Cremeretal 2020

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/340299152

Tartarugas mainhas do Norte de Santa Catarina e baía da Babitonga

Article · March 2020

CITATIONS READS

0 104

5 authors, including:

Marta Cremer Isabela Domiciano


Universidade da Região de Joinville (Univille) Universidade Estadual de Londrina
52 PUBLICATIONS   118 CITATIONS    15 PUBLICATIONS   42 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Daphne Goldberg
Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos
37 PUBLICATIONS   203 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática na Área Ambiental I View project

Pesquisador Colaborador na Universidade da Região de Joinville View project

All content following this page was uploaded by Marta Cremer on 30 June 2020.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


ARTIGO DE REVISÃO - ESPECIAL BABITONGA

Tartarugas marinhas no litoral norte

de Santa Catarina e Baía Babitonga

Marta Jussara Cremer 1, Thiago Felipe de Souza 1, Isabela Guarnier Domiciano 2, Daphne

Wrobel Goldberg 3 & Juçara Wanderlinde 3

1 Laboratório de Ecologia e Conservação de Tetrápodes Marinhos e Costeiros, Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE, CP.
110, CEP - 89240-000, São Francisco do Sul, SC, Brasil, [email protected], [email protected];
2 Universidade
Estadual de Londrina - UEL, , Rua Rodovia Celso Garcia Cid, PR 445, km 380, Caixa Postal 10.011, CEP - 86057-970,
Campus Universitário, Londrina, PR, Brasil, [email protected];
3 Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas - Fundação Pró TAMAR, Rua Professor Ademir
Francisco, CEP - 88061-160, Barra da Lagoa, Florianópolis, SC, Brasil, [email protected], [email protected].

Submetido em: 19/06/2017; Aceito em: 17/12/2018; Publicado em: 13/03/2020

Resumo. O litoral de Santa Catarina constitui uma importante área de alimentação para
tartarugas marinhas na costa do Brasil. Há poucas informações sobre esses quelônios na
região, principalmente no litoral norte do Estado, que compreende o trecho entre os municí-
pios de Itapoá e Barra do Sul, incluindo o estuário da Baía Babitonga. Oito estudos foram
identificados na revisão realizada, sendo que a grande maioria constitui trabalhos acadêmi-
cos. Cinco espécies foram registradas: a tartaruga-verde (Chelonia mydas), a tartaruga-
cabeçuda (Caretta caretta), a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), a tartaruga-
oliva (Lepidochelys olivacea) e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Chelonia
mydas é a espécie mais abundante e para a qual há mais informações, incluindo dados sobre
dieta, ingestão de lixo, prevalência de fibropapilomatose e contaminação. Esta também é a
única espécie que ocorre no interior da Baía Babitonga. Caretta caretta é a segunda espécie
com maior número de encalhes. Eretmochelys imbricata, L. olivacea e D. coriacea têm pou-
cos registros na região, o que sugere que este não constitui habitat característico para estas
espécies. A conservação destas espécies na região depende da preservação dos habitats de
alimentação e da implementação de medidas que reduzam os efeitos diretos e indiretos de
atividades de dragagem, assim como os de outras ameaças antrópicas, incluindo a poluição e
interação com diferentes pescarias.
Palavras-chave: Chelonia mydas, Caretta caretta, encalhe, dieta, ameaças.

Abstract. Sea turtles in the northern coast of Santa Catarina and in the Babiton-
ga Bay. The coast of Santa Catarina is an important foraging ground for sea turtles along
the southern Brazilian coastline. Information about these reptiles is relatively scarce for the
area, especially on the northern coast of the State, between the municipalities of Itapoá and
Barra do Sul, where the Babitonga Bay estuary is located. In the present review, eight stud-
ies on sea turtles conducted in the area, were identified. Five species were recorded: the

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


2 M. J. CREMER ET AL.

green (Chelonia mydas), the loggerhead (Caretta caretta), the hawksbill (Eretmochelys im-
bricata), the olive (Lepidochelys olivacea) and the leatherback turtles (Dermochelys coria-
cea). Since green turtles were the most frequently stranded species, more information on
their diet, the ingestion of marine debris, contamination and the prevalence of fibropapillo-
matosis within the aggregations is available. This is the only species that occur inside the
Babitonga Bay. Caretta caretta is the second species with the highest number of strandings.
Hawksbills, olive ridleys and leatherbacks are the rarest sea turtle species found in the area,
since the northern coast of Santa Catarina is not a typical habitat for these animals. The con-
servation of sea turtles in the region is directly linked to the protection of their foraging
grounds as well as on establishing measures that reduce the threats related to dredging pro-
cedures and other anthropogenic threats, including water pollution and bycatch in fishing
activities.
Keywords. Chelonia mydas, Caretta caretta, stranding, diet, threats.

Introdução passarem a maior parte de suas vidas no mar,


dificultam a coleta de informações relevantes
Atualmente, sete espécies de tartarugas
para a conservação das diferentes espécies
marinhas são encontradas no mundo. Elas per-
(Márquez, 1990, Marcovaldi & Marcovaldi,
tencem a duas famílias distintas: Cheloniidae,
1999).
que inclui as espécies Chelonia mydas
(Linnaeus, 1758), Caretta caretta (Linnaeus, Em virtude da exploração direta desses
1758), Eretmochelys imbricata (Linnaeus, quelônios no passado, do crescente processo de
1766), Lepidochelys olivacea (Eschscholtz, degradação ambiental e da superexploração
1829), Lepidochelys kempii (Garman, 1880) e dos recursos naturais, quase todas as espécies
Natator depressus (Garman, 1880); e Dermo- de tartarugas marinhas encontram-se nas listas
chelyidae, que compreende apenas uma espé- de animais ameaçados de extinção - na Lista
cie, Dermochelys coriacea (Vandelli, 1761) Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN
(Meylan & Meylan, 1999). Das sete espécies, (International Union for Conservation of Na-
cinco ocorrem no Brasil: D. coriacea (tartaruga ture), no Apêndice I da CITES (Convention on
-de-couro), C. mydas (tartaruga-verde), L. oli- International Trade in Endangered Species of
vacea (tartaruga-oliva), C. caretta (tartaruga- Wild Fauna and Flora) e na Lista Oficial da
cabeçuda) e E. imbricata (tartaruga-de-pente) Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(Marcovaldi & Marcovaldi, 1999). De forma (Ministério do Meio Ambiente) (MMA, 2014).
geral, esses animais apresentam ampla distri-
O litoral sul do Brasil é uma importante
buição geográfica e podem ser encontrados em
área de alimentação para C. mydas e C. caretta
regiões tropicais, subtropicais e temperadas de
e, portanto, a ocorrência de encalhes dessas
todos os oceanos (Márquez, 1990, Pritchard &
espécies é comum (Pupo et al., 2006, Cremer &
Mortimer, 1999).
Sartori, 2009, Stahelin et al., 2012a). Assim
O ciclo biológico de quelônios marinhos como no restante do litoral brasileiro, as prin-
é longo e complexo, com alternância de habi- cipais causas de encalhe estão vinculadas a ati-
tats e de recursos alimentares (Márquez, 1990). vidades antrópicas; entre elas, a superexplora-
Além disso, apresentam maturação sexual tar- ção dos recursos pesqueiros, o descarte impró-
dia e realizam extensas migrações oceânicas prio de lixo, o uso indiscriminado de poluentes,
entre áreas de forrageamento e sítios reprodu- a alteração de habitats e a ocupação humana
tivos, que podem estar a milhares de quilôme- desordenada (Goldberg et al., 2013, Domiciano
tros de distância (Bowen & Karl, 2007). Estes et al., 2017). Mais recentemente, novas ativi-
aspectos, associados ao fato destes animais dades vêm impactando esses e outros organis-

