Arch Health Invest (2015) 4(2): 53-58 © 2015 - ISSN 2317-3009

Expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente:

relato de caso

Rapid maxillary expansion assisted surgically: case report

Expansión maxilar rapid asistida quirúrgico: caso

Jose Carlos Garcia de MENDONÇA¹

Fernando Ribeiro TEIXEIRA2
Ellen Cristina GAETTI JARDIM3
Juliana Andrade MACENA4
Danilo Chizzolini MASOCATTO4
Murilo Moura OLIVEIRA4
Cauê Monteiro dos SANTOS4
Diones Calado de QUADROS4

1
Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF); Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília –
UnB; Doutor em Ciências da Saúde (CTBMF) pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS;
Professor Adjunto de CTBMF da Faculdade de Odontologia – Faodo/UFMS; Coordenador do Programa de Residência em CTBMF do
Núcleo de Hospital Universitário “Maria Aparecida Pedrossian”, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS
2
Especialista em implantodontia; Residente em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital Universitário “Maria Aparecida
Pedrossian”, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS
3
Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF); Mestre e
Especialista em Estomatologia; Mestre e Doutora em CTBMF pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba, UNESP
4
Residente em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital Universitário “Maria Aparecida Pedrossian”, Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul, UFMS

Resumo
Atresia maxilar em adultos quando tratadas com ortodontia isolada gera altos índices de insucesso, ficando indicada apenas nos casos
com idade inferior a 16 anos gênero feminino e 18 gênero masculino. Trata-se de um procedimento cirúrgico muito bem aceito por
profissionais e pacientes, porém com divergentes opiniões sobre técnicas cirúrgicas e tipo de anestesia. Objetivo deste estudo foi
demonstrar em caso clínico o método estabelecido por essa residência, priorizando rapidez para obter expansão maxilar, após disjunção
de todas as áreas de resistência maxilar sob anestesia geral. Tal procedimento foi bem sucedido não apresentando complicações ou
desconforto trans e pós-operatórios em intervalo de nove meses. Hyrax torna-se o expansor mais utilizado, por enquadrar-se com maior
frequência nas características e indicações de Expansão Rápida da Maxila Assistida Cirurgicamente (ERMAC).
Descritores: Maxila; Técnica de Expansão Palatina.

Abstract
Maxillary atresia in adults when treated with orthodontics alone generates high rates of failure, being indicated only in cases aged under
16 female and 18 male. It is a surgical procedure widely accepted by professionals and patients, but with differing views on surgical
techniques and type of anesthesia. This study aimed to demonstrate in clinical case the method established by that residence, prioritizing
speed for maxillary expansion after disjunction of all areas of resistance jaw under general anesthesia. This procedure allowed the
absence of complications or discomfort trans and postoperative in the nine-month interval. Hyrax becomes the most used expander,
because it fits with greater frequency in the characteristics and indications of rapid maxillary expansion surgically assisted (SARME).
Descriptors: Maxilla; Palatal Expansion Technique.

Resumen
Atresia maxilar en los adultos cuando son tratados con ortodoncia solo genera altas tasas de fracaso, siendo indicados sólo en los casos
en menores de 16 mujeres y 18 hombres. Es un procedimiento quirúrgico ampliamente aceptado por los profesionales y los pacientes,
pero con diferentes puntos de vista sobre las técnicas quirúrgicas y el tipo de anestesia. Este estudio tuvo como objetivo demostrar en
caso clínico el método establecido por esa residencia, dando prioridad a la velocidad de la expansión maxilar después de disyunción de
todas las áreas de la mandíbula resistencia bajo anestesia general. Este procedimiento permitió a la ausencia de complicaciones o
molestias trans y postoperatorio en el intervalo de nueve meses. Hyrax se convierte en el expansor más usado, ya que se ajusta con
mayor frecuencia en las características e indicaciones de rápida expansión maxilar asistida quirúrgicamente (Sarme).
Descriptores: Maxilar; Técnica de Expansión Palatina.

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INTRODUÇÃO

Atresia maxilar, segmento maxilar estreito, A B

aumento do arco em pacientes fissurados, excesso
transversal de mandíbula, aumento do corredor bucal,
são deformidades comumente encontradas e
fortemente relacionadas a mordida cruzada5,19,20,27.
Existem três possibilidades de tratamento para
estas deficiências transversais da maxila: a expansão Figura 1. Vista oclusal pré-operatória; A: desnivelamento dentário
ortodôntica, a expansão rápida da maxila, e a expansão e palato ogival; B: modelo de gesso evidenciando
o desnivelamento dentário pré-operatório com lingualização
da maxila cirurgicamente assistida1,5. A indicação do de dentes posteriores a esquerda
melhor tratamento dependerá da idade e maturidade
esquelética do paciente20,24,29. A B
Em 1860 foi descrito por Angell a primeira
técnica de Expansão Rápida de Maxila (ERM) com
abertura da sutura intermaxilar com auxílio de um
aparelho ortopédico que usava parafusos instalados
transversal á abóboda palatina6,29.
Já a Expansão Rápida de Maxila Assistida Figura 2. (A): Alteração oclusal, mordida aberta posterior.
(B): oclusão com mordida aberta posterior e melhor evidência
Cirurgicamente (ERMAC) foi descrita por Brown e da mordida cruzada em região de dente 21 e topo a topo
1938, essa técnica cirúrgica inclui osteotomias em em molares a esquerda

