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2.1. Análisis de Necesidades

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Análisis de necesidades

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3.1. Análise das necessidades de um grupo ou comunidade:


A avaliação como processo
Jorge Castellá Sarriera
1. Pressupostos

Iniciar uma atividade comunitária exige uma adequada planificação. Esta


planificação deve ter uma boa sustentação teórica-conceitual que oriente a ação
e um bom conhecimento d realidade. Em Psicologia Comunitária as teorias que
apresentamos no primeiro capítulo sustentam a necessidade de contextualizar a
comunidad (sua história, evolução, cultura); entender a interdependência entre
os diferentes sistemas (micro, meso e macro social), junto com a ideologia, as
políticas públicas, as organizacões; e assumir o compromisso profissional na
intervenção comunitária para o fortalecimiento e a construção de redes de apoio
que possam produzir trocas sociais para a melhoria da qualidade de vida de
todos.

A análise de necessidades terá dois protagonistas, segundo Montero


(1994) os investigadores ou técnicos externos e os investigadores internos (os
membros da comunidade). Para eles é imprescindível a familiarização com a
comunidade, através de um processo de aproximacção e diálogo, de mútua
aprendizagem e de respeito. O conhecimento da comunidade, de seu espaço físico,
seus costumes e seu cotidiano, facilitará a inserção e o diálogo para o
levantamento de necessidades e a abertura necessária para que essas possam ser
analizadas com crítica e liberdade.

Este proceso de aproximação a comunidade dará início a análise de


necessidades não se relacionando com as intervenções que parten de programas
elaborados ‘a priori’, impostos de cima para baixo, desenvolvidos através de
oficinas técnicas e procedentes de experiências de outros contextos. Mas também
há o que criticar em outro extremo, aqueles profissionais que querem mimetizar
com a comunidade e durante meses e, as vezes anos, não conseguem ter parâmetros
claros para establecer necessidades e metas de ação comunitária e vão
trabalhando em um processo circular, sem avanços conforme o assopra o vento.
2. Definição de Análises de Necessidades.
Montero (1994) define a análises de necessidades como uma atividade
inicial e dentro de um processo de investigação ação participante (IAP), que
ajuda a especificar os problemas que afligen a comunidad e verifica as condicões
sentidas por seus membros. Segundo a autora, "uma necessidade existe para um
grupo, quando seus membros sentem que lhes falta alguma coisa, ou quando certas
situações em suas vidas produzen efeitos que perturbam, porque a manera de
atuar sobre elas é ineficiente" (Montero, 1994,p. 8).

Esta atividade de análises seguirá durante todo o processo de ação


comunitária, buscando transformar as necessidades percebidas (cognitivamente),
em necessidades sentidas (cognitiva e afetivamente, ou conscientizadas). Neste
sentido a comunidade pode perceber, mas não sentir uma necessidade,
possivelmente por estar embotada pelos meios de comunicação social, ou pela
naturalização daquilo que para os investigadores externos seria objeto de
grande preocupação, bloqueando sua capacidade de pensar analíticamente,
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colocando em termos ideológicos um conhecimento determinado de antemão, que
busca conformar as pessoas segundo os interesses dominantes. Desta maneira se
acostuma, por exemplo com uma situação de encarecimento como se fosse a forma
natural de viver.

Alguns autores definem ou entendem o significado de necessidade de forma


diferente. Assim, para Solano-Pastrana (1992), existem diferentes conotações
de necessidade como desejo, expectativa, problema ou demanda. Nos parece que
estes diversos sentidos não podem reduzir-se ao âmbito da necessidade e que
cada um expressa um leque de possibilidades a ser trabalhado junto a comunidade
de formas diferentes, ainda que todos eles indiretamente relacionados com as
necessidades. Há falta de que cada investigador determine o que entende por
necessidade e os indicadores que identificam seu conceito, assim como está
atento as atribuições que a própia comunidade faz do significado de necessidade.