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 3

mos marinhos e trazendo grandes riscos ambi- cionados ao tema, foram considerados, para o
entais, como é o caso da exploração e produção presente estudo, informações contidas em arti-
de petróleo e gás natural (Nelms et al., 2016) e gos científicos, livros e trabalhos acadêmicos
da instalação de grandes complexos portuários (teses, dissertações e monografias). Utilizou-se
(Goldberg et al., 2015). No entanto, a interação como critério de busca o uso de palavras-chave
com diferentes artes de pesca, em escala arte- ou expressões como: “tartarugas marinhas”,
sanal e industrial, continua a configurar como “Chelonia mydas”, “Caretta caretta”,
a principal causa de mortalidade de juvenis e “Eretmochelys imbricata”, “Dermochelys cori-
adultos de tartarugas marinhas em todo o acea”, Lepidochelys olivacea e “Baía Babiton-
mundo (Kotas et al., 2004, Lewison et al., ga”. A busca foi realizada utilizando os termos
2004, Wallace et al., 2010), principalmente em português e inglês. As pesquisas de artigos
devido a sobreposição das áreas usadas por foram realizadas utilizando bases de dados co-
esses quelônios com as áreas de atuação de di- mo o “Google acadêmico” (scholar google.com)
versos tipos de pescarias, tanto costeiras quan- e o “Scientific Electronic Library Online – Sci-
to oceânicas (Gallo et al., 2006, Sales et al., ELO” (scielo.org). A busca por teses e disserta-
2008, Fiedler et al., 2012). ções foi realizada no banco de dados da Capes
(capes.gov.br) e a busca por monografias foi
Apesar do litoral sul do Brasil ser classi-
realizada no banco de dados da Universidade
ficado como área de extrema importância eco-
da Região de Joinville – UNIVILLE
lógica para várias espécies de tartarugas mari-
(www.univille.br).
nhas, o conhecimento acerca da ocorrência,
uso da área e mortalidade ainda é incipiente. Ainda, para avaliar as espécies de ocor-
De fato, há poucos estudos realizados na regi- rência na região, foi realizado um levantamen-
ão. Nesse sentido, o registro sistemático de en- to no banco de dados do SIMBA (Sistema de
calhes de tartarugas pode ajudar a elucidar la- Monitoramento de Biota Aquática; http://
cunas importantes, uma vez que permite con- simba.petrobras.com.br), que reúne as infor-
solidar séries históricas de dados sobre a mor- mações obtidas por meio do Projeto de Monito-
talidade destes quelônios, além de agregar in- ramento de Praias da Bacia de Santos. Estes
formações sobre alimentação, áreas de uso, dados, por ainda não terem sido publicados,
faixa etária e deslocamentos (Goldberg et al., serão mencionados aqui como “dados não pu-
2013). blicados – PMP Bacia de Santos”.
O presente estudo apresenta uma revi-
são do conhecimento sobre tartarugas mari-
Resultados e discussão
nhas no litoral norte de Santa Catarina, inclu-
indo informações sobre as espécies presentes, Ao todo foram encontradas três (3) mo-
o padrão de encalhes, a dieta e ameaças, tanto nografias de bacharelado, uma (1) dissertação
naturais quanto antrópicas, que as atingem na de mestrado, duas (2) teses de doutorado, um
região. Os resultados obtidos poderão ser usa- (1) resumo expandido e um (1) artigo científico
dos para subsidiar estratégias de conservação para a região (Tabela 1).
para esses animais. As informações existentes estão relacio-
nadas, principalmente, ao registro de animais
encontrados mortos nas praias da região, que
Metodologia
gerou dados relacionados à biometria, ocorrên-
Foi realizada uma revisão sistemática cia sazonal e análise de conteúdo gastrointesti-
do estado da arte das tartarugas marinhas no nal (dieta e ingestão de resíduos de origem an-
litoral norte de Santa Catarina, compreenden- trópica). A principal espécie estudada foi C.
do a área entre o limite norte do município de mydas, que foi incluída em todos os estudos
Itapoá e o limite sul do município de Barra do realizados, uma vez que é a tartaruga com mai-
Sul, incluindo o estuário da Baía Babitonga. or número de encalhes na região, o que prova-
Devido ao reduzido número de trabalhos rela- velmente é reflexo de sua abundância na área

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


4 M. J. CREMER ET AL.

Tabela 1. Relação dos trabalhos que abordaram as tartarugas marinhas do litoral norte de Santa Catarina.
UNIVILLE = Universidade da Região de Joinville; UEL – Universidade Estadual de Londrina; UERJ = Uni-
versidade Estadual do Rio de Janeiro. A referência completa de cada trabalho consta no item “Referências”
ao final do artigo.

Título Autor/ano Tipo

Tartarugas marinhas no litoral norte de Cremer & Sartori


Revista UNIVILLE
Santa Catarina (2009)
Levantamento de mamíferos e tartarugas
Monografia de bacharelado/
marinhas no litoral norte de Santa Catari- Sartori (2009)
UNIVILLE
na
Análise da dieta da tartaruga-verde
(Chelonia mydas) e tartaruga-cabeçuda Monografia de bacharelado/
Flach (2010)
(Caretta caretta) no litoral norte de San- UNIVILLE
ta Catarina, Brasil
Registro de ocorrência de tartarugas
Resumo expandido – XIV
marinhas na região estuarina da Baía da
Cruz et al. (2011) Congresso Latino-americano
Babitonga, litoral do município de Itapoá,
de Ciências do Mar
SC: uma atualização
Ecologia alimentar da tartaruga-
Dissertação de mestrado/
verde, Chelonia mydas, no litoral norte Souza (2016)
UNIVILLE
de Santa Catarina
Resíduos sólidos ingeridos por tetrá-
Monografia de bacharelado/
podes marinhos encalhados no litoral Bezerra (2016)
UNIVILLE
norte de Santa Catarina - Brasil
Fibropapilomatose em tartarugas-
verde (Chelonia mydas, Linnaeus, 1758)
no sudoeste do Oceano Atlântico: epide- Domiciano (2016) Tese de doutorado/UEL
miologia e parâmetros clínicos laborato-
riais
Ecotoxicologia como ferramenta para o
estudo do uso do habitat por tartarugas-
Rosa (2016) Tese de doutorado/UERJ
verdes juvenis (Chelonia mydas) na costa
sudeste-sul do Brasil

de estudo. Para C. caretta também há informa- em periódicos especializados de mais ampla


ções sobre dieta e ingestão de lixo, enquanto divulgação e acesso. O primeiro registro na lite-
que para as outras espécies apenas registros ratura sobre a ocorrência de tartarugas mari-
espaciais e temporais de encalhe estão disponí- nhas na região consta no trabalho de Cremer &
veis. Sartori (2009), que indica a presença de quatro
espécies (Tabela 2). Recentemente, 21 indiví-
O resultado deixa claro que ainda é inci-
duos de tartaruga-oliva, L. olivacea, foram do-
piente o conhecimento científico existente so-
cumentadas na região (dados não publicados -
bre as tartarugas marinhas na região. Cabe des-
PMP Bacia de Santos) entre os anos de 2017 e
tacar o fato de que 57% (4/7) dos trabalhos são
2018. A espécie já havia sido registrada no Pa-
muito recentes, tendo sido concluídos em 2016,
raná, Rio Grande do Sul (Monteiro, 2004, Gue-
e que 85,7% (6/7) são trabalhos acadêmicos,
bert et al., 2005) e em Florianópolis
cujos resultados ainda não foram publicados

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 5

Tabela 2. Relação das espécies de tartarugas marinhas registradas no litoral norte de Santa Catarina.

Família Espécie Nome popular

Chelonia mydas Tartaruga-verde

Caretta caretta Tartaruga-cabeçuda


Cheloniidae
Eretmochelys imbricata Tartaruga-de-pente

Lepidochelys olivacea Tartaruga-oliva

Dermochelyidae Dermochelys coriacea Tarataruga-de-couro

(SITAMAR – dados não publicados). al., 2017). Esta espécie é frequentemente im-
pactada pela ingestão de lixo, sendo que 66,9%
Encalhes de tartarugas mortas foram
dos indivíduos analisados por Bezerra (2016)
registrados ao longo de todo o ano, mas parece
tinham resíduos de origem antrópica no trato
haver um aumento entre o inverno e a prima-
gastrointestinal, caracterizados principalmente
vera (Cremer & Sartori, 2009, Souza, 2016). Há
por plástico e artefatos de pesca. Quando passa
ainda casos de tartarugas que encalham vivas
a ocupar zonas costeiras e altera sua dieta, a
na região, sempre muito debilitadas (M. Cre-
espécie fica mais exposta a ameaças antrópicas,
mer, comunicação pessoal).
incluindo a ingestão de resíduos sólidos carrea-
dos dos continentes e rios (Schuyler et al.,
Tartaruga-verde, Chelonia mydas 2012).

