considerado como
crime, porque foi cometido por um inimputável, logo será um ato
infracional, merecendo o tratamento da legislação especial.
Agora imagine que a mesma conduta, exatamente a mesma, é praticada
por um jovem que recém-completou 18 anos, aí sim, estaremos diante
de um crime, pois este jovem é penalmente imputável, devendo
responder por seus atos na forma da legislação geral.
Assimile
A criança jamais poderá ser colocada em situação de privação de
liberdade, em nenhuma hipótese. O adolescente também não deve
ser privado da sua liberdade, salvo nas hipóteses de flagrante ato
infracional ou mediante ordem escrita e fundamentada de autoridade
judicial, conforme prevê o art. 106 do ECA.
Pesquise mais
Aluno, para aprofundar seus conhecimentos sobre as medidas
socioeducativas é importante que você saiba como funciona o Sinase,
por isso recomendamos a leitura da Lei 12.594/12.
Pesquise mais
Aluno, existe uma interessante discussão sobre a aplicação da
internação provisória quando da incidência dos incisos I e II do art. 122
do ECA. A jurisprudência não é uniforme no tratamento do assunto, é
bom que você tenha conhecimento de posicionamentos antagônicos!
Avançando na prática
O explosivo Mariano
Descrição da situação-problema
Mariano, desde muito novo, apresentava desvios no seu
comportamento. Durante a infância foi expulso de diversas escolas
por agredir seus coleguinhas, física e verbalmente. Seus pais fizeram
de tudo para tentar melhorar seu comportamento, proporcionando-
lhe o melhor estudo, tratamentos médicos e psicológicos. Mas de
nada adiantou, a personalidade violenta de Mariano só piorou.
Após completar 15 anos, Mariano se envolveu em uma calorosa
discussão com um colega. Enfurecido, Mariano partiu para a
agressão física e esmurrou o colega até ele perder os sentidos, e
poucos dias depois veio a óbito.
A família de Mariano, muito preocupada com as consequências
da conduta do menor, lhe procura, como advogado, para esclarecer
Resolução da situação-problema
São considerados inimputáveis os menores de 0 a 18 anos
incompletos. A apuração dessa condição sempre deve levar em
conta a idade do menor no momento em que praticou o ato ilícito,
independente do momento em que será punido. No caso narrado,
como Mariano possui 15 anos de idade, considerado pela lei
como adolescente, está acobertado pela legislação especial, mais
precisamente o ECA. Logo, Mariano, ao matar o seu colega, não
cometeu um crime, mas sim um ato infracional grave e receberá a
devida resposta do Estado.
Levando em consideração a idade do menor e a gravidade do ato
praticado, deverá ser aplicada uma medida socioeducativa, a critério
do juiz da Vara da Infância e Juventude que irá analisar o caso.
A escolha da medida a ser aplicada deverá observar todos os
requisitos legais e os direitos fundamentais do menor. As medidas
restritivas de liberdade, considerando que Mariano é maior de
12 anos, poderão ser excepcionalmente aplicadas, desde que
observado o devido processo legal. Se necessário, ele poderá ser
colocado em um regime de liberdade assistida, no qual receberá
o acompanhamento, auxílio e orientação de uma pessoa com
idoneidade moral e capacidade técnica para tanto, a qual será
designada pelo juiz para referida tarefa, ou inserido em regime
de semiliberdade se considerado necessário sob o ponto de vista
pedagógico, ou, em caso extremo, poderá ser internado em
estabelecimento educacional, se observadas as hipóteses previstas
no art. 122 do ECA.
Convite ao estudo
Olá, querido aluno! Seja bem-vindo a mais uma unidade.
Bom trabalho!
Seção 4.1
Direitos fundamentais da criança e do adolescente
– Parte IV
Diálogo aberto
Muito bem, aluno! Pronto para mais uma seção? Vai ser legal,
lhe garanto!
Nessa primeira seção da última unidade, vamos conhecer
quais as garantias processuais (isto é, aqueles direitos que devem
ser observados no curso de um processo) assistem os menores.
Essas garantias são muito importantes, adianto a você, sem elas,
o processo (ou um ato específico) pode ser anulado, sabia?
