TCC Final
TCC Final
TCC Final
FORTALEZA, CE
2019.2
GABRIELLA RODRIGUES DE OLIVEIRA PINTO
RESI-LAR
CONJUNTO DE CASAS-LARES PÚBLICO:
UMA SOLUÇÃO EM PROJETO ARQUITETÔNICO PARA CRIANÇAS DESAMPARADAS POR UMA SOCIEDADE
DESIGUALITÁRIA, ESPAÇO DE CRESCIMENTO INTEGRADOR E ACOLHEDOR
Relatório final, apresentado à Universidade de Fortaleza-UNIFOR, como parte das exigências para a
obtenção do título de Casa-lar instituição para crianças.
Orientadora: Prof. Dr. Lia Costa Mamede
Fortaleza
2019.2
AGRADECIMENTOS
A vida é feita de ciclos que começam e terminam para dá espaço a novos planos, sonhos e vivências. Mais um desses
ciclos se conclui, a tão sonhada graduação está chegando. Uma caminhada que se iniciou em 2015, 5 anos e meio depois,
sou grata a todos os momentos e pessoas que passaram e fizeram parte de tudo isso.
Agradecer a minha família que em especial vivenciou esse período de graduação e de conclusão de curso. Estiveram
comigo desde dos dias que chegava em casa exausta e eles tinham que lidar com a falta de humor e minhas reclamações,
até nos dias que chegava radiante com alguma notícia boa. Ao meu pai, Cláudio por ter muitas vezes ter perdido um pouco
da sua hora de descanso, após um dia de trabalho para revisar o tópico que tinha escrito e por ajudar a pesquisar artigos
as quais eu não encontrava, só ele. A minha mãe, Sivanda que me influenciou e tanto para a escolha do meu curso, com
suas palavras encorajadoras. A minha irmã, Daniella que passou boas noites ao meu lado, por ter sido colo de calmaria e
ouvidos quando estava aflita e que sempre vai me escutar, eu sei disso. Ao meu irmão, Raphael que mesmo de longe,
perguntava como estava o andamento de todo o processo. Amo vocês.
Agradecer às lindas amizades que construí ao longo da graduação em especial, a Rafaela e a Sofia que deixaram essa
jornada que foi cansativa, mas de uma forma muito leve. Nos altos e baixos, nos dias de luta e nos dias de glória. Obrigada,
por cada momento e conhecimento compartilhado. Não posso dizer que foi fácil esses cinco anos, mas com vocês tudo foi
mais sútil.
Quero agradecer a minha orientadora Lia Mamede, por ter escolhido e abraçado esse convite com tanta dedicação e
eficiência, através do seu profissionalismo. Motivou com suas palavras ‘Gabi, tô gostando muito da sua evolução’ ou ‘Gabi,
depois que desenrolou neh?!’ Fazia ir em frente para deixar cada vez mais, o nosso trabalho enriquecedor. Aconselhou em
conversas quando estava perdida e presa. Apoiou e confiou tanto, que fez um dos textos do trabalho, virar artigo para o
mestrado, porque de acordo com ela, eu levo jeito para a carreira acadêmica. Obrigada professora.
Ser grata também a todos do Escritório da Acessibilidade-UNIFOR, por cada aprendizagem e por me introduzirem ao
mundo real da arquitetura. Nas soluções e nos projetos, sempre pensando no próximo e visando por um mundo mais
sensível. Em especial, a Aline e Rita que acompanharam diariamente o processo, foram ouvidos, consolos e motivações.
Por final, mas não menos importante, pois foram os grandes influenciadores da escolha do meu tema. A todos do Lar
Davis, que sempre me acolhem tão bem e me mostram valorizar o simples, que passa a ser, o essencial. Gratidão por
aprender tanta coisa com esses pequenos, inclusive que o amor é tudo e é a resposta da esperança.
“Vulnerabilidade é o berço do amor, pertencimento, alegria,
coragem, empatia e criatividade. É a fonte de esperança,
empatia, responsabilidade e autenticidade. Se queremos
maior clareza em nosso propósito ou vidas espirituais mais
profundas e significativas, a vulnerabilidade é o caminho.”
(Brené Brown).
RESUMO
Atendimento massificado, autoritarismo e situações de negligência em relação às necessidades básicas de crianças e
adolescentes marcaram o histórico de acolhimento institucional, dentro da problemática de vulnerabilidade social ao redor
do mundo. Após diversas discussões acerca disso, o Brasil promulga o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) da Nº
8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Diante disso, com a efetivação da lei foi notória essa mudança no espaço arquitetônico
como também nas disciplinas internas. Além da criação de normas como a, Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes-(Resolução n°1, CNAS/CONANDA,2009), que expõe as diversas modalidades com público
alvo, objetivo, capacidade e os cômodos com dimensões mínimas. No entanto, essas transformações dos espaços estão
cautelosamente sendo aplicadas e apresentam dificuldades na implementação dos princípios dentro das disposições
normativas e legislativas, porém se constatou que algumas são atendimentos atuais se repetem aos antigos padrões de
acolhimento. Considerando tudo isso, este trabalho de final de curso tem como objetivo subsidiar a elaboração de um
projeto arquitetônico, de um conjunto de casas lares pública para acolher 45 crianças e adolescentes, com faixa etária de 0
a 12 anos, em casos de situação de vulnerabilidade social na cidade de Fortaleza-CE. O projeto tem como conceito passar
uma sensação de casa, onde os relacionamentos possam ser estreitos e afetivos através da volumetria e do conceito de
biofilia, utilização de espaços ergonômicos adequados ao conceito de desenho universal, desenvolvimento de espaços que
favorecem o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dentro da psicologia ambiental, visando aproximação social e a
questão da eficiência do edifício assim como a manutenção o conceito da ecoarquitetura. Em suma, esse projeto visa a
busca da melhoria de vida dessas crianças que sofrem com esses problemas, para que possam crescer e desenvolver o
futuro com confiança.
Palavras- chave: casa lar; vulnerabilidade social; crianças; psicologia ambiental; biofilia; desenho universal e
ecoarquitetura.
ABSTRACT
Massive care, authoritarian and neglectful situations regarding the basic needs of children and adolescents marked the
history of institutional reception, within the problematic of social vulnerability around the world. After several discussions
about this, Brazil promotes the Child and Adolescent Statute (ECA), No. 8.069, OF 13 JULY 1990.Given this, with the
implementation of the law, this change in the architectural space as well as in the internal disciplines was noticeable. In
addition to the creation of standards such as, Technical Guidelines: Childcare Services for Children and Adolescents
(Resolution No. 1, CNAS / CONANDA, 2009) which exposes the various modalities with target audience, objective, capacity
and the rooms with minimum dimensions. However, these transformations of spaces are being carefully applied and
present difficulties in the implementation of the principles within the normative and legislative dispositions, but it was
found that some current attendance is repeated to the old standards of reception.Considering all this, this end-of-course
work aims to support the elaboration of an architectural project, a set of public homes to accommodate 45 children and
adolescents, aged 0-12 years, in cases of vulnerable situations. in the city of Fortaleza-CE. The project's concept is to feel
like home, where relationships can be close and affective through volumetry and the concept of biophilia, use of ergonomic
spaces appropriate to the concept of universal design, development of spaces that favor cognitive, emotional and emotional
development. social within environmental psychology,aiming at social approach and the issue of building efficiency as well
as maintaining the concept of ecoarchitecture. In short, this project aims to improve the lives of these children who suffer
from these problems so that they can grow and develop the future with confidence.
Keywords: home home; social vulnerability; children; environmental psychology; biophilia; universal design and
eco-architecture.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Roda dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 27
Figura 2:Exemplo da Instituição Total 28
Figura 3: Exemplo da Instituição Total 28
Figura 4: Exemplo da Instituição Total 29
Figura 5: Exemplo da Instituição Total 29
Figura 6: Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus 32
Figura 7: Santa Casa de Misericórdia - RJ 32
Figura 8: SAM - Dormitório 32
Figura 9: Internos na FEBEM 32
Figura 10: Planta baixa da casa de correção San Michele, em Roma 34
Figura 11: Quarto de acolhimento de orfanatos, retratando esse serviço em alta quantidade 35
Figura 12: Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 37
Figura 13: Quadra esportiva na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 38
Figura 14: Quarto dos meninos na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 39
Figura 15: Corredor da Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 39
Figura 16: Vista aérea Jardim de Infância Beisha 60
Figura 17: Planta térreo Jardim de Infância Beisha 61
Figura 18: Planta 1° pavimento de Infância Beisha 62
Figura 19: Caminhos tortuosos entre os prédios 62
Figura 20: Área central recreativa com acesso a plataforma 63
Figura 21: Vista da plataforma do primeiro andar 64
Figura 22: Área interna da sala de pintura 64
Figura 23: Croqui do projeto de jardim de infância 65
Figura 24: Vista lateral do Jardim de Beshia 66
Figura 25: Perspectiva eletrônica do Orfanato 67
Figura 26: Foto da construção do Orfanato Lali 68
Figura 27: Plantas baixas do térreo, 1° pavimento, 2° pavimento e 3° pavimento do Orfanato 69
Figura 28: 1°Corte esquemático 69
Figura 29: 2° Corte esquemático 70
Figura 30: Perspectiva na fachada do Orfanato 71
Figura 31: Corte esquemático com os sistemas renováveis 72
Figura 32: Maquete do esqueleto do prédio do Orfanato 73
Figura 33: Perspectiva eletrônica do interior do Orfanato 73
Figura 34: Perspectiva do interior do Orfanato, área externa da horta com as salas 74
Figura 35: Perspectiva do interior do Orfanato, área dos quartos 74
Figura 36: Área de lazer ao ar livre, Lar davis 76
Figura 37: Área de lazer no Lar Davis usada para a prática do futebol 77
Figura 38: Módulo da unidade da casa lar 77
Figura 39: Unidade da casa lar, no lar Davis 78
Figura 40: Fluxograma da Resi-lar 97
Figura 41: Organograma da Resi-lar 98
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CREAS- Centro de Referência Especializado de Assistência Social
UPA - Unidades de Pronto Atendimento
SUS - Sistema Único de Saúde
CEDECA - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente
CAOPIJI - Centro de Apoio às promotorias da Infância e juventude
COMDICA - Conselho Municipal de Crianças e Adolescentes
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
ONG’s - Organizações das Nações Unidas
CNJ - Conselho Nacional de Justiça
CMDA - Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente
DPCA - Delegacia de Proteção à Criança ao Adolescente
PBF - Programa Bolsa Família
PSE - Programa Saúde na Escola
MDS - Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome
CNASS - Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes
FEBEM - Fundações Estaduais do Bem-estar do Menor
DCA - Defesa da Criança e do Adolescente
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
SINASE - Sistema Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CONADA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CATI - Centro de Atendimento Integral
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Objetivos de pesquisa e suas respectivas metodologias 19
Tabela 11: Programa de necessidades da casa 02-1° módulo- crianças 4 a 6 anos 93
Tabela 12: Programa de necessidades da casa 02-2° módulo- crianças 4 a 6 anos 93
Tabela 13: Programa de necessidades da casa 03-1° módulo- crianças 7 a 9 anos 94
Tabela 14: Programa de necessidades da casa 03-2° módulo- crianças 7 a 9 anos 95
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO 16
6.DIRETRIZES PROJETUAIS 78
Meu interesse em abordar essa temática surgiu desde de 2013, quando comecei a frequentar e fazer parte de um grupo de
voluntários e amigos, no Lar Davis, um espaço que acolhe crianças e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade
social no município de Aquiraz, no Estado do Ceará. Projeto voluntário esse que se iniciou ainda no colégio, onde recebemos
o incentivo para ajudar as crianças desta instituição, com arrecadação de alimentos e doações, através de gincana. Após a
primeira visita, criamos vínculos e nos aproximamos dos meninos do lar e dos funcionários, voluntários que trabalham
naquela associação, em que observei a oferta de muito amor e assistência. Eu e meus colegas permanecemos, com a
proposta de organizar encontros oferecendo afeto, lazer e doações, mesmo após o término do ensino médio. .Após seis anos
de visitas, criei um apego muito forte com as crianças, assim como o espaço, onde sinto-me bem a cada oportunidade de
compartilhar esse momento e saber que a toda visita, sempre será retribuído com amor.
Deste modo, esse trabalho consiste na elaboração do projeto arquitetônico, consistindo em um lar público para crianças e
adolescentes, em estado de vulnerabilidade social da cidade de Fortaleza. A idealização desse projeto, me traz uma sensação
de amor e esperança em assegurar esse público tão necessitado, analisando assim também a escassez de lar público na
cidade, já que as existentes são organizações não-governamentais (OGN’s), e dependem de voluntários e patrocinadores para
se sustentar. A pretensão do projeto é atender as crianças de forma integral, em um ambiente agradável e saudável em todos
os sentidos, onde vão ser aplicados os conceitos de biofilia, desenho universal, eco-arquitetura, psicologia ambiental de
maneira que possam formar indivíduos dignos.
Alguns motivos estruturam a justificativa desse projeto e sobressai, como: o abandono infanto-juvenil no Ceará; que é uma
questão social, segundo LIMA (2016). Em razão da revolução industrial trouxe como consequência o êxodo rural, que
acarretou a fuga da seca, de 1877, em direção a capital Fortaleza. A situação se agravou devido a grande demanda de
pessoas chegando na cidade, os ‘flagelados’. Poucas famílias sobreviveram. Os casos eram de mulheres viúvas ou até mesmo
de pais que vinham a falecer, dando origem o abandono desse público no estado, surgindo assim as instituições de orfanato.
No contexto histórico brasileiro, antes da concepção da lei Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), as instituições existentes para acolhimento de crianças e adolescentes eram os antigos orfanatos e colégios
internos. Durante décadas, essas associações ficaram conhecidas como espaços hostis funcionando como grandes entidades
isoladas e atendendo muitas crianças ao mesmo tempo. No entanto, com a criação do Estatuto a realidade tenta ser alterada e
atualmente no país, 47 mil crianças e adolescentes estão cadastradas em acolhimento, amparadas em: abrigos, casas lares e
orfanatos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), porém ainda há a concepção de lugares inapropriados para esse
tipo de instituição, já que trata de uma problemática tão delicada e precisa de atenção específica.
16
Em 2010, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, foi catalogado 2.624 abrigos no Brasil, que não era suficiente para
comportar a quantidade de crianças e adolescentes. No estado do Ceará, encontramos poucos equipamentos de lar, abrigo ou
outras instituições que visem o acolhimento dos desamparados. Em conformidade com o portal de notícia G1 (2017)
atualmente são 22 instituições que deveriam acolher de 20 a 30 crianças e adolescentes, mas que chegam a abrigar 60
pessoas. Com base nesse dado, foi realizado um levantamento quantitativo que verificou da totalidade, 16 são organizações
não-governamentais (ONG’s) e 6 instituições públicas. Ressalta-se assim com essa pesquisa, a importância na elaboração de
um lar público, visto que o números de entidades governamentais, deste gênero, ainda não é suficiente, em meio ao número
de crianças que se encontram nessa circunstância. Além disso, de acordo com o Ministério Público do Estado do Ceará, que
inspeciona essas instituições, verificou-se que os abrigos encontram-se superlotados, não oferecendo uma qualidade, devida
no acolhimento dos infantis.
Conforme o IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica (2003) que informa a quantidade de crianças e adolescentes, órfãs ou em
situação de risco, e a quantidade de abrigos, mostrou que 87% das crianças tem família e 58,2% mantêm vínculos afetivos
com familiares. O principal motivo para isso é o abandono por situações financeiras ou até mesmo o simples abandono.
.Sabendo disso, a proposta deste trabalho é um lar que deve receber crianças e adolescentes que sofrem abandono e/ou
orfandade, bem como para aqueles cujas famílias ou responsáveis encontram-se temporariamente ou permanentemente
impossibilitados de suprir sua função paterna, e precisam afastar-se por ordem judicial.
Diante dessas razões acima expostas, surge a concepção da elaboração de um projeto de lar público, que procura abrigar a
alta quantidade de crianças que são cadastradas em casas de acolhimento, mas que encontram-se em instituições, que
comportam um número excedente. A idealização é de ambientes que possam remeter à casa e à sua estrutura física, com a
intenção da proximidade da realidade familiar; integrando o público infantil ao local com ambientes acolhedores, lúdicos e
com áreas de lazer; favorecendo o desenho universal, para todos os usuários; propondo alguns cuidados básicos como apoio
psicológico, de saúde e educacional. O intuito dos ambientes é oferecer um maior apoio possível a esse público, visando em
adquirirem experiências futuras para formar indivíduos dignos.
1.2 OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL:
O intuito é projetar um lar público de permanência contínua, na cidade de Fortaleza para 45 crianças e adolescentes, com
faixa etária de 0 anos até 12 anos do sexo feminino e masculino, que sofrem com a vulnerabilidade social ou orfandade. Um
espaço agradável, de acolhimento e crescimento, em cima dos conceitos: da psicologia ambiental, biofilia, eco-arquitetura e o
desenho universal para construir indivíduos dignos de forma a ressignificar a humanidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Para atender o objeto geral têm se os seguintes objetivos específicos:
a) Compreender a demanda, necessidades e as obrigações do atendimento à crianças e adolescentes com
vulnerabilidade social, na faixa etária de 0 a 12 anos;
17
b) Utilizar os princípios da psicologia ambiental de que forma que o ambiente possa interferir na qualidade de
vida;
c) Compreender o perfil das crianças e adolescentes abrigadas no Lar Davis de forma a compreender a rotina e as
necessidades;
d) Reunir, conhecer, estudar e aplicar a lei Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente) e a norma de Orientações Técnicas: serviços de acolhimento para crianças e adolescentes (Brasília,
Junho de 2009), com o intuito de diagnosticar de que forma essas normas vão interferir no ambiente físico;
e) Conhecer princípios e conceitos do desenho universal, biofilia e eco-arquitetura, visando a qualidade do lugar;
f) Escolher, conhecer e justificar um terreno na cidade de Fortaleza para o projeto do lar público;
g) Conhecer e respeitar na legislação urbana de Parcelamento e Uso e Ocupação do solo (LEI COMPLEMENTAR N°
236 DE 11 DE AGOSTO DE 2017) para a realização do projeto arquitetônico;
1.3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Para o desenvolvimento e a efetivação dos objetivos da presente pesquisa, a metodologia consiste em levantamento
bibliográfico em: livros, artigos, revistas e sites na finalidade de desenvolver a problemática, conhecer o tema, analisar o seu
contexto no país e na cidade em base de uma fundamentação, além do levantamento de normas técnicas e leis para conhecer
como são as necessidades e obrigatoriedades de um lar para a realização da proposta do projeto arquitetônico.