Esta é a espécie com o maior número de Os principais itens alimentares consu-


indivíduos encalhados mortos na região, da midos pela espécie na área de estudo foram
mesma forma como registrado ao longo da cos- macroalgas dos gêneros Ulva, Cladophora, Gi-
ta brasileira (Almeida et al., 2011b). É a espécie gartina e Sargassum, embora outros gêneros
registrada com maior frequência no interior da também tenham sido registrados (Souza,
Baía Babitonga, uma vez que na fase juvenil 2016), o que difere da maior parte dos estudos,
nerítica tartarugas-verdes passam a adotar realizados em diferentes regiões do mundo,
uma dieta em grande parte herbívora e buscam onde a espécie costuma se alimentar em bancos
ambientes com maior disponibilidade de ma- de grama marinha (Mendonça, 1983, Garnett et
croalgas e fanerógamas (Mortimer, 1981). Há al., 1985, Seminoff et al., 2002, Gama et al.,
predominância de indivíduos jovens, com com- 2016). Uma biomassa de origem animal (não
primento curvilíneo da carapaça (CCC) médio foi possível identificar o táxon) esteve presente
de 41,3 cm (Souza, 2016), com máximo de 70 em todas as estações do ano (Souza, 2016), o
cm. A análise de contaminantes mostrou valo- que evidencia uma certa tendência à onivoria
res elevados de elementos orgânicos e inorgâ- pelos indivíduos juvenis, como já documentado
nicos, em comparação com outros países in- por Barros et al. (2007), Nagaoka et al. (2012),
dustrializados e alterados por atividades huma- Morais et al. (2012) e Reisser et al. (2013). Mo-
nas, para indivíduos encontrados mortos na rais et al. (2012) documentaram a presença de
região (Rosa, 2016), o que pode levar a maior bicos de cefalópodes no trato gastrointestinal
suscetibilidade a doenças, inclusive desenvolvi- de tartarugas-verdes encalhadas ao longo do
mento de tumores nos animais (Domiciano et litoral de Santa Catarina. Áreas de alimentação

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


6 M. J. CREMER ET AL.

para a espécie foram identificadas tanto fora testinal, o que também foi documentado para
como dentro do estuário da Baía Babitonga jovens e subadultos da espécie (Bezerra, 2016).
(Souza, 2016). A dieta incluiu também propá- No entanto, raramente indivíduos dessa espé-
gulos de mangue (Avicennia schaueriana) e cie são levados a óbito pela ingestão de lixo,
gramíneas, embora tenham sido pouco repre- pois não ingerem quantidades tão expressivas,
sentativos (Souza, 2016). como ocorre com juvenis de C. mydas, o que
possivelmente esteja relacionado a diferenças
A análise sobre a prevalência da fibro-
na dieta destas espécies (Schuyler et al., 2012,
papilomatose, assim como a avaliação macros-
Schuyler et al., 2014). A presença de resíduos
cópica e histopatológica dos tumores e a detec-
em filhotes e jovens indica que nessa fase de
ção do possível agente viral associado à doença
vida, quando habitam zonas oceânicas, tam-
Chelonid herpesvirus 5 (Jones et al., 2016), foi
bém estão sujeitos a essa ameaça, uma vez que
realizada para C. mydas confirmando a presen-
costumam se alimentar nos cinco primeiros
ça da doença em espécimes da Baía Babitonga
metros da coluna d’água (Bolten, 2003), onde
e entorno (Domiciano, 2016). Essa neoplasia é
grande parte do lixo se acumula (Pham et al.,
considerada benigna, porém quando nas pálpe-
2017).
bras, região axilar e inguinal, boca ou órgãos
internos, pode comprometer a saúde, compor- Durante os primeiros anos de vida, as
tamento e hábitos alimentares dos indivíduos, tartarugas-cabeçudas se alimentam em áreas
levando-os a óbito (Herbst, 1994). pelágicas, frequentemente em associação com
bancos de algas (Bolten & Balazs, 1995, Bolten,
2003, Santos et al., 2011). Ao atingirem a fase
Tartaruga-cabeçuda, Caretta caretta nerítica, passam a ocupar áreas mais rasas,
Caretta caretta é a segunda espécie passando a se alimentar de organismos bentô-
mais abundante na região. Cruz et al. (2011) nicos. De acordo com Shoop & Kenney (1992),
reportaram a ocorrência de seis encalhes de indivíduos nessa fase de vida tendem a perma-
tartarugas-cabeçudas juvenis nas praias de Ita- necer em profundidades inferiores a 200 m,
poá. De acordo com Marcovaldi & Chaloupka sendo comumente observadas a 60 m. Os itens
(2007), o sul do Brasil é um importante ponto alimentares incluem peixes, crustáceos, molus-
de alimentação para juvenis/subadultos dessa cos, águas-vivas, ovos de peixes e cefalópodes,
espécie. Na área de estudo, o comprimento cur- entre outros (Bjorndal, 1997, Tomas et al.,
vilíneo médio de carapaça (CCC) foi de 79,2± 2001). Na região os indivíduos se alimentaram
7,3 cm e o CCC máximo foi de 86 cm (Cremer & principalmente de peixes teleósteos, mas tam-
Sartori, 2009). A linha de corte usada para dis- bém foram encontrados moluscos (bivalves e
tinguir indivíduos juvenis/subadultos dos adul- gastrópodes) e crustáceos (Flach, 2010).
tos baseia-se no tamanho mínimo de fêmeas
adultas em atividade reprodutiva nas praias
Tartaruga-de-pente, Eretmochelys im-
brasileiras, que corresponde a 82 cm de CCC
bricata
(Marcovaldi & Chaloupka, 2007, Lima et al.,
2012, Goldberg et al., 2015). Há poucos registros da espécie na regi-
ão de estudo, sendo todos de indivíduos jovens,
Em 2016 foi registrada a presença de
que encalharam mortos no outono e inverno
um único filhote de C. caretta (CCC = 9,5 cm)
(Bezerra, 2016). As áreas de alimentação de E.
na região (Bezerra, 2016). Apesar das desovas
imbricata na costa brasileira incluem as ilhas
para a espécie se concentrarem entre o norte
oceânicas de Fernando de Noronha/PE e Atol
do Rio de Janeiro e o estado de Sergipe
das Rocas/RN e, mais recentemente, o banco
(Marcovaldi & Chaloupka, 2007; Santos et al.,
dos Abrolhos/BA (Pedrosa & Verissimo, 2006).
2011, Lima et al., 2012), há ocorrências ocasio-
A tartaruga-de-pente é tipicamente tropical e a
nais de ninhos por toda a costa (Santos et al.,
região sul do Brasil não constitui uma área de
2011). O filhote, encontrado morto, apresenta-
ocorrência regular da espécie (Reisser et al.,
va resíduos sólidos ao longo do trato gastroin-

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 7

2008, Marcovaldi et al., 2011). Apesar disso, há zar mergulhos profundos durante o forrageio e
ocorrência da espécie na Reserva Biológica Ma- migrações (Polovina et al., 2004), o que as tor-
rinha do Arvoredo, em Santa Catarina (Reisser na vulneráveis à pesca de profundidade
et al., 2008). Apesar de onívoras, tartarugas- (Spotila, 2004), arrasto (Silva et al., 2010) e
de-pente apresentam maior seletividade para pesca oceânica, como por exemplo, o espinhel
invertebrados em sua dieta, alimentando-se de fundo (Sales et al., 2008). Estes incidentes
preferencialmente de esponjas marinhas já foram observados do norte a sul do litoral
(Meylan 1988, Leon & Bjorndal, 2002). No en- brasileiro, sendo os mais frequentes na pesca
tanto, outros itens podem ser encontrados com costeira nos estados do Rio Grande do Norte,
frequência em seu trato gastrointestinal, como Ceará, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,
cnidários, gastrópodes, moluscos bivalves, Espírito Santo e Rio de Janeiro (Sales et al.,
crustáceos, ascídias e peixes teleósteos 2008). Registros de encalhe de animais vivos e
(Stampar et al., 2007). Não há informações mortos foram realizados em menor número
sobre sua dieta na região, porém diferentes re- nas praias dos estados de São Paulo (SITAMAR
síduos de origem antrópica foram encontrados – dados não publicados), Paraná (D’Amato
no conteúdo gastrointestinal dos três espéci- 1992), Santa Catarina (Marcovaldi et al., 2000)
mes analisados, incluindo artefatos de pesca, e Rio Grande do Sul (Soto & Beheregaray,
peças de plástico e detritos diversos (Bezerra, 1997, Pinedo et al., 1998, Monteiro, 2004). Le-
2016). pidochelys olivacea é vulnerável aos mesmos
impactos de origem antrópica descritos anteri-
ormente para as outras espécies de tartarugas
Tartaruga-oliva, Lepidochelys olivacea marinhas, incluindo a captura incidental na
Os primeiros registros da espécie na pesca, a poluição marinha, a ocupação desor-
região, incluindo um indivíduo vivo, foram rea- denada do litoral e as alterações climáticas
lizados por meio do Programa de Monitora- (Poloczanska et al., 2009, Castilhos et al.,
mento de Praias da Bacia de Santos, que teve 2011).
início em setembro de 2015. Entre a primavera
de 2017 e o verão de 2018, 24 indivíduos adul-
Tartaruga-de-couro, Dermochelys coria-
tos foram registrados nas praias da região, em
cea
diferentes estágios de decomposição (PMP-BS
dados não publicados). A espécie geralmente No sul do Brasil, encalhes desta espécie
ocorre em áreas costeiras e oceânicas (Abreu- já foram documentados no Paraná (D’Amato,
Grobois & Plotkin, 2008, Castilhos et al., 2011). 1991) e Rio Grande do Sul (Pinedo et al., 1998),
É considerada carnívora e pode se alimentar de sendo poucos os registros desta espécie em
peixes, moluscos, crustáceos e algas (Spotila, Santa Catarina. Um grande número de indiví-
2004). Possuem ciclo reprodutivo longo duos foi registrado em avançado estado de de-
(Meylan & Donnelly, 1999) e as áreas de repro- composição, o que dificultou a obtenção de
dução, consideradas prioritárias, estão distri- amostras e medidas. A espécie vive a maior
buídas entre os litorais do Sergipe, Alagoas, parte de sua vida na zona oceânica (Almeida et
Bahia e, em menor densidade, no litoral do Es- al., 2011a), o que provavelmente influenciou no
pírito Santo (Marcovaldi & Marcovaldi 1999, reduzido número de animais encalhados e na
Castilhos & Tiwari 2006, Silva et al., 2007). condição das carcaças, sempre em avançado
Desovas ocasionais foram registradas nos esta- estado de decomposição. Por este motivo, não
dos do Ceará por Lima et al. (2003), Rio de há dados adicionais sobre a espécie na região.
Janeiro e Rio Grande do Norte (SITAMAR -
Vale ressaltar, no entanto, que o au-
dados não publicados). Realizam extensas mi-
mento da atividade pesqueira nos últimos anos
grações, com movimentações complexas e rotas
é considerada a principal ameaça para as popu-
variadas em regiões com temperaturas acima
lações de tartarugas-de-couro (Sales et al.,
de 20C° (Márquez, 1990, Morreale et al., 2007,
2008). Há captura incidental nas pescarias
Marcovaldi et al., 2008). São capazes de reali-