Sobretudo, naqueles processos que tratam da apuração de ato
infracional com a cominação de medida socioeducativa restritiva
da liberdade. Por isso, o conhecimento dessas garantias é essencial
para a sua formação profissional, aluno; então, vamos aprendê-las.
Vamos conhecer também a estrutura, a formação e a competência
do famoso Conselho Tutelar, o qual já falamos aqui tantas vezes.
Agora você vai conseguir compreender para que ele realmente
serve. Vamos começar, então?
Mas antes, vamos conhecer a nossa situação-problema, lembrando
que ao final você terá que encontrar a solução para ela, ok? Estamos
falando de Maurício, filho de Ricardo Bragança de Sá, um rico
comerciante que vive na cidade de Salvador, Bahia. Pai viúvo que criou
sozinho seus filhos, Maurício Bragança de Sá e Renata Bragança de
Sá, já que a mãe das crianças faleceu precocemente. Ao observar o
sofrimento do caçula, Ricardo mimou o menino, acreditando que
estava apenas garantindo a sua proteção. Com 15 anos de idade,
Maurício foi pego com uma organização que praticava ato análogo
ao tráfico internacional de substâncias entorpecentes sintéticas,
existindo também a acusação da prática de ato análogo ao porte
de armas de fogo, bem como acusações de homicídios (análogos)
na região, alguns desses atos cometidos há mais de três anos atrás.
Foi apreendido pela polícia e encaminhado para a Vara da Infância e
Juventude da comarca, onde também se encontravam o delegado, o
Assimile
No âmbito das garantias do processo, o devido processo legal assume
uma amplitude inigualável e um significado ímpar como postulado
que traduz uma série de garantias hoje devidamente especificadas e
especializadas nas várias ordens jurídicas. Assim, cogita-se de devido
processo legal quando se fala de (1) direito ao contraditório e à ampla
defesa, de (2) direito ao juiz natural, de (3) direito a não ser processado
e condenado com base em prova ilícita, de (4) direito a não ser preso,
senão por determinação da autoridade competente e na forma
estabelecida pela ordem jurídica. (Grifo nosso) MENDES, Gilmar
Ferreira; BRANCO, Paulo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 11
ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 565.
Exemplificando
Reflita
Por ser autônomo, os atos praticados pelo Conselho Tutelar se
submetem à apreciação de legalidade pelo Poder Judiciário?
Pesquise mais
Aluno, a questão da comprovação da idoneidade moral
do conselheiro Tutelar é um tema que levanta diversos
questionamentos, uma vez que o legislador não estabeleceu
critérios específicos para a sua aferição. Sobre o tema, Kátia
Andrade Maciel traz interessantes apontamentos, inclusive com
indicação de decisões de jurisprudências acerca do assunto. Por
isso, recomendamos que você leia as páginas 547 a 550 da obra
Curso de Direito da Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e
práticos, de sua autoria. (MACIEL, Kátia Andrade. Curso de Direito
da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 3. ed.
São Paulo: Saraiva, 2015)
Avançando na prática
A forma garante legitimidade
Descrição da situação-problema
Juninho foi abandonado por seus pais ainda criança. Foi criado
no morro do Alemão, por uma tia, irmã do seu pai. Desde criança,
Resolução da situação-problema
A regressão da medida socioeducativa pode ocorrer, entretanto,
para isso, o menor deve ser obrigatoriamente ouvido. Essa
obrigatoriedade decorre da garantia processual que lhe assegura o
direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente.
Nesse sentido, a jurisprudência do STJ já foi inclusive consolidada
através da Súmula 265, que diz expressamente que é necessária
a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da
medida socioeducativa. Portanto, o juiz não observou uma
garantia processual, o que acarreta nulidade ao processo.
Juninho, só poderia passar do regime de semiliberdade para o
regime de internação após a sua oitiva perante as autoridades
competentes, sem isso, o seu direito de defesa, a igualdade
processual, a capacidade de produzir provas ficam prejudicadas, o
que acarreta uma desobediência do devido processo legal.
a) O fato de ser um órgão permanente, significa que uma vez criado não
será extinto, apenas renovados os membros que o compõem.
b) A autonomia do Conselho Tutelar é apenas orçamentária, todas as suas
decisões dependem da aprovação do Poder Executivo Municipal ao qual
está vinculado.
c) O Conselho Tutelar, apesar de não ser um órgão jurisdicional, tem poder
para decidir em definitivo conflito envolvendo os direitos fundamentais
das crianças e adolescentes.