Além das pesquisas bibliográficas realizadas para embasar na parte teórica, outras metodologias mais práticas e com a
intenção de criar um vínculo com o tema, vão facilitar a compreender como funcionam as instituições, saber as necessidades
e a realidade desses lugares na cidade.Para isso vão ser usados métodos de pesquisa de visitas nos lares e entrevistas in
loco com os responsáveis que são envolvidos na problemática.
Para uma fundamentação e uma proximidade com a realidade do projeto arquitetônico vai ser necessário a análise dos
projetos de referências visando compreender e fazer uma leitura, de ambientes com o intuito similares ao que vão ser
propostos. Além de uma verificação em legislações e normas para aplicar no projeto arquitetônico.
Com isso a seguir, foram listados todos os procedimentos de pesquisa que vão ser realizados com o intuito de atingir os
objetivos específicos:
-Levantamento bibliográfico em livros, artigos, revistas e sites para conhecer o tema, a sua história, o seu
contexto no país e na cidade e para a fundamentação base para o estudo;
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-Levantamento de normas técnicas e leis para a realização do projeto arquitetônico do lar público;
-Pesquisa de campo nos lares e abrigos da cidade de Fortaleza com o intuito de conhecer a vivência, as
necessidades e as realidades desses lugares na cidade;
-Entrevistas in loco nos lares da cidade de Fortaleza a fim de, entender como funciona a sistemática e
quais são necessidades e os atuais problemas;
-Análise dos projetos de referências visando compreender e fazer uma leitura arquitetônica dos
ambientes propostos;
-Verificação da legislação vigente para a aplicabilidade do projeto arquitetônico;
-Levantamento de dados do quantitativo de crianças com alta vulnerabilidade social nos bairros de
Fortaleza e sobrepor onde localiza os lares em Fortaleza.
Para facilitar a compreensão foi desenvolvido uma tabela listando os objetivos específicos e elencando com suas
correspondentes metodologias de pesquisa:
Tabela 1: Objetivos de pesquisa e suas respectivas metodologias
Fonte: da autora, 2019
19
2.0 CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL
2.1 Contextualização e Evolução
O conceito de vulnerabilidade e situações de risco vêm sendo discutido durante vinte anos. E recentemente, na América
Latina, por se tratar de região que a situação da desigualdade social e pobreza acentuada, essa discussão conceitual ficou
mais evidente. O termo vulnerabilidade social foi introduzido decorrente das epidemias e síndromes crescentes, a partir do
ano de 1980. Já no Brasil, um país em crescente desenvolvimento, mas com forte desigualdade social, possui um grande
número de crianças em situação de risco social, decorrente da pobreza e da miséria, bem como da violação dos direitos de
proteção.
Na década de 1980, com a Assembleia Nacional Constituinte Brasileira foi impulsionada a ideia do estado social de direito,
inserindo-se na Constituição Federal de 1988 institutos legais, positivando garantias que define um estado de bem estar
social, relacionado com a garantia de direitos da cidadania. Com isso, a vulnerabilidade pode ser entendida como uma
condição de risco que o indivíduo se encontra ou que pode estar suscetível.
Com exercício etimológico resgatamos que a conexão dos vocábulos, em latim vulnerare, que significa ferir, lesar,
prejudicar e bilis suscetível a , teria dado origem à palavra vulnerabilidade. O conceito de vulnerabilidade como
condição inerente ao ser humano, naturalmente necessitado de ajuda , diz do estado de ser/estar em perigo ou
exposto a potenciais danos em razão de uma fragilidade atrelada à existência individual derivada de contradições.
(EUSTÁQUIA e LUBE 2018, p.5).
A vulnerabilidade por estar intrinsecamente ligado ao aspecto social do indivíduo, é comum a propensão dele ao risco dessa
problemática, por sofrer com a estrutura desigual da sociedade. Os fatores resultantes dos problemas sociais não são
exclusivos para a configuração da situação de risco, mas remetendo a alguma situação de perigo, que esteja vinculada a
fatores sociais, como pobreza, desemprego, acesso a bens e serviços públicos e outros. Todas essas questões geram traumas
ainda como criança, que se perduram até a vida adulta, trazendo consequências danosas.
Depreende-se que a vulnerabilidade social é um estado condicionado à situação de dano em que o ser humano poderá a vir
sofrer ou que esteja suscetível por possuir desvantagem social em comparação com o cidadão médio. “Isso porque
percebemos que o estado de vulnerabilidade associa situações e contextos individuais e sobretudo, coletivos” (EUSTÁQUIA e
LUBE, 2018, p.6). Na maioria das vezes, constata-se que fatores sociais a desencadeia, mas também às fragilidades de
vínculos afetivos-relacionais são preponderantes. “Vulnerabilidade se remete a ideia de fragilidade, de indefesa e
dependência, em determinados casos pode afetar a saúde, mesmo sem ser doença, abalo psicológico, social e mental,
afetando assim a qualidade de vida das mesmas” (FAGUNDES, 2012, p 259).
Devido a relação do conceito com os fatores sociais, sabe se uma vez que a criança é também é um “indivíduo inserido na
sociedade, ela sofre com as estruturas sociais que são oferecidas para ela” (PERREIRA; SILVA e FERNANDES, 2016, p.70),
sendo a soma dessas tipificações e dos padrões recorrentes de interação estabelecidas. Sabendo que a vulnerabilidade está
relacionada com a realidade da vida social, como confirma Berger (1985), destaca-se que a realidade está fundamentada em
ações individuais que estabelecem um contexto de sua vivência, de modo que a interação e a formação do indivíduo é o que
constrói sua realidade que pode está marcada ou não por situação de risco.
Trazendo essa discussão da vulnerabilidade para o público infantil, percebe-se que há fatores relacionados ao círculo de
convivência sócio-familiar em que está inserido. Os casos mais comuns são aqueles em que encontramos a formação de
crianças em situação: de pobreza extrema; de pais hospitalizados ou portadores de alguma doença que venha a
impossibilitar a criação da criança; de pais em cumprimento de pena privativa de liberdade; por abuso sexual; exploração do
trabalho infantil; conflitos familiares; riscos no local de moradia; desamparo familiar e a falta do acesso à educação. Outro
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caso de vulnerabilidade marcante é o de abandono de incapaz, em que as mães transferem a responsabilidade do cuidado da
criança para o Conselho Tutelar. Assim, todos estes riscos resultam na falta de uma melhor perspectiva de vida para essas
crianças, obstando projetos futuros e afetando o seu desenvolvimento, levando muitas vezes a continuar nessas mesmas
condições, indefesas e por caírem em descrédito da vida.
Diante deste problema social, inseriu-se legislação que visava resguardar a criança como um cidadão de direitos na
sociedade. A principal medida de proteção foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA- Lei n° 8.069/90) e a
Constituição Federal (BRASIL, 1988) que trouxeram como fundamento o objetivo de garantir os direitos e a proteção integral
das crianças e dos adolescentes, para que tenham assegurados seus direitos perante a sociedade. Sempre que os direitos
reconhecidos no Estatuto forem ameaçados ou violados,são aplicadas medidas de proteção, como as instituições de
acolhimento.Ainda assim, a vulnerabilidade se faz presente no Brasil, sendo frequente os riscos e o afronto ao estatuto, de
forma que esforços são realizados para que os mesmos não possam ser violados.
Em conformidade com o Art.23 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a falta de recursos materiais por si só não
constitui motivo suficiente para afastar crianças e adolescentes do seu convívio familiar, caso em que podem ser
encaminhados para serviços de acolhimento, viabilizando sua integração social. O afastamento apenas é justificado quando o
dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores é descumprido (Art.22) (BRASIL, 1991). Uma grande problemática
se discute à respeito do tema é a posição da família dentro desse contexto social e educativo. A falta de atenção paterna e
materna em meio a esse processo de criação influencia negativamente no desenvolvimento infanto-juvenil, levando a uma
outra realidade que ameaça a vida destes.
Então, necessário se faz uma maior atenção às transgressões dos direitos dos infantes. Some-se a isso, a imagem
construída durante a infância e juventude desses desamparados, que certamente acarretará em mudanças profundas como
indivíduo, em sua fase adulta. O fundamental é que essas crianças possam ser acolhidas em instituições, que recebam estes
meninos e jovens, com o objetivo principal de inclusão social e de proteção, possibilitando a eles o exercício de
desconstrução desse ciclo de vulnerabilidade. Desta feita, rompe-se a ideia de continuidade do risco decorrente de fatores
sócio-econômicos, por desenvolver mecanismos de proteção, apoio e promoção, ao implementar o desenvolvimento desses
indivíduos, preparando-os para o exercício da cidadania e qualificação laboral, garantindo-lhes uma melhor qualidade de
vida. De modo contrário, não ocorrendo esse acolhimento, os pequenos se tornam mais vulneráveis de envolvimento com
drogas, tráfico, roubo, furto, violência e outras realidades da e cotidiana marcada no Brasil.
De forma geral, as vulnerabilidades das crianças, adolescentes e de suas famílias manifestam-se em
violência cotidiana no contexto familiar e escolar. A falta de oferta de uma educação de qualidade, os
baixos salários e o desemprego afetam também a trajetória de vida desses brasileiros, obrigando-os a
se inserirem precocemente no mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas (FAGUNDES, 2013).
A exposição das crianças a essas situações e até mesmo por abandono familiar causa muita fragilidade, momento em que a
força da lei deve prevalecer, com todos os direitos garantidos. É de suma relevância o desempenho da família, que deveria
realizar um papel extremamente importante para o processo social, já que é de responsabilidade e dever dos pais, o cuidado
com os filhos. Nesse período infantil é primordial o envolvimento da família durante todo esse desenvolvimento e construção
do indivíduo sob sua guarda. As ações da família acabam interferindo no futuro das crianças. Caso os pais invistam em uma
qualidade de vida adequada, possibilitando melhores condições de saúde, educação, lazer e cultura às crianças, certamente
elas terão uma visão de excelência próspera, e, provavelmente levarão para a sua vida. Ao contrário, se isso não for
trabalhado durante a fase infantil, os casos de risco se tornaram mais incidentes, reforçando a vulnerabilidade dos infantis.
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A vulnerabilidade infantil atinge vários pontos da vida social da criança. Elas se evidenciam por causar transtornos mentais
em todas as fases da vida, principalmente na infância. Então, é preciso compreender que essas crianças sentem
amargamente a desigualdade social, vivem negativamente sem visualizar um futuro próspero, visto que não tem uma vida
digna de criança. Essas são postas em situações de risco não por escolha própria, mas por estarem inseridas no contexto
sócio-familiar instável. Tais crianças vivem as consequências sociais da pobreza, exclusão social e dos vínculos familiares e
até mesmo da comunidade. Com isso, são marcadas principalmente pela a autoestima comprometida, sentimento de
inferioridade, desvalorização, incapacidade e ausência de reconhecimento social, que as façam crer em seu próprio potencial
como ser humano, existindo um forte sentimento de solidão e vazio existencial.
Como foi dito, o Brasil é um país em crescente desenvolvimento, mas infelizmente possui grande número de crianças em
situação de risco, os quais demonstram a violação dos direitos desse público infantil. É necessário reduzir esse número de
forma que possa proporcionar um melhor amadurecimento na infância, como tentativa também de reduzir a desigualdade
social. Os reflexos desses índices são visualizados no grande número de crianças em trabalho infantil, as que sofrem abusos
sexuais, ou que passam fome, bem como por quaisquer circunstâncias de não receberem os devidos cuidados pelos pais
e/ou responsáveis.
Os estudos históricos e sociológicos sobre infância e adolescência têm produzido uma análise crítica
dos avanços jurídicos na área de proteção e dos direitos da criança ,sem deixar de problematizar o tipo
de representação social que vai sendo constituída sobre a criança e o adolescente no contexto das
práticas sociais (SOUZA ,2010, p.93).
Nessa situação de vulnerabilidade social implica que é necessário trabalhar sobre essa problemática, cuja a adoção de
medida, em alguns casos, pode ser dada por ordem do Conselho Tutelar, para que possam ser levadas às instituições de
acolhimento de crianças e adolescentes. Nestas entidades deverá ser trabalhado esse tema, no qual haverá um papel mútuo
como família e comunidade, de forma que possam acolher, amparar e apoiar os pupilos para serem cidadãos dignos para o
futuro. Indispensável assim abordar esse contexto do acolhimento por essas instituições, principalmente pela fragilização
dos vínculos afetivos, relacionais, de pertencimento social ou vinculados à violência. “As relações em contexto de
vulnerabilidade social geram crianças, adolescentes e famílias passivas e dependentes, com a autoestima consideravelmente
comprometida” (SANTOS, 2018).
A realidade de quando não acontece o acolhimento é bem diferente. A falta de oferta de uma educação de qualidade, os
baixos salários e o desemprego afetam também a trajetória de vida desses pequenos brasileiros, obrigando-os a se inserir
em uma perspectiva de vida inadequada à idade. Estando exposto assim à vida de rua e a vários fatores de risco, que podem
torná-los mais vulneráveis, provocando o envolvimento com drogas, gravidez precoce, prostituição, e prática de roubo, por
não suprirem as necessidades básicas.
Com isso, segundo Santos (2018), a reflexão da problemática é bem ampla do que se imagina, é necessário entender como
se relaciona as possibilidades de um serviço que acontece com vários atores, que no caso são: crianças, adolescentes, família,
escola, comunidade, serviço de saúde, Serviços de Assistência Social, Justiça da Infância e da Juventude, Delegacia de
Proteção da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, serviços de acolhimento institucional (Abrigo, Casa-lar, Serviço de
Acolhimento em Família Acolhedora e República) e demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. Todos eles são
responsáveis pela execução de serviços nas áreas de cultura, lazer, geração de trabalho e renda, habitação, transporte,
capacitação profissional e pela garantia do acesso das crianças, adolescentes e suas famílias a estes serviços, que devem
funcionar juntos proporcionando uma nova vida para esses jovens.
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2.2 Políticas Públicas
Diante da relevância da vulnerabilidade social destaca-se a importância da implementação de políticas públicas para o
enfrentamento dessa problemática. Constatada a existência de vários índices socioeconômicos agravantes, o estado realiza
programas assistenciais e políticas de intervenção, com a finalidade de atingir na base dos fatores de risco, na infância e
adolescência. Essas diretrizes assistenciais de política pública têm o objetivo de trabalhar a proteção social, visando à
efetivação da cidadania e o desenvolvimento dos desamparados, de forma que lidem com a questão da vulnerabilidade e
outras problemáticas sociais, reduzido seus efeitos intrínsecos e extrínsecos.
É necessário o reconhecimento prioritário do acolhimento assistencial público em relação à demanda de crianças e
adolescentes, de forma que venha a promover saúde, educação e lazer entre outras necessidades básicas. O grande desafio
é realizar as políticas de atendimento e de auxílio às crianças existentes para que convirjam, buscando a interação dos
órgãos executores, de forma a trabalhem de modo contínuo, para assegurar os direitos desses sujeitos. Precisa-se da soma
de esforços e de uma articulação na gestão pública para busca de soluções e tomada de decisões necessárias, condizentes à
implementação de ações eficazes, com perspectiva do desenvolvimento de processos evolutivos na sociedade e redução da
vulnerabilidade.
Para realização disso, a Constituição Federal (BRASIL, 1998) e ações públicas de assistência social e de saúde garantem
que a população é usuária desses serviços, tendo direito ao acesso e usufruto, criando-se o exercício e sentimentos que
influenciam nas práticas de atos de cidadania. As articulações de ações públicas para a população, são garantidas na
Constituição Federal no Art° 224, que prevê: “A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-à
através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos municípios” (BRASIL, 1988) promovendo assim o desenvolvimento de saúde, educação e lazer entre outros,
“[...] à organização das Políticas de Estado e bem-estar social, que configuram os componentes de oportunidades que
provêm do Estado do mercado e da sociedade como um todo” (PERREIRA; SILVA e FERNANDES, 2016, p.71).
O início da regulamentação da política pública de assistência social aconteceu em um cenário de
conflitos e contradições, na sequência das normativas da política pública de saúde. Em 2004, quando
foi instituída, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) explicitou em seu texto que a
vulnerabilidade social, expressa por diferentes situações que podem acometer os sujeitos em seus
contextos de vida, é o campo de atuação de suas ações (EUSTÁQUIA e LUBE 2018, p.2).
O governo respaldado na Constituição Federal criou medidas que pudessem assistenciar essas crianças, ou excluídas por
algum motivo, de forma a minorar os riscos das mesmas. Entre essas, tais medidas existentes têm: Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDA), Conselho Tutelar, Delegacia de
Proteção à Criança ao Adolescente (DPCA) e outros programas de assistência do governo, Programa Bolsa Família (PBF) e
o Programa Saúde na Escola (PSE).
Todas essas medidas que foram introduzidas por legislação, estão em pleno vigor e têm o sentido de beneficiar e fornecer
assistência à esse grupo de necessitados, numa tentativa de enfrentamento desses riscos, que a vulnerabilidade vem a
causar.