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


8 M. J. CREMER ET AL.

costeiras, principalmente nas redes de emalhe, quáticas. Este tipo de ruído pode gerar quadros
e nas oceânicas, que envolvem redes de deriva, de estresse agudo, com alterações na fisiologia
espinhéis e arrasto (Marcovaldi et al., 2006). e comportamento das tartarugas (Weir, 2007),
As redes de emalhe de deriva, direcionadas à além de danos físicos temporários ou perma-
captura do gênero Sphyrna (tubarão-martelo) nentes às estruturas auditivas, com redução
constituem uma grande ameaça para tartaru- significativa na percepção de sons por esses
gas-de-couro. Esse tipo de pesca está presente animais (McCauley et al., 2000, Viada et al.,
ao longo do litoral sudeste/sul, desde São Pau- 2008).
lo ao Rio Grande do Sul, e é realizada por em-
A presença de fibropapilomatose já foi
barcações oriundas dos portos de São Paulo e
registrada para C. mydas dentro da Baía Babi-
Santa Catarina (Sales et al., 2008, Fiedler,
tonga (Cremer & Sartori, 2009), e apresenta
2009).
baixa prevalência em relação a outras regiões
do Brasil (Domiciano, 2016). Considerada uma
epizootia, a fibropapilomatose foi descrita no
Ações relacionadas às tartarugas mari-
Brasil pela primeira vez em 1986, no Espírito
nhas na região
Santo e, desde então, o número de casos vem
Não há nenhum projeto específico sobre aumentando gradativamente ao longo da costa,
tartarugas marinhas em andamento na região. acometendo principalmente C. mydas
Contudo, esta área insere-se no escopo do Pro- (Baptistotte, 2007). É uma doença debilitante,
jeto de Monitoramento de Praias da Bacia de caracterizada pela presença de múltiplos tumo-
Santos (PMP – Bacia de Santos), que vem rea- res cutâneos e/ou viscerais (Herbst, 1994) e,
lizando o monitoramento diário das praias ao apesar de apresentar curso benigno, a fibropa-
longo dos Estados de Santa Catarina, Paraná e pilomatose é considerada potencialmente fatal,
São Paulo em busca de animais marinhos vivos uma vez que os tumores podem interferir na
ou mortos desde setembro de 2015. Este proje- hidrodinâmica e alimentação dos animais
to é uma condicionante estabelecida pelo IBA- (Adnyana et al., 1997). Pesquisas indicam o
MA no licenciamento ambiental do polo pré-sal envolvimento de um herpesvírus associado a
pela Petrobras. No litoral norte de Santa Cata- fatores genéticos e ambientais, considerados
rina este monitoramento vem sendo realizado predisponentes à ocorrência da enfermidade
pela Universidade da Região de Joinville – (Herbst et al., 1998, Foley et al., 2005).
UNIVILLE. Atividades de sensibilização ambi-
O descarte inadequado de resíduos sóli-
ental são desenvolvidas no Espaço Ambiental
dos, principalmente plásticos, vem se tornando
Babitonga, da UNIVILLE, em São Francisco do
uma importante ameaça para os organismos
Sul, que funciona desde 2007 e inclui em seu
marinhos, incluindo as tartarugas marinhas
acervo de visitação as tartarugas marinhas.
(Nelms et al., 2016, Pham et al., 2017). No pre-
Além disso, a coleção herpetológica do Acervo
sente estudo, a frequência de ocorrência de re-
Biológico Iperoba, também da UNIVILLE,
síduos sólidos no trato gastrointestinal de tar-
abriga um importante acervo sobre as tartaru-
tarugas marinhas variou de 33,3% para E. im-
gas marinhas da região.
bricata, a 45,4% para C. caretta e 66,9% para
tartarugas-verdes, incluindo principalmente
Ameaças e conservação peças de plástico e artefatos de pesca, ao longo
do trato gastrointestinal, sendo C. mydas a es-
Explosões subaquáticas para derroca- pécie mais impactada (Flach, 2010, Bezerra,
gem das lajes do porto de São Francisco do Sul 2016, Souza, 2016). Esse fato está provavel-
foram mencionadas por Cremer & Sartori mente relacionado ao hábito alimentar predo-
(2009) como um potencial impacto para as tar- minantemente herbívoro desta espécie e ao
tarugas no interior da Baía Babitonga, uma vez fato desses animais ingerirem os resíduos pas-
que indivíduos foram encontrados mortos nas sivamente, junto a seus itens alimentares, ou
proximidades do porto após detonações suba- ativamente devido à semelhança da forma com

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 9

itens da dieta (ex. plástico mole e cnidários) ou tas, provocadas pela interação das tartarugas
ao gosto e cheiro devido à formação de biofil- com o equipamento, tais como hemorragias,
mes nos resíduos (Márquez, 1990, Bugoni et fraturas extensas, dilacerações, com elevado
al., 2003, Nelms et al., 2016). A ingestão de índice de mortalidade, os impactos indiretos
lixo pode ter efeitos letais sobre as tartarugas, também ameaçam a sobrevivência dos animais.
provocando sua morte por obstrução do trato Entre eles destaca-se a alteração ou destruição
gastrointestinal, com redução do estímulo à das áreas de forrageamento e a redisponibiliza-
alimentação, levando o indivíduo a um quadro ção de poluentes tóxicos até então aprisionados
de caquexia (magreza extrema, com esgota- no sedimento do fundo (Dickerson et al., 2004,
mento da reserva adiposa e atrofia muscular) Goldberg et al., 2015).
ou infecção sistêmica secundária (Stahelin et
De forma indireta, o aumento das ativi-
al., 2012b, Domiciano et al., 2017). Além disso,
dades portuárias também leva a uma redução
os animais ficam expostos à contaminação crô-
da área disponível para organismos mais sensí-
nica, que traz impactos significativos em longo
veis e para as atividades pesqueiras. Como con-
prazo para as populações (Bjorndal et al., 1994;
sequência, há uma sobreposição entre as áreas
Tourinho et al., 2010).
de uso pelos animais e o esforço pesqueiro, le-
De forma geral, as atividades portuárias vando a um aumento na ocorrência de capturas
trazem uma série de impactos para o meio am- incidentais (Tomaszewicz et al., 2018).
biente, que se acentuam significativamente nos
A Baía Babitonga abriga atualmente
estuários. Dentre eles podemos destacar a con-
três terminais portuários com relevante impor-
taminação das águas, o aumento nos níveis de
tância socioeconômica para a região. No entan-
poluição sonora subaquática, o aumento no
to, é necessária uma análise crítica que avalie a
tráfego de embarcações, a perda de habitat e os
capacidade de suporte deste ecossistema em
efeitos decorrentes das dragagens, necessárias
relação à implantação de novos terminais a fim
para o aprofundamento e manutenção dos ca-
de se evitar o colapso ambiental, com compro-
nais de navegação (Goldberg et al., 2015, Do-
metimento de suas funções ecológicas.
miciano et al., 2017). A dragagem de sedimento
marinho para a instalação e manutenção de Todas as espécies de tartarugas mari-
estruturas portuárias é reconhecida mundial- nhas estão ameaçadas de extinção no Brasil
mente por gerar grande impacto à fauna mari- (MMA, 2014). As principais medidas de prote-
nha (Dickerson et al., 2004). A movimentação ção estão associadas às áreas reprodutivas, lo-
do equipamento no fundo muitas vezes é im- calizadas majoritariamente nas regiões sudeste
perceptível às tartarugas, que acabam sendo e nordeste, ao passo que em áreas de alimenta-
sugadas junto com o sedimento, principalmen- ção as principais medidas de conservação estão
te em áreas de agregação (Dickerson et al., associadas à educação ambiental (Marcovaldi
2004, Goldberg et al., 2015). Nos EUA e na et al., 2006, Stahelin et al., 2012a) e à mitiga-
Austrália, a maior parte dos incidentes foi re- ção das capturas incidentais em petrechos de
portada para dragas “Hopper” (Dickerson et pesca (Marcovaldi et al., 2006, Sales et al.,
al., 2004). Esse tipo de draga vem sendo utili- 2010). No litoral norte de Santa Catarina a úni-
zada na maior parte dos empreendimentos no ca área legalmente protegida, com potencial
Brasil, como no Superporto do Açu, na Bacia de para contribuir com a conservação das espé-
Campos - RJ, onde 112 tartarugas vieram a óbi- cies, é o Parque Estadual do Acaraí, que inclui
to, entre 2008 e 2012, ao interagirem com a as ilhas do Arquipélago dos Tamboretes. Con-
cabeça de dragagem (Goldberg et al., 2015). De tudo, o ambiente marinho não está inserido na
acordo com Dickerson et al. (2004), tais dragas área do parque e as medidas de conservação
operam com maior velocidade, em maiores devem ser propostas no plano de manejo da
profundidades e com menores custos, sendo as unidade, que poderia contemplar áreas mari-
mais utilizadas para instalação e manutenção nhas de entorno (zona de amortecimento) des-
de estruturas portuárias. Além das lesões dire- te arquipélago. De qualquer forma, podemos