áreas de resistências ósseas, sutura palatina, pilar

A B
zigomático e abertura piriforme18. Possuindo vantagens
quanto a redução dos riscos de extrusões dentárias,
pode ser usada em qualquer faixa etária quando
comparados a ERM24,32.
Em pacientes adultos, a maturidade esquelética
promove estágios com grande resistência a serem Figura 3. A e B: alteração oclusal a direita tanto em vista intrabucal
vencidos pela ação ortopédica isolada17,18,29,31. Cabendo como de modelo de gesso
ao profissional lançar mão de outras alternativas. Por
A B
não haver consenso na literatura sobre idade, indicação
e técnica cirúrgica, abre um leque de opções de
tratamento2,5,10,21.
Deste modo, relatar um caso clínico de paciente
de 31 anos de idade com discrepância transversal de
maxila unilateral tratada por meio da ERMAC, com
disjunção de todas as áreas de retenção maxilar, sob Figura 4. A e B: alteração oclusal a esquerda tanto em vista
intrabucal como de modelo de gesso
anestesia geral.
Constatada a necessidade de cirurgia, foi
CASO CLÍNICO explicado à paciente que o procedimento seria sob
Paciente do gênero feminino, 31 anos de idade, anestesia geral, e necessitaria da instalação do
procurou o serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco- expansor do tipo Hyrax. No ato pré-operatório
Maxilo-Facial do Hospital Universitário Maria realizado entubação nasal, assepsia e antissepsia extra-
Aparecida Pedrossian da Universidade Federal do oral com PVPI 10% tópico e aposição de campos
Mato Grosso do Sul por indicação ortodôntica para estéreis sobre a paciente.
realização de ERMAC. Ao exame físico intra-oral, Infiltração com Lidocaína 2% com Epinefrina
observou-se palato ogival, atresia maxilar, mordida 1:100.000 em fundo de fórnix vestibular por toda
cruzada unilateral a esquerda, mordida anterior topo a extensão maxilar. Realizado incisão mucoperiosteal do
topo, dentes girovertidos, lingualizados e higiene oral tipo Le Fort 1 bilateralmente 7mm acima da junção
satisfatória (Figuras 1, 2, 3 e 4). muco-gengival. Divulsão tecidual realizada por toda

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incisão expondo a extensão total da parede lateral Posteriormente, realizada ativação do aparelho
maxilar (Figura 5). de Hyrax (Figuras 7A e 7B) uma sutura contínua
festonada com Vicryl 4-0 foi realizada.

A B

Figura 7. A e B: Ativação do aparelho de Hyrax em oito quartos de

voltas que corresponde a 2mm, para verificar a disjunção das
prateleiras maxilares; e regressão de quatro quartos de voltas,
permanecendo ativado 1mm

Figura 5. Incisão mucoperiosteal da linha média até a região de A paciente permaneceu internada recebendo alta
segundo molar 7mm acima da junção muco-gengival
de ambos os lados hospitalar 24 horas após a internação. Retornou ao
ambulatório com três dias de pós-operatório, quando
Osteotomia da abertura piriforme até o processo foi instruída sobre o modo correto e as quantidades de
zigomáticomaxilar bilateral 5 mm acima dos ápices ativações diárias a serem executadas no aparelho
radiculares (Figuras 6 e 6.1). Com cinzel curvo e Hyrax: um quarto de volta pela manhã e um quarto de
martelo cirúrgico, a maxila foi separada das lâminas volta antes de dormir, seguida de acompanhamento
pterigóideas bilateralmente e com cinzel reto com ortodontista até obter o diastema interincisal
posicionado entre os incisivos centrais no sentido desejado, (Figura 8A e 8B).
vestíbulo-palatino, as maxilas foram separadas.
Utilizando instrumental disjuntor de septo nasal cinzel A B
de Wagner com ponta Oliva, foi separado o vômer do
processo palatino.

Figura 8. (A) Pós-operatório de 7 dias, correspondendo a quatro dias

de ativação. (B) Pós-operatório de 25 dias

Durante acompanhamento ambulatorial de nove

meses, a paciente não relatou queixas ou desconforto,
com bom aspecto das abordagens cirúrgicas, ausência
de mobilidade e/ou crepitação óssea, sem sinais de
infecção, descruzamento maxilar posterior e
sintomatologia referida de melhora na respiração,
(Figura 9).
B C

A B

Figura 9. A e B :Pós-operatório de nove meses, evolução satisfatória

DISCUSSÃO
Figura 6. A, B e C: Osteotomia da abertura piriforme até o processo
zigomáticomaxilar de ambos os lados em média 5 mm acima dos
A busca pela estética facial sem deixar de lado a
ápices radiculares, caracterizando osteotomia do tipo Le Fort I harmonia do sorriso é cada vez mais desejada pelos