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Alguns programas assistenciais do governo também ajudam a beneficiar não só crianças que sofrem dessa problemática,
mais também, as suas famílias através dos programas como o Programa Bolsa Família (PBF) e o Programa de Saúde na
Escola (PSE). Resultando na redução da pobreza, diminuição da desigualdade de renda e até uma maior frequência escolar
garantindo que as crianças não submeter a situações vulneráveis, como por exemplo o trabalho infantil. “Políticas públicas
de auxílio/atendimento a crianças vem atuando de forma eficaz no que diz respeito aos direitos violados destes sujeitos,
gerando assim, diretamente ou indiretamente as situações de risco e estado de vulnerabilidade na vida da criança e do
adolescente” (PERREIRA; SILVA e FERNANDES, 2016).
Para o enfrentamento dessa questão a Constituição de 1988 proporcionou a abertura de direitos, com isso um dispositivo
legal muito importante foi criado, o Estatuto da Criança e do Adolescente lei n° 8.069 foi criada em 13 de julho de 1990, no
Brasil em seu conjunto tem como objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, de forma a garantir através de
medidas corretas os seus direitos à vida, saúde e educação, como também na realização de políticas públicas para combater
a realidade da vulnerabilidade social, de maneira que possam permitir o crescimento e desenvolvimento em condições
dignas.
O Estatuto define que crianças e adolescentes são cidadãos que tem direito que são garantidos no estatuto pelo artigo 4°:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e
comunitária (BRASIL, 1990).
O ECA também dispõe sobre os casos de maus tratos, opressão ou abuso sexual realizados pelos pais ou por alguma
pessoa responsável, que de acordo com estatuto, uma autoridade judiciária irá promover o afastamento do agressor da
moradia como também da criança. O estatuto estabelece outros casos específicos como o envolvimento em drogas,
gravidez na adolescência e quaisquer tipos de casos, que a crianças ou adolescentes possam ficar vulneráveis a riscos,
direcionando esses casos à ordens judiciais, acompanhando nas participações de setores públicos e outras medidas que
venham a proteger e afirmar suas vantagens.
Sabendo assim da importância da elaboração do estatuto, posto que consiste na afirmação das garantias dessas crianças e
adolescentes, de maneira que as mesmas possam passar ou não por momentos frágeis e de risco. Afirma-se que:
[...] o estatuto, vem sofrendo oposições de várias ordens conservadores.A resistência e o
pronunciamento de críticas contra a garantia de direitos e crianças e adolescente apresentam traços
culturais.A falta da noção de ‘possuir’ direitos e de mecanismo que garantam o acesso aos direitos
tornam difícil convencer a população brasileira sobre a importância do teor do ECA (FAGUNDES;
KRIS; LANE; VELOSO e MELO, 2013, p.261).
Apesar dessas oposições e críticas ressalta-se a importância da sua criação, como estatuto propõe o seu envolvimento e
atuação com a sociedade, através das Organizações Não Governamentais (OGNs), criação de fóruns e Conselhos, que
formulam e acompanham a execução das políticas públicas. Essas diferentes atuações de representações sociais e
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governamentais exercem um papel muito importante, que é o de aplicação desses direito de forma prática, a favor do ECA, ao
executar o exercício das suas atribuições como lei.
Os Conselhos de Direitos são órgãos deliberativos, decisivos e justos, responsáveis por assegurar na união de estados e
municípios a prioridade da infância e do adolescente, além da política de atendimento desse público. Como também é sua
função a fiscalização do cumprimento da legislação, que rege os direitos dos mesmos. São feitos de forma partidária, por
representantes do governo e da sociedade, vinculados por administração ao governo do estado ou por município, têm
autonomia para acionar os Conselhos Tutelares, as Delegacias de Proteção Especial, as Defensorias Públicas e os Juizados
Especiais da Infância e Juventude, ou quaisquer outros órgãos que são responsáveis pela proteção de direitos e adolescentes.
Outro conselho também atuante é o Conselho Tutelar que é um órgão público, autônomo e não jurisdicional. Tem como papel
zelar as medidas de proteção, apoio e orientação às crianças e aos adolescentes, de forma a serem cumpridas. Atuam no
âmbito do município, a sua função é atender esse público que sofreu ou passou por alguma situação de abandono, maus
tratos ou por qualquer circunstância de violência. Esse órgão deve responsabilizar com o completo estado de bem estar
físico, mental e social acionando e requerendo serviços nesses âmbitos, além do encaminhamento ao Ministério Público, em
caso de descumprimento dos direitos garantidos, todas as atribuições são dispostas no Art. 136 do ECA (Brasil, 1990).
Além do estatuto são inseridos também os Conselhos que visam os direitos da criança e adolescente, como foi descrito
acima. A delegacia de Proteção à Criança ao Adolescente (DPCA) auxilia e trabalha junto com os conselhos, com a função de
investigar, fiscalizar, instaurar, inquéritos e procedimentos judiciais nos casos de infração penal contra crianças e
adolescentes; o Comissário da Vara da infância e da Juventude que trabalha na fiscalização das normas de prevenção e
proteção às crianças e adolescentes.
Nesse sentido, a criação de alguns programas governamentais vêm para complementar, dentro desse mesmo objetivo, de
garantir os direitos que são expostos no ECA. O programa do Governo Federal, Bolsa Família (PBF) criado em 2003, com o
intuito de beneficiar não só as crianças e os adolescentes, como também as famílias carentes do Brasil, ou seja a população
mais vulnerável, de forma a propor uma qualidade de vida às famílias, suprindo a fome e a pobreza. É um forte programa das
políticas públicas sociais que trabalha na tentativa de reduzir as taxas de pobreza e desigualdade social.
Na primeira vigência de 2011, os órgãos competentes de saúde, registraram acompanhamento de 7,35
milhões de famílias cadastradas, no PBF , constituído por crianças menores de sete anos ou mulheres
de 14 a 44 anos.Entre as crianças, 71,0% totalizam 4,24 milhões de beneficiados, acompanhadas
integralmente (FAGUNDES; KRIS; LANE; VELOSO e MELO, 2013, p.262).
Outro programa também com o mesmo objetivo, é o Programa Saúde na Escola (PSE) une a educação e a saúde, um projeto
político-pedagógico com a perspectiva de uma assistência à saúde das crianças, adolescentes e jovens integradas dentro das
escolas de ensino básico. Prevê avaliações clínicas, nutricionais, psicossociais entre elas avaliações da saúde bucal,
alimentação saudável, saúde sexual, conscientização do tabaco e drogas entre outras ações que são promovidas. Ações essas
que são direcionadas a questão da vulnerabilidade, e que afetam o desenvolvimento de crianças e jovens.
Conclui-se então que alguns avanços foram realizados no que diz a respeito as políticas públicas, constando que possam
intervir nos problemas de risco na infância e adolescência, mas ainda necessita trabalhar para garantir o direito integral da
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mesma, conforme rege o estatuto. Deve-se propor estratégias de conscientização, de maneira que essas leis e direitos
existem, assim como devem serem cumpridas. Ressalta também a importância da criação de abrigos, espaços comunitários
que acolham as crianças e adolescentes que sofrem riscos e necessito assim de um afastamento familiar.
3. SERVIÇO DE ACOLHIMENTO
3.1 Histórico do serviço de acolhimento
No período colonial, com a descoberta do ‘Novo Mundo’, os portugueses chegaram no Brasil com a intenção de explorar tudo
que o país tinha a oferecer. A assistência à crianças seguia por determinação de Portugal, aplicadas pela corte e pela igreja
católica, pois o processo de catequização acontecia também com os infantes indígenos. Foi estabeleceram uma relação direta
com a população nativa existente, que eram resistentes à cultura européia, porém foram adotadas algumas estratégias com o
fim de explorar e povoar o novo território.
Com o intuito de converter a população nativa ao cristianismo, principalmente crianças e adolescentes, foram lhes ensinados
a leitura e a oração, destacando-se a Companhia de Jesus, liderada por Manuel da Nóbrega. Deste modo, surgia uma
oportunidade de inserção na sociedade, fazendo com que entregassem seus filhos para a catequese. Assim, passou com mais
frequência ver crianças órfãs, acompanhando os padres nas missões. Não havia planos estruturados para educar e
profissionalizar as crianças e adolescentes desamparados, essas ações tinham cunho somente religioso e não de mudanças
sociais. “Logo, com a intenção de não só catequizar, mas sim de ‘arrebanhar’ todos e quaisquer indivíduos acerca do novo
território português, muitas crianças foram afastadas das suas tribos em prol da ‘educação’ ”(BAPSTISTA, 2010).
Além da inclusão de valores culturais durante o período de colonização portuguesa nas terras brasileiras, por volta de 1550 e
1553, foram criadas as Casas Muchachos, que funciona quando as crianças separadas das suas famílias, passavam a morar
em abrigos e eram educadas por padres. Essas casas recebiam órfãos, crianças indígenas e enjeitados vindos de Portugal,
dando origem às primeiras instituições de acolhimento. Funcionavam como espaço para a catequização dos indígenas e local
para intermediação dos nativos com os jesuítas. ‘A dificuldade financeira de muitas famílias era outra causa frequente do
aumento dos casos de desamparo infantil’ (MARCÍLIO, 2006). Com as diferentes perspectivas de vida e a não adequação ao
modelo europeu, a miséria e o abandono aumentaram. A infraestrutura não refletia no cuidado que se propuseram para com
as crianças.
Até meados dos século de XIX, ainda existia esse cunho religioso uma vez que, nessa época o clero recebia forte influência
sobre as decisões do Estado. O atendimento às crianças em situação de vulnerabilidade social neste século era
exclusivamente por conta da igreja, que desenvolvia com caráter emergencial e mantida por conta de doações, ou seja,
assumindo a responsabilidade por esse acolhimento.
Era muito comum também o acolhimento de forma informal, que consistiam em residência, de pessoas com a classe
econômica elevada, recebiam na informalidade esses desamparados. Eram denominadas de criação de expostos. Nessas
espécie de acolhimento, as crianças sofriam por essa condição, sendo chamadas de ‘filhos de criação’ e não tinham os
mesmos direitos que os residentes da casa. ‘Os abrigados prestavam serviços domésticos, em troca da moradia e alimento
enquanto as famílias afortunadas acreditavam que esse ato de caridade estaria salvando as próprias almas’ (SAVI, 2008). Os
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assistenciados entravam dentro de um contexto de escravidão ‘[...] ora [ os filhos de criação] eram aceitos como filhos da
família, ora se confundiam com os serviçais da casa onde eram criados’ ( MARCÍLIO, 2006, p.139)
Do ponto de vista legal, as Câmaras Municipais eram as responsáveis pelo cuidado dos mesmos. A incubencia era ajudar
financeiramente as famílias dispostas a cuidar das crianças, ou estabelecer convênios com as Santas Casas de Misericórdia.
Assim as primeiras instituições de acolhimento surgem de fato, em meados do século XVIII, foram as Santas Casas de
Misericórdia, as crianças eram abandonadas pela ‘roda dos expostos’ ou ‘roda dos enjeitados’ (Figura 1), um sistema de
recolhimento de crianças, principalmente recém-nascidos, por uma espécie de cilindro instalado na porta das instituições,
com um giro entravam no edifício de forma a garantir o anonimato evitando em constrangimentos, a morte dessas crianças e
até mesmo os abortos.
Figura 1: Roda dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia São Paulo
Fonte: https://www.facebook.com/rodadosexpostos/ Acesso 25/09/19.
Geralmente, as Santas Casas eram ambientes, em sua maioria, insalubres e precários, com atendimento focado como única
preocupação a moradia e o alimento à criança, não havendo nenhum vínculo familiar aos abandonados e nem um possível
retorno à família de origem. A tentativa da utilização da roda, se mostrou ineficiente uma vez que, a falta de recursos,
resultava em altas taxas de mortalidade infantil, segundo Marcílio (1998). A roda dos expostos foi extinta no Brasil, e seu
último registro foi no ano de 1951, em São Paulo. Além da roda, aos poucos foram surgindo instituições para crianças
maiores, como os recolhimentos de meninas e os colégios internos para os meninos.
Em meados do século XIX , algumas mudanças socioeconômicas aconteceram no Brasil, entre essas tais mudanças estão o
crescimento das cidades brasileiras e consequentemente, a exclusão de grandes camadas sociais, além da aprovação das Leis
do Ventre Livre e Lei Áurea, levando assim no aumento do número de crianças abandonadas nas instituições.
No Ceará, com a seca que aconteceu em 1877, ocorreu a migração de famílias para a metrópoles, devido a dificuldade de
permanência no meio rural, aumentando a população na cidade e havendo uma reconstrução na estrutura familiar forçado
por esse êxodo. Por essa razão, ocorreu um grande número de crianças pobres e órfãs, decorrente pelo abandono ou por
falecimento dos pais.
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O Estado passa assim a prestar assistência à essa população carente, mas as medidas tomadas para solucionar são mais
inibidoras do que assistenciais. Essas crianças são vistas como potencial alarmante para o aumento da marginalidade, assim
como da violência. Logo as providências tomadas, eram mais relacionadas a inibir as ações de criminosos do que de
proporcionar um bem estar social, de modo a ampará-las. ‘As ações tinham iniciativa religiosa e, até a década de 20 do
século XX, o Estado permanecia omisso quanto às suas obrigações de assistência às crianças e jovens abandonados, dando
espaço exclusivamente para as instituições privadas’ (SAVI, 2008). Surge então no Brasil o primeiro estabelecimento público
para crianças e adolescentes no Rio de Janeiro, em 1922.
Assim grandes estabelecimentos de internação foram construídos no país, chamadas instituições totais. O objetivo era
retirar as crianças órfãs, pobres e abandonadas da rua, para educar-las e prepará-las para a vida futura. Esses
estabelecimentos eram prédios de amplas dimensões, longos corredores, muitos dormitórios, localizado distante de bairros e
da sociedade, além do tratamento diferenciado. A Figura 2, 3, 4 e 5 mostra alguns exemplos dessas instituições totais, que
no caso é da Santa Casa de Misericórdia em São Paulo, onde se percebe a localização rural desses estabelecimentos e o
número excessivo de crianças atendidas. Ficaram popularizados entre as famílias de baixa renda, que queriam oferecer uma
condição de vida melhor.
Figura 2 - Exemplo da Instituição Total
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo.
https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2
Acesso 07/10/19
Figura 3 - Exemplo da Instituição Total
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo.
https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2
Acesso 07/10/19
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Figura 4 - Exemplo da Instituição Total
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo.
https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2
Acesso 07/10/19
Figura 5 - Exemplo da Instituição Total
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo.
https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2
Acesso 07/10/19
Em 1929, Nova Iorque passa por uma crise da bolsa de valores que afetou não só o Brasil, como também o mundo todo, esse
período é marcado por transformações econômicas, sociais e demográficas. A partir de 1930, o discurso de proteção social
ganha visibilidade. Em 1927, surge o Código de Menores, uma legislação que defende a pobreza como questão para a
marginalidade, e para resolver os problemas de violência justifica a importância que o lugar da criança é no acolhimento,
para essas crianças que vivem em situação de desvio e afastamento dos pais.
Devido a alguns efeitos do início da industrialização e mudança do campo para a cidade, devido a expansão demográfica, o
que acontece é um rápido crescimento urbano na população e com isso atrelado a questão da necessidade de infraestrutura
de novas instituições para atender a demanda existente. Com isso, são criados vários estabelecimentos de assistência e
proteção ao menor, entre eles o SAM (Serviço de Assistência a Menores) espaço não constava com a diferenciação dos
internos.
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A partir dos anos de 1960, influenciados pelo governo através do Regime Militar, o em 1964, o SAM é extinto, a infância
passou a ser competência do governo militar, onde chamavam as crianças de ‘menor’ e eram tratados como um problema de
segurança nacional.
Assim começaram a surgir medidas como a criação da Fundação Nacional do Bem-estar do Menor (FUNABEM), baseada na
ideologia de segurança nacional, reveste do propósito de reeducar os jovens com a estratégia de implantar o bem estar
social, absorvendo a assistência social dos menores, buscando acabar com os métodos repressivos das instituições de
internação.
O objetivo era ‘a massa crescente de menores abandonados não viesse a transformar-se em presa fácil do comunismo e das
drogas’ (RIZZINI E PILOTTI, 2011, p.27). Com isso, e o interesse de propor um desenvolvimento a essas crianças teve a
criação também das Fundações Estaduais do Bem-estar do Menor (FEBEM), em 1970, a mudança foi só na nomenclatura,
pois o espaço era a mesma estrutura física, a internação em larga escala e dos ‘menores irregulares’, ficando conhecido pela
repressão e assistencialismo. Na década de 70 é que dão incentivo para a redemocratização da política, após tornar essas
fundações ficarem conhecidas como lugar de tortura e espancamento dos internos.
Essas instituições tinham o intuito de educarem as crianças como estímulo para reinserção na sociedade. Nelas eram
abrigadas tanto crianças que sofrem pela vulnerabilidade social, como também aquelas que cometeram algum crime. Com
isso, a fundação não era vista com bons olhos pela sociedade, independentemente do motivo que as levaram ao local de
acolhimento, e muitas não queriam ficar lá. Assim surgiram as rebeliões, e aos poucos a questão da carência e dos direitos
das mesmas foi deixado de lado.
Através dessas organizações é possível caracterizar o modelo tradicional que se comportam tais associações. Com o
atendimento aglomerado e de longa permanência, elas não respeitavam as individualidades dos internos. Muitas vezes, em
um quarto residiam várias crianças, enfatizando o cuidado massificado, além de não trabalhar uma inserção das crianças na
comunidade, afastando a perspectiva de preservar os laços familiares, vindo a promover a segregação e isolamento. ‘ A
ênfase da proteção social especial deve priorizar a reestruturação dos serviços de abrigamento para as novas modalidade de
atendimento. A história dos abrigos e asilos é antiga no Brasil. (...) São chamados orfanatos, internatos, educandários, asilos
entre outros(...)’ (PNAS, 2004)
As denúncias de falta de estrutura física, torturas, maus tratos e rebeliões resulta na formulação do novo Código de Menor
em 1979, sendo esse o segundo código, levando esse sistema repressivo de tratamento do menor à falência. Os jovens
deixam de ser abandonados e passam a ser considerado ‘em situação irregular’.