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


10 M. J. CREMER ET AL.

considerar que esta área é muito limitada no estudos para caracterizar o uso de habitat,
sentido de contribuir com a conservação das principalmente nas ilhas costeiras da região
tartarugas marinhas e seus habitats na região. (Arquipélago das Graças, Arquipélago dos
Tamboretes e Arquipélago dos Remédios), que
Há mais de dez anos tramita no Minis-
constituem importantes locais de alimentação
tério do Meio Ambiente uma proposta para a
para estas espécies.
criação de uma unidade de conservação na Baía
Babitonga e litoral adjacente. Esta é uma im- Atividades portuárias desenvolvidas em
portante estratégia para o uso sustentável e áreas prioritárias para as tartarugas marinhas
conservação dos recursos naturais da região, possuem elevado potencial de impacto sobre
incluindo as tartarugas, dada a sua relevância esses animais, em especial no que se refere à
para a produtividade e biodiversidade mari- poluição química, dragagens de aprofunda-
nhas. mento e manutenção de canais de navegação,
tráfego de embarcações, entre outros. Nesse
contexto, a análise e monitoramento regular
Contribuições ao monitoramento ambi- dessas atividades torna-se imprescindível para
ental na região a criação e implementação de medidas mitiga-
O monitoramento de encalhes de tarta- doras efetivas que integrem o desenvolvimento
rugas marinhas vivas e mortas é uma impor- socioeconômico com a conservação das espé-
tante ferramenta para a gestão, pois permite cies.
avaliar continuamente o panorama de mortali- A interação com diferentes artes de pes-
dade das espécies, mensurar os impactos e ana- ca, em escala artesanal e industrial, é conside-
lisar aspectos relacionados à sua história de rada a principal causa de mortalidade de juve-
vida. Levando-se em conta os diferentes impac- nis e adultos de tartarugas marinhas em todo o
tos antrópicos a que esses animais estão expos- mundo (Kotas et al., 2004, Lewison et al.,
tos, o registro sistemático dos encalhes vem 2004, Wallace et al., 2010). Como a área de
permitindo monitorar a condição de saúde dos estudo apresenta intensa atividade pesqueira
indivíduos, determinar as concentrações de artesanal, incluindo as pescarias com redes de
contaminantes em diferentes tecidos, avaliar a emalhe e arrasto (IBAMA, 1998, Pinheiro &
mortalidade associada à atividade pesqueira, Cremer, 2003), torna-se necessária uma me-
caracterizar patologias antigas e emergentes, lhor caracterização dos impactos desta ativida-
além de muitos outros aspectos. de sobre as populações de tartarugas marinhas
Devido à importância do estuário da na região. Somente dessa forma será possível
Baía Babitonga para a fase de recrutamento de gerar subsídios para a elaboração de estraté-
C. mydas neríticas, estudos direcionados a esta gias de mitigação que reduzam a captura inci-
espécie são de grande importância, incluindo a dental desses quelônios.
análise dos padrões de uso de habitat e a iden-
tificação das áreas de alimentação e de descan-
Agradecimentos
so. Para a obtenção destas informações é im-
prescindível o uso de tecnologias de rastrea- Os autores agradecem ao Fundo de
mento dos indivíduos, como os transmissores Apoio à Pesquisa da UNIVILLE pelo apoio fi-
satelitais, que permitem caracterizar os movi- nanceiro para o desenvolvimento de pesquisas
mentos e identificar as áreas de uso e as de com a fauna marinha da região. M. J. Cremer
maior concentração (Seney et al., 2010). A co- agradece ao CNPq (processo NO 310477/2017-
leta de dados a partir de observações visuais na 4).
superfície não é viável para a região, uma vez
que a visibilidade marinha é comprometida
pela elevada turbidez da água. Para C. caretta e Referências Bibliográficas
C. mydas é importante também a realização de ABREU-GROBOIS, A. & PLOTKIN, P. 2008.

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 11

Lepidochelys olivacea. IUCN Red List of BJORNDAL, K. A. (ed.). Biology and conser-
Threatened Species. Disponível em: http:// vation of sea turtles. Smithsonian Institution
www.iucnredlist.org/apps/redlist/ Press, Washington. Pag. : 579-581.
details/11534/0.b Acesso em: abr. 2018.
BOLTEN, A. B. 2003. Active swimmers – passive
ADNYANA, W., LADDS, P. W. & BLAIR, D. 1997. drifters: the oceanic juvenile stage of logger-
Observations of fibropapillomatosis. In: heads in the Atlantic system. In: BOLTEN, A.
green turtles (Chelonia mydas) in Indonesia. B. & WITHERINGTON, B. E. (eds) Logger-
Aust. Vet. J., 75: 737-742. head sea turtles. Smithsonian, Washington,
DC. Pag. 63-78.
ALMEIDA, A. P., THOMÉ, J. C. A., BAP-
TISTOTTE, C., MARCOVALDI, M. A., SAN- BOWEN, B. W. & KARL, S. A. 2007. Population
TOS, A. S. & LOPEZ, M. 2011a. Avaliação do genetics and phylogeography of sea turtles.
estado de conservação da tartaruga marinha Mol. Ecol., 16: 2886-4907.
Dermochelys coriacea (Vandelli, 1761) no
BUGONI, L., KRAUSE, L. & PETRY, M. V. 2003.
Brasil. Biodiv. Bras., 1: 37-44.
Diet of sea turtles in southern Brazil. Chel.
ALMEIDA, A. P., SANTOS, A. J. B., THOMÉ, J. C. Cons. Biol., 4: 685-688.
A., BELINI, C., BAPTISTOTTE, C., MARCO-
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de
VALDI, M. A., SANTOS, A. S. & LOPEZ, M.
Pessoal de Nível Superior. Disponível em:
2011b. Avaliação do estado de conservação da
capes.gov.br. Acesso em: abr. 2018.
tartaruga marinha Chelonia mydas
(Linnaeus, 1758) no Brasil. Biodiv. Bras., 1: 12 CASTILHOS, J. C. & TIWARI, M. 2006. Prelimi-
-19. nary data and observations from an increas-
ing olive ridley population in Sergipe, Brazil.
BAPTISTOTTE, C. 2007. Caracterização espacial
Marine Turtles Newsletter, 113: 6-7.
e temporal da fibropapilomatose em tartaru-
gas marinhas da costa brasileira. São Paulo. CASTILHOS, J. C., COELHO, C. A., ARGOLO, J.
63 p. (Tese de Doutorado. Escola Superior de F., SANTOS, E. A. P., MARCOVALDI, M. A.,
Agricultura Luís de Queiroz, Universidade de SANTOS, A. S. & LOPEZ, M. 2011. Avaliação
São Paulo - USP). do Estado de Conservação da Tartaruga Mari-
nha Lepidochelys olivacea (Eschscholtz,
BARROS, J. A., COPERTINO, M. S., MONTEIRO,
1829) no Brasil. Número Temático: Avaliação
D. S. & ESTIMA, S. C. 2007. Análise da dieta
do Estado de Conservação das Tartarugas
de juvenis de tartaruga verde (Chelonia
Marinhas. In: Biodiversidade Brasileira, 2011,
mydas) no extremo sul do Brasil. In: Anais do
1(1): 26-34.
VIII Congresso de Ecologia do Brasil. SEB.
CITES - Convention on International Trade in
BEZERRA, A. G. 2016. Resíduos sólidos ingeridos
Endangered Species of Wild Fauna and Flora.
por tetrápodes marinhos encalhados no lito-
Disponível em: https://www.cites.org. Acesso
ral norte de Santa Catarina – Brasil. São
em: abr. de 2018.
Francisco do Sul. 68p. (Monografia de Bacha-
relado. Universidade da Região de Joinville - CREMER, M. J. & SARTORI, C. M. 2009. Tarta-
UNIVILLE). rugas marinhas no litoral norte de Santa Ca-
tarina. Revista: UNIVILLE, 14: 57-63.
BJORNDAL, K. A., BOLTEN, A. B. & LAGUEUX,
C. J. 1994. Ingestion of marine debris by juve- CRUZ, C. R., DIEHL, F. L. & DOLICHNEY, E. M.
nile sea turtles in coastal Florida habitats. 2011. Registro de ocorrência de tartarugas
Mar. Pol. Bul., 28: 154-158 marinhas na região estuarina da Baía da Ba-
bitonga, litoral do município de Itapoá, SC:
BJORNDAL, K. A. 1997. Foraging ecology and
uma atualização. In: Congresso Latino-
nutrition of sea turtles. In LUTZ, P. L. & MU-
americano de Ciências do Mar, 14. Balneário
SICK, J., A. (ed.). The biology of sea turtles,
Camboriú, Colacmar/Senalmar.
Vol. I. CRC Press, Florida: 199-232.
D’AMATO, A. F. 1991. Ocorrência de tartarugas
BOLTEN, A. B. & BALAZS, G. H. 1995. Biology of
marinhas (Testudines: Cheloniidae, Dermo-
the early pelagic stage - the “lost year’’. In
chelyidae) no Estado do Paraná (Brasil). Acta

