Falcão - Meninos Do Tráfico e A Relaçâo Com Os Desvios Sociais

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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR

PSICOLOGIA

KAUÊ NATALINO MACHADO


1925144

AVALIAÇÃO PARCIAL DE ANTROPOLOGIA


Falcão: Meninos do Tráfico, um caso de Desvio Social, Crime e Controle Social

Marília - SP
Cena 1 (Primeiros 10 min.)
O documentário é inteiramente construído através de depoimentos de jovens
meninos que participam do ambiente do tráfico de drogas, uma realidade muito
comum nas favelas e comunidades. São diversas as razões pelas quais esses
garotos entram nessa subcultura anticonvencional, razões essas que vão desde a
necessidade de sustento e sobrevivência dentro do sistema capitalista, até a
fantasia de “vida de luxo” criada dentro dessa camada social.

Nesse primeiro trecho somos apresentados a um dos meninos e o seu papel


social dentro dessa engrenagem, que é o de falcão, jovens, em sua grande maioria
menores de idade, que atuam a noite e são responsáveis por avisar sobre a
movimentação dentro da comunidade, e que possuem uma linguagem característica
para se referir a situações “cotidianas e comuns”. Um exemplo disso é o chamado
arrego, um sistema de “parceria” que esse pessoal tem com a polícia onde para que
a mesma não interfira, invada ou atrapalhe o funcionamento do arranjo chamado
tráfico, subornos são ofertados aos oficiais e geralmente são aceitos e acatados
pelos mesmos.

O ser humano é um ser suscetível a erros e nem sempre durante sua


existência estará seguindo as normas do corpo social, quando o erro ocorre dizemos
que o indivíduo cometeu um Desvio Social, logo o mesmo em teoria enfrentará as
consequências cabíveis ao ato que cometeu. Os mecanismos de controle social irão
realizar as sanções (punições), podendo elas serem formais (quando a norma
violada é prevista pela lei) ou informais (necessariamente não estão previstas por lei,
porém ainda assim há uma espécie de "vergonha social” cabível ao sujeito) cabendo
a polícia por exemplo, o papel de abordar e levar o sujeito em custódia para que o
mesmo passe por um processo avaliativo (audiência jurídica) e assim dependendo
do grau do ato, ir para a prisão.

O caso do arrego é um exemplo clássico da falha dos agentes de controle


social, no momento em que os agentes da polícia decidem não realizar uma
intervenção dentro da comunidade, o conceito da figura policial se desmitifica, é
percebido que nem sempre a figura que é sinônimo de proteção e de garantia de
segurança, é um exemplo de figura moral, levando pelo lado da óptica socialista
estática, perceber que uma das maiores representações dos valores éticos e morais
é uma fraude, pode gerar um desequilíbrio psicossocial em todas as ferramentas (no
caso nós seres humanos) que compõem a malha social, podendo gerar um caos
social.

Cena 2 – 47:50/49:55

Nesse recorte, visualizamos crianças brincando de serem membros do tráfico,


elas atuam em diversos papéis que vão desde o traficante, figura de maior poder
desse cenário, aos aviõezinhos, pessoas que comercializam as drogas. A sequência
dessa cena é de grande impacto principalmente no momento em que os garotos
estão brincando de X-9.

Essa brincadeira consiste em uma dessas crianças desempenhando o papel


do X-9, nome dado ao indivíduo que realiza algum tipo de delação sobre o sistema
para a polícia, ao descobrirem a delação do colega, as crianças reproduzem o
comportamento aprendido por eles através do convívio com essa realidade pública,
de torturar e assassinar a pessoa que fez a delação. Através de falsas violências
como a tortura com o colega e de frases como "Vamo encher ele de bala” ou “Vamo
queimar ele nos pneus”, os garotos executam teatralmente o amigo. Logo depois
dessa brincadeira entre eles, tiros são ouvidos ali por perto e descobre-se que nas
imediações, alguém realmente foi assassinado por ter sido um X-9.

Quem é X-9 nesses casos, comete um desvio social das normas


estabelecidas ali, ao dedurar os companheiros, a pessoa automaticamente é vista
como uma inimiga da comunidade, ao contrário do Estado as normas aqui são
diferentes e a pessoa como visto anteriormente é morta. Vale ressaltar que o
Estado, apesar de possuir medidas diferentes, costuma geralmente realizar prisões
compulsórias, gerando superlotação nos presídios em desagradáveis situações.