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indivíduos portadores das discrepâncias dento- O aparelho expansor deve permanecer por pelo
esqueléticas. Neste sentido a ERMAC é uma técnica menos 3 meses após o cessar das ativações diárias com
cirúrgica bem estabelecida para correção de a finalidade de consolidação e maturação óssea13,21.
deficiências transversas em pacientes com maturidade Optamos pelo expansor do tipo Hirax, por
esquelética12,26 como no caso clínico descrito possuir fácil higienização, sustentação
anteriormente. (dentossuportado), prevenindo isquemias e necroses no
Expansões palatais sem auxílio cirúrgico ficam tecido mole, lesões ulcerativas e eritematosas na
indicadas nos casos em que as zonas anatômicas de mucosa palatina, além de não comprometer a
resistência não completaram a fase de maturação vascularização dos ossos maxilares7,9,14,24.
óssea2,8,9,10,26 que corresponde aos 16 anos nas meninas A estabilidade pós-operatória evidenciada neste
e aos 18 nos meninos14,17. Pode ser realizada sob caso vem auxiliar o cirurgião na indicação precisa
anestesia local sem a disjunção do processo pterigóide deste procedimento. Neste caso não foi observado
com o intuito e principal indicação de “preservação do sangramento trans e/ou pós-operatório nem tampouco
plexo venoso”7,8,12,22. Em contrapartida, optamos neste dor, injúria ao nervo maxilar ou mesmo infecção pós-
caso, pela realização sob anestesia geral já que operatória.
buscamos também a expansão maxilar em região
posterior como preconizado pela literatura9,11,16,23. CONCLUSÃO
A expansão sob anestesia geral com disjunção de
A partir do caso clinico apresentado, a expansão
todas as zonas de resistência maxilar5,7,12,19 possui
rápida da maxila assistida cirurgicamente se mostrou
inúmeras vantagens, a saber: promoção da saúde
um procedimento eficaz, seguro e bem conceituado
periodontal, devido ao adequado posicionamento dos
para a correção da deficiência transversa em pacientes
dentes na arcada dentária; permite um aumento do
adultos ou por aqueles que não obtiveram êxito no
volume da cavidade nasal, promovendo o aumento do
tratamento ortodôntico, sendo de pequena morbidade
fluxo de ar nasal; eliminação de espaço negativo
sobretudo quando realizado sob anestesia geral, para
causado pela deficiência maxilar transversal, o qual
maior conforto e analgesia pós-operatória.
resulta em menos visibilidade da estrutura dentária e
gengival em pacientes com linha do sorriso alta
REFERÊNCIAS
(mordida aberta anterior)3,12,13,14. E, principalmente,
quando pensamos no conforto do paciente durante 1. Basdra EK, Zöller JE, Komposch G. Surgical
realizações de oteotomias4,5,15,16. assisted rapid palatal expansion. J Clin Orthod.
A diversidade e as quantidades de osteotomias 1995;29:762-6.
maxilares propostas na literatura refletem opiniões 2. Bailey LJ, White RP, Proffit WR. Segmental Le
conflitantes quando são referidas a áreas de resistência Fort I osteotomy for management of transverse
no esqueleto craniofacial21,24. Entre fatores que maxillary deficiency. J Oral Maxillofac Surg.
interferem no que diz respeito à resistência da 1997;55:728−31.
expansão, a idade e a maturidade óssea não são os 3. Betts NJ, Sturtz DH, Aldrich DA. Treatment of
únicos relevantes, ficando claras as ações das transverse (width) discrepancies in patients who
articulações remanescentes da maxila4,7,8,11,12. Com require isolated mandibular surgery: the case for
base nos achados bibliográficos não conclusivos, maxillary expansion. J Oral Maxillofac Surg.
permanece a critério do cirurgião a técnica a ser 2004;62:361-4.
executada de acordo com sua experiência e vivência 4. Haas AJ. Long-term posttreatment evaluation of
clínica5. rapid palatal expansion. Angle Orthod Appleton.
No caso clínico ora apresentado, realizou-se 1980;50:189-217.
osteotomia de Le Fort 1 - na abertura piriforme, pilar 5. Vandersea BA, Ruvo AT, Geada DE. Deficiência
zigomático, disjunção pterigóide e sutura transversal da maxila: alternativas cirúrgicas para a
palatina16,25,30,31. Em seguida, fez-se a ativação do gestão. Maxillofac Oral Surg Clin North
expansor do tipo Hyrax. Tal procedimento cirúrgico Am. 2007;19:351-68.
possui aceitação pelos profissionais da área, devido 6. Mayrink G, Ellery S, Araújo MM, Moreira RWF.
sucesso no tratamento e por se tratar de um Correção de deformidade transversa de maxila
procedimento de baixa complexidade4,15,16,21,28,29. associada à cirurgia ortognática: um ou dois

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Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA

Fernando Ribeiro Teixeira

[email protected]

Submetido em 15/02/2015
Aceito em 25/02/2015

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