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


12 M. J. CREMER ET AL.

Biol. Leopoldensia, 13(2): 105-110. States (1980-98): trends and associations


with environmental factors. J. Wild. Dis., 41:
D’AMATO, A. F. 1992. Ocorrência de Lepido-
29-41.
chelys olivacea (Eschscholtz,1829)
(Testudines: Cheloniidae) para o Estado do GALLO, B. M. G., MACEDO, S., GIFFONI, B. D.,
Paraná - Brasil. Acta Biol. Leopoldensia, 14 BECKER, J. H. & BARATA, P. C. R. 2006. Sea
(1): 95-97. turtle conservation in Ubatuba, southeastern
Brazil, a feeding area with incidental capture
DICKERSON, D., WOLTERS, M., THERIOT, C. &
in coastal fisheries. Chel. Cons. Biol., 5: 93-
SLAY D. 2004. Dredging impacts on sea tur-
101.
tles in the southeastern USA: A historical re-
view of protection. In: Proceedings of the GAMA, L. R., DOMIT, C., BROADHURST, M. K.,
World Dredging Congress, Hamburg, Germa- FUENTES, M. M. P. B. & MILLAR, R. B.
ny. 2016. Green Turtle (Chelonia mydas) forag-
ing ecology at 25° in the western Atlantic:
DOMICIANO, I. G. 2016. Fibropapilomatose em
evidence to support a feeding model driven
tartarugas-verde (Chelonia mydas, Linnaeus,
by intrinsic and extrinsic variability. Mar.
1758) no sudoeste do Oceano Atlântico: epi-
Ecol. Prog. Ser., 542(1): 209-219.
demiologia e parâmetros clínicos laborato-
riais. Londrina. 93p. (Tese de Doutorado. GARNETT, S. T., PRICE, I. R. & SCOTT, F. J.
Universidade Estadual de Londrina - UEL). 1985. The diet of the green turtle, Chelonia
mydas (Linnaeus) in Torres Strait. Aust.
DOMICIANO, I. G., DOMIT, C. & BRACARENSE,
Wild. Res., 12: 103-112.
A. P. F. R. L. 2017. The green turtle Chelonia
mydas as a marine and coastal environmental GOLDBERG, D. W., PIRES, T., CASTILHOS, J.
sentinel: anthropogenic activities and diseas- C., MARCOVALDI, M. A., LOPEZ, G. G., LI-
es. Semin.-Cienc. Agrar., 38(5): 3417-3434. MA, E. P., GIFFONI, B. & BAPTISTOTTE, C.
2013. Avaliação dos encalhes de tartarugas
FIEDLER, F. N. 2009. As pescarias industriais de
marinhas: um indicador estratégico para a
rede de emalhe de superfície e as tartarugas
conservação. VI Jornada de Conservación e
marinhas: caracterização das frotas de Itajaí,
Investigación de Tortugas Marinas en el
Navegantes, Porto Belo (Santa Catarina) e
Atlántico Sur Occidental (ASO), Piriápolis,
Ubatuba (São Paulo), suas áreas de atuação,
Uruguay, 238 p.
sazonalidade e a interação com as tartarugas
marinhas. Pontal do Sul. 86 p. (Dissertação GOLDBERG, D. W., ALMEIDA, D. T., TOGNIN,
mestrado, Centro de Estudos do Mar, Uni- F., LOPEZ, G. G., PIZETTA, G. T., LEITE JU-
versidade Federal do Paraná – UFPR). NIOR, N. O. & SFORZA, R. 2015. Hopper
dredging impacts on sea turtles on the north-
FIEDLER, F. N., SALES, G., GIFFONI, B. B.,
ern coast of Rio de Janeiro State, Brazil. Mar.
MONTEIRO-FILHO, E. L. A., SECCHI, E. R.
Turt. News., 147: 16-20.
& BUGONI, L. 2012 Driftnet fishery threats
sea turtles in the Atlantic Ocean. Biodivers GUEBERT, F. M., ROSA, L., MONTEIRO-FILHO,
Conserv 21:915–931. doi:10.1007/ s10531-012 E. L. A. 2005. Monitoramento da Mortalidade
-0227-0. de Tartarugas Marinhas no Litoral Paranaen-
se, Sul do Brasil. II Jornada de Conservação e
FLACH, M. L. 2010. Análise da dieta da tartaruga
Pesquisa de Tartarugas Marinhas no Atlânti-
-verde (Chelonia mydas) e tartaruga-
co Sul Ocidental, Praia do Cassino, p. 50 – 52.
cabeçuda (Caretta caretta) no litoral norte de
Santa Catarina, Brasil. São Francisco do Sul. HERBST, L. H. 1994. Fibropapillomatosis of ma-
51 p. (Monografia de Bacharelado. Universi- rine turtles. Ann. Rev. Fish Dis., 4: 389-425.
dade da Região de Joinville, UNIVILLE).
HERBST, L. H., GREINER, E. C., EHRHART, L.
FOLEY, A. M., SCHROEDER, B. A., REDLOW, A. M., BAGLEY, D. A. & KLEIN P. A. 1998. Sero-
E., FICK-CHILD, K. J. & TEAS, W. G. 2005. logical association between spirorchidiasis,
Fibropapillomatosis in stranded green turtles herpesvirus infection, and fibropapillomato-
(Chelonia mydas) from the Eastern United sis in green turtles from Florida. J. Wild. Dis.,

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 13

34: 496-507. Biology and Conservation. NOAA. 291p.