Outro aspecto conceitual básico se relaciona com os diferentes tipos de


necesidade. Assim como vimos que Montero (1994) diferenciava as necessidades
sentidas das percebidas, Serrano-García (1992) diferencia as necessidades
sentidas diretamente pelas pessoas da comunidade daquelas inferidas, que são
provenientes de profissionais ou instituições vinculadas a comunidade ou de
critérios pré-establecidos. As necessidades sentidas são do tipo mais subjetivo
e incluem sentimentos, preocupações e percepções. As necessidades inferidas
são do tipo objetivo, como as necesidades normativas e comparativas que são
extraídas de fontes documentais e de estudos epidemiológicos.

Além das necessidades, que respondem as carências ou falta de coisas


precisas em ordem material e psicossocial, estão os problemas que a comunidade
está vivendo. Se considerarmos, segundo a Enciclopédia Britânica (1994), que
problema é ‘uma situação que ameaça certos valores básicos e culturais, causados
por desajustes individuais as normas adotadas ou a falhas existentes na própia
estrutura social’, e que se refere a ‘qualquer assunto ou questão que envolva
dúvida, insegurança ou dificuldade’, podemos entender que ao mesmo processo de
quando tratamos de necessidades também podem ser tratados os problemas. As
necesidades estão mais relacionadas a falta, os problemas aos conflitos e
dificuldades.

Junto ao levantamento de necessidades e problemas, é necessário


identificar os recursos com os quais conta uma comunidade. Um primeiro aspecto
é o conhecimento das instituções sociais, religiosas, de saúde e educativas
que estão em sua região, e com as quaies no futuro poderão establecer redes de
apoio. Um segundo aspecto é a avaliação destas instituções pelos própios
responsáveiss, pelos membros da equipe investigadora e pelos próprios usuários.
Um terceiro aspecto são as expectativas que se têm sobre esses serviços e seu
potencial contribuinte para a comunidad. Além disso, as instituções sociais,
os recursos podem ser de ordem pessoal e social: líderes atuais e potenciais,
vínculos relacionais informais, conhecimentos e experiências de pessoas de
referência da comunidade. Cabe enfatizar também o levantamento das fontes de
recursos não utilizados, seja de programas sociais de encontros, seja de
pressuposto participativo se existe em seu município, seja de ONGS que estão
com disponibilidade para auxiliar a comunidade. Geralmente, a comunidade, por
falta de consciência e organização, deixa de se beneficiar de recursos que
poderiam auxiliar em seu desenvolvimento.
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Concluindo, que aspectos podemos considerar em uma análise de
necessidades? Desde meu ponto de vista deveríamos enfocar três dimensões
básicas: 1) As necessidades: sentidas, percibidas e inferidas; 2) Os problemas
mais preeminentes e as formas de resolução dos mesmos que a comunidade propõe;
3) O levantamento dos recursos que esta comunidade possui (institucionais,
pessoais, redes), ou pode ter acesso.
3. Procedimentos Metodológicos.
Para realizar o levantamento de necessidades de uma comunidade nos
valeremos de diferentes técnicas que poderam ser desenvolvidas ou construídas
em conjunto entre investigadores externos e internos. As técnicas de
identificação de necessidades, de problemas e recursos comunitários, são
variadas:
3.1. Entrevistas:
a) Individuais: 1) com líderes comunitários de instituções ou
associações do bairro nas quais se identificam os problemas específicos
de cada institução frente a comunidade, a participação em suas
atividades e a avaliação que os líderes fazem das necessidades e do
potencial da comunidade.; 2) com membros da comunidade, escolhendo de
forma intencional uma amostra heterogênea.

b) Grupais: com membros da comunidade, sem vínculo ou controle externo.