Entre a década de 80 e 90 transformações bruscas aconteceram a cerca dos movimentos populares em defesa dos direitos da
cidadania, que ganharam força pelo país, gerando debates entre os defensores da proteção dos menores e os conservadores
que defendiam e se preocupavam com o Código de menores e de cidadania. ‘Mesmo com esse contraponto de ideias
acontecendo foi possível fundar o Fórum Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente (Fórum DCA), que se tornou o
principal interlocutor social que procurava inserir os direitos das crianças e adolescentes na Constituição.’ (SAVI, 2008). Fica
clara a necessidade de reformular o sistema de assistência que estava falido, o que culminou em na Constituição Federal
Brasileira de 1988.
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Com o novo regime democrático brasileiro, fundado com o advento da República, novos questionamentos sobre a infância
deram origem a uma perspectiva mais humanista bem como a promulgação da constituição de 1988, o legislador
constituinte procurou garantir direitos às crianças, de forma que elas não pudessem ficar abandonadas, dando lugar a novos
serviços de acolhimento, de maneira a assegurar a inclusão social, que deveria ser aplica para aqueles que não se
enquadraram no modelo imposto pela sociedade, considerados desprotegidos.
Após anos de discussões e debates por parte do Fórum DCA, em 19 de julho de 1990, ‘Finalmente em 1990, foi aprovado o
ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, que definiu os direitos das crianças e adolescentes, redefinir os deveres do Estado
e da sociedade civil e reorganizar as atribuições e competências do poder público federal, estadual e municipal’ (SANTOS,
1992). Que é a lei vigente atual para crianças e adolescentes, concebidos como provedores de direitos de forma que, venham
a garantir o desenvolvimento desses indivíduos, proteger e estipulando também regras a serem seguidas para as instituições
de abrigamento.
Com o passar dos tempos, as unidades de acolhimento existentes no país modificaram suas condutas, o intuito dessas
instituições passaram a ser de acolher/cuidar crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social. Deixava assim,
o modelo anterior, que fundava-se por um atendimento desumano e rígido, a política repressiva e refletindo na proposta
socioeducativa. O ECA representa grande avanço no tratamento, que foi refletido no espaço arquitetônico.
Seguindo até os dias de hoje, as unidades são consideradas equipamentos de proteção emergencial e provisório dessas
crianças, em decorrência de terem seus direitas ameaçados devido a algum motivo relacionado à vulnerabilidade social,
mostrando assim a prática sob a lei apesar de um processo lento e complexo.
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Gráfico 1: Linha do tempo com os acontecimentos com relação a história do abrigamento no Brasil.
Fonte: da autora, 2019.
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3.2 O Estatuto e sua repercussão na arquitetura
A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, é considerado um grande marco para as mudanças das
instituições, com alternativas lúdicas e mais individualizadas dos ambientes, como foram previstas na lei. Antes da
legalização do ECA, as crianças abandonadas eram abrigadas em orfanatos, reformatórios, internatos, educandários que
tinham estadias permanentes e em massa, não prevalecendo a característica do acolhimento familiar e educacional após a
promulgação da lei.
As entidades de acolhimento anterior a criação do Estatuto eram conhecidos por suas rotinas e as regras rígidas e
uniformes, sem oferecer um serviço individualizado, não prevalecendo a personalidade de cada criança. Muitas vezes, elas
perdiam o vínculo familiar, ficando fadadas a crescer nos orfanatos, com privação de afeto e referências familiares. Os
funcionários eram chamados de monitores ou pajens e tinham como função cuidar da rotina e cuidados básicos, além de
controlar e punir desvios de conduta.
Os locais eram afastados da comunidade e pautadas em um trabalho assistencial e de caridade. Dentro desses espaços
aconteciam atividades educacionais, atendimentos relacionados à saúde e outras aquelas que visavam a recreação, o que as
privavam de sua inserção na comunidade. Todas essas características do local eram reflexos do contexto histórico-social da
época, bem como da ausência de importância das crianças e das classes menos favorecidas.
Registra-se as mudanças entre as primeiras instituições que no caso foram improvisadas para receber esse novo uso. O que
marcava a estrutura arquitetônica era o pátio interno, o que facilitava a ampliação de futuras construções, organizados em
pátios conectores para o controle de atividades que era realizadas, no local. A forma era feita normalmente por alas
horizontais que permitia a ventilação cruzada e a melhor iluminação natural, que foi adotada a partir do século XIX, adotada
para melhorar a salubridade dos ambientes institucionais.As edificações em si, apresentavam características plásticas bem
pesadas, bastante austeras em razão dos volumes imponentes. As fachadas tinham ritmos repetitivos entre os cheios e
vazios, junto com os elementos decorativos. A arquitetura caracterizava a forte distinção entre; exterior, interior, sociedade e
a instituição.
Relatos dos primeiros registros dos espaços de internação de crianças no mundo datam do século XVI: as casas de correção,
na Europa. Tais casas destinavam aos abrigos dos excluídos da sociedade em geral, mulheres de comportamento imoral,
jovens que cometiam algum crime, crianças abandonadas e mendigos. Essas casas de correção, no início utilizavam as
instalações de edificações já existentes e só no século XVIII e XIX passaram a construir novas edificações com esse propósito.
A casa de correção de San Michele, em Roma, no ano de 1705, foi registrada como a primeira edificação construída com esse
propósito. Apresentava uma tipologia que se assemelhava com as prisões da época.
Aplicado originalmente às arquitetura prisionais dos adultos, logo se empregam os conceitos
nas instituições de assistência infantil, através da vigilância centralizada pela manutenção dos
pátios internos (EYNG,2018,p.58).
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A tipologia arquitetônica dessa construção funciona da seguinte forma: uma planta retangular, com os quartos voltados a um
pátio central interno, onde funciona a área comum do acolhimento, atividades, refeições e missas, distribuem as galerias que
se acessava os quartos. Esses foram projetados assim de forma que, houvesse um maior controle dos internos, divididos em
razão da faixa etária e do sexo. A arquitetura no caso, tinha o intuito específico de controle, fiscalização, fundado na ideia de
poder daqueles que acolhiam, como mostra a figura 10. Implica uma clausa e isolamento, o que fica clara na organização do
espaço. ‘O modelo filantrópico produziu um cotidiano de disciplina rígida com elevado número de fugas individuais e
coletivas’ (EYNG, 2018,p.67).
Figura 10: Planta baixa da casa de correção San Michele, em Roma.
Fonte: [JOHNSTON, Norman. Forms of Constraint – A History of Prison Architecture. Chicago, Univers].
Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.131/3832>
O layout dos quartos tinham camas e berços lado a lado em grandes área de alojamento. ‘Eram escassos os cuidados de
iluminação e ventilação natural, permanecendo, altas as taxas de mortalidade em razão do ambiente insalubre’ (MARCÍLIO,
2006). Como está ilustrada na figura 11.
34
Figura 11: Quarto de acolhimento de orfanatos, retratando esse serviço em alta quantidade
Fonte: Instituto fazendo história.
Disponível em:
<https://www.fazendohistoria.org.br/blog-geral/2017/4/25/orfanatos-no-existem-ento-onde-moram-ento-as-crianas-abandonadas >
Na Europa após a Segunda Guerra Mundial, compreende que a estrutura não atende mais aos anseios sociais. Nascem assim
novos modelos baseados na Declaração Universal dos Direito Humanos, de 1949 e outras legislações específicas. Assim,
cada país de acordo com a sua situação socioeconômica estabelece diferentes propostas arquitetônicas. Porém a maioria dos
países elimina as instituições e aplica as políticas públicas de apoio às famílias.
A arquitetura européia exerceu fortemente influencia no Brasil, percebe-se que existiam as mesmas características prisionais
e uma tipologia arquitetônica voltada para punição e uma ordem maior. Destaca-se o mesmo caso da Europa, a improvisação,
o ambiente construído era adaptado ‘[...] na maioria dos casos funcionavam em prédios improvisados, acanhados, insalubres,
sem móveis, berços, água encanada, esgoto, luz e ventilação’ (MARCÍLIO, 2006,p. 161).
A arquitetura dos edifícios assumiu fortemente os critérios do Movimento Higienista, baseados em alguns modelos
higienistas, os modelos eram de grandes instituições com planta baixa retangular com pátios internos, divididos em alas
para ter uma forte vigilância, através de um isolamento espacial. O que era perceptível um forte contraste entre o exterior e
o interior. Em relação a composição volumétrica a mesma seguia os princípios de ordenamento e simetria. A localização
dessas instituições eram distantes da área urbana e os recuos isolavam o edifício do lote, não permitindo o contato com a
sociedade. Os materiais utilizados na construção eram de baixo custo e de fácil manutenção e limpeza.
Por volta de 1964, os espaços começaram a ser pensados a partir da diferenciação dos usuários e do tratamento. A mudança
não só acontece no espaço. Além disso, passaram a ser divididos por grupos com cada especificação. Registra-se que a
maior parte das arquiteturas foram reaproveitadas do final do século XIX, repassadas depois para o governo. Quando houve a
construção de novas arquiteturas elas repetiam o modelo existente, permanecendo o objetivo de isolar os acolhidos da
sociedade. Com isso, após muitas discussões realizadas com o intuito da criação de uma nova legislação assim, em 1990 foi
aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente. Que provocou em mudanças no espaço arquitetônico e nas condutas
internas.
35
Na figura 12, mostra uma dessas instituições que funcionou como orfanato e hoje como Fundação Pão dos Pobres de Santo
Antônio, em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, que abriga crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. Instituição
essa projetada pelo engenheiro-arquiteto alemão Joseph Lutzemberger, com sua fachada de inspiração francesa.
A instituição de 1895, funciona até hoje como acolhimento após 120 anos e abriga crianças e adolescentes. O prédio com
estilo eclético e meio sóbrio, tem quatro pavimentos diferentemente como a maioria das entendidades da europa não tem
pátio interno, mas tem as mesmas considerações de tipologia interna.
O fluxo se inicia na parte central do edifício, que é a parte administrativa, a partir desse bloco a circulação permeia para as
laterais. Ou seja a circulação é do centro para as bordas, o que mostra o vigor das regras do local, refletido na arquitetura.
Nas laterais o edifício é dividido em duas alas onde se distingue por gênero e sexo do acolhimento. Deixando mais claro que
o bloco central representa imponência sobre os outros dois da laterais. Além disso, em planta percebe-se que o prédio tem
uma perfeita simetria, onde o eixo de simetria se concentra no bloco administrativo, ressaltando mais uma vez essa
imponência na administração e no controle, dos internos.
36
Figura 12: Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre
Fonte: Apêndice 4, Doutorado Aline Eyng.
Ao longo dos anos e com o ECA a tona, a instituição de grande porte para atendimento de crianças e adolescentes nos moldes
dos antigos internatos, teve que algumas mudanças na organização, conduta e na estrutura foram alterados. A estrutura atual
atende crianças com a escola, oficinas pedagógicas, artísticas e esportivas. Possibilitaram aos abrigados desenvolvimento
integral das dimensões humanas, além da proteção integral e atenção básica constituída de moradia, vestuário, alimentação,
educação, saúde e uma convivência humana saudável.
Com auxílio do Centro de Atendimento Integral, o CATI foi visado o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários que
apesar de frágeis ainda não foram rompidos. Desenvolve ações de resgate da identidade, de formação e de educação,
auxiliando e potencializando crianças e adolescentes na construção de sua autonomia e no seu projeto de vida. Com foco
pedagógico com trabalho no campo lúdico e relacional com oferta complementares nas áreas culturais, artísticas, desportivas
37
e sociais, uma ilustrada na figura 13. Outro centro atuante é o Centro de Educação Profissional do Pão dos Pobres, o CEP
oferecendo trabalho com cursos técnicos profissionalizantes. Com isso espaços com esses intuitos foram remodelados, além
do aumento de educadores trabalhando no local.
Figura 13: Quadra esportiva na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre
Fonte: Gilmar Staub.
Disponível em: < http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/000009/00000903.pdf >
Em relação a parte do acolhimento após a chegada do ECA, algumas mudanças sobre o ambiente interno a parte da
hospedagem, foram realizadas já que algumas regras foram colocadas em prática. Deixando assim o contexto de orfanato
prisional que existia antes do estatuto, e indo para um contexto de acolhimento mais individualizado, respeitando o espaço
de cada criança e oferecendo um espaço mais humanista e oferecendo a cada uma seus direitos.
Esses direitos ofertados por lei são refletidos na organização interna dos quartos, como mostra a figura 14 a sua
composição é feita de forma mais individual, quartos com o número reduzido de hospedados e cada criança com ‘seu
espaço’, apesar de muitas vezes, o quarto ser dividido com mais de uma criança, cada uma tem o seu espaço para guardar e
manter seus objetos pessoais, deixando assim a criança mais livre de habitar aquele local.
38
Figura 14: Quarto dos meninos na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre
Fonte: Arquivo Pessoal Gilmar Staub.
Espaços lúdicos e mais infantis foram propostos com intuito de deixar a criança em um ambiente mais familiar e com que a
criança se identificasse com o lugar, como mostra o corredor na figura 15 repleto de estantes de brinquedos e enfeites para
deixar o acolhimento mais característico a idade delas, e deixar o tempo de abrigamento mais sutil, sobre os efeitos da
problemática que levaram elas até o lar.
Figura 15: Corredor da Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre
Fonte: Gilmar Staub
Disponível em: < http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/000009/00000903.pdf >
39
Com a chegada da república, o país se inspirou nas novas formas de pensar sobre o espaço e as alterações da legislação
ocorrem ao longo da história, permitindo inserir um novo contexto no espaço destinado ao acolhimento dos infantes.
No final do século XIX, como foi retratado como exemplo, da Fundação Pão dos Pobres de Santo Antônio, as novas
instituições são construídas com as novas mudanças,não somente no espaço físico, mas passaram a ser diferenciados os
tipos de serviços de acolhimento, com suas especificações para cada grupo. Somente em 1948, começa a dar importância a
necessidade de direitos humanos. Em 1959, a Assembléia Geral da ONU aprova a Declaração Universal dos direitos da
criança. No ano de 1980, tratados e convenções que envolvem crianças e adolescentes ganham força, que se destaca a
garantia de direitos e deveres dos mesmos.
Através da criação do Estatuto, nota-se as primeiras preocupações com a finalidade de retratar a necessidade de mudanças,
através da construção de unidades socioeducativas, que se diferencia da tipologia das antigas instituições. De acordo com o
artigo 123, do mencionado Estatuto, exigiu que no período de internação é obrigatório atividades pedagógicas, com isso
passou-se inserir nesses projetos tipologia referente à essas atividades.
Noutro aspecto, o ECA também inseriu a exigência, no art. 124, inciso X, a obrigatoriedade de no alojamento garantir
condições adequadas de higiene e salubridade. Observa-se, deste modo, o cuidado do legislador infraconstitucional destinou
aos acolhidos um ambiente sadio, isento de qualquer forma que comprometesse a saúde e bem estar.
Considerou também o aspecto da individualidade na construção desses espaços de acolhimentos, visando o respeito à
singularidade e a personalidade de cada indivíduo acolhido, conforme se observa no art. 124, inciso XIV, que propôs manter
os objetos pessoais e dispor de um local seguro para guardá-los.
Assim como o ECA, a fim de estabelecer essas implementações estratégicas relacionadas à arquitetura, o Sistema Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente (SINASE) é aprovado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA) apresenta sendo o primeiro documento legal do país que define o espaço arquitetônico, traz
parâmetros e elementos que devem ou não existir. Para a construção desses espaços, de forma a contribuir na recuperação
dos abrigados. Considera a organização espacial e funcional como instrumento para a viabilização da proposta pedagógica.
Considera-se a adoção de medidas simples como a composição de arranjos espaciais que valorizem a convivência intensa
entre grupos ou a criação de ambientes lúdicos. Promovendo melhorias nas condições gerais do ambiente, tornando o clima
mais favorável à interação social, suavizando os efeitos provocados pela longa permanência, proporcionando assim o contato
íntimo e afetuoso com a criança.
Em síntese coloca-se a importância da arquitetura, sendo um dos instrumentos para trabalhar essa ação socioeducativa. De
modo que, essas estratégias projetuais utilizadas pelos arquitetos possam contribuir para as funções desses espaços.
40
3.3 Modalidades nos serviços de acolhimentos
Muitas mudanças nas instituições foram realizadas até a concepção e aprovação do ECA, as instituições tinham caráter
assistencialista filantrópico, baseadas no Código de Menores. Já com o Estatuto as ações fundaram na perspectiva
socioeducativas. O ECA é uma legislação que assegura à crianças e adolescentes ‘direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana , sem prejuízo da proteção integral’ (BRASIL, 1990). Por lei garante desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual
e social independentemente de qualquer quesito. Conforme o Art. 4° do estatuto, toda criança tem o direito ao convívio
familiar e social, além dos direitos referentes à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, à profissionalização,
dignidade, cultura e liberdade.
Com isso, o documento Orientações Técnicas Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (BRASIL, 2009) aprovada
em 18 de junho de 2009, é um caderno regulamentador que estabelece orientações para o funcionamento dessas
instituições, lista os tipos de acolhimento, estabelecem a definição, o público alvo, suas especificidades, características,
aspectos físicos e as dimensões mínimas para serem usadas em projetos arquitetônicos.
De acordo com o Art.92 do ECA, todas as instituições de acolhimento institucional devem adotar os seguintes princípios:
1) Preservação dos vínculos familiares;
2) Integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem;
3) Atendimento personalizado em pequenos grupos;
4) Desenvolvimento de atividades em regime de coeducação;
5) Não-desmembramento de grupos de irmãos;
6) Evitar sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
7) Participação na vida comunitária local;
8) Preparação gradativa para o desligamento;
9) Participação de pessoas de comunidade no processo educativo;
10) Propiciar a convivência comunitária e a utilização dos serviços disponíveis na rede para atendimento de demandas
de saúde, lazer, educação etc
11) Manter permanente contato com a Justiça da Infância e Juventude.