Segundo o portal jornalístico G1

[...] Com base em informações oficias dos 26 estados e Distrito Federal [...]
desde o último levantamento sobre o sistema prisional feito e publicado em fevereiro de 2020, foram
criadas 17.141 vagas nas celas, número ainda insuficiente para dar conta do problema, apesar da
redução no número de presos. Eram 709,2 mil detentos. Hoje, são 682,1 mil. Mas a capacidade é
para 440,5 mil. Ou seja, existe um déficit de 241,6 mil vagas no Brasil. O total não considera os
presos em regime aberto e os que estão em carceragens de delegacias da Polícia Civil. Se forem
contabilizados esses presos, o número chega a quase 750 mil no país.1

Ainda segundo dados do Governo Federal e da InfoPen (Sistema Integrado


de Informação Penitenciária

[...] os jovens representam 54,8% da população carcerária brasileira. Em


relação aos dados sobre cor/raça verifica-se que, em todo o período analisado (2005 a 2012),
existiram mais negros presos no Brasil do que brancos. Em números absolutos: em 2005 havia
92.052 negros presos e 62.569 brancos, ou seja, considerando-se a parcela da população carcerária
para a qual havia informação sobre cor disponível, 58,4% era negra. Já em 2012 havia 292.242
negros presos e 175.536 brancos, ou seja, 60,8% da população prisional era negra. Constata-se,
assim, que quanto mais cresce a população prisional no país, mais cresce o número de negros
encarcerados. 2

O local onde o indivíduo deveria ser reeducado para enxergar sentido nas
regras da sociedade e conseguir voltar como um novo ser, se torna o local onde as
mais diversas sanções no campo moral são sentidas, o que ao invés de auxiliar o
indivíduo no seu processo de reeducação faz surtir efeitos contrários.

Cena 3 – 27:52/32:36

Continuando com mais depoimentos, é perguntado aos garotos sobre o


motivo deles, mesmo sabendo das consequências e riscos por seguir esse caminho,
ainda assim decidem adentrar no submundo do crime. O argumento mais dado pela
maioria é de que desejam ter uma vida melhor e sem dificuldades, não por si
mesmo, mas sim por suas mães.

Esse é um reflexo da falta dos agentes de socialização. Segundo Reinaldo


Dias “A família é o principal agente de socialização, é o agente básico mais
importante, no qual o indivíduo é influenciado em um primeiro momento, ao nascer,
e mantém essa influência de alguma forma durante significativa parte de sua vida”.
Os meninos, não tendo uma figura paterna, ao crescerem e verem as dificuldades
que a figura materna teve de passar ou está passando para manter a família,
despertam uma pulsão genuína de auxiliar essa figura economicamente ou até
mesmo de sustentar sozinho a família, infelizmente muitos, por viverem as margens

1 RODRIGUES, GRANDIN, CAESAR e REIS. População carcerária diminui, mas Brasil ainda registra superlotação
nos presídios em meio à pandemia. (2021)
2 SINHORETO, Jacqueline. Mapa do encarceramento: os jovens do Brasil. Brasília. 2015.
da sociedade são vistos com um olhar reprovatório e de caráter excludente, não
conseguindo oportunidades de emprego de maneira legal, por isso recorrem ao meio
mais fácil que é o tráfico.

Algo interessante é que muitos reconhecem que o ambiente em que vivem


não é um lugar próspero e saudável, dizem não possuir uma visão sobre futuro e
argumentam que os únicos três caminhos são a morte, a prisão ou a cadeira de
rodas. Isso é difícil de se ver, ouvir os moradores dali reconhecendo e assumindo
que apesar de não terem uma perspectiva positiva sobre vida e futuro, e
reconhecendo que o que fazem não está certo, ainda assim continuarem
defendendo a comunidade por saberem que ali é o único lugar que os acolhe é
muito triste.

REFERÊNCIAS

DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia: Cap. 7, Desvio social, crime e controle


social. 2º edição. São Paulo. Editora Person Education, 2010.

RODRIGUES DA SILVA, Camila, et al. <https://g1.globo.com/monitor-da-


violencia/noticia/2021/05/17/populacao-carceraria-diminui-mas-brasil-ainda-registra-
superlotacao-nos-presidios-em-meio-a-pandemia.ghtml.> Acesso em 6 nov. 21

SINHORETTO, Jacqueline. Mapa do encarceramento: os jovens do Brasil. Brasília.


Título I. 2015. Disponível em https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/handle/192/89.

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