Através de grupos focais ou de discussão, avaliando a situação de


grupos específicos (terceira idade, mulheres, jovenes, crianças,
desempregados...), ou de temas relevantes (problemas, necessidades,
expectativas).

c) Comunitárias: em associaçõs, instituiçõees, igrejas, postos de


saúde, etc. onde se discutem temas de interesse comum.

d) Entrevistas com Questionários: para responder a instrumentos de


análises de necesidades com uma amostra representativa da comunidade,
levantando aspectos como participação, organização comunitária,
necessidades, avaliação de serviços comunitários, de liderança,
problemas mais preocupantes, soluções e alternativas propostas.
3.2. Análise Histórico e Documental
a) Registros históricos da comunidade: através de pessoas
significativas e mais veteranas, ou de materiais documentais fotos,
periódicos, etc.

b) Registros estatísticos com base nos estudos epidemológicos,


educacionais, judiciais, laborais, da zona onde se situa a vila. Análise
de indicadores demográficos, sociais, de fatores de risco, de usuários.
Dados sobre a utilizção dos serviços.

c) Registros geográficos, físicos e materiais da comunidade.


Características do espaço físico e seu significado, características e
condições de moradia, localização da vila dentro do contexto do
município, saneamento básico, iluminação...
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3.3. Diário de Campo:
Anotaçõs sobre as observações feitas durante o processo de inserção e
familiarização na comunidade, seja em seu cotidiano como nos momentos mais
significativos, analizando as estratégias de enfrentamento dos problemas e
da resolução dos mesmos. Alguns lugares privilegiados para estas
observaciones podem ser:

a) Em lugares públicos: com membros da comunidade (rua, bares, salas de


espera), onde se pode observar o cotidiano da comunidade, identificar
as palavras geradoras, ou as mais frequentemente utilizadas para
descriver sua vida, sua comunidad, anotar as queixas ou problemas da
mesma.

b) Visitas domiciliares: acompanhando por membros da Comunidade ou sendo


convidado, para conversar e conhecer as casas, a forma de vida e os
recursos pessoais familiares.
4. Análise dos dados.
A eleição das técnicas deve estar relacionada aos objetivos da análise.
Muitas vezes se utilizam várias técnicas de análise ao mesmo tempo. A este
processo daremos o nome de triangulação, é dizer, o uso de mais de uma técnica
para o estudo de um tema, em nosso caso, a análise de necessidades. As técnicas
devem abarcar de forma representativa aspectos quantitativos e qualitativos da
comunidade. Ao mesmo tempo que a multitécnica deve ser capaz de fazer uma
análise inicial que chegue ao centro motivacional da comunidade. Se pretende
outro objetivo neste levantamento, é dizer, que a comunidade reflexiona de
forma crítica sobre sua realidade e suas possibilidades de ação. Como disse
Montero (1994) “O processo de avaliação de necessidades estabelece um processo
de conscientização” (p.9).

CONSCIOUSNESS-RAISING SIGNIFICA CONSCIENTIZAÇÃO

A análise dos dados coletados pelos investigadores externos e internos


deve passar pela peneira dos própios interessados, é dizer, a comunidade.
Uma vez que tenhamos coletado as informações sobre a história da comunidade,
sobre as condições de vida, moradia e sobrevivência, passamos a identificar,
segundp Freitas (1994), as necessidades e problemáticas vividas pela
comunidade em seu cotidiano com relação aos processos psicosociais que afetam
seus membros. Também, como temos visto anteriormente, podemos levantar as
formas alternativas de enfrentamento pensadas pela comunidade para resolução
de suas necessidades e problemas.

Os dados recolhidos passam a seguir por uma análise conjunta entre os


membros e líderes da comunidade e os investigadores externos, para contrastar
os dados, colocar as necessidades e problemas em ordem de prioridade,
analizar e decidir sobre as alternativas e estratégias a seguir.

A Comunidade escolherá a melhor forma de organização para alcançar os


objetivos propostos, criará comissões e grupos de trabalho, buscará os
recursos para implementar suas ações e delimitará as formas de avaliação
periódica para dar continuidade ao trabalho, ou, a partir de novas análise,
priorizar outras metas.
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O processo de análise de necessidades se constrói dentro de uma concepção
de investigação dialógica e sequencial e se vai transformando a medida que o
grupo ou comunidade avança para níveis de consciência mais diferenciados. Este
processo é ao mesmo que Paulo Freire (1987) propõe na análise de temas geradores
e das situações-limite. Ao descodificar uma situação, uma palavra geradora ou
uma necessidade percebida, será através da problematização, que mude a
compreenssão da mesma permitindo observar a realidade descodificada ou
desideologizada, em um nível de consciência mais crítica, podendo emergir novos
sentimentos, representações e necessidades.