IBAMA. 1998. Proteção e controle de ecossiste- MARCOVALDI, M. A., SALES, G., THOMÉ, J. C.,
mas costeiros: manguezal da Baía da Babiton- DIAS DA SILVA, A. C., GALLO, B. M., LIMA,
ga. IBAMA, Brasília, 145 p. E. H., LIMA, E. P. & BELLINI, C. 2006. Sea
turtles and fishery interactions in Brazil:
IUCN - International Union for Conservation of
identifying and mitigating potential conflicts.
Nature. Disponível em: www.iucnredlist.org.
Mar. Turt. Newsl., 112:4–8
Acesso em: abr. 2018.
MARCOVALDI, M. A. & CHALOUPKA, M. 2007.
JONES, K., ARIEL, E., BURESS, G. & READ, M.
Conservation status of the loggerhead sea
2016. A review of fibropapillomatosis in green
turtle in Brazil: an encouraging outlook. End.
turtles (Chelonia mydas). Vet. J., 212: 48–57.
Spec. Res., 3: 133-143.
KOTAS, J. E., DOS SANTOS, S., DE AZEVEDO,
MARCOVALDI, M. A., THOMÉ, J. C. A., ALMEI-
V. G., GALLO, B. M. & BARATA, P. C. 2004.
DA, A. P., LOPEZ, G. G., SILVA, A. C. C. D. &
Incidental capture of loggerhead (Caretta
APOLIÁRIO, M. 2008. Satellite telemetry
caretta) and leatherback (Dermochelys cori-
studies in Brazilian nesting areas: prelimi-
acea) sea turtles by the pelagic longline fish-
nary results. In: Proceedings of 27th Annual
ery off southern Brazil. Fish. Bul., 102: 93-
Symposium on Sea Turtle Biology and Con-
399.
servation. NOAA. 262p.
LEON, Y. M. & BJORNDAL, K. A. 2002. Selective
MARCOVALDI, M. M., LOPEZ, G. G., SOARES,
feeding in the hawksbill turtle, an important
L. S., SANTOS, A. J. B., BELLINI, C. DOS
predator in coral reef ecosystems. Mar. Ecol.
SANTOS, A. S. & LOPEZ, M. 2011. Avaliação
Prog. Ser. 245: 249-258.
do estado de conservação da tartaruga mari-
LEWISON, R. L., CROWDER, L. B., READ, A. J. nha Eretmochelys imbricata (Linnaeus,
& FREEMAN, S. A. 2004. Understanding im- 1766) no Brasil. Biodiv. Bras., 1: 20-27.
pacts of fisheries bycatch on marine megafau-
MÁRQUEZ, M., R. 1990. Sea turtles of the world.
na. Tren. Ecol. Evol., 19: 598-604.
An annotated and illustrated catalogue of sea
LIMA, E. H. S. M., MELO, M. T. D. & BARATA, P. turtle species known to date. FAO (Food and
C. R. 2003. First Record of olive ridley nest- Agriculture Organization of the United Na-
ing in the State of Ceará, Brazil. Marine Tur- tions). FAO Species Catalogue, vol. 11.
tle Newsletter, 99: 20.
MCCAULEY, R. D., FEWTRELL, J., DUNCAN, A.
LIMA, E. P. E., WANDERLINDE, J., ALMEIDA, J., JENNER, C., JENNER, M. N., PENROSE,
D. T., LOPEZ, G. G. & GOLDBERG, D. W. J. D., PRINCE, R. I. T., ADHITYA, A., MUR-
2012. Nesting ecology and conservation of the DOCH, J. & MCCABE, K. 2000. Marine seis-
loggerhead sea turtle (Caretta caretta) in Rio mic surveys: a study of environmental impli-
de Janeiro, Brazil. Chel. Cons. Biol., 11: 249- cations. APPEA Journal, 40: 692-708.
254.
MENDONÇA, M. 1983. Movements and feeding
MARCOVALDI, M. A. & MARCOVALDI, G. G. ecology of immature green turtles (Chelonia
1999. Marine turtles of Brazil: the history and mydas) in a Florida Lagoon. Copeia, 4: 1014-
structure of Projeto TAMAR-IBAMA. Biol. 1023.
Cons., 91: 35-41.
MEYLAN, A. 1988. Spongivory in hawksbill tur-
MARCOVALDI, M. A., SILVA, A. C. C. D., tles: a diet of glass. Science 239: 393−395.
GALLO, B. M. G., BAPTISTOTE, C., LIMA, E.
MEYLAN, A. B. & MEYLAN, P. A. 1999. An Intro-
P., BELLINI, C., LIMA, E. H. S. M., CASTI-
duction to the Evolution, Life History, and
LHOS, J. C., THOMÉ, J. C. A., MOREIRA, L.
Biology of Sea Turtles. Pp. 3-5. In: Eckert,
M. P. & SANCHES, T. M. 2000. Recaptures of
K.L., Bjorndal K.A., Abreu-Grobois, F.A.,
tagged turtles from nesting and feeding
Donnelly, M. (Eds.). Research and Manage-
grounds protected by Projeto TAMAR-
ment Techniques for the Conservation of Sea
IBAMA, Brasil, p. 164-166. In: Proceedings of
Turtles. IUCN/SSC Publication Nº. 4.
the 19th Annual Symposium on Sea Turtle

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


14 M. J. CREMER ET AL.

MEYLAN, A. B. & DONNELY, M. 1999. Status 73 (2), 165–181.


justification for listing the hawksbill turtle
PEDROSA, L. W. & VERISSIMO, L. 2006. Redu-
(Eretmochelys imbricata) as critically endan-
ção das Capturas Incidentais de Tartarugas
gered on the 1996 IUCN Red List of Threat-
Marinhas no Banco dos Abrolhos. Relatório
ened Animals. Chel. Cons. Biol., 3(2): 200-
Final de Atividades – Parceria CBC/CI-Brasil
224.
–FY04, 233 p.
MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE.
PHAM, C. K., RODRÍGUEZ, Y., DAUPHIN, A.,
2014. Portaria nº 445 de 17 de dezem-
CARRIÇO, R., FRIAS, J. P. G. L., VAN-
bro de 2014. Reconhece como espécies de
DEPERRE, F., OTERO, V., SANTOS, M. R.,
peixes e invertebrados aquáticos da fauna
MARTINS, H. R., BOLTEN, A. B., BJORN-
brasileira ameaçadas de extinção aquelas
DAL, K. A. 2017. Plastic ingestion in oceanic-
constantes da "Lista Nacional Oficial de Espé-
stage loggerhead sea turtles (Caretta caretta)
cies da Fauna Ameaçadas de Extinção - Pei-
off the North Atlantic subtropical gyre, Mar.
xes e Invertebrados Aquáticos" Diário Oficial
Pollut. Bull., 121(1–2): 222-229.
[da] União, Brasília, DF, 17 de dez. de 2014.
PINEDO, M. C., CAPITOLI, R., BARRETO, A. S.
MONTEIRO, D. S. 2004. Encalhes e interação de
& ANDRADE, A. L. V. 1998. Occurrence and
tartarugas marinhas com a pesca no litoral
feeding of sea turtles in Southern Brazil, p.
norte do Rio Grande do Sul. Rio Grande. 58
117-118. In: Proceedings of the 16th Annual
p. (Monografia de Bacharelado. Universidade
Symposium on Sea Turtle Biology and Con-
Federal do Rio Grande – FURG).
servation. NOAA. 158p.
MORAIS, R. A., LONGO, G. O., SANTOS, R. A.,
PINHEIRO, L. & CREMER, M. 2003. Sistema
YOSHIDA, E. T. E.; STAHELIN, G. D. &
pesqueiro da Baía da Babitonga, litoral norte
HORTA, P. A. 2012. Cephalopod ingestion by
de Santa Catarina: uma abordagem etnoeco-
juvenile green sea turtles (Chelonia mydas):
lógica. Desenv. Meio Amb. 8: 59-68.
predatory or scavenging behavior? Herpeto-
logical Review, 43, 47–50. POLOVINA, J. J., BALAZS, G., H., HOWELL, E.
A., PARKER, D. M., SEKI, M. P. & DUTTON,
MORREALE, S. J., PLOTKIN, P., SHAVER, D. &
P. H. 2004. Forage and migration habitat of
KALB, H. J. 2007. Adult migration and habi-
loggerhead (Caretta caretta) and olive ridley
tat utilization – Ridley turtles in their ele-
(Lepidochelys olivacea) sea turtles in the cen-
ment, p. 213-229. In: Plotkin, P. T. (Ed.). Bi-
tral North Pacific Ocean. Fish. Oceanogr., 13
ology and Conservation of Ridley Sea Turtles.
(1): 36-51.
Johns Hopkins University Press, Baltimore:
213-229 p. POLOCZANSKA, E. S., LIMPUS, C. J. & HAYS, G.
C. 2009. Vulnerability of marine turtles to
MORTIMER, J. A. 1981. Feeding ecology of sea
climate change. Adv. Mar. Biol., 56: 151-211.
turtles. In BJORNDAL, K. A. (ed.) Biology
and conservation of sea turtles. Smithsonian PRITCHARD, P. C. H. & MORTIMER, J. A. 1999.
Institution Press, Washington: 103-109. Taxonomy, external morphology, and species
identification. In: ECKERT, K. L., BJORN-
NAGAOKA, S. M., MARTINS, A. S., SANTOS, R.
DAL K. A., ABREU-GROBOIS, F. A. & DON-
G., TOGNELLA, M. M. P., OLIVEIRA FILHO,
NELLY, M. (ed.). Research and Management
E. C. & SWMINOFF, J. A. 2012. Diet of juve-
Techniques for the Conservation of Sea Tur-
nile green turtles (Chelonia mydas) associat-
tles. IUCN/SSC Publication: 23-44.
ing with artisanal fishing traps in a subtropi-
cal estuary in Brazil. Mar Biol 159 (3): 573– PUPO, M. M., SOTO, J. M. R. & HANAZAKI, N.
581. doi: 10.1007/s00227-011-1836-y. 2006. Captura incidental de tartarugas
marinhas na pesca artesanal da ilha de Santa
NELMS, S. E., DUNCAN, E. M., BRODERICK, A.
Catarina, SC. Biotemas, 19: 63-72.
C., GALLOWAY, T. S., GODFREY, M. H.,
HAMANN, M., LINDEQUE, P. K. & GODLEY, REISSER, J., PROIETTI, M., KINAS, P. & SAZI-
B. J. 2016. Plastic and marine turtles: a re- MA, I. 2008. Photographic identification of
view and call for research. ICES J. Mar. Sci. sea turtles: method description and valida-