Assimile
O procedimento de apuração do ato infracional possui um rito próprio,
diferente do rito processual penal comum, disciplinado pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente. Ele se divide em três fases: fase policial,
fase de atuação do Ministério Público pré-processual e a fase judicial.
Reflita
O legislador se utilizou da palavra informal ao tratar da oitiva a ser
realizada pelo Ministério Público. Muito bem, aluno, isso significa dizer
que essa oitiva é facultativa, certo? Sendo assim, caso não haja a oitiva
do menor antes das providências a serem adotadas pelo Ministério
Público haveria a violação das garantias processuais que aprendemos
na seção anterior? Reflita!
Atenção
É imperioso ressaltar que as normas do processo penal se aplicam ao
procedimento especial do ECA apenas subsidiariamente e naquilo que
não lhes forem contrárias (Art. 152, ECA).
Exemplificando
Por exemplo, no processo penal, o Ministério Público nos casos de
ação de iniciativa pública incondicionada, verificada a materialidade
do fato e havendo prova suficiente da autoria é obrigado a oferecer
denúncia, o que já não ocorre no procedimento de apuração de ato
infracional, em que o órgão ministerial conta com uma prerrogativa
de avaliar, levando em consideração o interesse social, qual o melhor
caminho a ser adotado para a ressocialização do menor, podendo
concluir pelo arquivamento ou remissão do procedimento, ainda
3. Fase judicial
A fase judicial se inicia após o encaminhamento da representação
feita pelo Ministério Público, caso opte por ela. Nos demais casos,
de arquivamento e remissão, a atuação judicial será referente à
homologação da decisão do MP, ou, em não concordando com ela,
ao encaminhamento dos autos ao procurador-geral de Justiça.
Uma vez proposta a representação, cabe ao juiz analisar se ela
preenche os requisitos do art. 182, § 1º do ECA, bem como se a
conduta descrita corresponde a um ato infracional e se foi cometida
por adolescente. Quando verificar o não preenchimento dos
requisitos, de acordo com o entendimento jurisprudencial, o juiz
poderá rejeitar a petição, extinguindo o processo sem resolução de
mérito. Preenchidos todos os requisitos e recebida a representação, o
juiz dará início a chamada ação socioeducativa. Se na representação
houve pedido de internação provisória, o juiz decidirá sobre ele
e designará data para realização da audiência de apresentação do
menor, dando a devida ciência de tudo aos pais ou responsável (Art.
184 do ECA). Aqui aluno, necessário lembrar da garantia processual da
obrigatoriedade de defesa técnica do menor, assim, o menor deverá
estar acompanhado de advogado na audiência designada pelo juiz
e caso não esteja, caberá ao juiz a nomeação de defensor público
para representá-lo e a designação de nova data de audiência para
que o menor compareça devidamente representado por profissional
habilitado para fazer a sua defesa técnica.
Caso os pais ou responsável do menor não sejam localizados, ou
quando houver qualquer conflito de interesses entre eles e o menor,
o juiz deverá nomear um curador especial. No caso do próprio
adolescente não ser localizado, o juiz poderá expedir mandado
de busca e apreensão e suspender o feito até que o menor seja
Atenção
A desistência de produção probatória não é admitida quando a prova
se resumir à confissão do adolescente, conforme entendimento
da Súmula 342 do STJ (Súmula 342, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/06/2007, DJ 13/08/2007 p. 581), ou seja, quando a única prova
da autoria do ato for a confissão do adolescente, as partes não
poderão desistir de outros meios probatórios, sobretudo o advogado
responsável pela defesa do menor, sob pena de desrespeito às
garantias processuais.
Pesquise mais
Aluno, percorremos com eficiência todo o caminho do procedimento
de apuração do ato infracional. Entretanto, é indispensável que você
Avançando na prática
O jovem promissor: um infrator ou uma vítima?