Todos os tipos de serviço de acolhimento em geral, devem ter um aspecto semelhante ao de uma residência, de estar
inserido o mais próximo em comunidade no ponto de vista geográfico e socioeconômico. Entre os tipos de acolhimento são
classificados em 4 tipos diferentes que estão detalhados na tabela 2 que divide os tipos e faz suas caracterizações,
diferenciados em relação ao público alvo, capacidade e o objetivo, acerca de cada um: Abrigo Institucional, Casa-lar, Serviço
de Acolhimento em Família Acolhedora, República, com base no documento citado.
41
Tabela 2: Modalidades de Acolhimento
Fonte: Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, Brasil 2009, editado pela autora, 2019.
Com isto o objetivo desse trabalho é projetar, um conjunto de casas-lares já que, uma unidade de casa-lar comporta no
máximo 10 crianças e adolescentes. O porte do projeto arquitetônico visa a capacidade de abrigamento de 60 crianças e
adolescentes em 6 unidades de casas-lares.
3.4 Situação atual do acolhimento no Brasil
Apesar das recomendações e orientações, quanto ao funcionamento das instituições de acolhimento existirem, são
frequentes os casos em que o acolhimento se contradiz com as leis e normas sobre o assunto. Segundo Jauczura (2008)
afirma que, em geral, a aplicação das disposições previstas pelo ECA e por outras políticas de proteção à infância e à
juventude ainda é um desafio no Brasil.
Segundo uma pesquisa publicada em 2003 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Sudeste é a região com
maior concentração de instituições de acolhimento público cadastradas da REDE SAC/Abrigos para crianças e adolescentes.
Os estados do sudeste reúnem cerca de 49,4% das instituições cadastradas. Em segundo lugar, está a região Sul, com
20,7%, seguido da região Nordeste, com 19,0%. Logo depois está o Centro-Oeste, com 7,0% das instituições, e Norte, com
4,2%. Dentro desse aspecto, 589 instituições existentes em todo o Brasil, 290 são concentradas na região do Sudeste.
42
De acordo com o ECA, as instituições de acolhimento tem caráter de medida provisória, até o retorno da criança para a
família de origem ou uma família substituta. No entanto, por conta de uma grande burocracia para a adoção, o abrigo se
torna uma medida permanente de moradia para muitas crianças e adolescentes:
[...] As maiores dificuldades para o retorno das crianças e adolescentes para as famílias encontram-se nas
condições socioeconômicas das famílias (35,45%), na fragilidade, ausência ou perda do vínculo familiar
(17,64%), na ausência de políticas públicas e de ações institucionais de apoio à reestruturação familiar (10,79%),
no envolvimento com drogas (5,65%) e na violência doméstica (5,24%) (IPEA, 2003).
Conforme, o Levantamento Nacional de Abrigos para crianças e adolescentes da Rede SAC, publicada em 2003 pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão ligado à Presidência da República, constatou que a maioria dos abrigados
(86,7%) tinham família e apenas 5,2% eram órfãos. No entanto, apesar de tantos terem família, somente 58,2% mantinham
vínculos familiares. Os outros 28,5% tinham família, mas viviam totalmente afastados dela, não estavam impedidos pela
justiça de ver seus pais.
O motivo para o afastamento dessas famílias, e de qual maneira levaram esses meninos e meninas aos abrigos, a pesquisa
do IPEA mostra que, a pobreza é o motivo mais recorrente, com 24,1% dos casos, mas não pode ser apontado como o único.
Porém, não só a pobreza é a causa de acolhimento, em seguida a esse dado vem o abandono (18,8%), a violência doméstica
(11,6%), a dependência química dos pais ou responsáveis incluindo alcoolismo (11,3%), a vivência de rua (7%) e a orfandade
(5,2%). Assim se ressalta a imprescindibilidade das entidades de acolhimento ao oferecerem serviço de qualidade às
crianças e adolescentes, pois suas histórias anteriores às medidas de proteção comumente são marcadas por dificuldades.
De acordo com o relatório, do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Situação Mundial da Infância 2008- Caderno do
Brasil, mostra que a pobreza é um fator determinante de abrigo infantil evidencia que no país cerca de ‘11,5 milhões de
crianças ou 56% das crianças brasileiras de até 6 anos de idade vivem em famílias cuja renda mensal está abaixo de ½ salário
mínimo per capita por mês’ (UNICEF, 2008) o que imagina sendo uma processo vicioso para as futuras institucionalizações
Em relação ao período de institucionalização, a realidade nos mostra que o período pode ser ultrapassado, apesar do § 2 do
Art. 19 do ECA definir que a permanência de criança e do adolescente não se prolongará por mais de dois anos em
programas de acolhimento. Assim o tempo, permanente em abrigos varia conforme as necessidades de cada criança e
adolescente, podendo variar de 2 a 5 anos, como funciona para 32,9% dos abrigos, mostrando assim que o termo ‘provisório’
não se faz válido para maioria dos casos. Segundo Siqueira e Dell’Aglio (2006), ressaltam que a duração da instituição
quando prolongada por anos, pode interferir no desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos acolhidos. Portanto, como
proposto pelo ECA, essa característica do acolhimento institucional não é cumprido em considerável parte dos casos.
De acordo com psicólogos, se uma situação assim se prolonga por muito tempo, pode provocar grande carência
afetiva, dificuldade para estabelecer vínculos, baixa autoestima, atrasos no desenvolvimento psicomotor e pouca
familiaridade com rotinas familiares. Nesses casos, crianças e adolescentes também têm a dificuldade para
adquirir sentimento de pertencimento e adaptar-se ao convívio em família e na comunidade (MPF).
Tendo em vista a questão do retorno da criança e do adolescente à sua família de origem, de forma que ela possa ser o mais
breve possível. Os abrigados têm como direito manter vínculos com suas famílias e estas necessitam de apoio para receber
seus filhos de volta e conseguir exercer suas funções de forma adequada. Assegura assim, no ECA, no Art.92 a convivência
familiar e comunitária, na mesma pesquisa verificou-se que mais de 75% das entendidade de acolhimento declararam que
43
havia acolhidos que não recebiam a visita dos pais ou responsáveis. O que fragiliza os vínculos familiares e reduz a criança
retornar para o lar de origem. Se questiona, com isso se essas instituições incentivam o convívio familiar que é recomendado
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, já que somente 14,1% das instituições avaliadas realizam ações integrativas com
a família.
De forma que o acolhimento possa ser o mais próximo a realidade familiar o projeto arquitetônico deve ser influenciado,
garantindo que a construção deve parecer com uma residência comum, evitando grandes pavilhões, típicos o dos antigas
instituições totais. O atendimento também deve ser realizado em pequenos grupos, permitindo assim que preste mais
disposição.
Na mesma pesquisa o IPEA (2003) constatou que 85,9% das instituições de abrigo não possuem especialidades no
atendimento, para crianças e adolescentes com alguma deficiência, e apenas 12,6% possuem instalações físicas acessíveis.
Conclui-se então que são muitas ambiguidades que permeiam os discursos e as práticas presentes nas instituições, o que,
consequentemente, compromete o desenvolvimento dos acolhidos. Outro fator importante a ser considerado é o da
organização espacial dessas instituições, como esses espaços devem ser projetados? Quais são as suas necessidades? Como
o espaço deve influir no desenvolvimento dos abrigados?
3.5 Acolhimento Institucional em Fortaleza
Agora trazendo para a realidade do acolhimento institucional em Fortaleza, e com uma análise realizada por um
monitoramento do CEDECA- Ceará (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) fez um Monitoramento das Unidade de
Acolhimento Institucional, onde buscou se apropriar sobretudo da legislação pertinente e das políticas públicas existentes.
Com isso, foram realizadas pesquisas, entrevistas e a sistematização de dados até 2012 foram listadas 23 unidades de
acolhimento institucionais da cidade de Fortaleza, unidades essas que acolhem crianças em situação de vulnerabilidade.
Os dados recolhidos dessas instituições atendiam prioritariamente crianças e adolescentes da cidade. Esse dados foram
coletados com auxílio da COMDICA (Conselho Municipal de Crianças e Adolescentes) e pelo CAOPIJ (Centro de Apoio às
promotorias da Infância e juventude). As primeiras informações recolhidas, foram sobre a natureza dos programas de
acolhimento institucional se variava em público, particular ou algum vínculo religioso, como mostra o gráfico 2
44
Gráfico 2: Quanto à natureza do programa de acolhimento nas instituições de Fortaleza
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.35.
O gráfico acima mostra que a maior parte do serviço é realizado por organizações não governamentais e/ ou com algum
vínculo religioso. O poder público atua com apenas 25% desse tipo de atendimento. Devido a isso, preocupa-se com a
responsabilidade governamental e a terceirização de um serviço que era pra ser de dever do governo. Diminuindo cada vez
mais, a sua responsabilidade direta dessa política pública.
Outro dado de relevância levantado foi em relação aos tipos, a modalidade de acolhimento. A resolução conjunta n°1,
CNAS/CONANDA,2009 as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, aborda os
parâmetros para cada tipo de funcionamento desses serviços dividindo em 4 tipos de serviço: abrigo, casas- lares, famílias
acolhedoras e a casa de passagem. No recolhimento dos dados foi visto que houve certa dificuldade de cada instituição não
saber em qual classificação se adequaria Apontando assim a necessidade das organizações que realizam acolhimento
institucional se apoiarem na legislação vigente, resultando no dado apresentado no gráfico 3.
45
Gráfico 3: Quanto ao tipo de acolhimento nas instituições de Fortaleza
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.38.
Em relação ao público alvo da política os dados apontam que a maioria do público é por parte de criança/ adolescente e sexo
dos acolhidos. Ocorre apenas uma variação pequena entre o atendimento de jovens que foram institucionalizados na infância
e ainda não conseguiram se desvincular com a instituição de acolhimento.Como apresenta no gráfico 4.
Gráfico 4: Quanto ao público alvo nas instituições de Fortaleza
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.39.
46
Já em relação ao ingresso do público se dá por decisão ou encaminhamento judicial. Há também a possibilidade de alguns
casos de emergência, a partir do conselho tutelar. As entidades fazem uma espécie de triagem para avaliar o perfil dessas
crianças e adolescentes. Os motivos são bastantes variados como mostra o gráfico 5.
Gráfico 5: Quanto ao público alvo nas instituições de Fortaleza
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.47.
Os motivos declarados para o acolhimento institucional não é considerado um importante elemento para o ingresso dessa
política e sim outros casos fazem com que não entrem nas instituições como os casos de drogadição.
Então se resume com esses dados apresentados se concretiza a importância da criação da casa lar pública, como prever esse
projeto. Como foi registrado, há poucas instituições públicas. E o acolhimento mais individualizado como propõe o conceito
de casa lar ainda não é a maioria na cidade, como foi dito quando explicado sobre as modalidades esse tipo se preocupa em
reproduzir a vivência familiar.
3.6 Adequação acolhimento casa-lar
Com base na Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 1/2009, que trata das Orientações Técnicas de Serviço de Acolhimento
para crianças e adolescentes (BRASÍLIA, 2009), conceitua a casa-lar, um tipo de serviço de acolhimento provisório
organizado em unidades residenciais. Consiste em desenvolver relações mais próximas, a de um ambiente familiar, no qual
pelo menos uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente prestando cuidados sócio-educativo, em
crianças e adolescentes, afastados do convívio familiar, por meio de um medida protetiva o abrigo acolhe, como rege no
Estatuto da Criança e Adolescente no Art° 101. As famílias e os responsáveis não disporem de condições de maternagem ou
paternagem, por descumprimento de algum direito, assim as crianças são acolhidas temporariamente, até que seja
viabilizado o retorno para o seu convívio com a família.
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Um estudo, em Israel, teve o objetivo de acompanhar o bem-estar de crianças expostas à
situações de risco ( abuso ou negligência), após a decisão dos conselhos tutelares de
mantê-las ou tirá-las de suas casas. As crianças que ficaram em casas-lares tiveram um
escore de qualidade de vida superior àquelas que ficaram em instituições do tipo
convencional. Provavelmente, características de casas-lares, como presença da família-social,
número reduzido de crianças e espaço físico similar ao de uma casa convencional (BRANDÃO
e CAVALCANTE, 2009, p.335)
Tipo de instituição essa que abriga crianças e adolescentes de 0 a 18 anos , onde em cada casa-lar deverá atingir um número
máximo de 10 usuários, definido através da resolução conjunta com as orientações técnicas. Esse tipo de serviço visa
estimular a proximidade da realidade familiar, tanto no ponto de vista arquitetônico, que deve se assemelhar a uma
residência unifamiliar, como também da confinidade do ambiente familiar, promover hábitos dentro de uma rotina
doméstica, além da ideia de interação social com os integrantes da instituição e da comunidade que rodeia a casa-lar.
Diferentemente dos outros tipos de acolhimento como o abrigo e o orfanato, o que distingue da casa-lar é a presença de um
educador/cuidador dentro da casa, com esse intuito de exercer um desenvolvimento familial, assim o acolhido se torna mais
estável e afetivo. Esse educador ocupa um lugar de referência afetiva a fim de, proporcionar um vínculo estável entre o
mesmo e as crianças e adolescentes, favorecendo assim o convívio familiar além do acompanhamento em cuidados e na
rotina da casa assim como da vida do resistente. Recomenda também que estas crianças e adolescentes ajudem nessa função
de organização e cuidado de modo a se sentirem pertencentes ao grupo com os seus direitos e deveres. Mesmo exercendo
esse papel o cuidador não tem o intuito de substituir o cargo de pais ou responsáveis de origem, mas sim contribuir para o
fortalecimento de vínculos familiares de forma que não venha a perder essa relação, favorecendo futuramente em um
possível processo de reintegração familiar ou até encaminhamento de uma família substituta, se for o caso.
Para este tipo de acolhimento as Orientações Técnicas (BRASIL, 2009), apresenta tabelas que especificam a equipe
profissional, quantidade de funcionários e a infraestrutura mínima a de assistência. No regulamento também confere que a
casa-lar deve evitar atendimentos exclusivos, tais como atender uma faixa etária ou sexo específico, pois necessitam de uma
atenção especializada o que irá contribuir para a capacitação especificação dos cuidadores.
A equipe profissional mínima para casa-lar deve ser composta de um coordenador, equipe técnica, educador/cuidador
residente e auxiliar de educador/cuidador. O coordenador é quem participa de toda a gestão da entidade, supervisiona e
organiza os profissionais que trabalham dentro da instituição. A equipe técnica trabalha no acompanhamento psicossocial e
o acompanhamento do trabalho dos educadores. O educador/cuidador residente é quem vai gerar assistência à criança e
oferecer os cuidados básicos. O profissional auxiliar de educador/cuidador residente são aqueles que vão apoiar as funções
do educador/cuidador residente.
Sobre a infraestrutura do espaço pela norma, alguns espaços são sugeridos, o quarto dos residentes se recomenda dormir
até 4 pessoas por cômodo, com dimensão mínima para acomodar camas e algum espaço para guarda dos pertences pessoais
de forma individualizada. No quarto para educador/cuidador residente é necessário um tamanho suficiente para mobiliário
com a finalidade de armazenar os objetos pessoais. O espaço da casa-lar também deverá incluir a sala de estar e jantar com
espaço suficiente para acomodar todas as crianças, adolescentes e o cuidador que moram na casa. Inclui também no
48
programa de necessidades de toda casa-lar, ambiente de estudo, banheiro, a cozinha, área de serviço e uma área externa que
pode ser uma varanda, quintal ou jardim.
Outros espaços fora da casa-lar também são exigidos onde deverão funcionar, como uma área específica para administração
técnico-administrativa que deverá conter sala para equipe técnica, sala de coordenação/ atividades administrativas para
desenvolvimento de atividades contábeis, financeiro, logístico e documental e por último uma sala de reuniões em equipe.
Como completa na tabela 3, que apresenta todas as características da infraestrutura interna de uma casa-lar.
49
Tabela 3: Infraestrutura e espaços mínimos sugeridos para casa lar.
Fonte: Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, Brasil 2009, editado pela autora, 2019.
É garantido por fim que a infraestrutura da casa-lar deverá oferecer a acessibilidade para o atendimento de todo o público,
deficiente ou não, para que possa ser usado por todos sem quaisquer limitações. Além de permitir com isso espaços mais
próximos ao ambiente familiar, de forma a se respeitar a classificação desse tipo de acolhimento, para que nesse período a
vida da criança possa ser mais branda.
4. ASPECTOS TEÓRICOS PROJETUAIS
4.1 Ecoarquitetura
Na natureza deve ser perdido, tudo pode ser transformado. Nos atuais dias muito se é comentado sobre a quantidade de
resíduos sólidos que é desperdiçado de forma exagerada, gerando esgotamento de recursos naturais. Devido a esta condição,
é constatado, que o ramo da construção influi fortemente no impacto do planeta. Um dos motivos é o uso abundante de água
e o descarte dos resíduos durante o processo.
50
agrava dia após dia, procura-se reavaliar a forma que as construções atuais se relacionam com atual situação do planeta.
Começaram a aparecer no mercado materiais biodegradáveis, como também outras técnicas, que foram utilizadas como
medidas para minimizar esses efeitos de consumo exacerbado que passaram a serem empregadas por profissionais no
mundo todo.
Durante o século XIX, os conhecimentos científico tecnológico defendiam o uso de materiais sintéticos. No século XX, a
população era mais urbana e se utilizou de ambiente mais artificiais submetidas à iluminação artificial e ao uso do ar
condicionado, por exemplo como relata, Castelnou (2003). Posteriormente passaram a descartar o natural e degradam o
ambiente. Com a apresentação dos movimentos ambientalistas, buscou-se atingir uma situação de equilíbrio entre
demandas e disponibilidades de recursos naturais (BRANCO, 1999).