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002


Tartarugas marinhas no litoral norte de Santa Catarina e Baía Babitonga 15

tion, with an estimation of tag loss. Endanger. SENEY, E. E., HIGGINS, B. M. & LANDRY JR.,
Species Res., 5(1): 73-82. A. M. 2010. Satellite transmitter attachment
techniques for small juvenile sea turtles. J.
REISSER, J., PROIETTI, M. & SAZIMA, I. 2013.
Exp. Mar. Biol. Ecol., 384: 61-67.
Feeding ecology of the green turtle (Chelonia
mydas) at rocky reefs in western South Atlan- SHOOP, C. R. & KENNEY, R. D. 1992. Seasonal
tic. Mar. Biol., 160: 3169. https:// distributions and abundances of loggerhead
doi.org/10.1007/s00227-013-2304-7. and leatherback sea turtles in waters of the
northeastern United States. Herpetolog.
ROSA, L. 2016. Ecotoxicologia como ferramenta
Monogr. 6:43–67
para o estudo do uso do habitat por tartaru-
gas-verdes juvenis (Chelonia mydas) na costa SILVA, A. C. C. D., CASTILHOS, J. C., LOPEZ, G.
sudeste-sul do Brasil. Rio de Janeiro. 201 p. G. & BARATA, P. C. R. 2007. Nesting biology
(Tese de Doutorado, Universidade do Estado and conservation of the olive ridley sea turtle
do Rio de Janeiro - UERJ). (Lepidochelys olivacea) in Brazil, 1991/1992
to 2002/2003. J. Mar. Biol. Ass. UK, 87: 1047
SALES, G., GIFFONI, B. G. & BARATA, P. C. R.
-1056.
2008. Incidental catch of sea turtles by the
Brazilian pelagic longline fishery. J. Mar. Bi- SILVA, A. C. C. D., CASTILHOS, J. C., SANTOS,
ol. Assoc. UK, 88: 853-864. E. A. P., BRONDÍZIO, L. S. & BUGONI, L.
2010. Efforts to reduce sea turtle bycatch in
SALES, G., GIFFONI, B. B., FIEDLER, F. N.,
the shrimp fishery in Northeastern Brazil
AZEVEDO, V. G., KOTAS, J. E., SWIMMER,
through a co-management process. Ocean
Y. & BUGONI, L. 2010. Circle hook effective-
Coast. Management, 53: 570-576.
ness for the mitigation of sea turtle bycatch
and capture of target species in a Brazilian SOTO, J. M. R. & BEHEREGARAY, R. C. P. 1997.
pelagic longline fishery. Aquat. Conserv., 20 New records of Lepidochelys olivacea
(4), 428-436. doi: http://dx.doi.org/10.1002/ (Eschscholtz, 1829) and Eretmochelys imbri-
aqc.1106 cata (Linnaeus, 1766) in the Southwest Atlan-
tic. Mar. Turt. Newsl., 77: 8-10.
SANTOS, A. S., SOARES, A. S., MARCOVALDI,
M. A., MONTEIRO, D. S., GIFFONI, B. & AL- SOUZA, T., F. 2016. Ecologia alimentar da tarta-
MEIDA, A. P. 2011. Avaliação do estado de ruga-verde, Chelonia mydas, no litoral norte
conservação da tartaruga marinha Caretta de Santa Catarina. Joinville. 80p (Dissertação
caretta Linnaeus, 1758 no Brasil. Biodiv. de Mestrado em Saúde e Meio Ambiente,
Bras., 1: 3-11. Universidade da Região de Joinville - UNI-
VILLE).
SARTORI, C. M. 2009. Levantamento de mamífe-
ros e tartarugas marinhas no litoral norte de SPOTILA, J. R. 2004. Sea turtles – a complete
Santa Catarina. São Francisco do Sul. 79 p. guide to their biology, behavior and conserva-
(Monografia de Bacharelado. Universidade da tion. The Jond Hopkins University Press. X +
Região de Joinville - UNIVILLE). 227 p. il.
SCHUYLER, Q., HARDESTY, B. D., WILCOX, C. STAHELIN, G. D., FIELDLER, F. N., LIMA, E. P.,
& TOWNSEND, K. 2012. To eat or not to eat? SALES, G. & WANDERLINDE, J. 2012a. Pro-
Debris selectivity by marine turtles. PLoS jeto TAMAR’s station in Florianópolis, state
ONE 7. DOI: 10.1371/journal.pone.0040884. of Santa Catarina, southern Brasil. Mar. Turt.
News., 133: 23-24.
SCHUYLER, Q., HARDESTY, B. D., WILCOX, C.
& TOWNSEND, K. 2014. Global analysis of STAHELIN, G. D., HENNEMANN, M., CEGONI,
anthropogenic debris ingestion by sea turtles. C., WANDERLINDE, J., LIMA, E. & GOLD-
Cons. Biol., 28: 129-139. BERG, D. W. 2012b. Case report: Ingestion of
a massive amount of debris by a green turtle
SEMINOFF, J. A., RESENDIZ, A. & NICHOLS,
(Chelonia mydas) in southern Brazil. Mar.
W. J. 2002. Diet of east green turtles
Turt. News.,135: 6-8.
(Chelonia mydas) in the central Gulf of Cali-
fornia, México. J. Herp., 36: 447-453. STAMPAR, S. N., SILVA P. F. & LUIZ J. J. O.

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9 : eb2020002


16 M. J. CREMER ET AL.

2007. Predation on the zoanthid Palythoa


caribaeorum, (Anthozoa, Cnidaria) in south-
eastern Brazil. Mar. Turt. Newsl., 117:3-5.
TOMAS, J., AZNAR, F. J. & RAGA, J. A. 2001.
Feeding ecology of the loggerhead turtle
Caretta caretta in the western Mediterrane-
an. J. Zool., 255: 525-532.
TOMASZEWICZ, C. N., SEMINOFF, J. A., PECK-
HAM, H., AVENS, L., GOSHE, L., RODRIGUEZ-
BARON, J. M. & KURLE, C. M. 2018. Expanding
the coastal forager paradigm: Long-term pelagic
habitat use by green turtles (Chelonia mydas) in
the eastern Pacific Ocean. Mar. Ecol. Progr. Ser.,
587:217–234.
TOURINHO, P. S., IVAR DO SUL, J. A. & FILL-
MANN, G. 2010. Is marine debris ingestion
still a problem for the coastal marine biota of
southern Brazil? Mar. Pol. Bul., 60: 396-401.
VIADA, S. T., HAMMER, R. M., RACCA, R.,
HANNAY, D., THOMPSON, M. J., BALCOM,
B. J. & PHILLIPS, N. W. 2008. Review of po-
tential impacts to sea turtles from underwater
explosive removal of offshore structures. En-
viron. Impact Asses. 28 (2008): 267–285.
WALLACE, B. P., LEWISON, R. L., MCDONALD,
S. L., MCDONALD, R. K., KOT, C. Y., KELEZ,
S., BJORKLAND, R. K., FINKBEINER, E. M.,
HELMBRECHT, S. & CROWDER, L. B. 2010.
Global patterns of marine turtle bycatch.
Cons. Letters, 3: 131-142.
WEIR, C. R. 2007. Observations of marine turtles
in relation to seismic airgun sound off Ango-
la. Mar. Turt. News., 116: 17-20.

Revista CEPSUL - Biodiversidade e Conservação Marinha, 9: eb2020002

View publication stats

Você também pode gostar