Conscientizar, para Montero (1994), significa trazer a consciência


situações e feitos antes desconhecidos. Conforme as necessidades são sentidas
a nível cognitivo e emocional, ao entender as situações, as insatisfações
aparecem e as pessoas estão mais dispostas a uma ação de troca. Este processo
implica, segundo a autora, orientar as pessoas do real para o possível. Podemos
concluir que a avaliação de necessidades está orientada a mudança, através do
trabalho comunitário.
5. Análise de Necessidades na Práctica: Três experiências em tempos e
contextos diferentes.
Com a finalidade de ilustrar diferentes tipos de levantamento de
necessidades, a partir de objetivos e grupos diferenciados, vamos expor três
trabalhos que encabeçamos em diferentes épocas e contextos.

5.1. Conscientização, promoção humana e transformação comunitária.

Objetivo: Ação conscientizadora, mobilização da comunidade e promoção


humana.

Local: A Salamanca (Asunción-Paraguai). Barranco detrás do Club Cerro


Porteño, onde viviam 40 famílias em casebres de papelão e lata.

Duração da Intervenção: Dois anos.

Equipo de trabalho: Psicólogo, uma religiosa e 10 jovens de uma


organização paroquial.

Enfoque teórico: Abordagem Psicosocial de Paulo Freire.

Familiarização e recolhimento de dados: Foram visitadas todas as


famílias, entrevistadas com relação as necessidades, condições de vida,
problemas na comunidade e disponibilidade para participar em reuniões
comunitárias. Foram levantados os elementos físicos de construção e entorno.

Elementos iniciais da Análise de Necessidades: Palavra geradora: ‘Anhá


reta’ (Terra do Diabo) como identificam a comunidade onde vivem. Desnutrição e
mortalidade infantil; insalubridade, bebendo água contaminada.

Sistemática das reuniões: conscientização através de sessões semanais


em ‘Cañeterogape’ (Casa dos Cañete), apresentazão de palavras ou temas
geradores, decodificação-problematização, nova compreessão da situação, ação
transformadora.
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Apoio Comunitário: Visita médica semanal, contribuição simbólica para
os remédios; classes de alfabetização dadas por voluntários da comunidade,
classes de corte e costura; plantação de mamona no barranco; colocação de água
potável em um ponto do barranco para toda a comunidade; construção da casa da
comunidade.

Avaliação da Intervenção: Fortalecimento do sentido de pertença a


comunidade e criação de uma associação, diminuição da mortalidade infantil,
analfabetismo e brigas, desenvolvimento de cursos profissionalizantes
promovidos pelos própios moradores.

Registro: Sarriera (1974).

5.2. Conhecimento e identificação de necessidades em uma Vila Objetivo:


Conhecer as necessidades, problemas e recursos da Vila. Contribuir com
subsídios para o Posto de Saúde, para implementação de Programas Comunitários.

Local: Trabalho desenvolvido junto ao Campus Aproximado da PUCRS na Vila


Fátima de Porto Alegre (Brasil).

Duração da Intervenção: Oito meses.

Equipe de trabalho: Psicólogo coordenador, três estudantes de Psicologia


Comunitária da UAM1 (Espanha) e 12 alunos voluntários da Faculdade de
Psicologia, com a colaboração de técnicos e residentes em Psicologia do Posto
de Saúde da Vila.

Enfoque teórico: Psicosocial-ecológico.

Familiarização: O fato que apresentamos aos membros da comunidade como


professores e alunos da universidade, que colabora com a manutenção do Posto
de Saúde, facilitou a atitude positiva e de acolhida dos moradores. Todos
abriram as portas de suas casas e nos convidaram a entrar em suas moradias para
tomar café ou mate. Houve participação dos entrevistados de forma sincera e
aberta.