Através dessas condições, surgiu-se uma tendência que já entrou no mercado imobiliário, a chamada ecoarquitetura. De
acordo com Busana (2013) se define sendo a criação e aplicação de conceitos simples e consciência ambiental. Conceito
utilizado que exprime uma forma de planejar e construir usando técnicas simples e complexas, de maneira ambientalmente
harmonizado, economizando a energia e sempre favorecendo o contexto de desenvolvimento sustentável. Às vezes chamada
também, por um neologismo, de arquitetura verde. Produzindo assim em edifícios com esmero, mas sempre com a
orientação de qualificados profissionais da área. Envolvendo tudo que envolve a natureza assim são usados abundantemente,
como exemplos, o sol, ventos e o paisagismo.
Para entender esse conceito a “palavra Ecologia tem origem no grego oikos, que significa casa, e logos, estudo. Em 1869, o
cientista alemão Ernst Haeckel foi o primeiro a usar este termo para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o
ambiente em que vivem” (RANGEL, 2015).
Essa definição consistente em uma postura na prática profissional da construção civil de valorizar a relação homem e
ambiente, juntamente com a intenção de integrar o edifício com o meio através de consumir suas tecnologias e aproveitar os
recursos renováveis disponíveis de forma sustentável e consciente. Com finalidade de minimizar os custos, gerando menos
resíduos e prejuízos à natureza e consequentemente para as gerações futuras.
51
Defender a arquitetura sustentável demonstra a necessidade de o homem assumir a responsabilidade sobre o
ambiente, o que significa criar ambientes não naturais que não provocam mais danos à capacidade física e
psicológica humana, ação que valoriza as gerações futuras por meio do cuidado com o planeta Terra. Nesse
cenário, os edifícios deixam de ser estruturas herméticas que causam desconforto, para dar origem a habitações
agradáveis, que instigam a produção e o bem-estar no trabalho e o relaxamento quando em casa. (OLIVEIRA,
2009).
Além disso, infelizmente muitos municípios desrespeitam as leis ambientais existentes, o que poderia contribuir para a
propagação dessa conceituação. Por haver essa situação, propõe-se que todos os municípios devem elaborar o Plano
Integrado de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil, até 2005, o que aconteceu com a cidade de Fortaleza. Junto
com a elaboração do plano indica-se que toda cidade deve ter pelo menos uma usina de reciclagem de materiais, usados na
construção civil, contudo infelizmente não é uma realidade.
A fim de diminuir a agressão ao meio ambiente, os arquitetos que apoiam a causa de usar materiais alternativos,
reutilizáveis nas construções. ”Procuramos alternativas que reduzam o custo de produção, substituindo materiais e
reaproveitando o que as pessoas chamam de lixo, mas para nós seria resíduo”, explica a pesquisadora e professora da
PUC-Campinas, Rosa Cristina Cecche Lintz.
A adoção desse conceito pode levar à ampliação do conforto e da economia de recursos naturais. Trabalham-se então
algumas técnicas construtivas, as chamadas ecotécnicas que são utilizadas a fim do edifício se adequar para o contexto da
ecoarquitetura como: a exploração da iluminação e ventilação natural, coleta e reutilização da água da chuva, utilização de um
espaço para separação do lixo para reciclagem, uso de piso permeável, utilização de madeiras em reflorestamento certificada,
estratégias utilizando a vegetação além do uso de materiais da região. Através dessas técnicas utilizadas alguns benefícios
são adquiridos para o funcionamento do edifício, aumentando a vida útil do mesmo que acarreta na melhoria da qualidade do
ar consequentemente para a qualidade de vida, redução da utilização de água e energia elétrica, menor manutenção e maior
durabilidade.
Visando a aplicabilidade desse conceito para a concepção do lar público de crianças e adolescentes, de forma que venha a
reduzir os custos da obra assim como também, baratear a manutenção do edifício garantindo o aumento da vida útil. A
eficiência energética irá ser explorada com o aproveitamento da iluminação e ventilação natural, de modo que o uso de
equipamentos climáticos artificiais, venha a ser abolido. Além de outras medidas e materiais com a intenção de
reaproveitamento vão ser usados no projeto.
4.2 Biofilia
Ao longo dos anos a relação entre ser humano e meio ambiente foram alteradas. Inicialmente as pessoas tinham uma relação
saudável com a natureza, sabiam usufruir dos recursos naturais. Durante o processo evolutivo o homem estava intimamente
envolvido com a natureza, onde dependia da mesma para a sobrevivência humana.
Para a grande maioria da existência humana, a paisagem natural forneceu recursos necessários para a
sobrevivência humana, principalmente a comida, água, luz solar, comida animal e vegetal, materiais de
construção, abrigo, vistas, e fogo. O sol forneceu calor e luz, bem como informações sobre a hora do dia. Árvores
de grande porte forneceu abrigo do sol do meio-dia e lugares para dormir à noite para evitar predadores
terrestres. Flores e vegetação sazonal forneceram alimentos, materiais e tratamentos medicinais. Rios e
cisternas forneceram o fundamento para a vida - água para beber e tomar banho, peixes e outros recursos
52
animais para alimentação. Também forneceu um meio de navegação para chegar a terras distantes
(HEERWAGEN, 2009, p.39).
Portanto com o passar do tempo, a relação de respeito ao meio se alterou para a degradação. Devido a essas circunstâncias
alguns debates sobre o tema foram realizados, de forma internacional, em congressos e encontros. Tentando assim que
trabalhar a questão da consciência ecológica, a educação ambiental e a filiação emocional restabelecendo vínculos das
pessoas com o meio. ‘Auxiliando para além do conhecimento socioambiental, mas com foco na formação psicossocial’
(SILVA; HIGUCHI; FARIAS, 2015).
Atualmente enfrenta-se um dualismo, busca-se proteger os recursos naturais e preservá-los com responsabilidade e do
outro lado o modernismo, que invade o mundo propondo um novo cenário, com as tecnologias que não oferecem ao ser
humano despertar o interesse para se filiar com a natureza. Uma questão de valor cultural que foi perdida durante a história
do planeta, com a chegada desse ‘novo mundo tecnológico’, onde foram trazidos novos valores. Ultimamente acredita-se
nessa necessidade de recuperar o que foi perdido, tanto na relação afetiva dos dois meios assim como, a preservação dos
recursos naturais.
Em dias como hoje estamos muito associados ao stress, ansiedade e sensações, segundo Palma passamos 90% da nossa
vida em ambientes que não exploram a natureza ou os ambientes externos, o que torna urgente trazer essa vivência para
esses ambientes. De forma a potencializar as capacidades humanas e proporcionar uma qualidade de vida melhor a quem
usufrui o espaço. Podemos entender então, que os profissionais designers, engenheiros e arquitetos devem sim propor
ambientes que impactam psicologicamente e fisicamente, de forma positiva.
Então sobre o conceito, sabe-se que aplica a ideia de afinidade humana pelos elementos naturais e como os ambientes
podem interagir com esses elementos, promovendo bem estar, saúde e melhor desempenho. O design biofílico é concebido
como uma condição humana que faz as pessoas se sentirem afiliadas à natureza e que induz à busca de relação com os
demais seres vivos e processos naturais (WILSON,1984).
Se resume sendo a relação do homem com a natureza e a filiação emocional inata com a natureza, é sobre as pessoas
sentirem a necessidade básica desse contato com a natureza. Assim ‘[...] a Biofilia pode ser definida como a tendência natural
para voltarmos a nossa atenção às coisas vivas, à natureza, sendo que está provado que ao estarmos em comunhão com a
Natureza temos melhores prestações em todos os campos da nossa vida’. (PALMA, 2018).
Contudo, Kellert (1997) afirma que a espécie humana quando se relaciona com o meio ambiente, aumenta a capacidade do
homem sobreviver e prosperar fisicamente, emocionalmente e intelectualmente. A natureza presente nos ambientes
impactam fortemente no bem estar, na produtividade, na criatividade e motivação. Como evidência em pesquisa, pelo
relatório Human Spaces no Impacto Global de Design Biofílico no Local de Trabalho, aqueles que trabalham em ambientes
com elementos naturais relatam níveis mais altos de bem-estar (+15%), produtividade (+6%) e criatividade (+15%) do que
53
aqueles que trabalham em ambientes sem natureza.
O uso desse conceito não é só relacionado um compromisso com a sustentabilidade, mas incorpora uma relação de melhor
desempenho para quem utilizar o ambiente. De maneira geral, é uma abordagem à sustentabilidade, porém de uma maneira
mais tática, emocional, experiencial e humana. Usando esse conceito desde do início do projeto e incluindo em todas as
conversas de equipe de projeto, tende a melhorar o resultado final do projeto, assim como irá trazer a satisfação do cliente.
Com isso, o design que nos conecta com a natureza está comprovado que aumenta a produtividade, como foi mencionado, em
pesquisa, de forma que todos esses elementos influenciam na psicologia e na fisiologia humana. As estratégias dentro desse
conceito, são técnicas simples e devem ser implementadas para que tudo funcione em conjunto.Trazer a natureza, para
dentro dos espaços vai além da distribuição de plantas no local. Envolve outros aspectos diferentes da vegetação, tende no
impacto de mudanças ambientais como a luz, cor, espaço, forma, ar, material, água e os animais. Todos esses aspectos
auxiliam em deixar mais conectados com a natureza, estarmos mais próximos da mesma promovendo assim satisfação,
comodidade, orientação, conforto e produtividade contribuindo para a saúde e bem estar.
Novas pesquisas apontam e apoiam os impactos mensuráveis e positivos ao design, fortalecendo essa conexão entre a
natureza e humano, aumentando assim o número de pesquisas. Embora o conceito exista há 30 anos ainda não é uma prática
comum, padrão e nem é uma discussão leva entre profissionais e clientes. No entanto, existem poucas orientações para
implementação desse conceito.
Ainda que todas essas considerações possam ser válidas a qualquer tipo de ambiente, quando pensamos em ambientes de
acolhimento em que a criança é recebida em um novo local para morar, muitas vezes por um tempo indeterminado e com
toda a situação da vivência da problemática sendo afetada pelo psicológico. No caso o uso do conceito da biofilia irá amenizar
toda essa situação de fragilidade vivenciada nos acolhimentos. ‘Com toda essa questão é importante destacar a relevância da
natureza no bem-estar e na saúde infantil e compreender como as crianças percebem e constroem vínculos com os
ambientes, seres e processos do mundo natural’ (WELLS, 2000).
Assim dentro do design biofílico procura-se introduzir a natureza dentro dos espaços de acolhimento, da casa lar, dessa
forma a propor ambientes que as crianças possam vivenciar a natureza. Essa inclusão do conceito tende a ser realizada em
espaços havendo uma conexão visual com a natureza, estimulando a criança vivenciar de forma sensorial, trabalhar as
questões de variâncias térmicas, presença de vegetação e contato com a àgua. Deixando o ambiente mais próximo da
natureza, buscando o equilíbrio com o planeta e o apelo estético, mas sobretudo através desse contato direto, a criança
adquire conhecimento junto com emoções agradáveis, com reforço na afetividade, expansão da criatividade, imaginação e o
bem estar criado com locais que trabalham essas percepções.
54
contribuições em outras áreas como na arquitetura. As primeiras discussões foram em 1940 e se tornou conhecida em 1960
e 1970. Para Okamoto (1996), existem dois universos que compõe o ser humano: o exterior e o interior. O exterior está em
constante adaptação ao meio e o segundo responde a estímulos que foram recebidos do ambiente. O interior é mudado
constantemente pelo contato com os ambientes, e é essa relação de ser humano e ambiente construído, que a Psicologia
Ambiental trabalha.
Assim, na relação entre o ambiente construído e os seus usuários, o conceito de percepção, serve para explicar
reação ao ambiente construído imediato, baseadas, exclusivamente, nos sentidos, enquanto o conceito de
cognição serve para explicar reações ao ambiente construído mais amplo, baseados, além de nos sentidos, nos
valores, conhecimento, personalidade e etc [...] (REIS E LAY, 2006, p.24).
Além do espaço físico e o estudo comportamental, a questão das memórias também são levadas em consideração, são
chamadas de place-attatchment1, que se diz a respeito de ligações simbólico afetivas que são inerentes à relação pessoa e
ambiente.
Percebe-se que elementos dentro do ambiente influenciam os comportamentos, quais são gerados os comportamentos pelos
estímulos ambientais. Os indivíduos agem sobre o ambiente modificando, ajustando-o, mas o ambiente também modifica os
indivíduos, influenciando em condutas, comportamentos e ações. Essa inter relação como sugere Cavalcanti e Elali (2011)
apresenta uma visão multidimensional onde é necessário compreender os componentes físicos da situação, em relação ao
ambiente e a arquitetura, os componentes não físicos mais relacionados a psicologia e as reações pessoais de
comportamento e por último os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos que são carregados dentro de cada pessoa.
É Importante destacar o fato das pessoas se comportarem de diferentes maneiras, em espaços distintos.
Em uma análise geral, respostas surgem ao espaço e suas reações geram apego ou afastamento. Algumas características
impactam diretamente nesse processo, que é consequência das experiências do indivíduo. Se forem favoráveis ao
desenvolvimento à permanência essas características auxiliam na transformação de um espaço genérico em um lugar com
significado, garantindo a apropriação e a sensação de uma identidade construída.
1
"Place attachment - É um conceito da psicologia ambiental que se resume sendo o vínculo emocional entre a pessoa e o lugar.
55
Ao se tratar especificamente de projetos arquitetônicos têm que se considerar o fato das pessoas estabelecerem
conexões positivas quando o espaço está de acordo com as necessidades. Garantir essa conexão é uma tarefa que o projeto
estará envolvido, por gerar uma proposta de uso equivalente.
Para isso dentro dos ambientes de acolhimento esse conceito de psicologia ambiental é tão importante, pelo tempo que pode
se passar ao longo dele, já que o local de permanência variada e é um fato há levar em conta, pois geralmente a permanência
é considerada. Cada criança reage de maneira distinta, é importante destacar aos tipos de relações estabelecidas. O ambiente
favorece para que relações sejam construtivas em termos de, crescimento pessoal e na sociedade assim a arquitetura
interfere nas relações.
É comum em sistemas de acolhimento notar que o atendimento padronizado, o alto índice de crianças por cuidador, a falta de
atividades planejadas e a fragilidade de redes de apoio afetivo e social viabilizam um bom desenvolvimento para a criança
por um bom tempo. A compreensão desses fatores auxilia a prevenção e promoção dos aspectos mais saudáveis dos
indivíduos, portanto o fortalecimento desses aspectos podem ajudar o indivíduo a melhorar suas respostas pessoais, a
frente às situações de risco.
Dentro dessa perspectiva o ambiente construído vem de forma a suavizar esse período de acolhimento e auxiliar em
problemas psicológicos. Segundo Winnicott (2000), o desenvolvimento emocional saudável depende essencialmente de um
ambiente suficiente bom. Com isso, ambientes integradores, sociáveis e comunitários procuram auxiliar na reconstrução de
comportamento, auxiliando na confiança em si e no outro, oferecer espaço para surgir criatividade e individualidade.
O programa de necessidades quando focado nessa perspectiva, auxilia e estimula as relações de aptidões e talentos dentro do
lar procurando descobrir os desejos e motivações das crianças abrigadas. Convivência em um ambiente intelectualmente
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mais estimulante, acesso garantindo a ensino de qualidade e outras atividades que venham a estimular habilidades
cognitivas.
Em relação ao ambiente Dorian (2003) sugere a pertinência de se proporcionar aos abrigados ambientes mais positivos, com
maior segurança e estabilidade e promotores de resiliência, o que significa propiciar um local onde haja fatores de proteção
para o desenvolvimento humano, é preciso assim dar voz a criança.
O novo tipo sistema de acolhimento comentado e comparado em relação ao histórico de acolhimento como foi dito antes,
acaba sendo favorável a para algumas situações de risco como o tratamento massificado, privação da convivência familiar,
separação da figura de apego e o confinamento social, mas somente a quantidade e intensidade desses fatores de risco são
decorrentes a experiência de privação afetiva seriam capazes de definir o quão adversas e hostis podem ser as condições do
ambiente físico e social para o desenvolvimento da criança que se encontra sob os cuidados do abrigo. Assim o acolhimento
proporciona uma perspectiva das crianças em um ambiente favorável ao bem estar, reflexão e reorganização do projeto
pessoal familiar.
Visto a importância desse conceito dentro da situação de abrigamento considera-se importante aplicar o conceito de
psicologia ambiental dentro do projeto arquitetônico. Com isso, foi escolhido a teoria de place attatchment dentro do
conceito da psicologia. Criando assim, uma relação sentimental, um apego e significado ao lugar, a relação do conceito da
proximidade da casa e o uso do verde podem deixar as crianças mais à vontade para criar esse apego ao espaço.
57
habilidades. A ideia é que qualquer ambiente possa ser alcançado, dentro do conceito do desenho universal de forma a ser
usado independentemente de qualquer característica que o usuário tenha. É justamente evitar a necessidade de ambientes e
produtos especiais para pessoas com deficiência, assegurando que todos possam usar com segurança e autonomia. Hoje em
dia o conceito acontece na nossa sociedade não é completa, mas já se torna consciente.
O desenho universal tem como objetivo definir projetos de produtos e ambientes que contemplem toda a diversidade
humana desde de crianças, adultos altos e baixos, anões, gestantes, idosos, obesos, pessoas com deficiência e com
mobilidade reduzida. Resume sendo acessível não só para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, mas como uma
transformação para todas as pessoas que vivem em sociedade. Esse tipo de desenho é o caminho para uma sociedade mais
humana e cidadã.
A ideia inicial é de um Universal Design que nasceu após a Revolução Industrial, quando começou a se questionar sobre o
processo repentino da área imobiliária, onde fazia modelos iguais para usuários que não são iguais. O conceito do conforto
está intimamente ligado, pensando nisso em 1961, países como Japão, EUA e nações europeias se reuniram na Suécia para
discutir sobre o ‘homem padrão’ nem sempre é o ‘homem real’. A normalidade é que a espécie humana sejam pessoas muito
diferentes. Em 1963 foi realizada a primeira conferência internacional em Washington a ‘Barrier Free Design’ com o objetivo
de discutir os desenhos de equipamentos, edifícios e áreas urbanas .