Descrição da situação-problema
Zequinha é um adolescente de 13 anos que possui um futuro
muito promissor. Compõe as categorias de base do time de futebol
Oriximingau Futebol Esporte, um clube patrocinado por uma
indústria alimentícia, com especial aporte na produção leiteira.
Ele vive em São José de Ribamar, uma cidade situada na região
metropolitana de São Luís, no Maranhão.
Em uma das incursões de sua equipe, para a disputa de um
campeonato sub-14 anos, em uma competição que ocorreria em
São Paulo, capital, Zequinha, chegando lá, ficou deslumbrado,
nunca havia visto algo tão grandioso.
Houve a estreia, e Zequinha foi o grande destaque: marcou três
Resolução da situação-problema
Bem, antes de mais nada, você, enquanto representante do
Ministério Público, deve verificar da legalidade do procedimento,
desde a fase policial. Estando o rito devidamente obedecido,
apresentado o menor com o auto de apreensão, você deverá
definir se manifesta pelo arquivamento dos autos, pela concessão
da remissão ou pela representação para a aplicação de medida
socioeducativa dirigida ao Juiz, conforme o teor do art. 180 do
ECA. No caso, verificando que não houve prejuízo, que o menor se
arrependeu, confessou e devolveu o bem subtraído que ficou por
pouco tempo fora do patrimônio de Jonelsom, seria mais razoável
propor o arquivamento ou, no máximo, a remissão, a critério do
promotor de Justiça, pela notada insignificância da conduta. Essa,
aluno, seria a solução a ser dada ao caso de Zequinha.
Veja bem, são situações como essas que serão apresentadas a
você na vida prática. Por isso, devemos desde já resolvê-las, para
que tenhamos sucesso em nossa caminhada.
Pesquise mais
O Código de Processo Civil de 2015 trata dos recursos no Título II. Os
artigos 994 ao 1.008 traz as disposições gerais, na sequência, aborda
especificamente cada recurso, suas hipóteses de cabimento, prazo,
requisitos formais etc. Para um conhecimento geral sobre o sistema
recursal, sugerimos a leitura do referido Título II, da Lei nº 13. 105/15
(Novo Código de Processo Civil).
Assimile
Aos procedimentos ligados à Justiça da Infância e Juventude e a fase
recursal do procedimento especial de apuração do ato infracional
aplicam-se as regras gerais do Código de Processo Civil, com as
devidas adaptações previstas no art. 198 do ECA.
Atenção
Nesse particular, não serão aplicadas as normas do Código de Processo
Civil, como aprendemos anteriormente, ok? Não confunda.
Reflita
Aluno, em que pese se tratar de uma infração administrativa, vimos que
o legislador atribui à Justiça da Infância e Juventude a competência
para a aplicação da penalidade correspondente. Diante disso, convém
refletir: a natureza do procedimento para a apuração de infração
administrativa cometida contra menor é jurisdicional ou administrativa?
PARECER nº xxxxxx
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
Local, data
Assinatura.
Avançando na prática
A vaidosa Juliana
Descrição da situação-problema
Juliana é uma adolescente bela e vaidosa de apenas 13
anos de idade. Juliana foi apreendida em flagrante por policial,
enquanto furtava uma grande quantidade de produtos de beleza
de uma farmácia. Diante do flagrante, o policial conduziu Juliana
imediatamente ao centro de atendimento socioeducativo do
município para a sua internação.
Juliana permaneceu na entidade por 15 dias, até sua mãe descobrir
o ocorrido e ir atrás da filha. A mãe de Juliana, indignada com a
situação, procurou o Conselho Tutelar.
Você, como membro do Conselho Tutelar, precisa orientá-
la e esclarecer o que pode ser feito para ajudar Juliana e se a sua
apreensão está correta.
Resolução da situação-problema
De acordo com o art. 231 do ECA, se a autoridade policial
responsável pela apreensão de criança ou adolescente deixar de
fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e
3. A criança não pode, sob qualquer hipótese, ser privada de sua liberdade.
O adolescente, por sua vez, pode ser privado de liberdade, desde que
respeitadas todas as formalidades legais. Acontece que nem sempre isso é
respeitado. Assim, tendo em conta a necessidade de especial proteção da
criança e do adolescente, o legislador previu algumas situações.