Recolhimento dos dados: Foram realizadas entrevistas com os líderes dos


centros comunitários, visitas e entrevistas a 53 famílias distribuídas por
zonas geográficas da comunidade e escolhidas seguindo rotas aleatórias.

Os dados levantados se relacionaram a saúde percebida, as enfermidades


padecidas pela família e a avaliação da atenção no Posto de Saúde. Dados
escolares e de emprego/desempregeo. Se levantaram problemas e necessidades
percebidas, conhecimento e interesse em participar das asociações comunitárias
do bairro e identificação de propostas de melhoria da qualidade de vida.

Direção dos dados levantados: Por não ser a equipe de trabalho a mesmo
que trabalha no Posto de Saúde da comunidade, se decidiu não discutir
diretamente os datos recolhidos com a própia comunidade sem discutirmos
primeiro com a direção do Campus, para dar aos dados a direção que esta
considera oportuna. Também foram elaborados informes para ficar a disposição

1 UAM Universidade Autônoma de Madri. Espanha.


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dos psicólogos e alunos de psicologia comunitária do Posto de Saúde.

Avaliação da Análise e Intervenção: Excelente acolhida por parte da


Comunidade dos investigadores externos, levantamento de expectativas e de
consciência social. Recolhimento de indicadores psicosociais relevantes para
profissionais e alunos que trabalhan na Comunidade. Sensibilização da equipe
do Posto para a abertura e implicação em atividades fora do Posto de Saúde,
junto com a comunidade.

Registro: Sarriera e cols. (1994).

5.3. Análise do Perfil Psicosocial de Jovens Desempregados

Objetivo: Auxiliar aos jovens com dificuldades de inserção sócio-


laboral.

Local: Cidade de Porto Alegre – RS- Brasil.

Duração: Três anos.

Equipe: Psicólogo e 12 estudantes da Faculdade de Psicología, bolsistas


de pesquisa científica.

Enfoque teórico: Paradigma ecológico-contextual.

Familiarização: Para poder conhecer as necessidades e problemas dos


jovens desempregados iniciamos entrevistando em profundidade a oito jovens com
características diferentes (sexo, idade, nível sócioeconômico, grau de
instrução, experiência laboral).

Elementos iniciais da Análise de Necessidades: Análise das experiências


de busca de emprego e de história de vida desses adolescentes através de
análise de conteúdo. Com base nesta aproximação aos jovens e ao tema,
preparamos um instrumento de aplicação coletiva a 563 jovens de 18 a 14 anos
constituindo uma amostra representativa por amostragem em múltiplas etapas.
Dados recolhidos através de entrevistas individuais por rotas aleatórias.

Análise dos dados: Foran avaliados dados pessoais, familiares,


escolares, laborais, de busca de emprego, atribuições e significado do
trabalho e de bem estar psicológico. Se elaborou um perfil do joven
desempregado com base em análise descriminante entre jovens empregados,
estudantes e desempregados. Este perfil foi revisado junto com os jovens
através de uma intervenção.

Intervenção psicosocial: Com seis grupos de aproximadamente 20 jovens


de 16 a 21 anos, inscritos no Instituto Nacional de Emprego para buscar
trabalho, se discutiu e se desenvolveu um Programa de Inserção Sócio-Laboral
com base na análise de necessidades realizada, estruturando o Programa em
três módulos: Orientação Vocacional e Ocupacional, Estratégias de Busca de
Emprego e Desenvolvimento de Habilidades, e conhecimentos críticos sobre
Mercado de Trabalho e de direitos e deveres do trabalhador.

Avaliação da Intervenção: O resultado foi positivo e de muita motivação


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entre os jovens. Porém, o programa de acompanhamento para sua inserção laboral
nos seis meses seguintes, foi difícil de avaliar devido a perca de contato com
os mesmos. Como fruto desta experiência se está publicando um Manual de
Orientação Ocupacional dirigido aos jovens de classe popular, com os conteúdos
e técnicas avaliados pelos própios jovens nas intervenções.