Mais tarde em 1987, o conceito ficou mais profundo com o americano Ron Mace usava cadeira de rodas e criou essa
terminologia Universal Design. Acreditava no surgimento não de um estilo ou ciência, mas de uma percepção necessária para
que se aproximamos da ideia de tornar útil para todas as pessoas. É importante ressaltar que o desenho universal
democratiza o espaço e equipara as pessoas.
No Brasil esse debate teve início em 1980 com o objetivo de conscientizar os profissionais desta área, discussões mundiais
ficaram repercutidas aqui no país. Assim foram promulgadas algumas leis brasileiras para regulamentar o acesso para todos
garantindo a parcela da população com deficiência tivessem as mesmas garantias de todos os cidadãos. Com isso em 1985
foi criada a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9050, a norma de acessibilidade a edificações, mobiliários,
espaços e equipamentos urbanos à pessoa com deficiência. Sendo revisada em 1994 e em 2004 foi revisão, a sua última
revisão foi em 2015 e até hoje é regulamentada com todos os aspectos de acessibilidade.
Na década de 90, Ron criou um grupo com arquitetos e defensores da ideia para estabelecer os setes princípios do desenho
universal. Conceitos esses que passaram a ser mundialmente adotados, para qualquer programa de acessibilidade plena. São
eles: igualitário, adaptável, óbvio, conhecido, seguro, sem esforço e abrangente.
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quando a dimensão e espaço é para aproximação e uso, estabelece dimensões e espaços apropriados para o acesso, alcance,
manipulação, uso, tamanho, mobilidade do usuário e a postura.
Todos os princípios do desenho universal reforçam a ideia de acessibilidade para todos e visa democratizar o acesso não
apenas aos ambientes, mas, a produtos e serviços.
Os locais devem sim seguir as normas da ABNT, que no caso da acessibilidade é a NBR 9050 que garante a acessibilidade
desses espaços. Em suma, para aplicar o desenho universal é preciso conhecer as diferentes necessidades e pensar nelas
antes de começar uma construção, a fim de evitar que sejam feitas adaptações. E, mais do que garantir o acesso, é preciso
ter em mente que dessa forma será possível incluir a todos, aumentar os ganhos e visibilidade das marcas que com
acessibilidade podem aumentar seu alcance.
Dentro dessas questões mencionadas tão importantes para a construção de uma edificação, que é o desenho universal este
conceito foi escolhido para ser trabalhado dentro do atual projeto, a casa lar pública. Sendo tão primordial já que vai haver a
diferença de espaços destinados aos usuários crianças assim como também aos adultos. Além disso, o lar deve ser um
espaço inteiramente acessível para quaisquer tipos de usuários, não havendo restrições.
O projeto se localiza na Vila Beisha, no condado de Fu’ning, Jiangsu a primeira província na China. Uma região rural que
apresenta altos índices de alfabetização pré-escolar. Através de aliviar a escassez de educação pré-escolar nas áreas rurais, o
projeto foi encomendado em 2015, pelo governo Chinês junto com o departamento de educação, pelo escritório de
arquitetura Crossboundaries, de Pequim. O resultado da aplicação do projeto, foi um acelerado desenvolvimento com uma
educação de alta qualidade para crianças e adolescentes.
O condado de Fu’ning é historicamente conhecido por sua tradição de defender a educação, a cultura, a moralidade.
Localizada entre a planície norte e a rede hídrica central a província de Jiangsu, que possui uma dinâmica sazonal da
produção agrícola do município que ocupa grande parte do espaço como principal economia da região, colocando moradias e
todo o ambiente construído em segundo plano.
O projeto de 2.815 m² resume-se por casas pequenas, entre o térreo e 1° andar, semelhante às casas unifamiliares
tradicionais, que compõem uma espécie de ‘mini aldeia’, com telhados com diversas alturas que trazem movimento além das
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fachadas de tijolos, como mostra a figura 16 em foto aérea.
A questão da ‘mini aldeia’ oferece às crianças uma sensação de familiaridade, proximidade e pertencimento do local.
Enquanto a conexão irregular entre cada edifício, introduz uma novidade e estimula a curiosidade para a criança. Em torno
das casas há uma área aberta, centralizada e multifuncional. Integrando essa questão do exterior com o interior do ambiente,
favorecendo a recreação e a educação infantil que é inata ao contexto rural.
Projetada como uma alternativa à natureza repetitiva e homogênea diferentemente, de muitos edifícios mais comuns em
áreas mais urbanas. As salas de aula do projeto são colocadas dentro de uma mistura de blocos ou “casas” individuais de
térreo e um andar. Blocos separados maiores contêm para escritórios, cantinas e enfermarias, como mostra as plantas baixas
nas figura 17 e figura 18.
60
61
Figura 18: Planta 1° pavimento de Infância Beisha.
Fonte: Archdaily, 2018 e editado pela autora, 2019.
Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0a2c8284dd1e06500000c-jiangsu-beisha-
kindergarten-crossboundaries-2f-plan?next_project=no >
Sobre os fluxos, a circulação no nível do solo, é irregular e ‘indefinida’, conectada por corredores sinuosos que cercam o pátio
central ao ar livre e é usada como partido arquitetônico, pois é utilizada como brincadeira entre as crianças, como mostra na
figura 19.
62
Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0af7b284dd1e065000027-jiangsu-beisha-k
indergarten-crossboundaries-photo >
No primeiro pavimento a circulação interna é feita pelo acesso de escadas no térreo, que levam até as plataformas elevadas,
que circundam o centro do jardim de infância Beshia. O acesso ao outro pavimento é realizado em alguns blocos que têm
esse pavimento. Como mostra a figura 20.
Os caminhos do jardim de infância é um diferencial para o projeto, no primeiro andar não são somente vias de fluxos entre
as áreas. Os caminhos se combinam com uma plataforma, tipo passarelas onde são utilizadas também para o lazer ao ar
livre, que explora as crianças a serem criativas nas brincadeiras, auxiliando na diversão além, da vista para o telhado e da
área central."As vias do segundo andar não são apenas uma conexão entre áreas, elas se combinam para formar uma
plataforma de exploração para crianças", disse o estúdio Crossboundaries.
63
Figura 21: Vista da plataforma do primeiro andar.
Fonte: Hongi Hao, ArchDaily, 2018.
Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries >
Quando você está no segundo andar, sua experiência é superada pelas inclinações dinâmicas dos telhados - essa
pequena mudança de perspectiva permite que as crianças expandam sua experiência espacial cotidiana.”confirma
o escritório de arquitetura Crossboundaries (ARCHDALIY, 2019).
O projeto explora a utilização abrangente de luz natural, com as grandes janelas de nível superior, as pequenas aberturas
voltadas para dentro em direção ao pátio e as claraboias criam uma variedade de conexões visuais entre cada bloco. Como
demonstra a figura 22, em uma sala de artes, utiliza o partido das clarabóias no teto para a entrada da luz solar, diminuindo
os custos e a utilização de equipamentos climatizados artificiais.
64
Em croqui na figura 23 ilustra e exemplifica como funciona os pátios de ligações que dão acesso ao 1° pavimento desses
edifícios em blocos, que se dá por escadas. Além de acesso ao outro pavimento, por uma passarela a espécie de mezanino
funciona também como atividades ao ar livre para as crianças. Essas plataformas ao ar livre e as aberturas em cada bloco,
auxiliam na permeabilidade da ventilação em todo o terreno.
Figura 23: Croqui do projeto de jardim de infância.
Fonte: Archdaily, 2018 e editado pela autora, 2019.
Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0a306284dd119c700000f-jiangsu-beisha-k
indergarten-crossboundaries-scale-and-interaction-sketch>
A tipologia arquitetônica se repete no ambiente, o que faz o diferencial do projeto é um volume prismático que se dissocia
no ambiente, juntamente com as inclinações dinâmicas. Cada bloco tem alturas diferentes e inclinações diferentes dos
telhados de duas águas, trazendo um movimento na volumetria e um diferencial na proposta, como mostra a figura 24, em
uma vista lateral.
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Outro aspecto que vai ser usado como referência projetual, é em relação a disposição das inclinações dos telhados que
compõem o projeto. Diferentes alturas dos telhados e inclinações variadas fazem com que, as casas apesar de terem uma
estrutura ‘simples’ de uma residência, venham a tornar-se diferenciada, com a utilização desse partido dos telhados.
O uso do pátio central ao ar livre, que funciona como uma grande área de lazer no edifício, que se conecta, traz uma
proximidade e remete a uma ‘forma acolhedora’. Apesar de cada bloco ter o seu uso distinto, o pátio conecta aos acessos de
cada bloco e permite a interação dos espaços internos com o espaço externo, através da transparência com a utilização de
grandes aberturas com vidros, onde é possível saber o que acontece na área central e assim sucessivamente, remetendo
sempre a proximidade e facilitando essa permeabilidade visual. Visando a realização do projeto da casa-lar, como
equipamentos que abrigam crianças com uma fragilidade afetiva e emocional, para isso o intuito é usar essa afeição na
forma arquitetônica, através do uso do pátio central, que irá a conectar aos blocos.
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5.2 Orfanato e Centro de Aprendizagem Lali Gurans
Lali Gurans é o primeiro orfanato autosustentável do mundo, o projeto atualmente em fase de construção, que consiste além
do orfanato e centro de aprendizagem, como sistema de assistência a infancia. Localizado próximo a uma região de
Katmandu, uma zona rural de Nepal. O projeto surgiu como parceira entre o escritório responsável, MOS Arquitects e a
organização Seeds of Change Foundation, com o objetivo de contribuir socialmente para a situação de crianças pobres, na
região do Nepal, que é uma das regiões com os maiores índices de crianças e jovens pobres e uma situação exacerbada por
costumes punitivos contra as mulheres, onde uma mulher geralmente não pode trabalhar depois do divórcio, sendo portanto
incapaz de sustentar suas crianças.
Através disso, o projeto tem como objetivo, um edifício semi autônomo e acessível através de um projeto sustentável e
eficiente com técnicas de construção simples, o projeto utilizou técnicas da arquitetura vernacular. Aproveitando o máximo
material disponível na região, técnicas simples e disponíveis na região, de forma a maximizar a vida útil do prédio. O intuito
da realização do projeto é fornecer essa instituição como modelo para outros centros educacionais e abrigos infantis.
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Figura 26: Foto da construção do Orfanato Lali.
Fonte: Junho de 2017,UrbanNext.
Disponível em: < https://urbannext.net/mos/lali-gurans-orphanage/ >
O projeto funciona mais do que um abrigo para crianças mais também como um centro de ensino e capacitação de crianças,
jovens e mulheres nepalesas. O edifício de 2.325 m², com o térreo e 3 pavimentos que abriga uma série de programas e
serviços, de abrigamento aliado a projetos educacionais modernos com sustentabilidade.
Assim comporta uma biblioteca comunitária, salas multiuso e de administração no térreo, que serão abertas a comunidade.
No primeiro pavimento fica a cozinha, despensa, sala de jantar e dos funcionários e banheiros, o acesso é feito por escada
com uma área livre de ventilação na fachada frontal do prédio. Já no segundo pavimento, é dedicado aos dormitórios que
receberão as 40 crianças e jovens desabrigadas, há os quartos para os funcionários, salas de leitura e estudo. No último
pavimento outras atividades recreativas onde são propostas salas de música, arte, sala de aula e o jardim que fica livre para
atividades. Como mostra a figura 27, com todas as plantas dos pavimentos, os fluxos, acessos e o programa de
necessidades.
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Figura 27: Plantas baixas do térreo, 1° pavimento, 2° pavimento e 3° pavimento do Orfanato.
Disponível em:
<http://src.lafargeholcim-foundation.org/flip/A15/Childrens-Ziggurat/files/assets/common/downloads/publication.pdf> e editado pela autora
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Figura 29: 2° Corte esquemático.
Fonte:UrbanNext, editado pela autora, 2019.
Disponível em: <https://urbannext.net/mos/lali-gurans-orphanage/>
Nas fachadas foram abertos grandes vãos com brises que aproveitam a luz natural e sombreiam os ambientes internos
quando necessário. A estrutura vazada da fachada deixa o local sempre ventilado. O uso dos materiais e os detalhes visam a
melhoria do conforto ambiental para o usuário, reduzindo o uso de refrigeração interna.
O edifício abrange jardins, dois jardins verticais e um na cobertura projetados de forma que, as frutas e verduras fossem
suficientes para produzir alimentos e atender as crianças. A irrigação é realizada por um 80 ganchos com sistema de
gotejamento fixo e mais de 300 suspensões verticais plantadores na fachada do edifício. Esses jardins são todos alimentados
com uma água reutilizada através da bio-pasta e água cinza. Árvores frutíferas no jardim do pátio são para complementar, os
legumes e ervas cultivadas no exoesqueleto do prédio, na fachada. Como ilustra a figura 30 com a perspectiva, onde é
possível visualizar os brises na fachada, que facilita a iluminação e ventilação natural como também a presença dos jardins
em todos os pavimentos.
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O edifício também conta com o sistema de coleta e aquecimento de energia solar por meio dos painéis solares, que serão
utilizados para gerar eletricidade, sendo o principal fornecimento de energia para o orfanato.
Em geral, o edifício integra sistemas e métodos sustentáveis e renováveis, que são mostrados na figura 31, inclui jardins,
uso de brise soleil, permacultura, biogás que será reciclado para gerar energia no edifício, 15 painéis solares de 175 wolters
montados no telhado, coleta de água de chuva em 3 grandes cisternas, tratamento passivo de águas residuais e exploração da
iluminação e ventilação natural. De modo que possa reduzir os custos operacionais pela metade, permitindo que a
organização maximize seu desempenho social do impacto da comunidade.
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No interior do edifício e trabalha as visuais, através de painéis de vidro, do exterior com o interior entre espaços com jardins
que servem para o plantio e favorecem um microclima agradável do prédio, como ilustra a figura 8, em perspectiva ilustrada
do orfanato.
Figura 34: Perspectiva do interior do Orfanato, área externa da horta com as salas.
Fonte: SPACESNEPAL, 2017.
Disponível em: < https://spacesnepalblog.wordpress.com/2017/09/10/childrens-ziggurat-lali-gurans-orphanage-library/>
Na figura 35 mostra como vai ficar a parte do acolhimento, dos quartos que são divididos por beliches que abrigam 2
crianças com áreas individuais para manter os seus pertences individuais, com móveis de madeira reutilizada.
Figura 35: Perspectiva do interior do Orfanato, área dos quartos.
Fonte: Fabrizio Gallanti, ABITARE,2016.
Disponível em: <http://www.abitare.it/en/architecture/projects/2016/06/23/mos-presta-soccorso-nepal/ >
74
Assim conclui-se então sobre essa referência projetual, que a mesma vai ser utilizada como modelo, para a realização do
projeto arquitetônico da casa-lar pública. A referência de maior destaque é a importância que se dá em questão da eficiência
energética e a sustentabilidade, com o uso de materiais do local, aproveitamento da ventilação e iluminação natural, a
presença de jardins internos ajudando na criação de um microclima agradável, uso de painéis solares, aproveitamento de
água pluvial através de cisternas e utilização de biogás, para a utilização da energia ser produzida no edifício.
Tudo com o intuito de reduzir os custos do prédio de forma a aproveitar toda a energia consumida do prédio, que no caso é
rebatida através desse aproveitamento. A elaboração do atual projeto, se refere a um equipamento público, então é de suma
importância o edifício ter os custos reduzidos na construção e na manutenção. Com isso, de certa forma, os conceitos da
eficiência energética e da sustentabilidade vão ajudar para o funcionamento ideal e de custo barateado da casa-lar.
Outra referência que vai ser utilizada é a questão comunitária e humanizada que o projeto remete, através de seus ambientes
e elementos, trazendo a arquitetura para esse lado mais social. Ambientes e elementos esses que são a: horta comunitária, a
permacultura, a existência de árvores frutíferas no jardim do pátio e o jardim vertical. A intenção é projetar um equipamento
que as crianças possam ter essa uma convivência ecológica e de plantio coletivo para a sobrevivência das mesmas, no
edifício de forma, a atender a alimentação de todos os usuários.
5.3 Lar de Crianças Sara e Burton Davis-Unidade Aquiraz
É uma instituição fundada em 2001, que tem como foco restaurar e preparar vidas, acolhendo crianças e adolescentes que
viviam em situação de vulnerabilidade social, levando elas a habitar em um lugar digno, com boa alimentação, educação,
cuidado e proteção. Atuando há 18 anos no Brasil e fundado pelos americanos Mark e Paige Anderson essa organização luta
com os desafios diários, sobrevivendo e sendo mantida apenas com doações voluntárias, ofertas recebidas de igrejas,
parcerias e convênios com algumas empresas.
A ideia surgiu de uma senhora chamada Betty Brown, que ao visitar o Brasil, junto com um grupo de médicos missionários,
ficou impressionada e sensibilizada com a quantidade e as situações das crianças vítimas de vulnerabilidade social. Ao
retornar ao seu país, ela doou parte de sua herança para construir um abrigo que cuidasse dessa crianças. O nome da
instituição foi uma homenagem feita a um casal de médicos e missionárias que trabalham muitos anos no Brasil,
defendendo as causas sociais.
Com três unidades espalhadas pelo Ceará, com uma unidade no Aquiraz, a outra no Eusébio e a última em Fortaleza. No
Aquiraz são 5 casas lares no local que acolhe meninas e meninos de 03 a 17 anos, com 56 crianças e adolescentes
atualmente, sendo 23 do sexo masculino e 33 do sexo feminino. A estrutura contempla biblioteca, consultório médico e
odontológico, sala de artes, sala de reforço escolar, sala de informática, refeitório, piscina e área de lazer.