Registro: Sarriera e cols. (2000 e 2004).


6. Considerações finais.
Como bem disse Kelly (1992, p. 45) ‘A Avaliação do contexto permite ao
investigador escutar as vozes dos demais, proporcionando a oportunidade de
compreender e atribuir o poder aos outros’. Fazer com que a comunidade participe
do proceso da intervenção comunitária é tão importante como o conteúdo que se
pretende desenvolver. Qualquer programa que se pretenda comunitário deve
iniciar pelo conhecimento da comunidade através da inserção e familiarização
do investigador externo, observando a vida, os valores, as preocupações e as
esperanças de seus membros.

A participação da própia comunidade na planificação das estratégias a


seguir e dos objetivos a definir no levantamento da análise de necessidades é
o ideal pretendido. Às vezes, não haverá possibilidade de iniciar como uma ação
conjunta a avaliação das necessidades iniciais, mas esta fase servirá como
sensibilização e familiarização com a comunidade com relação a temática
inicialmente proposta de trabalho.

As três experiências aqui resumidas, com objetivos e metodologias


diferentes, revelam uma preocupação pelo entendimento do fenômeno desde uma
perspectiva bidirecional: investigadores internos e externos. Temos constatado
que a certa detecção inicial de necessidades sentidas e a priorização das
mesmas no processo de intervenção, é a chave motivacional geradora de uma mayor
mobilização comunitária.

As dificultades encontradas na ação comunitária procedem em sua maioria


de instituições da comunidade, orientadas por membros externos a própia
comunidade (docentes nas escolas, profissionais nos postos de saúde), que criam
maiores resistências ao cambio e forçam, conssciente ou inconscientemente, a
manutenção do ‘statu quo’.

Conhecer as necessidades de uma comunidade e trabalhar junto com ela


para seu desenvolvimento e bem estar, implica um duplo compromisso: o
científico, estudando e produzindo conhecimentos que facilitem o
desenvolvimento comunitário, e o ético-social, comprometendo-se junto com a
comunidade em seus problemas, seus fracassos e suas conquistas.
7. Referencias Bibliográficas
Freire, P. (1987). A Pedagogia do oprimido. Brasil: Paz e Terra.

Freitas, M. de F. Quintal de. (1998). Inserção na comunidade e análise de


necessidades: reflexões sobre a Prática do psicólogo. Reflexão e
Crítica. 11. 1. Pp 175-789.

Kelly,J.G.(1992). Psicologia comunitaria - el enfoque ecológico -


contextualista. Buenos Aires: Centro Editor de América Latina.
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Montero, M. (1994). Consciousness raising, conversion, and de-ideologization
in community psychosocial work. En: Journal of community psychology,
v.22, p.3-11.

Sarriera, J.C. (1974). El método de Paulo Freire en una zona marginada de


Asunción. Asunción, Universidad Católica, Facultad de Psicologá,
Monografía de Conclusión de Curso.

Sarriera, J.C. (coord) (1993). Análise de Necessidades Psicosociais na Vila


Nossa Senhora de Fátima. Porto Alegre, PUCRS, Grupo de Pesquisa em
Psicologia Comunitária, Relatório de Pesquisa.

Sarriera, J.C. (coord) (2000). Psicologia Comunitária: Estudos Atuais. Porto


Alegre: Sulina

Sarriera, J.C.; Câmara, S.G. e Berlim, C.S. (2004). Manual de Orientação


Ocupacional. Porto Alegre: Sulina.

Serrano-García, I.; Collazo, W. R. (1992). Contribuciones puertorriqueñas a la


psicología social-comunitaria. Porto Rico: Editorial de la Universidad
de Puerto Rico (EDUPR).

Solano-Pastrana, F. R. (1992). Detección de necesidades en la comunidad rural


La Plata. En: Serrano-García, I.; Collazo, W. R. Contribuciones
puertorriqueñas a la psicología social-comunitaria. Porto Rico:
Editorial de la Univer sidad de Puerto Rico (EDUPR).

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