Todos os abrigados estudam na rede pública de ensino, sendo trabalhados nas unidades de acolhimento o reforço escolar,
curso de informática e cursos de patchwork, como incentivo e apoio a educação dos mesmos.As casas lares são formadas por
uma equipe de voluntários com pediatra, dentista e bibliotecária, com atendimentos quinzenais e semanais. Cada unidade
compõe de uma equipe técnica com 23 funcionários, 1 psicóloga e 1 assistente social.
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O lar é marcante por uma grande área de lazer aberta, o que torna possível para a realização de inúmeras atividades, onde a
criança fica livre para usar a imaginação. Uma das atividades de lazer é o futebol, como ilustra a figura 37. Essa área de
aberta funciona como um pátio interno, as casas lares e os blocos de serviço e administração circundam por toda essa área
verde como mostra na figura 36.
Figura 36: Área de lazer ao ar livre, Lar davis
Fonte: https://www.facebook.com/lardavisbrasil/
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Figura 37: Área de lazer no Lar Davis usada para a prática do futebol.
Fonte: https://www.facebook.com/lardavisbrasil/
As 5 casas lares são distribuindo ao longo da grande área aberta e de acordo com as faixas etárias são separadas em
módulos. Cada casa lar recebe na fachada uma cor e a mesma contém em média de dois a três quartos para as crianças que
são divididos entre 2 e 3 crianças, o quarto da mãe social, uma sala que é usada para a convivência e banheiro. Cada criança
tem seu espaço individual para guardar os pertences.
Figura 38: Módulo da unidade da casa lar.
Fonte: https://www.facebook.com/lardavisbrasil/
Figura 39: Unidade da casa lar, no lar Davis.
Fonte: https://www.facebook.com/lardavisbrasil/
6. DIRETRIZES PROJETUAIS
Com base nas referências projetuais, no estudo de caso e levando em conta a relação da problemática do tema com a
arquitetura, foram estabelecidas algumas diretrizes projetuais que vão auxiliar e nortear no desenvolvimento do presente
projeto, uma casa lar pública para abrigar 45 crianças de 0 a 12 anos em situação de vulnerabilidade social.
77
É necessário entender que o projeto é destinado ao público infantil, que vão estar sob os cuidados de funcionários e que o
ambiente de dormitório vai ser o mais próximo a de uma realidade familiar. Podendo considerar que o projeto do lar vai ser
para uma família, que possui particularidades e especificidades, como qualquer uma, sendo necessário entender sua
dinâmicas e necessidades.
Um dos desafios é projetar sabendo que os membros das casas-lares variam com uma certa frequência, uns podem passar
meses e outros anos. Assim como o sexo e a idade dos seus membros variam, podendo sofrer alterações no espaço. As
regras são estabelecidas em cada casa, assim como funciona em uma casa com família, sendo que o acesso a casa nunca
deve ser restrito, impedido ou controlado.
- Propor um ambiente mais rígido remetendo a uma instituição e destinados aos funcionários;
- Visuais para a rua;
- Implantar em um local mais afastado das casas lares.
- Ambientes mais lúdicos que possam promover a integração das crianças com as atividades, de forma
mais prazerosa;
- Uso de cores e formas lúdicas, infantis e atrativas;
As casas lares e a casa de visitação, que são as unidades residenciais terão as diretrizes:
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- Conceber espaço de gentileza urbana para o bairro.
- Utilizar de meios sustentáveis e de eficiência energética com o aproveitamento solar, aproveitamento das águas
das cinzas para que possa ser reaproveitado e reduzido os custos de manutenção do edifício. De forma também
que os jovens possam familiarizar com esses métodos a fim de aplicá-los;
- Uso de materiais e métodos alternativos/ locais;
- A edificação ser totalmente acessível, de acordo com a norma NBR 9050, de forma que o espaço possa ser
projetado e utilizado por todos. Para que o espaço não imponha em barreiras para a vivência de quem tem
mobilidade reduzida;
- Os ambientes dos dormitórios devem ser os mais livres e modulares possíveis para facilitar na organização,
permitindo que eles possam ser reajustados de acordo com a necessidade do morador;
- Aproveitar a ventilação e iluminação natural e proteger as fachadas com maior incidência solar;
- Favorecer a criação de vínculos afetivos entre os acolhidos e os cuidadores;
- Tornar o mobiliário ergonômico adequado a dimensões infantis e adultas, principalmente as crianças para ter
acesso livre, sentindo-se mais pertencentes daquele local.
7.ESCOLHA DO TERRENO
7.1 Localização
Como já foi mencionado é exigido de acordo com a Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes- Brasília, Junho de 2009, sobre a localização das casas lares. As mesmas devem estar localizadas em áreas
residenciais, sem distanciar-se muito pelo ponto de vista geográfico e socioeconômico da realidade de origem das crianças e
adolescentes acolhidos. Como também, é importante a proximidade com escolas, equipamentos de saúde, lazer e de
transporte público.
Então algumas diretrizes foram determinadas para nortear a escolha do bairro e futuramente do terreno, os critérios foram:
O entorno sendo residencial já que, como foi dito no histórico de acolhimento do Brasil as antigas instituições eram
implementadas distantes da cidade, normalmente em área rural. Após a criação do ECA foi dito que as entidades deveriam
estar localizadas em zonas residenciais. De forma então, que as habitações do entorno não devem destoar da condição
socioeconômica dos acolhidos.
A proximidade de serviços de saúde também é bastante relevante assim como, as escolas pois são serviços fundamentais
para qualquer população. O que garante assim um atendimento médico ágil e eficiente em casos de emergência.
As últimas diretrizes são em relação à proximidade de equipamentos de lazer ou de áreas verdes e a proximidade ao
comércio. Espaços de lazer nos arredores promovem uma interação e socialização entre a população local. As áreas verdes
contribuem para o desenvolvimento cognitivo e psicológico das crianças. A imediação com o comércio como supermercados,
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farmácias, padarias é importante para qualquer bairro residencial facilitando no cotidiano.
80
Então para a escolha do bairro foi determinante, que o mesmo tivesse uma UPA, para suprir necessidades em quaisquer
eventualidades, para depois ser encaminhado a um hospital, com atendimento terciário, que seria um serviço mais
específico.
Através disso, foi elaborado o mapa 2, onde foram localizadas as UPA’s por bairro.
Mapa 2: Unidades de pronto atendimento de Fortaleza.
Fonte: da autora, 2019.
Após isso, foi colocado as informações do mapa 1 em sobreposição com o mapa 2. Foi percebido que alguns bairros que não
eram contemplados com nenhuma instituição de acolhimento, o já que é uma diretriz para a escolha do bairro. Esses bairros
ainda não são contemplados com o serviço de acolhimento, mas são os bairros que tem unidade de pronto atendimento
(UPA), os seguintes bairros foram: José Walter, Messejana, Vila Velha, Praia do Futuro, Conjunto Ceará, Granja Lisboa,
Canindezinho, Autran Nunes, Itaperi, Cristo Redentor e Bom Jardim.
Por fim o último elemento para justificar a escolha do bairro, para a implantação do projeto, foi a proximidade com o centro
de assistência social. No caso, o centro de assistência mais ideal para o serviço de acolhimento é o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), que é uma unidade pública da política de Assistência Social onde são atendidas
famílias e pessoas que estão em situação de risco social ou tiveram seus direitos violados.
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Além de orientar e encaminhar os cidadãos para os serviços da assistência social ou demais serviços públicos existentes no
município, no CREAS também se oferece informações, orientação jurídica, apoio à família, apoio no acesso à documentação
pessoal e estimula a mobilização comunitária. Um dos públicos que o centro recebe é justamente, o que sofre com o
afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medida de proteção ou outro casos são relacionados a vulnerabilidade
social, público este que está intimamente atrelado ao sistema de acolhimento. Resultando no mapa 3, onde os CREAS foram
posicionadas por bairro.
Mapa 3: CREAS- Centro de Referência Especializado de Assistência Social em Fortaleza.
Fonte: da autora, 2019.
Com esse mapa foi visto que, não havia nenhum bairro que era contemplado com as três diretrizes simultaneamente
escolhidas. Ou seja não tinha um bairro que havia uma UPA e o CREAS e que ainda não havia alguma entidade de
acolhimento.
Então, foi dado prioridade a questão da UPA, pensando em solucionar eventualidades que poderiam surgir e em bairros que
possam ser próximos a outros que tem o CREAS. Através de todos esses motivos, o bairro escolhido para o conjunto de casas
lares foi o bairro de Messejana, que é beneficiado pelas diretrizes escolhidas após todos esses levantamento de dados.No
mapa 4 mostra-se a localização do bairro, em relação a cidade.
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Mapa 4: Localização do bairro Messejana em relação a cidade de Fortaleza.
Fonte: da autora, 2019.
O bairro de Messejana é um bairro que contempla equipamentos de saúde importantes e de referência para o estado, como o
hospital Carlos Alberto, conhecido como hospital do coração e o hospital Gonzaga Mota.
Visando a questão cultural e de lazer ressalta-se a importância da proximidade com o CUCA do Jangurussu que poderá
oferecer esse entretenimento gratuito pelo estado. O empreendimento oferece cursos, práticas esportivas, difusão cultural,
formações e produções na área de comunicação e atividades que fortalecem o protagonismo juvenil e realizam a promoção e
garantia de direitos humanos. Além disso, a Rede Cuca também visa trazer para a periferia de Fortaleza possibilidades e
alternativas de fruição cultural por meio da realização de eventos estratégicos, festivais, mostras, exposições e programação
permanente de shows, espetáculos e cinema. O que é de extrema importância para a localidade do lar, na tentativa de
promover esse contato com a população e gerar distração fora da entidade de acolhimento.
Um fato importante a se comentar sobre Messejana é em relação ao plano de Fortaleza 2040 que o bairro é cotado para
receber investimento através de eixos da: mobilidade, meio ambiente, lazer, economia e social.
83
7.2 Diagnóstico do terreno e o seu entorno
Foram levantados esses dados no bairro, resultando no mapa 5, para no fim escolher um terreno, que estivesse livre para a
efetivação do projeto das casas lares, dentro dessas tais diretrizes.
Mapa 5: Terreno em relação ao bairro Messejana.
Fonte: da autora, 2019.
No mapa 5 foram identificadas no bairro e no entorno imediato as áreas livres, o parque urbano em torno da lagoa,
equipamento da área da saúde em âmbito estadual e municipal, escolas infantis e pré escolas.
As escolas encontradas foram escolas infantis e de ensino fundamental que enquadra com o público que a casa lar irá receber
de 0 a 12 anos. As escolas municipais encontradas no bairro atendendo esse público foram: Escola Municipal Professor
Clodomir Teófilo Girão, Escola Municipal Professora Raimundo Felix de Alcantara, Escola Municipal Josefa Barros de Oliveira
e a Escola Municipal Angélica Gurgel.
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Há a proximidade também da creche infantil Jardim Encantado, no bairro Barroso que fica de limite com o bairro de
Messejana. E a proximidade do centro de educação infantil Nossa Senhora da Guadalupe no bairro Cajazeiras.
O terreno escolhido foi levado em conta os dados do mapa 5 e as diretrizes, assim como levar em conta a locação mais
próxima de uma zona mais residencial. Assim o terreno escolhido fica em uma área do bairro onde são predominantes
comércios, residências e uso misto.
Por fim, uma questão levada em conta foi que o terreno fica em frente a uma areninha o que facilita a convivência e a
socialização com a comunidade do bairro oferecendo esse serviço de lazer fora do lar.
As residências no entorno do lote são de padrão construtivo médio, não destoando, por conseguinte, da realidade das
crianças e adolescentes em vulnerabilidade social.
No entorno das vistas norte, oeste e sul são habitações unifamiliares ou edifício de uso misto com uma média de gabarito de
6m de altura. Sendo esse o principal motivo pela definição dos limites do mesmo.
Com o terreno localizado foi visto os condicionantes ambientais, como mostra o mapa 6. O terreno tem apenas uma cota
topográfica com o desnível de 1m, no terreno todo. É apresentado no mapa a posição do sol nascente e poente, a
predominância dos ventos vindo de sudeste, a vegetação no terreno existente e a barreira de barulho.
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Mapa 6: Terreno com condicionantes ambientais.
Fonte: da autora, 2019.
8.PROJETO ARQUITETÔNICO
O estudo de caso, o Lar Davis também foi um elemento muito importante para a realização da definição dos espaços, a
noção de áreas necessárias e espaços mínimos.
O conjunto de casas lares tem como objetivo abrigar 45 crianças dispostas em 6 unidades de casas lares. Cada moradia é
dividida em relação a proximidade da idade. Fazendo com que essa divisão, pudesse facilitar o atendimento personalizado,
em grupos menores e com suas idades parecidas.
A primeira unidade de casa lar é um berçário que recebe crianças de 0 a 3 anos com capacidade para abrigar 7 crianças. A
segunda casa tem 2 módulos, o primeiro módulo recebe cinco crianças de 4 a 6 anos e o segundo módulo recebe nove
crianças com a mesma faixa etária. A casa três recebe crianças com 7 a 9 anos, o primeiro módulo abriga 5 crianças e o
segundo 9 crianças. E por fim, o quarto módulo recebe crianças de 10 a 12 anos abrigando 10 crianças dentro da unidade
86
habitacional. Os cômodos em comum dentro dessas casas lares são: sala de estar, a suíte dos pais sociais e banheiro. Alguns
módulos das casas lares também são contemplados com a suíte acessível para receber crianças de deficiência e um quarto de
quarentena que pode ser utilizado quando alguma crianças tiver com alguma doença que pode ser passada quando entrar em
contato com outra.
O setor educacional vai receber a parte de disposição de atividades lúdicas e possíveis atividades profissionalizantes, que
venham a impactar na decisão e na descoberta de talentos. Há também espaços de estudo, para o acompanhamento escolar
dentro do lar. Contém assim, salas de informática, sala de dança, sala de vídeo, sala de estudo, sala de de reforço
brinquedoteca e biblioteca.
No bloco da área de lazer vai estar localizado na área central do prédio, como um pátio interno aberto na área externa. Com
horta, área do pomar, criação de animais, quadra, uma capela ecumenica para receber eventos religiosos e serem praticados
quaisquer cultos independentemente da religião e um grande parque infantil que vai conter brinquedos prontos para receber
crianças com deficiência.
Já no setor de saúde que vai ser necessário para possíveis atendimentos que as crianças vão receber assim como primeiros
cuidados em casos emergenciais. Com sala para psicologico, sala odontológica, médica, para nutricionista e um pequeno
ambulatório.
No setor de serviços, o refeitório que vai abrigar todos da instituição no local, uma cozinha comunitária, área de depósito,
espaço para a reserva de lactário, área de serviço e espaço para lava mãos e escovódromo.
Assim se resultou o programa de necessidades, feito uma setorização, que se dividiu em: setor administrativo, setor
educacional, setor de lazer, setor saúde, setor serviço, casa de visitação e 6 unidades de casas lares.
87
Fonte: da autora.
88
Tabela 5: Programa de necessidades setor educacional
Fonte: da autora.
Tabela 6: Programa de necessidades setor de lazer
Fonte: da autora.
89
Tabela 7: Programa de necessidades setor de saúde
Fonte: da autora.
Tabela 8: Programa de necessidades setor de serviços
Fonte: da autora.
90
Tabela 9: Programa de necessidades da casa de visitação
Fonte: da autora.
Tabela 10: Programa de necessidades da casa 01- berçário 0 a 2 anos
Fonte: da autora.
91
Tabela 11: Programa de necessidades da casa 02-1° módulo- crianças 4 a 6 anos
Fonte: da autora.
92
Tabela 12: Programa de necessidades da casa 02-2° módulo- crianças 4 a 6 anos
Fonte: da autora.
Tabela 13: Programa de necessidades da casa 03-1° módulo- crianças 7 a 9 anos
Fonte: da autora.
93
Tabela 14: Programa de necessidades da casa 03-2° módulo- crianças 7 a 9 anos
Fonte: da autora.
94
Tabela 15: Programa de necessidades da casa 04- 1° módulo - crianças de 10 a 12 anos
Fonte: da autora.
95
8.2 Fluxograma e Organograma
A instituição deve possuir dois acessos, um social e outro para serviço para funcionários, familiares e visitantes do lar. A área
externa integra todos os blocos e funciona como um pátio interno, como foi mostrado no programa de necessidades vai ser
um espaço de encontro dos acolhidos com suas famílias, um espaço para brincadeiras com o pátio, horta, pomar, criação de
animais e outros espaços.
96
Figura 41: Organograma da Resi-lar
Fonte: da autora, 2019.
9.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi apresentado ao longo deste trabalho, infelizmente ainda nos dias de hoje muitas crianças encontram-se em estado
de vulnerabilidade social e não são atendidas por alguma política pública, nem mesmo com algum acolhimento. No Brasil, o
atendimento institucional de crianças ,em muitos casos,não é personalizado e nem atendente necessidades primordiais para
uma situação tão frágil como essa. Como foi enaltecido, o acolhimento deve ser provisório e excepcional, no entanto foi visto
que isso não acontece com muita frequência. É preciso um incentivo constante para a reintegração familiar. Assim, melhorar
a condições de vida dessas pessoas envolve uma série de esforços e agentes.
A arquitetura pode sim ser um desses agentes fundamentais a contribuir com essa situação. Aliviando esse processo de
acolhimento e afastamento familiar e promovendo atividades, sensações a trabalhar o desenvolvimento cognitivo, emocional
e social dos indivíduos, através dos espaços. Pode ser visto, como foi mencionado em trabalho que os ambientes influenciam
sim, no comportamento e nas sensações.
Abrigar vai além do sentido denotativo da palavra, é preciso incluir conceitos de um lar, de algo familiar, de apropriação do
espaço. Com base nessas ideias o conjunto de casas lares ‘Resi-lar’ vai ser realizado. Todos os espaços vão ser projetados
para articular essas ideias teóricas para vivenciá-las em prática no projeto.
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Enfim, conclui-se sobre a importância da contribuição arquitetônica para esses espaços de forma a atribuir contribuições
para as demandas infantis havendo uma maior participação de estudantes e profissionais da área para promover uma
melhoria na qualidade de vida dessas crianças.
10.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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